outubro de 2012
Editorial
Museu: memória e história Os museus guardam muitas histórias e muitas memórias. Recontam, através de objetos, fotografias, documentos e tantos outros meios, o passado e o presente do que acontece no mundo. No Museu Histórico Municipal Tuany Toledo está preservada a história de Pouso Alegre, de um povo cujos primeiros relatos tiveram início no final de 1700. São registros e indícios do passado de uma comunidade que de alguma forma todos fazem parte. E quem vem para conhecer se encanta com tudo que ali está. Uns falam das lembranças de quando andavam de trem, do barulho das bitolas sobre os trilhos, das longas viagens para as capitais. Recordam o primeiro filme que assistiu nos cinemas localizados no “centro da cidade”. Das guloseimas adquiridas no mercado municipal, das festas na Rinha, das partidas de futebol de domingo, das jabuticabeiras nos quintais, da pesca no rio Mandu. Outros relembram as eternas lutas políticas e os desgastes causados pelo integralismo. As noites de insônia por causa dos paulistas que estavam chegando de trem no ano de 1932 quando da Revolução Constitucionalista. Na década de 40 eram os alemães, assustadores, que estavam presos no quartel durante a Segunda Guerra Mundial. A reforma da catedral, a partida de Dom Otávio, a morte de Dom José. Falam da genialidade de Amadeu de Queiroz e de outros escritores pouso-alegrenses. Das mudanças do dinheiro e o que se podia comprar com ele. A evolução das lâmpadas e a praticidade da vida moderna. Contam ainda do sonho de ter uma máquina de fotografar, mas era tão caro! As vitrolinhas e os long plays que faziam sucesso nas festas de garagem do final de semana. Depois evoluiram para os cd’s. O primeiro VHS e a gravação de fitas. Pode-se ainda admirar uma máquina de escrever, um objeto maravilhoso sem CPU ou impressora, que você vai datilografando e ela vai escrevendo, um “objeto” muito moderno. O carro de boi que representou um meio de transporte para cargas e pessoas e que
hoje é apenas uma tradição para os moradores da cidade. Lembranças aguçadas por todos os registros que o Museu expõe em seu espaço e que comportam as inúmeras possibilidades de resgatar o tempo e viajar por ele. É mágica a impossibilidade de controlar a memória e aonde ela vai chegar nessa inusitada viagem no tempo. Cada objeto de forma particular e única conta a história individual e coletiva de um povo e seu cotidiano. Aliado aos objetos, documentos e fotos, o criador desse espaço tão mágico conta e reconta histórias. Ele fecha os olhos e revive os momentos, descrevendo pessoas, situações, lugares, hábitos e costumes. São ricos os seus relatos e sua capacidade de envolver os que ouvem. Inúmeros personagens desfilam por estes cenários. Figuras controversas, nem boas nem ruins, todas contextualizadas em seu momento histórico. Está tudo ali, nos livros, nas fotos, nos objetos, fragmentos que ele une através dos relatos. É lá no último andar, é lá que ele quer morar. Arrisco dizer que se a memória fosse um edifício alto ele estaria na cobertura, vendo todo um passado e descrevendo cada detalhe daquela paisagem com os olhos da memória. Diferente de outros municípios, temos fontes orais e materiais da nossa história. Em cursos ou encontros de museus depara-se com municípios que não têm como recontar sua história pois ninguém se preocupou com o passado e assim ele se perdeu, deixando apenas um hiato para seus habitantes. Aqui, nas terras do Mandu, a lucidez de um personagem chamado Alexandre preservou o passado para as gerações futuras. “E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé”, afirma Drumond em seu poema, mas as histórias bonitas do Museu contadas e preservadas no tempo para o povo deste lugar. talvez sejam mesmo, até mais bonitas que a de Robinson Crusoé.
Expediente Diretor: Alexandre de Araújo Redação: Suely Ferrer, Mayke Ricelli, Fernando do Vale Diagramação e composição: Suely Ferrer (mtb 5594/MG) Fotos: arquivo do MHMTT, Marcos Amancio e Suely Ferrer Logotipo: Guilherme Ferrer Exemplares: 1000 1