Publicação sobre o daltonismo

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“Oferecer aos daltónicos independência aquisitiva, uma mais fácil integração social em situações que a opção e escolha da cor é relevante e a minimização do sentimento de perda gerada pela deficiência, com o consequente aumento de bem-estar e autoconfiança”.


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editorial A presente publicação destina-se à divulgação do projecto Collor Add, desenvolvido pelo designer português Miguel Neiva. Procurando ajudar a minorar o problema de um universo significativo da população mundial, Miguel Neiva criou um código de cores, universal para os daltónicos. Numa altura em que se fala tanto de design “inclusivo”, este projecto apresenta uma solução que permite a identificação das cores aos daltónicos, oferecendo assim, maior independência aquisitiva, e uma mais fácil integração social, para o aumento do bem-estar e autoconfiança.

Ao longo da publicação, a tipografia é o elemento de unificação entre a mensagem do artigo e a imagem gráfica, sendo por isso, a base de toda a estrutura do trabalho. É importante ter a consciência que o mesmo texto, as mesmas palavras e conteúdos, poderão ter um aspecto extremamente diferente quando são tratados de forma distinta consoante o layout que desenhamos. Com a preocupação constante de facilitar a legibilidade do conteúdo, procurando assim uma agradável leitura, optei por recorrer ao uso de um layout simples e funcional, onde o equilíbrio é o elemento mais importante da composição, tentando desta forma, expressar uma harmonia entre os diferentes

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pesos tipográficos e pictóricos. “Design é o produto da reacção entre a arte e o engenho. Intensidades que medem forças, mas que no final, não serão mais que soluto e solvente em equilíbrio numa solução.” A forma como projectei o trabalho foi pensada com a consciência de que o aspecto gráfico influencia a percepção que temos da informação que estamos a ler e, consequentemente, a vontade que temos de a ler. Respeitando o diagrama definido, a publicação foi desenvolvida segundo um processo de organização dos diferentes elementos visuais, procurando um aspecto dinâmico, aliado a uma composição coerente. Sendo o tema da publicação dirigido


aos daltónicos, optei por recorrer ao uso de duas cores, vermelho e azul, que segundo as pesquisas efectuadas, não são cores que se confundem facilmente aos olhos dos daltónicos. Foi através da cor, que reforcei elementos importantes do texto, permitindo assim, uma mais fácil e rápida visualização do tema que estava a ser tratado, destacando

os assuntos mais relevantes. Outro factor importante para o desenvolvimento do trabalho foi o respeito pelos espaços brancos e vazios. A gestão e organização da tipografia foi adequada a critérios que procuravam conquistar maior legibilidade, originando uma estética atractiva e, acima de tudo, agradável aos olhos. Para além do objectivo de definir

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um aspecto gráfico apelativo, preocupei-me com a elaboração de uma estrutura que pudesse suportar a comunicação do conteúdo, pois se o conteúdo não for atraente e interessante, a publicação não sobreviverá apenas pelo aspecto gráfico. Tendo isto em conta, inicialmente comecei por dar a conhecer um pouco do autor do projecto, através de uma entrevista que deu ao jornal académico, da associação Académica da Universidade do Minho. De seguida, apresentei uma breve explicação sobre o daltonismo, a sua origem e problemas; partindo posteriormente para a divulgação do projecto, as suas aplicações com o respectivo código. Ao longo do desenvolvimento da publicação procurei tratar o conteúdo, como “objecto” capaz de permitir o desenrolar de toda a estética envolvida, com o objectivo de estimular e motivar o leitor através de composições de elementos gráficos visualmente interessantes.


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daltonismo O daltonismo (também chamado de discromatopsia ou discromopsia) é uma perturbação da percepção visual caracterizada pela incapacidade de diferenciar todas ou algumas cores, manifestando-se muitas vezes pela dificuldade em distinguir o verde do vermelho. Esta perturbação tem normalmente origem genética, mas pode também resultar de lesão nos orgãos responsáveis pela visão, ou de lesão de origem neurológica. O distúrbio, que era desconhecido até ao século XVIII, recebeu esse nome em homenagem ao químico John Dalton, que foi o primeiro cientista a estudar a anomalia de que ele mesmo era portador. Uma vez que esse problema está geneticamente ligado ao cromossoma X, ocorre mais frequentemente entre os homens (no caso das mulheres, será necessário que os dois cromossomas X contenham o gene anômalo). Os portadores do gene anômalo apresentam dificuldade na

percepção de determinadas cores primárias, como o verde e o vermelho, o que se repercute na percepção das restantes cores do espectro. Esta perturbação é causada por ausência ou menor número de alguns tipos de cones ou por uma perda de função parcial ou total destes, normalmente associada à diminuição de pigmento nos fotoreceptores que deixam de ser capazes de processar diferencialmente a informação luminosa de cor. A retina humana possui três tipos de células sensíveis à cor, chamadas cones. Cada um deles é sensível a uma determinada faixa de frequências do espectro luminoso (mais precisamente ao picos de frequência situados a 419 nm (azulvioleta), 531nm (verde) e 559nm (verde-amarelo). A classificação dos cones em "vermelho", "verde" e "azul" (as três cores primárias - RGB) é uma simplificação usada por comodidade para tipificar as três frequências alvo, embora não corresponda à sensibilidade real dos fotoreceptores dos cones. Todos os tons existentes derivam da combinação dessas três cores primárias.



As tonalidades visíveis dependem do modo como cada tipo de cone é estimulado. A luz azul, por exemplo, é captada pelos cones de "baixa frequência". No caso dos daltônicos, algumas dessas células não estão presentes em número suficiente ou registam uma anomalia no pigmento característico dos fotoreceptores no interior dos cones. Tipos de daltonismo Podemos considerar que existem três grupos de discromatopsias: Monocromacias, Dicromacias e Tricromacias Anómalas.

A Dicromacia, que resulta da ausência de um tipo específico de cones, pode apresentar-se sob a forma de: protanopia (em que há ausência na retina de cones "vermelhos" ou de "comprimento de onda longo", resultando na impossibilidade de discriminar cores no segmento verde-amarelovermelho do espectro). O seu ponto neutro encontra-se nos 492nm. Há igualmente menor sensibilidade à luz na parte do espectro acima do laranja; deuteranopia (em que há ausência de cones "verdes" ou de comprimento de onda intermédio,

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resultando, igualmente, na impossibilidade de discriminar cores no segmento verde-amarelovermelho do espectro).Trata-se uma das formas de daltonismo mais raras(cerca de 1% da população masculina), e corresponde àquela que afectou John Dalton (o diagnóstico foi confirmado em 1995, através do exame do DNA do seu globo ocular). O seu ponto neutro encontra-se nos 492nm; tritanopia (em que há ausência de cones "azuis" ou de comprimento de onda curta, resultando na impossibilidade de ver cores na faixa azul-amarelo).


A Tricromacia anómala resulta de uma mutação no pigmento dos fotoreceptores dos cones retinianos , e manifesta-se em três anomalias distintas: protanomalia (presença de uma mutação do pigmento sensível às frequências mais longas ("cones vermelhos"). Resulta numa menor sensibilidade ao vermelho e num escurecimento das cores perto das frequências mais longas (que pode levar à confusão entre vermelho e preto). Atinge cerca de 1% da população masculina; deuteranomalia (presença de uma mutação do pigmento sensível às frequências intermédias ("cones verdes"). Resulta numa maior dificuldade em discriminar o verde. É responsável por cerca de metade dos casos de daltonismo; tritanomalia (presença de uma mutação do pigmento sensível às frequências curtas ("cones azuis"). Forma mais rara , que impossibilita a discriminação de cores na faixa do azul-amarelo. O gene afectado situa-se no cromossoma 7 ao contário das outras tricromacias anómalas, em que a mutação genética atinge o cromossoma X. Um tipo raro de daltonismo é aquele em que há uma "cegueira" completa para as cores: o mundo é visto a preto e branco e em tons de cinza. Nesse caso, estamos perante aquilo a que se dá o nome de visão acromática. A mutação genética que provoca o daltonismo sobreviveu pela vantagem dada aos daltónicos ao longo da história evolutiva. Essa vantagem advém, sobretudo, do fato de os portadores desses genes possuirem uma melhor capacidade de visão nocturna, bem como maior capacidade de reconhecerem elementos semi-ocultos, disfarçadas pela sua camuflagem.

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Esta perturbação é causada por ausência ou menor número de alguns tipos de cones ou por uma perda de função parcial ou total destes, normalmente associada à diminuição de pigmento nos fotoreceptores que deixam de ser capazes de processar diferencialmente a informação luminosa de cor.

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As tonalidades visíveis dependem do modo como cada tipo de cone é estimulado. A luz azul, por exemplo, é captada pelos cones de “baixa frequência”. No caso dos daltônicos, algumas dessas células não estão presentes em número suficiente ou registam uma anomalia no pigmento característico dos fotoreceptores no interior dos cones.

Podemos considerar que existem três grupos de discromatopsias: Monocromacias, Dicromacias e Tricromacias Anómalas. As tonalidades visíveis dependem do modo como cada tipo de cone é estimulado. A luz azul, por exemplo, é captada pelos cones de “baixa frequência”. No caso dos daltônicos, algumas dessas células não estão

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presentes em número suficiente ou registam uma anomalia no pigmento característico dos fotoreceptores no interior dos cones. Podemos considerar que existem três grupos de discromatopsias: Monocromacias, Dicromacias e Tricromacias Anómalas.


Maps for the colour blind are a real eye opener For many people map reading can be a struggle, but for the hundreds of thousands that are colour-blind it can be an even more arduous experience. The traditional rainbow of cartographic colours – green for grass-land and trees, red for main roads and public footpaths, and blue for motorways and rivers – can become indistinguishable, therefore making map reading extremely difficult. Help may be on the way though, thanks to a new product from mapping agency Ordnance


Survey that can be specifically styled to make mapping easier on the colour-blind eye. Colour blindness is the result of damage to the specialised “cone” cells in the eye which make colour vision possible. It is the most common genetic disorder among humans, afflicting mostly men, with around 8% unable to tell the difference between reds and greens. Instead these colours appear as shades of grey or brown, making it difficulty to interpret the colour‑coded features shown on maps.

The new Ordnance Survey digital mapping has been developed to be customisable, allowing for the creation of colour-blind-friendly styles, which to most people will look very strange but could help avoid future confusion for those with the condition. Paul Beauchamp, Ordnance Survey spokesman, comments: “Cartography is a fine art, but the colours that have become so familiar to most of us are actually among the worst possible choices for those with colour blindness. By using our new mapping

product, called OS VectorMap Local, councils and businesses will be able to create styles especially for colour-blind people that we hope will make life easier.” Colour vision deficiency can have an impact on many everyday tasks that most people take for granted – from reading maps, using the Internet and rewiring a plug to knowing when traffic lights change. It can even affect career choices, with pilots and coastguards requiring excellent colour vision.


Segundo designer português Miguel Neiva o Daltonismo é o nome que se atribui a uma alteração congénita, que consiste na insuficiência visual relacionada com a incapacidade de distinguir diversas cores do espectro. Um indivíduo com uma visão normal é capaz de cerca de 30.000 cores. O daltónico apenas consegue identificar ou diferenciar entre 500 e 800 cores. De transmissão hereditária, o daltonismo resulta de falha genética que está associada ao cromossoma X. O homem é portador de um cromossoma X e um cromossoma Y, enquanto a mulher é portadora de dois cromossomas X. Assim, se a alguém do sexo feminino é transmitido, pelo pai ou pela mãe, um cromossoma X portador da deficiência do daltonismo, essa pessoa não terá a deficiência pois o cromossoma não portador da deficiência compensa o “defeito”. Os

primeiros sintomas de daltonismo são detectados na idade escolar. Com mais idade, ao indivíduo daltónico são interditas diversas profissões tais como pilotagem de aviões, navegação marítima, a indústria gráfica, a indústria química, a geologia, a arqueologia, actividades ligadas à área da informática ou áreas financeiras, a decoração e a moda, entre outras. A compra de vestuário “obriga” sempre o daltónico a

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recorrer ao apoio de terceiros. Muitas outras situações do quotidiano implicam que os daltónicos recorram a ajuda: orientação em interpretação de mapas, sinais de trânsito, a identificação correcta das bandeiras da praia, identificação e escolha de qualquer tipo de produto ou serviço onde a cor seja factor de decisão. O desconforto psicológico da dependência de terceiros, é incontornável na medida em que a alternativa é a insegurança quanto ao aspecto geral da indumentária, do ambiente doméstico, da orienta ção ou da identificação concreta quando a cor é factor determinante, podendo comprometer a aceitação do indivíduo em situações de integração social e/ou profissional. Código gráfico monocromático, sustentado em conceitos universais de interpretação e desdobramento de cores.


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autor

A criação de um código para daltónicos surgiu da ligação entre a comunicação e o vestuário. Mas para Miguel Neiva este código é transversal, sendo fundamental em três áreas: material didáctico, saúde e transportes. A sua principal preocupação foi criar um código que ajudasse a inclusão dos daltónicos na sociedade, sem que sentissem o seu problema como uma deficiência. Licenciado em Designer, Miguel Neiva confessa que o projecto lhe rouba muito tempo, mas admite sentir-se grato pelo reconhecimento do seu trabalho. O projecto foi já aceite pela comunidade científica, mas para o designer tem ainda muito caminho pela frente.

Quem é o Miguel Neiva? Sou natural do Porto e tenho 41 anos. Sou licenciado em Designer, há quase vinte anos. Fiz pós-graduação e mestrado na Universidade do Minho em Design e Marketing. Tenho um atelier e trabalho em design já desde essa altura. Estou a dar aulas no Mestrado de Comunicação e Moda na Universidade do Minho desde o final de 2008, depois de ter feito a defesa de tese.

Onde tirou o seu curso? Tirei o meu curso de Design aqui no Porto [Matosinhos], na ESAD. Estive sempre ligado ao meu atelier. Depois estive a dar aulas de Design no curso de Design e Moda aqui no Porto e, passados uns anos, quis voltar a estudar. Pensei fazer um curso, outra licenciatura em Design Industrial, quando tive conhecimento do mestrado na Universidade do Minho. Como estava ligado, em termos de formação de aulas que dava, à moda, tive conhecimento desse mestrado em Design e Moda da Universidade do Minho, que era promovido pelo departamento

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de Engenharia Têxtil. Achei que era uma área interessante e fui fazê-la. A ideia surgiu daí, isto em 1999. Surgiu então a ideia de criar depois na sua tese de mestrado este projecto à volta do daltonismo. Como surgiu esta ideia? Porquê daltonismo? Quando eu fiz a pós-graduação, isto em 1999/2000, no fim tínhamos que escolher um tema para defender a nossa tese. Na altura, a universidade apresentounos uma lista de possíveis temas a tratar, todos eles muito ligados com a parte do vestuário, com a parte têxtil, com a Engenharia Têxtil e eu achei que gostava de puxar um bocado ou de levar esse projecto um bocado da minha área de formação que era o Design de Comunicação. Por isso, nenhum daqueles temas me agradou e propus um tema. E a ideia do daltonismo surge porque quis relacionar a comunicação com o vestuário. Surgiu a ideia de criar um código, porque tinha de referência da minha infância na escola um colega daltónico. Sentia que ele sofria pelo facto de ser daltónico. Quando ele e o irmão se chateavam, o irmão trocava-lhe as meias e ele ia com uma meia de cada cor para a escola.


Acha que esta componente social, que está inerente a este projecto, tornou mais fácil a sua aceitação? Estamos a falar de uma coisa há dez anos atrás, em 2000, que foi quando eu propus o tema e ele foi aceite. Veio logo aceite por quem o tinha que o fazer. Mas era um projecto num ponto ainda muito conceptual, muito abstracto, não estava nada feito. Só havia a intenção de fazer alguma coisa. Agora, na realidade, este projecto tem uma valência muito mais além do que uma tese de mestrado, porque ele levanta uma questão, apresenta um problema e desenvolve uma solução. Embora essa solução já tenha evoluído muito mais do que aquela que estava representada na tese. Mas isso é fruto da evolução e da vivência diária com este projecto. Obviamente estamos a falar de um projecto de inclusão, numa altura em que já é um tema gasto. Já foi aceite por todos, por isso agora vamos pensar em outro tipo de necessidades e a inclusão é uma delas.

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Fale-nos um pouco sobre a tese de mestrado. Que principais conclusões é que saíram dessa tese e que estudos fez junto de daltónicos? Recolheu algumas vivências e algumas necessidades? Posso dividir isso em três partes, relativamente ao que tive que fazer. Inicialmente, quis estudar ou perceber o que era o daltonismo. Depois de estudar, percebi que não havia cura, que era uma deficiência de transmissão hereditária, por isso, o daltónico nasce e morre daltónico e tem que carregar toda a vida com isso. Fui procurar dados e informação sobre o que era ser daltónico, não o que é o daltonismo, mas o que é ser daltónico. E não há muita informação, por que o daltonismo é uma limitação, uma deficiência que não é visível, e porque não é visível, também não gosta de se mostrar, de se apresentar e de se expor, com esse argumento, com essa limitação. Não há dados

oficiais, não há estudos sobre daltónicos, não havia nada do que estamos a falar há uns anos atrás. E até a própria palavra daltónico era muito depreciativa. Quando ia pesquisar a palavra ‘daltónico’, aparecia ‘O árbitro não marcou penalti, por isso deve ser daltónico’, ‘O político fez esta asneira ou aquela, por isso deve ser daltónico’. Tinha tudo uma conotação muito negativa. Mas havia alguns dados oficiosos, que nos mostravam um bocado o que era as percentagens: Estima-se que dez por cento da população mundial seja daltónica.

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Acredita que isto vai ter uma aplicação e que vai ter um impacto significativo a nível internacional ou está um pouco reticente em relação a isso? Não, vai ter. Eu não vou dizer que já não tive essas dúvidas, mas nesta área do design, para as coisas funcionarem têm que ser feitas com paixão… É uma actividade que me absorve 24 sob 24 horas. Por isso, este projecto tem, não só o que eu já disse de ter a vantagem de ser um projecto made in Portugal, mas porque é um projecto que não depende de tecnologia, é um projecto de inclusão, daí inovador, não há nada igual no mundo. Mas em algumas fases eu pensei que isto poderia ser difícil. Mas depois da notoriedade toda que este projecto adquiriu com esta apresentação por parte dos media, desde Dezembro de 2008, eu não tenho dúvidas que este projecto estará sempre a evoluir, a melhorar, está aberto a tudo o que sejam inputs e, por isso, os parceiros que eu quero nisto têm de ser parceiros com dimensão, não por serem grandes, mas por terem um know how que ajude a que isto consiga seguir em frente. Porque só há lugar para um.


Identificada a necessidade de um código, só faltava saber em que os moldes deveria existir? Sim, faltava saber como poderia funcionar. Fui estudar os códigos, fui perceber como é que se consegue criar um código que se torne numa linguagem universal. A conclusão a que eu cheguei é que um código, para poder-se comunicar universalmente, é composto por dois elementos base: a forma e a cor. Sendo que neste caso a cor não poderia existir, porque eles não a vêem correctamente, nem a vêem

todas iguais, a forma teria não só que trabalhar sozinha, mas também que representar a cor. A ideia foi pegar num conceito que nós trazemos desde a escola, a caixinha de guache que todos nós tivemos e que tinha as três cores primárias, mais o branco e o preto, que o daltónico não vê, ou antes pode ver ou pode não ver correctamente, pode baralhar duas ou não ver uma, mas sabe que se juntar as duas tem os desdobramentos delas. Por isso, foi criado um elemento gráfico que represente cada uma dessas

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cores e estes elementos gráficos simples, de modo a permitir não ser muito complexa a sua memorização e que lhe deixe um desdobramento muito rápido apenas com esses três elementos.


I

projecto "Não mata, mas mói. A incapacidade para distinguir as cores parece, para quem não a tem, um problema menor. E, no entanto, impede um décimo da população mundial de ser autónoma. O designer Miguel Neiva descobriu a luz para os daltónicos. Cenário individual: como escolher uma peça de roupa em detrimento de outra sem distinguir as cores? O que responder ao filho que pede o lápis verde para pintar a árvore? Cenário social: como interpretar o mapa do metro se as linhas são representadas por cores? Como respeitar as bandeiras de perigo na praia? Cenário profissional: como cumprir uma vocação relacionada com a indústria gráfica, química, da moda ou da decoração, se todas estão ancoradas no domínio da cor? Nos dois primeiros cenários, haverá a possibilidade de pedir ajuda a terceiros, ainda que isso crie uma dependência pouco

confortável; para o terceiro não há solução. Os estudos estimam que 10% da população mundial sofra de daltonismo. Apesar da limitação que a designada "cegueira das cores" implica para os indivíduos, o daltonismo tem sido ignorado. "Não é visto como um grande problema. E, se calhar, não é. Mas não é preciso ser um grande problema para ser resolvido", defende Miguel Neiva, mestre em Design e Marketing, cuja tese de mestrado, defendida há dois meses, na Universidade do Minho, versou sobre a aplicação de uma solução nunca até agora pensada. "Poderá não ser um problema", insiste, "mas ouvir alguém dizer que tem um carro azul-banana projecta inevitavelmente uma imagem que vai implicar juízos de valor pouco favoráveis. O daltónico sabe-o e sofre em silêncio".

Este projecto tem uma finalidade muito própria. A intenção é um dos critérios que deve acompanhar o designer no seu processo criativo: este, além da interiorização do conceito básico e elementar do design, forma

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adequada à função, deve ter em consideração contribuir para o melhoramento da qualidade de vida do indivíduo, trabalhando no "interface" produto/utilizador de forma a que o objecto sirva realmente a sua "função", seja um "objecto ao serviço do utilizador". Pretende-se que a indústria e a sociedade vejam neste projecto um contributo para melhorar a satisfação e o bem-estar de um grupo de indivíduos que, pelas suas características de visão, se encontram privados de realizar com independência, segurança e tranquilidade todo e qualquer acto onde a cor seja factor determinante. ColorAdd é transversal a todos os quadrantes da sociedade global, indepedentemente da sua localização geográfica, cultura, língua, religião, bem como às diferentes vertentes sócio-económicas. Oferecer aos daltónicos independência aquisitiva, uma mais fácil integração social em situações que a opção e escolha da cor é relevante e a minimização do sentimento de perda gerada pela deficiência, com o consequente aumento de bem-estar e autoconfiança.



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código

A proposta criada baseia-se na procura da cor (não a cor luz RGB) composta pela relação de três feixes de cor. O conceito apoia-se na cor pigmento, cores primárias como base de partida: azul (cyan), vermelho (magenta), amarelo, e o seu consequente desdobramento para as cores secundárias. O código é “construído” a partir de três formas simples para: permitir uma fácil e imediata apreensão do elemento gráfico; rápida integração no “vocabulário visual”; facilidade de aplicação/produção em dimensões reduzidas. Torna-se, inclusivamente, num jogo mental que permitirá ao indivíduo relacionar facilmente as cores e seus desdobramentos sem grande esforço de memorização, através da conjugação de formas simples aliadas às combinações cromáticas elementares. A cada forma primária do código está associada uma cor e, das três formas/cores, nasce e desenvolve-se todo o código

e as cores baseiam-se no desdobramento destes três elementos. Às três formas que representam as três cores “primárias”, foram acrescentadas mais duas que, de forma também simples, representam o preto e o branco. Conjugadas com outros elementos representam o desdobramento de cores com tonalidades mais claras ou escuras. A conjugação destas formas compõe as cores secundárias como se estivesse a “misturar” os próprios pigmentos primários. Torna-se fácil a sua apreensão e consequente composição de uma “paleta” de desdobramentos de cores. O branco e o preto, associados aos restantes ícones, define-se o claro e o escuro, surge uma paleta de cores abrangente que permite todos os desdobramentos das cores compostas e variações de tom. A representação dos tons de cinzento, tonalidade de “cor” com uma utilização bastante frequente no vestuário. O dourado e o prata, cores com bastante relevância no vestuário, implicaram a criação de um ícone específico.

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Código gráfico monocromático, sustentado em conceitos universais de interpretação e desdobramento de cores,que permita aos daltónicos identificar correctamente as cores.


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aplicação O desconforto psicológico da dependência de terceiros, é incontornável na medida em que a alternativa é a insegurança quanto ao aspecto geral da indumentária, do ambiente doméstico, da orientação ou da identificação concreta quando a cor é factor determinante, podendo comprometer a aceitação do indivíduo em situações de integração social e/ ou profissional. A triagem nos hospitais é feita pela cor. Nas urêgncias, ao individuo é feita uma avaiação

da “gravidade” e colocada uma pulseira com o “grau de prioridade” no atendimento. A inclusão do sistema ColorAdd em serviços e espaços hospitlares onde a cor é factor de identificação e orientação, facilitando a orientação ao daltónico. Em muitos locais a cor é factor de orientação dos diferentes serviços. Um daltónico, resultado da sua deficiência, não consegue identificar a cor e seu significado. Muitos medicamentos têm a cor como factor de diferenciação. É na idade escolar que aparecem, ao daltónico, os primeiros e muitas vezes, traumáticos constrangimentos e dificuldades pela errada identificação da cor. A inclusão do sistema ColorAdd

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em material escolar e didáctico é de igual modo sinónimo de inclusão, permite ao miúdo daltónico uma perfeita integração, sem dúvidas e sem vergonhas. Tendo o sistema de transportes de diversos países a cor como um dos principais factores de identificação, a inclusão do sistema ColorAdd em linhas de transporte, facilita a escolha e decisão ao daltónico. A inclusão do sistema ColorAdd nas etiquetas do vestuário (associado às instruções de lavagem, por exemplo) permite ao daltónico a identificação da cor da peça no acto da compra, sem ter de recorrer à ajuda de terceiros. Maior independência e liberdade na utilização de peças iguais com diferentes cores, bem como facilitar a escolha no guarda-fatos. Vantagens que se estendem a todos os produtos de têxteis-lar. Não interfere com as normas e métodos de etiquetagem praticados no sector do vestuário e têxtil em geral, para que nada possa obstar à sua adopção generalizada.


Acredita que isto vai ter uma aplicação e que vai ter um impacto significativo a nível internacional ou está um pouco reticente em relação a isso? Não, vai ter. Eu não vou dizer que já não tive essas dúvidas, mas nesta área do design, para as coisas funcionarem têm que ser feitas com paixão… É uma actividade que me absorve 24 sob 24 horas. Por isso, este projecto tem, não só o que eu já disse de ter a vantagem de ser um projecto made in Portugal, mas porque é um projecto que não depende de tecnologia, é um projecto de inclusão, daí inovador, não há nada igual no mundo. Mas em algumas fases eu pensei que isto poderia ser difícil. Mas depois da notoriedade toda que este projecto adquiriu com esta apresentação por parte dos media, desde Dezembro de 2008, eu não tenho dúvidas que este projecto estará sempre a evoluir, a melhorar, está aberto a tudo o que sejam inputs e, por isso, os parceiros que eu quero nisto têm de ser parceiros com dimensão, não por serem grandes, mas por terem um know how que ajude a que isto consiga seguir em frente.

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