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Timeline sobre raças de cachorros
O melhor amigo Companheiros há cerca de 13 mil anos, os cães ganharam centenas de formatos Há 135 mil anos, alguns lobos cinzentos do leste asiático ganhavam características diferentes. Logo eles passariam a acompanhar os hominídeos, ajudando-os na busca de alimentos — e, claro, deliciando-se com as sobras. Com o passar do tempo, no entanto, os cães foram totalmente integrados à rotina humana. De acordo com estimativas mais conservadoras, há 13 mil anos (no mínimo) eles estão completamente domesticados. “A parceria entre seres humanos e cães é uma das mais bem-sucedidas da natureza. É algo extremamente vantajoso para ambos”, diz a pesquisadora americana Karen Overall, do Centro de Neurologia e Comportamento da Universidade da Pensilvânia.
Os cachorros acompanharam a humanidade desde as primeiras viagens exploratórias — há quem diga que a travessia pelo estreito de Bering (entre Ásia e América) só foi possível com o suporte deles. São caçadores, protetores e policiais. Ao longo do tempo, desenvolveram a capacidade de se moldar às necessidades do amigo bípede. “Nenhum outro mamífero existe com tal variação de cores, tamanhos, pesos e tipos de pelo”, afirma Adam Miklosi, chefe do departamento de Etologia da Universidade Eötvös, na Hungria. São 701 diferentes linhagens (o termo “raças” é incorreto). E o futuro promete que esse número se multiplique exponencialmente. Tiago Cordeiro
PARA TODOS OS GOSTOS
As principais linhagens e a época em que elas surgiram
FORÇA E RAPIDEZ Existem alguns candidatos a primeiro tipo de cão conhecido. O mais forte deles é uma versão do greyhound. Variedades desse animal forte e rápido (corre até 65 km/h) foram localizadas no Egito antigo, no Oriente Médio e no atual Afeganistão.
COMPANHIA NO GELO
NOBREZA ÁRABE Cerâmicas do Irã documentam a existência do saluki — cuja imagem está presente em tumbas egípcias de 2100 a.C. Seu porte nobre e sua agilidade na caça conquistaram povos avessos ao animal, como os árabes. Na Índia, os saluki deram origem aos kanni.
Fundamentais para os primeiros moradores da região gelada da Sibéria, os huskies siberianos são uma das poucas linhagens ligadas diretamente aos mais antigos antepassados. O nome vem de “eskie”, como eram chamados pelos inuits, tribo que habitava a região.
APOIO E COMIDA Na China, o chow chow é companheiro nas caçadas e o sharpei é colocado em rinhas de luta — ambos também vão para o prato (hoje, de 11 milhões a 13 milhões são consumidos na Ásia por ano). Cerca de 2 mil anos depois surgiriam os pequineses.
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MORADORES DE MOSTEIROS No Tibete, os lhasa apso eram usados como cães de guarda dos monges. Séculos depois, viajantes europeus encontrariam outra linhagem, que batizaram de “terrier tibetano” — ele não é um terrier, mas uma linhagem que remonta aos antepassados da raça.
LINHAGENS NOBRES NO PASTOREIO As legiões romanas usavam o rottweiler no pastoreio. Em viagens para os recantos da Europa, também descobriram as variedades de hounds e mastifes dos britânicos. Essas linhagens dariam origem a várias outras conhecidas. Dos hounds, por exemplo, saem os beagles.
Os reis do fim da Idade Média valorizam as raças consideradas puras, cujo cruzamento é estritamente controlado. Os bloodhounds (nome que vem de “sangue puro”) ganham coleiras de ouro. Misturados ao mastife e ao antigo buldogue, eles iriam gerar o fila brasileiro.
BOM COMPANHEIRO O labrador começou a surgir no Canadá, na província que ganharia o nome da linhagem. Era uma mistura de cães de origem europeia, incluindo o mastim. Um dos cachorros foi levado à Inglaterra, onde nobres ingleses continuaram fazendo cruzamentos até chegar a esse animal dócil.
CÃO DE GUARDA O alemão Karl Friedrich Dobermann (1834-1894) tinha um emprego perigoso (coletar impostos) e queria um animal que o defendesse. Ele cruzou pelo menos quatro raças para gerar o dobermann, uma versão gigante do pincher — que existe desde pelo menos o século 15.
LATIDOS MITOLÓGICOS A mitologia grega fala de Cérbero, o cão infernal de três cabeças. Homero cita Argus em sua Odisseia. Os gregos são considerados os primeiros povos ocidentais a tratar os cachorros como parte da família. Platão dizia que o seu era um “amante do aprendizado”. Os cães antigos da Grécia dão origem ao atual mastim espanhol.
SOB MEDIDA A fim de gerar e identificar novas linhagens, a Sociedade Phylax busca novas espécies para isolar e reproduzir. Um de seus líderes, Max von Stephanitz (1864-1936), anuncia a descoberta mais famosa do grupo: o pastor alemão, criado a partir da mistura de diferentes animais.
Fazendeiros norte-americanos fazem cruzamentos para criar (e vender) novas raças. A atividade deu origem a labradoodles (labrador com poodle) e cookerpoos (cocker spaniel americano com poodle miniatura).
© ILUSTRAÇÃO LEO GIBRAN
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Produção de foto o b r a- p r i m a
Mundo colorido
A viagem pela história das cores passa por um emaranhado de episódios que incluem piratas de ilhas caribenhas, venenos letais, corantes feitos de urina e restos de cadáver humano POR Bruno Vieira Feijó DESIGN Michele Kanashiro FOTOS Dercílio Vanzelli
O
arco-íris do Velho Testamento, brindado por Deus num acordo de paz com Noé depois de inundar a terra e erradicar os seres humanos, exibia todas as cores que alegram o mundo bíblico. Embora tangíveis e gritantes a olho nu, muito além de crenças e misticismos, as cores, na realidade, não existem. Aliás, elas existem a partir do momento em que nosso cérebro as reinterpreta. Essa conversa parece ficção científica, mas não é. Basta lembrar as aulas de física. O colorido é resultado de ondas eletromagnéticas que refletem ou absorvem diferentes cores de seu espectro. Nossos olhos humanos não são capazes de identificar o infravermelho ou o ultravioleta. E os cachorros, que são capazes de enxergar no escuro, percebem uma gama de cores bem menor que nós. Portanto, além de depender da luz, as cores dependem, também, do olhar.
Tudo na natureza tem uma coloração. Mas, das cores que nossos antepassados reproduziam às intermináveis tintas da modernidade, passaram-se milênios de pesquisa. A industrialização das tintas é uma conveniência moderna, que apareceu em meados do século 18. No passado eram um luxo restrito a quem podia pagar caro. As tintas eram levadas à Europa pelas mesmas rotas de produtos exóticos do Oriente, como especiarias. Eram obtidas a partir de trabalho penoso e manual, da moagem ou da queima de minerais e vegetais. Em cada rincão remoto do mundo, em distantes períodos históricos, povos diferentes dedicaram-se a colorir o que não era natural. Cada cor tem uma história por trás. E são essas histórias que a escritora inglesa Victoria Finlay se propôs a resgatar no livro Color — A Natural History of the Palette (“Cores — a história natural da paleta”, sem tradução para o português).
Origem das cores Como o homem se apropriou e transformou em matéria o colorido que existia no mundo
Ocre Feito de grãos de areia que apresentam diferentes tonalidades em torno do amarelotorrado, vermelho e marrom. As reservas de maior qualidade estão concentradas na Turquia, no sul da França e nas colinas rurais da Austrália, onde já foi um valioso material utilizado em cerimônias religiosas aborígines, servindo inclusive como moeda de troca, base do sistema financeiro das tribos.
Verde Responsável por um verde cintilante, o arsênio foi a primeira substância usada para decorar casas do período vitoriano. Por ser tóxico, há vários casos de mortes “sem causa” registradas na época. Demorou para que os médicos descobrissem o motivo das intoxicações. Em 1800, passou a ser consumido um verde-esmeralda, também chamado de verde-paris, mas feito de arsenito de cobre, o que agravou ainda mais a reputação do verde como a cor maldita.
Marrom
Um dos mais notórios ingre 17 foi o “osso negro”, retirad egípcias. No processo de em eram usados dois minerais e a hematita, que geravam u acastanhado irreproduzíve de marrom “siena” e sua re variação torrada “burnt sien da areia da cidade italiana d nome. Renascentistas europ um pigmento marrom deri mistura de terra com restos egípcias. O interesse por um de cadáveres não era anorm eram duas resinas utilizada embalsamamento, consider fontes de um resplandecent em voga de 1800 até a déca
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ODUÇÃO INAH RAMOS E GLEISE PRATES
Amarelo Originário de cinco grandes fontes: da manga (nativa da Índia), do gamboge (fruta encontrada no Camboja que secreta uma resina que fica amarela em contato com a água), da pedra preciosa de sulfeto de arsênio chamada ouro-pigmento, do ocre e do açafrão (colhido a partir do pólen de uma minúscula flor de crócus). Reza a lenda que Cleópatra espalhava açafrão sobre a pele — o que gerava um
Azul
amarelo-dourado – para seduzir os imperadores Marco Antônio e Julio César. O açafrão é pouco usado por artistas contemporâneos, que limitam seu uso a pequenos detalhes, por ser muito caro. Antigamente, no entanto, o amarelo-açafrão foi utilizado como símbolo de superioridade social por diferentes civilizações. Os egípcios usavam-no para tingir faixas de linho nas mumificações, enquanto fenícios o destacavam no véu das noivas.
Na Idade Média, o azul vinha de um pigmento extraído de uma planta chamada ísatis ou pastel-de-tintureiro e fermentado em urina humana. Na arquitetura, o óxido de cobalto foi usado em larga escala, pois em contato com o calor se transforma num azul fulgurante. Depois foi descoberto o azul ultramarino feito da lazurita, pedra encontrada no Afeganistão. Os antigos egípcios já apreciavam a cor, encontrada na máscara mortuária do faraó Tutancâmon. A rainha Cleópatra
Laranja Mais uma substância tóxica usada desde sempre pela humanidade, que, ainda que em doses mínimas, provoca envenenamento. É o cádmio, obtido como subproduto do processamento de minérios de zinco, cobre e chumbo. Na falta de pigmentos orgânicos, até hoje o cádmio não foi substituído por algo tão faiscante. Há o registro de uma árvore nativa da península Ibérica que expele uma seiva que, em contato com o sol, se transforma em uma cor laranja-avermelhada. Já o verniz era usado pelo italiano
Antonio Stradivarius para polir seus violinos, considerados os melhores instrumentos de corda já fabricados. Era um laranja-sangue feito a partir de uma seiva vermelha proveniente do dragoeiro, uma árvore exótica nativa das ilhas Canárias e da Madeira e de Marrocos. Aficionados relatam que o verniz não só embeleza os violinos como também melhora a música que eles produzem. Para valorizar sua comercialização, a origem desse laranja, batizado “sangue-de-dragão” — uma alusão ao animal que guardava o jardim das ninfas Hespérides, da mitologia grega — foi guardada a sete chaves.
Vermelho Quando os espanhóis descobriram a América, levaram para a Europa muitos itens raros e exóticos, entre eles um corante que produzia uma rica tonalidade de vermelho. Era feito dos corpos secos e esmagados de um tipo de besouro originário do México. Os criadores da receita foram os astecas, que a usavam originalmente para tingir tecidos. Atualmente, plantações de cactos (habitat natural do inseto que origina o carmim) existem no mundo todo.
Violeta
Branco
Preto
O chumbo foi o material mais utilizado para fazer a cor branca, desde os tempos do antigo Egito. Mas é extremamente danoso quando absorvido pelo organismo. Há registros de deformação e morte de pessoas que empregavam o composto como maquiagem. O leite foi usado como substituto na composição da cor.
Vem do carvão vegetal. Entre os ingredientes, fuligem, galhos de pessegueiro, videira e a seiva de pau-campeche, que era comercializado por piratas das ilhas caribenhas. Outra alternativa era misturar todas as cores até obter o preto, um processo considerado caro na Antiguidade.
Entre as primeiras civilizações da humanidade, os tecidos mais caros eram batizados de “púrpura” — nome dado, na época, ao vermelho intenso. O motivo de tamanho valor era a dificuldade de extrair da natureza o pigmento para tingi-lo. Especula-se que, por volta de 200 a.C., meio quilo de tecido tingido de roxo custava o equivalentemente a 35 mil dólares. Romanos, egípcios e persas são exemplos de povos que reservaram tons de lilás para uso exclusivo da família imperial e funcionários do reino. Em tempos passados, eles extraíam o vermelho de conchas de moluscos colhidos no extremo
leste do mar Mediterrâneo, atual Líbano. Mas a matança desenfreada de caracóis fez com que a América Central detivesse o monopólio até 1856, ano em que o químico inglês William Perkin tornou a cor púrpura disponível para as massas. Ele estava em casa, buscando a cura da malária, quando observou que um respingo de anilina apresentava uma “estranha e bela” cor malva. Descobriu ainda a fonte de quase todos os tons azuis esverdeados.
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Índigo A cor índigo, que significa “da Índia”, é feita por esmagamento das folhas da planta índigo. Urina humana era usada como fermento, mas com um adendo: navios da Inglaterra chegaram a se equipar com vasos sanitários para captar o tão “valioso” material requisitado pela indústria de tingimento. © OBJETOS DA LOJA OBJETOS DE CENA; PRODUÇÃO INAH RAMOS E GLEISE PRATES
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também a teria usado como sombra no olho. O lápis-lazúli (como é chamada a pedra lapidada) é muito caro. Não apenas devido a sua fonte distante, mas também pela dificuldade em extrair o pigmento azul das rochas. Até que aparecesse uma versão sintética, o ultramarino custava mais que o ouro e foi uma das cores mais valiosas da paleta de um pintor renascentista.
A OBRA Color – A Natural History of the Palette, Victoria Finlay, Random House, 2004 16 dólares*
*O VALOR NÃO INCLUI FRETE
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Matéria sobre os policiais que inspiraram Sherlock Holmes grandes momentos
Sherlocks
de carne e osso O mais famoso detetive foi criado na Inglaterra do século 19 não por acaso. Nascia ali a polícia profissional. As façanhas de seus investigadores reais não perdem nada para as da ficção
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Sherlock Holmes existiu, mas era médico. Em 1877, Arthur Conan Doyle era assistente do cirurgião Joseph Bell na Enfermaria Real de Edimburgo. Bell defendia que, para tratar um paciente, era preciso conhecer seus hábitos. Para não ser enganado, criou um método dedutivo que permitia a ele estabelecer diagnósticos com a ajuda de detalhes da roupa e da expressão corporal. Onze anos depois, Doyle criaria Holmes na TV inspirado em Bell. Em 2004, surgiria Seu Gregory House, o médico genial do seriado. apartamento é o 221B, o mesmo de Sherlock.
POR Tiago Cordeiro DESIGN Michele Kanashiro ILUSTRAÇÕES Junior Lopes
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padre ferido durante um assalto é levado para a casa mais próxima, onde a locatária aponta um divã para que repouse. Pouco depois, ele começa a tossir. Uma das pessoas que o socorreu grita: “Fogo!” A primeira reação da senhora, em pânico, é buscar um papel na gaveta de uma cômoda. Imediatamente, o padre acalma a todos e diz que se trata de um engano. O homem que dera o alarme falso sai sorrateiramente. O sacerdote também vai embora. Na rua, eles se encontram, satisfeitos: Sherlock Holmes e John Watson já podem abandonar as fantasias e voltar para o escritório na Baker Street, 211B. Descobriram onde Irene Adler esconde a fotografia que buscam, uma ameaça para o reino da Bavária. Mestre na dedução e nos disfarces, Holmes domina técnicas de luta e armas, conhece anatomia, botânica e química. Quando envolvido em um caso, quase não come e injeta-se cocaína diluída para ficar acordado. Na Inglaterra do fim do século 19, é o único que soluciona os crimes mais complicados. Isso tudo, claro, nos quatro romances e 56 contos de Arthur Conan Doyle.
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© 1 REPRODUÇÃO/CHARLES DANA GIBSON 2 AFP
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grandes momentos
LEI E ORDEM Os melhores investigadores ingleses da época de Sherlock JONATHAN “JACK” WHICHER - Detetive da polícia de Londres desde 1837, ajudou a fundar a Scotland Yard. Solucionou dezenas de crimes, mas o assassinato do menino Saville Kent arranhou-lhe a reputação. Ele apresentou como suspeita a adolescente Constance, inocentada por falta de provas. Ela confessou anos depois, mas Whicher já estava morto.
CHARLES FREDERICK FIELD - Perito em se infiltrar disfarçado em cenas suspeitas, foi um dos melhores investigadores da Scotland Yard. Depois virou detetive particular: desvendou vários casos de roubo antes da polícia e um de envenenamento de três pessoas. Serviu de inspiração para o inspetor Bucket, de Charles Dickens.
EDWIN COATHUPE Considerado um dos melhores detetives da história, estudou medicina e chegou a trabalhar em dois hospitais até se tornar policial. Antes de assumir cargos de chefia, passava boa parte do dia na rua, entre suas fontes de informação, investigando casos e fazendo policiamento preventivo.
MELVILLE MACNAGHTEN Comissário da polícia de Londres entre 1903 e 1913, era mestre em orientar detetives e organizar informações. Em 1894, foi responsável pelo melhor relatório feito sobre Jack, o Estripador. Seu texto, só revelado ao público em 1954, ainda é a fonte mais confiável sobre o episódio.
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Holmes incorporou a imagem do detetive perfeito. Com sua capa, lupa, chapéu e cachimbo, está em praças por toda a Grã-Bretanha. Protagonizou 200 filmes, com 70 diferentes atores no papel (o mais recente é Robert Downey Jr., na versão do diretor Guy Ritchie). É o personagem mais recorrente da história do cinema — aliás, foi nas telas que apareceu a famosa frase “Elementar, meu caro Watson!”, nunca dita nos livros. Mas Sherlock não surgiu por acaso. Enquanto escrevia suas histórias, o médico escocês Conan Doyle vivia na terra da melhor polícia do mundo. Ao mesmo tempo que seu personagem caçava bandidos sanguinários e falsárias astutas, os ingleses inventavam uma força policial de organização e técnicas que seriam imitadas em todo planeta.
Escravos e milícias O combate à criminalidade existe desde as origens da civilização, mas as formas de fazê-lo variaram bastante. Na China antiga, os delitos eram investigados pelos prefeitos. Na Grécia, o policiamento de rua ficava por conta de escravos. Em Roma, a função era do Exército; na Espanha medieval, de milícias armadas organizadas, as Hermandades, que existiram até 1835. Em 1667, o rei Luís XIV da França criou a primeira versão de uma polícia formal — o significado atual da palavra “polícia” apareceu entre os franceses. Pouco antes, em 1626, Nova York já tinha seu próprio xerife. Até meados do século 19, porém, não havia uma força organizada, com salários fixos, treinamento específico e, principalmente, dedicada a prevenir os crimes. Essa nova entidade surgiu
na Inglaterra, que até 1820 era um dos países mais atrasados da Europa nesse quesito — a segurança ainda era responsabilidade de guardas noturnos recompensados quando encontravam ladrões. “Não existia o conceito de polícia para todos. Agentes só se mobilizavam nos casos que envolvessem a nobreza ou as recompensas fossem muito altas”, diz o sociólogo britânico Barry S. Godfrey, diretor do Instituto de Pesquisa da Lei, da Política e da Justiça da Universidade Keele. Isso mudou quando o secretário de Estado Robert Peel propôs um novo modelo, que em 1829 se tornou a Polícia Metropolitana de Londres. Scotland Yard é o nome da sede. Começava então um período de testes e experimentações que durou até 1856. “O policial caminhando pelas ruas, protegendo os pobres e ricos da mesma forma, sem nenhuma arma a não ser um pequeno cassetete de madeira, tornou-se um símbolo da sociedade britânica”, afirma Godfrey. Entre 1890 e 1950, a polícia britânica seria, de longe, a mais igualitária e eficiente do mundo. Na época, o código penal listava um número pequeno de delitos: agressões, assassinatos, assaltos, conspiração contra autoridades e exploração de menores, entre outros. As ocorrências não passavam de 2 mil por ano, para uma cidade que tinha 3 milhões de habitantes. Hoje são 7,5 milhões de moradores e 1 milhão de delitos anuais. Os policiais franceses também tinham uma hierarquia clara, normas de conduta e uniformes desde 1829 (boatos do fim do século 19 sugerem que os detetives do país eram orientados a ler as histórias de Sherlock em © ILUSTRAÇÃO VANESSA REYES
busca de inspiração e de técnicas de investigação). Mas a revolução protagonizada pelos ingleses consistiu em duas novidades: o treinamento para a prevenção de crimes e o uso de novas tecnologias para a investigação. Os britânicos analisavam pegadas, marcas de rodas, cinzas de cigarro, textos escritos a mão, manchas de sangue, resíduos de pólvora, fotografias e até mesmo impressões digitais — todos elementos encontrados nas histórias de Sherlock Holmes.
Fotos e digitais Os investigadores ingleses passavam muito tempo nas ruas, entre seus informantes e nos locais de maior concentração de crime — outra prática inédita para um mundo onde a regra era ver mais policiais nas áreas mais ricas, exatamente onde menos crimes aconteciam. Eram homens muito experientes. Ao fim do século 19, a maioria já tinha treinamento para não comprometer uma cena de crime, usar as tecnologias disponíveis e abordar criminosos de forma a não colocar em risco as vítimas. “Londres foi a primeira cidade a dispor de um banco de dados com fotos e impressões digitais de todos os acusados”, diz o historiador David Taylor, professor da Universidade de Huddersfield. Nos interrogatórios, o suspeito que não confessasse estava sujeito a afogamento controlado, pancadas e celas escuras sem banheiro ou alimentação. “A grande diferença em Londres é que os agentes só passaram a recorrer a esses métodos mais violentos quando tinham indícios muito fortes contra o suspeito. Em outros lugares, a tortura dentro das delegacias
era indiscriminada”, afirma Godfrey. Foi só ao longo do século 20 que todo suspeito ganhou o direito a ser acompanhado por um advogado. Alguns investigadores do período ficaram famosos pela capacidade dedutiva e pela eficiência com que resolviam os crimes mais complexos (veja quadro à esq.). Eles foram capazes de identificar e prender serial killers que haviam escapado ilesos em outros países, como Canadá (veja à dir.). Mas nenhum caso de sucesso foi tão retumbante quanto o fracasso em localizar o famoso Jack, o Estripador, que aterrorizou Londres a partir de 1888. Os melhores policiais do mundo na época não conseguiram nem identificar o assassino. Seria um prato cheio para Sherlock Holmes... Em tempo: o epidódio que abre esta reportagem faz parte do conto Um Escândalo na Boêmia e não termina bem para nosso herói. A bela Irene Adler percebe que havia sido enganada e foge durante a madrugada, antes que Holmes pudesse voltar e resgatar a fotografia em que ela aparecia com o príncipe da Bavária. Prestes a se tornar rei, o nobre queria evitar um escândalo. “A mulher”, como passou a chamá-la Sherlock, foi uma das poucas pessoas que conseguiram enganar o maior detetive da literatura.
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saiba mais LIVROS The New Police in Nineteenth-century England , David Taylor, Manchester University Press, 1997 Relata o processo de profissionalização da polícia britânica. The Suspicious of Mr Whicher, Kate Summerscale, Bloomsbury, 2008 A atuação do investigador Jack Whicher no caso do assassinato de Saville Kent. Um Escândalo na Boêmia, Arthur Conan Doyle, Ediouro, 2003 Traz o conto que abre esta reportagem, publicado pela primeira vez em 1891, além de outras cinco histórias e uma introdução de Paulo Mendes Campos.
PROCURADOS Os assassinos que aterrorizaram a Grã-Bretanha do século 19 THOMAS NEIL CREAM - Escocês educado no Canadá, foi forçado a se casar com uma jovem a quem engravidou. Ela, como outras de suas amantes, morreram envenenadas com clorofórmio e estricnina. Fez ao menos cinco vítimas no Canadá, Estados Unidos e Inglaterra, até ser preso pela polícia inglesa e enforcado em 1892.
CATHERINE WILSON - Enfermeira inglesa sedutora, servia taças com ácido sulfúrico para suas vítimas, geralmente doentes idosos convencidos a incluí-la em seus testamentos. Foi julgada e condenada à forca pelo envenenamento de Maria Soames, mas possivelmente matou outras seis pessoas. Foi executada em 1862.
WILLIAM BURKE E WILLIAM HARE Os maiores ladrões de túmulos da Escócia vendiam os corpos para um professor particular que atendia alunos de anatomia da Escola Médica de Edimburgo. Também mataram 17 pessoas com igual objetivo. Hare entregou o parceiro, enforcado em 1829, e nunca mais foi visto.
JACK, O ESTRIPADOR Em 1888, mutilou e matou pelo menos cinco prostitutas do bairro londrino de Whitechapel. Os crimes levaram outros assassinos a imitar seu método: as vítimas eram estranguladas, tinham a garganta cortada e alguns órgãos removidos. Nunca foi identificado.
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bra a Dinastia Windsor
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SEÇÕES E MATÉRIAS A chegada ao fundo do mar atualidades
TECNOLOGIA
O segredo do abismo Há 50 anos, o homem visitava o ponto mais profundo da Terra Na madrugada de 23 de janeiro de 1960, o navio militar USS Wandank atirava cargas de TNT sobre o oceano Pacífico. A embarcação havia saído na noite anterior da base americana na ilha de Guam, 289 km dali, e tentava localizar o ponto mais profundo do planeta, calculando quanto tempo levava entre as explosões e a chegada do som à superfície. A busca durou a noite toda. Os resultados apareceram apenas antes do amanhecer, na fossa das Marianas. O navio estava pronto, então, para liberar sua carga mais valiosa: o batiscafo Trieste. Construído especialmente para alcançar grandes profundidades, o submarino serviu como transporte dos oceanógrafos Jacques Piccard e Don Walsh ao fundo do oceano. Descendo à média de 90 cm por segundo, a viagem era tediosa, sem nada para ver e ouvindo apenas o barulho do oxigênio sendo liberado. Mas, a 9,8 mil m, aconteceu uma explosão ensurdecedora. A proteção plástica externa não resistiu à pressão marítima e rachou — sem interferir na janela interna. Apesar do pavor, É liberado ao mar
8:10
Começa a descida ao fundo
8:15
Atinge o primeiro quilômetro
9:20
os cientistas decidiram prosseguir. Ao bater no fundo, levantando uma nuvem de poeira, o aparelho ligou os motores e as luzes e começou a vasculhar. A equipe encontrou um linguado sobrevivendo a 8 km da luz solar e a uma pressão mil vezes maior que a da superfície — provando que há vida em regiões inóspitas. O Trieste foi aposentado em 1963 e sua façanha nunca foi superada. Os batiscafos foram substituídos em grande parte por sondas robóticas, a maioria não tripulada. Em 1998, o robô japonês Keiko explorou de volta a Challenger Deep (nome do fosso) e, em 2009, o americano Nereus também foi até lá. Para o oceanógrafo Afrânio Rubens de Mesquita, da USP, os resultados são significativos. “Além da revolução tecnológica, ninguém imaginava que haveria vida em ambientes tão extremos, sem luz solar e fotossíntese.” Em um sentido mais prático e atual, foi o batiscafo e seus sucessores que possibilitaram a exploração do petróleo em grandes profundidades, inclusive na costa brasileira. Fábio Marton
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PELAS PROFUNDEZAS
O que havia de diferente no batiscafo Trieste 1 000 m Propulsor
MERGULHOS As investidas do homem na escuridão oceânica
Entrada
Lastro
2 000 m
1930 BATHYSPHERE Gasolina
O submarino atinge os inéditos 900 m de profundidade
Água
3 000 m
1963 TRIESTE Com dois tripulantes, alcança o ponto mais fundo do Pacífico
4 000 m
DESCIDA
5 000 m
Para afundar, a gasolina do tanque (de 85 mil litros) era substituída pela água do mar — mais pesada, ela ocupava o espaço da gasolina quando a portinhola era aberta. Havia ainda o peso de lastros metálicos.
PERDENDO PESO Nove toneladas de bolinhas de ferro eram liberadas para emergir. Lastros adicionais de água eram soltos em profundidades menores — como em um submarino regular.
6 000 m
VISÃO QUENTE As lâmpadas eram de tipo arco voltaico (sem a camada de vidro). Elas tinham de ser desligadas por breves períodos, já que ferviam a água ao redor quando ficavam muito tempo ativas.
7 000 m
1964 DSV ALVIN Em 45 anos de operações, o robô fez mais de 4 mil viagens
1988 ROV VENTANA O primeiro robô não tripulado desce a 2 mil metros
1994 DEEP ROVERS Um envoltório transparente dá visibilidade à tripulação
2009 NEREUS
Espessura da parede: 12 cm
Área total da cabine: 5,27 m3
O moderno robô autônomo volta à escuridão da Challenger Deep
8 000 m
Liberam lastro para diminuir a velocidade
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8 200 m
Perdem o contato com a superfície
12:00
9 000 m
Proteção plástica racha com a pressão
12:05
Atinge o fundo do mar
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CARRO BLINDADO A cabine esférica distribui de forma igual a pressão. Já a janela de painéis de acrílico tem um perfil cônico e abertura interna menor que a externa. Ali dentro, a temperatura era de 7 ºC.
9 800 m 10 000 m
10 920 m
3 ºC
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11 000 m
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Museu reaberto na Alemanha
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SEÇÕES E MATÉRIAS História do Jazz - Colagem feita com fotos (produção e de agência)
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Dixieland Jazz Band, liderada pelo cornetista branco Nick LaRocca. Só que, naquele ano, os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial, e uma lei proibiu a existência de áreas de prostituição num raio de até 5 milhas das bases militares. Storyville, fora dos limites da nova lei, foi fechada pela Marinha americana. Os músicos, sem lar, subiram pelo rio Mississipi até Chicago. Em 1915, a banda do trombonista Town Brown foi apresentada num clube de Chicago como a Brown’s Dixieland Jass Band, de Nova Orleans. Era a primeira vez que a palavra “jazz”, ou, como era no começo, jass, era usada em público. Alguns dizem que o termo remete ao perfume de jasmim das prostitutas de Storyville. Outros, que é uma adaptação do verbo francês jaser (tagarelar). Na versão mais difundida, jazz seria uma gíria para o ato sexual. Em 1920, a indústria fonográfica percebeu o potencial do jazz e investiu nele. De 27 milhões de álbuns vendidos em 1914, houve um salto para 100 milhões sete anos depois. Mas, entre 1922 e 1923, quase meio milhão de negros deixaram o sul do país rumo a Chicago e Nova York em busca de oportunidade nos centros industriais. A música seguiu esse mesmo caminho, de Chicago a Nova York, onde cresceu e respirou novos ares. Nova York era a capital dos salões de dança e dos bares clandestinos pós-Lei Seca, que proliferavam: neles, músicos eram atrações para chamar público. No Harlem, dois líderes de banda, um branco e um negro, duelavam numa tentativa de orquestrar a música. Paul Whiteman e Fletcher Henderson eram as estrelas da cidade. Em 1924, o jovem Louis Armstrong,
amantes negras), nasciam os embriões de um gênero musical que tornaria a vida dos negros de lá mais feliz.
Uma mistura de tudo Esses embriões eram o blues e o ragtime. O primeiro era a versão profana dos cantos e gritos religiosos. Já o ragtime era uma música alegre, que trazia a combinação de elementos europeus (só podia ser tocada por quem lia música) e africanos (o ritmo). Ninguém sabe exatamente quando, mas foi da fusão do ragtime e do blues, acrescida da antiga tradição de brass bands (bandas que seguiam em carroças e animavam de casamentos a funerais), que surgiu o jazz – ou o estilo Nova Orleans, como ficou conhecido nos primeiros anos. “O jazz não só é uma forma de arte afro-americana como é uma mistura única de música popular e arte”, diz o sociólogo Paul Lopes, autor de The Rise of a Jazz Art World (“A ascensão de um mundo do jazz arte”, inédito em português). É muito difundida (mas sem comprovação) a história de que, como os negros não sabiam ler música, o líder da banda aprendia uma canção e os demais integrantes criavam em torno do tema básico, para compensar a falta de conhecimento técnico. Isso teria resultado numa das principais características do jazz: o improviso. A banda considerada a pioneira da nova música foi a de Buddy Bolden, no fim do século 19. King Bolden, como foi chamado (e de quem se diz que era possível ouvir a corneta de qualquer parte da cidade), colocou personalidade naquela música acelerada. A primeira gravação de jazz surgiu mais tarde, em março de 1917: duas músicas que foram lançadas pela Original
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Admirado e perseguido Só que, em outubro de 1929, a Bolsa de Nova York quebrou e a farra acabou. O país contabilizava 15 milhões de desempregados no começo dos anos 30 e a indústria fonográfica entrou em colapso. Os 100 milhões de discos vendidos por ano passaram a 6 mil. O jazz estava, então, prestes a mudar de nome: passou a atender pelo apelido de swing, uma música dançante feita pelas orquestras. Em 1933, o New Deal, a política de recuperação da economia, reanimou o país. E o swing tornou-se a trilha sonora da esperança. Em plena crise, as pessoas enchiam os salões de baile, palco de centenas de bandas. Como a de Tommy Dorsey, por onde passou um cantor magrelo de Nova Jersey chamado Frank Sinatra. Quando os Estados Unidos se recuperavam da Depressão no fim dos anos 30, um novo pólo da música americana surgiu. Kansas City era uma cidade aberta para o mundo, com músicos vindos de toda parte do país.
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Lá, em 1937, a orquestra do pianista Count Basie ganhou o reforço da cantora Billie Holiday. No mesmo ano, Ella Fitzgerald começou a cantar na orquestra de Chick Webb. Em março de 1939, a música negra atravessou o oceano e Duke Ellington excursionou com sua orquestra pela Europa. Em Hamburgo, seus músicos não puderam sair do trem nem para esticar as pernas – os nazistas chamavam o jazz de “música negra judia”. A guerra era, então, uma questão de tempo. Ellington voltou em maio, Hitler invadiu a Polônia em setembro. Em dezembro de 1941 a América entrou na guerra, e o jazz foi junto. Orquestras foram desfeitas, porque vários músicos foram convocados, e o som serviu como símbolo da democracia em contraponto à limpeza étnica. Os nazistas, afinal, tinham razão na sua definição do jazz. Entre as maiores estrelas da música, Benny Goodman e Artie Shaw eram judeus, Count Basie, Duke Ellington e Louis Armstrong eram negros. No fim de 1941, os alemães haviam conquistado boa parte da Europa, mas não conseguiram evitar que o jazz se entranhasse em seus domínios. Os swing kids, como eram chamados os jovens fãs da música americana, ouviam jazz escondidos da Gestapo. Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, vendo que não conseguiria vencer a música, criou uma orquestra própria, que veiculava conhecidas melodias da era do swing, mas com letras anti-semitas. A estratégia era propaganda para os aliados – o alemão que fosse pego ouvindo jazz era punido. Longe dali, no clube nova-iorquino Minton’s Playhouse, um grupo talentoso andava insatisfeito com os rumos
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Como o jazz nasceu do encontro de se desenvolveu em Chicago e Nova M da nação mais poderosa do mundo
POR Jardel Sebba DESIGN Michele Kanashiro ILUSTR
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ova Orleans, no estado americano da Louisiana, era no século 19 o que Paris só viria a ser mais de 100 anos depois: uma festa. A cidade, fundada em 1718, havia sido território francês e espanhol antes de ser comprada pelos Estados Unidos, em 1803, numa transação de 11 milhões de dólares na época. Seu porto a tornara um grande pólo de escravos, vindos principalmente da África ocidental. Além disso, a proximidade com o rio Mississipi levara para a cidade todo tipo de gente: franceses e chineses, exilados e aventureiros. Dos antigos colonizadores, Nova Orleans herdara a tolerância católica a manifestações dos escravos – bem diferente do resto do país, protestante. Aos domingos, os escravos podiam exibir suas danças e cantos em Congo Square. Desde o século 18, ainda sob domínio dos franceses, o carnaval, chamado de Mardi Gras, era tradicioLouis Armstrong: a face da festa que eram os Estados Unidos nos anos 20
© PRODUÇÃO ANDREA SILVA FOTOGRAFIA ALEX SILVA ILUSTRAÇÃO SOBRE FOTO: 1 MICHAEL OCHS ARCHIVES/CORBIS/LATINSTOCK
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amantes negras), nasciam os embriões de um gênero musical que tornaria a vida dos negros de lá mais feliz.
trompetes
Uma mistura de tudo
Como o jazz nasceu do encontro de culturas em Nova Orleans, se desenvolveu em Chicago e Nova York e se tornou um símbolo da nação mais poderosa do mundo no século 20 POR Jardel Sebba DESIGN Michele Kanashiro ILUSTRAÇÕES Murilo Maciel
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ova Orleans, no estado americano da Louisiana, era no século 19 o que Paris só viria a ser mais de 100 anos depois: uma festa. A cidade, fundada em 1718, havia sido território francês e espanhol antes de ser comprada pelos Estados Unidos, em 1803, numa transação de 11 milhões de dólares na época. Seu porto a tornara um grande pólo de escravos, vindos principalmente da África ocidental. Além disso, a proximidade com o rio Mississipi levara para a cidade todo tipo de gente: franceses e chineses, exilados e aventureiros. Dos antigos colonizadores, Nova Orleans herdara a tolerância católica a manifestações dos escravos – bem diferente do resto do país, protestante. Aos domingos, os escravos podiam exibir suas danças e cantos em Congo Square. Desde o século 18, ainda sob domínio dos franceses, o carnaval, chamado de Mardi Gras, era tradicio-
nalíssimo. Um jornal de 1838 revelava a nova mania de trompetes e cornetas que tomava conta da cidade. Nova Orleans tinha tanta fama de licenciosidade que um bairro foi criado em 1897, Storyville, para abrigar a zona de meretrício. Era uma tentativa de delimitar a prostituição. A musicalidade da cidade não se restringia aos trompetes e atingia as camadas mais miseráveis da população. Os escravos se esqueciam da expectativa de vida de 36 anos entoando as chamadas canções de trabalho (work songs), cantadas nas plantações e na construção das ferrovias, as canções religiosas de fé ou de lamentação (spirituals) e um tipo de interação aprendido nas igrejas, o “chamado e resposta” (call and response), em que o pastor conclamava e os fiéis respondiam. De uma fusão dos elementos musicais africanos com o som de bandas militares e a tradição erudita européia, ensinada a colonos e créoles (os filhos, livres, dos antigos colonos europeus com suas
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Louis Armstrong: a face da festa que eram os Estados Unidos nos anos 20
Esses embriões eram o blues e o ragtime. O primeiro era a versão profana dos cantos e gritos religiosos. Já o ragtime era uma música alegre, que trazia a combinação de elementos europeus (só podia ser tocada por quem lia música) e africanos (o ritmo). Ninguém sabe exatamente quando, mas foi da fusão do ragtime e do blues, acrescida da antiga tradição de brass bands (bandas que seguiam em carroças e animavam de casamentos a funerais), que surgiu o jazz – ou o estilo Nova Orleans, como ficou conhecido nos primeiros anos. “O jazz não só é uma forma de arte afro-americana como é uma mistura única de música popular e arte”, diz o sociólogo Paul Lopes, autor de The Rise of a Jazz Art World (“A ascensão de um mundo do jazz arte”, inédito em português). É muito difundida (mas sem comprovação) a história de que, como os negros não sabiam ler música, o líder da banda aprendia uma canção e os demais integrantes criavam em torno do tema básico, para compensar a falta de conhecimento técnico. Isso teria resultado numa das principais características do jazz: o improviso. A banda considerada a pioneira da nova música foi a de Buddy Bolden, no fim do século 19. King Bolden, como foi chamado (e de quem se diz que era possível ouvir a corneta de qualquer parte da cidade), colocou personalidade naquela música acelerada. A primeira gravação de jazz surgiu mais tarde, em março de 1917: duas músicas que foram lançadas pela Original
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OS EMBAIXADORES DO RITMO
A pátria de
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trompetista de Nova Orleans, deixou a banda do pioneiro Joe Oliver e se juntou à de Henderson, em Nova York. E o jazz nunca mais foi o mesmo. Em meados da década de 20, os Estados Unidos eram a terra da prosperidade, e a juventude do país dançava ao ritmo das orquestras. A nação vivia uma busca desenfreada pelo prazer – e a genialidade de Armstrong era a face mais visível dessa festa. Entre 1925 e 1928, ele e seus grupos Hot Five e Hot Seven fizeram o estilo deixar de ser apenas uma música coletiva e virar arte. O jazz passou a ser alvo do fascínio que o mundo tinha pela América, uma nação vibrante.
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Dixieland Jazz Band, liderada pelo cornetista branco Nick LaRocca. Só que, naquele ano, os Estados Unidos entraram na Primeira Guerra Mundial, e uma lei proibiu a existência de áreas de prostituição num raio de até 5 milhas das bases militares. Storyville, fora dos limites da nova lei, foi fechada pela Marinha americana. Os músicos, sem lar, subiram pelo rio Mississipi até Chicago. Em 1915, a banda do trombonista Town Brown foi apresentada num clube de Chicago como a Brown’s Dixieland Jass Band, de Nova Orleans. Era a primeira vez que a palavra “jazz”, ou, como era no começo, jass, era usada em público. Alguns dizem que o termo remete ao perfume de jasmim das prostitutas de Storyville. Outros, que é uma adaptação do verbo francês jaser (tagarelar). Na versão mais difundida, jazz seria uma gíria para o ato sexual. Em 1920, a indústria fonográfica percebeu o potencial do jazz e investiu nele. De 27 milhões de álbuns vendidos em 1914, houve um salto para 100 milhões sete anos depois. Mas, entre 1922 e 1923, quase meio milhão de negros deixaram o sul do país rumo a Chicago e Nova York em busca de oportunidade nos centros industriais. A música seguiu esse mesmo caminho, de Chicago a Nova York, onde cresceu e respirou novos ares. Nova York era a capital dos salões de dança e dos bares clandestinos pós-Lei Seca, que proliferavam: neles, músicos eram atrações para chamar público. No Harlem, dois líderes de banda, um branco e um negro, duelavam numa tentativa de orquestrar a música. Paul Whiteman e Fletcher Henderson eram as estrelas da cidade. Em 1924, o jovem Louis Armstrong,
trompetista de Nova Orleans, deixou a banda do pioneiro Joe Oliver e se juntou à de Henderson, em Nova York. E o jazz nunca mais foi o mesmo. Em meados da década de 20, os Estados Unidos eram a terra da prosperidade, e a juventude do país dançava ao ritmo das orquestras. A nação vivia uma busca desenfreada pelo prazer – e a genialidade de Armstrong era a face mais visível dessa festa. Entre 1925 e 1928, ele e seus grupos Hot Five e Hot Seven fizeram o estilo deixar de ser apenas uma música coletiva e virar arte. O jazz passou a ser alvo do fascínio que o mundo tinha pela América, uma nação vibrante.
Admirado e perseguido Só que, em outubro de 1929, a Bolsa de Nova York quebrou e a farra acabou. O país contabilizava 15 milhões de desempregados no começo dos anos 30 e a indústria fonográfica entrou em colapso. Os 100 milhões de discos vendidos por ano passaram a 6 mil. O jazz estava, então, prestes a mudar de nome: passou a atender pelo apelido de swing, uma música dançante feita pelas orquestras. Em 1933, o New Deal, a política de recuperação da economia, reanimou o país. E o swing tornou-se a trilha sonora da esperança. Em plena crise, as pessoas enchiam os salões de baile, palco de centenas de bandas. Como a de Tommy Dorsey, por onde passou um cantor magrelo de Nova Jersey chamado Frank Sinatra. Quando os Estados Unidos se recuperavam da Depressão no fim dos anos 30, um novo pólo da música americana surgiu. Kansas City era uma cidade aberta para o mundo, com músicos vindos de toda parte do país.
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Lá, em 1937, a orquestra do pianista Count Basie ganhou o reforço da cantora Billie Holiday. No mesmo ano, Ella Fitzgerald começou a cantar na orquestra de Chick Webb. Em março de 1939, a música negra atravessou o oceano e Duke Ellington excursionou com sua orquestra pela Europa. Em Hamburgo, seus músicos não puderam sair do trem nem para esticar as pernas – os nazistas chamavam o jazz de “música negra judia”. A guerra era, então, uma questão de tempo. Ellington voltou em maio, Hitler invadiu a Polônia em setembro. Em dezembro de 1941 a América entrou na guerra, e o jazz foi junto. Orquestras foram desfeitas, porque vários músicos foram convocados, e o som serviu como símbolo da democracia em contraponto à limpeza étnica. Os nazistas, afinal, tinham razão na sua definição do jazz. Entre as maiores estrelas da música, Benny Goodman e Artie Shaw eram judeus, Count Basie, Duke Ellington e Louis Armstrong eram negros. No fim de 1941, os alemães haviam conquistado boa parte da Europa, mas não conseguiram evitar que o jazz se entranhasse em seus domínios. Os swing kids, como eram chamados os jovens fãs da música americana, ouviam jazz escondidos da Gestapo. Joseph Goebbels, ministro da propaganda nazista, vendo que não conseguiria vencer a música, criou uma orquestra própria, que veiculava conhecidas melodias da era do swing, mas com letras anti-semitas. A estratégia era propaganda para os aliados – o alemão que fosse pego ouvindo jazz era punido. Longe dali, no clube nova-iorquino Minton’s Playhouse, um grupo talentoso andava insatisfeito com os rumos
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Miles Davis: o fã de rock que reinventou o jazz diversas vezes
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Em 1956, em plena Guerra Fria, a propaganda soviética mostrava os americanos como um povo de pouca cultura e sofisticação, em contraponto aos expressivos nomes do balé russo. Por isso, naquele ano, o governo de Dwight D. Eisenhower decidiu esquecer a segregação em seu país e promoveu excursões de músicos de jazz a nações estratégicas, transformando-os em meio de divulgação de valores como democracia e integração racial. O primeiro dos chamados “embaixadores do jazz” foi o trompetista Dizzy Gillespie, que ainda em 1956 embarcou numa
turnê pelo Oriente Médio e pelo s Europa. Benny Goodman foi para da Ásia, Louis Armstrong para a Á Duke Ellington para a Índia. O pro durou até 1978, mas nem tudo foi harmônico. Armstrong, por exem recusou-se a ir a Moscou em 1957 porque Eisenhower não havia ga a execução no Arkansas de uma l que proibia a segregação de crian negras nas escolas. Preocupado c repercussão, o governo interveio a nossa: o trompetista tocou no T Paramount, atual Teatro Abril, em Paulo, em dezembro daquele ano
do jazz. Charlie Parker, dispensado do serviço militar por causa do vício em heroína, e o trompetista Dizzy Gillespie se juntaram e, em 1945, a dupla entrou em estúdio. Uma nova música estava em curso. Com o fim da guerra, as orquestras dançantes saíram de moda e o novo estilo ganhava um nome: bebop. Rápido, com possibilidades intermináveis, o bebop foi um dos períodos mais influentes da história do jazz. “Ele virou uma página da história do jazz por ser transcendental e conseqüente”, diz o pesquisador musical Zuza Homem de Mello, um dos maiores especialistas em jazz no Brasil. “O bebop é o momento em que o jazz deixa de ser só uma música social e passa a ser, também, uma forma de arte”, afirma o jornalista americano Ashley Khan, autor de livros sobre o jazz. O bop, porém, espantou o grande público. Mas revoluções ainda aconteceriam, lideradas por um jovem trompetista de St. Louis, Mi-
les Davis. Ele buscou um esti poucas notas, mas as notas cert pois, foi a Paris, conheceu Pic Jean-Paul Sartre e, na volta, ain um negro num país segregado o levou ao vício da heroína – aliás, que não era exclusividad Charlie Parker, notório consu morto em 1955, foi examinado p legista que estimou sua idade e e 60 anos. Ele tinha 34. O jazz, porém, continuou do. Em 1959, Miles Davis reuni banda excepcional e gravou K Blue, disco mais vendido da h do jazz (estimam-se 5 milhões pias). A novos estilos que sur como o hard bop e o cool jazz, sico Ornette Coleman acresce free jazz (1959). A música ain renovada por Miles, que, no década, trocou as bases conv nais pela guitarra elétrica e s zadores. Era o jazz fusion. Em mesmo Miles disse que o jazz morto. De fato, se ele fora respo
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OS EMBAIXADORES DO RITMO Quando os músicos de jazz viraram representantes oficiais do país Em 1956, em plena Guerra Fria, a propaganda soviética mostrava os americanos como um povo de pouca cultura e sofisticação, em contraponto aos expressivos nomes do balé russo. Por isso, naquele ano, o governo de Dwight D. Eisenhower decidiu esquecer a segregação em seu país e promoveu excursões de músicos de jazz a nações estratégicas, transformando-os em meio de divulgação de valores como democracia e integração racial. O primeiro dos chamados “embaixadores do jazz” foi o trompetista Dizzy Gillespie, que ainda em 1956 embarcou numa
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Miles Davis: o fã de rock que reinventou o jazz diversas vezes
ilo com tas. Decasso e nda era o, o que droga, de sua. umidor, por um entre 54
viveniu uma Kind of história s de córgiram, , o múentou o nda foi fim da venciosintetim 1975, o z estava onsável
les Davis. Ele buscou um estilo com poucas notas, mas as notas certas. Depois, foi a Paris, conheceu Picasso e Jean-Paul Sartre e, na volta, ainda era um negro num país segregado, o que o levou ao vício da heroína – droga, aliás, que não era exclusividade sua. Charlie Parker, notório consumidor, morto em 1955, foi examinado por um legista que estimou sua idade entre 54 e 60 anos. Ele tinha 34. O jazz, porém, continuou vivendo. Em 1959, Miles Davis reuniu uma banda excepcional e gravou Kind of Blue, disco mais vendido da história do jazz (estimam-se 5 milhões de cópias). A novos estilos que surgiram, como o hard bop e o cool jazz, o músico Ornette Coleman acrescentou o free jazz (1959). A música ainda foi renovada por Miles, que, no fim da década, trocou as bases convencionais pela guitarra elétrica e sintetizadores. Era o jazz fusion. Em 1975, o mesmo Miles disse que o jazz estava morto. De fato, se ele fora responsável
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país
sul da a o leste África e ograma i mplo, 7 arantido lei nças com a o. Sorte Teatro m São o.
do jazz. Charlie Parker, dispensado do serviço militar por causa do vício em heroína, e o trompetista Dizzy Gillespie se juntaram e, em 1945, a dupla entrou em estúdio. Uma nova música estava em curso. Com o fim da guerra, as orquestras dançantes saíram de moda e o novo estilo ganhava um nome: bebop. Rápido, com possibilidades intermináveis, o bebop foi um dos períodos mais influentes da história do jazz. “Ele virou uma página da história do jazz por ser transcendental e conseqüente”, diz o pesquisador musical Zuza Homem de Mello, um dos maiores especialistas em jazz no Brasil. “O bebop é o momento em que o jazz deixa de ser só uma música social e passa a ser, também, uma forma de arte”, afirma o jornalista americano Ashley Khan, autor de livros sobre o jazz. O bop, porém, espantou o grande público. Mas revoluções ainda aconteceriam, lideradas por um jovem trompetista de St. Louis, Mi-
turnê pelo Oriente Médio e pelo sul da Europa. Benny Goodman foi para o leste da Ásia, Louis Armstrong para a África e Duke Ellington para a Índia. O programa durou até 1978, mas nem tudo foi harmônico. Armstrong, por exemplo, recusou-se a ir a Moscou em 1957 porque Eisenhower não havia garantido a execução no Arkansas de uma lei que proibia a segregação de crianças negras nas escolas. Preocupado com a repercussão, o governo interveio. Sorte a nossa: o trompetista tocou no Teatro Paramount, atual Teatro Abril, em São Paulo, em dezembro daquele ano.
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Gillespie (acenando) e Ella Fitzgerald em excursão em 1956
por 70% das vendas de disco em 1930, naquele ano respondia por 3%. Mas o jazz estava longe de ver seus últimos dias – como ainda está. “Basta ir a Nova Orleans para se ouvir música em todos os cantos”, diz Edgard Radesca, diretor do Bourbon Street, casa de jazz paulistana, que percebeu que a música ficou ainda mais forte por lá depois da tragédia do furacão Katrina, em 2005. “A música que representa o orgulho da América negra hoje é o hip hop. Mas se alguém for retratar o período em que vivemos hoje, quem você acha que o fará, um músico de jazz ou a Britney Spears? O primeiro, com certeza”, diz Ashley Khan.
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saiba mais LIVRO No Mundo do Jazz, François Billard, Companhia das Letras, 1989 Abordagem humana sobre a vida cotidiana dos homens que fizeram a história do jazz, das raízes do estilo até os anos 50. DVD Jazz – Um Filme de Ken Burn, 2002 Documentário de 12 episódios, com uma hora cada um.
TOGRAFIA ALEX SILVA ILUSTRAÇÃO SOBRE FOTO: 1 BETTMANN/CORBIS/LATINSTOCK
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Gillespie (acenando) e Ella Fitzgerald em excursão em 1956
por 70% das vendas de disco em 1930, naquele ano respondia por 3%. Mas o jazz estava longe de ver seus últimos dias – como ainda está. “Basta ir a Nova Orleans para se ouvir música em todos os cantos”, diz Edgard Radesca, diretor do Bourbon Street, casa de jazz paulistana, que percebeu que a música ficou ainda mais forte por lá depois da tragédia do furacão Katrina, em 2005. “A música que representa o orgulho da América negra hoje é o hip hop. Mas se alguém for retratar o período em que vivemos hoje, quem você acha que o fará, um músico de jazz ou a Britney Spears? O primeiro, com certeza”, diz Ashley Khan.
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saiba mais LIVRO No Mundo do Jazz, François Billard, Companhia das Letras, 1989 Abordagem humana sobre a vida cotidiana dos homens que fizeram a história do jazz, das raízes do estilo até os anos 50. DVD Jazz – Um Filme de Ken Burn, 2002 Documentário de 12 episódios, com uma hora cada um.
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