Revista Histórias de Pouso Alegre, MHMTT 2012

Page 1

outubro de 2012

Editorial

Museu: memória e história Os museus guardam muitas histórias e muitas memórias. Recontam, através de objetos, fotografias, documentos e tantos outros meios, o passado e o presente do que acontece no mundo. No Museu Histórico Municipal Tuany Toledo está preservada a história de Pouso Alegre, de um povo cujos primeiros relatos tiveram início no final de 1700. São registros e indícios do passado de uma comunidade que de alguma forma todos fazem parte. E quem vem para conhecer se encanta com tudo que ali está. Uns falam das lembranças de quando andavam de trem, do barulho das bitolas sobre os trilhos, das longas viagens para as capitais. Recordam o primeiro filme que assistiu nos cinemas localizados no “centro da cidade”. Das guloseimas adquiridas no mercado municipal, das festas na Rinha, das partidas de futebol de domingo, das jabuticabeiras nos quintais, da pesca no rio Mandu. Outros relembram as eternas lutas políticas e os desgastes causados pelo integralismo. As noites de insônia por causa dos paulistas que estavam chegando de trem no ano de 1932 quando da Revolução Constitucionalista. Na década de 40 eram os alemães, assustadores, que estavam presos no quartel durante a Segunda Guerra Mundial. A reforma da catedral, a partida de Dom Otávio, a morte de Dom José. Falam da genialidade de Amadeu de Queiroz e de outros escritores pouso-alegrenses. Das mudanças do dinheiro e o que se podia comprar com ele. A evolução das lâmpadas e a praticidade da vida moderna. Contam ainda do sonho de ter uma máquina de fotografar, mas era tão caro! As vitrolinhas e os long plays que faziam sucesso nas festas de garagem do final de semana. Depois evoluiram para os cd’s. O primeiro VHS e a gravação de fitas. Pode-se ainda admirar uma máquina de escrever, um objeto maravilhoso sem CPU ou impressora, que você vai datilografando e ela vai escrevendo, um “objeto” muito moderno. O carro de boi que representou um meio de transporte para cargas e pessoas e que

hoje é apenas uma tradição para os moradores da cidade. Lembranças aguçadas por todos os registros que o Museu expõe em seu espaço e que comportam as inúmeras possibilidades de resgatar o tempo e viajar por ele. É mágica a impossibilidade de controlar a memória e aonde ela vai chegar nessa inusitada viagem no tempo. Cada objeto de forma particular e única conta a história individual e coletiva de um povo e seu cotidiano. Aliado aos objetos, documentos e fotos, o criador desse espaço tão mágico conta e reconta histórias. Ele fecha os olhos e revive os momentos, descrevendo pessoas, situações, lugares, hábitos e costumes. São ricos os seus relatos e sua capacidade de envolver os que ouvem. Inúmeros personagens desfilam por estes cenários. Figuras controversas, nem boas nem ruins, todas contextualizadas em seu momento histórico. Está tudo ali, nos livros, nas fotos, nos objetos, fragmentos que ele une através dos relatos. É lá no último andar, é lá que ele quer morar. Arrisco dizer que se a memória fosse um edifício alto ele estaria na cobertura, vendo todo um passado e descrevendo cada detalhe daquela paisagem com os olhos da memória. Diferente de outros municípios, temos fontes orais e materiais da nossa história. Em cursos ou encontros de museus depara-se com municípios que não têm como recontar sua história pois ninguém se preocupou com o passado e assim ele se perdeu, deixando apenas um hiato para seus habitantes. Aqui, nas terras do Mandu, a lucidez de um personagem chamado Alexandre preservou o passado para as gerações futuras. “E eu não sabia que minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé”, afirma Drumond em seu poema, mas as histórias bonitas do Museu contadas e preservadas no tempo para o povo deste lugar. talvez sejam mesmo, até mais bonitas que a de Robinson Crusoé.

Expediente Diretor: Alexandre de Araújo Redação: Suely Ferrer, Mayke Ricelli, Fernando do Vale Diagramação e composição: Suely Ferrer (mtb 5594/MG) Fotos: arquivo do MHMTT, Marcos Amancio e Suely Ferrer Logotipo: Guilherme Ferrer Exemplares: 1000 1


outubro de 2012

A História também acontece aqui A tendência natural dos que gostam e estudam história é achar que ela só ocorre nos grandes centros. O interior e a periferia parecem não ter história, ou não a ter de uma forma que valha a pena debruçar-se sobre ela. Na verdade, essa é uma forma distorcida de encarar a história. Desde os anos 70 do século XX, vem se fortalecendo uma tendência na historiografia internacional e na historiografia brasileira de valorizar a pesquisa regional. Ao fechar o foco da pesquisa para regiões e localidades, o pesquisador pode perceber as influências dos processos que ocorrem nos lugares mais centrais e a maneira como eles se relacionam com as singularidades locais e regionais. A “micro-história”, uma tendência que há algum tempo vem se estabelecendo no campo historiográfico, é uma boa expressão das imbricações entre o central e o periférico. Um não se subsume ao outro na sua inter-relação. Carlo Ginzburg, historiador italiano, mostrou em seu livro “O queijo e os vermes”, a vida de um moleiro simples, Domenico Scandella, torturado pela inquisição na Itália no século XVI. No moleiro se entrecruzam influências diversas, todas fruto da sociedade da época. Ele não era uma pessoa importante, mas nele se expressavam as contradições e as linhas mestras de toda uma época. O sociólogo alemão, Norbert Elias, no livro “Os outsiders e os estabelecidos”, mostra como numa 2

aldeia situada no sul de Inglaterra travava-se uma luta entre um grupo de pessoas há muito estabelecido no local (os estabelecidos) e dois grupos que chegaram há pouco tempo (os outsiders). Os grupos mais recentes são discriminados pelos mais antigos, revelando clivagens sociais e culturais bem mais profundas, que a todo momento podem ser vistas em qualquer sociedade. Desde o século XVI, a região compreendida como sul de Minas passou a integrar uma rede mais ampla de influências vindas de regiões mais centrais, sobretudo de São Paulo. O ciclo da mineração fez o sul de Minas se integrar de vez a esse circuito. Enquanto iam surgindo as primeiras vilas, Vila Rica (Ouro Preto), Mariana, Sabará, São João del Rei, logo no início do século XVII, os primeiros núcleos populacionais foram se estabelecendo, mais tarde originando o que hoje são as conhecidas cidades de Campanha, Ouro Fino, Silvianópolis, Itajubá, Pouso Alegre, entre outras. Com a vinda da Corte para o Brasil em 1808, e, mais tarde, com a independência do Brasil, a região do sul de Minas foi se consolidando como um polo político e econômico considerável. Campanha se tornou a principal vila do sul de Minas e em 1831, Pouso Alegre dela se separou, constituindo-se como município autônomo. Por todos os lados são produzidos fatos, produtos e pessoas que tornam visível a força social do sul de Minas. A comercialização de produtos agropecuários (fumo, queijo, porcos, cana-de-açúcar, mais tarde, o café) se junta à emergência de personalidades de proa, como o padre e senador José Custódio Dias,


outubro de 2012

de Alfenas, o fazendeiro e deputado Gabriel Francisco Junqueira, conhecido como Barão de Alfenas, o padre, vereador e deputado Quadros Aranha, de Pouso Alegre, e, sobretudo, o maior expoente da política sul mineira, o padre, deputado e senador José Bento, entre dezenas de personalidades importantes no cenário político regional e nacional. Os fatos ocorridos no Rio de Janeiro repercutem fortemente no sul de Minas. É possível ver os jornais “O Pregoeiro Constitucional” e “O Recopilador Mineiro” imersos nas lides políticas de então. É possível acompanhar as repercussões regionais das rebeliões de Ouro Preto em 1833, da grande Revolução Liberal de 1842 em Minas, do choque do assassinato de José Bento em 1844, da lenta erosão do escravismo no sul de Minas a partir da década de 1870, quando os jornais, lentamente, começam a noticiar problemas relativos à “questão servil” ou ao “elemento servil.” Muitos outros fatos, pessoas, processos políticos e sociais se tornam cada vez mais visíveis no decorrer do tempo, na medida em que avançam a urbanização, o crescimento demográfico, o poderio econômico e as invenções tecnológicas que encurtam as distâncias e diminuem o tempo. Tudo isso constitui a memória da sociedade,

registrada em objetos, construções, obras de arte, documentos escritos que, se não forem cuidados e preservados, perdem-se para sempre. Daí a importância da existência de instituições que cuidem da preservação desta memória. Elas permitem o encontro dos homens com o seu passado e a fruição dos bens culturais, que estão no topo das realizações mais sublimes de que é capaz a humanidade. Em Pouso Alegre funciona o Museu Municipal, cujas origens se encontram em meados dos anos 80, sob o denodo do Sr. Alexandre Araújo. Mais tarde a ele se juntou o trabalho da assessora de comunicação, Suely Ferrer e de Mayke Riceli. De forma persistente e eficaz, eles vêm trabalhando na preservação do Museu e na expansão do seu acervo. O Museu é mantido pela Câmara Municipal. Já é um patrimônio de Pouso Alegre. Além de um local agradável para visitação, o Museu também comporta uma documentação variada que pode ser pesquisada por estudantes e pesquisadores interessados na história de Pouso Alegre. A história também acontece aqui. É só permitir que falem os documentos. Isaías Pascoal

3


outubro de 2012

Um espaço dedicado à preservação da história e memória

O Museu Histórico Municipal Tuany Toledo – MHMTT é um espaço dedicado à preservação e difusão de um acervo rico para a história de Pouso Alegre e do Sul de Minas. A formação do acervo teve início em 1965, quando Alexandre de Araújo, preocupado com a conservação da memória da cidade, realizou uma exposição de objetos na Casa Vitale. Com a colaboração de vários membros dos diversos segmentos da sociedade local, foi organizada uma mostra para comemorar o aniversário de 117 anos de Pouso Alegre. Em 1984, através da Resolução 219-21.05.84, foi criada a “Galeria para Exposição de Fotos, Documentos e Antiguidades de Pouso Alegre”. Em 1985, a Resolução 245-12.08.85 criou a “Galeria Tuany Toledo”. Finalmente, a Resolução 368-02.04.90, denominando “Museu Histórico Municipal Tuany Toledo”. O nome do Museu, Tuany Toledo, é uma homenagem ao farmacêutico e jornalista nascido em Congonhal que se tornou um grande político, chegando a ocupar o cargo de prefeito de Pouso Alegre entre 1937 e 1941. Realizou grandes obras nas áreas de educação, saúde e desenvolvimento da cidade. O destaque é o Parque Infantil Major Dorneles inaugurado em 1941, voltado para o lazer e a saúde de crianças e jovens. Em 2000 foi inaugurado o novo espaço do MHM Tuany Toledo na Rua Adalberto Ferraz, 215, Centro. Em 2007 o Museu foi incluído no Cadastro Nacional dos Museus, tendo seus dados disponíveis para consulta através do site www.museus.gov.br. Esse cadastramento no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) visa a ampliar e fortalecer as ações direcionadas ao campo museológico brasileiro. Atualmente está cadastrado no IBRAM. O Museu conta atualmente com um acervo de mais de 4 mil unidades, entre objetos, iconografia e documentação arquivística, dos séculos XIX e XX, eixo para a compreensão da sociedade do Sul de Minas, a partir do estudo de aspectos materiais da cultura, com especial concentração na história de Pouso Alegre. Os acervos têm sido disponibilizados para a análise de problemáticas pertinentes a várias linhas de pesquisa a que o Museu se dedica: Cotidiano e Sociedade; Universo do Trabalho; História Política e outros.

4


outubro de 2012

Galeria Tuany Toledo 1985

Museu Hist贸rico Municipal Tuany Toledo 1990

Museu Hist贸rico Municipal Tuany Toledo 2009 5


outubro de 2012

6


outubro de 2012

Quem foi

Tuany Toledo O Museu Histórico Municipal Tuany Toledo recebe o nome de um dos políticos de expressão em nossa cidade. Nascido em Congonhal no dia 07/01/1893, atuou como farmacêutico e dedicou-se às atividades comerciais. Com esse espírito empreendedor, tornou-se conhecido na região do Sul de Minas, conquistando em Pouso Alegre, onde manteve sua residência desde a década de 30, grandes amizades e afeições. Sua atuação política e vida pública iniciam-se na cidade de Congonhal, exercendo diversos cargos públicos. Como vereador distrital, cooperou para o desenvolvimento daquele espaço publico, destacando-se através das seguintes obras: abastecimento de água, luz elétrica, prédio escolar e a Igreja, empreendimentos estes que receberam grande atenção e carinho. Em Pouso Alegre foi eleito presidente da Câmara Municipal, sendo atuante na política local. Como prefeito, pôde realizar melhoramentos na cidade, como calçamentos nas principais vias, melhoramentos nos serviços de luz, reforma do campo de aviação, ampliação do serviço de abastecimento de água e a revitalização de um recanto considerado pelo povo “local depravado” na cidade, tornando-se um parque infantil, onde as relações de sociabilidade passaram a ser frequentes. Tuany Toledo foi jornalista de grande sensibilidade. Criou e idealizou “O Municipio” um importante órgão noticiário de Pouso Alegre, contendo informações sobre a vida pública e política de nossa cidade. Como historiador, teve um grande apreço e cuidado com as memórias que aqui circundam, incentivando assim a preservação para que todas as gerações pudessem conhecer a sua história. Em um de seus artigos intitulado “Museu em perspectiva”, Tuany Toledo assim se expressa: “Sou dos que pensam que um empreendimento como esse tem um sentido de expressão cultural e, por isso, merece o apoio de todos os homens que respeitam os valores da inteligência. (...) Que os jovens e os varões desta cidade recolham os exemplos do passado e continuem a lutar pelas letras e pelas artes, a fim de que no futuro possam demonstrar que não foram perdidos os esforços daqueles valentes idealistas que ofereceram a Pouso Alegre tão glorioso patrimônio”. Por seu amor à cidade de Pouso Alegre e grande preocupação com a preservação de sua história, seu nome foi dado ao Museu Histórico desta cidade, um espaço que abriga “muitas memórias, muitas histórias”.

7


outubro de 2012

O acervo do MHMTT O acervo do Museu está sempre recebendo novas doações. São peças do cotidiano que contam e recontam as histórias da sociedade local. Esses objetos estão distribuídos em núcleos temáticos. O universo material deste espaço reúne objetos pessoais, domésticos, fardamentos e aparatos religiosos. Entre eles estão utensílios vários que remetem a outras dimensões da vida doméstica. Entre os núcleos temáticos, podemos destacar os dedicados à Revolução de 32, à Segunda Guerra Mundial, à Diocese, ao 20 o Batalhão da Polícia Militar, aos escritores de Pouso Alegre, à Imprensa e Cotidiano. Entre as coleções pessoais, está a de Tuany Toledo, que empresta seu nome ao Museu, e de seu filho, Simão Pedro Toledo, ambos destaques na política local e em Minas Gerais. Recentemente foi criada a vitrine em homenagem ao professor e grande advogado Angelo Guersoni. Acervo de Objetos: O trabalho de captação de peças, ao longo dos anos, constituiu um acervo diversificado. São mais de 4000 peças entre objetos decorativos, fragmentos construtivos originários de prédios públicos e privados demolidos, mobiliário, vestuário, utensílios domésticos e de uso pessoal, objetos de iluminação e de transporte, equipamentos e instrumentos de trabalho e armamento. Acervo Textual e Iconográfico: Compõe-se de documentos diversos, mapas, plantas, projetos arquitetônicos e outros. Integram o conjunto os documentos gerados pela Câmara Municipal entre a década de 1830 a 1963. O Museu possui também ofícios e correspondências de ilustres políticos que ajudaram a construir a história local. Em 2011 o museu passou a abrigar os inventários do século XVIII e XIX, pertencentes ao Fórum de Pouso Alegre. Acervo Fotográfico: Reúne fotos, entre originais, cópias, negativos flexíveis e de vidro, organizados em coleções. Estas imagens, obtidas a partir de 1880, ilustram o desenvolvimento urbano, eventos, costumes e tradições de Pouso Alegre. Acervo Bibliográfico: Contém livros, periódicos, catálogos e jornais. Abrange, além da história de Pouso Alegre, outros temas relacionados à história de Minas Gerais e do Brasil.

8


outubro de 2012

Escritores Pouso Alegre é a terra natal de escritores de grande talento. Com o objetivo de valorizar a memória desses autores, o Museu possui o núcleo temático “Escritores Pouso-alegrenses”. Nesse espaço estão expostos os trabalhos de vários escritores nascidos em Pouso Alegre, entre os quais destacamos três que se tornaram nacionalmente conhecidos: Prisciliana Duarte de Almeida, Sílvio de Almeida e Amadeu de Queiroz.

Prisciliana D. Almeida nasceu em Pouso Alegre no dia 5 de maio de 1867. Ainda menina já se dedicava às Letras, fundando por esse tempo um seminário escrito à mão: “O Colibri”. Fundou e manteve, muitos anos, a revista “Mensageira”. Em colaboração com Maria Clara da Cunha Santos, publicou “Pirilampos” e “Rumores”. Com seu livro de versos “Sombras” entrou para a Academia Paulista de Letras. Despediu-se da vida literária com 77 anos, com o volume “Vetiver”, editado em 1939. Foi casada com Silvio de Almeida. Faleceu em São Paulo em13/06/1944.

Silvio de Almeida nasceu em Pouso Alegre em 1867 e aqui fez as primeiras letras, transferindo-se para o Rio de Janeiro. Transferindo-se para o Rio de Janeiro, e depois, em definitivo para São Paulo. Silvio de Almeida reuniu em sua personalidade múltiplos atributos, foi professor, poeta, latinista e articulista de um jornal.

Vitôr nasceu naqueles sítios, lá cresceu (...). Pegou-lhe a lerdeza dos bois bernentos, a aridez do campo, a aspereza da terra que lhe andava em torno. Não ambicionava nem produzia, tinha somente a idéia de viver – comer e dormir deitado na frescura da sombra – tal e qual as outras criaturas errantes por aquela paisagem imutável. (Amadeu de Queiroz, 1945) Obras de Amadeu de Queiroz 1927 – Praga do Amor – Romance 1930 – Pouso Alegre – História 1931 – Sabina – Romance 1933 – Senador José Bento – História 1937 – O Intendente do Ouro – Romance 1937 – Provérbios e Ditos Populares – Folclore 1938 – A voz da Terra – Romance 1939 – Os Casos do Carimbamba – Contos 1944 – O Quarteirão do Meio – Romance 1945 – João – Romance 1954 – A Rajada – Romance 1956 – Catas – Romance 1956 – Dos 7 aos 77 – Memórias 1963 – Histórias quase simples - Contos 9


outubro de 2012

Imprensa O núcleo Imprensa é composto de jornais, revistas e almanaques. Destaca-se a edição do primeiro jornal o Pregoeiro Constitucional, publicado em 1830, que, em ordem cronológica, foi o primeiro do Sul de Minas e o quinto na província de Minas Gerais. Este jornal foi o primeiro de Pouso Alegre, fundado pelo Padre José Bento Ferreira de Melo, subsistiu, segundo informações, até 1831. Também faz parte do acervo um exemplar do segundo jornal de Pouso Alegre, o Recopilador Mineiro, publicado de 6 de fevereiro de 1833 até 1837. Não existe coleção completa desse periódico; a maior conhecida consta de setenta e um números, e é a que se encontra no vasto e rico repositório da Biblioteca Nacional: o exemplar mais recente traz a data de 20 de junho de 1836. Conforme vagas referências de historiadores da nossa imprensa, o Recopilador Mineiro suspendeu a publicação nesse ano. Porém, foi doado ao Arquivo Público Mineiro, em 1897, um número do jornal, datado de 19 de agosto de 1837; portanto, até então existiu o Recopilador. O acervo abriga ainda jornais de cunho político, religioso e social, periódicos ou não, antigos e atuais. Assim como os jornais, revistas e livros são disponibilizados aos pesquisadores.

10


outubro de 2012

Diocese

O nucleo da Diocese abriga tronos, idumen-

tária, publicações e objetos pertencentes aos bispos e arcebispos de Pouso Alegre.

Possui uma galeria de fotos, organizadas cro-

nologicamente, sobre a evolução da Diocese e da Catedral Metropolitana. A Diocese foi criada em 04 de agosto de 1900, pelo decreto papal Regio Latissime Patens, constituída pela região denominada de “Sul de Minas” e desmembrada das Dioceses de Mariana e São Paulo. O primeiro bispo foi Dom João Batista Corrêa Nery, que tomou posse da Diocese no dia 21. Em 1962, pela Bula Qui Tanquam Petrus, a Diocese de Pouso Alegre foi elevada à categoria de Arquidiocese.

A ideia da criação de uma diocese no Sul de Minas, com sede em Pouso Alegre, foi levantada pelo vigário desta cidade, padre José Paulino de Andrade, em fevereiro de 1897, pelo semanário católico Pátria. Antes disso, em 1891, uma comissão composta por Bernardo Saturnino da Veiga, Saturnino da Veiga e Angelo da Veiga, tinha lembrado esse importante melhoramento para a cidade da Campanha, não logrando, entretanto, resultado satisfatório. O padre José Paulino, com o placet das autoridades eclesiásticas de S. Paulo e Mariana, começou logo a trabalhar ativamente para converter em realidade o seu projeto.

Bispos e Arcebispos de Pouso Alegre: 1º Bispo (1901-1908) - João Batista Corrêa Nery 2º Bispo (1909-1916) - Antônio Augusto de Assis 3º Bispo (1916-1959) - Octávio Chagas de Miranda 4º Bispo e 1º Arcebispo (19601990) - José D’Ângelo Neto 5º Bispo e 2º Arcebispo (19911996) - João Bergese 6º Bispo e 3º Arcebispo (1996 - até os dias atuais) - Ricardo P. Chaves P. Filho 11


outubro de 2012

Exército

O Núcleo temático do Exercito abriga fotos, objetos, e indumentária. Foi um dos primeiros espaços a serem criados na época em que ainda era uma Galeria. A história do Exército em Pouso Alegre tem início com o Decreto Presidencial nº 11498, de 23 de fevereiro de 1915, que criou o 10º Regimento de Artilharia Montada, com sede em Pouso Alegre/MG. O início de sua instalação, contudo, data de 15 de março de 1918, com a chegada do ten. cel. Marcos Pradel de Azambuja. Ao longo dos anos o 10º RAM recebeu outras denominações: 8º RAM em 1919 (até 1959); 4º Regimento de Obuses 105 e, posteriormente, II/4º RO 105. Em novembro de 1972, pela Portaria Ministerial Reservada, nº 036, passou a denominar-se 14º Grupo de Artilharia de Campanha. O atual 14º GAC tomou parte ativa em inúmeros episódios da nossa história: Revolução de 1924, Revolução de 1930, Revolução de 1932, 2ª Guerra Mundial (os efetivos remanescentes em Pouso Alegre mantiveram sob vigilância 62 prisioneiros de guerra alemães, durante seis meses, até a remoção para o Rio de Janeiro) e Revolução de 64.

Vista dos prédios do 8o RAM e matéria da revista Informativo pouso-alegrense, número especial de 1957. Núcleo temático do Exército apresenta exposição permanente de armas, fotos, fardamento, medalhas e documentos.

12


outubro de 2012

20o Batalhão POLÍCIA MILITAR Pouso Alegre O núcleo temático da Polícia Militar é composto de fotos, documentos, objetos e indumentária. Em 7 de dezembro de 1982 através do decreto número 22.524 foi criado o 20º Batalhão de Polícia Militar. O prefeito da época, Cândido de Souza, de forma incansável, lutou pela instalação do novo Batalhão e, embora com alguma precariedade no aquartelamento improvisado, no dia 14 de dezembro de 1982, o Cel. Pacheco inaugurou o novo espaço. A sede definitiva do novo Batalhão já estava projetada e logo teve início a obra localizada em uma área doada pelo município à Polícia Militar, na Avenida Aeroporto nº. 02, bairro São Cristóvão. Em 15 de agosto de 1989, antes do final das obras a sede foi ocupada. O 20º BPM, subordinado a 17ª Região da Polícia Militar, é responsável pelas ações e operações de segurança pública em 27 municípios e distritos, sendo Albertina, Borda da Mata, Bueno Brandão, Cachoeira de Minas, Careaçu, Cordislândia, Conceição dos Ouros. Congonhal, Espírito Santo do Dourado, Estiva, Heliodora, Inconfidentes, Jacutinga, Monte Sião, Munhoz, Natércia, Ouro Fino, Pouso Alegre, Santa Rita do Sapucaí, São Gonçalo do Sapucaí, São João da Mata, São Sebastião da Bela Vista, Senador José Bento, Silvianópolis, Tocos do Moji, Conceição das Pedras e Turvolândia.

13


outubro de 2012

Cotidiano Formado por peças que recontam histórias de várias épocas e de inúmeros espaços sociais. Do interior das casas podemos ver o ferro de passar roupa, o pilão, o lavatório, as tv’s preto e branco, as máquinas de escrever e registradoras, vitrolinhas. Das ruas e praças o poste de iluminação, as lâmpadas, placas de identificação de carro de boi e de mendigos, lampiões, panelas de ferro, máquinas fotográficas, objetos de montaria, seringas de injeção e outros tantos objetos mostram que o passado está preservado e que pode recontar às gerações futuras, independente da área de estudo, como o universo do cotidiano dos pouso-alegrenses funcionava.

14


outubro de 2012

Pouso Alegre atrav茅s do tempo

Cronologia hist贸rica 15


outubro de 2012

Por volta de 1740 a região do Sul de Minas começa a ser povoada com a descoberta de ouro na margem esquerda do Rio Sapucay, dando início ao povoamento do território a oeste deste rio.

1747 – Estabeleceram-se nas proximidades do que seria futuramente o arraial do Bom Jesus, Carlos de Araújo e Antonio José Machado, que adquiriu de Carlos de Araújo terras que foram doadas para a formação do patrimônio da primitiva capela. De 1720 a 1808 Minas foi capitania. A partir desta data tornou-se província de Minas Gerais, até o Brasil se transformar em uma República, em 15 de novembro de 1889. Depois disso, cada Província passou a se chamar Estado e a Província de Minas Gerais passou a se chamar Estado de Minas Gerais.

1764 – Luiz Diogo Lobo da Silva, então governador da Capitania de Minas Gerais, faz uma viagem de inspeção pelas regiões limítrofes com a Capitania de São Paulo. Chegando ao arraial de São Pedro de Alcântara e Almas do Jacuy, Luiz Diogo, destitui as autoridades paulistas e publica um “Bando” regulando a posse mineira naquela localidade. (Bando: proclamação, anuncio público, fonte: Dicionário Prático Illustrado, Lello editores, 1935, p.123). 1775 – As paróquias mineiras são restituídas ao bispado de São Paulo. A região era governada, no civil, por Minas Gerais e no eclesiástico, pela diocese de São Paulo. 1789 – Dirigida uma petição ao Exmo. Bispo de São Paulo para a construção de uma capela nas paragens chamadas de Mandu, distrito de Sant’Anna do Sapucay. 1796 – Em 29 de agosto é registrada no Tabelionato da Vila de Nossa Senhora da Piedade de Lorena (SP) a escritura de doação das terras para formação do patrimônio e edificação da capela do Bom Jesus de Matosinhos do Mandu, por Antônio José Machado, por seu filho Manoel José Machado e sua mulher Leonor Maria de São José. 1797 – O governador D. Bernardo José de Lorena, Conde de Sarzedas, que de São Paulo fora transferido para a Capitania de Minas Gerais, passou pelo nascente 16

povoado, onde veio encontrá-lo o Juiz de Fora da Campanha, Dr. José Carneiro de Miranda e que encantados pela esplêndida beleza do lugar em que se achavam, conta-se que um daqueles cidadãos dissera que o lugar não devia se chamar Mandu, como era então conhecido, mas sim, Pouso Alegre, e que veio daí a denominação que o povo e a lei posteriormente sancionaram. 1799 – Construída a nova capela Bom Jesus de Pouso Alegre. 1802 – A nova capela foi benta em 6 de agosto, dia do seu orago, pelo Padre Francisco de Andrade Mello, pároco de Sant’Anna do Sapucahy, que desde então ficou como capelão. A família real portuguesa chega ao Brasil

A família real portuguesa chega ao Brasil em 1808, aportando primeiro em Salvador (Bahia), concluindo a fuga de Portugal que havia sido invadida pelo exército francês. Posteriormente ela segue para o Rio de Janeiro.ed

1810 – Resolução de consulta da mesa de consciência e ordens, que erige em freguesia a capela do Bom Jesus de Pouso Alegre, vulgarmente chamada do Mandu, do Bispado de São Paulo, em 27 de outubro. Em 6 de novembro expedido o alvará elevando Pouso Alegre à categoria de Freguesia. 1811 – Em 6 de maio o padre José Bento Leite Ferreira de Melo toma posse da matriz da nova freguesia, começando a existência oficial, civil e religiosa, de Pouso Alegre. Em 7 de setembro de 1822 o Brasil declara sua Independência de Portugal. Em 24 de março é outorgada a Constituição Brasileira de 1824 e Ato Adicional por D. Pedro I após a dissolução da Assembleia Constituinte de 1823.


outubro de 2012

1818 – Instalada a primeira aula pública com o padre João Damasceno Teixeira, professor de Latim e Primeiras Letras do Arraial do Mandu. 1830 – O Cônego José Bento Leite Ferreira de Melo, auxiliado pelo seu coadjutor, Padre João Dias de Quadros Aranha, publicou em setembro o jornal “Pregoeiro Constitucional”, órgão de grande relevo nas lutas políticas da época. Foi o primeiro jornal que se publicou no Sul de Minas e o quinto da Província. Foi nas oficinas desse jornal (travessa João da Silva) que se editou o projeto da nova constituição do Império, chamada de “Constituição de Pouso Alegre”.

água (Fonte: A Historia de Pouso Alegre, Octavio Miranda Gouvea). 1832 – Em 7 de maio é instalada a Câmara Municipal em Sessão presidida pelo padre vereador Mariano Pinto Tavares, seu primeiro presidente. Em 6 de maio o Dr. Francisco de Paula Cerqueira Leite, Juiz de Direito da Comarca do Rio Verde, levantou o pelourinho, símbolo da emancipação municipal, no largo da Alegria, em frente à primitiva Igreja do Rosário, pouco antes construída. Essa igreja foi demolida em 1878. Nela funcionava a Irmandade do Rosário, que teve os seus estatutos aprovados em 20 de agosto de 1846. Muitos pelourinhos foram destruídos pelos liberais a partir de 1834 por serem consideradas um símbolo de tirania. 1833 – O Recopilador Mineiro foi o 2º Jornal de Pouso Alegre. Dirigido por Modesto Antônio Mayer (natural de Congonhas) auxiliado pelo padre João Dias de Quadros Aranha (natural de Itu/SP) e sob a orientação do Padre José Bento Leite Ferreira de Melo.

1831 – Em 13 de outubro Pouso Alegre é elevada à categoria de Vila. Com a criação da Vila, a Câmara tomou logo as primeiras medidas determinando abertura de duas fontes públicas de água potável, construção de um chafariz no Largo do Rosário e abastecimento de

17


outubro de 2012

1834 – Realizou-se na Vila a Primeira Sessão de Júri, presidida pelo Juiz de Direito da Comarca do Sapucahy, com sede em Campanha – Dr. Tristão Antonio de Alvarenga. O padre Quadros Aranha é eleito presidente da Câmara Municipal, ocupando este cargo por vários anos. Também neste ano o Cônego José Bento é nomeado Senador do Império, tomando posse na Câmara Vitalícia, na corte do Império.

da pelo Coronel José Garcia Machado.

1836 – A velha casa onde funcionava a Câmara Municipal de propriedade do Senador José Bento é adquirida pela municipalidade no valor de Rs.1:500$000 (Hum conto e quinhentos mil réis). Foi o primeiro prédio público da cidade. Esta casa está incluída, segundo o recibo “Humas cazas no largo da matriz para nellas fazerem suas sessões e serviço de aulas de ensino”.

1874 - É autorizada pela lei 2091 do Governo Provincial a construção da cadeia. O prédio possuía dois pavimentos. No térreo, construído com paredes grossas de taipas e forradas de pranchões, estavam localizadas as prisões, e no superior, com paredes construídas de adobos, estava o júri e a polícia.

1844 – No dia 8 de fevereiro é assassinado o Senador José Bento Leite Ferreira de Melo. Desde o começo de 1842 agravaram-se as lutas políticas. O ano de 1843 correu sem grandes incidentes, mas o rancor e o despeito enchiam a alma dos políticos. Na tarde de 08 de fevereiro de 1844, quando seguiu da Vila (Pouso Alegre) para a sua fazenda, foi assassinado com dois tiros de garrucha, caindo do cavalo que o conduzia. Foi logo após, socorrido pelo médico Dr. José Antonio de Freitas Lisboa, falecendo em seguida. Pessoas de prestígio político e inimigos do Senador foram os mandantes do crime. Após algumas buscas o pistoleiro contratado, Dionisio Tavares da Silva (auxiliado por irmãos), recebe a pena de 30 anos de prisão a ser cumprida na cidade de Barbacena – MG. 1848 – A Lei nº 433 de 19 de outubro, Carta de Lei elevando à categoria de cidade a Vila de Pouso Alegre, com a mesma denominação. Assinada pelo presidente da Província de Minas Gerais, Bernardino José de Queiroga, e selada na Secretaria do Governo da Província em 19 de outubro de 1848 (livro da Lei Mineira, tomo XIV, parte 1ª, folha nº 59). 1849 – Em fins deste ano foram iniciadas as obras da nova matriz, atrás da antiga, sendo a construção dirigi18

1873 – Início da construção do prédio do Teatro Municipal. É fundado o Colégio São Sebastião onde se lecionavam as primeiras letras e estudos preparatórios do sexo masculino e o Colégio Nossa Senhora das Dores, onde se educava e instruía a mocidade feminina.

1875 – Inaugurado o Teatro Municipal, pela Associação Dramática de Pouso Alegre, constituída por jovens amantes das artes cênicas. A edificação, em estilo neo-clássico e formada por dois pavimentos, foi doada ao município pela Associação. 1880 - Aportam nas terras do Mandu famílias de pátrias distantes, objetivando dias melhores para seus descendentes. São elas: Scapulatempo, Carlêtti, Rigotti, Laraia, Pagliarini, Guersoni, Puccini, Campanella (Itália); Fernandez, Camacho, Godoy, Sales (Espanha); Gomes, Campos, Martinez, Lopes (Portugal); Schimidt, Engelmann (Alemanha); Galdemann, Runchinsky (Israel); Piffer e Kersul (Aústria); Sarkis, Honse, Abib (Líbano). Enfim, foram muitos os imigrantes que aqui criaram raízes. 1881 – É fundado o colégio Liceu Pouso-alegrense pelos professores Francisco Furtado Mendonça Filho e Cônego Vicente de Melo César. 1883 – Publicado no jornal Livro do Povo, em 30 de setembro, pela Câmara Municipal da cidade de Pouso Alegre, circular recebida do presidente da Província, chamando a atenção dos fazendeiros para a questão da libertação dos escravos. “No intuito de obviar o mal que em futuro muito breve terá de sofrer a agricultura e indústria desta Província, visto como já escasseão os braços escravos e tendem a desaparecer, tem esta presidência o maior empenho na introducção, desde já, de colonos que venhão em substituição a pouco e pouco daquelle elemento de trabalho. Contanto, pois, com o concurso dessa Câmara para conseguir resultado tão almejado, espero que envidará todos os seos esforços perante os fazendeiros desse município, para o fim de serem introduzidos em suas industrias colonos procedentes das Ilhas Canárias e da dos Açores; podendo elles, para qualquer deliberação neste sentido, dirigirem-se aos Srs. Agostinho Pires & Companhia, no Rio de Janeiro, que teem contracto com esta presidência para a


outubro de 2012

bro, confirmou a criação do distrito-sede do município de Pouso Alegre, que nos quadros relativos à divisão administrativa de 1911, se subdivide em quatro distritos: o da sede, e os de São José do Congonhal, Carmo da Borda da Mata e Nossa Senhora de Estiva. 1892 – Instalada a Comarca de Pouso Alegre. Publicação da 1ª Lei Orgânica do Município em agosto, contendo os estatutos do Município de Pouso Alegre. Chefe do Executivo Coronel José Joaquim Vieira de Carvalho.

introducção de 42.000 collonos daquella procedência.” Fonte: Jornal Livro do Povo, anno II, nº 30, 30 de setembro de 1883, p.3. 1884 – A praça principal da cidade recebe designação de Praça Senador José Bento em homenagem ao grande mineiro e benfeitor de Pouso Alegre. Essa designação foi de autoria do então vereador Joaquim Augusto Moreira de Queiroz, em sessão legislativa de 08/02/1884. 1887 – O governo mineiro contratou com C. Euler Jr. e R. Castro Maia a construção de uma estrada de ferro com ponto de partida na estação de Soledade de Minas, na Estrada de Ferro Minas e Rio e terminal em Sapucaí passando por Pouso Alegre. Para servir ao movimento de passageiros foi construída a Estação de Pouso Alegre, obedecendo ao estilo das construções ferroviárias.

Em 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assina a Lei Áurea, abolindo a escravidão no Brasil. 1888 - Assinado contrato de iluminação pública composto de 50 lampiões, sendo o querosene o combustível usado. Em noites de lua cheia, os lampiões eram acesos mais tarde, pois o luar iluminava bem as ruas. Neste mesmo ano, o colégio Liceu Pouso-alegrense fecha suas portas e é inaugurado, no mesmo local, o Colégio Mendonça, também dirigido pelo professor Francisco Mendonça Filho. O Colégio Mendonça funcionava onde se localiza hoje o 14º GAC (Quartel). Em 21 de maio, a Câmara Municipal de Pouso Alegre lavra uma ata especial, encerrando o Livro de Ouro (criado em 16 julho do ano de 1887, “para nele ser registradas as cartas de liberdade gratuitas e donativas oferecidas para a emancipação de escravos, todo enumerado e rubricado por Ferraz da Luz, tendo no fim termo de encerramento”). (Acervo MHMTT). 1891 – Depois de pertencer às comarcas do Rio Verde, Sapucahy e Jaguary, a lei estadual nº2, de 14 de setem-

1895 – No dia 25 de maio chega à estação da Rede Mineira de Viação (RMV) o trem especial para a inauguração da ferrovia, trazendo a bordo a diretoria da Estrada, representantes do governo de Minas, da imprensa da Capital Federal e grande número de convidados pela diretoria e pela comissão de festejos. 1897 – Em 12 de dezembro, com o nome de Cidade de Minas, é inaugurada a nova capital (Em 1901 a capital passa a chamar-se Belo Horizonte). 1899 – Começou a funcionar no dia 19 de março o Seminário Diocesano sob a invocação de Nossa Senhora Auxiliadora. Fundado o Ginásio São José de propriedade da Diocese, pelo Padre José Paulino de Andrada, na chácara onde funcionou o Colégio Mendonça (14º GAC). 1900 – Lançado o Almanack do município de Pouso Alegre, tendo como diretor Antônio Marques de Oliveira. Segundo esta publicação, na época, a cidade possuía 499 casas, distribuídas em 5 praças e 18 ruas. A população era de aproximadamente 2600 almas. A cidade era iluminada a petróleo queimado em lampiões belgas, abrigados em caixas de vidro sobre postes de madeira. O abastecimento de água era feito por dois chafarizes, ou por cisternas que quase todas as casas possuíam. Cultivava-se na freguesia da cidade a cana, o fumo, o café e toda espécie de cereais; exportavam-se, além destes produtos, polvilhos, farinha, queijos, galinhas, gado e cevados. O mercado, farto em gêneros de primeira necessidade, funcionava somente aos domingos, a fim de deixar livre aos que o abasteciam, isso é, à pequena lavoura. O cemitério estava localizado no alto de uma colina, em lugar aprazível, dominando toda a cidade. O Bispado foi criado por iniciativa do então vigário da paróquia de Pouso Alegre, padre José Paulino de Andrade. Presidente da Câmara e Chefe do Executivo coronel José Joaquim Vieira de Carvalho. 1901 – O Colégio Diocesano São José é equiparado ao Ginásio Nacional, Decreto 5102. Chega a Pouso Alegre, transferido de Vitória (Espírito 19


outubro de 2012

Santo), para tomar posse o Bispo D. João Baptista Correa Nery – o primeiro bispo da Diocese. 1902 – Chegam a Pouso Alegre as Irmãs da Visitação, abrindo um Colégio para meninas, em prédio provisório, obtendo a equiparação do mesmo às Escolas Normais do Estado (1905). Em 1908 era diplomada a primeira turma de alunas. 1904 – Ereção de um monumento à Nossa Senhora da Conceição, no centro do Jardim da Praça Senador José Bento em homenagem ao 50º aniversário da proclamação do dogma, em frente à catedral do Bom Jesus. Lançada a pedra fundamental do novo edifício do Colégio Diocesano. Inaugurado o Palácio Episcopal, cuja pedra fora lançada a 20 de janeiro de 1903. Despede-se da cidade e da sua querida Diocese, o infatigável batalhador Monsenhor José Paulino de Andrada para fixar residência em Pernambuco e depois em sua terra natal, o Rio Grande do Norte. 1905 – Inaugurado em 8 de dezembro o Santuário do Coração de Maria, com a pedra fundamental lançada em 1903. O prédio era coberto com telhas francesas, em posição bastante inclinada, em estilo gótico. Neste mesmo ano tem início a troca da iluminação a querosene pela luz elétrica. Chefe do Executivo Coronel Otávio Meyer. 1906 – Inaugurado o grupo escolar Monsenhor José Paulino. O grupo ministrava o ensino primário e o ensino religioso sob a inspeção da Cura da Catedral. Os alunos pobres eram auxiliados pela Caixa Escolar e recebiam diariamente a sopa custeada pela mesma caixa. O presidente da caixa escolar era monsenhor Antônio Furtado de Mendonça. Neste mesmo ano é constituída a Associação de Caridade, composta de 21 sócios efetivos, sendo o presidente D. João Nery, tendo como fim abrir e manter uma Santa Casa. Em dezembro é fundado o Hospital São Vicente de Paulo, sob a direção das Irmãs de Nossa Senhora do Calvário, passando anos depois para as Irmãs da Providência. 1907 – É fechado um contrato pelo prazo de 25 anos para a instalação da Empresa Telefônica, e Pouso Alegre se torna também, neste ano, a primeira cidade do Sul de Minas a contar com a energia elétrica. 1908 – A Câmara Municipal, através do Agente Executivo Octávio Meyer, publica a Consolidação das Leis e Resolução que regem o Município de Pouso Alegre. “A Câmara era constituída de 11 vereadores que serviam gratuitamente e se reuniam quatro vezes por ano, em sessão ordinária, independente da convocação: em 2 de 20

janeiro, 2 de março, 2 de junho e 2 de setembro”. 1909 – Eleito o 2º bispo da diocese, D. Antônio Augusto de Assis, tomando posse a 17 de novembro do mesmo ano. 1911 - Chega a Pouso Alegre a Madre Provincial das Irmãs Dorotheas, de Portugal, a fim de instalar um Colégio para meninas. Chegam a Pouso Alegre os Missionários do Sagrado Coração de Jesus, assumindo a direção do Ginásio Diocesano no dia 11 de julho do mesmo ano. 1912 – Inaugurado o prédio do Grupo Escolar Monsenhor José Paulino, na Av. Dr. Lisboa, sendo seu primeiro diretor o Prof. Joaquim Queiroz Filho. Na inauguração esteve presente o secretário de Interior e Instrução Pública de Minas Gerais, Delfim Moreira da Costa Ribeiro. Chefe do Executivo Senador Eduardo Carlos Vilhena do Amaral. 1913 - É sancionada a Lei nº 98, concedendo ao cidadão Ultime Cambariú, privilégio por 25 anos para explorar a navegação do Rio Mandu, desde sua foz, no Rio Sapucaí-Mirin até a ponte, na saída da cidade. Fundação do Pouso Alegre Futebol Clube, tendo como presidente Alfredo Ennes Baganha. 1914 - Inaugurado em Pouso Alegre o primeiro cinema, Cine Íris, na Praça Senador José Bento, tendo como gerente o ourofinense Francisco de Almeida Fleming, um dos propulsores da cinematografia nacional. Em agosto de 1914 tem início a Primeira Guerra Mundial

1915 – Em janeiro é fundada a Escola de Pharmácia e Odontologia pelos Drs. Nothel Teixeira, Artur Guimarães, Rodolfo Teixeira, Joaquim Nunes Brigagão, Sebastião Meyer e outros. Funcionou até 1931. 1916 – Chega a Pouso Alegre D. Otávio Chagas de Mi-


outubro de 2012

21


outubro de 2012

randa, nomeado bispo em 14 de fevereiro e sagrado em Campinas (SP) no dia 4 de junho. Tomou posse no dia 26 de junho.

1917 - Em janeiro a Câmara Municipal recebe a prestação de contas, pelo presidente e agente executivo, Senador Eduardo Carlos Vilhena do Amaral, constando de gastos do município como: “auxílio a comissão encarregada da ornamentação das ruas para festejos por ocasião da posse da actual auctoridade diocesana; auxílio a auctoridade policial para transporte de loucos remettidos para o manicômio de Barbacena; construção de um ranchão no terreno para o matadouro municipal, já a título de experiência, já principalmente como meio de fiscalização das condições do gado bovino abatido para o consumo público”. A Resolução nº 89, em seu artigo 3º, determina: “não será permitida a construção de casa, no logradouro da Vendinha, para a habitação de morpheticos”;§Único. A medida que se forem vagando as casas ali existentes e ocupadas por morpheticos, o Agente Executivo promoverá meios de serem elas extintas por demolição ou incineração”. Fundação da Escola Profissional Delfim Moreira. Em 6 de agosto é inaugurado o novo cemitério Municipal no Bairro das Taipas (Comendador José Garcia), situado em perímetro “suburbano”. Fonte: Gazeta de Pouso Alegre, 21 de janeiro de 1917, anno I, num.34.

1919 – Início da construção da Vila Vicentina, localizada em vasto terreno. O número de casas ao longo dos anos elevou-se a 41, todas ocupadas por famílias sustentadas pelas conferências vicentinas. As casas foram doações de pessoas de Pouso Alegre e amigos da cidade. 1920 – Pela Lei de nº 133 é feita doação ao estado de Minas Gerais de um terreno à Av. Dr. Lisboa para a construção do Edifício do Fórum. Área adquirida de Dª. Guilhermina de Almeida Lisboa e outros. É inaugurado o orfanato Nossa Senhora de Lourdes, voltado para meninas oferecendo a instrução primária e ensino de trabalhos domésticos. “Um refúgio dos infelizes órfãos, que ali encontram o carinho maternal de dedicação das Irmãs de Caridade” e nova capela anexa ao hospital São Vicente de Paulo (Rua Adolfo Olinto). 1921 – Inaugurado o Hospital Regional, denominado posteriormente “Dr. Samuel Libânio”. O primeiro diretor foi Custódio Ribeiro de Miranda, que posteriormente aparelhou o hospital com um “poderoso aparelho de raio X”. 1922- Inaugurado o Palácio Episcopal, cujo custo foi de 85 contos de Réis, uma obra de Mário Gissoni. O Palácio, residência oficial dos bispos, foi construído em meio a um amplo jardim, sendo seu primeiro habitante D. Otávio Chagas de Miranda. 1923 – Em janeiro é inaugurado o edifício do Fórum. Em 7 de setembro, através da Lei estadual nº 843, Pouso Alegre perde o distrito de Borda da Mata, cujo território passou a constituir um novo município. Chefe do Executivo Olavo Gomes de Oliveira.

Fim da Primeira Guerra Mundial em 11 de novembro de 1918 com a derrota da Alemanha. 1918 – Inaugurado o edifício construído para abrigar a Escola Normal Santa Dorothea, à rua Francisco Sales. É ajustado por 280 contos de réis a venda ao Governo Federal dos edifícios do Ginásio Diocesano e Escola Normal das Dorotheas para a instalação de uma unidade do Exército Nacional. (10º RAM). Em 4 de março desembarcam em Pouso Alegre o Tenente Cel. Marcos Pradel de Azambuja, capitão José Luiz Martins Penha para receberem os edifícios adquiridos para a instalação do 10º Regimento de Artilharia Montada. 22

1922 – O Jornal 28 de Setembro publica uma nota sobre a iniciativa de “algumas pessoas que estão tratando de criar em nossa terra, um colégio para educação dos meninos de cor”, e outra onde transcreve algumas linhas de uma circular da Chefia de Polícia: “Em circular dirigida aos seus delegados nos municípios o sr. Chefe de Polícia do Estado manda executar a lei de prohi-


outubro de 2012

bição do uso de armas determinando a apprhensão e a autuação das que forem encontradas em poder dos infratores”.

construção de um estádio. (Fonte: Donizeti Barbosa, Uma Breve história do futebol pouso-alegrense. Pouso Alegre 150 anos, edição especial, 1998 p.21)

1924 - Fundada a associação “Asylo Bom Jesus”, depois Assistência Bom Jesus (1934), pela Associação Comercial, destinada a socorrer os pobres mendigos. A diretoria era composta apenas de senhoras, eleitas em reunião anual e auxiliadas por um conselho de homens, do qual faziam parte o presidente da associação de Caridade (Bispo Diocesano) e o Delegado de Polícia. A arrecadação era feita por comissão de moças. 1925 – É lançada a Pedra Fundamental da capela Nossa Senhora da Aparecida, no mês de dezembro, na Faisqueira, pertencente à Diocese, junto da casa de Campo do Seminário. 1926 – Inaugurado o Clube Literário e Recreativo de Pouso Alegre, idealizado pelo coronel Joaquim Mariano Campos do Amaral, seu primeiro presidente. Segundo registros, o projeto de lei nº 151 de 18 de janeiro de 1923 autorizou a doação, “mediante condições estipuladas, do prédio que servia de Paço Municipal a fim de ser demolido e no local construído o edifício para sediar a sociedade”. O local, além de encontros sociais, culturais e políticos, abrigava uma das primeiras bibliotecas do Estado.

1929 – Ocorre a maior enchente segundo os moradores da época e o transporte ferroviário fica prejudicado devido ao desabamento das pilastras da ponte ferro. Inaugurada a Escola Doméstica Santa Terezinha. É lançada a pedra fundamental do novo prédio do orfanato Nossa Senhora de Lourdes, na rua Adolfo Olinto, ao lado da Capela do Menino Jesus de Praga e da velha Santa Casa de Misericórdia. Através da Lei 174 o agente executivo é autorizado a realizar o prolongamento da avenida Dr. Lisboa até a estação da Rede Mineira de Viação (RMV) desapropriando dois quarteirões. 1930 - Em, 31 de dezembro, na sala de reuniões da extinta Câmara Municipal, no edifício do Fórum, tomou posse o Conselho Consultivo criado pelo decreto nº 9767, de 24 de novembro de 1930. Livro de Atas da Câmara Municipal, 1926/1935, p.9. Golpe de Estado de Getúlio Vargas. Chega ao fim a política do café-com-leite.

1927 – A resolução de número 167, de 6 de junho, muda a denominação do bairro Aterrado para São Geraldo. Inaugurado o novo edifício do Seminário Diocesano, construído a pedido de D. Otávio Chagas de Miranda, com o dinheiro da venda do Ginásio Diocesano ao Exército Nacional. Chefe do Executivo João Tavares Corrêa Beraldo 1928 – O Pouso Alegre Futebol Clube, o rubro–negro voltou com força total. Em 28 de setembro, Alfredo Baganha e José Nunes Rebello, entre outros representantes do PAFC, se reuniram no Fórum local, lavrando a ata de compra de um terreno localizado à rua Comendador José Garcia, por oito contos de reis, para a

1931 - Nomeação de Conselheiros pelo Presidente do Estado para membros do Conselho Consultivo dos Municípios (decreto federal nº 20348 de 29 de agosto de 1931). É demolida a cadeia na Praça Evaristo da Veiga e concretizado o prolongamento da Avenida Dr. Lisboa. 1932 – A Revolução Constitucionalista de 1932 envolveu a cidade de Pouso Alegre. O combate teve início às 3 horas da tarde do dia 20 e prolongou-se por toda à noite, até às 10 horas da manhã seguinte de 21, com a rendição dos soldados revolucionários que não conseguiram escapar. Arrendamento do Teatro Municipal para funcionamento do cine Eldorado. 23


outubro de 2012

1933 – Alargamento dos passeios da av. Dr. Lisboa em três metros, com ilhas centrais e postes de iluminação. Fundação da União Operária de Pouso Alegre. Prefeito José Paiva Coutinho Sapucahy .

etc.” Junto ao asilo funcionava, em dois turnos, uma escola mantida pela prefeitura para crianças pobres.

1934 - Inauguração de um ringue de patinação na Av. Dr. Lisboa. 1935 - Prefeito Antonio Corrêa Beraldo 1936 – Em 22 de julho, realizou-se a sessão da instalação da primeira Câmara Municipal “post-revolucionária”. (Livro de Atas, 1936) A reunião objetivou as eleições para a mesa da Câmara, sendo eleito presidente Tuany Toledo (vereador mais votado) e para prefeito municipal, Antonio Corrêa Beraldo, com 5 votos. Inauguração da Vila D. Nery, propriedade da Diocese, composta de 26 casas para pobres, doadas por pessoas da cidade e de outras localidades. Todas as casas foram ocupadas e seus moradores tinham como obrigação de rezar todos os dias pelo doador da casa. Além das casas da Vila D. Nery a diocese possuía outras duas em outro ponto da cidade (local não mencionado nos livros), destinadas exclusivamente aos tuberculosos que não podiam ser internados nos hospitais.

Em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas proclama o Estado Novo, fechando o Congresso Nacional e autorgando a nova Constituição do Brasil. Em 11 de maio de 1938 – ataque Integralista ao Palácio Guanabara (na época, residência presidencial do Brasil) no Rio de Janeiro.

1937 - PrefeitoTuany Toledo 1939 - Instalação da Rádio Clube de Pouso Alegre – PRJ – 7. Fundadores: José Nunes Rebelo, José Francisco de Brito, Mário Silveira, Pedro Rebelo, Orfeu Butti, Joaquim Silveira, Demerval Coutinho. Em junho é inaugurado o Asilo São Vicente de Paulo, em substituição ao Hospital, dirigido pelas Irmãs da Providência. O espaço contava com “os cômodos da administração, capela, escola, refeitórios e dois pavilhões para os pobres, com 322 quartos, instalações e No dia 1º de setembro de 1939 tem início da Segunda Guerra Mundial 24

1940 – O município possuía 64.937 habitantes, sendo 13.200, na sede, Pouso Alegre. O orçamento municipal era de 1.050:000$000. A cidade possuía 2600 prédios e duas praças: Senador José Bento e Getúlio Vargas. Havia 11 médicos, 14 advogados, 12 dentistas, 1 engenheiro, 12 farmacêuticos e dois veterinários. Somavam 3.600 propriedades agrícolas voltadas para pecuária, bovinos e suínos, e agricultura. A indústria fabril contava com 80 fábricas das seguintes especialidades: banha, manteiga, cola química, aguardente, polvilho, etc. O mercado municipal funcionava às sextas e sábados. A limpeza pública era mantida pela municipalidade. A luz elétrica era explorada pela Prefeitura e a telefonia pela Cia. Telefônica Brasileira. A religião predominante era a católica. Os veículos totalizavam 60 automóveis, 45 caminhões, 810 veículos de tração animal e 30 de tração pessoal. O transporte urbano era feito por automóveis e charretes. As vias de comunicação intermunicipais eram feitas por: Pouso Alegre a Belo Horizonte, por rodovia via Lavras 563km; pela R.M.V. Via Soledade e Três Corações, 706 km; de Pouso Alegre a Santa Rita do Sapucaí 29, a Borda da Mata 30 pela RMV a Silvianópolis 36, a Cambuí 39, a Cachoeira 37 km por estrada de rodagem. Fonte: O Linguarudo, edição especial, 1948. 1941 – Inauguração em 2 de março do Parque Infantil Major Dorneles, pelo então prefeito Tuany Toledo, na Praça do Rosário. O parque foi considerado um dos primeiros do Brasil no gênero. Os dois pavilhões se dividiam em “Gynnasium” e assistência escolar médico-dentária. Oferecia aos frequentadores: tanque para meninos, campo de basquet, de volley-boll, de saltos, pista para corridas a pé, alvo para arremesso de bolas, escada horizontal, gangorras, barras horizontais, escorregadeiras, argolas, trapézios, giro-gigante, balanços, gaiola ginástica e etc.


outubro de 2012

Em 13 de novembro é fundado o aeroclube de Pouso Alegre por Orfeu Butti, Luiz Minchetti, Dionísio Machado, Benício Pacheco dos Santos, João Batista Piffer e outros. Prefeito José Antonio de Vasconcelos Costa Em 1942 o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial contra os países do “Eixo”. 1943 – Chegam ao 14º GAC 62 alemães prisioneiros de guerra, tripulantes do cargueiro afundado Anneliese Essberger, que ficam aqui presos durante um ano, partindo em 1944. Inaugurada em 19 de março, pelo bispo diocesano D. Octávio Chagas de Miranda, a Capela de Nossa da Aparecida, em terreno pertencente ao 8º RAM e por iniciativa dos militares ali sediados. É solenemente instalado o Carmelo da Sagrada Família, com quatro religiosas vindas do mosteiro de Campinas SP. (Praça João Pinheiro no dia 26 de outubro). Prefeito Osvaldo Mendonça 1944 – Fundada a Primeira Igreja Presbiteriana de Pouso Alegre. No dia 2 de setembro de 1945 termina a Segunda Guerra Mundial 1947 – Entram em atividades os aviões da Organização Mineira de Transportes Aéreos -OMTA- estabelecendo suas linhas aéreas para o sul de Minas, atendendo semanalmente Pouso Alegre, Itajubá, Ouro Fino, São Lourenço, Belo Horizonte. Em novembro é iniciada a demolição da parte da frente da velha Catedral (adros, torres e mais 8 metros para dentro). A demolição foi finalizada no dia 10 de fevereiro de 1948. Prefeito José da Costa Filho

Cultura, o órgão oficial da municipalidade A Cidade, o jornal crítico e humorístico O Linguarudo e o Propagandista, órgão da UPC do Brasil. Pela lei nº 336 de 27 de dezembro, Pouso Alegre perde o distrito de Estiva. A mesma lei criou o distrito de Senador José Bento, subordinado ao município de Pouso Alegre. Acontece neste ano a 1ª exposição agropecuária inaugurada pelo então governador de Minas Milton Soares Campos. Fonte: Enciclopédia dos Municípios Mineiros, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 1959. Prefeito Alvarim Vieira Rios 1949 – Em janeiro a Diocese passou a direção do Colégio São José aos padres pavonianos. Em fevereiro é instalado o Grupo Escolar Prof. Joaquim Queiroz. Em agosto é inaugurada a primeira parte da nova catedral. 1950 – A Companhia Sul Mineira de eletricidade vence a licitação para a compra do acervo do serviço de força e luz do município e a transferência da concessão do fornecimento de energia elétrica. Segundo dados do Recenseamento Geral, Pouso Alegre possuía 28.731 habitantes. Estimativas do Departamento Estadual de Estatísticas de Minas Gerais dão 22.224 pessoas como sua população provável em 31/12/1955, e densidade demográfica de 42 habitantes por quilômetro quadrado. Explica-se o decréscimo por haver sido desmembrado, depois de 1950, o distrito de Congonhal. A sede, Pouso Alegre, possuía 12.509 habitantes, sendo 5.971 homens, 6.538 mulheres. A maioria da população do município habitava a zona rural, 14.806, sendo 7680 homens e 7182 mulheres. Quanto à população municipal, segundo os ramos de atividades, 23,69% estavam ligados à agricultura, pecuária e silvicultura, 48,17% dedicavam-se a atividades domésticas não remuneradas e atividades escolares discentes e apenas 6,30% estavam em condições inativas. Quanto ao número de habitantes alfabetizados, 57,04% não sabiam ler nem escrever, desta porcentagem, 60,04% eram mulheres.

1948 – A cidade comemorou seu primeiro centenário. Na época Pouso Alegre dividia-se em três distritos: Pouso Alegre (sede), Congonhal e Estiva. A sede, com 22.231 habitantes, contava com os bairros São Geraldo, São João, Santo Antônio e Faisqueira, todos dotados de luz elétrica. Neste ano a cidade possuía pequenas indústrias no centro urbano e arredores, voltadas para fabricação de calçados, laticínios, colas e resinas sintéticas, bebidas, produtos cerâmicos, artefatos de couro e outras. Havia 15 igrejas, além da catedral, seis agências bancárias, 49 escolas públicas e particulares. Circulavam na cidade os jornais Semana Religiosa, A 25


outubro de 2012

1951 - Prefeito Custódio Ribeiro de Miranda

testantes e um templo espírita.

1952 – Em 5 de março é inaugurada a segunda parte da nova Catedral ou toda a Catedral. A primeira missa foi celebrada no dia 06, domingo de Ramos, sendo celebrante Mons. Lamanéres.

1959 – Criada a Faculdade de Direito em Pouso Alegre. É expedida em agosto, por Decreto Federal, a autorização de funcionamento da Faculdade sendo a sua primeira sede no prédio da escola Hermantina Beraldo, situado na praça João Pinheiro. Seu primeiro diretor foi Jorge Beltrão. Em 1965, as aulas passaram a acontecer em novo prédio situado na Avenida Dr. João Beraldo. Decreto n.45.829 do Ministério do Exército, alterando a denominação de 8º RAM para 4º Regimento de Obuzes – 105mm. Prefeito Jorge Antonio Andere

1953 - Em 12 de dezembro, pela Lei nº. 1039, foram desmembrados do município de Pouso Alegre os distritos de Congonhal e Senador José Bento. 1954 - Pouso Alegre recebe a visita do Governador Juscelino Kubitschek de Oliveira, por ocasião da comemoração das Bodas de Ouro da ordenação sacerdotal de Dom Octávio Chagas de Miranda. Neste ano também são iniciadas as atividades do Conservatório Estadual de Música denominado Juscelino Kubitschek de Oliveira, tendo como primeiro diretor o professor João Soares Souza. 1955 – A economia do município estava fundamentada, em sua maior parte, nas atividades agropecuárias, incluindo-se a indústria rural. Na pecuária, os rebanhos bovinos somavam 30.000 cabeças, representando 74,10%, sendo as raças dominantes o zebu, holandesa, caracu, existindo ainda reprodutores de outras raças. Os principais ramos industriais eram: latas brancas e litografadas, guarda-chuvas e sombrinhas, plantadeiras de arroz, calçados para homens e senhoras, sandálias em geral, banha de porco e derivados, laticínios em geral, vassouras de piaçava, móveis em geral, selas e arreios para montaria, sabão e saponáceo, bebidas em geral, massas alimentícias, doces, mortadela e presuntos, material para construção, artefatos de ferro e outros. Encontravam-se registrados, no órgão competente, 132 automóveis, 27 camionetes, 77 caminhões e 10 ônibus. 1956 - Inaugurado em 9 de setembro o aeroporto de Pouso Alegre. Prefeito Antonio Barros de Lisboa 1957 – É inaugurado o novo prédio do Carmelo da Sagrada Família, no final da rua Com. José Garcia. Neste ano, segundo o informativo Pousoalegrense, a arrecadação municipal de 1955 foi de Cr$ 3.698.076,00. A cidade contava com 18 fábricas com 5 ou mais operários e 112 com menos de 5 operários. Sobre as casas comerciais, segundo o Informativo, havia 18 principais, 145 menores, 14 bares, sendo 9 com sorveteria, 20 botequins, 8 cafés, 5 hotéis, 7 pensões, 5 restaurantes, 4 drogarias e 10 farmácias, 2 cinemas, 4 tipografias, 15 alfaiatarias, 20 barbearias e 5 ateliês fotográficos. Nesta época circulavam na cidade 11 publicações de periodicidade variada e funcionava uma estação de rádio, PRJ-7. Predominavam os templos católicos, com 11 igrejas e 11 capelas, havendo apenas 2 templos pro26

Em 21 de abril de 1960 o então presidente Juscelino Kubtischek de Oliveira inaugura a nova capital: Brasília 1962 – A Diocese é alçada à dignidade de Arquidiocese, por ato da Santa Sé e agraciado o bispo D. José D’Ângelo Neto com a insígnia de 1º Arcebispo. É inaugurado o novo cine Glória, à praça Senador José Bento. 1963 – Inaugurado o Clube de Campo Pouso Alegre. Prefeito Cândido Garcia Machado 1964 – A Câmara Municipal passa a funcionar no prédio do Fórum. Revolução de 1964: destituição de João Goulart; Assume a presidência o general Humberto de Alencar Castello Branco.

1965 – Pelo decreto estadual nº 8.660 é instituída a Fundação de Ensino Superior do Vale do Sapucaí. 1966 – É inaugurada a primeira Igreja Batista em Pouso Alegre. 1967 - Prefeito Jorge Antonio Andere


outubro de 2012

27


outubro de 2012

1968 – A Faculdade de Ciências Médicas Dr. José Antonio Garcia Coutinho é autorizada a funcionar pelo decreto nº 63.666 e reconhecida pelo decreto nº 75.016. 1969 – O prédio do antigo Seminário é vendido por D. José D’Angelo Neto, arcebispo de P.A., à Escola Estadual José Marques de Oliveira, sendo diretor na época o Dr. Lecyr Ferreira da Silva. Inaugurado o sistema de semáforos no trânsito da cidade, instalados nos principais cruzamentos da cidade. Prefeito Antonio Duarte Ribeiro 1970 – Segundo o censo demográfico de 1970, a população urbana da cidade era de 29.208 habitantes e a rural de 8.864, perfazendo um total de 38.072 habitantes. Segundo o informativo “Pouso Alegre: informações básicas para investidores”, Pouso Alegre, como as demais cidades, sofreu considerável esvaziamento populacional em virtude das correntes migratórias que demandavam São Paulo e Rio de Janeiro. Como evidência do fato, o município apresentava, em 1940, uma população de 19.752 habitantes e, em 1950, de 20.670, com índice de crescimento de 0,4% ao ano. Nas décadas seguintes, as taxas de crescimento foram de 3% e 3,2% ao ano, respectivamente. Em 19 de outubro é inaugurado o novo Mercado Municipal no mesmo local do que fora demolido, com a presença de autoridades locais e do governador de Minas Gerais, Israel Pinheiro e do prefeito da cidade Antônio D. Ribeiro. Ampliação do cemitério Municipal. Inauguração das casas do BNH no bairro Santa Dorotéia, com 50 unidades. 1971 – Inauguração do grupo de Fraternidade Espírita Irmão Alexandre. Prefeito Breno Coutinho 1972 – A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Eugênio Pacelli é autorizada a funcionar através do decreto federal nº 70.594. Fundada a APAE de Pouso Alegre. 1973 – Pouso Alegre recebe o sistema de telefone automático. Prefeito Simão Pedro Toledo 1974 – Implantado o sistema telefônico de DDD (Discagem Direta a Distância), com 1000 aparelhos automáticos. O sistema automático definitivo tinha capacidade inicial para 2400 terminais e foi implantado no segundo semestre de 1975. O serviço de esgoto não possuía tratamento, sendo lançado no Rio Mandu. A extensão total da rede era de 50.618 metros. 1975 – Instalação da empresa Refinações de Milho Brasil. Pouso Alegre recebe os “orelhões”, instalados pela Telemig. Inaugurado o Banco Mercantil do Brasil. 28

1976 – Instalação da São Paulo Alpargatas S/A. 1977 – Têm início as obras de desvio do leito do rio Mandu, com o emprego de máquinas pesadas, para a implantação da futura avenida Perimetral. Prefeito João Batista Rosa. 1978 – O Distrito de São José do Pântano recebe energia elétrica. 1980 – É iniciado o aterro de parte do leito do Rio Mandu para a construção da Perimetral.

1981 – A Câmara Municipal passa a funcionar no prédio do centro Acadêmico da Faculdade de Direito. 1982 – A Câmara Municipal passa a funcionar em prédio próprio, na Rua Adalberto Ferraz. Em 14 de dezembro é instalado o 20º BPM/MG em Pouso Alegre. abrangendo 57 municípios do Sul de Minas. Seu primeiro comandante foi o Tenente-Coronel-PM Itamar de Oliveira Pacheco (14/12/1982 a 18/11/1983). Prefeito Cândido de Souza. 1983 - Prefeito Simão Pedro Toledo 1984 – Instalação da Sul Mineira Ind. Com. de Laticínios Ltda. Entregue oficialmente o tráfego da Perimetral, com 5,5 km de extensão, com o custo da obra em CR$ 970 milhões de cruzeiros, na administração de Simão Pedro Toledo. Inaugurada a nova emissora de rádio Difusora de Pouso Alegre, na frequência de 1, 580 KHZ – am. 1985 – A população da cidade é calculada em 83.000 habitantes, com uma população flutuante de 30 mil pessoas. Instalação das indústrias Brasinca Ind. S/A e Sobral Invicta S/A (garrafas térmicas). 1987 – Na madrugada do dia 9 de março, um incêndio destrói o Conservatório Estadual de Música Juscelino


outubro de 2012

Kubitschek. A polícia técnica em seu laudo concluiu que o incêndio foi criminoso. 1988 – Inauguração do parque zoo-Botânico Augusto Rusch, em 10 de outubro, no bairro do Ribeirão das Mortes.

1992 – A economia da cidade é bastante diversificada, destacando-se a indústria, a agricultura e o comércio como as principais fontes de renda do município. O setor industrial compreende cerca de 710 unidades fabris divididas em vários segmentos: alimentício, mecânico, metalúrgico, de minerais-não-metálicos, têxtil, material para transporte, matéria plástica, calçados, vestuários e artefatos de tecidos. Cerca de 30 unidades são de médio e grande porte, como a Latasa, Refinações de Milho Brasil, Brasinca, Âncora e Sobral Invicta entre outras. A cidade possuía aproximadamente 70 igrejas e capelas católicas, 20 templos e igrejas protestantes e 3 centros espíritas. A indústria gera empregos para aproximadamente 5500 pessoas. Inauguração do SESI (Serviço Social da Indústria). A Telemig adota mais um prefixo – 422. Inaugurada a igreja Sara Nossa Terra, na rua Com. José Garcia. A população da cidade é de 81.786 habitantes segundo o senso do IBGE. 1993 – Assinado o convênio para a duplicação da BR381 (Fernão Dias) entre os governos Federais de SP e MG. A montadora de veículos JPX inicia a instalação de sua fábrica. A Refinações de Milho Brasil amplia sua fábrica em Pouso Alegre, com um investimento de aproximadamente 10 milhões de dólares. A Telemig instala telefones públicos acionados por cartões magnéticos, substituindo as fichas. Inaugurado o CIEM do bairro Algodão. Prefeito João Batista Rosa

Em 5 de outubro de 1988 é promulgada a nova Constituição, sob a presidência do deputado Ulysses Guimarães. É a primeira a aceitar emendas populares 1989 – Instalada a 3ª Promotoria de Justiça da Comarca. A fábrica Latasa começa a funcionar, fabricando latas de alumínio, com a tecnologia da Reynolds Metaes Company, dos Estados Unidos. Início das obras de restauração do prédio do Conservatório Estadual de Música. Prefeito Jair Siqueira 1990 – Inauguração do terminal rodoviário.

1994 – Instalação de uma torre de celular no bairro Esplanada, com 100 metros de altura, iniciando os serviços com 820 telefones celulares. Inaugurado o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Inaugurada a TV Pouso Alegre ou TV Libertas, de propriedade de Milton Reis. Inaugurado o Hemocentro Regional. 1995 – O Guia de Pouso Alegre apresenta a cidade como um centro regional de compras, com grande variedade de produtos. “O município é também centro de lazer, com quatro boates e danceterias, cinema, teatro, quatro clubes de campo e dois clubes sociais. Nos 504,9km2 de área rural da cidade predominam as culturas de arroz, alho e morango. A maior parte da produção de alho de Minas está concentrada na região e a produção de morango abastece as capitais do Sudeste e de outras regiões do país. O município possui ainda significativa criação de gado leiteiro e de corte, além de suínos e aves. Fonte: Evaldo Sérgio G. Domingues, Entre as Melhores do Brasil. Guia de Pouso Alegre, 1995, p.2 e 3 1996 – Concessão dos serviços de água e esgoto sanitário à Copasa, pela Câmara Municipal, pelo prazo de 30 29


outubro de 2012

anos. Toma posse o terceiro arcebispo de Pouso Alegre, Dom Ricardo Pedro Chaves Pinto Filho. A população de Pouso Alegre é de 93.151 habitantes, segundo dados do IBGE. Inaugurada a igreja evangélica Renascer em Cristo. 1997 – A Revista Exame colocou a cidade em 15o lugar entre os centros de médio porte brasileiros, campeões em investimento, qualidade de vida e infraestrutura. Na mesma época, os estudos mostravam que o município possuía uma renda per capta duas vezes maior que a do Estado de Minas Gerais e o setor industrial registrava um crescimento de 14,57% nos últimos 12 anos, confirmando a vocação do município para este segmento da economia. O Decreto nº 2.287/97 declara de interesse público para fins de tombamento os seguintes bens: Teatro Municipal; Fórum Orvieto Butti; monumento com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, conhecido como Nossa Senhora do Jardim e Nossa Senhora dos Namorados; Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitschek de Oliveira; Clube Literário e Recreativo de Pouso Alegre; Escola Estadual Monsenhor José Paulino; Palácio Episcopal; Escola Estadual Dr. José Marques de Oliveira; casa dos Junqueira e a estação Ferroviária. A Copasa inicia a instalação de hidrômetros, começando pelo bairro São João. Instalação da Johnson Controls do Brasil Automotive Ltda., fabricante de bancos para automóveis. Instalação da Sumidenso do Brasil Inds. Elétricas Ltda., fabricante de chicote elétrico para automotores. Pouso Alegre comemora seus 149 anos. Prefeito Jair Siqueira

a cidade com o objetivo de acompanhar mais de perto os problemas enfrentados pelos municípios atingidos pela enchente. A enchente de 2000 foi considerada a maior ocorrida nos últimos 30 anos, deixando um rastro de destruição em vários bairros da cidade, afirma o jornal Município. Reforma da Praça Senador José Bento. 2001 - Prefeito Enéas Castilho Chiarinni 2005 – A cidade possui 10 instituições financeiras. A frota de veículos da cidade é de: automóvel- 24998; caminhão – 1718; caminhão trator – 139; caminhonete – 1667; micro-ônibus – 125; motocicleta – 4392; motoneta – 659; ônibus – 401; trator de rodas – 0.

2006 – A população estimada, segundo o IBGE, é de 125.209. Instalação da indústria de alimentos Yoky. Segundo dados da imprensa Pouso Alegre, conhecida como “tigre” mineiro, é a melhor cidade para se investir segundo o mais completo índice de competitividade já feito no Estado”. 2007 - Prefeito Geraldo Cunha Filho 2008 - A câmara passa a funcionar em novo prédio na Avenida São Francisco no Bairro Primavera. Prefeito Jair Siqueira 2009 - Prefeito Agnaldo Perugini

1998 – A cidade comemora 150 anos. 2000 – Segundo a revista Estado de Minas: economia, nº 28, de agosto de 2000, “entre as dez mais, Pouso Alegre, conhecida como “tigre” mineiro, é a melhor cidade para se investir segundo o mais completo índice de competitividade já feito no Estado”. Em janeiro a cidade foi, simbolicamente, a capital mineira com o governo de Itamar Franco transferido para 30

2010 - O número estimado de habitantes no município é de 127.974, sendo o índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,826. A cidade é a décima maior do estado e a segunda do Sul de Minas, tendo crescido 30% na última década. Atualmente, 20% da produção industrial de Minas e de São Paulo passam pelo entroncamento rodoviário de Pouso Alegre. Seu parque industrial abriga empresas que operam em diferentes ramos: eletrônico, farmacêutico, alimentício, automotivo e outros. Outros Dados:


outubro de 2012

31


outubro de 2012

A EPAMIG mantém no município o Núcleo Tecnológico de Batata e Morango e uma Estação Experimental de Pouso Alegre (fazenda). O municípío é o segundo maior produtor de morango em Minas, com 17,7 mil toneladas segundo dados do IBGE e conta com uma unidade de conservação de comercialização. A produção de batatas no Sul de Minas está localizada em um raio de 100 km de Pouso Alegre. O clima ameno faz com que esta região seja privilegiada, e possibilita o plantio e a colheita da batata durante todo o ano. Destaca-se ainda sua importância na movimentação da economia das cidades vizinhas, pois é responsável por mais de 100 mil empregos diretos. Industriasque se destacam: Alpargatas, Usiminas Automotiva, Johnson Controls, Sumidenso, JM3 Tacógrafos (implantação), Unilever, Chiarini, Yoki, Tigre, União Química, Cimed, Sanobiol, Biolab, Brasterápica (implantação), Atna, Atual, Rotten Valvinox, MS Metais, Starinox, Prática Fornos, Têxtil Castanhal, Polvilho Dois Irmãos, Providência, Isofilme, k-Mex, Ecimex Digitais, Ice Bom, Biscoitos Vó Luiza, ISMA Móveis de Aço, PRÓ-LIFE Equipamentos Médicos, Plastamp, Lumines Corporation, Tecnoplast, Mundial Uniformes, Pouca Roupa, PROCAIXAS Ind. e Com. De Embalagens, Grupo Freitas, ICL Condensadores, MAPPE Frutas, Água Mineral Pouso Alegre, Água Mineral Sul Mineira, Sobral Invicta S/A produção de vidros, MGA Tecnologia, Fortikol Fitas Adesivas, Griffe Emborrachados. Órgãos Militares e de segurança: -14° Grupo de Artilharia de Campanha- Grupo Fernão

32

Dias -20° BPMMG -Sede da 17ª região de comando da PMMG -Sede da 17ª RISP (Região integrada de Segurança Pública) -11ª Delegacia de Polícia Rodoviária Federal No município estão localizadas várias empresas de transportes e logística e centros de distribuição, devido ao entroncamento rodoviário, servido por 5 rodovias: *MG 179- Alfenas e região do Lago de Furnas *MG 173-Campos do Jordão e Vale do Paraíba *MG 290- Circuito das Malhas, Circuito das Águas Paulistas (Águas de Lindóia, Serra Negra, Socorro, Amparo) e Região Metropolitana de Campinas *BR 381- Rodovia Fernão Dias- Belo Horizonte a São Paulo *BR 459- Rodovia Juscelino Kubitschek de OliveiraPoços de Caldas a Paraty e a Rodovia Presidente Dutra, acesso ao Rio de Janeiro. Pouso Alegre é a sede da OHL concessionária que administra a Rodovia Fernão Dias. 2012 - Segundo dados do IBGE a população atual é de 130. 615 habitantes. Iniciada a construção de um shopping, no entroncamento da BR 381 e BR 459. Em construção a Avenida Dique II. As praças recebem aparelhos para a prática de exercícios físicos. Tem início as boras de reforma da Rodoviária.


outubro de 2012

Sobre pesquisadores e arquivos do MHMTT

33


outubro de 2012

O Trabalho do pesquisador Isaías Pascoal O pesquisador é uma pessoa preparada teórica e tecnicamente para inquirir, ou “fazer falar”, o material que tem às mãos para efetuar a sua pesquisa. Sem base teórica sólida não é possível fazer as perguntas necessárias e nem situar a temática da pesquisa num contexto mais amplo. A carência de preparação técnica leva frequentemente a erros de análise, seleção inadequada de material e precipitação. O pesquisador situado no interior das Ciências da Natureza tem às mãos a natureza, que é por ele recortada em função da problemática eleita e dos interesses pessoais. À luz de teorias e munido de métodos e técnicas adequadas, ele mergulha no processo exaustivo de observação, relação entre fatos, levantamento de hipóteses, experimentação de proposições, até que uma conclusão se imponha. O pesquisador situado no interior das Ciências Humanas, à luz de teorias julgadas adequadas e munido de preparo técnico e metodológico, tem dois caminhos pela frente. A pesquisa de campo, em que, por meio de entrevistas, observação, descrição, coleta de dados estatísticos etc, e com os mesmos cuidados e procedimentos necessários à pesquisa no interior das Ciências da Natureza, chega a uma conclusão aceitável. E, segundo caminho, a pesquisa documental. O historiador é alguém que se encaixa inteiramente neste caso. Mesmo outros ramos das Ciências Humanas, a Sociologia, por exemplo, pode se lançar à pesquisa a partir de documentação histórica. Foi o que fizeram Norbert Elias e Max Weber, dois sociólogos alemães, ao se debruçarem sobre uma variedade de documentos que abrigavam a temática que eles elegeram como foco de suas pesquisas. O historiador é um apaixonado por documentos. Como o arqueólogo e o paleontólogo que fremem de emoção ao encontrar uma peça rara ou inédita, o historiador se sente muito gratificado ao manusear um documento em que a sua temática se expressa. Foi assim desde o nascimento da História com Heródoto e Tucídides na Grécia, com Títo Lívio e Tácito (entre outros) em Roma e uma multidão que se lhes seguiu nos tempos ulteriores. Mas não é possível deixar de nomear a destreza e o amor pelos arquivos e pelos documentos 34

de Michelet na França do século XIX. Foi a partir do manuseio deles que ele escreveu sua prodigiosa história da França e da Revolução Francesa. Embora acima sejam citados grandes nomes no campo da pesquisa histórica, qualquer estudante de história ou de áreas afins passa pela mesma excitação ao trabalhar com documentos que guardam a história ou a interpretação que dela fizeram os personagens que a viveram numa certa época. O documento não é mudo. Ele quer falar. É preciso lhe dar a oportunidade de dizer. As perguntas têm de ser feitas para que as respostas sejam apreendidas e estudadas com cuidado. Como qualquer locução humana, o documento escrito nem sempre é claro. É preciso cuidar para que as pressuposições pessoais não o colonizem. O sul de Minas, até bem pouco tempo atrás, cuidava muito mal da sua documentação histórica. Ela estava dispersa, não acessível à pesquisa, ou concentrada em lugares distantes. Era muito comum, por exemplo, recorrer à Cúria da Arquidiocese de São Paulo para pesquisas sobre a realidade de Pouso Alegre. Ou recorrer à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, ou ao Arquivo Público Mineiro, ou ao Arquivo do Instituto Histórico de São Paulo para deslindar temáticas referentes à realidade sul mineira. Ao pesquisar sobre o significado político do senador José Bento no sul de Minas, no mestrado que empreendi no IFCH – UNICAMP, foi necessário ter acesso aos dois jornais que ele editou em Pouso Alegre. Embora tenha descoberto casualmente que o Clube Literário possuía alguns exemplares do “Pregoeiro Constitucional”, tive de recorrer à Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, que me enviou os microfilmes dos jornais (O Pregoeiro e O Recopilador Mineiro), que deveriam ser impressos numa máquina especial inexistente na cidade. No programa de doutorado o problema foi com as fontes relacionadas à escravidão, muito escassas e dispersas em Pouso Alegre e região. Eu as encontrei em São João del Rei. Desde então, os arquivos começaram a ser organizados na região. A cidade de Campanha avançou muito na organização da documentação existente. Em Pouso Alegre esta tarefa tem sido desempenhada pelo Museu Municipal, que tem conseguido expandir e reunir documentos de valor e lhes dar visibilidade, permitindo o acesso de pesquisadores da região e até de fora da região. Todos os que amam a cultura têm de torcer e contribuir no que for possível para facilitar esse trabalho. É a memória de Pouso Alegre e região que está sendo preservada e oferecida aos que gostam e precisam lidar com as fontes que a abrigam, seja por mera curiosidade e prazer pessoal, seja por necessidade acadêmica, como na conclusão de TCC, elaboração de dissertação de mestrado, tese de doutorado ou artigo científico.


outubro de 2012

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DE POUSO ALEGRE Pouso Alegre completa este ano 161 anos da sua elevação à condição de cidade e 178 anos da sua emancipação política. Hoje os dois processos são o mesmo. Na época do Império brasileiro, não. A emancipação se dava com a elevação a Vila, e não a cidade, que era mais um título honorífico. Já adverti publicamente do erro em considerar o ano de 1848 como o da emancipação política de Pouso Alegre. Em 19 de outubro de 1848, foi assinada pelo presidente da Província de Minas Gerais, Bernardino José de Queiroga, a Lei nº 433, que elevou a Vila de Pouso Alegre à condição de cidade, não de sua emancipação política, que ocorreu em 13 de outubro de 1831. Em 1832 foi instalada a Câmara Municipal, símbolo da emancipação política. Vale lembrar que na época não havia prefeito. As funções que hoje lhe são próprias eram executadas pelo presidente da câmara. Foi assim até a ascensão de Getúlio Vargas ao poder. Na verdade, a emancipação política e administrativa de Pouso Alegre tem 178 anos. Não consigo entender a razão de os pouso-alegrenses comemorarem o dia 19 de outubro como o dia da cidade. Historicamente isto está errado, pois a maior parte pensa que neste dia ocorreu a emancipação política. Não. Ela ocorreu em 1831, no mesmo mês de outubro, mas não no dia 19 e sim no dia 13. Ao tornar-se cidade, em 1848, nada foi acrescentado à sua institucionalidade. Um estudo histórico mais focado poderia revelar os motivos que fixaram o dia 19/10/1848 como o dia e ano da cidade. Em 1948 houve na cidade uma grande festa por ocasião do centenário da sua condição de cidade. É possível que aí tenha se consolidado a data. Mas acho que é um erro. Se o ano de 1848 é o que deve ser focalizado, perde-se a memória da pessoa que mais lutou pela autonomia administrativa e política de Pouso Alegre, o padre e senador José Bento, que morreu em 08 de fevereiro de 1844. Permitir isso é um atentado contra a memória de José Bento, a figura política mais expressiva de Pouso Alegre e todo o sul de Minas. Não dá para explicar o porquê disto aqui, mas sugiro aos interessados ler a biografia de José Bento, escrita por Amadeu de Queiroz, e o meu artigo sobre a sua importância histórica, que pode ser encontrado na internet (www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-87752007000100012&script=sci_abstract). Ainda mais que, neste ano, o Prefeito e a Câmara Municipal o entronizaram como patrono das duas entidades. Sobre 1848, José Bento nada tem a dizer. Ele que foi o principal responsável e o arquiteto da emancipação da então freguesia de Pouso Alegre, que pertencia ao município de Campanha. Sugiro às autoridades que estudem o caso e que a Câmara Municipal crie uma lei estabelecendo que o aniversário de Pouso Alegre não é 19 de outubro, e sim o dia 13 de outubro. E que o ano de referência não é 1848, e sim 1831. O ano de 1848 e o dia 19 de outubro podem até continuar sendo uma data comemorativa, mas não da emancipação de Pouso Alegre. Só que não deixa de ser ironia que a data mais importante da história de Pouso Alegre passe em branco, como se nada tivesse ocorrido, quando na verdade ela é a mais significativa. Como se José Bento passasse em “brancas nuvens” quando, na verdade, ele foi o maestro de tudo. José Bento fez muito pela cidade. Em uma época muito recuada, suas ações nos ensinam que quem age pode mudar a situação. Há que ter garra, há que ter força, há que persistir, há que desafiar limites. Ele é símbolo de tudo isso. Não pode e não deve ser esquecido. PASCOAL, Isaias. http://mais.uol.com.br/view/m0yiwic42nfl/algumas-consideracoes-sobre-a-historia-de-pouso-alegre-0402193468C4A93326?types=A&, publicado em 09/02/2010

35


outubro de 2012

A história de Pouso Alegre escondida no Museu Histórico Municipal Tuany Toledo Alexandre Macchione Saes Professor do Departamento de Economia FEA/USP

O ofício do historiador por vezes se parece muito mais como de um detetive do passado. Sabemos de vestígios de nosso passado por meio da história contada por nossos antepassados, da história que permanece pelos mitos e curiosidades dos “velhos tempos” e até mesmo da história que luta para sobreviver entre as colunas dos prédios, dos paralelepípedos das ruas e das árvores das praças. Contudo, entre cada detalhe deixado na cidade pelos antigos personagens de Pouso Alegre, ou mesmo, de cada lembrança recuperada por nossos livros e memórias orais do passado, há uma imensidão de fatos esquecidos – ora porque realmente não conseguimos nos lembrar de tudo aquilo como realmente se passou, ora porque esquecer é uma defesa dos homens para deixar fatos escondidos no porão de nossa história. O historiador é esta pessoa curiosa e incomodada que quer compreender como as coisas realmente aconteceram em outros tempos: um misto de arqueólogo que quer tirar as pedras e a areia que soterraram alguns fatos e de um advogado que quer procurar as melhores versões para explicar aquilo que se passou. O historiador faz essa busca por fragmentos para construir um amplo quebra-cabeça, não somente para ter o prazer de compreender melhor nosso passado, mas especialmente, porque nosso passado nos ajuda a compreender o que nos somos ainda hoje. Esta é a riqueza que o Museu Histórico Municipal Tuany Toledo pode nos oferecer. Um pedaço – e importante – da história de Pouso Alegre está guardado naquele espaço, que nos apresenta em sua exposição tanto parte da vida material da cidade com objetos típicos das casas e escolas, como imagens da antiga Pouso 36

Alegre, por meio de um grande acervo de fotos e de retratos de seus personagens. Mas, por outro lado, o arquivo do Museu pode oferecer os meandros econômicos e políticos da cidade com uma variedade de documentos como os jornais, as Atas da Câmara Municipal de Pouso Alegre e os inventários dos antigos habitantes da cidade. Destes dois últimos documentos que teceremos alguns comentários. Os inventários se tornaram nos últimos vinte/ trinta anos, uma fonte bastante comum aos pesquisadores para se compreender como era a vida de nossos antepassados. Esse documento, de caráter oficial, detalha aquilo que fazia parte da riqueza de um indivíduo no momento de sua morte. Um momento de tristeza para algumas famílias, mas que podiam gerar grandes conflitos pelo o que ele representava: era o momento de divisão das heranças deste parente que os deixava. O retrato do inventário é a foto de todos os pertences que aquele indivíduo acumulou ao longo de sua vida. Podemos ver entre os bens descritos nos inventários, por exemplo, objetos do dia a dia como mesas, cadeiras, joias e dinheiros, e ainda descobrir bens do passado, como mira, o tacho e abotoadura. Ainda, são descritos os animais que alimentavam a família desse personagem, como porcos e vacas leiteiras, ou mesmo de transporte como cavalos e mulas. Os bens imóveis, isto é, casas, fazendas, comércios, normalmente eram a parte mais valiosa dos bens deixados por esses personagens. Se voltarmos para meados do século XIX, outros bens muito comuns e valiosos eram os escravos, que são detalhados com suas idades, nomes, eventualmente a atividade que desenvolviam. Outros itens comuns nos inventários são as dívidas: ora dívidas que ele teria assumido com o farmacêutico, com o médico, com a venda, ou mesmo empréstimos que teriam ajudado a comprar a casa e os animais; ou dívidas que outrem lhes devia. Assim, os inventários nos apresentam não somente as opções de consumo de um determinado personagem no seu tempo, mas quando olhamos uma tendência de vários personagens juntos, podemos ver a evolução da composição da riqueza de uma sociedade. Pouso Alegre na década de 1880, por exemplo, mantinha escravarias menores do que a cidade de Campanha. Isso pode nos ajudar a explicar, por exemplo, porque Pouso Alegre teria sofrido menos com a abolição da escravidão em 1888, podendo se desenvolver mais no século XX do que sua “vizinha” Campanha. Outro tipo de documentação interessante que podemos conferir no Museu são as Atas da Câmara Municipal da cidade. Essas Atas são documentos importantíssimos para qualquer pessoa compreender


outubro de 2012

quais foram as prioridades dos políticos e personagens da cidade no passado. Num correr das folhas das Atas nos anos finais do antigo século XIX, quando ainda a lembrança da escravidão era muito presente aos moradores locais, é possível perceber os vereadores da cidade preocupados com a modernização da cidade. O Brasil acabava de proclamar sua República e buscava incorporar os elementos mais modernos da Europa: era urbanização da cidade espelhada em Paris, a cidade modelo, que exigia a abertura de ruas a avenidas, a modernização do mercado municipal, a introdução de energia elétrica, e se distanciar dos típicos elementos da vida rural. Podemos também ver entre cada reunião realizada pelos vereadores, quais eram as preocupações com a educação, com a ligação entre Pouso Alegre e o

Estado de São Paulo – por conta da chegada da Ferrovia –, e quais eram as fontes de receitas, os impostos que a cidade usava para elevar seus recursos para projetos do município. Em suma, compreender o que é a cidade de Pouso Alegre é compreender seu passado, como chegamos até os dias de hoje: este passado pode ser melhor desvendado por meio deste trabalho de juntar os fragmentos deixados por nossos antepassados, por meio das diversas fontes. Sorte de Pouso Alegre que parte destas fontes estão preservadas. Assim, o que nos falta agora é montar suas peças e tentar analisar os fatos do passado: afinal, um povo sem história é um povo que dificilmente consegue trilhar seu futuro!

Em 2011 o MHMTT passou a abrigar parte do acervo de processo de inventário do “post mortem” e testamentos do século XIX e início do século XX, pertencentes ao arquivo morto da 1ª e 2ª Varas Cíveis da comarca de Pouso Alegre. O material foi disponibilizado pelo diretor do Forum, Dr. Paulo Angélico. Os documentos, de valor inestimável, compõem o arquivo do Museu, que hoje abriga Atas referentes à primeira Câmara instalada no Município, 1832, e outros documentos que recontam a trajetória política, econômica e social de Pouso Alegre e região.

37


outubro de 2012

Ecos marcados na Rua

O cotidiano e as memórias da Rua Comendador José Garcia Alessandra Mara R. de Melo

A obra tem o intuito de refletir os diferentes usos e significados da Rua Comendador José Garcia, localizada na cidade de Pouso Alegre, bem como as práticas culturais que nela se constituíram em diferentes tempos e no presente e também os múltiplos agentes sociais que se tornaram caminhantes e praticantes deste espaço. Conhecer mais sobre os sujeitos que compõem a história deste espaço é um dos objetivos, pois muitas vezes se encontram esquecidos em uma cidade em pleno desenvolvimento, isto é, entender seus anseios e privações, de uma vida pautada em andanças e convivência em todos os níveis sociais. Outro objetivo foi conhecer a pessoa do Comendador José Garcia, quem foi esse homem que emprestou seu nome à rua. A Rua Comendador José Garcia traz consigo memória, patrimônio e práticas culturais diversas que permanecem nas lembranças individuais e sociais dos seus moradores e comerciantes, compondo uma parte da história pouso-alegrense. Assim a obra apresenta os usos desse espaço, seu processo de ressignificação e construção nos diferentes tempos e os diferentes significados que esta rua tem para os seus diferentes atores sociais. Foi importante ainda valorizar a memória que não está apenas nas lembranças das pessoas, mas também nas marcas que a história deixou ao longo do tempo em seus prédios, comércios, e residências; bem como entender também cultura como “expressão de todas as dimensões da vida, incluindo valores, sentimentos, emoções, hábitos e costumes, associada a diferentes tipos de realidade.” (FENELON, 2004) As memórias são experiências historicamente construídas e modificadas, fazendo do passado uma di38

mensão importante na construção do presente. A rua surge não somente como um caminho, mas como uma artéria dando vida ao seu trajeto, mostrando as marcas tatuadas em suas margens. José Garcia Machado se tornou um dos mais conhecidos pouso-alegrenses de sua geração. A entrevista realizada com Nelly Claret Garcia foi muito importante para conhecer a pessoa do Comendador, a família a qual pertencia. Para Nelly, a Rua Comendador José Garcia também caminhou no impacto do progresso, das transformações e até relata que quando era criança podia brincar tranquilamente pela rua, o que hoje não é possível pelo grande tráfego de pessoas, pelos veículos automotores e também pela falta de segurança. Dialogando com Alexandre de Araújo, curador do museu municipal, percebe-se que na década de 1940 a referida rua era predominantemente residencial com a maioria de suas casas construídas de maneira simples. Nesta época o comércio na rua timidamente surgia e alguns se localizavam na parte de baixo dos poucos sobrados, outros dividiam espaço com as casas construídas na respectiva rua. Esta rua foi se transformando, no início uma rua de terra, cheia de coqueiros, vegetações variadas, casas simples, longos muros de taipa e alguns comércios. Recebeu depois o calçamento de pedras e mais tarde o asfalto, assim como a geografia, o comércio e a estrutura das casas foram se modificando e as pessoas que por ela circulavam ou habitavam foram escrevendo sua história. A rua conta com uma grande variedade de lojas, sendo tida como centro comercial da cidade. A retrospectiva é interessante, induzindo a caminhar pelos usos e costumes da Rua Comendador José Garcia, tanto num passado próximo como no presente, despertando emoções no trajeto de suas mudanças, transformações e lembranças de pessoas e acontecimentos que ali fizeram também sua história. A Rua Comendador José Garcia foi se transformando também no coração das pessoas que por ela passaram. Cada um que por aqui passou foi construindo sua história e hoje se observa ao conversar com essas pessoas, que ficou não um saudosismo, mas um sentimento que as emociona ao falar da rua. Para senhor Juca Sarkis ficou também um agradecimento. “A Rua Comendador foi onde eu morei, trabalhei, vivi, progredi; onde tenho o que tenho. Agradeço à rua, às amizades que a gente deixa”. (FILHO, 2010) A história oral dá oportunidade de entrelaçar os elos da corrente passado-presente, como práticas nas relações da dinâmica social vivida. A história não é pensar em um tempo linear, mas sim em um tempo de continuação, de mudança, em que as ações transcorrem. Compreender um fato do passado nos ajuda a entender o presente. Marc Bloch nos apresenta um provérbio árabe que representa bem isto “os homens se


outubro de 2012

parecem mais com sua época do que com seus pais”. (BLOCH, 2001) Portanto, esta obra tem grande importância para a construção de uma historiografia social no Sul de Minas Gerais, destacando os diferentes significados e usos da Rua Comendador José Garcia, bem como as pessoas que fazem parte das lembranças desse espaço e sempre dialogando sobre sua influência e impacto dentro da cidade de Pouso Alegre, cruzando as falas no exercício da escrita histórica com o intuito de buscar novas abordagens, novas indagações, fazendo uma história do presente.

Referências ARAÚJO, Alexandre de. Museu Histórico Tuany Toledo. Pouso Alegre: [s.n.], 1997. BLOCH, Marc Leopold Benjamin. Apresentação, SCHWARCZ, Moritz Lilia. Introdução: GOFF, Jacques Le. Apologia da história, ou, o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. FENELON, Déa Ribeiro (et.al.) Muitas Memórias, outras Histórias. São Paulo: Olho d’Água, 2004. PORTELLI, Alessandro. O que faz a história oral diferente? In: Revista Projeto História. São Paulo: EDUC, 1997.

Rua Comendador José Garcia, década de 50

Capa do livro da pesquisadora Alessandra (biblioteca do MHMTT)

Rua Comendador José Garcia século XXI

Nasceu no Rio Grande do Sul. Era proprietário da Fazenda Água Limpa, onde faleceu em 1875, aos 76 anos. Pai de Cândido Garcia Machado, ex-prefeito de Pouso Alegre. Membro do partido Conservador. Colaborou na construção da 1a igreja e da Santa Casa de Misericórdia. 39


outubro de 2012

HISTÓRIAS E MEMÓRIAS DOS CARREIROS EM POUSO ALEGRE Juliano Gregório

Durante o período colonial brasileiro, os carros de bois foram inseridos no país, pelos colonizadores portugueses, para o transporte de diversos bens materiais, como: madeira, cana-de-açúcar e minério. Além disso, esse veículo também teve a função de desenvolver alguns serviços voltados diretamente ao cultivo agrícola, a exemplo: arar terras para o plantio. Mas, posteriormente, a criação de redes ferroviárias, o surgimento de automóveis e de inúmeros maquinários agrários, associado a uma ideologia desenvolvimentista, fez com que, de modo geral, os objetos tração animal perdessem, significativamente, sua função social de trabalho. O município de Pouso Alegre não fica indiferente a esse contexto. Em fotografias antigas, arquivos públicos, jornais, pinturas e em conversas com moradores pouso-alegrenses, por exemplo, podemos observar que os carros de bois estiveram e, de certa forma, ainda estão muito presentes na memória local. Nas fotografias ao lado podemos observar o carreiro, nome atribuído à função de condutor de carro de bois. Na foto maior está Joaquim Ferreira Amaro, seus ajudantes e o seu veículo, carregado de lenha para comercialização, atrás da antiga matriz de Pouso Alegre em 1948. Vale lembrar que a mercadoria transportada era importantíssima para os moradores da cidade, pois, naquela época, não havia fogões a gás e a luz elétrica era, ainda, muito escassa. Por outro lado, a imagem em questão apresenta alguns significados que não estão evidentes. Vejamos: a partir, principalmente, da década de 1930 muitas reformas urbanas eram realizadas em Pouso Alegre. A 40

construção de uma nova cadeia pública, o alargamento da avenida Dr. Lisboa, entre outras obras eram os carros-chefes do embelezamento e da modernização citadina. Ao mesmo tempo, as práticas sociais e culturais ruralistas eram consideradas por muitos, na cidade, um empecilho ao progresso. O crescimento urbano, demográfico e o maior fluxo no trânsito pouso-alegrense vivenciado durante a década de 1960, associado às políticas populistas desenvolvimentistas nacionais, geraram, resumidamente, maiores dificuldades para circulação dos carros de bois na cidade de Pouso Alegre. Aos poucos, os carreiros viram-se obrigados a mortificarem suas formas de trabalho. Segundo alguns relatos desses trabalhadores, durante a década de 1970 não houve circulação dos seus veículos nas regiões centrais do espaço urbano. No campo, a atividade com carros de bois foi notada, efetivamente, até o início da década de 1990. Os programas de financiamento para máquinas agrícolas, a construção de novas rodovias e a migração de mão-de-obra agrícola para a atividade industrial em Pouso Alegre foram os principais aspectos que contribuíram para que a figura do carreiro perdesse seus sentidos de práticas sociais de trabalho. Atualmente, várias regiões do país organizam encontros, ou desfiles, de carros de boi. No município de Pouso Alegre, por exemplo, no ano de 2011 foram realizados oficialmente dois eventos do gênero que contaram com organização de populares e do poder público local, são eles: “I Encontro do Carro de Boi do Bairro Canta Galo” e “IV Encontro do Carro de Boi do Bairro Afonsos”. Dessa forma, nos dias atuais, a figura dos carreiros é um agente histórico das tradições e das memórias locais. Por fim, a pesquisa historiográfica intitulada “Histórias e Memórias dos Carreiros em Pouso Alegre”, desenvolvida pelo acadêmico Juliano de Melo Gregório da Universidade do Vale do Sapucaí, tem como objetivo analisar minunciosamente as experiências de trabalho, sociabilidade e tradição dos condutores de carros de bois dos bairros rurais Afonso e Cervo, no espaço urbano e nas regiões campesinas do munícipio. Para isso, arquivos públicos, jornais e fotografias que pertencem ao Museu Municipal Tuany Toledo e entrevistas com diversos trabalhadores rurais foram de extrema importância para o desenvolvimento deste estudo. Pois, sem essas fontes históricas, não haveria narrativa.


outubro de 2012

Fachada do mercado no início do século 20 mostra alguns carros de boi que faziam o transporte de carga e de pessoas. Antes utilitário, hoje uma tradição na zona rural.

41


outubro de 2012

OS DIVERSOS USOS DO ESPAÇO URBANO: DO LARGO DO ROSÁRIO À PRAÇA JOÃO PINHEIRO

Fernando do Vale

Os espaços urbanos são lugares de suma importância para uma cidade, pois neles é que se realizam os encontros no dia a dia, as relações de sociabilidade, manifestações, eventos, ou simplesmente se tornam meros lugares de passagem. Podemos aqui destacar as ruas que dão acesso a diversos pontos de uma cidade, as casas e edifícios, os monumentos e praças que constituem certa ordem a uma cidade. Em relação aos jardins e praças, há uma busca de qualidade de vida para o centro urbano e para as pessoas que nele vivem, por serem, muitas vezes, lugares de convivência, recreação, ambientes abertos e arborizados. Devido às diversas apropriações tomadas sobre um devido lugar, o espaço passar a ser restrito a algumas pessoas ou grupos que estabelecem uma certa frequência diária. Conversaremos hoje sobre os diversos usos da Praça João Pinheiro, localizada no centro urbano da cidade de Pouso Alegre. No início do século XIX, Pouso Alegre, um vilarejo recém-formado, marcado fortemente pela religiosidade, já possuía um lugar onde as pessoas se encontravam para realizar suas preces diárias, porém, sentiram a necessidade de construir outro para se venerar Nossa Senhora do Rosário no referido Largo da Alegria, assumindo este espaço seu primeiro uso apropriação, abrigando assim a população negra (escrava) da cidade. “Era um edifício de paus a pique, baixo, em forma de um chalé, em cuja ponta de seu ângulo havia uma cruz singela, com duas varandas laterais em meia água, presas quasi ao seu telhado, tendo três portas, uma de cada varanda, todas elas dando ingresso para o corpo da igreja. Do lado esquerdo, na varanda e pelo lado de fora, havia tosco e simples, um senheiro pregado da madeira em mão francesa. Dentro da nave nenhuma obra de arte havia de apreço e notável relevo arquitetônico, senão muito singelicamente adornado o trono da Senhora do Rosário, altar-mór de algum lavor em ouro.” (AMARAL, Eduardo, jornal O Município, 04 de abril de 1940) Diferentemente de outras localidades da época, tal construção teve contribuições de Senhores e Escravos, e certa convivência se estabelecia em um mesmo espaço, como muito bem expressa o memorialista Eduardo Amaral: “A antiga Igreja dedicada a N. Sra. do 42

Rosário pertencia aos homens de cor, mas a sua administração estava afeta ao vigário de Pouso Alegre e as pessoas gradas do lugar . Nesta mesma praça, fora erguido o pelourinho, estabelecendo assim usos de relação e poder, onde seriam julgados e punidos os criminosos da cidade. Em Pouso Alegre houve apenas um caso emblemático, em que se utilizou tal instrumento, vindo a ruir-se tal símbolo antes mesmo de se iniciar o século XX, dando lugar a um parque, lugar este de encontros sociais e de lazer. Com o passar dos anos, na década de 40, aquele lugar necessitava de uma reforma, pois como se refere a Revista do Centenário de Pouso Alegre “um velho parque (denominado Major Dorneles), cuja única utilidade, até então, era abrigar, na penumbra da noite fatos vergonhosos (...)”. Nesse intuito, a administração municipal, sendo presidida pelo então prefeito Tuany Toledo, executa uma obra de revitalização daquele espaço, que por muitos anos fora conhecido como “Parque Infantil João da Silva”. Exerciam-se diversas atividades esportivas (como jogos de volley e natação), praticas de escotismo e brincadeiras infantis, tornando-se privilegiado espaço de encontro das famílias pousoalegrenses. Com o crescimento da cidade, houve a necessidade de se instalar um terminal rodoviário que acomodasse um número maior de veículos que conduzissem as pessoas para outras localidades. Em diversas discussões, no final da década de 60, fora determinada aquela localidade para que se construísse o terminal. O espaço em que antes era habitado por famílias, crianças, passa agora a ser ocupado por pessoas que embarcavam e desembarcavam na cidade, transformando-se assim em lugar de passagem. Atualmente, a Praça João Pinheiro é utilizada por grupos sociais diferenciados. Ao mesmo tempo em que abriga os departamentos do poder público, ouvem-se os gritos alegres de crianças que estudam em um grupo escolar, as gírias de jovens que ali andam de skate e os burburinhos das prostitutas que vão em busca de seu ganho diário. Alguns eventos reúnem a população naquele espaço, entretanto, diariamente, ao surgir a noite, o movimento se torna escasso e o silêncio faz sua habitação.


outubro de 2012

Patrim么nio e Tombamento 43


outubro de 2012

O que é um patrimônio histórico? Qual sua importância para a sociedade? Para que se preservam edifícios, objetos, documentos antigos? O patrimônio histórico pode ser definido como um bem material, natural ou imóvel que possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental ou estética para a sociedade. Estes patrimônios foram construídos ou produzidos pelas sociedades passadas, por isso representam uma importante fonte de pesquisa e preservação cultural. Há uma preocupação mundial em preservar os patrimônios históricos da humanidade, através de leis de proteção e restaurações que possibilitam a manutenção das características originais. Mundialmente, a Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação - UNESCO é o órgão responsável pela definição de regras e proteção do patrimônio histórico e cultural da humanidade. No Brasil, existe o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, que atua na gestão, proteção e preservação do patrimônio histórico e artístico brasileiro. A expressão tombamento do patrimonio advém da Torre de Tombo, o arquivo público português, onde eram guardados e conservados documentos importantes da sua história. O imóvel quando tombado por algum órgão do patrimônio histórico, não pode ser demolido, nem mesmo reformado, ele passa por um processo de restauração, para preservar as características originais da época em que foi construído. Podemso citar alguns patrimônios históricos mundiais, entre eles: Pirâmides de Gizé (Egito), Machu Picchu (Peru), Estátua da Liberdade (Estados Unidos), Muralha da China (China), Torre de Piza (Itália), Coliseu de Roma (Itália), Palácio de Versalhes (França), Torre Eiffel (França) e Acrópole de Atenas (Grécia) Também existem os patrimônios históricos do Brasil, como por exemplo: Cidade Histórica de Ouro Preto (Minas Gerais), Centro Histórico de Olinda (Pernambuco), Pelourinho (Salvador), Estação da Luz (São Paulo), Ruínas de São Miguel das Missões (Rio Grande do Sul), Cristo Redentor (Rio de Janeiro), Conjunto Urbanístico de Brasília, Palácio do Catetinho (Brasília). Os bens tombados podem ser materiais ou 44

curvasdeminas.com

PRESERVAR É PRECISO

imateriais. Marteriais são os de natureza concreta, ou seja, monumentos, sítios arqueológicos, núcleos urbanos, acervos musicológicos, documentais e bibliográficos. O principal instrumento para preservação dos bens materiais é o tombamento, que é o ato legal de reconhecimento do valor cultural de um bem. Os Imaterais, são as práticas, as representações, as expressões, os conhecimentos e as técnicas junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais a eles associados. O instrumento que preserva o bem como imaterial é o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial. Atualmente as questões de preservação patrimonial passou também para a esfera dos municípios. Os “lugares de memória” onde se constitui a formação da identidade de uma sociedade passaram a ser discutidos assim como a necessidade da conservação da memória como forma de mantê-la viva, dinâmica, expressas nos comportamentos humanos, na constituição de grupos e de uma sociedade. Pouso Alegre possui bens vários bens materiais tombados, protegidos pela lei e pelas autoridades. Muitas vezes passamos por eles sem percebê-los, sem nem mesmo saber de sua importância para história de nossa sociedade. Podemos aqui citar: Catedral Metropolitana, Fonte Luminosa, Clube Literário e Recreativo, Fórum Orvieto Butti, Teatro Municipal, Edifício da Escola Estadual Monsenhor José Paulino, Palácio Episcopal, Santuário Imaculado Coração de Maria, Edifício da Escola Estadual Dr. José Marques de Oliveira, Casa da família Junqueira, Conservatório, Capela Santa Dorothea, Capela São Benedito, Obelisco Nossa Senhora da Conceição, Capela Nossa Senhora de Fatima, Antiga Estação Ferroviaria, Circuito Estrada de Ferro Sapucaí, Bens da Zona Militar (constituídos pela Capela Nossa Senhora Aparecida, caixa d’agua de metal e prédio onde funcionou o colégio Diocesano), Arvore Grande, Estatua do Bandeirante Fernão Dias, Capela Nossa Senhora Aparecida. Quanto aos bens imateriais temos o Pastel de Farinha de Milho, receita e forma de fazer passada de geração a geração e que hoje pode ser degustados no Mercado Municipal e em diversos carrinhos espalhados pela cidade.


outubro de 2012

Senhora da Conceição, eregido na Praça Senador José Bento, no jardim, em frente à Catedral do Bom Jesus. Com o passar dos anos o obelisco recebeu o apelido de Nossa Senhora dos Namorados, talvez devido ao fato de que o jardim da Praça Senador José Bento sempre foi o local preferido para o encontro dos namorados. Ali, sob a proteção da Santa, muita gente se conheceu, iniciou um namoro que depois se transformou em casamento. Hoje, a Santa lá permanece, abençoando os que desejam sua proteção, apesar de todas as implicações da modernidade.

Fórum Orvieto Butti

No dia 20 de janeiro de 1923, às 15 horas, foi inaugurado o edifício do Fórum. Sua planta e construção são de autoria do engenheiro Mário Gissoni responsável por inúmeras obras arquitetônicas da época em Pouso Alegre e cidades vizinhas. Nele também seguiu as tendências do estilo eclético, com grande desenvoltura, já que utilizou, largamente, de elementos decorativos vários que dão ao prédio, apesar do excesso, uma agradável aparência. Nele funcionou até o ano de 1981 a Câmara Municipal, posteriormente instalada em prédio próprio e por ele passaram juízes e promotores de grande saber que marcaram a história jurídica da cidade com sua atuação. Localizado na Avenida Dr. Lisboa em frente à Praça Senador José Bento, o edifício do Fórum atrai olhares pela beleza de sua arquitetura, agora, destacada por pintura que lhe realça os elementos decorativos.

Obelisco Nossa Senhora da Conceição

Em 8 de Dezembro de 1904, em homenagem ao 50° aniversário da proclamação do Dogma da imaculada Conceição é inaugurado o obelisco à Nossa

Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitschek de Oliveira

Em 02 de fevereiro 1911 chega a Pouso Alegre, vinda de Portugal, a Revma. Madre provincial das Irmãs Dorotheas, a fim de instalar um Colégio para as meninas. Tendo funcionado em casas determinadas, em 03/03/1918 é lançada a pedra fundamental da Escola Normal Santa Dorothea, na Rua Francisco Salles. A construção se inicia sob a planta e orientação do Eng. Mário Gissoni. Em 26/06/1918 o bispo Dom Octávio Chagas de Miranda benze o novo edifício construído para abrigar a Escola Normal Santa Dorothea. Em 27/10/1926 é inaugurada a Capela do Sagrado Coração de Jesus, junto à Escola Normal. Durante os anos que se seguiram, o educandário se encarregou de dotar as moças de Pouso Alegre e cidades vizinhas, de uma educação esmerada, em que pontificavam os ensinamentos religiosos morais e os necessários para dotá-los, não só de cultura acadêmica, mas também de uma cultura esmerada, pontada pela sabedoria e ampla habilidade para exercerem as atividades domésticas. O colégio funcionou no local até 1975 quando as freiras, após a construção de novo prédio na confluência da rodovia com a Av. Tuany Toledo para lá transferiram suas atividades. Em 1978 foi ocupado pelo Conservatório Es45


outubro de 2012

tadual de Música Juscelino Kubitschek de Oliveira, que transferido da Praça João Pinheiro lá funcionou até 09/03/87, data que um incêndio, declarado criminoso pela perícia técnica, destruiu o prédio internamente. O fogo queimou o assoalho do 2° piso e do 3°, já que na época de sua construção não havia o uso de lages de concreto. Queimou-lhe o telhado, história, instrumentos musicais, arquivos, enfim, uma parte da vida de professores e alunos, que, motivados pela perda, reagiram e foram à luta para reconstruí-lo. As fachadas permaneciam intactas e, após anos de trabalho, de doação e de importante ajuda do Estado ele foi totalmente reconstruído e sua reinauguração aconteceu entre festas e comemorações no dia 10/08/1994. E atualmente ele se encontra, como no tempo de sua construção, pontificando na confluência das Ruas Francisco Sales e Cel. Otávio Meyer. Do seu interior se ouvem os sons dos violinos, pianos, vozes em coro que saúdam, todos os dias, a sua reconstrução.

Clube Literário e Recreativo

Inaugurado a 07/04/1926 teve como idealizador e primeiro presidente o Coronel Joaquim Mariano Campos do amaral. Segundo consta nos livros históricos, o projeto de lei n°151 de 18 de janeiro de 1923 autorizou a doação do prédio, “mediante condições estipuladas, do prédio que servia de Paço Municipal afim de ser demolido e no local construído o edifício para sediar a sociedade”. O Clube Literário e Recreativo se ergueu ao apreço de muito esforço e de rara abnegação do Cel. Campos do Amaral que, reconhecendo a lacuna de um ponto de concentração social e diversões familiares tornou a iniciativa da construção de um prédio para a sede da sociedade. Substituindo a antiquada casa da Câmara, foi construído na praça principal de Pouso Alegre um edifício de “bela arquitetura e sólida construção, mandado levantar pelo Clube Recreativo”. Em elegante estilo francês, com o telhado feito de telhas 46

importadas, de ardósia, o edifício do Clube Literário marcou épocas na história de Pouso Alegre, local de encontros sociais, culturais e políticos, cuja biblioteca foi uma das primeiras do estado e a quinta do país. “É natural que, pôr tudo isso, sintam-se satisfeitos os membors do deliberativo municipal com o destino do antigo prédio próprio do município, já então desnecessário aos fins para que servia, dada a conclusão do edifício do Fórum, com o qual o governo do Presidente Artur Bernardes dotou a cidade e no qual foram reservadas acomodações para as diversas repartições municipais” (Jornal Alma Branca, 07/04/1928, n. 01). O edifício do Clube Literário e Recreativo de Pouso Alegre, permanece na Praça Senador José Bento; apesar das inúmeras intervenções sofridas em sua arquitetura ainda conserva, na fachada, as marcas de sua construção. Encontra-se entre construções modernas que lhe roubaram a posição de destaque, ele conserva, ainda hoje a dignidade cultural de seu estilo, continuando a ser um marco na vida cultural de Pouso Alegre.

Escola Estadual Monsenhor José Paulino

Em 16/12/1906 foi criado por decreto baixado pelo Vice-Presidente do Estado de Minas Gerais, Júlio Bueno Brandão, o Grupo Escolar Monsenhor José Paulino. Em 06/08/1912, com a presença do Secretário de Estado do Interior e Instrução Pública de Minas Gerais, Delfim Moreira da Costa Ribeiro, foi inaugurado o prédio onde, desde então, funciona o antigo Grupo Escolar hoje denominado Escola Estadual Monsenhor José Paulino. O nome do patrono foi escolhido, depois da criação do Grupo, em homenagem a Reverendo José Paulino que ocupou o cargo de vigário e econômo da cidade de Pouso Alegre. Na cidade, atuou com dedicação na criação da diocese com sede em Pouso Ale-


outubro de 2012

gre e sempre dedicou-se com empenho no trabalho da educação, daí a escolha de seu nome como patrono do grupo. Situado no centro da cidade, construído segundo fontes orais, no local onde, anteriormente havia a casa senhorial do Senador José Bento Ferreira de Melo, na Avenida mais importante da cidade, o prédio do Grupo Escolar permanece, como no passado, sinalizando o destino cultural da cidade, hoje repleta de escolas, colégios e faculdades. Na verdade, sua arquitetura antiga, conservada pelo tempo e por todos os que nele atuaram é o verdadeiro monumento à cultura pouso-alegrense e, como tal, deve ser conservado.

Palácio Episcopal

Inaugurado em 10/08/1922, o Palácio Episcopal, cujo custo foi de 85 contos de réis ,é da autoria do engenheiro Mário Gissoni. Seu estilo é simples, despojado, primado pela simetria dos detalhes simples como se deseja a vida daqueles que se dedicam ao Senhor e, abrigou, desde 1922, bispos e arcebispos que atuaram na diocese e mais tarde, Arquidiocese de Pouso Alegre. Construído no meio de um amplo jardim, cercado por árvores, o Palácio Episcopal, como se denomina até hoje a residência dos bispos, permanece intocado, tendo suas linhas originais sido conservadas, apenas mudando a pintura externa. Seu primeiro habitante foi o bispo Dom Octávio Chagas de Miranda que autorizou a sua construção, em substituição à antiga residência, situada em frente, no lado oposto da rua, inaugurada em 1904, onde hoje se encontra o Colégio São José. Certamente, no tempo de Dom Octávio, o Palácio era, realmente, um palácio com móveis e objetos decorativos, de acordo com a importância de seu ocupante. Mas o tempo, e os diferentes modos de vida o foram despojando de seus atavios não lhe restando no interior, nada que lembre o esplendor. Resta-lhe a aura adquirida pela majestosa presença divisada entre as árvores.

.

Escola Estadual Dr. José Marques de Oliveira

A inauguração do edifício do Seminário se dá no ano de 1927, construído a pedido de Dom Octávio Chagas de Miranda, com o dinheiro da venda do Ginásio Diocesano ao Exército Nacional. Em 1969 o Seminário já funcionava no bairro São Geraldo. Foi então que Dom José D’Ângelo Neto, arcebispo de Pouso Alegre, vendeu o prédio do antigo seminário, situado à Rua Bueno Brandão, 220, à Escola Estadual Dr. José Marques de Oliveira, cujo diretor era o Dr. Lecyr Ferreira da Silva. Desde então lá funciona a Escola cujo prédio, representante da arquitetura eclética tão comum na cidade, se encontra bem preservado, sendo que, no seu interior, partindo do hall de entrada, se encontra uma escada de madeira, feita artesanalmente por carpinteiros italianos, cujos nomes se perderam.

Casa dos Junqueiras

Em 1927, José e Edite de Azevedo Junqueira fizeram construir, para sua residência o casarão situado na Av. Abreu Lima. A planta e a construção são de autoria do engenheiro Mário Gissoni, mestre natural de Ribeirão Preto- SP. A casa, em estilo neocolonial que se mistura com vários outros em voga na época, serviu de residência à família durante muitos anos. Fechada durante 47


outubro de 2012

as décadas de 70 e 80, em 1992 foi alugada à Prefeitura Municipal que a restaurou para a instalação da Secretaria da Cultura. Durante a restauração várias peças, de valor a colecionadores e antiquários, foram encontradas em seu porão. Depois de restauradas passaram a fazer parte do mobiliário e decoração que foram mantidos pela prefeitura para exposição. Sendo ocupada depois, pela Secretaria do Bem-Estar Social, esses móveis e objetos decorativos foram retirados pela família Junqueira e divididos entre seus herdeiros. Segundo consta do depoimento de várias pessoas, a casa, como tantas outras, possui seus fantasmas, que, segundo os vigias noturnos, andam à noite dentro dela, fazem barulho e, certamente assustam os incautos. É importante observar neste imóvel dois afrescos, um a cada lado da porta principal de entrada. Essas pinturas representam paisagens do início do século XX, retratando as cheias do Rio Mandu que se situa a poucas quadras do lugar.

nada mais era que uma construção útil onde o primeiro objetivo era atender e dar conforto aos passageiros. Depois de desativada a ferrovia, o prédio funcionou como armazém e em 1988 foi reformado e adaptado para servir como “Casa da Cultura” tendo nele funcionada uma galeria de artes plásticas, a Secretaria Municipal de Cultura, Biblioteca Municipal e agora abriga o Centro de Convivência de Idosos.

Fonte Luminosa

Estação Ferroviária

No ano de 1887, o Governo Mineiro contratou com C. Euler. Jr. E R. Castro Maia a construção de uma estrada de ferro com ponto de partida na estação de Soledade de Minas e na Estrada de Ferro Minas a Rio e terminal em Sapucaí, como era denominada, adquiriu novas concessões que lhe permitiram ligar Soledade de Minas à Estrada de Ferro Central do Brasil. Para servir ao movimento de passageiros foi construída a Estação de Pouso Alegre, obedecendo ao estilo em voga de construções ferroviárias. Constava de uma plataforma de embarque, uma sala onde ficava o telégrafo que recebia comunicações enviadas por outras estações, a bilheteria onde as passagens eram vendidas e um amplo armazém que abrigava a carga e descarga a ser despachada ou recebida por meio do trem. Havia, também, uma sala de espera para os passageiros, com mobiliário compatível e banheiros masculino e feminino. Sem ter um estilo definido, o prédio da estação 48

Projetada e executada por Antônio Corrêa Beraldo, a fonte teve sua construção iniciada em 1932, permitida por um acordo feito com o Prefeito da época, Dr. José de Paiva Coutinho Sapucahy. No lugar havia um chafariz que servia o povo da cidade e o Prefeito permitiu que o Dr. Tonico Beraldo colocasse em prática o seu projeto com a seguinte condição: “se desse certo ele doaria a fonte para a cidade, se não desse, ele reconstruiria o chafariz”. Certo de seu sucesso e auxiliado por excelente equipe, Tonico Beraldo pôs em prática seu projeto em que os movimentos de água e a sucessão de luzes coloridas eram produzidas por um só motor, ao contrário das fontes existentes na época, como a de Poços de Caldas, onde havia um motor para cada movimento. Inaugurada no dia 07/09/1935, ela funcionou até a década de 70, quando devido ao desgaste de suas antigas peças, ficou sem condições de funcionamento. Não havia mais peças para reposição. Até que em 1998, graças à tecnologia moderna, suas peças puderam ser reparadas e substituídas, voltando, a fonte a encantar os olhos da população pouso-alegrense que tem, por ela, um enorme carinho. Fonte: Secretaria de Cultura de Pouso Alegre Dossiê dos Bens Tombados da Cidade de Pouso Alegre, abril de 1998


outubro de 2012

Outras Hist贸rias de Pouso Alegre

49


outubro de 2012

Campo de Prisioneiros em Pouso Alegre Publicado no jornal mineiro Estado de Minas, em 9 de janeiro de 1999, um sábado, na página 8, na coluna de Cyro Siqueira, trecho de uma carta do leitor Dumas Coutinho, de Pará de Minas sobre a existência de um Campo de Concentração na cidade de Pouso Alegre. Para confirmar a história Coutinho enviou ao jornalista “um pequeno trecho de um volume biográfico dos prefeitos daquela cidade em que menciona o prefeito que teve o privilégio de visitar o presídio, se não me engano, acompanhado do embaixador da Espanha”. Anexo à carta dirigida ao jornalista Coutinho enviou a biografia de Oswaldo Mendonça que esteve à frente da administração municipal de 1943 a 1945, nomeado pelo governador Benedito Valadares. A partir dessa “descoberta” o jornalista Cyro faz um trabalho de pesquisa apresentando o início do campo de concentração e dos estertores do nazismo

Como tudo começou em 1942 Um campo de concentração, certamente com prisioneiros de guerra, em pleno interior de Minas durante a Segunda Guerra Mundial. Confesso que minha primeira reação foi de absoluta incredulidade, principalmente por jamais ter lido ou ouvido falar nada a respeito de semelhante assunto. Mas o desafio colocado diante da minha formação jornalística não me deu sossego. Comecei a pesquisar. Das leituras nenhuma referência, nenhuma pista. Das primeiras perguntas, também nada. Até que inesperadamente, durante a visita de cortesia que me fizeram três ex-pracinhas, as luzes começaram a se acender. Quem primeiro apertou o botão foi exatamente o presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB, Oraldo de Moraes Chaves, que foi taxativo: - Existia mesmo, e em Pouso Alegre. Através dele e dos subsídios que depois ele me deu consegui chegar a uma história que começou no final de 1942, precisamente no dia 2 de novembro, quando um navio alemão foi acossado por navios americanos perto da costa nacional no nordeste. Sua tripulação resolveu afundar o navio, abandonando-o e sendo recolhida por um navio americano, que a levou até à praia brasileira, onde os 72 marinheiros sobreviventes foram feitos prisioneiros. Já em estado de guerra com o chamado Eixo - Alemanha, Itália, Japão - o governo brasileiro, para evitar que outro navio alemão resolvesse desembarcar suas tropas a fim de resgatar os prisioneiros, resolveu transferi-los para o sudeste do País - e para o interior, 50

longe do litoral. Por artes misteriosas que não consegui desvendar, o comando do Exército brasileiro terminou optando pela cidade de Pouso Alegre, Sul de Minas. Para essa decisão devem ter contribuído dois fatores importantes, um deles já mencionado na carta do leitor de Pará de Minas: o fato de Pouso Alegre ser a sede de vários regimentos. O outro, o fácil acesso à cidade, servida pela Estrada de Ferro Mogiana, que para lá transportou os 72 marinheiros alemães que, por sinal, estavam muito satisfeitos de terem sido aprisionados por brasileiros e não por um navio americano, onde por certo eles não seriam tão bem tratados como foram no campo de concentração em que se transformou a sede do então 8º Regimento de Artilharia, hoje 14° Grupo de Artilharia de Campanha, em Pouso Alegre. Lá eles ficaram, cercados naturalmente, como manda o figurino, por cercas de arame farpado. Lá eles plantaram suas hortas, lá eles fizeram exercícios militares comportando-se, muito germanicamente, como se estivessem dentro de um quartel de sua terra. Lá eles conheceram a índole pacífica do brasileiro, confirmando a definição de Sérgio Buarque de Holanda, o homem cordial.

Os estertores do nazismo

Muito a propósito do desejo dos marinheiros alemães no sentido de serem aprisionados por brasileiros e não por americanos, eu me lembrei de um episódio semelhante narrado por um historiador que já compareceu nesta página Edgar Mclnnis. Ele foi escrevendo sua "História da II Guerra Mundial" no correr do conflito, o que lhe dá uma força narrativa ímpar. Seu último volume, o sexto, lançado no Brasil em 1949, ocupa-se da derrocada final do regime nazista. Um dos detalhes que agora me interessam começa quando o que restava do comando alemão tentou uma paz em separado com os Estados Unidos e a Inglaterra. Como se segue: "A essa altura os lideres nazistas já procuravam freneticamente escapar às consequências do desastre militar a que haviam conduzido seu país. Na última quinzena de abril, mesmo o que ainda nominalmente restava do controle e da direção dos órgãos do Estado já havia escapado das mãos de Hitler. As rivalidades entre chefes militares e líderes do partido nazista, cujos detalhes permanecem obscuros até este momento, tornaram-se ainda mais agudas pela necessidade de a ação rápida a fim de salvar alguma coisa do desastre. Mesmo a autoridade de Hirnmler se eva-


outubro de 2012

porava rapidamente, e suas últimas esperanças desapareceram com o fracasso de seu esforço de dividir os Aliados, oferecendo-lhes paz em separado”. A proposta foi apresentada por intermédia do conde Folke Bemadotte, presidente da Cruz Vermelha Sueca, que se encontrava na Alemanha a serviço da Cruz Vermelha. A pedido de Hirnmler, o conde encontrou-se com ele em Luebeck nas primeiras horas do dia 24 de abril. Bernadotte foi informado de que Hitler estava sofrendo de uma hemorragia cerebral, e que não poderia viver mais do que dois dias. Hirnmler pediu-lhe também que solicitasse ao governo sueco conseguir a capitulação incondicional da Alemanha aos Aliados ocidentais, de modo que o Reich pudesse lançar todas as suas forças restantes contra os russos no leste. Era uma proposta que não tinha a mais leve probabilidade de êxito. A Inglaterra e os Estados Unidos imediatamente informaram Moscou das demarches abertas por Hirnmler e da intenção de ambos os países de rejeitá-las. Assim, o conde Bernadotte voltou com a resposta de que so-mente a rendição incondicional aos três principais aliados em todas as frentes poderia ser aceita. Foi este o golpe final na ascendência de Hitler. Um novo grupo emergiu para tomar o controle da sombra de autoridade que ainda restava do que antes era a governo alemão. A 1° de maio a rádio de Hamburgo, procurando o máximo de efeito, anunciou que Hitler encontrara a morte em Berlim, e que o novo Füehrer era o almirante Doenitz, que afirmava ter sido designada por Hitler coma seu sucessor a 30 de abril. O misto de ceticismo e indiferença com que os aliados tomaram conhecimento de tal comunicado mostrava claramente como era desesperadora a situação da Alemanha. Poucas semanas antes, a notícia da morte de Hitler teria sido recebida como um acontecimento de grande importância, que mudaria drasticamente as perspectivas da guerra. Em fins de abril era tal a situação da Alemanha que nem Hitler nem qualquer outro líder nazista já nada mais poderia fazer que alterasse o fim iminente. As forças do desastre já haviam escapado ao controle humano no que dizia respeito à Alemanha. Hitler vivo ou morto ou o governo alemão nas mãos deste ou daquele já não era uma coisa que influísse nos acontecimentos. O próprio apelo inicial de Doenitz foi uma revelação de impotência. Apenas pôde afirmar que pretendia continuar a resistência contra os russos, mas que estava pronto a negociar com a Inglaterra e os Estados Unidos. Tal atitude era fruto do desespero. Desvanecera-se toda a esperança de conseguir uma paz em separado, e todas as perspectivas de uma resistência prolongada se desfizeram quando os exércitos alemães na Itália iniciaram um rápido processo de rendição em massa. Antes, McInnis narra outro episódio muito curioso:

"Dois dias depois da capitulação alemã na Itália, uma rendição ainda mais dramática se verificou na Alemanha setentrional. Ali, como na maioria das frentes que ainda restavam, o mais ardente desejo das forças alemãs era evitar cair nas mãos dos russos. Era esse o objetivo oculto das demarches inicialmente feitas junto a Montgomery a 2 de maio. No dia 3, apresentava-se uma missão chefiada pelo almirante von Fríedeburg, comandante da marinha alemã, trazendo uma proposta pela qual os remanescentes de três exércitos que se retiravam diante dos russos se rendessem aos ingleses”. Na entrevista que se seguiu ficou evidenciado o senso dramático de Montgomery. À proposta inicial, o comandante inglês respondeu com decisão: "Claro que não! Esses exércitos alemães estão combatendo contra os russos... Nada tenho a ver com o que acontece na frente oriental. Renda-se ao comandante soviético. E isso é questão decidida”.

Ainda sobre campo de concentraqção

Sobre o tema: campos de concentração no Brasil, encontramos ainda no jornal O Globo, caderno O País, de domingo 12 de fevereiro de 1995, uma matéria sobre os documentos do Arquivo Público de São Paulo que mostram a perseguição do Estado Novo aos imigrantes de países do Eixo. Com o título “II Guerra: Brasil teve nove campos de concentração”, o jornalista Fábio Santos conta que: SÃO PAULO - Com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, ao lado dos aliados, em agosto de 1942, o Governo de Getúlio Vargas realizou uma ampla operação de repressão aos cidadãos alemães, italianos e japoneses, que moravam ou estavam de passagem pelo Brasil, que incluiu a abertura de, pelo menos, nove campos de concentração em território brasileiro. A repressão aos chamados "súditos das potências do Eixo" passou também pela retirada de milhares de pessoas da faixa litorânea para o interior do país e o monitoramento de comunidades agrícolas inteiras, como aconteceu com os 16 mil japoneses que viviam no Vale do Ribeira, em São Paulo. Os campos de concentração eram, em geral, usados para aprisionar os marinheiros de 20 navios mercantes das potências do Eixo e de seus aliados, que foram apreendidos em águas próximas à Costa brasileira. Cinco desses campos estavam no interior de São Paulo, nas cidades de Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Pirassununga, Bauru e Ribeirão Preto. Segundo informações recolhidas pelo coronel Cláudio Moreira Bento, do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil, havia ainda um campo em Castro, no Paraná; outro em Camaratuba, na Paraíba, onde se concentravam prisioneiros japoneses; e outro no Pará. Moreira Bento é autor de um estudo sobre um 51


outubro de 2012

outro campo, em Pouso Alegre, Minas Gerais, que, segundo ele, foi o único administrado pelo Exército. Os demais ficaram sob a responsabilidade das polícias estaduais. Documentos doados pelo desembargador Whitaker da Cunha, do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, ao Arquivo Público do Estado de São Paulo, dão ideia do esquema de vigilância e repressão montado pelo Estado Novo. Uma das práticas era a leitura prévia de cartas endereçadas a pessoas suspeitas ou remetidas por elas, feita pela Censura Postal Brasileira (CPB). Entre os documentos doados por Whitaker da Cunha, que faziam parte do arquivo de seu pai, o delegado Luiz Tavares da Cunha, diretor do Dops no Estado Novo, está a cópia de uma carta censurada pela CPB enviada de Mendoza, na Argentina, por R. Matzke a seu parente Kal'l Matzke. Esse documento comprova a existência do campo de Pindamonhangaba, cidade paulista no Vale do Paraíba, que tinha até uma caixa postal no Correio paulista: a nº 7. O relatório enviado ao delegado Tavares da Cunha explica que a carta censurada pela CPB foi "remetida por R. Matzke (...) a Karl Matzke, internado no Campo de Concentração de Pindamonhangaba, neste Estado". Um outro documento registra uma grande operação empreendida por agentes do Dops para localizar e expulsar cidadãos japoneses, italianos e alemães residentes no litoral paulista. Nele há uma lista de mais de cem nomes. O Governo temia que essas populações pudessem contribuir "para uma ação militar dos países do Eixo no Brasil. Em um Box, na mesma página e edição o jornal O Globo fala sobre “o drama da tripulação do Essberger” No dia 21 de novembro de 1942 o navio alemão "Anneliese Essberger", carregado de gordura ani-

mal e vegetal e de borracha provenientes da Ásia, foi afundado por sua tripulação depois de ter sido interceptado por embarcações da 4a Esquadra dos EUA, baseada em Recife. Começava ali o drama de 62 prisioneiros de guerra alemães que dez meses depois foram levados para o campo de concentração de Pouso Alegre, administrado pelo Exército brasileiro. Lá ficaram até abril de 1944, quando foram transferidos para o Rio de Janeiro, sendo, posteriormente, levados para os EUA. Ao todo, permaneceram cerca de 16 meses em território brasileiro. O "Essberger" foi o primeiro dos cinco "furadores de bloqueio" nazistas interceptados pela esquadra americana, que era integrada também por forças navais e aéreas brasileiras. A missão desses navios era fazer a ligação entre países fornecedores de matérias-primas dominados pelo Japão e a Europa ocupada pelos alemães. O coronel Cláudio Moreira Bento, do Instituto de Geografia e História Militar, considera que a interceptação desses navios foi um dos mais duros golpes sofridos pela armada de Hitler no Atlântico Sul prejudicando suas operações de suprimento de tropas. Em Recife, os 42 marinheiros mercantes e 20 de guerra ficaram sob a guarda do Comando Geral da PM, porque o Exército não tinha onde mantê-los presos. Segundo carta enviada ao coronel Moreira Bento pelo general de brigada José Arnaldo Vasconcelos, que na época era capitão de infantaria e comandante da PM de Pernambuco, os prisioneiros "eram obedientes, atenciosos e disciplinados, a exceção de dois que destoaram do grupo". Esses dois foram enviados para a Casa de Detenção, onde ficaram até o dia do embarque para o Rio de Janeiro, de onde seriam mandados para Pouso Alegre.

Registro fotográfico de manifestações contra os países do Eixo ocorridas em Pouso Alegre durante a Segunda Guerra Mundial

52


outubro de 2012

Campo de concentração no Brasil DANIEL LINGUANOTO Transcrição da revista do Globo

Uma noite escura, no mês de junho de 1943. A estação ferroviária de Pouso Alegre (Minas Gerais) apresentava um aspecto fora do comum. Conforme vinha acontecendo com freqüência, a cidade mais uma vez ficara as escuras. Não se tratava de "black-out" motivado pela guerra, mas de mera deficiência da esclerosada usina elétrica local. Em frente à gare aglomeravam-se praticamente todos os moradores de Pouso Alegre — exaltados, inquietos, ardendo de curiosidade. Vibravam ainda em seus nervos os ecos dos últimos acontecimentos; o Baependi posto a pique e a conseqüente indignação do povo enfurecido que depredara estabelecimentos de alemães e italianos Agora, aguardavam a chegada de 62 prisioneiros de guerra: marinheiros alemães que procediam do Rio para o "campo de concentração” em Pouso Alegre. O major comandante da guarnição local perdera a calmaria imperturbável de sempre e deplorava; — Logo hoje e que foi faltar luz! Este povo é capaz de linchar os prisioneiros. Tomem nota do que estou dizendo! — Depois, dirigiu-se a mim: — Sargento! Chame todos os táxis da cidade e trate de formar uma fileira de faróis acesos ao longo do percurso até o quartel. Quando o trem especial entrou na estação, a ondulante massa popular acotovelava-se, num esforço sobre-humano para chegar até a plataforma. A excitação subira ao clímax. Sentia-se a tensão no ar como descargas de eletricidade. Ali ninguém ainda vira de perto um soldado nazista — as "feras do Terceiro Reich". Muitos tinham parentes na FEB, combatendo na Itália. Ouviam-se retalhos de frases rancorosas. Os prisioneiros foram desembarcando um por

um. Entrecruzaram-se na sombra os fugazes feixes de luz das lanternas elétricas, buscando localizar o rosto dos marinheiros germânicos que, por fim, se perfilaram na plataforma. A pequena distância distinguia-se vagamente os seus vistosos uniformes: túnica escura calças brancas, quepes onde brilhava o metal da águia simbólica. Nem o saco de roupas que carregavam ao ombro lhes disfarçava a postura arrogante e orgulhosa. O oficial brasileiro que os acompanhara desde o Rio começou a chamada nominal: _ Capitão Paul Hoffmann! _ Ouviram-se o bater de tacões e um resmungo. _ Hans Sterner Julius Hiller! À medida que os olhos se foram habituando à obscuridade, percebemos que a maioria dos marinheiros não teria mais de 18 anos, com exceção dos oficiais. Um dos espectadores, que transmitia informações aos que estavam mais longe e nada podiam ver, exclamou um tanto decepcionado: _ Ora são todos uns guris. Não tardou que a animosidade se desvanecesse. Multiplicaram-se os cochichos e os comentários, sem a nota colérica e ameaçadora de há pouco, mas num tom amável e despreocupado. Em menos de cinco minutos, ouvia-se a primeira piada, logo seguida de outras, apoderando-se de todos o bom-humor e a cordialidade caracteristicamente nacional. Uma senhora observou: _ Esta ´´e boa! Tanto estardalhaço por causa de uns meninos! Uma cerca de arame farpado circundava um alojamento de dois pisos, no centro da imensa área ocupada pelo quartel do 8º Regimento de Artilharia Montada, a dois quilômetros de Pouso Alegre. Inteiramente isolado dos demais edifícios, o referido alojamento dispunha de um vasto espaço de terra livre. Era aí o "campo de concentração". Mas essa expressão sinistra, a rigor, imprópria para designar o presídio a que as autoridades brasileiras recolheram os prisioneiros de guerra nazistas. As janelas foram guarnecidas com grades de ferro e todas as portas substituídas e reforçadas com um complicado sistema de segurança que tornava impossível abrir-se uma porta sem antes fechar-se outra. Nas edificações próximas, holofotes apontavam para o "campo". E, no corpo da guarda do quartel, um sistema de alarme mantinha-se em comunicação permanente com o corpo da guarda do presídio. O comandante do 8º RAM comandava também 53


outubro de 2012

o "campo". A guarda (que pertencia como os sargentos ao 8° RAM) muito antes da chegada da primeira e única leva de prisioneiros, fora submetida a uma série de longos e penosos exercícios para o cabal desempenho de suas funções. A qualquer momento (alta madrugada ou a hora do rancho) a sereia de alarme punha-se a uivar e tínhamos de correr, para sem perda de um segundo, os pontos estratégicos do "campo". E ali permanecíamos, vigilantes e dispostos a tudo, a fim de impedir a fuga espetacular de fantasmas... Pouco antes de chegarem ao "campo" os caminhões que levavam os prisioneiros, a usina elétrica, após titânica luta com seu emperrado equipamento, voltara a funcionar e as luzes brilharam outra vez. Toda a oficialidade do 8° RAM aproveitou então a claridade e dirigiu-se ao "campo" para examinar os internados. Destes, os que pertenciam à marinha mercante chegaram bem barbudos, mas os da marinha de guerra estavam perfeitamente escanhoados. Todos, porém, necessitavam com urgência de aparar as compridas e louras melenas. Os prisioneiros foram entregues ao comandante do "campo" e, em seguida, a oficialidade do 8° RAM recolheu-se aos seus alojamentos para o descanso noturno. Ficaram acordados apenas o sargento comandante da guarda (e que é o autor da presente reportagem), o oficial de dia e mais o Capitão Sganarelli. Tínhamos de revistar o conteúdo dos sacos de viagem trazidos pelos alemães. Conforme o caso, às vezes pedíamos alguns esclarecimentos, com a ajuda do Capitão Hoffmann, o único prisioneiro que sabia português e servia de intérprete. Findo o exame, os internados tiveram licença de ir dormir. O Capitão Sganarelli correu à cidade, sem dúvida para contar as novidades aos amigos. Recolhi-me ao corpo da guarda, a fim de re¬gistrar as ocorrências no "Livro de Partes". Nem bem decorreram vinte minutos, apareceu-me um soldado com os olhos quase a saírem das órbitas e uma expressão de assombro na fisionomia. Bradou-me ele: _Sargento, corra aqui! Venha ver, por favor! Aquela gente é louca. Corra, corra, sargento! Algo de anormal ocorrera e os meus pressentimentos foram os piores possíveis. Seria milagre se não surgisse uma alteração numa noite em que a guarda ficava ao meu cargo. Sem dúvida, as "feras nazistas" começavam a mostrar as garras e já estavam fazendo desordem. Perguntei ao soldado: — Mas de que se trata, no fim das contas? — Venha ver — tornou ele. Venha ver, Sargento. Aquela gente é louca! Sabe o que estão fazendo. Faxina! Faxina! Fui ver mesmo: os alemães tinham revirado o alojamento, esfregavam as paredes, lavavam o soalho, as camas de ferro e as janelas. 54

— Sargento, essa gente é louca ou coisa pior — prosseguia o pracinha inquieto. — Passamos a tarde inteira limpando tudo isso! Não será truque dos "boches”? Para que limpar o que já está limpo? Isso vai dar em droga. Sargento! Toco o alarme? Vamos tocar o alarme? O rapaz mostrava-se tão preocupado que passei toda a noite sem despregar os olhos dos prisioneiros "para ver se era truque". Mas era apenas um amor ao asseio, realmente tedesco. Na manhã seguinte, o intérprete Capitão Paul Hoffmann foi incumbido de comunicar aos demais internados que eles gozariam dois períodos de recreio ao ar livre, pela manhã e à tarde. Depois de se entender com os companheiros, o intérprete indagou se lhes era permitido fazer ginástica, recebendo resposta afirmativa dos oficiais brasileiros. Acrescentou que seria "apenas uma coisinha qualquer, para espichar as pernas". Dentro em pouco, deixavam eles o alojamento, em formação militar, vestindo calção e camisa de cor branca e calçando sapatos de esporte. Quase todos os oficiais e praças do 8° RAM aproximaram-se da cerca de arame farpado, a fim de assistir a ginástica. Os prisioneiros começaram com simples flexões musculares e terminaram com uma partida de "bola militar", uma espécie de "rúgbi" violentíssimo, no qual todos os golpes são lícitos. Disputaram ainda um jogo parecido com aquele que no Brasil chamamos de "rugby" — porém muito mais violento do que este. Ao que parece, divertiam-se muito, se bem que um dos digladiantes chegasse a fraturar um braço. Os demais não se impressionaram e continuou o jogo, enquanto Os padioleiros do 8º RAM socorriam a vítima, rapaz imberbe de 17 anos. Tratando-se de uma simples ginástica "para espichar as pernas", por pouco um deles não espicha a canela. . . Por essa época, o comando do 8º RAM preparava uma bateria que deveria seguir para Porto Seguro (Bahia) com a finalidade de guarnecer um setor que, segundo os rumores, servia de abrigo a submarinos teutônicos. (Afirmava-se também que dali os navios corsários roubavam as nossas areias monazíticas, preciosas pela alta percentagem de tório). No Regimento havia então uns mil homens, mal acomodados e que se entregavam a estafantes exercícios. Com o aumento do efetivo, a alimentação piorou consideravelmente. Certo dia, um pracinha recusou o "jabá" (carne seca) que lhes serviram, sob a alegação de que estava deteriorado. Um aspirante inexperiente, que na verdade ainda não sabia lidar com a tropa, mandou recolher o soldado ao xadrez. Outro pracinha fez idêntica reclamação e também foi preso. E pelo mesmo motivo, num só dia foram sucessivamente aprisionados dez homens. O fato repetiu-se dias após, quando o mesmo aspirante foi novamente escalado "oficial de dia". Não poderia haver medida mais desastrada que a desse aspirante


outubro de 2012

(aliás pouco apreciado no seio da tropa por sua arrogância), pois o 8º RAM era integrado por mineiros da gema, criaturas pacatas que "dão uma vaca para não entrar em briga e uma fazenda para não sair dela"... Numa noite, ao passar em revista a 2ª bateria, o aspirante aproveitou a oportunidade e pregou um sermão a tropa, com todas as grosserias e ofensas que lhe vinham à idéia. Na "peroração", prometeu dar um tiro na boca dos que se negassem a comer carne seca, pois então veriam que chumbo é bem pior que o "jabá"... Entusiasmado com a sua "eloqüência", lançou um desafio: quem tivesse coragem, desse um passo a frente e repetisse que o "jabá" estava deteriorado. Para sua surpresa, a bateria inteira (140 homens) deu um passo à frente. O homem ficou completamente aturdido, como se não soubesse ao certo o que deveria fazer. Apelou para as invectivas e começou a urrar: _ Covardes! Cretinos! A tropa conservou-se impassível e ele sempre a esbravejar. Num momento em que se calou para tomar fôlego, ouviu-se uma voz _ Da um tiro na boca de cada um! Foi o que bastou. O aspirante fez um gesto frenético e um cano de revolver faiscou-lhe na mão. Nesse instante exato, apagaram-se todas as luzes do alojamento, a confusão que se seguiu foi tremenda, indescritível. Soube-se depois que pretendiam jogá-lo do segundo andar abaixo, mas, como todos pretendessem fazê-lo ao mesmo tempo uns atrapalharam os outros e o sargento comandante da guarda chegou a tempo de acalmar os ânimos. Depois disso, o Regimento permaneceu em estado de irritação constante, apesar do aspirante ter sido transferido para outra guarnição. Mas a comida continuava na mesma. Exatamente nesta ocasião, chegaram várias caixas enormes para os prisioneiros, enviadas através da Embaixada da Suíça, contendo desde livros, revistas e papel de cartas até charutos finos, cigarros, bombons, apetrechos de esporte, conservas, presuntos, queijos, etc. Ora, não poderia haver momento mais impróprio para a chegada de tais coisas. Verdade é que os "boches" comiam a mesmíssima comida da tropa. No entanto, eles recebiam, apesar de prisioneiros e conforme as práticas internacionais, os rendimentos correspondentes aos postos, que eram, mesmo os dos soldados rasos, muito superiores aos dos nossos pracinhas. Um marinheiro alemão, por exemplo, percebia mais ou menos 140 mensais, enquanto um pracinha arranchado recebia 21 cruzeiros. Assim, os prisioneiros estavam em condições de comprar frutas, leite e café, e suprir dessa maneira as deficiências do "rancho". Por isso, a chegada das caixas provocou in-

dignação geral. "Essa é boa" — murmurava-se. "Enquanto nos martirizamos em exercícios estafantes para combatê-los, eles, aqui, nas barbas da gente, levam este vidão." E a tropa, até então disciplinada, confiante, passou a ser dominada pelo rancor e pela má vontade. Tais sucessos, é claro, chegaram ao conhecimento dos prisioneiros. Alguns deles, numa provocação infantil e, de resto, inócua, pois nenhum dos soldados se deu por achado, passaram a pendurar nas grades do alojamento, no andar superior, as guloseimas recebidas, a pretexto de conservá-las, evitando o mofo. Certa noite medonha de frio eu estava examinando a correspondência dos prisioneiros, que deveria ser entregue na manhã seguinte ao comandante do Regimento, antes de seguir destino. Eram cartas para Viena, Berlim, Stuttgard, nas quais se ia adivinhando a noiva, o pai, ou quem sabe lá, palavras em código? Divertia-me em adivinhar, através da meia dúzia de palavras alemães conhecidas, o que pudesse conter aquelas cartas, quando reparei na evidente inquietação de Tripé, o cachorrinho de estimação do Regimento. Levantou a cabeça, cheirou o ar, saiu, foi até a porta, voltou, saiu novamente, grunhiu impaciente junto a porta. Que seria? Começou a preocupar-me a intranqüilidade de Tripé, o cãozinho, que não se acalmava de modo nenhum. De focinho para o ar, continuava a fariscar qualquer coisa e repetia as suas idas e vindas até a porta, sempre a rosnar, desinquieto. A mascote do Regimento, que tinha apenas três patas (donde lhe veio o nome), possuía um faro todo especial para descobrir trapalhadas, de modo que resolvi investigar. Saí. Forte cerração envolvia todo o "campo" e nada se notava de anormal. Dirigi-me aos postos: encontrei todas as sentinelas em seus lugares. Verifiquei também os sinais de alarme. Estavam em ordem. Indaguei se alguém observara qualquer movimento suspeito e só obtive respostas negativas. Vasculhei ainda todo o interior do presídio e nada descobri. Quando voltei, Tripé permanecia no mesmo estado de excitação. Que teria o esperto cachorrinho? Talvez estivesse doente. Em todo caso, tornei a subir ao pavimento superior e dei mais uma olhadela através da porta principal: todos dormiam. Silencio e calma por toda a parte. Ao voltar, no momento em que descia a escada percebi por fim o cheiro que intrigava Tripé. Pus-me a farejar também e não tive mais dúvidas: carne assada! Mas onde? Por quê? De que modo? E a altas horas da noite? Chamei a sentinela, que se apresentou imediatamente: _ Que cheiro e esse, não sabe? _ Presunto, Sargento! _ Mas como se explica isso? Há algum prisioneiro assando presunto por aí? _ Ah, quanto a isso, nada sei, meu Sargento. Mas me parece muito natural o presunto cheirar de vez em quando. . . 55


outubro de 2012

A expressão velhaca de seu rosto dispensava outras informações. Sai. Num ângulo solitário do terreno, fui encontrar três soldados que se regalavam com suculentas postas de presunto, assado num braseiro. Lambiam os dedos, deliciados, e tão entretidos estavam que nem deram pela minha presença. _ E dai, camaradas? — falei. — Estava bom o tempero? Não falta nada para a sobremesa? Eles ergueram os olhos e engoliram em seco. Depois, entreolharam-se em silêncio, mas não perderam a calma. Um deles, com uma carinha muito inocente, entrou em explicações: _A gente tem de se defender, Sargento... O senhor sabe como é, não? _ Não sei de coisa nenhuma! E isto são horas de piquenique? Onde acharam vocês esse presunto? _ Na ponta de um bambu. _ Na ponta de um bambu? _ Sim. Acontece apenas que na ponta do bambu havia uma faca, amarrada por nós. Depois, foi só o trabalho de passar de leve o fio da faca no barbante e o presunto despencou. Nenhum dos "boches" deu pela coisa. O senhor nos desculpe, Sargento. Mas é que presunto assim esquentado nas brasas fica tão gostoso... Desde o início, um dos prisioneiros fez convergir sobre a sua pessoa todas as antipatias da tropa. Descarnado, alto, beirava os quarenta e vivia fechado num mutismo que a todos se afigurava arrogante. Cobria-lhe o rosto comprido uma intensa barba castanha. Tinha o posto de tenente e, segundo parecia, não usava de muita cordialidade nem com os próprios companheiros. Os pracinhas chamavam-lhe "Conde de Monte Cristo" e ninguém acreditava que ele fosse apenas tenente. Sob tal disfarce, não estaria ali uma alta personalidade do Reich? Seria, no mínimo, um perigoso espião! As maneiras um tanto insolentes e ao mesmo tempo singulares do "Conde de Monte Cristo" concorriam para reforçar a hipótese. Não trocava palavra com ninguém e tinha por hábito instalar-se a uma janela do segundo pavimento, de onde podia observar toda a atividade do quartel. Deixava-se ficar aí o dia inteiro e foram incontáveis as noites em que o encontramos no mesmo lugar. Não perdia nada de vista, mas a verdade é que em seu rosto nunca transparecia qualquer interesse ou sentimento. Era uma perfeita máscara imóvel de encontro às grades. Acreditava-se que fora incumbido pelos outros de vigiar a tropa. Dizia-se também que ele contemplava com um ar sardônico os nossos antiquados canhões Krupp 75 e os nossos cavalos de tiro. Os canhões, realmente, eram de um modelo anterior a I Guerra Mundial, mas apenas serviam para treinamento. O material novo estava no Rio ou "em algum lugar da Europa". Sabiam, porém, os pracinhas, que teriam de confiar apenas naquele material obsoleto, em caso de necessidade urgente, antes de chegarem às novas peças de artilharia. Era o que estava para acontecer com a 3° 56

Bateria, que se preparava para guarnecer a costa, em Porto Seguro. Tratava-se de missão sabidamente difícil: aquele trecho do litoral achava-se a mercê de corsários armados com canhões de alcance superior a onze mil metros, ao passo que o alcance de nossa artilharia não ultrapassava os nove mil metros. As belonaves inimigas (do tipo do Graff-Spee) poderiam assim bombardear tranqüilamente a 3° Bateria, sem que esta conseguisse atingi-las. Por tudo isso, a atitude de escárnio atribuída ao "Conde de Monte Cristo" causava indignação. No tenente barbudo e taciturno concentrava-se toda a raiva reprimida da soldadesca: ele encarnava o Terceiro Reich. Ao avistá-lo, os pracinhas dirigiam-lhe aos berros os piores insultos que se podem articular no idioma de Bocage. Esta visto que o "Conde de Monte Cristo" escutava tudo com suprema indiferença: não entendia patavina de português. Talvez o homem fosse apenas um pobre maníaco, talvez sentisse a alma dilacerada pela nostalgia da pátria ou pela saudade da família. Todavia, ninguém cogitava disso. A ninguém preocupava a condição humana do "Conde de Monte Cristo". O estado de irritação exacerbara-se ao extremo no seio da tropa, à medida que se aproximava o dia marcado para a partida da 3ª Bateria. Na véspera do embarque, caiu sobre o quartel uma noite abafada, em que o silêncio tenso e presságio fazia pensar nas calmarias que antecedem as mais perigosas tempestades. E realmente, de súbito, um estampido quebrou o silêncio noturno e abalou o quartel inteiro com a força de uma explosão. Ao ouvir o tiro, não houve um único soldado que permanecesse em seu lugar. Corremos todos para os lados de onde viera a detonação. Fomos encontrar um pracinha como que alucinado, de mosquetão em punho e preparando-se para desfechar um segundo tiro no "Conde de Monte Cristo". A pontaria do rapaz falhara na primeira tentativa e o "Conde" continuava impassível à janela... Foi difícil dominar o pracinha e mais difícil ainda fazê-lo recobrar a sanidade habitual. Mas por fim, tudo voltou à normalidade e a vida do "Conde de Monte Cristo" não correu mais perigo dai em diante. O comando estabeleceu um regime de pequenas licenças para que os elementos da tropa pudessem visitar a família, a fim de se retemperarem para a nova série de exercícios que teria início em breve. Com isto, o quartel ficou quase deserto. Desaparecera inteiramente a agitação dos últimos meses. Certa tarde, porém, estourou uma "bomba": o "Conde de Monte Cristo" pedira permissão para dar um concerto! Surpresa maior não nos poderia proporcionar aquele homem sinistro. Reuniu uma dezena de garrafas vazias. Enchendo-as gradativamente de água, afinou-as


outubro de 2012

como marimbas. O barbudo tenente possuía excepcional aptidão para a música. Envolveu dois pedaços de rodeira em tiras de pano e assim percutia as garrafas, tirando sons harmoniosos e belos de seu instrumento improvisado. Durante uma noite inteira tocou valsas de Strauss, Waldteufel, Kalman e Luhar. E tudo sem que o seu rosto de estátua perdesse por um momento sequer a imobilidade de pedra. A não ser os próprios prisioneiros, ninguém mais obteve permissão de assistir ao concerto. Mesmo assim, no dia seguinte não se falou noutro assunto. Foi tal o êxito do "Conde de Monte Cristo" que diversos elementos prestigiosos da cidade solicitaram ao comandante a necessária licença para uma audição publica das "garrafas afinadas". Isto, porém, seria contrariar o regulamento e o comandante não transigiu. De qualquer forma, a partir dessa data desvaneceu-se toda e qualquer prevenção contra o "Conde". De Porto Seguro, chegavam cartas de nossos camaradas da 3ª Bateria, contando as suas peripécias e a vida primitiva que levavam ali, pessimamente alojados em galpões que de maneira alguma serviam para acantonar, sofrendo o cruel racionamento de água e víveres. É oportuno relembrar aqui o Capitão Manuel Jales Pontes, comandante da 3ª Bateria, talvez homem mais impulsivo do mundo e dono de um coração ainda maior do que os palavrões do seu vocabulário. Um episódio típico ilustra a bondade desse oficial para com os seus soldados. Antes da partida para Porto Seguro, um pracinha aproximou-se do Capitão Jales Pontes, a fim de desculpar-se por ter faltado aos exercícios do dia anterior. Explicou que sua esposa adoecera e, como não conheciam ninguém na cidade, sempre que ele se ausentava de casa não havia quem prestasse o mínimo cuidado a enferma. O capitão fez um verdadeiro escarcéu: _ Seu cretino! Miserável! Ainda tem coragem de vir dizer-me uma coisa destas? Suma-se, suma-se da minha presença. E não me apareça enquanto sua mulher não estiver curada. O soldado, os olhos marejados de lágrimas, fez uma continência muito sem jeito, preparando-se para sair. — Volte aqui — rugiu o capitão. — Tem dinheiro para remédios? Compre o que for necessário na Farmácia Central, na minha conta. E o capitão Jales era assim. Bom como pão, mas incapaz de uma atitude branda. Depois do concerto do "Conde de Monte Cristo", o Capitão Hoffmann pediu licença para organizar um espetáculo teatral entre os prisioneiros. Escreveu uma comédia, ensaiou-a e por fim levou-a a cena. O naipe feminino compunha-se de marinheiros cujos "vestidos" eram toalhas de banho com fios de sacos de aniagem improvisaram cabeleiras. Foi outro sucesso. Um tenente do 8° RAM, ante o exército do

"Conde" e do Capitão Hoffmann, resolveu impressionar os alemães e praticou uma façanha que o celebrizou. Após a habitual revista noturna, empunhou o revolver e pediu ao Capitão Hoffmann que fosse traduzindo as suas palavras para os prisioneiros. Com uma calma de pasmar, abriu a arma e mostrou que havia no tambor apenas uma bala. Girou o tambor sem olhar e fechou-o bruscamente. Levou o cano da arma ao ouvido e premiu o gatilho. Depois, repetiu a cena, introduzindo mais um projétil (era a famosa "roleta russa"). Disse aos prisioneiros: _ Quem não tiver coragem de fazer isso, não pode ingressar no Exército Brasileiro. E foi assim continuando. Quando ele enfiou a quarta bala no tambor, não pude conter-me. Aproximei-me discretamente e disse-lhe: _ Tenente, parece que chamam o senhor lá embaixo Creio que e o comandante. . . _ Espere ai _ retrucou ele com pachorra. _ Desço em seguida. Julgo que a interrupção o levou a refletir um pouco: não apontou o revolver para a cabeça, mas para o pé. Ouviu-se uma detonação ensurdecedora e o bico de sua bota saltou longe... O hábito e a convivência com os prisioneiros acabaram por extinguir qualquer ressentimento. Eles, por sua vez, mostravam-se mais amáveis. Só não conversávamos com eles devido a rigorosa proibição e por ignorarmos o seu idioma. Tão calma era a vida para os alemães que os mais graduados começaram a lecionar aos outros. Usavam os quadros negros do alojamento, dispunham de giz, cadernos e lápis. O mais curioso é que ninguém se lembrou de indagar em que consistiam as lições. Cultivavam também uma bonita horta. "Herr" Hiller, um dos mais idosos, resolveu plantar rosas. Desta forma, oito meses após sua chegada ao "campo de concentração" os 62 prisioneiros de guerra nazistas tinham uma vida feliz e tranqüila, sem sofrer o mínimo vexame. Para aquele grupo de guerreiros não havia guerra nem sobressaltos, graças à magnanimidade do comandante do campo, homem enérgico e inflexível, mas que sabia sobrepor-se às paixões vulgares e mesquinhas. Quando as rosas de "Herr" Hiller começaram a desabrochar chegou para os prisioneiros a ordem de embarque. Seriam trocados por 144 brasileiros detidos na Alemanha. À hora da revista noturna o capitão Hoffman pediu licença para dirigir algumas palavras de gratidão às autoridades brasileiras pelo humano tratamento que lhes fora dispensado. “Her” Hiller, antes de sair, ainda colheu algumas rosas e meteu-as no saco de roupa. E o “Conde de Monte Cristo” presenteou um pracinha com as suas garrafas afinadas. Já na manhã seguinte, um trem especial deixava Pouso Alegre com destino ao Rio, onde uma belonave norte-americana aguardava os marinheiros germânicos. 57


outubro de 2012

A Colônia Francisco Sales

No inicio do século foram criados vários núcleos agrícolas no Estado, visando a estimular a agricultura. No Sul de Minas foram fundadas, em diferentes épocas, as colônias agrícolas Francisco Sales (Pouso Alegre), Senador José Bento (distrito de Congonhal) e Inconfidentes (Ouro Fino). A Colônia Francisco Sales, na Faisqueira, propriedade do Estado, foi criada pela Lei nº 150 de 20 de julho de 1896. Em 1905 tem início sua instalação, ocupando as fazendas de Ramos Brandão (atual cerâmica Guersoni) e a de Antonio Libânio Teixeira (atual igreja de N.S. Aparecida e se estendendo até ao bairro do Cristal). Em Pouso Alegre glebas de terra foram divididas em lotes de 5 alqueires e vendidas a imigrantes europeus ao preço de 1:200$000 (hum conto e duzentos) em seis (6) prestações. Ali fixaram-se várias famílias de origem italiana (mais numerosa), portuguesa e espanhola. Essas famílias deram origem a uma larga descendência, que mais tarde se fixou na cidade, como os Chiarini, Scodeler, Leone, Carletti, Cinquetti, Márquez, Fernandez etc. Em Senador José Bento fixaram-se imigrantes de origem estoniana, e em Inconfidentes alguns alemães. As colônias contavam com a assistência do governo, havendo na Colônia Francisco Sales um trator disponível para uso dos colonos, além da assistência de um agrônomo, sementes, adubos etc. A topografia montanhosa, em certas áreas da colônia, dificultava o transporte da cana-de-açúcar que era plantada na serra. Por isso, o transporte era feito por meio de cabo de aço, que ia do alto da serra até o engenho, o qual era movido pela energia gerada pela água represada de um açude feito pelos colonos. Os feixes de cana, amarrados, desciam pelo cabo preso em carretilhas e passavam pela moenda, indo depois para o alambique para a fabricação de aguardente. Havia também extensas várzeas, onde se pretendia cultivar o arroz. Para esse fim importou-se da Itália uma máquina de beneficiar arroz, movida a va58

por, tão grande e pesada que foi preciso construir-se uma carreta especial para transportá-la da estação para a colônia, sendo instalada num prédio construído especialmente para aquele fim. Havia na colônia vários açudes construídos pelos colonos, que evidenciavam a tendência de captar-se e armazenar água para usá-la como força hidráulica. Em 7 de fevereiro de 1905, durante o episcopado de dom João Baptista Nery, o Estado confiou a direção do núcleo colonial Francisco Sales ao Bispado, para o fim de ser estabelecida uma escola agrícola na sua sede. A escola iniciou suas atividades em 10 de agosto do mesmo ano, sob a direção do então padre Octávio Chagas de Miranda. Contava a escola com 20 alunos internos e 15 externos, todos gratuitos. O pessoal administrativo e docente compunha-se de um diretor, de um professor de preparatories e subdiretor, padre Gastão de Morais, e um professor de agronomia. O programa de ensino abrangia várias matérias, entre as quais botânica, química, geologia e meteorologia agrícola, agricultura e zootécnica práticas, com trabalhos de campo, demonstração e experiência. A Colônia Francisco Sales não teve o resultado esperado, enquanto as de Senador José Bento e Inconfidentes prosperaram e se tornaram mais tarde cidades. Os colonos acabaram por se fixar na cidade, e a escola agrícola não teve a continuidade esperada, encerrando as suas atividades em outubro de 1906 Anos mais tarde, quando dom Octávio Chagas de Miranda assumiu a direção da diocese, a sede da colônia foi adquirida para servir de colônia de férias do Seminário, e construiu-se uma nova capela, mais ampla, em louvor à Nossa Senhora da Aparecida. Referência Bibliográfica: OLIVEIRA, Antonio Marques, Almanak do município de Pouso Alegre, 1900, p.93 GOUVÊA, Otávio Miranda. A História de Pouso Alegre, Imagem, 1998, p.134,135,136


outubro de 2012

Notícias de Pouso Alegre

Estação Rodoviária

A estação rodoviária é de fato uma necessidade para Pouso Alegre, mas, é preciso que a mesma seja localizada em local de livre acesso aos veículos e nunca no local programado que é a Praça Dr. Garcia Coutinho. Este local, em hipótese alguma serve, principalmente por ser um plano inclinado de difícil construção e ainda existir a garganta do Hotel Cometa e a Catedral. A construção neste local da estação rodoviária será um atentado a estética da cidade e ao conforto público. Em melhoramentos tais há que procurar-se local, por urbanista consagrado, e, na falta deste, o bom senso será, ainda o melhor arquiteto. Passemos uma vista de olhos pelos locais mais indicados e vamos encontrar como o melhor a parte do Parque João da Silva (em completo abandono pelas autoridades municipais), servindo de local para atos atentatórios a moral e valhacouto de vagabundos; a na parte fronteiriça do Carmelo, daria uma magnífica estação rodoviária e de fácil construção e de pequeno dispêndio, por se tratar de próprio municipal, apenas uma nesga de sete metros e erguer-se-ia maravilhosa esta-

ção rodoviária, com escoadouro natural para os ônibus, através das ruas Tiradentes e Afonso Pena, e ainda com a grande vantagem de não atravancar a cidade, como forçosamente acontecerá. Como a construção na Praça Projetada Dr. Coutinho. Ainda poderia admitir-se a sua construção na Avenida Independência, na parte fronteiriça à Farmácia ali existente, desde que desapropriada a área necessária dos terrenos vagos ali existentes, e mudando a iluminação pública para cabos aéreos a exemplo da Av. Dr. Lisboa. O que se fizer fora desses locais será um atentado ao conforto do povo e aos planos urbanísticos da cidade. Fonte: Informativo Pousoalegrense, Ano 1, no XII, outubro de 1957., p.32, 33.

Está sendo pavimentada a Avenida Dr. Lisboa Teve início no dia 26 do corrente, os preparativos para pavimentação da cidade de Pouso Alegre, cuja obra o atual e incansável prefeito de Jorge Andere pretende entregar antes do término do seu mandato. Na manhã desse dia, a cidade foi despertada com foguetes, anunciando o início dos trabalhos, os quais foram ini-

59


outubro de 2012

ciados pelo prefeito e pelo Exmo. Sr. General Moacyr Araújo Lopes que fizeram da poicareta a fim de arrancarem os primeiros paralelepípedos. A noite desse mesmo dia, após um comício do candidato Candido Garcia Machado, centenas de pessoas de todas as classes sociais, entre eles: comerciantes, estudantes, bancários, crianças e todos aqueles que amam de fato nossa terra, resolveram colaborarem para que a avenida ficasse sem nenhum paralelepído afim de que a Companhia Mineira de Obras, autorizada pelo eminente Governador Magalhães Pinto, inicasse com urgencia o serviço de pavimentação. Quando redigimos esta notícia, já uma turma dessa Companhia já estava dando prosseguimento aos trabalhos de asfaltamento da nossa magestosa e mais bela avenida do Sul de Minas. No próximo número daremos notícias mais detalhadas sobre acontecimentos desse grande empreendimento do atual Prefeito Municipal. Fonte: O Linguarudo, 31 de agosto de 1962, p.6.

Dia 19 de outubro Dia da Cidade Será Inaugurada a Estação Rodoviária Está mais ou menos acertada a inauguração da Estação Rodoviária no dia 19 de outubro, dia do aniversário da cidade. O prédio da Estação Rodoviária, construído na Praça João Pinheiro (Parque Infantil) já está em fase de acabamento. Há vários anos que o povo

60

tem visto exposto nas vitrines, vários projetos com plantas de todas as espécies, bonitas, confortáveis de acordo com o movimento de onibus que servem Pouso Alegre, porém, só no papel. Afinal os nosso dirigentes levaram a vante a construção da tão almejada Estação Rodoviária, reclamada há muito tempo pela população. Fonte: O Linguarudo, 8 outubro de 1969, p.5.

Telescópio

A Praça Dr. Garcia Coutinho está completamente abandonada no setor de fiscalização de saúde e higiene. Existem ali vários pontos de ônibus da Empresa Circular Pouso Alegre, onde dezenas de pessoas utilizam diariamente para diferentes bairros da cidade. Naquele local é explorado por vendedores de pastéis, picolés, frutas, jornais e revistas, que desconhecem o que é asseio. Papéis de picolés, guardanapos de papéis que são utilizados para pegar o pastel, são jogados em cima dos passeios e, em volta das carrocinhas que vendem o referido produto, dando ma impressão a quem por ali passa. Numa verdadeira falta de higiene e limpeza, certos vendedores de pastéis e picolés, trabalham sem carteira de saúde, sujos, sem uniformes, gorros e chinelos e muitas das vezes descalços. Nos carrinhos, o óleo e pastéis, ficam expostos a fumaça dos ônibus, bem como, as moscas. Fazem comércio naquele setor diversos menores que juntamente com outros vendedores de picolés, brincam naquela área, muitas vezes


outubro de 2012

pondo as mãos no chão, no nariz e em outros lugares íntimos, que após a brincadeira um deles volta, pega com as mãos sujas os pasteis que são fritados e posto a venda aos consumidores. Fonte: A Gazeta de Pouso Alegre, 25/05/1980, n. 38, ano 3, p. 08.

Telescópio

O ponto de circular de Pouso Alegre que ora é feito na praça Dr. Garcia Coutinho, será mudado para a Avenida Duque de Caxias ao lado da “AMESP”, por motivo da obra da Caixa Econômica Federal. Tal iniciativa é feita pelo Departamento de Trânsito e Prefeitura Municipal, como medida de segurança dos usuários do circular, os quais enviamos nossos cumprimentos pela sugestão em apreço. Fonte: A Gazeta de Pouso Alegre, 31/05/1981, n. 57, ano 04, p. 08

Parabéns, Pouso Alegre pelos seus 136 anos

Pouso Alegre soprando velas. Feriado municipal. Festas e foguetes. Todos que aqui nasceram ou que escolheram Pouso Alegre para morar, estão em festas. E isso é natural e salutar. Todos devemos comemorar mais este aniversário da cidade. E, contudo, não nos impede de parar para pensar. São nestas ocasiões em

que mais justificado se torna um balanço da vida. No crescimento acelerado que a cidade vem experimentando nos últimos tempos, é bem possível que nós, seus habitantes, temos uma trégua nos nossos trabalhos, para uma pausa em proveito dela. Sim, hoje Pouso Alegre é outra. A sua expansão é um fato. A oferta de trabalho aumentou. O comércio se expandiu. O numero de profissionais cresceu muito. As fábricas chegaram. Novos bairros foram nascendo. Novas ruas e avenidas surgiram. A população cresceu. O povo trabalha e a cidade vive intensamente. Mas, e os seus problemas? Estariam eles sendo resolvidos na mesma proporção do crescimento da cidade? É neste ponto que julgamos ser de utilidade uma pausa para pensar. Se a cidade cresce, os seus problemas crescem. Isto acontece em qualquer ponto do mundo. Mas há que se conscientizar uma preocupação permanente, para a solução dos mesmos. E isto estaria acontecendo? Será que todos nós estamos conscientes dos nossos problemas? É verdade que muitos problemas tem sido atacados, e vários deles, resolvidos. O que estamos questionando, porém, é a velocidade destas resoluções. Exemplos? São vários. O trânsito um deles. Além da construção de uma nova e inadiável rodoviária, já que dispomos de uma totalmente ultrapassada, temos um problema grave com o trânsito urbano. É bem sabido que Pouso Alegre é uma cidade antiga, é preciso melhorar as pistas de rolamento. E, praticamente, não se asfaltam novas áreas da cidade. E os defeitos nos calçamentos existentes são vários. Para com-

61


outubro de 2012

plicar, importamos dos grandes centros esta insensatez chamada “quebra-molas” que a cada dia se diversifica, mas mantendo todos eles a constante do mau gosto e do subdesenvolvimento. Além disto, tem-se como costume, em Pouso Alegre, colocar-se placas de “trânsito impedido” em certas ruas, em determinados dias, sem um estudo planejado das vias colaterais, o que dificulta, quando não torna impossível, o tráfego normal. Outro ponto importante, o saneamento da cidade. Por esta deficiência, principalmente nas épocas quentes, os pernilongos se tornam os donos da mesma. Incomodam os moradores e afugentam os visitantes ou turistas. Mais um problema? A fiscalização de carros pelos inúmeros guardas, nas vias de chegada e saída da cidade. Muitas pessoas evitam entrar na cidade, para que não sejam parados, importunados e muitas vezes multados. O que, evidentemente, traz prejuízo ao comércio. O número de faixas e cartazes colocados pela cidade dão uma poluição visual cansativa e injustificável. Pregam-se propagandas por todos os lados, sem que os interessados se preocupem em retirá-las. As músicas e os avisos que saem, em altos volumes, dos alto-falantes ambulantes, dão um outro aspecto provinciano a cidade. É preciso que se use o modo civilizado de publicar: rádio e jornais. A cidade dispõe dos dois meios de comunicação. A sua utilização nos evitaria de agressão auditiva que vai desde a venda de pamonhas, até a cobrança de impostos, não sem deixar de passar pelo anúncio de show e de liquidações. São aspectos negativos que existem e que passam desapercebidos de nós, que aqui moramos, porque nos acostumamos a eles. Mas o visitante se choca e se surpreende. E nós temos a obrigação de procurar a

62

perfeição. Mas hoje é aniversario da cidade. Com ela, estamos felizes. Por ela, estamos lutando. E dela queremos, porto alegre, povo alegre. Pouso Alegre. Fonte: O Linguarudo,

Editorial

Nesta semana, mais precisamente no dia 19, Pouso Alegre vai comemorar seu centésimo quadragésimo primeiro aniversário, quando o prefeito Jair Siqueira e sua assessoria vão entregar obras a população, com o objetivo de melhorar a vida dos pouso-alegrenses. É uma realidade para todos aqueles que quiserem ver, que a cidade passa a atingir o seu ápice em progresso e desenvolvimento. Novas industrias, crescimento do comércio local e consequentemente aumento da população, quando famílias se sentem atraídas por Pouso Alegre com a possibilidade de novos empregos. Com isto os problemas se avolumam em termos da falta de moradia, ampliação e reforma das redes de água e esgoto, criação de novas escolas, exigência de maior atendimento médico-dentário para os carentes, entre outros mais. O município de Pouso Alegre com seus 141 anos deixa explícito que o progresso é evidente, mas também que as dificuldades são muitas. Com isso o Prefeito Jair Siqueira juntamente com sua assessoria tem ainda muito trabalho pela frente. O desenvolvimento exige que em determinado momento a cidade “pare” para se recompor. E a hora é chegada em Pouso Alegre. A administração municipal além de se conscientizar dos problemas, das dificuldades que a população enfrenta tem que se ajustar para verificar quais são as prioridades dentro das necessidades de sua gente. Para ilustrar, existe a falta de água nos bairros Jardim Noronha e América, onde se o poço artesiano entra em funcionamento, alguns moradores reclamam que esses serviços estão danificando suas casas. Com isto, a prefeitura paraliza o poço para o atendimento, mas deixa inúmeras famílias sem água. O momento em Pouso Alegre é difícil para as autoridades assim como para a população. Neste caso é preciso que cada setor entre em sintonia para que as soluções sejam encontradas e os problemas resolvidos, e principalmente para que as pessoas de um modo geral possam viver nesta cidade de maneira digna. Está comprovado que somente através da harmonia é que uma orquestra faz uma bela apresentação. E esse fato pode ser transposto para a cidade para que todos se sintam melhor. Sul das Geraes, 19/10/1984, n. 5, ano 1, p. 02.


outubro de 2012

Atividades do MHMTT em 2012

63


outubro de 2012

Projeto Passeio pela História

O Museu Histórico Municipal Tuany Toledo (MHMTT) recebeu um total de 2.461 visitantes durante o primeiro semestre de 2012. Dentre eles, 1.132 correspondem aos estudantes das redes pública e particular de ensino de Pouso Alegre, atendidos pelo Projeto Passeio pela História, uma parceria entre o Museu, a Câmara Municipal e a Viação Princesa do Sul. Os outros 1.329 representam pesquisadores e visitantes da cidade de Pouso Alegre e região. Através do Projeto Passeio pela História, os estudantes participam de visitas orientadas, em que aprendem sobre a história de Pouso Alegre através das fotografias, além de conhecer o cotidiano dos pouso-alegrenses do passado através dos objetos. No mês de maio, o MHMTT participou da 10ª Semana Nacional dos Museus, com o tema “Museus em um mundo em transformação – novos desafios, novas inspirações”. Durante essa Semana, os visitantes participaram de uma exposição interativa, onde puderam manusear objetos antigos e registrar suas impressões sobre o Museu em um painel. Ainda como parte da programação da Semana Nacional dos Museus, houve uma oficina de pintura com os estudantes do Projeto Crieartes da Escola Municipal Clarisse Toledo, situada no bairro São Cristóvão. 64

Orientados pela professora Jussara Mantovani, os alunos pintaram suas telas no Museu, inspirados pelos objetos e espaços em torno a eles. Essas telas foram doadas ao Museu e passaram a fazer parte do acervo, estando em exposição permanente. Entre as pesquisas realizadas neste semestre, no Museu, destacamos: economia do Sul de Minas nos séculos XIX e XX (sob a coordenação do prof. Dr. Alexandre Saes – USP), enchente no bairro São Geraldo, o percurso da Odontologia em Pouso Alegre, carros de bois, Mercado Municipal, Biblioteca Municipal, Teatro, Catedral, bairros e ruas. Percebemos assim, através da procura, o interesse das pessoas pela memória da cidade. Também no mês de maio, foi criado o blog do Museu, com o objetivo de divulgar o MHMTT na internet. Através do endereço museutuanytoledo.blogspot. com.br, os internautas têm acesso a textos e fotos referentes à história de Pouso Alegre. Durante o primeiro semestre de 2012, o Museu, em colaboração com a TV Câmara, começou a produzir o Programa Espaço da Memória, transmitido pelo canal digital todos os domingos às 7h da manhã. Os vídeos também podem ser acessados no blog e no canal do MHMTT no Youtube.


outubro de 2012

O MHMTT é um espaço de visitas e pesquisas, aberto de segunda a quinta das 12h às 18h e sexta-feira das 8h às 14h. Para as escolas interessadas em participar do Projeto Passeio pela História, basta entrar em contato através do telefone 3429-6511 e agendar a visita.

65


outubro de 2012

10a Semana Nacional dos Museus O Museu Histórico Municipal Tuany Toledo participou mais uma vez da Semana Nacional dos Museus. Em sua 10ª edição o tema eleito foi: Museus em um Mundo em Transformação – novos desafios, novas inspirações. O evento ocorreu do dia 14 ao dia 18 de maio nas dependências do Museu. Durante a Semana, o Museu realizou uma exposição interativa, onde os visitantes puderam “degustar” as máquinas de escrever, máquinas fotográficas e filme, vitrolinhas e o disco de vinil com músicas dos anos 60/70, gravador e fitas, e outros objetos que fazem parte de um passado não muito distante mas que, com a aceleração das descobertas, são estranhos ao publico mais jovem. Outra atividade foi a Oficina de Artes, com a participação dos alunos do Projeto Criartes, da E. M. Professora Clarisse Toledo, sob a orientação da professora Jussara Moura V. Montovani. As crianças, de várias faixas etárias, realizaram seus trabalhos nas dependências do Museu retratando dentro da sua visão as transformações da paisagem da cidade, dos objetos e tantas outras eleitas por eles transportadas para telas com pintura a óleo. As obras ficaram em exposição no hall da Câmara Municipal durante o mês de julho e posteriormente transferidas para o interior do Museu, passando a fazer parte do acervo. Ao todo são 12 quadros, entre eles uma tela interativa. Além das atividades os visitantes receberam um kit com a Cartilha “Nossa!! O homem descobriu o fogo!”, abordando os inventos e como eles foram se modificando com o passar do tempo. As ilustrações mostram peças e fotos do acervo do Museu. Muitas escolas participaram do evento e devido ao grande número de agendamentos para visitas o Museu continuou com a exposição de objetos por mais uma semana. Foram mais de mil visitantes em 15 dias de exposição. 66


outubro de 2012

Alunos do Projeto CRIEARTES da Escola Municipal Clarisse Toledo David Cristóvão de Carvalho Braga - 14 anos - 9º ano C Evellyn Pereira - 16 anos - 1º Colegial Flávia de Oliveira Costa - 11 anos - 7º ano A Huilisson Gustavo de Andrade Souza - 17 anos - 9º ano B Kézia dos Santos Rodrigues - 13 anos - 8º ano B Lydia Dalete Rezende Silva - 12 anos - 7º ano A Maria Fernanda da Costa Prado - 7º ano Monique Pereira - 16 anos - 1º colegial Ohanna Dhara Barbosa Gomes - 13 anos - 8º ano D Thays Moura Vilela - 14 anos - 8º ano B Vitória de Souza Moreira - 12 anos - 7º ano A Willamys Silva Mariano - 13 anos - 8º ano B Pintura Interativa Gustavo Albuquerque Moura - 13 anos - 8º ano B Evellyn Menezes Farias - 15 anos - 1º colegial Maycon Alex de Melo - 16 anos - 9º ano D Equipe do MHMTT, Mayke, Fernando e Suely Ferrer, a diretora da Escola Clarisse Toledo, Elouzi Braga Paiva, alunos do Crieartes e o presidente da Câmara A secretária geral da Câmara Municipal, Fátima Belani, entrega o certificado a uma das alunas do Projeto

Capa da Cartilha distribuída aos visitantes e alunos das escolas públicas e particulares

O supervisor do MHMTT, Alexandre de Araújo, parebeniza os alunos pela participação na 10a Semana Nacional dos Museus

O presidente da Câmara, Oliveira Altair entrega o certificado de participação à professora Jussara V. Mantovani, do Projeto Cieartes, da Escola Estadual Clarisse Toledo

Funcionários da Câmara e participantes do Projeto Crieartes - tela interativa

67


outubro de 2012

Homenagem aos 90 anos do sempre jovem Alexandre de Araújo

A Câmara Municipal de Pouso Alegre, no dia 16 de abril de 2012, prestou sua homenagem ao funcionário mais antigo da Casa, Alexandre de Araújo, que comemorou no dia 17 de abril de 2012 noventa anos. Em 1964, foi convidado por Argentino de Paula para trabalhar como secretário da Câmara. Enquanto exercia suas atividades como secretário, Araújo começou a sonhar com uma forma de preservar a história de Pouso Alegre. Em 1965 realizou uma exposição na casa Vitale. Alguns amigos e conhecidos gostaram da ideia e emprestaram objetos para esse evento. Profeticamente Sr. Alexandre afirmou que esse seria o primeiro passo para a criação de um Museu. Em 1984 foi criada na Câmara Municipal a Galeria para Exposição de Documentos, fotos e Antiguidades de Pouso Alegre. Um ano depois o espaço passou a se chamar Galeria Tuany Toledo, uma homenagem ao político e ex-prefeito de Pouso Alegre. Em 1989 através da resolução 322 foi criado o cargo de Supervisor da Galeria e um ano depois Sr. Alexandre assume este cargo. No mesmo ano a Galeria, que antes funcionava no piso superior da antiga Câmara, passa para o andar térreo propiciando um melhor acesso para seus visitantes. No ano de 1990, o então presidente da Câmara, Firmo da Motta Paes, assinou uma resolução elevando a Gelaria ao status de “Museu Histórico Municipal Tuany Toledo”. Graças ao esforço de Alexandre de Araújo a cidade ganhou uma instituição permanente, aberta ao público, sem fins lucrativos, voltada para abrigar a história da sociedade e seu desenvolvimento. O Museu recebe, conserva, disponibiliza para pesquisa, comunica 68

e exibe o patrimônio gerado pela comunidade para fins de educação, estudo e diversão. Alexandre de Araújo lançou dois livros, Homenagem aos Ex-Chefes do Executivo e Pouso Alegre através dos Tempos, ambos se tornaram referência de dados fundamentais para a compreensão da história da cidade. O espaço na antiga Câmara ficou pequeno para tantos objetos e documentos, por isso, em junho de 2000 acontece a inauguração das novas dependências do Museu no prédio Vitor Mariosa, na rua Adalberto Ferraz. Em 2009 o Museu é transferido para o prédio da Câmara, no bairro Primavera. Contando com 900 m2 de área e novas salas o Museu passou a disponibilizar seus arquivos de documentos para pesquisadores. O Museu tem características singulares que fazem a diferença se comparados aos outros do país. Em primeiro lugar este é o único Museu de Minas, ou até mesmo do Brasil, gerado e mantido por uma Câmara de Vereadores. Segundo, pela quantidade de objetos, fotos e documentos que ele reúne, conseguidos através de doação e de coleta espontânea feita pelo supervisor em arquivos abandonados, espólio familiar e até mesmo em lixos. O Museu atual mostra que sonhos podem se tornar realidade, basta ter vontade, persistência e muita coragem como tem feito Alexandre de Araújo ao longo de sua vida. Alexandre de Araújo é casado há 66 anos com Leonor, com a qual teve três filhos que geraram vários netos. Ele nasceu em Pouso Alegre, numa quinta-feira, no dia 17 de abril de 1922.


outubro de 2012

69


outubro de 2012

General Gilberto Azevedo reconta a Revolução de 1932 O Gal. Gilberto Azevedo, no dia 25 de abril, às 17 horas, fez a entrega oficial ao MHMTT de três infográficos sobre a história de Pouso Alegre. Cada painel foi resultado de minuciosa pesquisa realizada pelo General abordando a Revolução de 1932, a Praça Senador José Bento e escritores de Pouso Alegre. General Gilberto Azevedo é pouso-alegrense, grande colaborador do Museu e amigo pessoal do supervisor Alexandre de Araújo. Realiza trabalhos de pesquisa na área de história. Além do supervisor do Museu, Alexandre de Araújo e seus funcionários, estiveram presentes na solenidade o Major Marcelo Caetano Pereira, representando o comandante do 14º GAC Ten. Cel Queiroz, o presidente da Câmara, Oliveira Altair, a secretaria geral da Câmara, Fátima Belani, os vereadores Moacir Franco, Laércio Poteiro, Frederico Coutinho e Hélio da Van, o escritor Eduardo Didu Toledo, a presidente da Academia Pouso-alegrense de Letras, Madu Macedo, e ainda o pesquisador Paschoal Bailon Senra. “Não se ama um lugar cuja história a gente não conhece”. Com esta frase o Ten. Rogério Fernandes de Oliveira, representando o comandante do 20º BPM Ten. Cel .Sérgio Henrique Soares Fernandes, agradeceu a explanação e a apresentação do material que o Gal. Azevedo doou ao MHMTT.

70


outubro de 2012

Câmara Municipal

Atividades da Escola do Legislativo Professor Rômulo Coelho A Escola do Legislativo foi criada pela Resolução 1061, de maio de 2008, mas desde 2004, por meio do Programa Câmara Mirim criada pela Resolução 993/2004, trabalha a educação cidadã nos jovens estudantes do Ensino Fundamental, promovendo a ligação entre as Escolas e a Câmara Municipal de Pouso Alegre. Desde então foram mais de 300 alunos despertados para a importância do conhecimento político. Devido ao sucesso e repercussão da Câmara Mirim, foi criada em 2006 pela resolução 1044/2006 a Câmara Jovem, voltada para os alunos do Ensino Médio, promovendo a vivência real da prática democrática. Com o olhar voltado para a cultura e a literatura foi criada em 16 de novembro de 2010, pela resolução 1127/2010, a Academia Juvenil de Letras, proporcionando sabedoria e conhecimento literário consolidado no lançamento do livro: “Escrevo, logo existo”, com a publicação de poesias de 27 alunos - Acadêmicos Juvenis. A participação da Escola do Legislativo foi tão expressiva, que rompeu as fronteiras do Sul de Minas, mostrando seus trabalhos na ALMG – Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em Belo Horizonte, por meio do programa Parlamento Jovem, com a participação dos jovens estudantes do Ensino Médio. Este ano o tema foi Educação Cidadã e as propostas de Pouso Alegre foram destacadas pelos Deputados Estaduais. A ELPA em parceria com a ALMG recebe pela segunda vez a Exposição Itinerante com o tema: “É você que faz Política”, com o objetivo de mostrar à população a importância da participação popular na política e principalmente o poder do voto. Dentre as atividades da Escola, destaca-se a terceira edição da Gincana do Saber, com o tema: Estatuto da Criança e do Adolescente. Participam do evento a Câmara Mirim de Pouso Alegre e de Santa Rita do Sapucaí. Os vereadores mirins da Escola do Legislativo de Pouso Alegre participam também do

Parlamento Jovem

projeto Deputado Mirim, da Câmara dos Deputados Federais, eles concorrem elaborando e enviando um projeto de lei de abrangência nacional. Ainda no segundo semestre de 2012, foi concretizada a parceria com a Faculdade de Direito do Sul de Minas e a Escola do Legislativo Professor Rômulo Coelho, com o objetivo de promover a interação entre os acadêmicos da FDSM e os estudantes participantes da Câmara Mirim, Câmara Jovem, Parlamento Jovem e Academia Juvenil de Letras, o que fortalece a Educação Cidadã dos jovens. A Escola do Legislativo Professor Rômulo Coelho oferece formação e capacitação para a sociedade civil, o que foi concretizada através dos cursos de: Libras, Oratória, Segurança no Trabalho, Atendimento ao Público, Orçamento Público. Além de capacitar os servidores, estagiários, assessores parlamentares e vereadores, foram mais de 30 cursos da Interlegis, dos quais se destacam: Desenvolvimento de Competências Gerenciais, Monitoramento de Políticas Públicas, Licitações e Contratos, Organização de Gabinete Parlamentar, Introdução ao Orçamento e a Lei de Responsabilidade Fiscal dentre outros. Para difundir a política e a educação cidadã na sociedade é fundamental a existência de Escolas do Legislativo, desenvolvendo trabalhos em diversas diretrizes, abrangendo: servidores públicos, sociedade civil e jovens estudantes do ensino fundamental e médio, fortalecendo o Poder Legislativo, valorizando a participação popular e diminuindo a distância entre representantes e representados. Coordenadora: Madu Macedo Assessora: Rosana Borges Estagiária: Mônica Fonseca Franco 71


outubro de 2012

PJ Minas - 2012

Câmara Mirim - Legislatura 2010/2011

Câmara Jovem 2012

Posse da Câmara Mirim - Legislatura 2010/2011

Câmara Mirim - Aula sobre Sistema Eleitoral Lançamento do livro “Escrevo, logo existo” Exposição Itineranre da ALMG na Câmara de PA

72


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.