artemísia mag

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Uma revista feminista que aborda visualmente trabalhos realizados por mulheres fodas. Nesta edição de artemísia:

MULHERES NA

FOTOGRAFIA


SUMÁRIO

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CAMILA CORNELSEN

(GOIÁS)

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HELEN SALOMÃO

(CURITIBA)

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FLORA NEGRI

(RECIFE)

62

DUDA PORTELLA

(PERNAMBUCO)

PAN ALVES 46

(SÃO PAULO)


30

MIA

MORAIS (BRASÍLIA)

NAIARA JINKNSS (BELÉM)

22 70

THÁYSA BARBOSA

ALESSANDRA LIMA (RIO DE JANEIRO)

(RIO DE JANEIRO)

TAKEUCHISS

85

77

(SÃO PAULO)

(FRANÇA)

ANNE-LAURE ETIENNE

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Nossa primeira parada é em Belém do Pará, através do trabalho da paraense Naiara Jinknss, que tem as pessoas e espaços da capital como seus modelos favoritos. De crianças a idosos, da beira do rio à comunidade, além, é claro, do Mercado Ver-o-peso e seus arredores — quase dá pra sentir o cheiro das ervas e peixes através das fotos, que você vê aqui.

Mulheres na Fotografia

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N

Jinkn s

s

a r a i a

A paraense que faz de BelĂŠm sua modelo favorita.


Naiara Jinknss

Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Meu primeiro contato com fotografia foi aos 18 anos. Passei boa parte da minha vida acreditando que prestaria vestibular para jornalismo, mas poucos meses antes da prova comecei a me interessar por fotografia. Desde esse momento, busquei por cursos específicos de fotografia e não encontrei nada (antigamente, em Belém, era difícil de encontrar cursos como este). Depois de algumas pesquisas, encontrei o curso de Artes Visuais da Unama, que oferecia três semestres de fotografia. Não pensei duas vezes e acabei cursando. No primeiro semestre, minha avó me deu de presente minha primeira câmera profissional, e desde daí não paro de fotografar.

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Mulheres na Fotografia

Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Sempre trabalhei com fotografia e quase sempre de forma independente. Mas, quando fui morar no Rio, trabalhei como recepcionista em uma academia. Quando descobriram que eu fotografava, passei a trabalhar com o Marketing deles. No ano seguinte, comecei a trabalhar em outra academia, só que de lutas. Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Só fiz um curso de fotografia fora da faculdade, de iniciação à fotografia. Era algo bem básico, mas me ajudou a conhecer o processo analógico fotográfico. Mas nunca me acomodei, sempre acreditei que depois de um filme, desenho ou música, não somos mais os mesmos. Então, buscava evoluir estudando e consumindo o máximo de informações possíveis.

Qual equipamento você usa? Fotografo com uma Canon, com uma câmera analógica e com meu celular. Sempre busco fotografar com, pelo menos, dois equipamentos. O que você mais curte fotografar? Eu gosto de tantas coisas! Mas atualmente procuro fotografar situações do cotidiano e pessoas que eu me relaciono. Os lugares que me apresentam… Acho que o que

“sempre acreditei que depois de um filme, desenho ou música, não somos mais os mesmos.”


eu mais gosto de fotografar são emoções reais e, de alguma maneira, acabar provocando quem observa minhas imagens. Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Tenho trabalhado em dois projetos atualmente, mas eles ainda estão em criação. Tudo ainda é muito novo, tudo ainda precisa ser observado e estudado. Pra eu desenvolver qualquer trabalho, é indispensável a troca, as relações. Quanto mais eu me aproximar das pessoas e de suas histórias, mais posso fotografar. Desde que comecei a fotografar, me apaixonei pelo Ver-o-Peso. O Ver-o-Peso é a maior feira da América Latina e é de onde vêm as ervas, os peixes, o açaí que abastecem parte de Belém. É uma feira que não dorme nunca. E venho registrando a rotina dessa feira desde o início da minha carreira. Fotografando os vendedores, os peixeiros, os andarilhos e quem mais transitar por esse lugar. Algumas pessoas se tornam amigas, outras eu só fotografo uma vez e desaparecem. Meu outro objeto de pesquisa é a comunidade da Terra Firme, que fica em Belém também. Trabalho registrando o cotidiano de pessoas em situações de risco. Assaltantes, traficantes, moradores, alguns terreiros de resistência. Também realizo algumas oficinas gratuitas para os moradores, ações sociais para arrecadar doações.

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Naiara Jinknss

Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Acho que a mulher que mais me inspirou foi minha avó. Que sempre batia de frente quando queria alguma coisa e era bastante teimosa. Acho que ela não soube o quanto me influenciou. Em segundo lugar vem Clarice Lispector, que me ensinou conceitos básicos de justiça e empatia. Na fotografia, minha primeira referência veio através de uma tia distante na época, chamada Leila Jinkings. Mas depois que conheci o trabalho da Nair Benedicto, Vivian Meier e da Nan Goldin, acho que nunca mais fui a mesma. Mas a última mulher que me inspirou foi Elza Soares, com o CD “Mulher do fim do mundo”. Fiz uma releitura através de uma série chamada “Mulheres do fim do mundo – Cada coração é um universo”.

Mulheres na Fotografia

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Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Acredito que precisamos ocupar todos os espaços. Buscando compreender a importância da sororidade. Acredito que fotografia é comunicação, linguagem nãoverbal. E, no meio de tantas histórias, cuja maior parte, quase sempre, é masculina, precisamos fortalecer a representatividade feminina em todas as áreas — e na fotografia não pode ser diferente.


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C

elsen rn

a l i Co m a

De videoclipes pop a documentรกrios e ensaios independentes, a fotรณgrafa que faz de um tudo.


O que o (incrível) clipe de "Lalá", da Karol Conka, algumas campanhas da Avon, o vídeo de "Moon", do Thiago Pethit, a banda Copacabana Club, os ensaios de mulheres poéticos e empoderadores do Tumblr X Real e alguns gifs de rainhas de bateria das escolas de samba de SP têm em comum? A Camila Cornelsen — ou Cacá, para os íntimos.

17 A curitibana consegue reunir vários títulos quando vai preencher o campo “profissão” em uma ficha qualquer e, depois de ter sido até engenheira civil, hoje se dedica mais à fotografia e à direção de fotografia pra cinema. Ah, ela também é meio Mister M de vez em quando, tipo quando nos ajudou a desvendar o segredo daqueles gifs maneiros com fotos 3D.


Camila Cornelsen

Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Como filha de fotógrafo sempre estive entre câmeras, laboratório e estúdio, mas meu pai gostaria que escolhêssemos profissões mais seguras, então nunca incentivou muito. Em 2001, depois de já ter ingressado a faculdade de engenharia civil, comecei a roubar a câmera dele, que, na época, era uma das primeiras digitais. Comecei fotografando shows de e que eu levava algum jeito pra coisa e começou a me dar dicas mais preciosas. A partir de 2005, depois de já ter me formado (e desistido da área de exatas) me joguei na fotografia e assumi que era isso mesmo que eu queria fazer da vida profissionalmente.

Mulheres na Fotografia

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Quando e por que começou a trabalhar com direção de fotografia pra cinema? A direção de fotografia real-oficial surgiu em 2012, depois de algumas crises do retorno de Saturno… "O que fazer? Como lidar?"! Como já trabalhava com still (e com luz contínua) há bastante tempo, a transição para o cinema foi menos dolorida. Fiz alguns cursos curtos em escolas de cinema e me mudei de Curitiba pra São Paulo, onde a área tem muito mais oportunidades. Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Muitas! Esse talvez tenha sido o maior — ou melhor — problema de todos. Tive programa de rádio e


comecei a discotecar em 2006. Tive a Copacabana Club, de 2009 até 2014, que está num hiato porque moramos longe. Esse movimento foi bem legal, por me proporcionar vivências incríveis de turnê e festivais. Agora estou me dedicando a um novo projeto de música, num duo. Hoje em dia entendo que a música, a fotografia e o cinema andam muito bem juntos e um ajuda a inspirar o outro de alguma forma. Continuo fazendo tudoao-mesmo-tempo-agora. Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? No início, quando roubava a câmera do meu pai, aprendi sozinha… Ao longo do tempo ele foi me ensinando algumas coisas. Qual equipamento você usa? Aprendi com Nikon e Hasselblad e tenho um verdadeiro amor por essas marcas. Hoje em dia, no trabalho corriqueiro do dia a dia, de digital uso Canon 5D, porque eu também filmo e ela ajuda a quebrar uns galhos nesse aspecto. Mas de uns tempos pra cá venho querendo migrar de formato. Gostaria muito de trabalhar com médio formato digital, que é o que meu pai também tem usado… só falta uns dinheirinhos hahahahahahh. Mas eu ainda uso bastante filme e tenho uma coleção de analógicas em casa que sempre fico revezando, tanto 35mm, 120mm e uma grande formato 4x5". O que você mais curte fotografar? Pessoas. Mas de uns tempos pra cá, por conta do X Real e das lutas diárias do feminismo, vários trabalhos, não só pessoais, mas comerciais também, têm me levado a retratar mulheres e isso é incrível! E em viagens, por que não (?), paisagens!

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“vários trabalhos, não só pessoais, mas comerciais também, têm me levado a retratar mulheres e isso é incrível!”


Mulheres na Fotografia Camila Cornelsen

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Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Tem o X Real que já faço há quase 6 anos, onde retrato mulheres em suas casas. De preferência nuas. E esse foi um processo de desconstrução mega intenso pra mim. Ver outros corpos e permitir que outras mulheres também vissem outros corpos é um exercício imenso de empatia, sororidade, aceitação. Fora o X Real, sempre me enfio nuns ensaios com outros temas e pessoas que estejam afim de serem fotografadas, mas não tem um lugar específico onde coloco eles. Tá tudo lá no meu site, espalhadinho. Quando postei o clipe da Karol Conka, o Instagram deletou a minha conta (!!!), então eu criei uma nova acreditando que a anterior não voltaria. Ela voltou na semana passada e essa nova conta eu transformei no @salasolar, que é dedicado a ensaios e retratos que eu faço na sala aqui de casa. Uma sala todinha branca que eu pintei só pra receber pessoas e me dedicar às minhas ideias. Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Eu sempre me influenciei por mulheres em diversas áreas, na música, na escrita, na fotografia, artes, enfim. Pra dizer alguns nomes, Luiza Roldán, primeira escultora documentada na Espanha em meados de 1670, Pina Bausch, Patty Smith, Diane Arbus, Nan Goldin, Louise Dahl-Wolfe. E sei lá, ultimamente, acho que a gente tem visto mais mulheres também fazendo coisas legais e sendo vistas e mostradas. Pra trazer pro nosso cenário mais atual acho o trabalho da Nicole Heiniger absolutamente lindo, tive a sorte de já ser clicada por ela no começo da sua carreira. Vivi Bacco, Juno Calypso, Arvida Byström, Polly Penrose,… posso fazer uma lista! :)

“Eu sempre me influenciei por mulheres em diversas áreas, na música, na escrita, na fotografia, nas artes.”

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Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Acredito que de fato temos um olhar diferente dos homens… no geral. Acho que temos mais capacidade de nos identificarmos com temas mais sensíveis, temos mais empatia. Não acho que somos melhores, somos apenas diferentes. Sempre tivemos muito menos oportunidades, então, profissionalmente, ainda não alcançamos o mesmo status dos homens que já estão no mercado. Estamos vivendo um momento onde brechas estão se abrindo, lentamente, mas estão se abrindo, e ninguém nunca perguntou como a gente enxergava as coisas. Temos que aproveitar essa fenda pra mostrar!

Mulheres na Fotografia Camila Cornelsen

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Quem nunca teve uma fase de odiar ser fotografado que atire a primeira cybershot. A fase de Alessandra Lima serviu para que ela descobrisse a paixão pela fotografia — afinal, para não aparecer na foto, ela ficava no comando da câmera em todos os rolês. Dos cliques da galera, o estudo evoluiu com cursos em escolas especializadas em fotografia e mentoria de amigos. Alessandra adora fotografar paisagens e sombras, mas nós somos apaixonados pelo seu trabalho com cores, seja em fotos de moda ou nos ensaios do projeto AFROWAVE, criado para retratar a pele negra e "trazer uma onda de referências e de representatividade negra para o mundo atual".


r nd sa

Ales

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Lim a 25

Uma fotรณgrafa de sombra, cor e representatividade.


Alessandra Lima

Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Comecei com 16 anos. Eu era sempre a tímida do rolê, odiava sair em fotos, mas adorava clicar a galera e registrar o momento. Além disso, sempre fui uma pessoa com memória péssima, isso era outra forma de eu eternizar uma história e lembrar de detalhes dela depois, hahahaha. Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Nunca trabalhei só com fotografia, mas é um sonho ter meu próprio estúdio. No momento, trabalho com o que a faculdade de Publicidade me proporcionou, sou analista de marketing. Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Fiz Ateliê da Imagem, Escola da Imagem e, de resto, aprendi praticando na vida ou pedindo ajuda de outrxs amigxs fotógrafxs.

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Qual equipamento você usa? D5100. Tenho 5 lentes. Estou pra vender meu equipamento e comprar um novo, o meu atual está muito velhinho. O que você mais curte fotografar? Paisagens e sombras. Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Tenho, sim! Em 2015, decidi começar a focar em fotografia de pele negra e criei o projeto AFROWAVE, inicialmente, só com mulheres. O projeto é denominado assim, pois consiste em trazer uma onda de referências e de representatividade negra para o mundo atual. Os ensaios fotográficos se baseiam em tentar inserir a cultura negra em âmbitos sociais padronizados, principalmente a moda. Os convidados são pessoas consideradas fora do padrão em questão de etnia, gênero, classe social, tamanho etc. E, obviamente, o projeto também tem a responsabilidade social




“Em 2015, decidi começar a focar em fotografia de pele negra e criei o projeto AFROWAVE, inicialmente, só com mulheres. O projeto é denominado assim, pois consiste em trazer uma onda de referências e de representatividade negra para o mundo atual.”

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de discutir essa falta de espaço para a cultura afro no cenário político e econômico. Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Minha mãe, primeiramente. Mas qualquer mulher negra com a sua história, sua luta, já me influencia. Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Representatividade e feminismo. Para mostrar a nossa força! Acho necessário inserir as mulheres nessa arte que é muito mais reconhecida pelo trabalho de figuras masculinas (como na maioria dos trabalhos) e mostrar a visão delas do mundo, seja das coisas pequenas até os assuntos mais tabu, como política e religião. É mais uma forma de deixar registrado que estivemos aqui, nós também vivemos coisas importantes.


Mia M is ora Uma fotรณgrafa de mulheres para mulheres.


Quantas pessoas fotografando mulheres nuas você já viu no seu feed do Instagram hoje? Pois é, um monte. Mas, dessa galera, são poucos os que conseguem retratá-las de forma elegante, poética, leve e forte. Mia Morais é uma delas. A brasiliense define rapidinho o que mais gosta de fotografar: "sem dúvida alguma, mulheres". "Um bicho maravilhoso, incrível, versátil. Despretensiosamente leve e, ainda assim, forte e acolhedor", explica a fotógrafa autodidata, que até tentou fugir da paixão e apostar em uma profissão mais tradicional, mas não teve jeito. "A capacidade da mulher se mostrar como quer ser vista e o poder que eu tenho de participar dessa revelação é um conjunto muito mágico. Acho que, por isso, sempre entendi que queria fazer fotos de mulheres tendo como público alvo outras mulheres. Queria tocar e trocar. Que fosse não só a entrega do material, mas a plenitude do processo." Sorte a nossa.

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Mia Morais

Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Descobri a fotografia aos 18 anos, na faculdade de comunicação. Estava super desiludida com o curso, mas, em uma das disciplinas, fomos convidados a produzir um ensaio. Descobri que ainda tinha uma câmera do meu avô e fiz uma série de retratos com ela. A primeira tentativa foi um fiasco. Era um dia super ensolarado, eu me sentindo especialmente profissional por ter uma câmera analógica no pescoço e um filme ISO400 (pausa dramática pra conexão dia super ensolarado, ISO alto e falta de habilidade), obviamente estourei as fotos todas hahaha. Mas, acho que porque eu sou meio psicopata e crítica, refiz no mesmo dia. Depois disso consegui uma vaga como fotojornalista em um jornal aqui de Brasília e tive a oportunidade de fazer exatamente o que eu queria: aprender a fotografar praticando, lidando com gente. Eu sempre fui viciada em álbuns antigos de fotografia, desde pequena mesmo. Ficava criando personagens e historinhas com as cenas. E, também, desde que me entendo por gente, adoro observar as pessoas. Nas ruas, nas festas. Os gestos, as caras e bocas… Acho que minha alegria e onda de fotografar é você construir uma narrativa visual, um recorte na realidade e, claro, a possibilidade de trocar algo com o outro, conhecer gente e expressões diferentes. Mulheres na Fotografia

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Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Trabalhei durante um tempo, mas muito breve, só escrevendo pra esse mesmo jornal em que fotografei. Já me senti diversas vezes naquela bifurcação quanto à carreira que é mais tipicamente brasiliense: meu sonho ou concurso?

Durante um tempo, parei de fotografar e tentei estudar, mas não dá. Fotografia tá em tudo que eu vejo. Inclusive em algumas palavras das apostilas mais entediantes. Fui me enganando, marcando um ou outro ensaio aos finais de semana. Quando vi, já tava “oi, sumida!” pra fotografia de novo…fotografando quase todo dia. Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Aprendi sozinha. Essas aulas que a gente teve de Introdução à Fotografia na universidade eram muito mais filosóficas e pautadas por realização de fichamento sobre trabalhos alheios. Não que isso não seja importante, mas fotografia é prática do olhar. Assim como escrever é a prática da mente. Aprendi apanhando muito no jornal. Tinha dias que voltava com umas fotos bem xoxas pra redação, e nenhuma dessas vezes passou em branco. Foi ótimo pra aprender que eu sempre poderia exigir mais de mim e pra receber conselhos de colegas muito bons e de um editor de fotografia incrível. Qual equipamento você usa? Uma D750. Tenho lentes que mal tiro da câmera, uma 18-55mm 5.6 e uma 80200mm 2.8. As que mais uso, não tem jeito, uma 35mm 1.8 e uma 50mm 1.4. A Miranda (a analógica que fotografei pela primeira vez) e as lomos. O que você mais curte fotografar? Sem dúvida alguma, mulheres. Acho mulher um bicho maravilhoso, incrível, versátil. Despretensiosamente leve e, ainda assim, forte e acolhedora. Amo o processo inteiro. Sentar de frente pra pessoa que vou fotografar, falar um monte de besteira pra soltá-la, pra ouvi-la também. Dividir sorrisos,


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“A capacidade da mulher se mostrar como quer ser vista e o poder que eu tenho de participar dessa revelação é um conjunto muito mágico.” 37

no início tímidos e não direcionados pra lente, mas que encorajam e são encorajados conforme mantemos nossa relação. Por mais fugaz que seja, a confiança aumenta. O querer aumenta. A capacidade da mulher se mostrar como quer ser vista e o poder que eu tenho de participar dessa revelação é um conjunto muito mágico. Acho que, por isso, sempre entendi que queria fazer fotos de mulheres tendo como público alvo outras mulheres. Queria tocar e trocar. Que fosse não só a entrega do material, mas a plenitude do processo.

Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Já tive um blog chamado “O vestido de R$10”. Comprei um vestido branco num brechó e saí abordando conhecidas e desconhecidas pra fotografar em diferentes lugares de Brasília. Foram 45 ensaios, se não me engano. A ideia era mostrar que um vestido só pode ter várias histórias em cada corpo diferente. Era bem mais voltado à exploração de diferentes biotipos. Atualmente, tenho um tumblr, que é pra fotografias de nu feminino. Acho o nu singelo, real. Querendo ou não, somos condicionados a demonstrar


Mia Morais

nossas personalidades através de roupas também. Quem é você sem roupa? O que seu corpo ou seu rosto querem contar? A nudez nos mostra que todos os corpos são diferentemente iguais. Que estamos todos juntos e, ao mesmo tempo, vulneráveis. É assustador tirar a roupa pra um desconhecido atrás de uma lente. Requer muita coragem de se descobrir e desprendimento pra permitir que o olhar seja qualquer um que não o seu. É uma espécie de oferta, de coração, a alguém que quer te olhar de dentro pra fora. Isso é lindo. Me faz acreditar em pessoas melhores.

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Mulheres na Fotografia

Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Martina Matencio, Elizabeth Messina, Carolina Maez, Angie López, Flora Negri, Anne Laure Etienne, Ellen Von Unwerth, Priscila Jammal! Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Como eu disse, mulher é um ser lindo, diverso. Acho que precisamos de mais perspectivas e narrativas femininas. Precisamos de representatividade em todos os cantos, especialmente em áreas que lidem com o discurso sensível e sensorial. Precisamos abrir espaço pro mundo de novas fotógrafas incríveis que estão surgindo!


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Ir à Bahia nunca é demais, principalmente se for pra conhecer e admirar o trabalho de uma mulher incrível — no caso, a fotógrafa Helen Salomão, também conhecida como Helemozão. Mas não pense que por ser baiana de Salvador o trabalho dela é cheio de fitas do Bonfim, do Pelourinho e do Olodum — inclusive, abra essa cabecinha aí pra ir além dos clichês. Helen fotografa a realidade, principalmente as mulheres reais, a beleza negra e as comunidades por onde passa, mas longe do olhar dramático, cheio de tragédia e dor. Ela gosta mesmo é de usar "a estética como empoderamento e política", sempre envolta numa atmosfera e em cores de sonho e brisa leve tocando o rosto. Vira a página aí pra ver!


H

elen o ã o l m a S 41

De quase advogada a fotógrafa que usa a estética como empoderamento e política.


Helen Salomão

Mulheres na Fotografia

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Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Comecei a fotografar com 17 anos. Tudo começou sem pretensões. Eu era jovem aprendiz no Fórum aqui da minha cidade e o meu sonho era ser advogada, naquele momento foi a oportunidade mais feliz que eu tivera conquistado. Mas, com o passar dos meses, fui entendendo que aquela não poderia ser a minha profissão, pois tudo o que eu pensava ser justiça era o oposto na prática. Eu sempre amei arte, pensei por muito tempo em fazer design, amava desenhar, mas as pessoas diziam que a arte não era para mim. Até porque eu sou mulher, de comunidade, negra, de poucas oportunidades, como viver de arte? E não só viver, mas como viver bem, sem passar privações, ser aceita em espaços, ter direito a fala e protagonismo? Ainda no jovem aprendiz, um conhecido apareceu vendendo uma câmera semi profissional, e eu decidi

comprar. Queria realmente me relacionar melhor com a arte, mas não tinha nenhuma referência de fotógrafos, nem nunca tinha sonhado com essa profissão. Comecei a estudar sozinha e a cada dia o interesse foi aumentando. Quando vi, já estava apaixonada. Depois de ficar um ano estudando num pré-vestibular, não consegui passar no curso de design, mas o pré-vestibular me ajudou a entender quem eu era, quais eram as minhas ideologias e saber de histórias que não estavam nos livros. Logo depois, tive a oportunidade de entrar num curso de arte e tecnologia e foi aí que me tornei, além de fotógrafa, artista e descobri que poderia falar através da minha arte e ser espaço de fala. Foi daí que comecei a mostrar mulheres reais, a beleza negra, a minha vida, as comunidades que passo, que vivo, sem mostrar tragédia e dor, falando de pessoas para além de números e estatísticas, usando a estética como empoderamento e política.


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Mulheres na Fotografia Camila Cornelsen

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Helen Salomão

Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Desde que aceitei a fotografia na minha vida, só trabalho com ela. Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Comecei fotografando sozinha, vendo vídeos técnicos na internet, e depois fiz um curso técnico de arte e tecnologia (no Oi Kabum), que me ajudou a entender qual era o papel da fotografia na minha vida. Foi aí que comecei a usar a fotografia como artivismo, a fazer meus projetos autorais e saber que a arte já tinha me escolhido antes mesmo de eu aceitá-la.

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Mulheres na Fotografia

Qual equipamento você usa? 6D e 60D, da Canon, e analógicas emprestadas hahaha. O que você mais curte fotografar? Eu gosto de fotografar a rua e o que a compõe, é o que chamo de fotopoesia/ fotoconexão. É estar nos lugares e conhecer as pessoas e saber as histórias delas e dos lugares, é a troca, e isso não necessariamente pode render um clique, pode ser apenas uma fotografia com os olhos armazenada num cartão chamado memória pessoal.

Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Fazia projetos por ano, projetos que discutiam a diversidade do corpo gordo e tons de pele negra, a liberdade e poesia do corpo feminino, periferia sem sangue e buscando colocar cada um como protagonista da sua própria história. Ano passado, fiz o Casa Corpo Pele Parede, um projeto fotopoético que nasceu através de um escrito poético e logo depois surgiu o ensaio, que conta vivências de mulheres, focando nas experiências do seu corpo, marcadas na pele. Cada mulher fotografada fala, em um pequeno texto, sobre esse corpo, sobre suas histórias marcadas na pele, como elas se sentem e como as pessoas as veem. Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. São as mulheres que eu encontro na vida, que estão perto de mim, é a minha mãe, é a minha avó. Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Porque somos a maioria, mas sabemos quem ainda está no topo da pirâmide.


“somos a maioria, mas sabemos quem ainda está no topo da pirâmide.”


Pan

Al v

es A fotógrafa que, com ou sem câmera, produz imagens que estão dentro de si mesma.


Pode até parecer clichê, mas Pan Alves é uma fotógrafa que tem uma sensibilidade incrível para fotografar… mulheres! Não por acaso, fotografá-las está na sua lista de favoritos. Se há algum tempo essa conexão inexplicável entre mulheres era difícil de definir, agora temos uma palavra que anda na ponta da língua: sororidade. Uma relação de irmandade e confiança que atravessa a lente e, hoje, aparece nesta edição da série Mulheres Que Fotografam – que tem como missão abordar e espalhar por aí o trabalho de minas fodas com câmeras na mão. Bora conhecer um pouco mais sobre a Pan!

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Pam Alves

Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Eu fotografo desde criança, a câmera da família sempre ficava na minha mão durante os eventos e viagens. Quando terminei a escola, resolvi fazer um curso livre e me apaixonei. Desde então a certeza só aumenta. Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Eu já tive vários empregos, pois só comecei a ganhar dinheiro com a fotografia depois de um tempinho. Atualmente eu trabalho como modelo também e tenho um brechó.

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Mulheres na Fotografia

Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Fiz um curso livre,

onde aprendi a fotografar com câmera analógica, e fiz faculdade de Fotografia, mas não existe escola melhor do que a vida né? Qual equipamento você usa? Eu uso uma Canon 6D com 50mm 1.4, 35mm 1.4, 24/70mm 2.8. Tenho também uma Pentax K1000 que amo muito. A verdade é que eu fotografo com celular, câmera e até com a mente algumas vezes, o equipamento, pra mim, é uma extensão do olho e coração, mas a imagem sai de dentro de nós. O que você mais curte fotografar? Gosto muito de fotografar mulheres, se for alguma que já conheço é ainda mais prazeroso. Mas também gosto muito


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“A fotografia tem muita importância também como protesto, é onde podemos gritar em silêncio, sabe?


de fotografar decoração, objetos e plantas. Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Há um ano fiz a exposição do projeto A Língua dos Pássaros, onde desenvolvi uma identidade visual importante no meu trabalho. Atualmente não estou desenvolvendo nenhum projeto em específico, ando estudando as possibilidades que tenho além de fotografar. Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Martina Matencio, Shae Detar, Delfi Carmona, Gloria Marigo, Moud Chalard. Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? A mulher tem um olhar único, sensível e pode ir além do comum. A fotografia tem muita importância também como protesto, é onde podemos gritar em silêncio, sabe? Muitas mulheres eu já vi aflorar nas fotografias, é muito lindo.


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Camila Cornelsen

Toda sala de aula tem seu time de nerds (ou CDFs, como diziam no nosso tempo), aquela galera que estuda de um tudo, sabe de tudo e só tira 10. E nós apostamos que a fotógrafa Flora Negri era assim no colégio. Ela estuda. Letras, Artes Visuais, História, História da Arte, Fotografia. Em casa, no colégio, na universidade ou no Instituto Candela, tradicional escola de fotografia de Recife — da qual a Duda Portella também falou.

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Mulheres na Fotografia

Na nossa entrevista, a pernambucana falou bastante sobre as referências acadêmicas e livros que acompanharam sua trajetória. E tudo isso, de alguma forma, aparece nas fotos que ela faz. Nem todo nerd vira engenheiro, afinal.


Flora N e

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Flora Negri

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Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Desde criança era algo que me encantava. Minha mãe sempre teve um olhar muito sensível pra imagem e, consequentemente, pra fotografia. Ela é professora, e eu cresci rodeada de outras tantas, a maioria mais relacionada à Arte e História, então observar e pensar a imagem foi algo muito natural dentro do meu desenvolvimento. Na adolescência, tive uma amiga que era filha de fotógrafo e tinha uma câmera, na época meu sonho de consumo. Nós nos fotografávamos muito, era divertido e me inspirava, mas não pensava na possibilidade como profissão. Comecei a cursar Letras e logo depois já sentia que não conseguia me dedicar, que não queria de fato aquilo pra vida. Mas ainda sem saber o que seguir. Minha família sempre notou minha inclinação pra fotografia, quando terminei o ensino médio, meu primo e minha tia me deram uma Canon T1i, com ela comecei a fotografar com mais frequência. E calhou que nessa lacuna de buscar o que queria fazer, comecei a ganhar dinheiro com fotografia. Fotografei o aniversário de um amigo como presente, amigos dele viram as fotos e começaram a me contratar pra fotografar aniversários, formaturas, batizados… Mas sempre gostei do retrato, e aí fui estudar pra entender melhor como podia trabalhar e criar com aquela ferramenta. Acho que o que despertou essa vontade foi a possibilidade do meu trabalho ser um espaço de criação e troca, que é parte

do que a fotografia representa pra mim. Além de ter entrado na minha vida quase como uma terapia, num momento em que meu psicológico tava uma bagunça por questões pessoais complicadas. Acabei usando-a como forma de expurgar algumas dessas questões, e criei uma relação de fotografar meus "demônios" pra lidar melhor com eles. A verdade é que tenho uma sorte imensa de trabalhar com algo que verdadeiramente me faz bem. Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Sim, passei um período dando aulas de literatura e na época da faculdade de Letras estagiei numa mini agência de conteúdo digital aqui em Recife, já juntando dinheiro pra trocar de câmera e pagar um curso de fotografia. No começo, trabalhei só na parte de produção de conteúdo e monitoramento, depois comecei a produzir conteúdo fotográfico, pouco antes de sair. Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Já fotografava há um tempo, mas sentia uma necessidade grande de aprender mais e aí fui parar no Instituto Candela, uma escola de fotografia de Recife. Lá, Ivan Alecrim, que é fotógrafo e professor, me abriu um universo novo que eu precisava conhecer pra entender rapidinho que fotografia era o caminho mais forte e legítimo em mim. Fiz alguns cursos lá e passei um bom tempo vivendo mais no Candela, devorando os livros de história da arte de Ivan, do que em qualquer outro lugar.



Flora Negri

Mulheres na Fotografia

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“Olho pra uma foto e me pergunto como seria poder ver aquela realidade pelos olhos de uma mulher.�


O que você mais curte fotografar? Gente. Ultimamente tenho até sentido uma necessidade maior de abstrair, estudar as formas da natureza que não o corpo humano… Mas nada atrai mais meu olhar que as pessoas e a possibilidade de troca que a fotografia como ferramenta fomenta.

Qual equipamento você usa? A maior parte do meu material foi produzida com minha antiga câmera, uma 60D, com uma 18-135mm e uma 50mm 1.8. Agora trabalho com uma 5D Mark IV e a 24-70mm 2.8. A câmera do meu celular não é grande coisa, mas ainda assim uso muito quando é o que tenho à disposição.

Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Fiz Artes Visuais depois de desistir de

Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Nenhum que já esteja na rua ou que tenha uma roupagem definida. Mas dois que pra mim são muito importantes martelando na cabeça. Um deles é motivo de estudo e experimento tem uns anos, mas abre um espaço muito íntimo e frágil meu, talvez por isso tenha sentido a necessidade de guardar pra mim um pouco, pra entender melhor as dimensões disso. Mas acredito que ao longo desse ano ele vá aparecendo aos pouquinhos.

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Letras, também não terminei, mas foi um período de aprendizado muito importante. Na primeira aula de uma das minhas cadeiras favoritas, assistimos um documentário chamado W.A.R. (Women Art Revolution), onde descobri um pouco da história e o trabalho de Ana Mendieta. Sabe quando o trabalho de alguém parece te dar voz de alguma forma? Foi o que senti. Ela e Francesca Woodman provavelmente são as mulheres que mais transformaram meu trabalho, na prática. Que mais se enraizaram na minha cabeça. E acredito que o que me inspira é o conteúdo que consumo e me afeta, me transforma de alguma forma, nem que só um pensamento.


Flora Negri

Música influencia muito meu trabalho, literatura também. Lembro quando escutei pela primeira vez o disco “Ascensão”, de Serena Assumpção, no começo de 2016, e meu jeito de enxergar muita coisa mudou. Fiz uma série de autorretratos inspirada nesse álbum. No fim do ano passado, também tive uma conexão grande com relação à produção com o disco de Luedji Luna, “Um Corpo no Mundo”. E voltando um pouco pra produção fotográfica, tem um tempo que estudo e tenho me admirado com a força e a legitimidade do trabalho de Zanele Muholi, fotógrafa e ativista sul-africana.

Mulheres na Fotografia

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Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? É importante termos mais mulheres trabalhando e tendo reais e favoráveis condições de trabalho na área que elas, nós, quisermos. Mas sinto que em fotografia, o registro, a história, perdem muito tendo um olhar tão majoritariamente masculino. Por exemplo, quando vou estudar o fotojornalismo no Brasil, os registros mais antigos são masculinos. Olho pra uma foto e me pergunto como seria poder ver aquela realidade pelos olhos de uma mulher. Não porque seria uma foto melhor ou pior, mas porque seria um olhar feminino, que é, necessariamente, diferente do masculino. Pela forma como somos, como sentimos o mundo. O retrato de uma mãe amamentando tirado por um homem vai me contar uma estória diferente do tirado por uma mulher. Quero ter acesso aos dois olhares sobre o mundo, ou a quantos possam existir. Numa relação de potencialização, não de detrimento.


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Universidade Federal do Rio Grande do Sul Departamento de Expressão Gráfica Revista idealizada e realizada para conclusão da disciplina de Projeto Visual III Professores Airton Cattani & Leônidas Soares

O material das entrevistas foi integralmente coletado através da hashtag #mulheresquefotografam, realizada pelo coletivo I hate flash. As entrevistas completas podem ser acessadas em goo.gl/irxoZv (:

Michele Rosa dezembro de 2018





Editora Kratère 9 780201 379624


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