revista
MICAEL
são joão 2012
“O futuro está em nossas mãos” REENCONTRO
O ex-aluno que viu o Micael nascer e hoje é pai da escola TEATRO
Os desafios da peça do 12º ano
Entrevista com o cineasta que fez um documentário sobre Steiner
EDITORIAL
A esperança de um mundo melhor Tempo de São João é tempo de introspecção, de preparo para um novo caminho, uma nova era, de pular a fogueira e deixar para trás o que já não nos pertence, como lindamente ilustrou Maria Lucia de Andrade em seu texto de reflexão da época (página 04). E que novo caminho é esse que tanto buscamos com nossa luz interior, feito a Menina da Lanterna que tanto encanta as crianças de nosso jardim? A entrevista de Gabriel Brigagão Ábalos com Jonathan Stedall, cineasta inglês que recentemente lançou um documentário sobre Rudolf Steiner e a influência de sua obra nos dias de hoje, certamente pode dar algumas pistas. Lá pelas tantas, o documentarista conta sobre as experiências que teve durante as filmagens, ao entrar em contato com diferentes iniciativas pelo mundo ligadas à antroposofia: “O futuro está em nossas mãos - e testemunhei muitos pares de mãos trabalhando juntos, tentando mudar o mundo para melhor, um mundo que irá corresponder no futuro ao que vive hoje em todos nós como uma esperança.” É uma mensagem que traduz bem o espírito da época de São João. Que possamos nos somar a esses pares de mãos e também trabalharmos juntos por um mundo melhor. Os editores
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Índice 04
Reflexão da Época A força que reside do lado de lá da fogueira de São João
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Ponto de reencontro Memórias de um ex-aluno que hoje é pai da escola Por onde andam Notícias dos alunos que terminaram o 12º ano em 2010 e 2011
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Nossa comunidade Encontro do Grupo de Ciências Waldorf do Brasil Entrevista com um professor da Alemanha que estve no Micael
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Reconhecimento Jardim Waldorf Espaço Bem Viver recebe prêmio
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Palavra de pai “Percebi como a rotina é importante”
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Entrevista Jonathan Stedall, cineasta inglês, fala sobre seu documentário The Challenge of Rudolf Steiner
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Registros micaélicos A experiência do teatro do 12º ano sob o olhar de dois alunos da turma
EXPEDIENTE Coordenação editorial: Comissão de Comunicação do Colégio Micael Colaboradores: Rogério Abbamonte, Marcos Muzi (fotos), Tatiana Pacini, Carla Zocchio Reisewitz e Simone Scaglione Borges (design), Adriana da Glória, Maria Lucia de Andrade, Gabriel Ábalos e Katia Geiling (textos) e professor Marquilandes Borges de Souza (coordenação junto ao corpo docente) Capa: cantinho de época do jardim D, criado pela professora Iris Mande sugestões, comentários e críticas para: comunicacao@micael.com.br A revista Micael é uma publicação trimestral do Colégio Waldorf Micael de São Paulo Rua Pedro Alexandrino Soares, 68• Jardim Boa Vista • 11 3782-4892 • www.micael.com.br
REFLEXÃO DA ÉPOCA
A força que reside do lado de lá da fogueira de São João Maria Lucia D’Andréa de Andrade, aconselhadora biográfica, coordenadora, ao lado da professora Claudia Johnsen, das palestras de época da escola, ex-mãe e atual avó do Colégio Micael
A Terra é um organismo vivo e, como tal, efetua espiritualmente um lento inspirar e expirar. No ponto máximo do verão, Solstício do Verão, ela atinge o expirar mais completo e no ponto mais baixo do inverno, Solstício do Inverno, o inspirar mais completo. A nossa vivência anímica é influenciada pela mudança das estações. Quando a Terra expira, nós nos voltamos para o que está fora, para todo apelo externo e, quando a Terra inspira, tendemos para uma introspecção, um estado de alma interiorizado. Em São João, no hemisfério sul, vivenciamos a inspiração da Terra e nossa inspiração da alma. Joanes, expressão espiritual no mundo, aquele que clamava às margens do Jordão, trazia em sua pregação uma chamada para a consciência humana.
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“Mudem seus corações e suas mentes e preparem-se para a nova era”. Era um apelo direto ao senso individual do que é certo ou errado, presente em cada indivíduo, independente de crenças ou nacionalidade. João se preparou para sua missão na aridez e solidão do deserto. Em nossa época precisamos nos preparar para os desafios do século XXI, vivendo em comunidade, não mais no deserto externo, mas em nosso deserto interno. A Festa de São João encerra o primeiro semestre, momento oportuno para refletirmos sobre nossas metas na virada do ano e o que conseguimos realizar. O que faz sentido e o que vou jogar na fogueira de São João para se transformar em cinzas, adormecer nas profundezas da terra e desabrochar como algo novo na primavera?
Momento de reflexão e acolhimento, acolhimento de nós mesmos para compreendermos “o que é necessário diminuir para que o novo cresça.” Momento em que a terra adormece e o céu nos acolhe com todo seu esplendor, salpicado de estrelas iluminando todo planeta, indicando o caminho para o novo. “Está escrito nas estrelas, quem tiver olhos para ver que veja.” No norte e nordeste existe um dito popular “Planta-se em São José para se colher em São João”, o que podemos interpretar como uma época de dádivas, abundância e fartura, mas para isso, é necessário cultivar a terra, semear, adubar e rezar para que a chuva venha e tenhamos uma boa colheita. Assim é nossa jornada pelas épocas do ano, cada uma tem seu significado e sua missão, cabe a nós caminhantes fazer nossa caminhada ao caminhar. Nossa esperança é que sempre exista uma oportunidade para recomeçar, sem lamentações e arrependimentos, somente compreensão para o momento. Nem sempre estamos
acordados para o que a vida está nos pedindo, mas podemos respirar fundo, reunir forças para enfrentarmos nossos desafios. Cada dia é um novo dia, e reunindo coragem, pulamos a fogueira de São João, sabendo que do outro lado estará uma força intensificada que nos ajudará em nossa caminhada por essa terra estranha que não é nossa, onde somos peregrinos de passagem, a caminho de nossa eterna morada. Não é necessário esperarmos São João para acender e atiçar este fogo interior. Através dessa interiorização, podemos novamente ter inspirações, deixando para trás o que já não nos pertence. São João é festa, alegria e tradição. Momento de darmos as mãos ao redor da fogueira em uma dança de União. “São João, São João, acende a fogueira no meu coração”. Podemos acender essa fogueira em nossos corações, e com esse calor, guiarmos nossos atos no dia a dia.
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PONTO DE REENCONTRO
Tudo novo, de novo Adriana da Glória
mãe do Colégio Micael
Demian Calderon participou da cerimônia da Pedra Fundamental da escola e assistiu de perto, com olhos de uma criança do 1º ano, o nascimento do Colégio Micael. Aluno de uma de nossas primeiras turmas, sua família fez parte do impulso de pais e professores que saíram do Jardim das Amoras para fundar a escola, há quase 34 anos.*
Cerimônia da Pedra Fundamental Prédio do Fundamental em obras. Demian é a criança mais ao fundo
Sua mãe, de origem alemã, conheceu a pedagogia Waldorf aqui no Brasil e decidiu que seus filhos trilhariam esse caminho. O pai de Demian fazia parte da comissão financeira naqueles difíceis tempos de tudo começando. “Ele levava muitos papéis para casa, fazia muitas contas e sempre participava de reuniões, acho que eram os balanços financeiros da obra, ele se envolvia muito.” Alheia aos problemas de custeio da construção do prédio do Ensino Fundamental, a criançada se divertia, mas também colocava a mão na massa: “Fazíamos muita bagunça na construção, mas lembro de socar a areia para fazer o chão da quadra”, relembra Demian. “Foi uma delícia inaugurar a sala de aula com tudo novinho. No dia da cerimônia da Pedra Fundamental, cada sala fez uma apresentação. O doutor Lanz, que ainda era vivo, esteve presente”, conta. * quer saber mais sobre a história de fundação do colégio? acesse a página nossa escola do site www.micael.com.br
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Quando terminou o Fundamental, ainda não havia Ensino Médio no Micael, e Demian concluiu seus estudos na Escola Waldorf Rudolf Steiner, onde conheceu Camila, sua esposa. Depois prestou vestibular e cursou Meteorologia na USP. Nos primeiros dois anos do curso, estudou muito para dar conta das dificuldades com os cálculos. E mesmo estando num curso da área de exatas, foi atrás de algo que pudesse alimentar seu potencial artístico também. “Quando soube do Coral da USP, decidi participar. Acredito que o impulso cultural da escola Waldorf me possibilitou um convívio social mais amplo, fiz amigos além do círculo dos meus colegas técnicos.” Hoje ele é um dos sócios da empresa em que trabalha desde 1997, a SOMAR Meteorologia.
Demian Calderon, na escola
Outra lembrança forte de Demian é a apresentação do teatro do 8º ano de sua turma, conduzida pelo professor Luciano. “Naquela época, não tínhamos um palco. Como a peça era Sonhos de uma Noite de Verão, de Shakespeare, precisávamos de um ambiente com árvores. Conseguimos então montar uma arquibancada no terreno onde hoje fica a Educação Infantil, foi muito lindo.”
Novo papel Desde o ano passado, Demian está de volta ao Micael, agora como pai. Julia, sua filha mais velha, está no 1º ano e André, o caçula, no jardim D, com a tia Iris. Logo que entrou na escola para trazer seus filhos, ele reencontrou a Conceição: “Foi tão acolhedor revê-la, ela logo lembrou do meu nome e me chamou da mesma forma que eu era chamado nos velhos tempos, foi muito bom”. Camila e Demian visitaram outras escolas antes de matricularem os filhos no Micael e tomaram a decisão depois de conversarem muito. “Acreditamos que as crianças e jovens
que passam pela pedagogia Waldorf conseguem resolver os problemas do dia a dia com mais criatividade, com mais flexibilidade. Conhecemos muitas pessoas que acreditam que um problema tem apenas uma solução!”, afirma. “Apesar da questão emocional, das boas recordações, foi uma escolha consciente. Entendi, concordei e agradeço pela decisão de meus pais no passado. Eu e Camila também valorizamos o lúdico, o espiritual. Estamos acompanhando o processo de alfabetização da Júlia e é tudo muito natural, vai surgindo, vai amadurecendo espontaneamente”, exemplifica.
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PONTO DE REENCONTRO
Por onde andam... Fomos atrás de notícias dos alunos que terminaram o 12º no Colégio Micael em 2010 e em 2011. Vejam só o que andam fazendo os garotos e garotas com quem conseguimos contato até agora.
2010 André Felipe Santos Cury
Joga esgrima pelo Clube Paulistano e participa do campeonato nacional da modalidade
Calixto Comporte Amaral
Cursinho
Carolina Moura Peron Pereira
FMU / Gastronomia
Cecília Pompeia Soares
PUC / Comunicação e Multimeios
Daniel Almeida Melman
USP Piracicaba / Agronomia
Fernanda Tannus Peixoto Camargo
Anhembi Morumbi / Negócios da Moda
Gabriela Salvatore Tebet Piedade
Intercâmbio em San Diego / Cenografia
Izabel Tannus Moreira da Costa
Cursinho (trabalha na loja Vila Zen)
Julia Vargas Cunha
Instituto Europeo di Design / Design Gráfico
Lorenzo Paschoa Bisonti
Mackenzie / Publicidade e Propaganda
Luisa Noriko Bonadio
Cursinho
Luiza Takeshita Barbosa
POLI/ USP / Engenharia Ambiental
Maria de Mattos Ozi
Instituto Europeo di Design / Design Gráfico
Mayra de Macedo Schatzer
UNIFESP / Relações Internacionais
Mickael Davi Levy Akkerman
Arquitetura na Austrália
Patrick Zolubas Lira
Instituto Europeo di Design / Produção Multimídia
Pedro Brotero Farah
ECA/USP / Artes Plásticas
Rafael Salgado e Silva
FAAP / Arquitetura
Rodrigo Guth Esteves
UNIFESP / Relações Internacionais
Sabrina Porrino Seabra
UNISA / História
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2011 Amina Sophia Nogueira
SENAC / Áudio Visual
Bruna de Paula Alves
Cursinho
Bruna Teixeira Ximenes
Artes Plásticas na Universidade de Bologna, na Itália
Caio Marcelo Nigro Alexandrino
Anhembi Morumbi / Jornalismo
Cecilia Romero Portugal
Ano sabático
Clara Andrezzo
Cursinho (integra o Movimento (mundial) Ocupa São Paulo)
Emanoel Bertoche de Souza
Trabalha na loja da família
Eric Akaishi
Rio Branco - Publicidade
Gabriel Adorno do Amaral
PUC/ Publicidade e Propaganda e CPOR
Gabriel Ramos de Abreu
Cursinho
Giulia Rayel de Araujo
Cursinho
Henrique Pagliuca Barrio
PUC / Administração (integra a PUC Júnior,
área de responsabilidade social da universidade)
Julia Du Bois de Furuyama
Cursinho
Julia Paranhos de Oliveira Borges
Instituto Europeo di Design / Moda
Luisa Rinzler
Anhembi Morumbi / Gastronomia
Maria Rita Johnsen Barossi
Projeto Terra Nova (turnê pela Europa e pelo
Brasil com o Grupo Terra Nova de Euritmia)
Matheus Lyra Romero
Cursinho
Micael Galli Silva dos Reis
SENAC / Áudio Visual
Ricardo Bruder e Kohler
Anhembi Morumbi / Ciência da Computação
Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva
(trabalha na área de Tecnologia da Informação no Hospital Sírio Libanês)
Rodolf Murrins Muller
Em viagem pela Alemanha
se você tem notícias sobre ex-alunos desses anos ou de anos anteriores, escreva para comunicacao@micael.com.br; estamos reunindo essas informações para futuros projetos de comunicação da escola REVISTA MICAEL . 9
NOSSA COMUNIDADE
O ensino de ciências nas escolas Waldorf No final do mês de abril, nossa escola recebeu mais um Encontro do GCWB Grupo de Ciências Waldorf do Brasil George Hirata
professor de Física do Colégio Micael
Trinta e seis professores e educadores, representando diversas escolas ou instituições que praticam a pedagogia Waldorf, reuniram-se para trocar experiências e estudar um pouco mais sobre o ensino de ciências segundo a visão de Rudolf Steiner. A novidade do encontro foi a apresentação de aulas, das diversas disciplinas, para todo o grupo de professores, independentemente de sua área. A ideia era discutir o método proposto por Steiner, sem a preocupação com o conteúdo. A proposta foi muito bem recebida pelo corpo docente presente. Professores das áreas de ciências exatas discutiram sobre aulas dadas por professores das ciências humanas ou biológicas, com contribuições enriquecedoras por conta dos diferentes pontos de vista. Além dos professores do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Micael, tivemos a presença de mães da escola, todas professoras universitárias, interessadas em se aprofundar e compreender melhor a metodologia utilizada em nossa escola. Esperamos continuar recebendo o GCWB, para que possamos efetivamente contribuir para o aprimoramento do ensino de ciências nas escolas Waldorf. O próximo encontro terá duração de duas semanas e será realizado na Escola Waldorf João Guimarães Rosa, em Ribeirão Preto, entre os dias 8 e 22 de julho, paralelamente ao Congresso Ibero-Americano de Pedagogia Waldorf, que ocorrerá no mesmo local, entre os dias 15 e 22 de julho.
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Repórteres por um dia Gabriela Castelhano e Eloisa Silveira Lacerda, alunas do 11º ano, entrevistam professor alemão
Eberhard Riemke Buiger é professor Waldorf em Berlim, na Alemanha, esteve em São Paulo recentemente e nos deu uma palestra sobre a crise na Europa, assunto que foi escolhido por nós, alunos do Ensino Médio. Fizemos uma pequena entrevista com ele na ocasião. Confira a seguir: Na Alemanha, como funciona a escola Waldorf? Não é muito diferente daqui. As matérias em si servem para desenvolver sua personalidade. Tem muita música, euritmia, as mesmas coisas. Qual a diferença dos jovens daqui em relação aos de lá? Não sei como é o dia a dia aqui, mas no fundo não tem tanta diferença. Pela palestra, notei que aqui vocês ficam mais interessados para saberem das coisas. Como os jovens da Alemanha lidam com a política? Hoje eles não ligam muito. Eles querem acabar a escola, pegar seus diplomas e seguir em frente com suas vidas. O que está do lado de fora de seu próprio mundo não é muito mais importante nesse momento. E o que falta na política alemã? Acho que posso dizer que falta tudo. Os políticos olham para si mesmos e acham que está tudo certo, porém há coisas a serem mudadas e repensadas. A corrupção também é um problema considerável e ninguém nunca faz nada para melhorar.
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COMUNIDADE WALDORF
O brincar levado a sério. No começo de 2011, por sugestão de um pai do jardim do Espaço Bem Viver, entramos no Concurso da Unilever “Pelo Direito de ser Criança”, selo Aqui se Brinca. Na época respondemos quatro baterias de extensos questionários, que objetivavam mostrar como era a escola concorrente, o que pensava e como trabalhava. Já ao final de 2011, depois de sermos aprovadas nas quatro fases de questionários, foi solicitado que enviássemos 20 fotos com legendas, um texto de 3000 caracteres sobre a escola e um vídeo - mandamos um da Festa da Primavera, feito por um pai. Tudo foi enviado em dezembro de 2011. Os meses se passaram e no final de fevereiro, recebemos a visita de um senhor da Unilever, que andou por toda a escola tomando notas e perguntando... Ele já nos parabenizou, pois estávamos entre as finalistas do prêmio de todo o Brasil. Pedimos autorização a todos os pais e na semana seguinte uma equipe veio para filmar algumas atividades no Espaço Bem Viver. Eles acabaram passando o dia conosco, almoçando na escola e até se divertindo com as crianças. Já no começo de abril, fomos convidadas a participar do evento de premiação em São Paulo e somente na noite do evento soubemos que fomos escolhidas como as “melhores práticas do brincar em 2011”. Duas escolas foram premiadas: EMEI de Itapeva e o Jardim Waldorf Espaço Bem Viver. Nosso prêmio foi uma bonita placa do selo “Aqui se Brinca” e uma enorme caixa de brinquedos de madeira, casinha de boneca, tenda de índio, alguns livros de história etc. No entanto, mais do que tudo, tivemos outros presentes: 1. O trabalho do Jardim Espaço Bem Viver, com sete anos de existência, foi reconhecido. 2. A Pedagogia Waldorf foi amplamente elogiada pelos apresentadores e pelos palestrantes dos workshops que aconteceram durante o evento da premiação. 3. A satisfação de saber que uma empresa como a Unilver está preocupada em investir na criança, na educação. Vimos ainda como a seleção para escolher as escolas é muito séria. Por isso desejamos tanto que cada escola Waldorf mostre seu trabalho ao mundo.
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E agora premiado. Jardim Waldorf Espaço Bem Viver tem trabalho reconhecido Maria Cecilia Bonna
coordenadora do Espaço Bem Viver
Crianças no pátio do Espaço Bem Viver
assista no blog para compartilhar ao vídeo sobre o trabalho do Espaço Bem Viver que foi apresentado durante a premiação www.micael.com.br/blog/paracompartilhar REVISTA MICAEL . 13
PALAVRA DE PAI
“Percebi como a rotina é importante” José Antônio pai do 8º e do 5º ano e do jardim
Em meados de maio, a Escola de Pais do Colégio Micael* começou as suas atividades. O primeiro tema de estudo do grupo, conduzido pela professora Leni, foi ritmo e rotina. José Antonio, um dos participantes da iniciativa, escreveu uma bela reflexão sobre a questão que estávamos estudando. Acompanhe: Como primeiro tema escolhido para ser objeto de reflexão do grupo da Escola de Pais, optamos por um texto de Helle Heckmann, educadora Waldorf, que trata de rotina e de limites na educação de filhos. Cada um dos componentes do grupo deveria ler esse texto e escrever algum tipo de reflexão para trocar ideias com os demais. Por dificuldades do dia a dia, somente pude fazer isso na noite anterior à reunião, quando retornei do trabalho. Mal comecei a leitura e tentava prestar atenção à parte que dizia que os pais devem estar presentes e acompanhar o fim do dia, no momento de jantar juntos e de preparar para o repouso noturno, quando o Lucas e o Dani, meus filhos mais novos, começaram a me chamar e não consegui mais prestar a necessária atenção ao texto. Após um momento de irritação, percebi que minha atitude se dirigia em sentido contrário ao que o próprio texto recomendava para os pais e até mesmo de minha própria rotina em relação aos meninos, pois quando chego em casa costumo ver como foi o dia deles, pergunto sobre as lições de casa e com certa frequência os ajudo com seus deveres e pesquisas, eu os chamo para o jantar, muitas vezes ajudo o mais novo no banho e os encaminho para a cama, quando conto uma historiazinha e permaneço com eles até que durmam. Quando ‘caiu a ficha’, parei a leitura e fui acompanhá-los no jantar e, depois, fiquei com eles até que estivessem dormindo. Somente então, pouco antes das dez da noite, fui ler o texto da Helle. Essa situação foi muito enriquecedora para mim, pois apesar de ter o hábito de manter uma rotina para o final do dia, após chegar em casa, naquele dia percebi que os pais precisam ficar atentos para não se deixarem levar por outras atividades e descuidar do ritmo diário dos filhos.
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Preciso esclarecer que divido com a Susana, minha esposa, os cuidados com os meninos. Logo cedo, após acordar, preparo o café da manhã e o lanche para a pausa e os levo para a escola. Após a escola, até o meu retorno quem cuida é a Susana, nas atividades da tarde. De noite, ela me passa o bastão de novo e sigo a rotina exposta acima. Quando um dos dois está muito cansado pelo trabalho do dia a dia, o outro assume a atividade que seria do primeiro. Percebi como é importante a rotina para meus filhos, como o é para qualquer criança, pelo fato de que eles sempre pedem, mesmo após eu contar a historiazinha para eles e rezarmos juntos, para que eu permaneça um pouco mais, até que durmam. Ressalto que aquilo que faço foi uma opção de vida, de me dedicar a meus filhos, mesmo correndo o risco de errar, mas jamais por omissão. Para finalizar, gostaria de repassar uma história que me foi contada quando o Felipe, o mais velho dos três filhos, ainda estava para nascer e que me levou a decidir não misturar as coisas e a me esforçar por trazer o menos possível de trabalho para casa, regra que tenho procurado manter, para dedicar minha vida em casa à família e acompanhar a rotina dos filhos. A história é curta. Certo dia, um advogado, que havia sido delegado, contou-me a seguinte experiência de sua vida: ”Doutor, eu tenho um filho e quando ele era pequeno eu sempre estava trabalhando e não tinha tempo para desfrutar de sua infância”. “Quando me aposentei, ele já estava com dezoito anos e pensei que poderíamos passar muitos momentos juntos, mas, ao convidá-lo para sairmos, ele me disse que não dava e que queria sair com seus amigos ou com a namorada”. “Por isso, Doutor, aproveite cada momento da vida de seu filho enquanto ele é pequeno, para não acontecer com o senhor o que se passou comigo”. Fico feliz por haver encontrado em um texto de alguém como a Helle algo que já fazia parte da rotina diária minha e dos três filhos e que para mim não é uma obrigação, mas sim motivo de grande alegria e satisfação, um tesouro imaterial que levarei para o resto de minha vida e, quem sabe, para além dela.
escola de pais micael são paulo
veja mais detalhes em nosso blog escola de pais www.micael.com.br/blog/escoladepais
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ENTREVISTA
“Há muitos pares de mãos trabalhando juntos por um mundo melhor” Gabriel Brigagão Ábalos jornalista e ex-aluno do Micael
Um livro sobre a pedagogia Waldorf foi parar nas mãos de Jonathan Stedall quando ele tinha apenas 21 anos e era assistente de edição num estúdio inglês. O rapazote se aprofundou cada vez mais nas contribuições da antroposofia para o mundo e acabou se tornando pai Waldorf e um premiado documentarista inglês. Cinquenta anos depois, Stedall acaba de lançar o documentário The Challenge of Rudolf Steiner, que retrata a vida de Steiner e mostra a incrível diversidade e importância da obra do filósofo austríaco para os desafios da humanidade no mundo atual. Na entrevista a seguir, concedida com exclusividade a Gabriel Brigagão Ábalos, o cineasta conta por que se tornou ainda mais otimista com o futuro da humanidade após a realização de seu filme. Por que o senhor decidiu fazer o documentário? Há muito tempo queria fazer um filme sobre a vida de Rudolf Steiner e seu legado. Em parte como um tributo a alguém que foi uma grande inspiração em minha vida, mas também para poder trazer suas contribuições para pessoas que, assim como eu, procuram um entendimento mais profundo sobre os mistérios da existência e não estão satisfeitas com a polaridade ciência x religião.
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O senhor teve alguma ligação com a Antroposofia antes desse trabalho? Deparei-me com um livro sobre a pedagogia Waldorf em 1961, quando eu tinha 21 anos de idade e trabalhava como editor assistente no Pinewood Film Studios UK. O que eu li me levou a visitar uma escola Waldorf. Depois de outros encontros e de mais leituras, me interessei cada vez mais pela obra de Steiner.
ENTREVISTA Cena do filme numa fazenda biodinâmica indiana
Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou durante a realização do documentário? De longe, a maior dificuldade durante os dois anos que levei para completar o projeto foi a percepção que não poderia dizer tudo o que está para ser dito, nem mesmo num filme que consiste em duas partes de 90 minutos. Não pude viajar por toda parte em minha busca para transmitir a profundidade e amplitude do movimento mundial que é inspirado pela obra de Steiner. No entanto, depois de apenas sete semanas de filmagem em 2011 na Áustria, na Suíça, no Reino Unido, na Índia e nos Estados Unidos, acabei com 70 horas de material. Depois, é claro, veio o doloroso processo de ter que descartar parte do tanto que eu tinha captado em imagens, palavras e menções. Meu comentário no filme é, em parte, uma tentativa de preencher algumas dessas lacunas inevitáveis.
Quantas entrevistas o senhor fez e quantas cidades visitou para realizar o filme? Entrevistei pelo menos cem pessoas em minhas viagens e filmei em mais de 50 locações, incluindo fazendas biodinâmicas, escolas e centros médicos no Reino Unido, Índia, Suíça e Estados Unidos. Numa conferência internacional antroposófica em Hyderabad, na Índia, também tive a oportunidade de falar com pessoas da China, Taiwan, Nepal, Áustria e Nova Zelândia. Em outra ocasião, numa conferência no Goetheanum, na Suíça, entrevistei médicos do Chile, Suécia, Alemanha e Reino Unido. Esses encontros ajudaram a traduzir a dimensão e o alcance da influência de Steiner. Na primeira parte do filme, aliás, há uma sequência deliciosa rodada na Inglaterra, na Rudolf Steiner School de South Devon, na qual André Tranquilini, um professor brasileiro, apresenta a uma classe de crianças de 9 anos conceitos da agricultura e da arte da construção.
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ENTREVISTA
O que mais chamou sua atenção nas escolas Waldorf que visitou para fazer o documentário? Eu já estava familiarizado com as escolas Waldorf, tanto quanto cineasta como pai (Stedall é pai de um casal de filhos, hoje adultos). Portanto, não houve grandes surpresas, apenas grande admiração pelo esforço de professores que, como Jack Petrch, da Washington Waldorf School, trabalham duro para fazer dos desafios de Steiner seus próprios desafios. São professores que combinam sua criatividade e sabedoria com reflexões profundas sobre a natureza do ser humano e seu potencial evolutivo. O que mudou na sua visão sobre o ser humano depois de fazer o documentário? A minha visão essencialmente otimista em relação à vida e à humanidade foi fortalecida e enriquecida pelas experiências que tive durante as filmagens. Acima de tudo, foi para mim uma confirmação de que a humanidade de fato sofre mudanças e de que, apesar do cenário sombrio que domina o noticiário, o mundo está lentamente se tornando mais compassivo e cuidadoso. Idealismo não é algo ingênuo nem desperdício de tempo. O futuro está em nossas mãos - e testemunhei muitos pares de mãos trabalhando juntos, tentando mudar o mundo para melhor, um mundo que irá corresponder no futuro ao que vive hoje em todos nós como uma esperança. Para mim, essa energia e coragem estão intimamente relacionadas a uma declaração de Steiner: “Cristo fez do mundo o seu Céu”.
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O senhor acredita que os ensinamentos de Steiner podem ajudar a humanidade a traçar um futuro diferente e mais humano? De que maneira? O que me chama atenção essencialmente em Steiner e em vários outros personagens importantes, como Tolstói, Gandhi e Jung, sobre os quais eu também fiz filmes durante os meus anos na BBC, é que eles oferecem ensinamentos úteis, mas profundamente desafiadores, sobre nosso caminho para nos tornarmos seres humanos mais plenos. Em particular através de Steiner, somos levados a nos tornar mais equilibrados para poder viver criativamente entre as polaridades masculino e feminino, fé e razão, cabeça e coração. Somos incentivados pelas idéias de Steiner a, acima de tudo, reconhecer o nosso potencial para um saber no seu sentido mais profundo. No entanto, o conhecimento sem compaixão é um caminho potencialmente perigoso. Eu gosto da expressão que ele usou certa vez ao descrever o nosso objetivo final: “tornar-nos indivíduos menos individualistas”.
ENTREVISTA Cena do filme
Como tem sido o interesse sobre o documentário no mundo? Quantas pessoas já compraram o DVD ou baixaram o filme? O filme só ficou disponível em 1 de março, ainda é cedo. A resposta até agora tem sido muito encorajadora. Depois de apenas três semanas, recebemos mais de 18.000 visitas em nosso trailer (www.rudolfsteinerfilm.com), e mais de 2.000 DVDs foram vendidos ou baixados. Há também o interesse de traduzir o filme em outras línguas, incluindo em português. O trabalho foi procurado por pessoas sem relação com o movimento antroposófico? Acredita que ele pode despertar o interesse de quem nunca ouviu falar sobre Steiner ou a Antroposofia? Minha esperança é que o filme possa alcançar pessoas que nunca ouviram falar de Rudolf Steiner. Eu já procurei a BBC, onde trabalhei como documentarista durante 27 anos, e estou em contato com outras emissoras de televisão em todo o mundo. No entanto, o meu sentimento inicial, que era “não adianta pregar aos convertidos”, já mudou um pouco. Reconheço, através da minha própria experiência ao fazer o filme, que pode ser extremamente útil e inspirador encontrar pessoalmente ou através do cinema pessoas que foram igualmente tocadas pelas mensagens de Rudolf Steiner, constatar que não estamos sozinhos, no nosso dia-a-dia nem no universo em geral. Por outro lado, as pessoas que se dizem antropósofas têm, creio eu, que fazer um esforço maior para reconhecer aliados que compartilham das mesmas preocupações e aspirações, mas que possam ter tomado um caminho diferente e usado outras palavras - ou palavra nenhuma - para descrever sua busca. Pessoas, no entanto, que compartilham a mesma preocupação profunda com a evolução futura da humanidade. Somente então haverá um interesse maior pela contribuição enorme de Steiner em relação às tarefas e desafios que enfrentamos no mundo atual. E não que tenhamos que enxergar Steiner como líder de uma espécie de seita, mas essencialmente como um professor para a humanidade como um todo.
veja mais detalhes sobre o documentário e como adquiri-lo no site http://rudolfsteinerfilm.com/ REVISTA MICAEL . 19
REGISTROS MICAÉLICOS
teatro do 12º ano “Uma experiência que vai ficar para sempre” Fernanda Cardamone Grieco e Rafael Della Santa Santos, alunos do 12º ano do Colégio Micael, conversaram com a gente sobre a experiência de encenar a peça Tecelagem Brasil, que a turma levou aos palcos em meados de abril. O texto e a direção foram de Leonardo Cortez.
Desafios
Aprendizado
“Foi a primeira vez que eu fiz um teatro, entrei aqui no 10. Quando lemos a peça, eu disse, ‘meu Deus, não posso ser nenhum deles, não vou conseguir decorar as falas’... Mas depois que entendemos o texto, fica mais fácil, não precisa falar exatamente o que está escrito, você entra mesmo no personagem, reage da forma que ele reagiria.”
“Aprendi muita coisa sobre mim e sobre o grupo. Tinha coisa que eu achava que não seria capaz de fazer e acabei dando com a cara no chão. O teatro ajudou a me soltar mais, conversar mais com as pessoas, eu era bem bloqueada. E conhecendo melhor cada um, ficou mais fácil lidar com o outro.” Fernanda
Fernanda
“No teatro do 8º ano os pais ajudam muito, vão atrás de roupa, de cenário. A gente só encena. Tudo vai caindo na nossa mão, a gente ajuda, mas não toma conta de tudo. No 12 a gente tem que ir atrás de cenário, de comprar as coisas, de trazer para a escola. A gente pesquisa, compra, faz toda a produção.” Rafael
“Ao mesmo tempo em que eu tinha que decorar as falas, precisava ir atrás do cenário, ele tinha que ficar pronto. Mas foi legal, dava para separar a produção do encenar. Uma experiência muito interessante. O grupo começou a entender o que era mesmo o teatro quando a gente percebeu que era necessário se unir. A partir daquele momento, a classe conseguiu fazer acontecer.” Fernanda
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“É uma experiência que vai ficar para sempre, assim como o teatro do 8º ano.” Rafael
a A esco lh
da peça
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a peça nte encontra “Quando a ge ra.” na ho todos sentem
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Rafael
veja mais fotos de cena e dos bastidores da peça no blog registros micaélicos www.micael.com.br/blog/registrosmicaelicos
do oran p r o c em In sonag r e p o “No começo dos ensaios, fazíamos pequenas cenas no Salão de Euritmia do Fundamental, depois de um tempo é que começamos a ensaiar no palco. A sensação de estar no palco foi bem diferente. Quando ainda estávamos no salão parecia tudo muito irreal.” Fernanda
“Tem gente que consegue incorporar o personagem desde os exercícios no salão, mas tem gente que só consegue na préestreia. Acontece naturalmente. Ajuda muito quando começa a usar o figurino. Foi no primeiro ensaio com a roupa que eu senti que havia começado a incorporar de verdade. Antes disso, eu sempre precisava do texto. Naquele ensaio, consegui fazer sem olhar no papel.” Rafael
FOTOS Marcos Muzi
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