Mapeamento do ensino de jornalismo digital no Brasil em 2010

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S達o Paulo 2010 3


Direção editorial: Claudiney Ferreira Organização: Alex Primo Coordenação: Babi Borghese Edição de texto: Maria José Silveira Revisão de texto: Kiel Pimenta Assistente de pesquisa: Vivian Belochio Produção editorial: Lara Daniela Gebrim e Maria Clara Matos TEXTOS E ENSAIOS

Aline Strelow Ana Gruszynski Bernardete Toneto Leonardo Cunha Sandra Machado Soraya Venegas Thiago Soares Vitor Necchi Fotos

Christina Rufatto PROJETO GRÁFICO E Design

Marina Chevrand Ilustrações

Arthur d’Araujo Jornalista responsável

Claudiney Ferreira MTB 12742 4


As novas habilidades do jornalista, as redações on-line e/ou digitais, Twitter agora é jornalismo, a informação em primeira mão nas redes sociais. Conteúdo aberto ou fechado? Depois de lançarmos em 2008 o Mapeamento do Ensino de Jornalismo Cultural no Brasil em 2008, a escolha do tema do mapeamento do Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural foi rápida e natural. O ensino dos conceitos e das práticas jornalísticas em meio digital apresentouse com força e em momento oportuno. O Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil em 2010 é fruto do trabalho dos oito professores selecionados pelo programa. Para orientar o trabalho e a edição do mapeamento, nossa escolha recaiu sobre a figura do professor e blogueiro Alex Primo, uma das referências brasileiras no ensino do jornalismo digital. Foram oito meses de trabalho até chegarmos a esta publicação, sendo que a primeira fase – cerca de seis meses – ocorreu dentro do ambiente do Fórum On-Line de Professores, parente do Laboratório On-Line de Jornalismo Cultural criado para a Carteira Estudante. Toda a história desta edição do programa e da construção deste mapeamento e das atividades da Carteira Estudante está disponível no dossiê O Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010. As revistas :singular nº 2 e Princípios Inconstantes são as outras publicações do programa nesse período. Como se trata de um mapeamento original e inédito no Brasil, distribuir e receber o maior número possível de questionários era nosso objeto de maior atenção. Uma força-tarefa de professores e produtores do Itaú Cultural conseguiu um retorno (uma vitória, diga-se) que vale aqui registrar. Foram encaminhados 322 questionários (quase a totalidade dos cursos brasileiros de jornalismo), com cerca de 32% de resposta, um índice muito bom para esse tipo de trabalho (ver 1.0. Buscando Ferramentas e Dados, de Thiago Soares). De posse dos dados, Alex e os professores começaram a pensar e a escrever sobre o estado do ensino de jornalismo digital em nosso país. Como o leitor poderá perceber, os dados apresentados pelas faculdades e as reflexões dos professores acabam por tocar não só no caso do ensino do jornalismo on-line, mas em todo o processo de ensino dos cursos de comunicação. Esse aspecto do livro é bem marcado no capítulo 6.0. Deixe seu Comentário – A Opinião de Cada Professor, onde cada um dos selecionados ocupa seu espaço pessoal de reflexão sobre o mapeamento e as coisas do ensino do jornalismo no Brasil. Esses são apenas alguns dos destaques do Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil em 2010. Muito mais está disponível neste trabalho que reforça o compromisso do Itaú Cultural com a formação de um dos importantes elementos do sistema cultural de qualquer país, o jornalista de cultura. É também uma aposta no futuro do jornalismo, cada vez mais presente na vida das pessoas.

Núcleo Diálogos Itaú Cultural 5


Acessando o portal 2010: introdução ao mapeamento Alex Primo pág. 8

Buscando ferramentas e dados Thiago Soares pág. 12

Backup do jornalismo digital Aline Strelow, Ana Gruszynski e Vitor Necchi pág. 18

O ensino do jornalismo digital no Brasil: página em construção Aline Strelow, Ana Gruszynski, Bernardete Toneto, Leonardo Cunha, Sandra Machado, Soraya Venegas, Thiago Soares e Vitor Necchi pág. 30

Lincando teoria e prática: os produtos laboratoriais Sandra Machado e Soraya Venegas pág. 58

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Clicando no hipertexto: seis professores debatem o jornalismo digital e seu ensino Bernardete Toneto e Leonardo Cunha

pág. 80

Deixe seu comentário – a opinião de cada professor Aline Strelow, Ana Gruszynski, Bernardete Toneto, Leonardo Cunha, Sandra Machado, Soraya Venegas, Thiago Soares e Vitor Necchi pág. 100

uma reflexão sobre as descobertas deste mapeamento Alex Primo pág. 136

O PROCESSO

pág. 146

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Acessando o portal 2010: introdução ao mapeamento Alex Primo

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O ano de 2010 iniciou ambicioso: queria ficar na história do jornalismo digital. Logo em janeiro, o lançamento de uma inovação tecnológica apontava novos caminhos para os periódicos noticiosos. A chegada do tão esperado tablet da Apple, o iPad, anunciava que o jornalismo poderia se reinventar com base em uma nova plataforma informática. As primeiras versões dos aplicativos da revista Time, do jornal The New York Times e da agência de notícias Associated Press para o iPad revelavam que a criatividade e a ousadia poderiam recuperar o prazer da leitura de jornais e revistas na rede. Para as instituições midiáticas, o iPad passou a representar talvez um último suspiro na cobrança por conteúdo, já que na web as pessoas acostumaram-se a não pagar pela leitura de notícias. A expectativa de que a propaganda bancaria a gratuidade dos sites noticiosos e ainda geraria vultosos lucros não se confirmou. Em meio a tantos debates sobre como cobrar por acesso de notícias na web – a maior parte deles liderada pelo titã da mídia Rupert Murdoch –, o The New York Times anuncia, também no início de 2010, sua decisão de oferecer apenas um punhado de textos de forma gratuita. Os leitores interessados em ampliar a leitura do jornal on-line precisarão pagar uma assinatura mensal a partir de 2011. O jornal londrino The Times, propriedade de Murdoch, adiantou-se e fechou seu conteúdo para não pagantes em julho de 2010. O resultado: queda de 66% de leitores. Resta saber se a estratégia terá o mesmo sucesso alcançado pelo The Wall Street Journal, do mesmo grupo. Esse último, no entanto, conta com um público muito especializado, que depende das informações econômicas do periódico. No Brasil, a Associação Nacional de Jornais, durante o 8º Congresso Brasileiro de Jornais, realizado no Rio de Janeiro em agosto de 2010, declarou que está negociando um acordo com sites de busca. Se as tratativas tiverem sucesso, os leitores serão levados diretamente aos sites dos jornais on-line. Como o Google reproduz notícias de terceiros em serviços como Google News, a empresa se capitaliza com material noticioso de empresas jornalísticas sem pagar royalties. Durante o congresso, o palestrante Gavin O’Reilly, presidente da Associação Mundial de Jornais e Editores de Mídia, chamou o Google de cleptomaníaco! O ano de 2010 ficará marcado também pela decisão do Grupo Folha de unificar as redações dos jornais impresso e on-line. Tal processo faz parte da reforma gráfica e editorial da Folha de S.Paulo: “A ideia é transformar a redação num centro captador de notícias que funcione 24 horas por dia e produza informação de qualidade para qualquer plataforma”. Mesmo que a reforma tenha frustrado a intenção de apresentar o “jornal do futuro”, conforme slogan divulgado pelo grupo, a convergência das redações indica um novo posicionamento diante da relação impresso/digital. O futuro dos jornais já foi pintado com as mais diferentes cores. Para alguns, o jornal impresso definha diante da escalada dos sites noticiosos. A espera por essa morte anunciada talvez seja abreviada com a chegada do iPad e seus aplicativos jornalísticos. Para outros, é o próprio modelo de negócios do jornalismo que está em crise. As utopias do webjornalismo participativo chegaram a postular que a apuração e a escrita colaborativa tornariam as grandes instituições midiáticas obsoletas. A versão internacional do site coreano OhmyNews, 9


cujo mantra é “Todo cidadão é um repórter”, apresentava-se como um jornal on-line global produzido por colaboradores do mundo inteiro. Mas eis que, em agosto de 2010, o OhmyNews decide descontinuar seu site internacional, alegando dificuldades de edição e checagem do grande volume de matérias recebidas. Se o site mais importante de webjornalismo participativo desiste da empreitada, que certeza se pode ter sobre o futuro do chamado jornalismo cidadão? Enquanto isso, as assinaturas das versões impressas decaem, os jornais digitais reclamam de baixa rentabilidade. E, como o movimento de cobrança de taxas pelo acesso on-line de notícias é recebido com debandada da audiência, pergunta-se mais uma vez: qual o futuro do jornalismo? Nesse mar de incertezas, as universidades brasileiras chegaram a 2010 questionando-se sobre o preenchimento das vagas dos cursos de jornalismo. Com o fim da obrigatoriedade do diploma, definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em junho de 2009, ainda é cedo para confirmar o impacto dessa decisão. Já que falamos em universidades, é hora de questionar: qual é o estado do ensino de jornalismo diante desse cenário em transformação? Como as sucessivas revoluções digitais são incorporadas nos currículos acadêmicos? E de que forma estão sendo preparados nossos alunos para atuar em jornalismo digital? Reconhecendo a importância de registrar momentos históricos da formação em jornalismo, o Itaú Cultural publicou em 2008 o Mapeamento do Ensino de Jornalismo Cultural no Brasil. Em 2010, optou-se por mapear o sistema de ensino de jornalismo digital no país. A escolha desse enfoque não poderia ser mais justa com um ano que já iniciou com tantas novidades na produção noticiosa na internet. O recorte educacional que este livro adota não visa apenas fotografar um instante fugaz do aprendizado acadêmico de jornalismo digital. Esse projeto vai adiante. Os volumosos dados coletados são interpretados de forma crítica e sua repercussão debatida sob diversos prismas interpretativos. Para que se possa compreender de onde vêm os novos jornalistas que passam a atuar nesses novos tempos com essas novas tecnologias (perdão pela redundância forçada!), é preciso olhar não apenas para as disciplinas específicas. Buscou-se compreender como elas se articulam com outras cadeiras do currículo, já que o jornalismo digital não pode ser compreendido como simples “jornalismo tecnológico”. Sim, a familiaridade com o instrumental informático é necessária. Por isso verificou-se a infraestrutura tecnológica disponível nas faculdades. Por outro lado, este projeto dedicou especial atenção à análise crítica dos produtos laboratoriais publicados no ciberespaço. É ali que se pode encontrar a prática jornalística exercitada de forma hipertextual e interativa, respondendo às demandas e limites das interfaces gráficas. Além da grande quantidade de dados quantitativos, uma entrevista em grupo com professores e pesquisadores de jornalismo digital ofereceu ainda mais profundidade a esse mapeamento. Finalmente, o leitor 10


ainda conta com textos reflexivos dos oito professores envolvidos no projeto. As abordagens e os temas são variados, mas todos os capítulos individuais visam debater aspectos do ensino de jornalismo digital no Brasil. A variedade de estilos deste volume – que vai da análise rigorosa de dados quantitativos a textos livres e criativos – revela que este não é um relatório de pesquisa, gênero típico do meio acadêmico. Provavelmente essa combinação de rigor investigativo e criatividade poderia até ser recusada por alguma instituição de pesquisa. Mas é justamente essa riqueza e essa prazerosa liberdade que um projeto financiado por uma instituição não acadêmica permite. Para os próprios professores selecionados pelo Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural, essa experiência parecia representar um grande desafio. Esse é um trabalho de risco, diga-se. Enquanto se investiga o estado do ensino de jornalismo digital no país, as faculdades estão em mutação. Fiel à fugacidade da internet, quando esta obra for lida, é provável que alguns produtos laboratoriais aqui discutidos já não estejam mais na rede. Tragicamente, mapeamentos desse tipo podem envelhecer rápido demais. Mas como conhecer o real se não existem registros de sua história? E, em tempos ciberculturais, já não se espera que uma verdade persista como tal por muito tempo. De toda forma, o retrato que aqui se apresenta servirá como documento referencial a todos que buscarem compreender como as faculdades brasileiras vêm formando seus alunos para atuar neste período tão turbulento. Na verdade, um histórico nacional do ingresso de disciplinas nas grades curriculares ainda precisa ser realizado. Esse não era o propósito deste mapeamento, embora se saiba que o estudo das transformações da comunicação no contexto da cibercultura foi aos poucos entrando nos currículos por meio de disciplinas com títulos ainda vagos como “multimídia” e “novas tecnologias”. Vale destacar os esforços pioneiros da UFBA em incluir atividades de ensino e extensão sobre jornalismo digital desde 1995 (MACHADO; PALACIOS, 2006), ano em que o primeiro jornal on-line foi lançado no Brasil: o JB On-Line1. Este livro não quer apenas congelar instantes do tempo. Busca provocar e inspirar transformações. Se pesquisadores, educadores e diretores de faculdades aqui encontrarem elementos para promover novas dinâmicas de aprendizado em jornalismo digital, esses registros passados serão atualizados instantaneamente em novos futuros. Diante da riqueza de resultados deste mapeamento nacional inédito, pode-se arriscar dizer que se trata de mais um marco no contexto do jornalismo digital em 2010. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA PALACIOS, Marcos; MACHADO, Elias. La experiencia de la enseñanza del periodismo digital en la Facom/ UFBA 1995-2005. Zer Revista de Estudios de Comunicación, Bilbao, v. 11, n. 20, p. 87-103, 2006. 1

Ver: http://jbon-line.terra.com.br/destaques/2005/10anos/memoria.html.

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Buscando ferramentas e dados Thiago Soares

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Os mapas, originalmente, fazem parte da atividade do geógrafo. São representações bidimensionais de espaços, em escala reduzida, capazes de fazer com que enxerguemos um universo inteiro numa folha de papel. Conceber e fabricar mapas são atribuições de cartógrafos, que conseguem traduzir áreas delimitadas, acidentes geográficos, espaços político-administrativos em ícones, legendas, manchas visuais. Fazer mapas é uma atividade secular que demanda tempo, esforço, paciência. Com eles, temos a noção de “até onde podemos chegar”. Sem eles, estaríamos fadados ao não saber. Faço parte, com outros sete professores de cursos de comunicação social/jornalismo de instituições de ensino superior brasileiras, do grupo de selecionados nesta terceira edição do programa Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural 2009-2010. Até onde sei, entre nós não há geógrafos ou cartógrafos. Somos jornalistas e pesquisadores imersos na tentativa de elaborar o Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil em 2010, a cartografia da situação, dos impasses e desafios que cercam o ensino e a aprendizagem dessa modalidade de jornalismo no país. Se observarmos em uma perspectiva histórica, mapas antigos eram imprecisos – tinham escalas ora ampliadas, ora reduzidas demais. Não traziam todos os acidentes geográficos, tinham de ser redesenhados em função das novas divisões político-administrativas. Mas, sem esses primeiros mapas, não poderíamos ter chegado ao atual estágio de visualização da geografia da Terra. Levanto aspectos comparativos neste texto introdutório sobre nosso mapeamento, sobretudo porque, a despeito de todo o esforço empreendido por cada um de nós, com a ajuda valiosa dos professores Alex Primo e Vivian Belochio, cabe destacar a imensa dificuldade que é realizar um trabalho inicial e exploratório de mapeamento. Mas aí também reside a relevância desta pesquisa. Em vários momentos, tenho certeza de que nós – professores, jornalistas e pesquisadores que somos – nos sentíamos como aqueles primeiros cartógrafos. Sendo mais ousado, aqueles cartógrafos que primeiro descobriram que no final da linha do horizonte do mar não havia um abismo, mas, sim, um efeito de visão em função da circunferência da Terra. Mapear o ensino do jornalismo digital demanda um método de trabalho preciso, com etapas a serem cumpridas e a reunião de dados valiosos para usos e reflexões mais acurados. O grande desafio de geógrafos e cartógrafos sempre foi a questão da distorção inevitável que os mapas possuem. Em função da superfície e da curvatura da Terra, o cartógrafo tem de trabalhar com uma “projeção cartográfica”, que matematicamente transforma coordenadas (latitudes e longitudes) em marcas no plano do mapa – necessariamente, provocando distorção. Na nossa atividade de mapeamento, também existe essa inevitabilidade. Sobretudo porque estamos trabalhando com a resposta do outro (coordenadores de cursos, professores de disciplinas). Mas, incorporando o “inevitável da distorção” como parte do discurso que se constrói coletivamente, quero trazer à tona um pouco do processo que resultou neste trabalho que apresentamos aqui. Minha ideia é visualizar as engrenagens desta pesquisa, seus vetores de ação, forças motrizes. Legar é, também, uma forma de incentivar que outros professores, pesquisadores e jornalistas possam se inspirar nessa empreitada e fazer, também, seus próprios mapeamentos. 13


Os números, talvez, demonstrem a dimensão do esforço deste trabalho. Foram 322 universidades pesquisadas, em todos os estados do país, com base na listagem dos cursos de jornalismo do site do MEC (http:// emec.mec.gov.br). Desse total, 31,68% responderam aos questionamentos enviados. O instrumento de pesquisa utilizado foi o questionário com respostas tanto abertas quanto fechadas. Antes dessa etapa, digamos, mais operacional da pesquisa (envio de questionários, tabulação de dados), participamos, em dezembro de 2009, do colóquio “Convergências”, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo, que funcionou tanto como uma forma de conhecermos os colegas de seleção quanto como um alicerce conceitual e reflexivo para podermos discutir as questões ligadas ao jornalismo digital. Foi nessa ocasião que fomos “apresentados” à plataforma de ensino em que desenvolvemos o fórum virtual de discussão para as pesquisas. Com uma interface que lembra a das redes sociais, como Orkut e Facebook, a plataforma B2Learn nos permitiria criar fóruns, chats, documentos e afins para o acompanhamento do andamento das atividades. Em março de 2010, iniciamos, de fato, o processo de pesquisa, que contou com a mediação do professor Alex Primo e da pesquisadora Vivian Belochio. A princípio, realizamos a leitura de uma série de textos que problematizavam a questão do jornalismo digital, seu histórico, sua nomenclatura. Essas primeiras leituras foram fundamentais para sedimentar algumas inquietações em nós, pesquisadores, sobretudo porque quase todos tínhamos mais familiaridade com a modalidade de jornalismo cultural do que com a de jornalismo digital propriamente dito. As leituras desses primeiros textos foram determinantes para o início das discussões nos fóruns on-line: encontros mediados entre nós, pesquisadores, e os condutores da pesquisa através do sistema de bate-papo da plataforma B2Learn. Fundamental ressaltar como os chats, que tinham realização quinzenal, eram extremamente ricos em debates e questionamentos acerca das perspectivas do trabalho. Ressalto um dos momentos cruciais no andamento das perspectivas metodológicas que cercaram a pesquisa: a discussão em torno do modelo de questionário a ser enviado para as universidades. Nessas conversas em tempo real, a discussão fazia-se presente: tentávamos orientar questões para não termos perguntas vagas demais, específicas demais, ou excessos de apuração. A perspectiva era tentar ser o mais preciso possível. Ao longo dos debates e nos textos que fomos lendo e discutindo nos fóruns on-line, chegamos ao projeto “O Ensino de Jornalismo na Era da Convergência Tecnológica. Metodologias, Planos de Estudo e Demandas Profissionais” (www.procadjor.cce.ufsc.br). Trata-se de uma iniciativa contemplada com verba do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad), da Capes, que reúne equipes de quatro instituições brasileiras de ensino superior: Universidade Federal da Bahia (UFBA), Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nesse projeto, havia o modelo de um questionário, que foi apresentado em um artigo escrito pelas pesquisadoras Elizabeth Saad Corrêa e Lia Raquel L. Almeida. O formulário que adotamos (ver boxe) e enviamos durante o mês de maio é, portanto, uma versão simplificada do proposto por esse projeto. Naturalmente, esse instrumento seria um ponto de partida para outras questões e encaminhamentos. Pre14


cisaríamos discutir alguns focos mais específicos, sobretudo no tocante às aproximações entre jornalismo digital e jornalismo cultural. A atividade estava somente começando. Diante do instrumento utilizado para a coleta de informações sobre as instituições, ou seja, o questionário, cabe fazermos uma breve consideração sobre as questões e os limites de interpretação que essa disposição apresenta. Sabe-se que nenhum método dá conta da complexidade da realidade pesquisada e que não se busca o absoluto de uma configuração nas ciências. A perspectiva é, antes de tudo, a de usar de maneira adequada e precisa os dados coletados pelos questionários. Como a construção coletiva permeia todo o processo da pesquisa aqui empreendida, a elaboração do questionário também foi amplamente discutida entre os participantes do projeto. Apesar da busca pela precisão e do norteamento em torno da objetividade que um instrumento como esse detém, é importante ressaltarmos que ele impõe limites de interpretação que precisam ser evidenciados, para que não se caia no perigo das chamadas informalmente “superinterpretações”. A informação de um questionário – um dado, uma colocação, uma resposta – está localizada na superfície de um discurso que diz respeito a uma realidade. Naturalmente, quem pergunta está em busca de compreender essa realidade que vai ser codificada com base nas informações contidas nas respostas. E quem responde, obviamente, tenta sintetizar, em forma de uma codificação, aquela realidade destacada. Esse pequeno sistema de interpretação pode parecer por demais simples, banal, óbvio até. No entanto, quando deparamos com as informações obtidas, na ânsia de pesquisadores em busca de uma hipótese, de um postulado, pode-se tender a fazer generalizações que, de fato, não estão acionadas nos dados coletados. O cruzamento de vários dados, a permuta entre questões e a investigação mais pormenorizada das informações ajudam a sedimentar o terreno da interpretação em busca de uma perspectiva que tenha como fim o entendimento da realidade pesquisada. Nesse sentido, o grupo reunido para este Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil tem como pressuposto entender a realidade dessa área do fazer jornalístico nas instituições de ensino superior no Brasil. O questionário disposto é uma instrumentalização que vai nos fazer enxergar, mesmo a distância, essa prática em análise. O esforço aqui é o de levar aos leitores a realidade desse universo que está expresso nos dados, números e informações. Algumas questões levantadas serviram de ferramenta para novos debates no fórum virtual: a problemática em torno da nomenclatura do termo “jornalismo digital” (e não jornalismo on-line ou webjornalismo, por exemplo), o uso um tanto banalizado do termo “convergência”, entre outros. Passamos para a etapa da divisão das instituições de ensino superior por pesquisador: respeitando as “proximidades” geográficas, as tarefas iam se multiplicando. Até pormenores, como o modelo de texto que iria disposto no e-mail, foram construídos coletivamente: alguém era “escolhido” para realizar a atividade, postava o referido texto e era submetido ao “crivo” dos colegas. Quando não obtivemos a resposta de muitos dos coordenadores de curso, partimos para o contato telefôni15


co. Os questionários respondidos iam chegando, cada pesquisador seguia tabulando os dados no programa Excel. Informações começavam a se “transformar” em números. Nos fóruns on-line, seguiam novas divisões de modelos operacionais: duplas de pesquisadores iriam fazer textos conjuntos de interpretação dos dados, que seriam enviados para um trio que lhes daria uma “cara” coletiva. Importante lembrar que os dados iam sendo cruzados gerando possibilidades de interpretação mais amplas: por exemplo, o porcentual de alunos por computador em relação ao perfil da universidade (pública ou privada), e assim por diante. Outra “frente” de análise das informações existentes nos questionários foi delineada para detalhamentos e observações mais acuradas sobre os produtos laboratoriais das universidades mapeadas. Além dessa perspectiva de construção coletiva, há espaço, aqui, para olhares individuais, construções particularizadas sobre o processo. Nesse sentido, ao final do livro, estão dispostos os capítulos individuais de cada um dos pesquisadores. Ao longo dos debates nos fóruns on-line, submetíamos a “pauta” de nosso texto final. Encaminhamentos, direcionamentos, ajustes eram propostos. O que havia em comum? O interesse de que fizéssemos textos mais soltos, com rigor, mas sem, digamos, o “peso” acadêmico. Diante de tantos números, dados, informações, questionários, confesso que ser “convidado” a dar voos mais ensaísticos foi um alento. Rascunhos eram constantemente postados no B2Learn e a atividade de crítica e reflexão fez-se presente com a consultoria de Maria José Silveira, que discutiu fundamentalmente o projeto editorial da obra: tamanho de capítulos, orientações de redação, estilo etc. A formação do conhecimento, sabemos, dá-se por meio do diálogo. Por isso, adota-se como estratégia de construção do esboço argumentativo desta pesquisa uma etapa chamada de Grupo Focal. Após o envio dos questionários e das respostas obtidas, fomos identificando professores e pesquisadores que poderiam contribuir de maneira mais detida na discussão de temas propostos. Entre eles, seis foram convidados, de várias regiões do Brasil, a participar, na sede do Itaú Cultural, em São Paulo (SP), do Grupo Focal, que tentaria arregimentar temas, questões, referências bibliográficas e sites para servirem de referência para o ensino do jornalismo digital. Assim como um mapa geográfico, começa a tomar forma este livro-mapeamento: com base em indicadores, números e dados, começamos a delinear alguns problemas e potencialidades que você poderá identificar nas páginas a seguir. A premissa é a de que, como acontece com bons mapas, sejamos guiados, com clareza e alguma dose de precisão, pelos meandros das lógicas de ensino dessa tão particular modalidade do jornalismo. Por se tratar de uma prática extremamente contemporânea, é natural que muitas das questões aqui apontadas em breve, no mais tardar amanhã, já estejam obsoletas. Como um bom mapa, este livro vai deixar registradas imagens de um momento em que se pratica o jornalismo digital com essas ferramentas tecnológicas, nessas condições, diante dessas problemáticas. Um bom mapa, como uma boa teoria, faz-nos enxergar e compreender realidades. Hora de abrir os olhos.

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Mapeamento do Ensino dE Jornalismo Digital no Brasil em 2010 Programa Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural 2009-2010

1. Dados da instituição: Nome: Sigla: ( ) Pública ( ) Privada 2. Número de alunos matriculados no curso de jornalismo: 3. Listar disciplinas relacionadas direta ou indiretamente à de jornalismo digital e os períodos (ou módulos) em que elas são oferecidas. Especificar se elas são teóricas, teórico-práticas ou práticas. 4. O jornalismo cultural é trabalhado ou discutido junto às práticas de jornalismo digital? De que maneira? 5. Indique o número de laboratórios destinados à prática do jornalismo digital, o número de computadores por laboratório e a proporção de alunos por micro.

Indique os nomes, e-mails e a maior titulação de cada um. 8. Listar os produtos (portais, sites, blogs etc.) vinculados ao jornalismo digital: Nome: Tipo: URL (endereço na web): 9. Existem núcleos de comunicação responsáveis por produtos laboratoriais na web? ( ) Sim, publica conteúdo próprio, não vinculado a nenhuma disciplina específica. ( ) Sim, reproduz e/ou edita conteúdo produzido em outras disciplinas. ( ) Sim, sistematiza etapas dos processos produtivos de um meio digital (revista, jornal, rádio, TV etc.). ( ) Não. ( ) Outros. Especifique: 10. Por favor, inclua em anexo a grade curricular do curso de jornalismo.

6. Que softwares são utilizados nas aulas práticas de jornalismo digital? 7. Que professores dão aulas de jornalismo digital?

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Backup do jornalismo digital Aline Strelow, Ana Gruszynski e Vitor Necchi

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A práxis jornalística no ciberespaço tem demandado do campo acadêmico a sistematização de conceitos, nomenclaturas e processos que permitam delinear características singulares dos produtos – e seus desdobramentos – que vêm se desenvolvendo nos últimos anos. As perspectivas de estudo são diversas, como podemos verificar na própria composição desta edição proposta pelo Itaú Cultural, e revelam a complexidade de uma área em constituição, que dinamiza e desestabiliza fronteiras que tradicionalmente delimitavam a profissão. Do interesse pelo mapeamento histórico, podemos passar pelo desenvolvimento e definição de produtos, por modelos de narrativas e de design, pelo papel dos internautas e seus modos de interação, pelas novas funções dos jornalistas e suas rotinas de trabalho, pelas novas experiências de tempo e espaço. Enfim, questões não faltam. Portanto, o desafio primeiro parece ser mesmo o de estabelecer pontos de vista com base nos quais se possa refletir sobre a riqueza de experiências que o jornalismo digital vem proporcionando. Como prática social condicionada historicamente, o jornalismo vem atravessando mudanças significativas desde sua constituição. O desenvolvimento da atividade é sistematizado por Marcondes Filho (2000) em cinco fases, que compreendem desde as primeiras manifestações do gênero até a contemporaneidade. Em linhas gerais, a pré-história do jornalismo (1631-Revolução Francesa) assinala um período em que saberes restritos a determinados grupos detentores de poder passam a circular por meio dos jornalistas. O primeiro jornalismo (1789-1830) abarca a profissionalização dos jornais, quando se destacam seus fins pedagógicos e de formação política. O segundo jornalismo (metade século XIX-início século XX) é marcado pela conformação da imprensa moderna regida pelas exigências capitalistas, período em que se confrontam mais fortemente as noções de opinião e informação no campo. O terceiro jornalismo (início século XX-década 1960), por sua vez, é caracterizado pelos monopólios das empresas de comunicação, em que as indústrias publicitárias e de relações públicas tensionam as práticas jornalísticas. O quarto jornalismo (1970-contemporaneidade) é o jornalismo da era tecnológica, que se inicia com a introdução dos computadores nos processos editoriais. A popularização da internet na década de 1990 assinala o amplo uso das tecnologias digitais, com destaque para a interatividade, a velocidade de circulação de informação e a valorização da visualidade, que implicaram profundas mudanças na profissão. Se, em um primeiro momento, as alterações tecnológicas tiveram maior impacto na produção industrial, no âmbito do trabalho cotidiano dos profissionais na produção das notícias, isso se dá, sobretudo, com a constituição da web como nova mídia. Nesse sentido, Machado (2010) afirma que contemporaneamente se destacam dois usos distintos das redes telemáticas: um em que elas auxiliam na coleta de dados para o desenvolvimento de material para os meios clássicos, e outro em que todas as etapas produtivas se dão no espaço de rede, da pesquisa à circulação. Por outro lado, se na prática profissional os meios tradicionais são frequentemente tomados como referência estrutural para a produção de conteúdos dirigidos ao ciberespaço, será justamente na expansão de tal perspectiva que se dará a distinção do jornalismo digital. Hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, 19


personalização, memória e instantaneidade são características (ver Quadro 1) que demarcam modalidades diferenciadas do jornalismo que se conforma nesse novo suporte (BARDOEL; DEUZE, 2000; PALACIOS, 2003): Quadro 1 – Definições das principais características do jornalismo digital

Características do jornalismo digital Convergência dos formatos das mídias tradicioMultimidialidade nais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico Capacidade de fazer com que o leitor se sinta mais diretamente parte do processo jornalístico. Isso pode acontecer de diversas maneiras: pela Interatividade troca de e-mails entre leitores e jornalistas; pela disponibilização da opinião dos leitores, como é feito em sites que abrigam fóruns de discussões; através de chats com jornalistas etc. Interconexão de textos através de links. Possibilidade de, partindo do texto noticioso, fazer links Hipertextualidade para outros textos complementares (fotos, sons, vídeos, animações etc.), outros sites relacionados ao assunto, material de arquivo de jornais, textos jornalísticos ou não, publicidade etc. Também denominada individualização. Consiste Customização/personalização na opção oferecida ao leitor para configurar os produtos jornalísticos de acordo com seus interesses individuais Acumulação de informações, mais viável técnica Memória e economicamente na web do que em outras mídias A rapidez do acesso, combinada com a facilidade de produção e disponibilização propiciada pela digitalização da informação e pelas tecnologias Instantaneidade/atualização contínua telemáticas, permite uma extrema agilidade de atualização do material nos jornais da web Fonte: PALACIOS, 2002, p. 3-4. O jornalismo digital aparece, então, como uma atividade diferenciada, que cresce e se expande na web como espaço de publicação e distribuição de notícias (RODRIGUES; BARRETO, 2009). 20


Opções terminológicas e etapas de desenvolvimento A expressão jornalismo digital aqui adotada remete ao computador e à rede como determinantes tanto na produção como na circulação das informações, circunscrevendo, desse modo, o objeto de estudo. Outros termos têm sido usados em sentido similar: webjornalismo, ciberjornalismo, jornalismo on-line, jornalismo eletrônico e jornalismo multimídia. Mielniczuk (2003) demonstra que não há consenso quanto à terminologia mais adequada quando nos referimos ao jornalismo praticado na internet, para a internet ou com o auxílio da internet. Aponta, assim, distinções que podem ser feitas, tendo como referência Bastos (2000), Canavilhas (2001), Lemos (1997), Machado (2000) (ver Quadro 2): Quadro 2 – Síntese de definições de nomenclaturas

Nomenclatura Jornalismo eletrônico Jornalismo digital ou jornalismo multimídia Ciberjornalismo Jornalismo on-line

Definição Utiliza equipamentos e recursos eletrônicos Emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implique o tratamento de dados na forma de bits Envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço É desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real Webjornalismo Diz respeito à utilização de uma parte específica da internet, que é a web Fonte: MIELNICZUK, 2003, p. 44. Uma vez que as práticas e os produtos jornalísticos contemporâneos podem atravessar mais de uma esfera concomitantemente, a autora entende que as definições não são excludentes. Observa, ainda, que pensadores norte-americanos costumam utilizar “jornalismo on-line” ou “jornalismo digital”, enquanto espanhóis preferem “jornalismo eletrônico”. De forma genérica, conforme Mielniczuk (2003), pode-se dizer que autores brasileiros seguem a tendência norte-americana. Tendo em vista o suporte, Machado (2000, p. 20) prefere a denominação “jornalismo digital” a “jornalismo online”, uma vez que a metáfora “on-line” designa a forma de circulação da notícia nesse novo formato jornalístico. Já o conceito digital – que estaria se impondo como hegemônico – assinala a particularidade do suporte de transmissão dessa forma de jornalismo. Em uma definição sintética, o jornalismo digital é descrito como todo produto discursivo que constrói a realidade por meio da singularidade dos eventos, que tem como suporte de circulação as redes telemáticas de qualquer outro tipo de tecnologia pelo qual se transmitam sinais numéricos e que incorpora a interação com os usuários ao longo do processo produtivo. É, portanto, uma das atividades que se desenvolvem no ciberespaço.

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Na cibercultura, o suporte digital permite ao jornalismo uma modalidade de conhecimento do presente, criadora de sentido e de interpretação do real. O material jornalístico pode ser veiculado e acessado por meio de computadores, celulares, assistentes pessoais, entre outros equipamentos, por meio dos quais possibilidades de construções narrativas – que convergem para um único suporte textos, sons, imagens estáticas e dinâmicas – se diversificam. No âmbito digital, os dispositivos ativados para cada um dos suportes em que historicamente se amparou o jornalismo – primeiro a imprensa, em seguida o cinema, o rádio e a televisão – estão integrados (BARBOSA, 2002). Pavlik (2001) entende que as transformações no campo passam pela natureza do conteúdo, do trabalho jornalístico, da estrutura das redações e das empresas jornalísticas, bem como pelas relações entre organizações de notícias, jornalistas e seus diferentes públicos. Para o autor, é possível identificar estágios ou fases do jornalismo na web: a primeira, assinalada pelo uso de conteúdos produzidos originalmente pelo jornal impresso e sua adaptação para veiculação na internet. A segunda fase, já voltada para a circulação on-line, abrangeria tanto aspectos de design como de edição de conteúdos direcionados. O terceiro estágio implicaria o desenvolvimento de projetos específicos para a rede, incorporando a atualização contínua de informações. Aplicados dentro de intervalos de tempo bastante reduzidos, praticamente de forma contínua, romperam com a periodicidade diária. Mielniczuk (2003), utilizando o termo webjornalismo e em linha similar a Pavlik, propõe a divisão em três gerações: 1) Webjornalismo de primeira geração: os produtos oferecidos, num primeiro momento, eram reproduções de partes dos grandes jornais impressos, agora publicados na internet. As primeiras experiências realizadas não passavam da transposição de uma ou duas das principais matérias de algumas editorias. A dinâmica de publicação seguia o ritmo do jornal impresso, com atualização a cada 24 horas. Nessa fase, os produtos são, em sua maioria, cópias para a web do conteúdo de jornais existentes no papel. Logo, a rotina de produção de notícias é totalmente atrelada ao modelo estabelecido nos jornais impressos. Não há evidências de uma preocupação em inovar na apresentação da narrativa jornalística com base nas novas possibilidades oferecidas pelo suporte digital. 2) Webjornalismo de segunda geração: no fim da década de 1990, com o aperfeiçoamento e desenvolvimento da estrutura técnica da internet no país, identifica-se uma segunda fase do jornalismo digital. Mesmo atrelado ao modelo do jornal impresso, começam a ocorrer experiências no produto jornalístico na tentativa de explorar as características oferecidas pela rede. As publicações para a internet, ao mesmo tempo em que se ancoram no modelo do jornal impresso para a elaboração das interfaces dos produtos, começam as explorar as potencialidades do novo suporte. Surgem os links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as edições impressas, o e-mail passa a ser utilizado como ferramenta de comunicação, seja entre jornalistas e leitores, seja entre leitores e outros leitores, em fóruns e listas de discussão. A elaboração das notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto. A tendência, nesse momento, ainda é a existência de produtos vinculados 22


não só ao modelo do jornal impresso como produto, mas também às empresas jornalísticas cuja credibilidade e rentabilidade estavam associadas ao jornalismo impresso. 3) Webjornalismo de terceira geração: com a crescente popularização da internet e com o surgimento de iniciativas empresariais e editoriais destinadas a esse suporte, o cenário começa a se modificar. Os sites jornalísticos extrapolam a ideia de uma versão para a web de jornais impressos existentes. É possível observar tentativas de explorar e aplicar as potencialidades oferecidas pela web para fins jornalísticos. Os produtos passam a apresentar recursos multimídia, como sons e animação; recursos de interatividade, como chats, enquetes e fóruns; e disponibilizam opções para a configuração personalizada. O hipertexto, nesse momento, passa a ser utilizado não apenas como um recurso de organização das informações da edição, mas também começa a ser empregado na narrativa dos fatos. Além dessas características, destaca-se, também, a memória (PALACIOS, 2002), já que a acumulação de informações é mais viável técnica e economicamente na web do que em outras mídias. Ou seja, o volume de informação produzida é maior no jornalismo digital e as notícias publicadas podem ser armazenadas por meio da criação de arquivos, que podem ser acessados tanto por jornalistas quanto por leitores. Considerando que os processos produtivos incorporam cada vez mais a automatização e as bases de dados, apresenta-se uma quarta geração. Nela, as estruturas de apuração, produção e circulação de conteúdos são adequadas às características do ciberespaço e dependentes de tais bases (MACHADO et al., 2007). Na etapa de transição entre a terceira e a quarta geração, dá-se o surgimento do modelo de jornalismo em base de dados (BARBOSA, 2008), proposto como um paradigma para sites jornalísticos de perfil dinâmico. Conforme a autora, a atual geração parece ter as bases de dados como um elemento estruturante. Entre as principais características que definem o período, ela destaca: • equipes mais especializadas; • desenvolvimento de sistemas de gestão de conteúdos mais complexos, baseados em softwares e linguagens de programação open source; • acesso expandido por meio de conexões banda larga; • proliferação de plataformas móveis; • consolidação do uso de blogs; • ampla adoção de recursos da web 2.0; • incorporação de sistemas que habilitam a participação efetiva do usuário na produção de peças informativas; • produtos diferenciados criados e mantidos de modo automatizado; • sites dinâmicos; • narrativas multimídia; • utilização de recursos como RSS (Really Simple Syndication) para recolher, difundir e compartilhar conteúdos; 23


• • • • • • • • • •

aplicação da técnica do tagging na documentação e na publicação das informações; uso crescente de aplicações mash-up; uso crescente do conceito de geolocalização de notícias; uso do podcasting para distribuição de conteúdos em áudio; ampla adoção do vídeo em streaming; novos elementos conceituais para a organização da informação; maior integração do material de arquivo na oferta informativa; produtos experimentais que incorporam o conceito de web semântica; emprego de metadados e data mining para categorização e extração de conhecimento; aplicação de novas técnicas e métodos para gerar visualizações diferenciadas para os conteúdos jornalísticos que auxiliam a sobrepujar a metáfora do impresso como padrão.

Levando em conta a relevância que as plataformas tecnológicas têm, na medida em que estruturam as sistemáticas produtivas, Schwingel (2008) trata especificamente dos sistemas de publicação que perpassam as diferentes fases. Destaca experiências pioneiras que abrangeram a circulação de dados via fax, Telnet e provedores de internet de acesso restrito a clientes, que ocorreram no fim da década de 1960; experiências de primeira geração, que correspondem à transposição do impresso para a web a partir de 1992; e experiências de segunda geração, que se iniciam a partir de 1995, quando a metáfora do impresso segue sendo utilizada, mas o processo produtivo começa a apresentar algumas funções diferenciadas. As experiências de terceira geração denotam autonomia gradual em relação ao modelo impresso; é quando se introduzem os sistemas de gestão de conteúdos e os bancos de dados integrados ao produto, o que começa a ocorrer a partir de 1999. As experiências ciberjornalísticas que se iniciam em 2002 destacam-se pelo uso de bancos de dados integrados e sistemas de produção de conteúdos. O usuário, por sua vez, passa a ser incorporado na produção por meio do jornalismo colaborativo. Portanto, à medida que o ciberespaço se desenvolve, observamos a ocorrência de mudanças no jornalismo digital, que, conforme Machado et al. (2007, p. 117), podem ser assim sintetizadas: • • • •

1995-1997: reaproveitamento dos conteúdos dos meios convencionais; 1997-1999: metáfora dos meios convencionais; 1999-2000: lançamento de produtos adaptados ao novo meio; 2002 em diante: desenvolvimento de produtos articulados em torno de bases de dados complexas.

Esses diferentes modelos, conforme os autores, são complementares, podendo coexistir ou não em um mesmo período. O que determina as diferentes fases é a passagem, em cada uma delas, para um novo tipo de modelo que se torna predominante, relegando os demais a posições secundárias. 24


Competências profissionais A demanda por profissionais capazes de se adequar ao mercado de trabalho passa atualmente pela capacidade de lidar com as mudanças constantes e rápidas que afetam o campo da comunicação. Convergência tecnológica e pulverização do controle dos meios pontuam o tensionamento entre práticas jornalísticas consolidadas – sustentadas por estruturas, rotinas e instituições – e outras em constituição. Estas evidenciam iniciativas diversas que se estabelecem para além dos espaços institucionais reconhecidos pelo âmbito acadêmico ou empresarial e que colocam em crise estruturas naturalizadas. Em se tratando de jornalismo digital, a flexibilidade acentuada dos processos e rotinas na rede impõe atualizações constantes. Assim, softwares, hardwares ou mesmo modos de proceder são rapidamente substituídos. Seu gerenciamento exige nova formação ou, pelo menos, o estudo de outros recursos para o domínio de uma última versão. Talvez seja possível afirmar que um instrumento ainda não é plenamente dominado e o profissional já é obrigado a aprender um novo para realizar seu trabalho. O fluxo de aprendizado técnico tornou-se acelerado, obrigando a desacomodação constante dos profissionais já formados, dos professores e dos alunos em formação. No âmbito acadêmico, a infraestrutura dos laboratórios de informática vincula-se ao gerenciamento de diferentes tempos que permeiam o ensino no jornalismo digital: o formativo, marcado pela grade curricular; o de aperfeiçoamento tecnológico, regido por contínuos lançamentos; o da internet, constantemente atualizado. No campo profissional, são exigidas do jornalista digital competências em todas as formas de tecnologia presentes na rede de comunicação (ADGHIRNI; RIBEIRO, 2001). Esse domínio de múltiplas formas tecnológicas transforma o jornalista digital em uma espécie de jornalista multimídia (JORGE; PEREIRA, 2009). Trata-se do jornalismo produzido no contexto digital, que precisa trabalhar com áudio, vídeo e texto para apresentação e distribuição na internet (DEUZE, 2004). A apropriação das inovações tecnológicas pela sociedade e pelos grupos profissionais constitui processos complexos. Assim foi com o surgimento da imprensa, do rádio e da televisão. As mudanças acontecem de maneiras diferentes em cada profissão. No caso do jornalismo, um dos ganhos seria uma autonomia relativa, como pontua Machado (2000). Conforme o autor, no âmbito das empresas jornalísticas, quando se configura uma modalidade narrativa e se extrapola o domínio das habilidades vinculadas exclusivamente a uma técnica determinada, a profissão assume contornos diferenciados – em vez de desaparecer frente a uma nova revolução tecnológica, adapta-se aos meios emergentes. No jornalismo digital, mesmo que grande parte dos jornalistas ainda trabalhe na sede das empresas, a redação tende a deixar de ocupar um espaço central de encontro da equipe de profissionais para tornar-se um espaço virtual, a partir do qual se hierarquiza e edita a notícia. A informatização das redações, que atendia essencialmente à redução de custos para as empresas, agora pode também dotar os jornalistas de novos instrumentos de trabalho – de um lado, facilitando tarefas; de outro, exigindo novos conhecimentos técnicos. Isso não significa que as redações 25


físicas tendem a desaparecer – a reforma da Folha de S.Paulo, que unificou as redações do jornal impresso e do digital, é um indício da importância que o espaço continua tendo para as empresas jornalísticas. O modo como o profissional se relaciona com a informação e as mudanças no processo de apuração têm levantado questões como: Quem é o jornalista digital? Ele é, de fato, um jornalista? Que valores balizam seu trabalho? Em que ele se difere do jornalista tradicional? A produção de notícias para a internet, que, em muitos casos, se resume à transposição (com ou sem adaptação) de material informativo produzido por outros meios (jornalísticos ou não), relaciona-se, de certa forma, com a imagem do “jornalista sentado”, que se contrapõe ao “jornalista de pé”, responsável pelo trabalho convencional de apuração (PEREIRA, 2003). Ferrari (2004) entende que, no jornalismo digital, a produção de reportagens deixou de ser um item do exercício do jornalismo. Em seu lugar, teríamos o “empacotamento” de notícias: a recepção de um material produzido, na maioria das vezes, por uma agência de notícias, que passaria pela mudança de título, abertura, alteração de alguns parágrafos, adição de foto ou vídeo etc. As funções de editor se misturariam com a de empacotador. Para a autora, haveria uma releitura da função do copidesque, na medida em que se daria um trabalho sobre um texto alheio. Nessa linha, outro aspecto a ser considerado diz respeito ao reaproveitamento (ou “reempacotamento”) de conteúdos editoriais de um veículo para outro em grupos multimídia, o que pode acarretar uma padronização de conteúdos editoriais. Corre-se o risco de reduzir a multiplicidade de fontes, explorar de modo limitado recursos específicos dos diferentes meios, priorizar a integração de conteúdos por justaposição – texto, áudio, vídeo etc. acessíveis de maneira independente (SALAVERRÍA, 2005) – em lugar de multimídia por integração. Se a redução de custos e a velocidade de produção representam ganhos para as empresas, a publicação de conteúdo original continua sendo defendida por muitos especialistas e profissionais da área. Para Hall (2001), as competências exigidas dos profissionais que lidam com a informação digital não se restringem ao empacotamento de notícias, já que, além da habilidade no uso de softwares de publicação, eles necessitam de conhecimentos e experiência para ponderar as questões que perpassam os valores-notícia nos processos editoriais. Além disso, o autor afirma que, na web, a oferta jornalística, ao proporcionar experiências cada vez mais interativas, permite que se ultrapasse o conceito tradicional de notícia, incluindo ideias, relatos, diálogos, fontes etc. Diante de um quadro em mutação, alteram-se as habilidades técnicas exigidas dos profissionais. Em entrevista a Jorge e Pereira (2009), um dos dirigentes do portal UOL, veículo do Grupo Folha, destaca, entre as qualidades do “jornalista de internet”: “Boa formação cultural, bom texto, domínio excelente do português escrito, uma língua, de preferência o inglês”. À formação, acrescentam-se dados específicos: “Que [o profissional] não tenha preconceito nem dificuldade com internet, nem com equipamentos e software novos. 26


Que tenha curiosidade, disposição para aprender, enfrentar novas tecnologias e gadgets. Não pode ser estranho a nenhuma tecnologia”. Na mesma pesquisa, outro líder de produção do site destaca que se deve “ser mais editor que repórter, mas que se esteja apto a fazer matéria quando precisar”, e sinaliza para outros atributos pessoais: ter pique e, no mínimo, saber o que é notícia. Com base nesses dados, os autores analisam que, embora a destreza tecnológica não seja um requisito na decisão de contratar novos jornalistas – e, sim, a vontade de aprender e a disposição de explorar as tecnologias –, a ausência de preconceito quanto a novos métodos e a habilidade de entender e pensar, relacionando diversos conhecimentos, é que vem sendo uma espécie de trunfo dos jornalistas para o século XXI. Em pesquisa sobre as competências digitais, para a qual foram ouvidos professores e profissionais de comunicação de Salvador (BA), Machado e Palácios (2007) apontam a existência de uma disparidade entre as demandas identificadas no mercado e a inserção das tecnologias digitais no ensino dos profissionais do campo da comunicação: O futuro profissional do campo da comunicação deverá ser capaz de adaptar-se a uma variedade de funções decorrentes do processo de convergência nos sistemas de produção das empresas. Se este tipo de inferência estiver correto, tudo indica que o profissional mais adequado para o novo mercado terá que ter condições de compreender processos, planejar ações, interpretar cenários e, mais importante, ser suficientemente flexível para, por um lado, se adaptar e, por outro, reagir de forma criativa aos constantes ajustes dos processos produtivos por que passam as empresas de comunicação. (MACHADO; PALACIOS, 2007, p. 81)

A dicotomia teoria versus prática, que não representa novidade no campo do jornalismo, reaparece, então, quando se discute o exercício e, também, o ensino do jornalismo digital: Da recorrente tensão entre formação teórica e prática, entre um jornalista crítico e um bom técnico, surgem problemas em torno da estruturação do currículo e da busca e adaptação de uma bibliografia pertinente para o ensino do jornalismo (Mackinnon, 2008). Essa tensão passa ainda pela formação de quadros no corpo docente que possuam adequada base teórica e experiência profissional em redações multimídia. Ora, seria no mínimo ingênuo acreditar que as adaptações feitas por conta do jornalismo pós-internet tenham dado conta desses problemas. Todo esse questionamento parece, enfim, ter sido reapropriado e reinserido na pauta de discussões sobre a formação profissional do jornalista e deve ganhar nova dimensão com o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício profissional, no Brasil (JORGE; PEREIRA, 2009, p. 60).

Em estudo recente, Amaral, Quadros e Caetano (2009) abordaram o ensino do jornalismo em redes de convergência, por meio da análise de disciplinas e formação docente. A pesquisa, inicial naquele momento, 27


mostrou que atitudes e procedimentos têm sido acionados, pelas instituições de ensino superior estudadas, para a abordagem da prática jornalística tanto na esfera digital quanto na convergência desse meio com as mídias tradicionais. Essas iniciativas, no entanto, ainda são tímidas em relação ao processo efetivado nas redes sociais, ou seja, no cenário contemporâneo em que tais cursos se inserem e para o qual devem preparar os futuros profissionais. Conforme as autoras, os resultados da pesquisa, ainda que parciais, evidenciam que o avanço do ensino na compreensão do movimento da sociedade não depende de atitudes isoladas, mas de discussões e reflexões conjuntas, operações sistemáticas e institucionais, às quais o referido trabalho se alia. Nesse sentido, o Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil em 2010 dialoga com as demais investigações empreendidas atualmente nesse campo, para fazer emergir os avanços, as dificuldades e os tensionamentos da área, assim como para sinalizar caminhos possíveis. Referências bibliográficas ADGHIRNI, Z.; RIBEIRO, G. S. N. Jornalismo on-line e identidade profissional do jornalista. Anais do X Encontro Anual da Compós, Brasília, 2001. AMARAL, A.; QUADROS, C.; CAETANO, K. E. O ensino do jornalismo digital e as práticas de convergência: análise de disciplinas e formação docente. Trabalho apresentado no VII Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo. São Paulo: ECA-USP, 2009. BARDOEL, J.; DEUZE, M. Network journalism: converging competences of media professionals and professionalism. Australian Journalism Review 23 (2), 2001, p. 91-103. BARBOSA, S. Modelo JDBD e o ciberjornalismo de quarta geração. Trabalho apresentado no GT 7 – Cibercultura y Tendencias de la Prensa en Internet, do III Congreso Internacional de Periodismo en la Red. Foro Web 2.0: Blogs, Wikis, Redes Sociales y e-Participación, na Facultad de Periodismo da Universidad Complutense de Madrid. 2008. BASTOS, H. Jornalismo electrónico. Internet e reconfiguração de práticas nas redacções. Coimbra: Minerva, 2000. CANAVILHAS, J. M. M. Do jornalismo on-line ao webjornalismo: formação para a mudança. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação, 2006. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-jornalismo-on-linewebjornalismo.pdf. Acesso em: 10 jul. 2010. CANAVILHAS, J. M. (2001) Webjornalismo: considerações gerais sobre jornalismo na web. Disponível em: http://www. bocc.ubi.pt/pag/_texto.php3?html2=canavilhas-joao-webjornal.html. Acesso em: 8 jul. 2010. DEUZE, M. What is multimedia journalism? Journalism Studies, v. 5, n. 2, 2004, p. 139-152. FERRARI, P. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2004. HALL, J. On-Line journalism: a critical primer. Londres: Pluto Press, 2001. JORGE, T. M.; PEREIRA, F. H. Jornalismo on-line no Brasil: reflexões sobre perfil do profissional multimídia. Revista Famecos, n. 40, Porto Alegre, dez. 2009. LEMOS, A. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e interfaces digitais. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/lemos/interac.html. 1997. 28


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O ensino do jornalismo digital no Brasil: página em construção Aline Strelow, Ana Gruszynski, Bernardete Toneto, Leonardo Cunha, Sandra Machado, Soraya Venegas, Thiago Soares e Vitor Necchi

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O escritor irlandês Oscar Wilde dizia que “um mapa do mundo que não inclua a utopia nem merece ser olhado”. O mesmo vale, talvez, para qualquer tentativa de cartografar o ensino. Os resultados deste Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil em 2010 deixam entrever a utopia. Mas ela não pode ser encontrada em uma única instituição, seja pública, seja particular, tampouco se situa especificamente em um município entre os que abrigam um dos 102 cursos respondentes ao questionário. Está dispersa, fragmentada em iniciativas que se espalham por todo o país. Como veremos a seguir, no detalhamento dos resultados, o que predomina neste mapa é uma profusão de caminhos diferentes, em busca da melhor maneira de apresentar ao aluno o universo digital, de debater com ele seus dilemas, de compartilhar com ele suas práticas. No universo mapeado, variam as disciplinas, suas nomenclaturas e sua natureza teórica ou prática. Variam a formação e a quantidade de professores ligados ao campo. Variam o número e o uso dos laboratórios, de hardware e software. Variam, e muito, a natureza, o perfil e a proposta editorial das publicações laboratoriais. Talvez a utopia se encontre na confluência das melhores condições e das melhores práticas. Talvez se encontre num futuro distante. De todo modo, acreditamos que este é um mapa que merece ser olhado. Em busca de maior clareza e aprofundamento, os resultados foram subdivididos em seis tópicos: • Inicialmente apresenta-se o universo estudado: a quantidade, a natureza e o porte das instituições de ensino que responderam ao questionário, analisando tais dados sob a luz dos critérios do MEC. • Em seguida, são apresentadas e analisadas questões relativas às diferentes disciplinas ligadas, direta ou indiretamente, ao ensino do jornalismo digital no país. • A terceira parte traz o perfil dos professores que se dedicam ao jornalismo digital e questões correlatas. • Na próxima etapa, apresenta-se a infraestrutura que as instituições disponibilizam para os alunos e professores, em termos de laboratórios, equipamentos e programas. • A quinta parte destrincha o que vem sendo produzido e publicado, nesse cenário, em termos de sites, blogs e outras experiências de jornalismo digital. • Finalmente, em consonância com os objetivos e diretrizes do Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural – do qual este mapeamento faz parte –, são apontadas e analisadas as pontes entre o ensino do jornalismo digital e o campo do jornalismo cultural. O perfil das instituições de ensino superior (IES) Dos 322 cursos de jornalismo das instituições públicas e privadas (universidades, centros universitários e faculdades) cadastradas no site do MEC (http://emec.mec.gov.br), acessado por diversas vezes no período de 23 a 26 de fevereiro de 2010, observa-se a seguinte divisão por região do país: 31


Quadro 1 – Cursos por região

Regiões Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Total

N° 22 56 153 60 31 322

% 6,8 17,4 47,5 18,6 9,6 100

O questionário foi enviado no período de abril a maio de 2010 aos professores coordenadores dos 322 cursos. Responderam 102, de 23 estados e do Distrito Federal, compondo uma relevante média de 31,68% de retorno. Quadro 2 – Instituições respondentes

Instituições Responderam Não responderam Total

N° 102 220 322

% 31,68 68,32 100

Conforme o Quadro 3, a Região Sudeste aparece com 51,96% das respostas, com a participação de 53 cursos. É seguida pelas regiões Sul (20 cursos, ou 19,61% do total), Nordeste (14 cursos, ou 13,73%), Norte (nove cursos, ou 8,82%) e Centro-Oeste (seis cursos, ou 5,88%). Quadro 3 – Instituições respondentes por região

Região Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total

N° 6 14 9 53 20 102

% 5,9 13,7 8,8 51,9 19,7 100

Uma leitura do Quadro 4 mostra que são do Sudeste os estados com maior número de retorno: São Paulo (18), Minas Gerais (17) e Rio de Janeiro (15).

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Quadro 4 – Instituições respondentes por estado

Estado Amazonas Amapá Roraima Rondônia Tocantins Pará Acre Alagoas Bahia Ceará Maranhão Paraíba Piauí Pernambuco Rio Grande do Norte Sergipe São Paulo Rio de Janeiro Minas Gerais Espírito Santo Paraná Rio Grande do Sul Santa Catarina Distrito Federal Goiás Mato Grosso do Sul Mato Grosso Total

N° 2 0 1 1 1 4 0 2 2 2 1 2 1 1 2 1 18 15 17 3 9 9 2 1 2 3 0 102

% 1,9 0 1 1 1 4 0 1,9 1,9 1,9 1 1,9 1 1 1,9 1 17,7 14,8 16,8 2,9 8,8 8,8 1,9 1 1,9 2,9 0 100

Do universo de 102 instituições pesquisadas, 73 (que perfazem 72%) pertencem à rede particular de ensino, incluindo nessa categoria aquelas com fins lucrativos, fundações (religiosa, moral, cultural ou assistencial) e as associações de utilidade pública. As 28 instituições públicas (universidades, centros universitários e faculdades federais, estaduais e municipais) compõem 28% do total. Apenas a Universidade de Caxias do Sul (UCS/RS) declarou-se comunitária, conforme quadro a seguir: 33


Quadro 5 – Natureza jurídica das instituições

Natureza jurídica Instituições públicas Instituições particulares Instituição comunitária Total

N° 28 73 1 102

% 28 71 1 100

Estão matriculados 22.606 alunos nos 102 cursos de jornalismo. Desse total, 6.392 (28,3%) estão em instituições públicas e 250 (1,1%) na comunitária, enquanto a expressa maioria – 15.964 alunos, ou 70,6% do total – estuda em instituições particulares. Quadro 6 – Alunos por instituição

Natureza jurídica Instituições públicas Instituições particulares Instituição comunitária Total

N° 6.392 15.964 250 22.606

% 28,3 70,6 1,1 100

As disciplinas ligadas ao jornalismo digital Ao responder o questionário, o coordenador do curso ou professor por ele designado deveria listar as disciplinas “relacionadas direta ou indiretamente à de jornalismo digital, assim como os períodos (ou módulos) em que elas são oferecidas”. Deveria também ser especificado se elas são “teóricas, teórico-práticas ou práticas”. Chama atenção, nos resultados, o baixo número de disciplinas puramente teóricas (13,4%), como mostra o quadro abaixo: Quadro 7 – Natureza das disciplinas

Natureza da disciplina Teórica Teórico-prática Prática Não informada Total

N° 52 192 66 77 387

% 13,4 49,6 17,1 19,9 100

Embora um pouco maior, também o número de disciplinas de natureza puramente prática é baixo, correspondendo a apenas 17,1%. Por sua vez, as disciplinas de natureza mista, ou seja, teórico-práticas, são a 34


maioria. A julgar pelo baixo número de disciplinas teóricas, pode-se supor que, a princípio, existe pouco espaço para reflexões mais detidas sobre questões conceituais, éticas, sociais, envolvidas com o universo do jornalismo digital. Por outro lado, é possível que esse tipo de questão esteja sendo discutido em outras disciplinas, assim como em outros ambientes acadêmicos (seminários, palestras etc.). Ao reconhecer o perfil essencialmente teórico-prático que a maior parte das disciplinas ligadas ao jornalismo digital tem, pode-se inferir sobre como os cursos pedagogicamente não são densamente teóricos, tampouco vorazmente práticos. O ensino do jornalismo tem como alicerce a premissa de oferecimento do conhecimento humanístico aliado a uma disposição pragmática que busca equalizar as demandas para a formação do estudante na área. Olhando para a trajetória do jornalismo como universo de práticas e ambiente acadêmico, é possível reconhecer que a presença tão marcante de disciplinas teórico-práticas, entre aquelas que são afins ao jornalismo digital, parece reforçar o caráter da atividade jornalística como herança do pensamento racionalista, objetivante. Durante anos, ela foi pautada pela busca de objetividade e por tentar apreender uma visão mais racionalizada do real, e, na prática do seu ensino, percebe-se como os projetos pedagógicos estão orientados para a construção dessa visão racionalista. Retomando os resultados do mapeamento, observa-se que, quando os dados são subdivididos segundo a natureza da instituição de ensino (pública, particular ou comunitária), a situação permanece semelhante nos três tipos de instituição, com um maior número de disciplinas teórico-práticas em todas elas, como indica o quadro abaixo: Quadro 8 – Natureza das disciplinas por tipo de instituição

Natureza da disciplina Teórica Teórico-prática Prática Não especificada Total

Instituições públicas N° % 17 15,1 43 38,8 22 19,9 29 26,2 111 100

Instituições particulares N° % 35 12,8 147 53,6 44 16,1 48 17,5 274 100

Instituição comunitária N° % 0 0 2 100 0 0 0 0 2 100

Já se percebe que nas instituições particulares essa tendência é significativamente maior, uma vez que as disciplinas teórico-práticas chegam a 53,6%, enquanto nas públicas a porcentagem fica em 38,8%. Há quase um equilíbrio entre as disciplinas puramente práticas e puramente teóricas, que representam, respectivamente, 15,1% e 19,9% nas instituições públicas e 12,8% e 16,1% nas particulares. 35


Quando a análise é feita escola por escola, fica evidente a maior diversidade das disciplinas oferecidas nas instituições públicas. Das 28 escolas públicas, 15 (53,6%) oferecem disciplinas teóricas (uma ou mais disciplinas dessa natureza) e 16 das 28 (57,1%) oferecem disciplinas práticas. Já entre as particulares, apenas 20 das 73 escolas (27,3%) oferecem disciplinas teóricas e apenas 21 das 73 (28,8%) oferecem disciplinas práticas. Quadro 9 – Diversificação das disciplinas nas instituições

Natureza da disciplina Teórica Teórico-prática Prática

Instituições públicas N°* %* 15 53,6 24 85,7 16 57,1

Instituições particulares N°* %* 20 27,4 53 72,6 21 28,8

* Obs.: Número e porcentual de instituições que oferecem disciplina nessa categoria. A soma dos porcentuais naturalmente ultrapassa os 100% porque a maioria das instituições oferece mais de um tipo de disciplina.

No grupo focal, os professores defenderam que cada instituição deveria ofertar pelo menos uma disciplina de cada natureza. A julgar pelo Quadro 9, fica evidente que as instituições públicas estão mais próximas desse ideal, pois nelas existe uma melhor distribuição entre os três tipos de disciplina. Em um ponto, porém, as instituições públicas e particulares se assemelham. Em ambos os casos, a maioria das escolas oferece pelo menos uma disciplina teórico-prática. Esse tipo de disciplina está presente em 85,7% das públicas e em 72,6% das particulares. Tomados em conjunto, os Quadros 8 e 9 não confirmam a impressão, comum no meio acadêmico, de que as instituições públicas são mais abertas ao ensino teórico do que as particulares. Mas revelam que disciplinas puramente teóricas são ofertadas em cerca de metade das públicas e em apenas ¼ das particulares. Não se pretende afirmar, aqui, que a teoria está ausente nas instituições particulares, mas sim que, como mostram os números, ela quase sempre se faz acompanhada de atividades práticas, nas disciplinas de caráter teórico-prático. Outra questão relevante, levantada pelo mapeamento, diz respeito aos períodos em que as disciplinas são ofertadas. Percebe-se uma ampla distribuição por todas as etapas do curso, o que pode ser explicado pelo fato de que o questionário não se limitou às disciplinas plenas1 de jornalismo digital, incluindo também disciplinas semiplenas (aquelas que trabalham com conteúdos ligados a algum aspecto específico da comunicação digital, como Fundamentos de Multimídia, Novas Tecnologias na Web, Edição Hipermídia, entre outras) e ainda disciplinas tangenciais (cujas discussões e/ou práticas lidam tangencialmente com o jornalismo digital, como Teorias da Imagem, 1

Disciplinas plenas, semiplenas e tangenciais são uma tipologia criada no Mapeamento do Ensino de Jornalismo Cultural no Brasil em 2008, referente à edição passada do programa Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural.

36


Cultura Visual, História do Jornalismo, Cultura das Mídias, Design Gráfico, Infografia, entre outras). A considerar apenas as disciplinas específicas de jornalismo digital (mesmo com outras nomenclaturas como jornalismo on-line, webjornalismo, ciberjornalismo, jornalismo multimídia, ou ainda redação para a web, redação para a internet), verifica-se que elas se concentram na segunda metade do curso (71 disciplinas oferecidas do 5º ao 8º períodos), ao passo que apenas 16 delas estão situadas no 3º ou 4º períodos. Quadro 10 – Disciplinas específicas de jornalismo digital (por período)

Período/Semestre 3º 4º 5º 6º 7º 8º Não informado Total

Nº de disciplinas 8 8 20 27 18 6 19 106

% 7,7 7,7 18,5 25,5 17 5,7 17,9 100

A predominância de disciplinas plenas de jornalismo digital na segunda metade do curso (66,9%) indica a importância de o tema ser apresentado, tratado e exercitado num momento em que o aluno já teve contato com uma série de questões teóricas básicas (que geralmente passam por Sociologia, Antropologia, Política, História do Jornalismo, Ética, entre outras) e também com os fundamentos da teoria e da prática jornalística (em disciplinas como Redação, Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística, Planejamento Visual, Teorias do Jornalismo). O posicionamento das disciplinas ao final do curso aponta também para a hipótese de que, como se trata de uma nova área de atuação mercadológica, o estudante precisaria passar pelas várias modalidades jornalísticas até chegar ao universo digital. É comum que as disciplinas ligadas diretamente a essas mídias tradicionais (impresso, rádio, televisão etc.) nas instituições pesquisadas aconteçam antes do contato do estudante com o jornalismo digital. Apreende-se desse ordenamento que o jornalismo digital está atrelado aos sistemas de incorporação dos meios de comunicação, ou seja, como ambiente que agrega disposições textuais e fotográficas (características do jornalismo impresso), além de arquivos de áudio (alicerce do radiojornalismo) e de vídeo (instrumento do telejornalismo). Portanto, é preciso que o estudante já tenha se familiarizado com as outras modalidades jornalísticas com a finalidade de aplicá-las, de forma integrada, durante a prática do jornalismo digital. 37


Compreende-se que esse ordenamento das disciplinas conectadas ao jornalismo digital, no final do curso, somente reforça o caráter multimídia que essas matérias devem ter. A prática do ensino do jornalismo digital deve ser incentivada com base nas plataformas multimídia, ou seja, na lógica de que a notícia precisa ser veiculada em suas dimensões textuais, fotográficas, sonoras e audiovisuais. Nesse ponto, cabe discutir em que medida as disciplinas mencionadas no mapeamento estão efetivamente vinculadas ao jornalismo digital. Como mencionado acima, várias instituições indicaram, como ligadas direta ou indiretamente ao ensino do jornalismo digital, disciplinas que provavelmente já existiam antes do surgimento da internet, e que provavelmente independiam dela. Como a lista é muito extensa, citam-se aqui apenas alguns exemplos representativos: •

• • • •

Disciplinas ligadas às técnicas jornalísticas: Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa em Jornalismo, Introdução às Técnicas Jornalísticas, Redação Jornalística, Redação Jornalística Opinativa, Jornalismo Investigativo, Fotojornalismo, Infografia; Disciplinas ligadas ao aspecto gráfico: Técnicas Gráficas em Jornalismo, Planejamento Gráfico, Planejamento Visual, Design Gráfico, Produção e Artes Gráficas; Disciplinas ligadas à estética: Teorias da Imagem, Cultura Visual, Estética da Comunicação; Disciplinas ligadas a outras mídias: Radiojornalismo, Telejornalismo, Mídia Audiovisual, Edição em Televisão, Produção e Edição em Áudio; Disciplinas ligadas ao aspecto empresarial e/ou mercadológico: Gerenciamento de Empresas Jornalísticas, Conjuntura Internacional.

Pode ser que algumas dessas disciplinas tenham se adaptado à cibercultura, mas é possível também que, em alguns casos, os coordenadores (normalmente os responsáveis por responder ao questionário) estejam considerando que ela estaria ligada ao ensino de jornalismo digital, pelo simples fato de que o domínio do conteúdo dessa disciplina seria útil a esse tipo de jornalismo. Por outro lado, há disciplinas que, ao que tudo indica, foram criadas para responder a questões/desafios/ dilemas/técnicas específicas do jornalismo digital, como: Jornalismo On-Line, Webjornalismo, Jornalismo Digital, Jornalismo na Internet, Jornalismo Multimídia, Ciberjornalismo, Jornalismo em Mídias Digitais, Reportagem Multimídia. Da mesma forma, há disciplinas que, além de atender às demandas do jornalismo digital, podem se vincular também a outras esferas da comunicação social no âmbito digital (tais como Publicidade e Propaganda, Relações Públicas, Design). É o caso, entre outras, das disciplinas Comunicação Digital, Redação para a Internet, Redação e Produção para a Web, Webdesign, Mídias Digitais, Comunicação Digital, Novas Tecnologias Web, Sociologia da Era Virtual, Cultura Digital e Capitalismo Cognitivo, Informação On-Line, Hipermídia, Funda38


mentos de Multimídia, Multimídia Jornalística, Edição Hipermídia, Planejamento Visual Digital, Produção e Linguagem de Multimeios, Crossmídia. No caso específico das disciplinas expressamente vinculadas ao jornalismo, salta aos olhos a variedade de nomenclaturas, com um predomínio quantitativo (45,2%) da terminologia jornalismo on-line, usada em 38 das instituições pesquisadas, como demonstra o quadro abaixo: Quadro 11 – Nomenclatura das disciplinas específicas

Nomenclatura Jornalismo On-Line (ou On-Line) Webjornalismo (ou Web-jornalismo) Jornalismo Digital Jornalismo Multimídia (ou Multimeios) Jornalismo na Internet Ciberjornalismo Jornalismo em Mídias Digitais Total

Instituições 38 18 17 5 3 2 1 84

% 45,2 21,4 20,2 6 3,6 2,4 1,2 100

Tal profusão de terminologias para designar a disciplina que prevê a aproximação das práticas do jornalismo no ambiente da internet não está restrita aos próprios cursos. Há um esforço de pesquisadores e estudiosos da área para dar mais precisão aos termos empregados, como pode ser visto nos capítulos 2 e 5 deste livro. O perfil dos professores Para lecionar as disciplinas indicadas no tópico acima, as 102 instituições pesquisadas contam, naturalmente, com uma grande quantidade e variedade de professores responsáveis pela condução do processo pedagógico. Observa-se, a princípio, do número total de 212 professores das instituições de ensino superior, uma média de 2,08 docentes por disciplina relacionada ao jornalismo digital. Esse número não reflete a premissa de que há mais de um professor ministrando uma disciplina. É, antes, a equação que permite a visualização de uma divisão entre o número de professores e das instituições avaliadas. Como, em muitos cursos, não há apenas uma disciplina que esteja relacionada ao jornalismo digital, é também perceptível o aumento do número de docentes que tem algum tipo de familiaridade com a área. A média do número de educadores contempla a equação entre o total de professores dividido pelo número de instituições respondentes. Como é possível observar na tabela, há uma predominância de docentes com o grau de mestre lecionando disciplinas na base do jornalismo digital nas instituições (94 profissionais, correspondendo, portanto, a 44,3%). 39


Quadro 12 – Professores de jornalismo digital (por titulação)

Professores Graduados Especialistas Mestres Doutores Não informado Total

N° 3 48 94 50 17 212

% 1,4 22,6 44,3 23,7 8 100

O número de professores com especialização ou doutorado encontra-se com bastante equivalência: 48 são especialistas e 50 são doutores, resultando numa porcentagem de 48 (22,6%) para os que têm especialização e 50 (23,7%) para os que possuem o título de doutor. Na pesquisa, é preciso sublinhar, houve instituições que não informaram os nomes dos professores das disciplinas ou que mencionaram os nomes, mas não sua formação. Nas instituições privadas, os doutores representam 12,9%, menos da metade do número de especialistas, que chega a 28,2%, e abaixo de ¼ do número de mestres, 51,5%. Nas instituições públicas, o número de docentes com doutorado é mais presente, com 58,4%, contra 20,8% de mestres e 4,2% de especialistas. Tanto nas públicas quanto nas particulares é irrisória a presença de professores apenas graduados (1,4%): um nas primeiras e dois nas segundas. Os Quadros 12 e 13 consolidam esses dados. Quadro 13 – Titulação docente por natureza da instituição

Professores Graduados Especialistas Mestres Doutores Não informado Total

Públicas N° 1 2 10 28 7 48

% 2,1 4,2 20,8 58,4 14,5 100

Particulares N° % 2 1,2 46 28,2 84 51,5 21 12,9 10 6,2 163 100

Comunitária N° % 0 0 0 0 0 0 1 100 0 0 1 100

A infraestrutura das instituições: laboratórios e programas O levantamento dos dados relativos à infraestrutura de informática e sua capacidade de atender às atividades de ensino de jornalismo digital revelou a presença de laboratórios em todas as instituições mapeadas. Contudo, há casos em que não existem atividades laboratoriais no programa das disciplinas que prevejam a utilização de tais espaços – dependendo de seu caráter teórico, teórico-prático ou prático – e outros em que não houve retorno quanto à média de alunos por computador. As respostas obtidas nos questionários 40


respondidos não permitem que se avaliem as singularidades nas propostas pedagógicas que dependem de equipamentos, uma vez que não é possível saber se ocorrem presencialmente no período da aula ou se como tarefas a serem realizadas extraclasse. Estruturados segundo diferentes perfis, os laboratórios disponíveis para as atividades de jornalismo digital compreendem salas compartilhadas com outras habilitações da comunicação, bem como espaços que atendem vários cursos existentes nos centros educacionais. Variam também em tamanho e distribuição de equipamentos, prevalecendo a presença de um ou dois laboratórios por instituição, conforme o quadro abaixo. Quadro 14 – Laboratórios para atividades de jornalismo digital

Numero de laboratórios 2 1 3 4 5 7 6 15 9 10 12 18 21 Não informado Total

N° 30 28 18 6 4 3 2 2 1 1 1 1 1 4 102

% 29,4% 27,4% 17,6% 5,9% 3,9% 2,9% 2% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 3,9% 100%

Nas disciplinas relacionadas ao jornalismo digital, a maioria das instituições (59%) possibilita a utilização individual dos equipamentos na realização das atividades curriculares propostas (Quadro 15). Efetuando uma distinção entre tipos de instituição, observa-se que nas particulares (Quadro 16) o porcentual de um aluno por computador é 68%, diante de 32% nas públicas (Quadro 17). Ainda assim, nota-se que, entre as públicas, em 58% das instituições mapeadas há menos de dois alunos por computador. Diante de uma infraestrutura eventualmente reduzida – tanto nas públicas como nas particulares –, há uma provável adequação de distribuição de alunos por turmas e propostas pedagógicas que minimizam o descompasso entre o número total de alunos e o número total de computadores. Esse mapeamento não abordou a questão da manutenção das máquinas, mas, como foi amplamente dis41


cutido no Grupo Focal (ver capítulo 5.0), é frequente nas instituições a existência de uma grande quantidade de máquinas danificadas e/ou desatualizadas, o que torna mais críticas, sem dúvida, tanto a quantidade de computadores disponíveis quanto a média de alunos que efetivamente utilizam as máquinas nos laboratórios. Quadro 15 – Média geral de alunos por computador

Média de alunos por computador 1 2 1,5 3 1,25 1,38 1,6 2,5 4,46 Não informado Total

%

60 10 7 2 1 1 1 1 1 18 102

58,8% 9,8% 6,8% 2% 1% 1% 1% 1% 1% 17,6% 100%

Quadro 16 – Média de alunos por computador em instituições particulares

Média de alunos por computador 1 2 1,5 3 Não informado Total

%

50 8 3 1 11 73

68,5% 11% 4,1% 1,4% 15% 100%

Quadro 17 – Média de alunos por computador em instituições públicas

Média de alunos por computador 1 1,5 2

42

%

9 4 2

32,1% 14,2% 7,1%


Média de alunos por computador 3 1,25 1,38 1,6 2,5 4,46 Não informado Total

%

1 1 1 1 1 1 7 28

3,6% 3,6% 3,6% 3,6% 3,6% 3,6% 25% 100%

Quadro 17 – Média de alunos por computador na instituição comunitária

Média de alunos por computador 1 Total

%

1 1

100% 100%

O modo como tais laboratórios se estruturam e são utilizados relaciona-se também com os tipos de software que viabilizam as tarefas desenvolvidas. Em linhas gerais, com base no que foi mapeado, pode-se dizer que há o uso de programas básicos (sobretudo browsers e editores de texto), ferramentas de edição e publicação on-line (fundamentalmente blogs) e aqueles especializados que abrangem edição de áudio, imagem e texto em projetos mais complexos. Com base nessa percepção, foi organizado o Quadro 19, que compreende as respostas fornecidas pelos participantes à questão “Que softwares são utilizados nas aulas práticas de jornalismo digital?”. É importante relativizar os dados tendo em vista que, embora vários tenham mencionado browsers, é possível que estes não tenham sido considerados em sua especificidade como mediadores para acesso aos blogs e, assim, não indicados em algumas respostas. Houve também retornos genéricos como “editores de texto”, que não permitem que sejam identificados como parte do Microsoft Office, por exemplo, ou como software livre. Outro aspecto a ponderar refere-se aos diferentes programas vinculados à empresa Adobe. Alguns entrevistados apontam “Pacote Adobe” sem informar qual o tipo; outros informam o “Pacote Adobe CS4” (no momento, há dois tipos de conjuntos disponíveis); outros citam softwares específicos que fazem parte de tais pacotes. No que diz respeito ao Microsoft Office, não há também como saber quais ferramentas são efetivamente utilizadas, se fundamentalmente o editor de texto ou outras. Na estatística geral, das 102 instituições respondentes, 19 delas (18,6%) não informam o que utilizam. Como cada um informa vários programas, a porcentagem total indicada supera 100%. 43


Quadro 19 – Softwares utilizados nas atividades de jornalismo digital

Nome

% Blogs

Wordpress 20,6% Blogger 7,8% Softwares perfil genérico Editores de texto 8,8% Browsers 5,9% Softwares licença gratuita Joomla! 4,9% Audacity 4,9% Frontpage 2% Ginga 1% Gimp 1% Softwares licença paga Microsoft Office 33,3% CorelDraw 15,7% Pagemaker 5,9% Sound Studio 2,9% Sony Vegas 2,9% WS-FTP 2% Apple Final Cut 1% Apple iMovie 1% QuarkXPress 1% Avid 1% Softwares licença paga Adobe Photoshop 38,2% Dreamweaver 31,4% Pacote Adobe 23,5% Flash 19,6% InDesign 16,7% Fireworks 6,9% Illustrator 3,9% Pacote Adobe CS4 2,9% Soundbooth 1% Freehand 1%

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Conforme dados do Quadro 19, pode-se verificar a significativa predominância porcentual de programas ligados à produção textual (Microsoft Office, 33,3%), imagens (Photoshop, 38,2%) e layout (Dreamweaver, 31,4%), evidenciando a pouca presença daqueles dedicados a áudio e vídeo. É possível, entretanto, que tais softwares não tenham sido mencionados porque são instalados e utilizados preferencialmente em laboratórios de televisão e rádio, conforme estrutura tradicional dos cursos. Destaca-se ainda o Flash, voltado para animação, com 20% de indicações. Ainda entre os mais citados, está o Wordpress, com 20,6%. Pelo indicado nas respostas, não há como fazer distinção entre o software que pode ser baixado gratuitamente do site wordpress.org e instalado em um servidor, e o wordpress.com, uma versão on-line gratuita cuja hospedagem é remota. Cabe aqui uma ressalva: assumindo que o software livre é aquele que pode ser usado, copiado, estudado e redistribuído sem restrições, seu conceito contrapõe-se a proprietário/restrito, mas não ao comercial. Há uma distinção entre gratuito e livre: a esse último costuma-se anexar uma licença de software livre e liberar o acesso ao código-fonte do programa. Nesse sentido, o Blooger (Google), também mencionado pelos entrevistados (7,8%), é gratuito, mas não livre. Esses porcentuais referem-se especificamente às respostas dos questionários, não sendo auferidos os dados da pesquisa complementar sobre os produtos laboratoriais avaliados no capítulo 4.0. A forte presença dos programas da Adobe pode ser explicada pela capacidade de integração e portabilidade entre os arquivos gerada pelas ferramentas. Isso possibilita trabalhar com uma base comum que facilita a adequação ao digital e também ao impresso, já utilizando para isso os softwares específicos voltados a esses meios. Chama também atenção a presença do PageMaker e do QuarkXPress, programas voltados ao layout de peças impressas. É possível supor que, com eles, sejam gerados PDFs de produtos a serem disponibilizados on-line, ou eventualmente esboços de telas. Podemos inferir que a especificidade dos programas utilizados esteja associada: • • •

Ao perfil das disciplinas – teóricas, teórico-práticas ou práticas; À quantidade de disciplinas dedicadas aos jornalismo digital no currículo, que permite um maior aprofundamento também por meio da utilização de ferramentas especializadas; A uma forma estratégica ou alternativa de lidar com a ausência dos softwares em função de limites financeiros das instituições. No conjunto apresentado, o uso de programas com licença comercial é muito superior aos distribuídos de forma gratuita2.

Dentre as suposições possíveis de se fazer diante desse cenário, estão a adequação à demanda do mercado 2 Quanto a essa questão, recomenda-se também a leitura do capítulo 5.0, no qual os professores do Grupo Focal explicam e debatem suas dificuldades e estratégias de uso dos softwares.

45


de trabalho para domínio de tais ferramentas e a questão da portabilidade, fundamental para agilizar e facilitar os processos produtivos. A produção laboratorial Quanto à produção laboratorial em jornalismo digital, o questionário utilizado como base para o mapeamento solicitava que o respondente listasse os produtos veiculados em portais, sites, blogs etc. Entre as 102 instituições, 20 não informaram nenhum link e algumas justificaram a ausência de informação por não possuírem disciplinas ligadas ao jornalismo digital, pela falta de um projeto ligado a um núcleo específico, ou porque ele ainda não estivesse on-line. Nem todas as URLs listadas puderam, portanto, ser analisadas. Foram informadas 171 URLs para análise, das quais cinco eram a home page da instituição, que foram descartadas por não se configurarem como produção laboratorial do curso de jornalismo; outras 31 não tinham link válido para a página e também foram desprezadas por não atenderem à necessidade de visualização do conteúdo. A fim de proceder os cálculos da planilha e ignorar as páginas descartadas, foi utilizado um código com as seguintes abreviaturas: NI = não informado SI = site institucional (home page da instituição) SL = sem link (não foi possível acessar a página) Quadro 20 – Levantamento das instituições e produções laboratoriais

Instituições participantes

102

20

Instituições com URLs SI 5

SL 31

Com link 135

Vale lembrar que, do universo de 135 URLs com links de acesso válido, uma remetia a uma página do Twitter3, de leitura possível apenas a um assinante do serviço (que foi desconsiderada por não ser de acesso aberto na rede) e quatro eram páginas de professores, como complemento à sala de aula, que foram analisadas por conterem material publicado também pelos alunos. Dessa forma, o total de URLs avaliadas foi 134. A fim de procurar entender os fenômenos em sua totalidade, foram criadas dez variáveis que geraram uma planilha única: Tipo, Gênero, Recursos Multimídia, Vinculação Institucional, Duração, Autoria, Cobertura, Apuração, Conteúdo e Estado da Federação. A análise que segue começa pela última variável. 3

46

Twitter: criado em 2006, esse microblog limita o texto a 140 caracteres por mensagem e as imagens à inserção de links. (Fonte: Wikipedia.)


Quadro 21 – URLs por estado

Regiões

Norte (9 instituições) 8,5%

Nordeste (15 instituições) 14,1%

Centro-Oeste (6 instituições) 5,7% Sudeste (52 instituições) 51,1% Sul (20 instituições) 19,7 Total

Estados AM RR AP PA TO RO AC MA PI CE PE PB SE AL BA RN MT MS GO DF SP RJ MG ES RS PR SC

N° 2 1 0 4 1 1 0 1 1 2 1 3 1 2 2 2 0 3 2 1 17 15 16 4 9 9 2 102

% 1,9 0,9 0 3,9 0,9 0,9 0 0,9 0,9 1,9 0,9 2,9 0,9 1,9 1,9 1,9 0 2,9 1,9 0,9 16,2 15 16 3,9 8,9 8,9 1,9 100

Para as 134 páginas válidas encontradas em 82 instituições, foi criada uma classificação em relação ao Tipo, conforme o Quadro 22. Essa variável está intimamente relacionada à variável Recursos Multimídia, tratada no Quadro 25. A variável Tipo foi subdividida em quatro subgrupos: 1) Estruturais (em relação à hospedagem da página): portal, site e blog (Blogger ou Wordpress). 2) Jornalísticas: agências de notícias, agências de fotos. 47


3) Audiovisuais: web-rádios, vídeos no YouTube4, vídeos fora do YouTube. 4) Sites de redes sociais: Twitter, Orkut5. Como a pesquisa trata do jornalismo digital, vale lembrar que esses dois últimos sistemas, Twitter e Orkut, embora sejam usados como fonte para jornalistas e, especialmente o Twitter, cada vez mais como forma de divulgação, ainda não podem ser avaliados como prática jornalística em termos estritos. É comum identificar mais de uma das quatro subdivisões dessa variável numa mesma URL. Quando uma página é um site que apresenta links para comunidades no Twitter ou vídeos no YouTube, por exemplo, ela é identificada por três variáveis diferentes simultaneamente: 1 para site, 6 para Twitter e 10 para YouTube. Quadro 22 – Tipo

Tipo Site Portal Blog em Blogger Blog em Wordpress Microblog no Twitter Agência de notícias Agência de fotos Web-rádio Vídeos no YouTube Vídeos fora do YouTube Orkut

N° 41 6 49 36 26 4 4 9 55 14 6

% 30,5 4,4 36,5 26,8 19,4 2,9 2,9 6,7 41 10,4 4,4

Considerando-se as combinações possíveis entre as variáveis, observa-se que existe uma prevalência de blogs (85, ou 63,3%), ou seja, do uso de páginas administrativas para a publicação de conteúdo na rede. Apesar da ascensão crescente do Twitter, o porcentual de microblogs foi de 19,4%. Com o Orkut, que também já foi moda entre os jovens, a representatividade dos projetos cai para 4,4%. O Facebook6, que está em processo de crescimento, ainda tem uma representatividade tímida nas URLs pesquisadas e por isso não foi incluído na categoria de sites de redes sociais. Há muito poucas agências de notícias e de fotos (2,9% cada), assim como web-rádios (radiojornalismo), quer numa página independente, quer inseridas em um projeto multimídia mais amplo. Em relação às postagens 4 YouTube: site de compartilhamento de vídeos criado em 2005. (Fonte: Wikipedia.) 5 Orkut: site de rede social criado em 2004, que se baseia em informações personalizadas e calcadas em relacionamentos interpessoais. (Fonte: Wikipedia.) 6 Facebook: site de rede social criado em 2004. (Fonte: Wikipedia.)

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de vídeos (telejornalismo), é alta a adesão ao YouTube, que hospeda edições de telejornais, entrevistas ou matérias completas de 41% dos projetos analisados, sendo que apenas 10,4% das páginas visitadas é de instituições que mantêm seus vídeos no ar sem recorrer ao YouTube. Percebe-se, ainda, que algumas instituições postam suas produções autônomas no YouTube e depois incorporam esses vídeos em suas páginas. Elas foram consideradas, portanto, como vídeos no YouTube. Embora o porcentual de respostas tenha indicado uma utilização limitada de páginas administrativas para postagem em blogs, as URLs analisadas evidenciam uma adesão em mais larga escala, que supera o dobro da estimativa feita pelas instituições ao responder os questionários enviados para essa pesquisa: Quadro 23 – Blogs

Tipo Blogger Wordpress Total

% de acordo com as respostas das instituições 7,8 20,6 29

% de acordo com o que foi verificado nas URLs 36,5 26,8 63,3

Na variável Gênero da produção, são identificadas cinco subdivisões básicas: (1) jornalístico; (2) jornalísticoliterário (quando a página reserva um espaço para a publicação de crônicas autorais); (3) literário; (4) diário virtual: o registro do cotidiano do autor, feito em primeira pessoa e, portanto, não jornalístico; e (5) didático, caso em que a página serve como apoio à aula presencial do professor, mas conta com a participação dos alunos. Entende-se por jornalístico o conteúdo publicado de acordo com os cânones da grande imprensa, em que o fato a ser coberto atende aos critérios de noticiabilidade, mais conhecidos como valores-notícia, sendo os mais comuns a atualidade, a verdade e a proeminência. O jornalístico-literário é trabalhado, ainda, como jornalismo opinativo, críticas de cinema e comentários sobre fatos publicados na mídia. Quadro 24 – Gênero

Gênero Jornalístico Jornalístico-literário Literário Diário virtual Didático Total

N° 107 21 1 1 4 134

% 79,9 15,6 0,8 0,8 2,9 100

O que distingue o conteúdo jornalístico publicado em rede vem a ser justamente a exploração dos recursos

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multimidiáticos. Nesse sentido, são identificados os seguintes números para a categoria Recursos Multimídia: Quadro 25 – Recursos multimídia

Recursos multimídia Texto + foto Texto + foto + vídeo Texto + áudio Texto + foto + vídeo + áudio Texto + foto + áudio Total

N° 56 53 5 15 5 134

% 41,8 39,6 3,7 11,2 3,7 100

No momento da pesquisa, a situação é a seguinte: 50,8% das URLs analisadas referem-se à produção de vídeos, o que indica uma tendência ascendente à exploração multimidiática do audiovisual na rede. Para a Vinculação Institucional, leva-se em conta o declarado na página, independentemente de se tratar de portal, site ou blog, com quatro variáveis. Apesar de se entender que a vinculação com a disciplina reflete uma vinculação com o curso, chama atenção o número de URLs que atendem meramente à demanda de entrega de trabalhos de disciplinas. Mesmo que a vinculação com o curso reflita, em termos, a vinculação institucional, são encontradas páginas que fazem referência ao curso mas, ainda assim, não estão hospedadas em servidor da instituição, bem como outras que são produzidas pelos núcleos do curso de forma independente das disciplinas. A análise dessa variável demonstra uma distribuição bastante equilibrada entre as alternativas possíveis. Quadro 26 – Vinculação institucional

Vinculação institucional Sem vinculação Vinculação com o curso Vinculação com a instituição Vinculação com a disciplina Total

N° 37 33 32 32 134

% 27,6 24,6 23,9 23,9 100

A continuidade dos projetos aparece como um ponto importante para a avaliação dos encaminhamentos do ensino do jornalismo digital. Nesse sentido, o fenômeno pode ser lido sob, pelo menos, duas perspectivas. Uma é a da instituição, outra a do alunado, tendo o corpo docente como mediador. Assim, busca-se verificar quantas instituições efetivamente abrem um espaço dentro de suas próprias páginas, sejam elas portais ou sites, para hospedar a produção digital dos alunos do curso de jornalismo. Chega-se aos seguintes números: 50


Quadro 27 – Hospedagem na home page da instituição

Vinculadas Não vinculadas Não informado Total

Instituições públicas N° % 13 46,4 8 28,6 7 25 28 100

Instituições particulares N° % 15 20,6 44 60,2 14 19,2 73 100

Supõe-se que a hospedagem dos blogs no site da instituição reflita a concordância com o conteúdo publicado, o que demandaria a existência de mediações institucionais no sentido de controlá-lo. Muitas instituições não têm essa estrutura disponível, o que gera certo receio em hospedá-las em seu servidor. A análise revela que, entre as instituições públicas, existe um porcentual mais elevado de projetos vinculados às suas respectivas home pages (46,4%), enquanto, nas particulares, esse porcentual cai consideravelmente (20,6%). Havia uma suspeita inicial de que os alunos estivessem criando produtos na rede apenas para cumprir uma formalidade exigida pela disciplina para avaliação do semestre. Por isso, foi convencionado que um projeto com duração curta seria aquele com menos de seis meses, enquanto um projeto com duração longa teria uma existência com intervalo superior a esse período, uma vez que boa parte das instituições trabalha por semestre e não por ano. Mas, de alguma forma, os resultados são melhores do que o esperado, já que se encontra uma margem pequena (5,8%) de projetos de curta duração. Quadro 28 – Duração das produções laboratoriais na web

Duração Curta < 6 meses Longa > 6 meses Total

N° 71 63 134

% 52,9 47,1 100

No indicador de produção coletiva ou individual segundo a autoria, os números revelam a predominância dos projetos coletivos, o que indica uma prática pedagógica baseada na constituição de grupos de trabalho. Sabe-se que o jornalismo é uma atividade tradicionalmente baseada no trabalho em equipe, com clara divisão de funções. Os dados levantados podem indicar uma contradição em relação ao novo perfil esperado do profissional: o do jornalista multitarefa e multimídia, capaz de fazer sozinho todos os trabalhos que antes eram desempenhados por vários profissionais. Contudo, como não é possível identificar as rotinas de produção noticiosa apenas pela observação das URLs, e é provável que se esteja frente a estudantes que atendem ao novo perfil e apenas optam pela construção coletiva do conteúdo do site, blog ou portal, produzindo matérias com elementos multimídia de modo independente. 51


Quadro 29 – Autoria das produções laboratoriais na web Autoria N° Coletiva 117 Individual 17 Total 134

% 87,3 12,7 100

Em relação à abrangência da cobertura, o conteúdo é dimensionado em relação à sua amplitude: • • •

Local: tudo que diz respeito ao município ou região vizinha e, portanto, passível de contar com a apuração presencial do repórter-aluno; Nacional: abrange um espectro maior e, por isso mesmo, leva o aluno a recorrer a outras fontes de apuração – grande imprensa, agências de notícia on-line etc.; Internacional: informações de cobertura inacessíveis à apuração direta dos alunos e, portanto, também originadas, ainda que parcialmente, de fontes externas.

Acredita-se que o envolvimento autoral do aluno se dê mais fortemente no caso da Cobertura Local, em que, inclusive, aumentam as probabilidades de surgimento de pautas pouco encontradas na grande imprensa. Sua valorização tangencia questionamentos que se dão com base no pressuposto de que, na rede, o usuário assume uma postura mais proativa do que diante dos meios de comunicação de massa. Assim como na maior parte dos veículos de rede integrantes da grande imprensa, há casos em que a cobertura encontrada nas produções laboratoriais analisadas se dá em apenas duas (local/nacional e nacional/ internacional) ou mesmo nas três variáveis de abrangência. Dessa forma, é verificado o seguinte: Quadro 30 – Cobertura das produções laboratoriais na web

Cobertura Local Nacional Internacional Local + nacional Nacional + internacional Local + nacional + internacional Total

N° 62 21 13 11 9 18 134

% 46,3 15,7 9,7 8,2 6,7 13,4 100

A Apuração autônoma também é um indicativo valioso para saber em que medida existe, efetivamente, por parte dos alunos, um processo completo de produção de conteúdo (pauta, apuração, produção de imagem, reportagem, edição) ou um mero empacotamento. 52


Embora seja difícil identificar com certeza a produção autônoma em oposição ao empacotamento, percebe-se que a variável de localidade é um dos indícios de produção autônoma. O uso de imagens disponíveis na rede, bem como de vídeos no YouTube, não é considerado em princípio como empacotamento, uma vez que FERRARI (2003), em sua definição do conceito, não deixa claro se as imagens estáticas (fotos) e as imagens dinâmicas (vídeos) acrescentadas ao texto empacotado são autorais ou retiradas da rede. Quadro 31 – Apuração das produções laboratoriais na web

Apuração Autônoma Empacotamento Mista Total

N° 62 20 52 134

% 46,3 14,9 38,8 100

Em sua maioria, as páginas contêm coberturas no modelo da grande imprensa, inclusive replicando as editorias mais comuns: cidade, cultura, economia, esportes, política, internacional. No entanto, por vezes, há projetos dedicados a conteúdo segmentado, especialmente em relação ao jornalismo cultural, inclusive os ligados a eventos sazonais, como as festas juninas (mais detalhes no capítulo 4.0, dedicado aos produtos laboratoriais). Quadro 32 – Conteúdo das produções laboratoriais na web

Conteúdo Geral Segmentado Total

N° 84 50 134

% 62,7 37,3 100

Nesse levantamento, é possível verificar, também sob o ponto de vista numérico, que instituições mais apresentam projetos, o que pode indicar em que medida existe um investimento do curso ou mesmo da instituição na linguagem digital. Existe a suspeita de que o volume de URLs informado por algumas instituições demonstra apenas o grande número de alunos inscritos nas disciplinas ligadas ao jornalismo digital e que demandam atividades práticas, o que não necessariamente reflete o investimento institucional na produção de conteúdo jornalístico a ser veiculado na internet. Quadro 33 – Instituições mais representativas em termos absolutos

Instituição Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) Centro Universitário Barão de Mauá Universidade Estácio de Sá Niterói (Unesa)

Estado RS SP RJ

N° 20 12 6

53


Por fim, em relação à existência de um núcleo de comunicação dedicado à produção laboratorial digital, percebe-se que, em muitas instituições, são compatibilizadas diferentes rotinas produtivas. Há momentos em que se produz conteúdo especialmente para meio digital e, em outros, aproveita-se o que já foi produzido para outras disciplinas. Nessa variável, foram apurados os seguintes os indicadores: Quadro 34 – Núcleos de comunicação para produção laboratorial digital

Categoria O núcleo de comunicação publica conteúdo próprio O núcleo de comunicação reproduz e/ou edita conteúdo produzido em outras disciplinas O núcleo de comunicação sistematiza etapas dos processos produtivos de um meio digital Não Outros Não responderam

% 32,4 22,5 20,6 22,5 16,7 6,9

Disciplinas anteriores à revolução do virtual e que são citadas pelos coordenadores como correlatas ao ensino do jornalismo digital constituem um fenômeno pertinente e interessante. A seguinte prática pode ser uma estratégia que parte de um consenso entre alunos e professores: ao postar o conteúdo produzido originalmente para impresso, rádio ou telejornalismo, aumenta-se a visibilidade da produção praticamente sem custo. A questão da visibilidade é algo cada vez mais relevante e é usada em termos promocionais pelas instituições particulares. Pontes com o jornalismo cultural Os temas do mundo da cultura têm, na web, espaço privilegiado para discussão, em sites jornalísticos, blogs especializados e redes sociais. São poucas as instituições, no entanto, que contam com disciplinas direcionadas a essa especialidade do jornalismo. Na maioria dos casos, ela é abordada em disciplinas como Jornalismo Especializado, Redação Jornalística e Comunicação e Cultura, apenas para citar alguns exemplos. O ensino do jornalismo cultural no Brasil foi tema do mapeamento realizado pelo Rumos Jornalismo Cultural 2007-2008, pesquisa com a qual dialogaremos em nossa análise. Com as possibilidades para o exercício do jornalismo na internet, a cobertura do campo cultural ganhou, também, esse novo suporte. Os jornais literários, por exemplo, que marcaram a vida europeia no século XVII e a brasileira no século XIX, renascem com outra roupagem, mas novamente com o objetivo de aglutinar movimentos e tendências literárias. Assim como os livros, a música, as artes visuais, a dança, as artes cênicas e a cultura popular também passam a contar com divulgação, discussão e crítica por meio do jornalismo digital. Como os estudantes de jornalismo estão sendo preparados para atuar nesse cenário? Para bem desempenhar sua função, é exigido, do jornalista de cultura, um acúmulo de conhecimento teórico e um nível eleva54


do de consumo cultural. O jornalismo digital tem como uma de suas principais marcas a rapidez – tanto da apuração quanto da publicação e do processo de leitura do receptor. De que forma esse aparente paradoxo se ajusta na prática do jornalismo cultural na rede? Os estudantes de jornalismo brasileiros estão sendo preparados para enfrentar essas questões? De que modo? Por meio de quais métodos de ensino? Para provocar esse debate, o questionário enviado às coordenações dos cursos de jornalismo continha a seguinte questão: “O jornalismo cultural é trabalhado ou discutido junto às práticas de jornalismo digital? De que maneira?”. Das 102 instituições que responderam ao questionário, 64 (62,7%) afirmam trabalhar/discutir jornalismo cultural junto às práticas de jornalismo digital, 37 (36,3%) afirmam não trabalhar e 1 (1%) não respondeu à pergunta. Os dados são apresentados no seguinte quadro comparativo: Quadro 35 – Jornalismo cultural nas disciplinas de jornalismo digital

Resposta Sim Não Não informado

% 62,7 36,3 1

O complemento da questão remetida aos coordenadores – “de que maneira?” – permitiu a compreensão das propostas metodológicas de cada curso em relação ao tema, desde um ponto de vista qualitativo. Entre os cursos que abordam o jornalismo cultural nas disciplinas de jornalismo digital, essa especialidade aparece, principalmente, nas atividades práticas e laboratoriais (41,1%). Em alguns cursos (22,5%), na disciplina de jornalismo digital, é proposta a produção de blogs ou sites de tema livre – a preferência dos alunos por temáticas relacionadas à cultura é explicitada por duas instituições respondentes. Há um caso interessante, na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), em que, na disciplina de jornalismo digital, são analisados sites especializados em cultura. Nessa universidade, são oferecidos projetos interdisciplinares – em um deles, as disciplinas de Radiojornalismo e Jornalismo Digital produzem podcasts. No segundo semestre de 2010, o tema é a memória cultural da cidade. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), na disciplina Jornalismo na Internet, é produzida uma revista eletrônica de jornalismo cultural. Nela, as pautas giram em torno de expressões artísticas e hábitos culturais. Na Universidade da Amazônia, na disciplina de jornalismo digital, ganha relevo a questão do “glocal”, em uma perspectiva que engloba as relações entre o mundial, o nacional e a realidade local, com o objetivo de verificar como o jornalismo digital se traduz na sociedade contemporânea. Ainda na análise de sites, aparece a proposta do Centro Universitário da Fundação Oswaldo Aranha, de estudo das práticas hegemônicas e contra-hegemônicas de jornalismo digital e suas abordagens sobre a 55


cultura. Essas são vinculadas predominantemente a editorias de entretenimento nos grandes portais de informação ou a práticas de resistência e crítica cultural, em blogs e sites diversos – independentes ou especializados no tema. Há referência, também, a discussões, no campo teórico, da relação entre comunicação, cultura e tecnologia. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolve uma experiência pioneira: o Pontão Lab, um laboratório permanente do Pontão de Cultura Digital da Escola de Comunicação (ECO), aberto à utilização e à experimentação para todos os pontos de cultura/grupos/coletivos culturais e movimentos sociais do Rio de Janeiro. Além disso, é um lugar para produção multimídia com software livre, que agrega e produz documentação. O Pontão da ECO também oferece cursos de extensão, com a intenção de formar multiplicadores que atuem em pontos de cultura, projetos e movimentos sociais, coletivos e redes ativistas. A ideia é que esses cursos sirvam de base para que os conhecimentos livres, principalmente os relacionados à produção de mídia, sejam compartilhados e se constituam em um ponto de partida para a realização de projetos que fortaleçam as redes de comunicação e produção de cultura alternativa. Outra experiência interessante é a relatada pelas Faculdades COC (Unicoc), de Ribeirão Preto (SP). Na disciplina Jornalismo On-Line II, na qual é discutido o jornalismo colaborativo, os alunos desenvolvem conteúdo para o portal Overmundo (www.overmundo.com.br), voltado à cultura brasileira. Nesse curso, embora os estudantes não trabalhem com uma publicação própria, passam por uma experiência de colaboração consolidada e colocam sua produção em diálogo com o que é feito por estudantes, jornalistas e autores localizados em diferentes pontos do país. Alguns respondentes mencionam a discussão do jornalismo cultural em diferentes disciplinas do curso, como Jornalismo Especializado, Redação Jornalística, Jornalismo Impresso, Telejornalismo, Antropologia Cultural, Multimídia Jornalística, Jornalismo Opinativo, Rádio, História da Arte, Teatro, Cinema e Vídeo, Oficina de Jornalismo, História e Análise da Produção Audiovisual Contemporânea, Comunicação e Contemporaneidade, Projetos Integradores, Comunicação e Cultura Contemporânea, Projeto Experimental, Edição Jornalística, Gêneros Jornalísticos e Seminário. Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o jornalismo cultural é oferecido como curso de pós-graduação lato sensu. O que se pode inferir com base na pesquisa é que o jornalismo cultural não é discutido em suas especificidades nas disciplinas voltadas ao jornalismo digital – ele atravessa todos os suportes, assim como as demais especialidades, mas com certo destaque, por ser um dos preferidos pelos alunos. Poucos cursos de jornalismo (5,8%) mencionam disciplinas, obrigatórias ou optativas, de jornalismo cultural, nas quais o aluno tem a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos na área, para aplicá-lo nas disciplinas práticas direcionadas aos diferentes suportes, como o digital. O dado dialoga com o Mapeamento do Ensino do Jornalismo Cultural no Brasil em 2008. Naquele levantamento, foram identificadas 126 56


disciplinas que abordam o gênero e afins. Destas, somente 16, ou 12,7%, abordam o tema com exclusividade. As matrizes curriculares privilegiam as disciplinas de áreas tangenciais ao jornalismo cultural propriamente dito, como Estética, Cultura de Massas e Cultura Brasileira, que aparecem em um total de 42,8%, seguidas de matérias de conteúdo específico, como Jornalismo Literário ou Fundamentos de Cinema (26,9%) e semiplenas, como Jornalismo Especializado (17,4%). O jornalismo cultural, como disciplina plena, aparece em quarto lugar. O mapeamento de 2008 identificou, também, 23 disciplinas optativas relacionadas ao jornalismo cultural – desse universo, três são plenas, uma é semiplena, 12 são de conteúdo específico e sete são de conteúdo tangencial. Os resultados desta pesquisa apontam o predomínio do exercício prático do jornalismo cultural nas disciplinas de jornalismo digital e esboçam o mapa do ensino do jornalismo cultural na rede no país. “Apontam” e “esboçam” porque, em uma questão aberta, de viés qualitativo, os respondentes tiveram total liberdade para expressar, cada um a seu modo, a abordagem do jornalismo cultural nas disciplinas de jornalismo digital de sua universidade. Alguns o fizeram em poucos parágrafos, outros em apenas um e a maioria em umas linhas. O que se apresenta aqui são os dados registrados nesses depoimentos, que podem ocultar, involuntariamente, preciosas informações sobre o assunto em discussão, visto que a pesquisa não apresentou um desdobramento de questões que pudesse fazer emergir, de fato, o universo de ensino do jornalismo cultural relacionado à web. O que se pode afirmar, com o nível de certeza que este mapeamento permite, é que o jornalismo cultural é abordado nas disciplinas de jornalismo digital, predominantemente, por meio de atividades práticas de reportagem, assim como acontece com as demais especialidades do jornalismo. Referências bibliográficas AZZOLINO, Adriana Pessatte; SEGURA, Aylton; GOLIN, Cida; ALZAMORA, Geane; ANCHIETA, Isabelle; MARI NHO, Margareth Assis; MAGALHÃES, Marina; TEIXEIRA, Nísio; PEREIRA, Wellington. Mapeamento do ensino de jornalismo cultural no Brasil em 2008. São Paulo: Itaú Cultural, 2008. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2003.

57


Lincando teoria e prรกtica: os produtos laboratoriais Sandra Machado e Soraya Venegas

58


As produções laboratoriais dos cursos de jornalismo encontradas no Brasil de 2010 são tão variadas quanto o clima das cinco regiões. Em meio a uma fase em que não se pode falar de fórmulas consagradas de êxito em termos de apropriação da internet para o ensino do jornalismo digital, percorrer a paisagem de projetos pela rede é se surpreender a cada página. Com base nas visitas feitas a cada URL informada pelas instituições via questionário, foi desenvolvido um método de análise em duas frentes. Sob o ponto de vista qualitativo, procurou-se perceber as tendências de aproveitamento dos recursos da rede por parte dos alunos em termos do que parecia mais evidente. Nesse sentido, buscou-se identificar que tipo de página era mais comum (portal, site, blog...), se o gênero era puramente jornalístico ou também literário, por quanto tempo estava na rede, se era escrito individualmente ou em grupo. Houve uma busca por identificar, também, que recursos multimidiáticos estavam sendo incorporados à produção laboratorial, seu grau de vinculação com a instituição, a magnitude da cobertura em termos geográficos, em que medida a apuração era independente ou fruto de empacotamento e, da mesma forma, o conteúdo geral ou segmentado, além do estado de origem de cada página. Essas características foram tabuladas em colunas e, após a consolidação dos dados, analisadas quantitativamente em termos de incidência, a fim de gerar rankings para cada aspecto elencado. Essas estatísticas, portanto, não espelham o material bruto gerado com base nas respostas dos questionários. As disciplinas teórico-práticas (49,6%) são as de maior incidência diante das disciplinas puramente práticas (17,1%) e puramente teóricas (13,4%), conforme detalhado no capítulo anterior. Numa soma dos dois primeiros tipos, percebe-se que, para conceber o ensino do jornalismo digital, é necessário prever práticas laboratoriais em 66,7% das disciplinas ligadas direta ou indiretamente à área. Por isso, esse conjunto de disciplinas servirá de paradigma, num primeiro momento, para uma análise mais detalhada. Assim, enquanto nas instituições públicas as disciplinas teórico-práticas equivalem a 38,8% do total, nas particulares elas correspondem a 53,6%. No caso das disciplinas puramente práticas, a situação se inverte: nas instituições públicas, elas representam 19,9% e, nas particulares, 16,1%. Contudo, ao se somar os porcentuais, a comparação revela uma maior inclinação pela produção laboratorial nas instituições particulares (69,7%) contra 58,7% das públicas. Além disso, observa-se que a rede particular de IES dispõe de uma infraestrutura mais favorável à prática laboratorial, como segue: 59


Quadro 1 – Infraestrutura laboratorial

Instituições públicas (28)

Instituições particulares (73)

Alunos por micro

1 Entre 1,1 e 2 Entre 2,1 e 3 Mais que 3 Não informaram

%

%

9 9 2 1 7

32,1 32,1 7,2 3,6 25

50 8 3 1 11

68,5 15,1 1,4 0 15

Percebe-se, pelos dados levantados nessa pesquisa, que o terreno do ensino do jornalismo digital no Brasil, além de movediço, está distante de condições didático-pedagógicas ideais. As competências exigidas do jornalista na sociedade digital ainda não estão claras. Nota-se, entretanto, que a maior parte das disciplinas informadas como direta ou indiretamente ligadas ao jornalismo digital prevê atividades práticas que podem tomar a forma de produtos jornalísticos a serem disponibilizados na rede. Não é à toa que, das 102 instituições pesquisadas, apenas 20 não informaram nenhum endereço de produção laboratorial. Outras, ao contrário, chegaram a informar 20 links, como foi o caso da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Desses, mais de 50% estavam claramente vinculados à entrega de trabalho para determinada disciplina. Na comparação da quantidade de URLs mapeadas em relação ao que é produzido em instituições públicas e particulares, a superioridade numérica da infraestrutura material parece se refletir num número maior de produtos laboratoriais por parte das particulares: Quadro 2 – Produção laboratorial das instituições públicas e das particulares

URLs

Instituições públicas (28) N° % 28 20,8

Instituições particulares (73) N° % 106 79,2

Sob o ponto de vista geográfico, em termos quantitativos, há uma predominância das regiões Sudeste e Sul no que se refere à produção laboratorial, como visto no Quadro 1, apresentado no capítulo 3.0. Das 102 instituições que informaram a existência de produção, 70,8% estão localizadas nas regiões Sudeste ou Sul. Quanto às 134 URLs acessadas, as duas regiões respondem por 110 delas, ou 82% da produção – respectivamente 56,7% e 25,3%. 60


Quadro 3 – Produção laboratorial por região do país (por URLs)

Região Sudeste Sul Nordeste Centro-Oeste Norte Total

N° (URLs) 76 34 12 7 5 134

% 56,7 25,3 8,9 5,3 3,8 100

Apesar de os estudos e práticas de ensino de jornalismo digital terem uma configuração desigual nas instituições públicas e privadas, nota-se que o uso da internet e seus variados recursos está se generalizando. A rede é utilizada como base para pesquisas, como meio de comunicação interpessoal e como grande fonte de imagens fotográficas e videográficas que servirão de complemento para apurações autônomas ou mesmo como notícias prontas a serem empacotadas. Por outro lado, muitas vezes por falta de infraestrutura da própria instituição que permita escoar a produção audiovisual dos alunos, cada vez mais comum graças ao acesso disseminado a celulares com câmeras e câmeras fotográficas e filmadoras digitais, esse material acaba sendo colocado na rede por meio de hospedagem no YouTube, que atua como um facilitador de grande visibilidade. Nesse sentido, o mapeamento apontou que 41% das URLs pesquisadas incorporam, de alguma maneira, o YouTube em suas postagens. Esse processo de naturalização do uso da rede leva a que muitos docentes não percebam o grau de alfabetização digital (RIBAS; PALACIOS, 2008) que está sendo requisitado na maioria das disciplinas curriculares (inclusive as de cunho eminentemente teórico e aparentemente com pouca conexão com a produção jornalística para internet). Ao observar as disciplinas em que se exige a produção de conteúdos para a rede, esse grau de demanda pela alfabetização digital tende a crescer. Nesse sentido, a pesquisa apontou uma predominância do uso de blogs (63,3%) na produção acadêmica, com ligeira predominância para a ferramenta Blogger (36,5%) em comparação ao Wordpress (26,8%). Esses porcentuais referem-se aos produtos laboratoriais listados no questionário, produzidos tanto nas publicações institucionais quanto nas criadas pelos próprios alunos para as atividades em classe, individuais ou em grupo. O uso dos blogs como prática pedagógica é defendido por RIBAS; PALACIOS (2008). Para eles, com seu uso, os estudantes aprendem na prática como identificar suas fontes no ciberespaço e julgar sua confiabilidade; como fazer referências a informações veiculadas por outros meios de comunicação, comentando-as quando for o caso; como escrever textos jornalísticos opinativos; como produzir textos em conjunto com colegas e como fazer linkagens a outros blogs relevantes. 61


Apesar de o fenômeno blog ser percebido nacionalmente (das 134 URLs visitadas, 85 eram blogs), por meio do mapeamento analisado em função das regiões do país foi possível ressaltar que outros variados caminhos os estudantes de jornalismo têm preferido tomar quando se trata de produzir trabalhos para publicação na web. Quadro 4 – Uso de blogs por URLs

Região Sul Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste Total

URLs 34 5 12 76 7 134

Blogs 28 4 7 44 2 85

% 82,3 80 58,3 57,8 28,5

A Região Sul é aquela em que os estudantes mais largamente aderiram à publicação de blogs (82,3%), proporcionalmente ao número absoluto das URLs analisadas (34). Não foi encontrado nenhum blog destinado à publicação exclusiva de fotografias (os chamados fotologs) nem de vídeos (videologs, ou vlogs). A postagem para inserções num blog – seja de texto, imagem estática, imagem dinâmica ou arquivo de áudio – é uma operação relativamente simples por se tratar de uma página administrativa cujos campos são dados e permitem uma criatividade relativa em termos de layout. Apesar de os estudantes de jornalismo revelarem uma inclinação para o uso do blog, nas URLs avaliadas foi insignificante o registro do uso do recurso de interatividade: as postagens praticamente não recebem comentários. No entanto, existem outros indicadores capazes de revelar o grau de proximidade dos estudantes com o que é publicado, como a cobertura feita na própria municipalidade. A Comissão de Especialistas nomeada pela Portaria MEC-SESU 203/2009, formada para repensar o ensino do jornalismo no contexto de uma sociedade em transformação, apontou que um dos critérios a serem pontuados em termos de avaliação da qualidade dos cursos é o conjunto da produção jornalística e de atividades de pesquisa e de extensão realizadas pelos alunos ao longo de sua formação, bem como a contribuição dessas atividades para o desenvolvimento social local e de cidadania nos contextos em que a IES está inserida. No sentido de contemplar o que é valorado no novo perfil de cursos de graduação em jornalismo em termos de contribuição para a comunidade, é importante perceber como a cobertura local vem sendo tratada nas URLs. Quando o aspecto a ser analisado era o grau de importância da cobertura da localidade, a Região Centro-Oeste foi aquela que mais se destacou, com 85% de páginas dedicadas ao assunto. Ao mesmo tempo em que são publicadas matérias com pautas que privilegiam a administração municipal, educação, trânsito, saúde pública e centros culturais, entre outros, elas revelam o estilo de vida de rincões do país nem sempre integrados pelos veículos de comunicação de massa. 62


Quadro 5 – Cobertura local por URLs

Região Centro-Oeste Nordeste Norte Sul Sudeste

URLs 6 10 4 26 40

% 85 83 80 76 52

Na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, encontra-se uma amostra bastante instigante da opção pela cobertura de assuntos locais. O site Escola da Prática preserva, mesmo dentro da editoria internacional, a publicação de notícias relacionadas à cidade, como a assinatura de um acordo de intercâmbios de estudo. Outro caso interessante a ser pontuado na região é o da Universidade Anhanguera-Uniderp, que mantém um microblog no Twitter por meio do qual são enviados links que remetem às páginas das publicações de texto e audiovisual do curso de jornalismo. O conteúdo é essencialmente voltado para a divulgação e a cobertura de eventos e prestação de serviços relacionados aos diversos cursos da instituição. Portanto, o resultado é uma interação social dos alunos que vai além das mensagens informais e tem uma base com fins jornalísticos e, ao mesmo tempo, educacionais. O perfil do egresso do curso de jornalismo, reafirmado pela Comissão de Especialistas, destaca a capacidade do profissional em pesquisar, selecionar e analisar informações em qualquer campo de conhecimento específico. Nesse contexto, destaca-se a importância da apuração autônoma em contraposição às práticas de empacotamento (FERRARI, 2003) tão comuns na atualidade. A propósito do questionamento a respeito dessa prática, foi verificado que é na Região Sul (82%) que os estudantes apuram suas matérias com mais autonomia e recorrem menos a outras fontes de informação, como as agências de notícias ou outras publicações. Quadro 6 – Apuração autônoma por URLs

Região Sul Nordeste Norte Sudeste Centro-Oeste

URLs 28 9 3 31 3

% 82 75 60 40 37

Um bom exemplo de apuração totalmente autônoma é o blog O Capital da Notícia Zona Leste, o jornal-laboratório do curso de jornalismo das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil, Curitiba/ PR). Ele funciona em caráter experimental na disciplina de Redação IV (Jornalismo na Web) e é coor63


denado pelo professor Rafael Schoenherr. O projeto foi iniciado no segundo semestre de 2008 e o conteúdo publicado faz referência apenas à Zona Leste da capital paranaense. Nas reportagens, embora não haja grandes recursos multimídia em arquivos de áudio e vídeo, os textos e as fotos são de responsabilidade das turmas. A existência de comentários postados indica uma relativa exploração da interatividade e, quanto ao uso do hipertexto, as postagens parecem atender ao que se espera de um bom texto jornalístico na internet: em geral, há uma matéria principal e, no pé do texto, os links colocados nos títulos das matérias. Destaca-se, também, um trabalho desenvolvido na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). O Infocampus é apresentado como uma publicação institucional que objetiva retratar o cotidiano da universidade, tendo como público-alvo seus alunos, servidores (professores e técnicos administrativos), familiares e moradores da região. Nesse contexto, nota-se a importância dada à memória da instituição, que comemora 50 anos em 2010. Há uma mescla de reportagens sobre acontecimentos atuais e reportagens atemporais, com abertura para um ensaio fotográfico que mostra os pontos menos conhecidos do campus. De acordo com as informações disponíveis no site, desde agosto de 2010 o Infocampus passou a ser um projeto de extensão que agrega profissionais e estudantes de jornalismo. Nasceu como jornal laboratorial para web em 2005, sempre associado à disciplina Teoria e Técnica de Jornalismo Digital III, oferecida anualmente. Hoje os alunos dessa disciplina, ministrada pela professora Luciana Mielniczuk, trabalham em parceria com os de Teoria e Técnica de Jornalismo Impresso II, sob a coordenação do professor Rondon de Castro. Mesmo quando os estudantes trabalham com apuração autônoma, muitas das URLs repetem os modelos tradicionais de cobertura e edição jornalísticas. Nesse contexto, cabe o questionamento: em que medida apresentam alguma inovação, seja em termos de seleção noticiosa, seja em termos de recursos de linguagem? Em geral, as produções dos alunos espelham o modelo dos veículos da grande imprensa, na medida em que procuram incluir suas editorias mais comuns. Apesar dessa tendência, existem também aqueles projetos que chamam atenção pela vanguarda. A propósito da apuração autônoma, destaca-se uma das cinco produções laboratoriais mais representativas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), criada em 2002: a Agência Uerj de Notícias Científicas (Agenc), coordenada pelo Laboratório de Editoração Eletrônica (LED). A proposta é oferecer formação em jornalismo científico aos graduandos. Da pauta à edição, eles são supervisionados pelos professores e o diferencial fica por conta de que a pesquisa promovida dentro da instituição é a fonte primária de apuração e reportagem, o que consequentemente gera visibilidade para a produção científica das unidades acadêmicas. Todo o material disponibilizado na rede pode ser utilizado ou reproduzido pelos veículos de comunicação da grande imprensa, desde que citada a fonte. 64


Quadro 7 – Segmentação por URLs

Região Sul Centro-Oeste Nordeste Sudeste Norte

URLs 21 3 4 21 1

% 61 37 33 27 20

Apesar da tendência à informação geral, foi possível identificar a incidência de páginas dedicadas ao conteúdo segmentado, em suas mais variadas expressões. Chamou atenção um projeto da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), com o blog chamado Operação Diploma, ligado à disciplina de Jornalismo Multimeios. O objetivo dos alunos é compartilhar o momento da formatura: a angústia de dar conta do Trabalho de Conclusão de Curso, os preparativos para a festa. Embora a página não traga nada muito inovador em relação à multimidialidade, a temática abordada é bastante original e até interessante como experiência para outros estudantes em vias de se formar. Outras experiências destacam-se no contexto de iniciativas que privilegiam o jornalismo cultural. O primeiro deles está no Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e inclui três projetos culturais. Comunik é uma web-revista multimídia produzida num projeto interdisciplinar das matérias Jornalismo Cultural, Jornalismo Opinativo e Interpretativo, e Produção e Edição em TV, sob a responsabilidade da professora Lorena Tárcia. O site Ezine, um projeto que durou o primeiro semestre de 2008, reúne essencialmente crônicas e críticas de cinema escritas pelos alunos da disciplina Jornalismo On-Line. O jornal on-line Impressão é o jornal-laboratório do curso de comunicação social da UniBH e tem um cunho essencialmente cultural. Na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), existem diversas produções que chamam atenção. A página Macacos Digitais funciona como uma espécie de rede social para a comunidade da Escola de Comunicação (ECO) e na qual a interatividade é levada muito a sério pelos alunos. Segundo o editorial, ela surgiu depois de inúmeras tentativas malsucedidas de criar um jornal impresso. “A ideia era criar uma revista on-line da ECO, que falasse sobre tudo. No Macacos Digitais, não há censura nem linha editorial – o que existe é vontade de informar e de fazer notícia.” Qualquer um está convidado a enviar artigos, reportagens, críticas, filmes, fotos e charges para contribuir com os galhos, que é como chamam as editorias. Nerdlândia é uma produção da disciplina Jornal Laboratório e tem editores dedicados a mídias sociais, assessoria de imprensa e publicidade, além de alunos encarregados de fazer crítica de games, cinema e TV. O Pontão Lab, em atividade desde janeiro de 2009, articula-se a partir da Central de Produção Multimídia (CPM) e pretende “potencializar e apoiar tecnicamente e conceitualmente a rede de pontos de cultura do estado do Rio de Janeiro”, além de se articular com a rede nacional de Pontões de Cultura Digital. Nele, a experimentação de projetos culturais e movimentos sociais é estimulada, e a produção multimídia faz-se por meio de software 65


livre. Há encontros presenciais todas as segundas-feiras à noite, na chamada festa da Instalação Permanente. Do total das 102 instituições mapeadas, 62% relataram trabalhar com jornalismo cultural, sendo que 41,5% em práticas laboratoriais e 22,7% na disciplina de Jornalismo Digital. Muito provavelmente porque a internet ainda é percebida como um lugar para a publicação de textos, a despeito de sua multimidialidade, é justamente pela literatura que os estudantes mais se expressam sob o ponto de vista artístico. A exemplo dos jornais que dedicam espaço à criação literária e ao chamado novo jornalismo, aquele que propõe a aproximação entre os campos do jornalismo e da literatura, foram encontradas páginas em que os estudantes abriram espaço para a publicação de trabalhos autorais, em geral no estilo de crônica. O fenômeno configurou-se apenas em duas das cinco regiões do país: Sul e Sudeste. Quadro 8 – Jornalismo e literatura (por URLs)

Região Sudeste Sul

N° (URLs) 16 5

% 21 14

Foi também na Região Sudeste que surgiu a única URL dedicada apenas à literatura: Virando Jornalista, do Centro Universitário Barão de Mauá, em São Paulo. Esse blog é publicado por Matheus Farizatto desde junho de 2007 e dedica-se especialmente às crônicas num estilo bastante livre, além de críticas de produtos da indústria cultural, como videoclipes e filmes, por exemplo. Farizatto demonstra uma boa compreensão dos recursos que a rede oferece, uma vez que frequentemente lança mão de inserções de vídeos do YouTube (multimidialidade) e de enquetes (interatividade). Percebe-se, em seu texto, uma formulação que incorpora o discurso conversacional, característico da linguagem encontrada na rede em termos de intercâmbios interpessoais, como no uso de e-mails e chats. Um exemplo de produção literária coletiva é o Beco dos Garranchos, da Universidade Veiga de Almeida, do Rio de Janeiro, que busca instigar os alunos entre o 1º e o 3º períodos a escrever crônicas. Textos e ilustrações são publicados dentro da página da agência de notícias do curso. A inovação, tão valorizada no novo perfil de profissional, pode surgir da temática escolhida, das possibilidades criativas da língua pátria, mas também advém do uso crescente dos recursos visuais e multimídia. Outro item pontuado pela Comissão de Especialistas é a valorização do ambiente de convergência tecnológica e o não predomínio da lógica do impresso na produção laboratorial para a rede. No entanto, na prática, os veículos de comunicação que já se encontram representados na rede ainda reproduzem um conteúdo que é essencialmente calcado no texto escrito e que, quando muito, aparece sub66


dividido em uma matéria principal e inúmeras coordenadas lincadas por meio de hipertexto, o que abre a possibilidade para a leitura não linear. A mesma lógica inspira os estudantes, a julgar por suas produções laboratoriais. Com raras exceções, eles ainda não concebem suas matérias jornalísticas sob uma perspectiva de multimidialidade, nem sequer utilizam fotografias. Ao se ter uma visão geral das produções laboratoriais de jornalismo digital nas instituições brasileiras, passada a primeira década do século XXI como um todo, é inevitável certa frustração. O baixo grau de inovação no uso dos recursos multimídia, a fraca experimentação de novos formatos e linguagens e o subaproveitamento da interatividade por parte dos estudantes contrastam em larga medida com a hiperatividade dos mesmos jovens que, informalmente, aderem sem restrições aos sites de redes sociais. A instituição, por sua vez, deveria ser o lugar de incentivo irrestrito à renovação dos modelos, que tem início, prioritariamente, por uma postura menos pragmática em relação à empregabilidade dos recém-formados. Apesar desse cenário, o apelo mais representativo de vanguarda entre os alunos refere-se à produção de notícias em audiovisual. Nesse sentido, é a Região Sul aquela que, proporcionalmente, apresenta o melhor índice de aproveitamento das práticas laboratoriais nesse segmento. Quadro 9 – Vídeos (por URLs)

Região Sul Norte Sudeste Centro-Oeste Nordeste

N° (URLs) 22 3 39 2 2

% 64 60 51 25 16

A Universidade Federal de Santa Catarina desenvolve um projeto de extensão para experimentação de novos formatos em jornalismo digital chamado Cotidiano, no qual existe uma produção organizada pelo Núcleo de Televisão Digital Interativa (NTDI) do curso de jornalismo. Sob a orientação da coordenadora Maria José Baldessar, a proposta é utilizar os recursos de hipermídia, que reúnem texto, áudio e vídeo, para veiculação de matérias ligadas à UFSC e de interesse da comunidade universitária. O site exemplifica de que maneira é possível, ainda na graduação, fazer televisão com qualidade. Pelo elevado número de produções, a Região Sudeste também se destaca e, nesse sentido, vale pontuar algumas experiências interessantes. A primeira delas na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro que, inclusive, faz transmissões ao vivo na TV do portal PUC Rio Digital com excelência em qualidade de som e imagem. Esse laboratório de convergência de mídia, cujo slogan é “leia jornal, ouça rádio, veja TV”, é resultado de uma estrutura que envolve dezenas de profissionais num curso de comunicação que, paradoxal67


mente, não inclui em sua grade o jornalismo digital. O mais importante, no entanto, é que essa formalidade não tem comprometido a execução de bons projetos práticos. Eventualmente, são encontradas iniciativas, como a rede JilóPress de Comunicação Multimídia, que integra o trabalho dos campi da Universidade Estácio de Sá das cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis. Num contexto mais abrangente de observação, foi possível intuir a existência de três grandes eixos de produção laboratorial: vinculados à instituição ou ao curso e organizados em núcleos; entrega burocrática de trabalho da disciplina; e URLs autorais e independentes, que nasceram (ou não) da prática da disciplina, ou seja, as que seguiram caminho desvinculado das atividades cotidianas do curso de jornalismo. Pelo Quadro 10, constata-se que é na Região Sul que, proporcionalmente, se encontra a maior incidência de produções laboratoriais que não fazem qualquer menção à vinculação com a disciplina, o curso ou a instituição. Quadro 10 – Produção independente por URLs

Região Sul Sudeste Centro-Oeste Norte Nordeste

URLs 11 20 2 1 2

% 32 26 25 20 16

O blog Mídia Recorte, dedicado à política e à crítica de mídia, ilustra bastante bem o tipo de liberdade editorial de que desfrutam os estudantes quando não relatam qualquer vínculo acadêmico com a instituição – nesse caso, a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Diferentemente das empresas de jornalismo, nas quais se verifica maior controle da produção, a internet possibilita um campo mais propício para a livre experimentação. A questão está ligada ao conceito de disciplina em Foucault (1996), que fixa os limites para a atualização permanente das regras inerentes às condições de produção. Essa perspectiva se completa sob o conceito da rarefação do sujeito, proposto pelo mesmo autor, segundo o qual nem todos têm acesso às condições de funcionamento de um dado gênero discursivo – no caso, o jornalístico. O meio acadêmico e o meio jornalístico constituem-se como sociedades de discursos que não apenas produzem doutrinação com modelos conservadores, mas também se encarregam de fazer com que seus discursos circulem num ambiente exclusivo. Bem o contrário do espírito da internet, em que os discursos teriam mais chances de ser publicados com menos restrições de forma e conteúdo. A coautoria do público – via mecanismos de interatividade, como e-mail, chats, fóruns, listas de discussão – em relação ao discurso jornalístico é uma possibilidade de inovação no texto on-line muito pouco explorada 68


pelos estudantes. Possivelmente por uma questão de cultura, uma vez que a falta de comentários postados não representa o número de acessos à página e, muito menos, a intensidade da leitura. De maneira geral, as páginas produzidas nos laboratórios dos cursos de jornalismo brasileiros estão longe de oferecer uma verdadeira experiência de imersão ao usuário, o que definitivamente é a vocação da rede digital. É preciso lembrar, também, que, por causa de sua natureza virtual, a rede tende a ser usada como lugar de armazenamento para um infinito número de produções, sejam elas textuais, fotográficas, sonoras ou audiovisuais, com a vantagem da instantaneidade e da acessibilidade. Até o advento da internet, o compartilhamento desses conteúdos concebidos para veiculação na web e mais todos aqueles produzidos originalmente para os meios televisivo, cinematográfico, radiofônico ou impresso era absolutamente inconcebível. Ao serem analisadas as páginas que mantinham atualização por mais de seis meses, foi a Região Norte que apresentou o mais alto índice (60%), enquanto a Região Sul apresentou o pior (20%). O fenômeno pode estar relacionado à característica anteriormente referida de que há produções laboratoriais cuja publicação se deve meramente à necessidade de cumprimento de tarefas de aula. No entanto, é preciso lembrar que o número absoluto de produções por região influencia bastante o cômputo geral e a Região Norte é justamente aquela que tem menos projetos. Quadro 11 – Médio prazo por URLs

Região Norte Sudeste Nordeste Centro-Oeste Sul

N 3 43 6 3 7

% 60 56 50 42 20

A Universidade da Amazônia, no Pará, mantém o blog Breados On-Line Comunicação e Cultura nas Múltiplas Amazônias desde outubro de 2009. Ele exemplifica bastante bem de que forma professores e alunos da Região Norte se apropriam das novas tecnologias para marcar seu lugar no ciberespaço. Uma postagem da professora Ivânia Neves datada de 8 de agosto de 2010 resume em poucas palavras o significado que tem qualquer espécie de avanço para quem vive na região. A pauta veio a propósito de um projeto do curso de comunicação social da Unama, “Crianças Suruí-Aikewára entre a Tradição e as Novas Tecnologias”, que ganhou visibilidade nacional. A professora comenta: Não era problema de conflito de terra, de prostituição, de políticos corruptos, de denúncias contra médicos ou policiais. Nesta última sexta-feira, 6 de agosto, o Pará esteve no Jornal Nacional, da Rede Globo, por causa do nosso projeto. Todos sabem bem o poder mítico da Rede Globo no Brasil. E é muito importante que a matéria tenha traduzido nossa forma de pensar a realidade das sociedades

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indígenas atualmente, sociedades que vivem nas fronteiras. [...] A próxima postagem sobre esta matéria vai trazer a impressão deles.

Entre as páginas com produção laboratorial que estão há mais tempo na rede, merece destaque a do Repórter Junino. É um projeto do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), criado em 2005 para a cobertura em jornalismo digital da festa de São João, em Campina Grande, sede da universidade, e de outras localidades da Região Nordeste, por meio da colaboração de alunos de diversas universidades. Desde então, mais de 500 estudantes de graduação envolveram-se na continuação desse projeto. Idealizado pelos professores Fernando Firmino da Silva e Águeda Miranda Cabral, o site tem o objetivo de funcionar como um laboratório para a prática do jornalismo digital em condições reais de produção, aproximando os formandos do cotidiano de uma redação multimídia. De norte a sul, muitos Brasis descortinaram-se por meio da produção laboratorial dos futuros jornalistas. O passeio pelas URLs demonstrou, por um lado, a diversidade de interesses e a busca pela inovação e, por outro, a tentativa de reproduzir na estrutura editorial e visual o que o mercado dita como boas práticas do jornalismo digital. O caminho é promissor. O estado da arte das produções laboratoriais em 2010 No segundo semestre de 2010, as produções laboratoriais dos cursos de jornalismo em todo o Brasil são tão numerosas quanto multifacetadas. Nesta lista encontram-se as URLs que integraram esta pesquisa, agrupadas de acordo com a instituição. A numeração ao lado do nome da IES indica a quantidade de produtos informados. Universidades

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Produtos vinculados ao JD (URL)

Universidade Federal da Bahia (UFBA) – 1

www.lupa.facom.ufba.br

Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) – 1

www.utp.br

Faculdades Integradas do Brasil (Unibrasil) – 1 Universidade Federal do Paraná (UFPR) – 1 Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) – 1 Universidade de São Paulo (USP)

zonaleste.wordpress.com/ www.jornalcomunicacao.ufpr.br www.curitibaagora.com.br Não informado


Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL)

Universidade Federal do Maranhão (UFMA) – 1

www.webjornalismo.ufma.br

Universidade Federal do Piauí (UFPI) – 1 Universidade Federal da Paraíba (UFPB) – 1

www.comunicacaoorganizacionalufpi.blogspot.com www.espaco-experimental.blogspot.com

Universidade Federal do Ceará (UFC) Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) – 1

Não informado www.hipermidia.unisc.br/jor www.dessalita.wordpress.com/ www.reparisotto.wordpress.com/ www.babelianaweb.wordpress.com/ www.jol2101.wordpress.com www.jol2.wordpress.com www.operacaodiploma.wordpress.com www.bboavida.wordpress.com

www.tatooblog53.wordpress.com www.quatrofrequencias.wordpress.com Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) www.botecosdauni.wordpress.com – 20 www.agamaiusculo.wordpress.com www.doguison-line.blogspot.com www.cavideotape.wordpress.com www.midiarecorte.wordpress.com www.tczao.wordpress.com www.espacodasuperacao.blogspot.com www.questaodeidade.wordpress.com www.seriadonews.wordpress.com www.segundonagauchars.wordpress.com www.tvdginda.wordpress.com

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Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL)

Universidade Federal de Santa Maria (UFMS) – 1 www.ufsm.br/infocampus Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR- Não informado GS) Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) – 1 www.agexon-line.blogspot.com

www.universitario.educacional.com.br/academico/ www.jornalismoabertobarao.blogspot.com www.virandojornalista.blogspot.com www.desertomolhado.blogspot.com www.preceitosdesvairados.blogspot.com www.esporteopinado.blogspot.com Centro Universitário Barão de Mauá – 12 www.gemeosdocinema.blogspot.com www.maiucha.blogspot.com www.cafecomribeirao.com.br www.eptv.globo.com/blog/blog.asp?id=59 www.madeinmidia.blogspot.com www.entrelinhasvirtuais.blogspot.com Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) www.cotidiano.ufsc.br –2 www.jornalismoon-lineufsc.blogspot.com/ Centro Universitário Cesmac – 1 www.ccos.fejal.com.br/agencia www.unifoa.edu.br/revistaweb Centro Universitário da Fundação Oswaldo Aranha (Unifoa) – 2 www.radiounifoa.blogspot.com

Sociedade de Ensino Superior Faculdade Pinhei- www.redefpg.ning.com ro Guimarães – 1

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Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL) www.unifolha.com.br

Universidade Anhanguera-Uniderp – 5

www.uniderp.br/labfoto/ www.youtube.com/user/uniderpoficial WWW.twitter.com/tvpantanaluni www.orkut.com.br/Main#Profile?u id=1929964360376646779 www.agenc.uerj.br www.noticiasdavila.uerj.br

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) –5 www.uerjviu.uerj.br www.cronicasecronicas.uerj.br www.aconteceh.uerj.br Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Não informado (Uern) Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Não informado Universidade Federal de Sergipe (UFS) – 1 www.jornal-contexto.blogspot.com Universidade Federal de Mato Grosso do Sul www.webjornalismo.jor.br (UFMS) – 1 www.uffcom40.blogspot.com/ www.oguiadocalouro.blogspot.com/ Universidade Federal Fluminense (UFF) – 4 www.trendenciasbrasil.blogspot.com/ www.atrilhasonora.com Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Não informado (UFRRJ) www.pontaodaeco.org/opontaolab Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – www.macacosdigitais.net 4 www.dominioindisponivel.blogspot.com www.jornaldosnerds.blogspot.com

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Universidades Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora – Macaé

Produtos vinculados ao JD (URL) Não informado

www.jilopress.blogspot.com Universidade Estácio de Sá do Rio de Janeiro – 3 www.peneirando.wordpress.com/ www.jornalismodigital2010.wordpress.com

Universidade Estácio de Sá de Petrópolis – 3

www.jilopetro.blogspot.com. www.pilhadenoticias.wordpress.com www.blogdonucom.wordpress.com

Universidade Estácio de Sá de Friburgo – 1

www.friweb.com.br/noticias www.red4noite20101.wordpress.com www.multinitmanha.blogspot.com

Universidade Estácio de Sá de Niterói – 6

www.multinittarde2.blogspot.com www.rednittarde.blogspot.com www.rednitmanha.blogspot.com

Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande – 1

www.redacao4tarde20101.wordpress.com www.fes.br/agencia_noticias.php

Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina – 1 Faculdade Estácio de Sá de Vitória – 1 Centro Universitário Radial (Estácio UniRadial)

www.floripaadventure.com www.webjornal.fesv.br Não informado

Faculdade Integrada do Ceará (Estácio FIC) – 1 Centro Universitário da Bahia (Estácio FIB) – 1

www.fic.br www.webnatrilha.wordpress.com

Faculdade Estácio de Sá de Juiz de Fora – 3

www.blogcamaleoa.wordpress.com www.fotojornalismojf.wordpress.com www.ciberjor.wordpress.com/

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Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL) www.portaleca.unp.br

Universidade Potiguar – 3 www.jornalismounp.blogspot.com www.twitter.com/comunicacaounp Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janei- www.puc-riodigital.com.puc-rio.br/ ro (PUC-Rio) – 1 Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná (Ceu- www.blogdacomunicacaosocial.blogspot.com/ lji/Ulbra) – 1 Centro Univertário Luterano de Palmas (Ceulp- Não informado Ulbra) Faculdade Atual da Amazônia – 1 www.atualpress.wordpress.com Faculdade do Pará Não informado

Faculdades Integradas de Patos – 3

Instituto Esperança de Ensino Superior – 2 Centro Universitário Nilton Lins – 1 Faculdades Integradas do Tapajós – 1 Universidade Castelo Branco (UCB) – 2

www.agenciajornalismofip.blogspot.com www.saojoaoempauta.com www.ogancho.com www.iespesjornalismo2008.wordpress.com www.expoiespes.wordpress.com www.niltonlins.br www.tapajoaramuiraquita.blogspot.com.br www.castelobranco.br/tvcastelo/ www.youtube.com/user/TVCasteloUCB

Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) – 1 www.reporterjunino.com.br Universidade da Amazônia 1 www.breadoson-line.blogspot.com Centro Universitário Fluminense/Faculdade de Não informado Filosofia de Campos Centro Universitário do Norte – 1 www.dialog.blog.br Universidade Veiga de Almeida (UVA) – 1 www.agenciauva.com.br

75


Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL)

www.contrapautas.wordpress.com/ Centro Universitário do Leste de Minas Gerais (Unileste-MG) – 3 www.oterceiroturno.wordpress.com/ www.2lifenotes.blogspot.com/ Faculdades Integradas do Norte de Minas (Fu- Não informado norte) Universidade Fumec Não informado Faculdade de Comunicação Social de Passos www.jornalismodebolso.blogspot.com (Facomp-Fesp) – 1 Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – 1 www.fafich.ufmg.br/tubo Universidade Presidente Antonio Carlos (Unipac) Não informado Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop)

Universidade Federal de Viçosa (UFV) – 3

Centro Universitário Una – 1

Não informado www.netvibes.com/carlosdand#Feed_Blogs_da_turma_de_Multim%C3%ADdia_2008_2 www.netvibes.com/carlosdand#Feeds_Turma_Multimidia_2009_2 www.com.ufv.br/audioslides www.contramao.una.br

Universidade do Vale do Sapucaí (Univas) – 1 www.angulodanoticia.com.br/news.php?id=3 Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) – 1 www.universoufes.com Faculdade Pitágoras de Linhares (FAP) Não informado Universidade Federal de Uberlândia (UFU)

Não informado www.dcs.pucminas.br/coreu/omundo/ Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais www.forumverdeparalelo.blogspot.com (PUC Minas) – 4 www.coresdezhang.wordpress.com www.fca.pucminas.br/radio www.virgulaon-line.blogspot.br Fundação Educacional de Divinópolis (Funedi) – 2 www.seasfocasfalassem.blogspot.com/2009/08/e-seas-focas-falassem.html

76


Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL)

www.comunik.net Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) –3 www.ezine.jor.br www.jornalimpressao.com.br Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais www.fca.pucminas/radio (PUC Minas, São Gabriel) – 2 www.fca.pucminas.br/saogabriel/ci Instituto de Ensino Campo Limpo Paulista – 1 www.profarenataruiz.wordpress.com Instituto Municipal de Ensino Superior de Bebe- www.10semanadecomunicacao2009.blogspot.com/ douro (Imesb) – 1 Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) – 2 www.unaerp.br/comunicacao www.unaerp.br/comunicacao/age União das Faculdades dos Grandes Lagos (Uni- Não informado lago) www.saibamaisnet.blogspot.com/ Pontifícia Universidade Católica de Campinas www.saibamaisnet.com.br/ (PUC-Campinas) – 3 www.saibamaisnet.com.br/saibamaisnet.htm Faculdade Prudente de Moraes (FPM) – 1 www.redatordigital.blogspot.com Universidade de Franca (Unifran) Não informado Fiam-Faam Centro Universitário – 1 Universidade Cidade de São Paulo – 3

www.fiamfaam.br/momento www.comunicacidade.unicid.br www.comunicacidade.unicid.br

Faculdades COC (Unicoc) – 1 Universidade São Judas Tadeu (USJT) – 1

www.youtube.com/watch?v=JVAiByKw2lw www.faculdades.coc.com.br/jornalismo www.sites.usjt.br/expressaoon-line/

Faculdade do Vale do Ipojuca (Favip) – 1 Universidade do Vale do Paraíba (Univap) – 2

www.favip.edu.br/v5/cursos.php?id=33 www.virtual.univap.br/anima/ www.virtual.univap.br/olhe/

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Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL) www.faculdadeobjetivo.com.br

Instituto de Ensino Superior de Rio Verde (Iesri- www.twitter.com/iesriver - follow @iesriver ver) – 5 www.culturaobjetiva.blogspot.com/ www.jovenscomobjetivo.blogspot.com/ www.liquidomundo.com/blog/?cat=16 Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC www.pucgoias.edu.br/ucg/agencia/home/index.asp Goiás) – 1 Universidade de Brasília (UnB) – 1 www.fac.un.br/campuson-line Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) www.unimepjornal.com.br –1 Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) – 2 www.unoeste.br/tvfacopp www.unoeste.br/wrf

Universidade de Santo Amaro (Unisa) – 2

www.unisa.br/focaqui/index.html www.unisa.br/graduacao/humanas/jorna/index.html

Centro Universitário Maringá (Cesumar) – 1

www.cesumar.br/portaldacomunicacao www.linguagensdigitais.com.br www.coloquiosaderiva1.blogspot.com

Centro Universitário Univates – 5 www.espiadanovale.blogspot.com www.lavanderiadovale.blogspot.com www.papodepe.blogspot.com Fundação Municipal Centro Universitário de www.comunicacaouniuv.com.br/ União Vitória – 1 Faculdade do Norte Novo de Apucarana Não informado Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul www.cyberfam.pucrs.br (PUCRS) – 1 Universidade de Caxias do Sul (UCS) – 1 www.agenciaucs.wordpress.com

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Universidades

Produtos vinculados ao JD (URL)

Universidade Norte do Paraná

Não informado

Universidade de Passo Fundo – 2

www.revistacomarte.blogspot.com www.upf.br/comarte www.grupouninter.com.br/revista

Faculdade Internacional de Curitiba – 2 www.grupouninter.com.br/radioweb

Referências bibliográficas FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2003. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996. Referências eletrônicas DIRETRIZES Curriculares Nacionais para o curso de jornalismo. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ dmdocuments/documento_final_cursos_jornalismo.pdf. Acesso em: 14 ago. 2010. RIBAS, Beatriz; Palácios, Marcos. Os blogs no ensino do jornalismo: Relatos e reflexões a partir de experiências pedagógicas. 2008. Disponível em: http://www.dialogosfelafacs.net/76/articulos/ pdf/76RibasPalacios.pdf. Acesso em: 15 de ago. 2010. SUPREMO decide que é inconstitucional a exigência de diploma para o exercício do jornalismo. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/noticias/1362220. Acesso em: 20 jul. 2009. 79


Clicando no hipertexto: seis professores debatem o jornalismo digital e seu ensino Bernardete Toneto e Leonardo Cunha

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A riqueza de um grupo focal depende não só da competência e da experiência dos participantes, mas também de suas diferenças. Para discutir o ensino do jornalismo digital no Brasil, reunimos seis professores experientes que trouxeram na bagagem uma grande pluralidade em termos de formação, ideias e modos de atuação: Gerson Martins (UFMS), Suzana Barbosa (UFBA), Luciana Mielniczuk (UFSM), Claudia Quadros (UTP), Fabio Malini (UFES) e Beth Saad (USP). Luciana e Suzana mantiveram-se no campo do jornalismo desde a graduação até o doutorado. Cláudia percorreu trajeto semelhante, mas graduou-se também em relações públicas. Fabio tem graduação e doutorado em jornalismo e mestrado em ciência da informação. Beth é doutora em comunicação, mas vem de graduação e mestrado em administração de empresas. Gerson já era formado em filosofia e psicologia quando se graduou em jornalismo, área em que também fez seu doutorado. Alguns têm ampla experiência na redação de grandes veículos, como Suzana e Cláudia. Alguns são defensores convictos da obrigatoriedade do diploma do jornalismo, como Gerson. Outros ainda, como Fabio, são adversários dessa exigência. Para o Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural foi uma sorte poder reunir todos esses olhares numa sextafeira, 13 de agosto, para discutir, durante cinco horas, as especificidades, dilemas e desafios do ensino do jornalismo digital no Brasil. Este capítulo apresenta as principais ideias debatidas pelo grupo, citadas diretamente, para permitir que o leitor acompanhe de perto os nós e links desse rico diálogo. Jornalismo digital: nomes, conceitos, campos de atuação No início da reunião, cada um dos professores utilizou uma nomenclatura diferente para se referir a seu campo de atuação. Luciana e Cláudia apresentaram-se como professoras de jornalismo digital. Suzana também se disse professora de jornalismo digital, acrescentando, porém, que integra um grupo de pesquisa em jornalismo on-line. Beth também utilizou o termo jornalismo on-line. Gerson, por sua vez, apresentou-se como professor de ciberjornalismo e Fabio, único que não usou o termo jornalismo num primeiro momento, posicionou-se como um professor ligado à cibercultura. Esse início serviu como mote para que os professores discutissem os fatores que definem os rumos de uma disciplina de jornalismo digital: a nomenclatura, a ementa, o perfil do professor? E mais: como cada um compreende esse campo em que atua? 81


Luciana: Tenho um artigo1 em que tento sistematizar essa questão da nomenclatura, que me incomoda há bastante tempo. Mas, na prática, cheguei à conclusão de que não adianta tentar organizar. Certas coisas precisam se auto-organizar com o tempo. Prefiro o uso do termo jornalismo digital, porque ele é mais abrangente. Webjornalismo é um termo que usei em minha tese de doutorado, porque em 2003 era o fenômeno mais recente, mas ele acaba se limitando ao ambiente web. Hoje em dia já não dá para usar essa denominação. Jornalismo on-line está muito ligado à influência norte-americana, pois é o termo que eles mais adotam. Mas nem tudo que é digital precisa ser obrigatoriamente on-line. Claudia: Jornalismo on-line é mais fácil para o aluno compreender, mas é uma terminologia muito reduzida, porque abrange o jornalismo em tempo real. Jornalismo digital é muito mais amplo e compreende, inclusive, o jornalismo on-line. Suzana: De alguma forma existe, entre alguns professores, uma unidade em relação à terminologia jornalismo digital. Ela consegue abarcar as multiplataformas de produção e disseminação de conteúdo, que vão além da plataforma web. Portanto, o termo digital consegue abranger as plataformas móveis, os celulares, os iPods, e os novos que virão por aí, já que o cenário aponta para isso. Gerson: Meu uso e minha defesa do termo ciberjornalismo tem a ver com influências espanholas, com o contato bem frequente com Ramon Salaverría. Minha perspectiva é a de que o ciber está mais amplo que o web e um pouco mais restrito que o digital. Todo o processo que produz jornalismo no ambiente virtual está no âmbito do ciberespaço, e meu entendimento é o de que o conceito de jornalismo digital, em muitas questões, não entra nesse aspecto. Suzana: Ciberjornalismo é um termo abrangente, mas não tanto. Digital dá conta da marca do suporte, da matriz. Desde os anos 1970, a gente vivencia o processo de digitalização, mas a matriz digital passa a vigorar mesmo em torno dos anos 1990, em todas as mídias, incluindo telefone, televisão. Beth: Jornalismo digital é o termo mais amplo, mas eu queria colocar uma pimentinha aqui na discussão. Na medida em que esse campo digital se amplia, não só em termos de sites, mas no âmbito das mídias digitais, até 1 MIELNICZUK, L. Sistematizando alguns conhecimentos sobre jornalismo na web. In: MACHADO, E.; PALACIOS, M. (Org.). Modelos de jornalismo digital. Salvador: Calandra, 2003.

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mesmo o blog, que já está incorporado dentro do jornalismo, a gente começa a questionar não a palavra digital, mas a própria palavra jornalismo. Na hora em que começamos a migrar para os dispositivos onde você tem a participação do usuário, num patamar quase similar àquele do jornalista, surge a pergunta: “Estamos fazendo o quê? Jornalismo ou mediação da informação?”. Fabio: Algumas perspectivas de pensamento têm uma visão midiacêntrica de fazer a definição jornalística com base no suporte. E a gente cai na tentação de definir com base no meio e não no processo... Claudia: O nome da disciplina influencia até a metodologia do professor. Você pode acompanhar uma evolução: quando a disciplina só se chamava Jornalismo On-Line, parecia que havia muito mais prática do que teoria. Outro fator que influencia é a ementa. Mas as ementas permanecem fixas durante anos, então o mais importante, como temos percebido na pesquisa do Procad, é o perfil do professor. Ele é mais flexível, precisa se atualizar, porque as mídias digitais mudam muito e o ensino precisa acompanhar. Gerson: O perfil do professor, ou, como costumo dizer, sua fé, influencia não só o nome da disciplina, mas a própria existência dela. Quando comecei a lecionar em Mato Grosso do Sul, o ensino de ciberjornalismo era incipiente, não existia disciplina específica. Na reforma curricular, a disciplina, e também o Laboratório de Ciberjornalismo, já surgiram em decorrência do professor Gerson. Luciana: Existem também outros aspectos ligados ao uso dos termos e dos conceitos. Por exemplo, a circulação de arquivos em outros países. Às vezes é preciso adotar como palavras-chave jornalismo digital, jornalismo online e ciberjornalismo num mesmo texto, para permitir que sua tese, sua dissertação, seu arquivo sejam mais facilmente encontrados. Claudia: Eu estive participando recentemente de um curso de jornalismo digital, da Universidade do Texas, que reuniu professores de várias partes do país. Uma das discussões foi esta, sobre o uso dos termos jornalismo on-line e jornalismo digital. Um dos argumentos a favor do uso do termo on-line foi: “A academia está muito longe do mercado. Vocês utilizam terminologias que não são utilizadas no mercado”. Gerson: Concordo, mas, por outro lado, acho que nós, como formadores ou, para usar uma palavra melhor, orientadores de futuros profissionais no jornalismo, devemos estabelecer alguns caminhos. Se formos nos adaptar 83


ao que o mercado profissional muitas vezes expõe ou determina, pode até virar um caos. Uma das funções da academia é fazer uma espécie de vanguarda nesse aspecto. A universidade e o mercado de trabalho A relação da academia com o mercado de trabalho – ou mercado profissional, como prefere Gerson – permeou grande parte do debate. Sem que o tema fosse levantado, os seis professores manifestaram constante preocupação relativa a um diálogo que mescla conflitos e relações de paz. A pergunta central foi: “Para que formamos o jornalista?”. Desse questionamento surgiu a discussão – crítica e autocrítica – sobre o papel da universidade no campo da teoria e da prática e seu diálogo com as empresas jornalísticas. O grupo abordou suas concepções sobre um mercado de emprego em transformação, as diferenças locais, as tentativas de acercamento mútuo e experiências de trabalho conjunto. Beth: O jornalista que trabalha com jornalismo on-line precisa conhecer o mundo, precisa conhecer a sistemática de relações de negócio, de mercado, de processo, de planejamento. Não se pode ensinar e trabalhar com jornalismo on-line se não se tiver conhecimento do dia a dia do mercado. Não existirá nenhum termo – ciber, web, digital, o que for –, se não partirmos da práxis, do que está acontecendo no dia a dia. Luciana: Em palestras, há uma pergunta recorrente: “Professor, o senhor acha que a faculdade deve formar para o mercado?”. Respondo: “Sim! Devemos preparar para o mercado – se a gente não formar para o mercado, quem vai formar?”. Beth: Existe um verdadeiro preconceito com relação até a qualquer termo que a academia proponha ou a qualquer metodologia. O que para nós é uma atividade, parte do nosso trabalho, parte do criar, testar e disseminar métodos, linguagens, formatos, tudo que sai da academia é mal considerado. Como se dissessem: “Não! Eles são acadêmicos, estão viajando, não conhecem o mercado”. Suzana: No caso da Bahia, há algum tempo está se criando uma proximidade do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line e algumas empresas, que também estão refletindo sobre sua prática com base nesse encontro, inclusive participando regularmente de reuniões do grupo. Beth: Quem está em locais menores tem uma facilidade maior de aproximação com o mercado. Em São Paulo, a questão é um pouco mais complexa. Não vou falar em concorrência, mas as grandes empresas de mídia es84


tabelecidas aqui têm cursos próprios de jornalismo. Estadão, Folha, Editora Abril têm concursos concorridos. É um contexto não explícito de que os profissionais que preparamos não saem da faculdade adequados para trabalhar nessas empresas. Suzana: Grandes empresas do Brasil não têm cursos como as de São Paulo. No processo seletivo para estágio, em que a concorrência também é absurda, eles agora têm valorizado bastante os estudantes com experiência nos cursos de jornalismo. Estão compreendendo esse mundo que eles chamam de mundo digital. Gerson: Não gosto do distanciamento na relação com o mercado profissional. Sou completamente contrário. Inclusive um dos trabalhos que faço questão de manter é com o Sindicato dos Jornalistas. Tenho um contato muito frequente com as redações e, para fortalecer essa relação, hoje tenho uma coluna semanal em um dos principais diários de Campo Grande, não só para divulgar ideias, reflexões, mas para estar presente no mercado profissional. Essa postura já mostrou aos empresários locais, e principalmente aos empresários de portais de notícias, que a UFMS está preocupada com a formação, e vem aquele pedido das indicações... Dizem: “Eu recebo o candidato e ele não tem qualquer conhecimento, qualquer experiência em jornalismo na internet. Tenho de ensiná-lo e não tenho tempo”. Fabio: Acho que os jornais locais têm outro problema: forte dependência financeira dos governos locais. Há uma dificuldade, não diria crise, de não ter um modelo especifico empresarial que implante o digital de maneira clara nas grandes redações. Suzana: Na Bahia, certa vez participei de um processo de seleção para o portal A Tarde On-Line. Conversei com alguns dirigentes e um deles me falou que não sabia que a Universidade Federal da Bahia tinha um grupo de pesquisa nessa área. Ele perguntou: “Por que vocês não divulgam?”. No Rio, na minha experiência de dois anos na Universidade Federal Fluminense, comecei a ter contato com O Globo e com O Dia. Eles precisavam estabelecer um diálogo com quem estava estudando aquilo e nem sabiam que no Brasil poderia ter alguém. Fabio: O mercado das redações jornalísticas tem se caracterizado hegemonicamente, e para mim vai continuar se caracterizando, como um jornalismo on-line, break news. As redações também não sabem lidar com a questão on-line de informações. Há algumas iniciativas brasileiras interessantes, que tentam produzir uma nova linguagem, mas geralmente são especiais, não é uma coisa pulsante. Em geral, o texto jornalístico on-line é um repeteco dos textos da TV e da revista. 85


Beth: Mas tem outra coisa que a gente não pode esquecer: o mercado tem preconceito em relação à academia, mas a academia também tem preconceito em relação ao mercado. Muitas vezes, especialmente em universidades como a USP, que é maior, entram aspectos ideológicos. Muitas vezes não se pode trazer alguém da mídia para falar e divulgar porque vai aparecer um grupo de professores mais radicais que vai protestar, alunos do Centro Acadêmico vão colocar um cartaz “Fora o capitalismo da mídia!” e coisas desse nível. Suzana: Cabe à academia se aproximar mais. Há muita resistência, mas já tem um movimento de alguns professores que olham para o mercado. E há empresas que também começam a perceber que não é um mundo à parte, tão distante assim, que é possível um intercâmbio. Os dois lados ganham com isso. Cabe a nós, como pesquisadores, tentar essa proximidade. Fabio: Nos últimos anos, a gente tem uma modificação muito abrupta das dimensões econômicas, que são também definidoras de como esse mercado vai se comportar. Como educador, eu me preocupo em constituir um novo mercado, não com uma perspectiva utópica. Ao contrário, com uma perspectiva de “desutopia”, no sentido de que é preciso construir o mercado, o aluno construir sua própria dimensão empresarial, empreendedora. Claudia: Todo professor tem de pensar no novo mercado. A gente não pode ver o jornalismo apenas nas redações. Inclusive as novas linguagens das mídias nascem nas pequenas assessorias de imprensa, são elas que têm divulgado os produtos mais inovadores. Eu vejo o mercado inovando. Em Curitiba, centros de tecnologia, que não estão ligados propriamente às universidades, têm desenvolvido bons trabalhos, inclusive produtos de sites jornalísticos interessantes. O jornalista digital e suas competências Um tema bastante debatido, ao longo da reunião, foi o conjunto de competências que deve possuir um profissional ligado ao jornalismo digital – tanto as de natureza técnica quanto as de caráter narrativo e mesmo empresarial. E que estratégias a escola deve utilizar para garantir ou, pelo menos, possibilitar que seus alunos terminem o curso minimamente preparados para o mercado profissional e para compreender e atuar no ciberespaço em que estão, inevitavelmente, inseridos. Dentro desse panorama, o grupo discutiu também a importância de o professor de jornalismo digital se atualizar constantemente. Claudia: Hoje o aluno vem para a escola com uma experiência digital, ele já é um cidadão digital, muitos já nasceram 86


com computador em casa. Nesse sentido, a disciplina evoluiu. Eu sinceramente acho que é muito mais fácil você ensinar jornalismo digital agora do que antes. Luciana: Ou mais difícil? Eu penso em uma situação particular, em que estou tendo de aprender coisas sobre vídeo. Porque, quando se pensa em uma pauta integrada, meus estudantes vêm com demandas, querem propor um vídeo e eu tenho de ir atrás, ou confiar em alguém que sei que tem competência para isso. Preciso pedir conselhos para o professor de vídeo, já estou comprando bibliografia sobre isso. Fabio: Ensinar software na aula não funciona. Vira um cursinho de Photoshop, de InDesign etc. No YouTube, tem um monte de tutoriais com os quais você aprende rapidamente essas ferramentas. Tem lá passo 1, passo 2, passo 3. Gerson: Não sei se estou vivendo outro mundo, mas tenho às vezes alguma dificuldade. Porque tenho estudantes que têm facilidade e até mesmo dão baile no professor, mas também tenho vários estudantes que não têm qualquer interesse nessa área, não desenvolvem qualquer tipo de Twitter, blog, Orkut, nada disso. Suzana: O professor tem o papel de orientador e também atua como um supervisor. O mais importante é o processo cognitivo, o entendimento de como os alunos vão construir um conteúdo. Eu costumo trabalhar com eles a ideia de uma pauta integrada. Como partir de uma ideia, de um assunto amplo, apurar, pesquisar e prever como seriam os conteúdos multimídia que estariam agregados, pensando principalmente na estrutura hipertextual desse material. Fábio: O jornalista, no meio digital, deve ter a possibilidade de narrar de forma diferenciada. É preciso questionar: publicar on-line é uma diferença de linguagem? A competência é editar um vídeo? É editar um texto? Ou é criar uma narrativa que se constitua de uma forma diferenciada, utilizando toda a potencialidade desse dispositivo? Isso é um desafio para o educador! Acho que nas escolas de jornalismo do Brasil ainda há uma grande prisão fordista no processo de produção do ensino. A ideia de que o professor é o grande editor, o grande patrão, e seu dispositivo fundamental é o jornal. Eu acho o contrário: o professor deve deixar de ser o editor-chefe do jornal on-line, deve constituir uma dimensão de produção independente, inclusive, muitas vezes, produzir junto com o aluno. Mas não acredito em um profissional multimídia, acho isso uma besteira. O cara que gosta de foto, mas não curte muito texto, se for desenvolver texto vai ficar chateado. Então, faço um esquema rotativo. Um grupo fica com essa seção, outro grupo com outra. Mas quem quiser fazer só fotografia faz só fotografia. 87


Gerson: Aquele aluno que já tem um contato cotidiano com as redes sociais, convivência com a internet, com o computador, não só facilita nosso trabalho como até pode propor novas ações e recursos que ajudem na melhoria da disciplina, ano após ano. Suzana: Outra competência fundamental está ligada ao processo de apuração. A Fundação Novo Periodismo (Colômbia) fez uma pesquisa, no ano passado, que mostrava que a grande dificuldade dentro das redações está na área do conteúdo, de como aprender a fazer pesquisa efetiva, o uso de bancos de dados. Isso é uma deficiência nossa, pois não passamos por um processo que nos Estados Unidos foi bastante desenvolvido, o da reportagem assistida por computador. Nós pulamos essa etapa. A maioria das redações que está em seu processo de convergência e de redação integrada esbarra nesse problema. Não existe a cultura de trabalhar de maneira integrada e muitos profissionais mais maduros ainda têm resistência. Claudia: No início você tinha de ensinar o aluno a fazer hiperlinks, hoje não. Essa relação com o professor mudou; o professor passou a ser mediador. Beth: Tem mais uma competência que acho fundamental: o jornalista reconhecer seu público. Com quem ele está falando? Para quem ele está falando? Qual o comportamento? Qual a linguagem? Como consome informação? Em que plataformas? Como estabelecer um diálogo com ele? Isso já é uma longa competência a ser criada. Fabio: Acho que todo profissional de comunicação tem o desejo de ter um público, e, quando você constrói seu próprio site, seu próprio veículo, é capaz de produzir mais. Por isso outra competência importante, que é uma imensa dificuldade, é programar. Sou muito radical nisso, porque venho de um debate sobre mídia livre, software livre. Acho muito importante o aluno saber programar, mesmo que seja uma programação muito simples. Porque hoje o cara tem de ter seu próprio veículo e isso significa saber programação básica. Posso utilizar um sistema de publicação extremamente avançado, como o Wordpress, que tem mais de 10 mil possibilidades para você fazer o que bem quiser. Então, vejo como uma competência muito importante saber lidar com a programação de sistemas de publicação automática. Beth: Outra coisa importante é o aluno aprender a cuidar de sua reputação on-line. Ao participar das mídias sociais, ele se esquece de que sua reputação está começando a ser construída ali, na graduação. Vai ser jornalista com aquela identidade dali para a frente. 88


Gerson: Algo que tem me preocupado nos últimos meses é a reprodução, a retransmissão – o retweet, na linguagem do Twitter – sem qualquer tipo de apuração ou checagem. Um publica no Twitter alguma ofensa, às vezes até na brincadeira, e isso é retransmitido sem saber se há veracidade na informação original, qual o contexto em que foi publicada. Há uma retransmissão de informação, uma repercussão de informação sem qualquer critério. Nós sabemos hoje que, no dia a dia das redações, isso é um problema seriíssimo. Beth: Nós falamos aqui de um conjunto de competências que são múltiplas, multidisciplinares, transdisciplinares. De um lado, a gente está falando da formação de um profissional que tem de carregar um know-how bastante amplo e complexo, um conjunto de competências de convergência. Mas, por outro, temos uma realidade de estruturas curriculares, curso e mercado que são opostas, são fragmentadas. Portanto, a gente tem a disciplina jornalismo digital separada daquela do jornal-laboratório impresso, separada do laboratório de vídeo, cada um não querendo invadir o feudo do outro. Mesmo com as recentes mudanças curriculares do MEC, estamos quilometricamente longe da convergência. No meu ponto de vista ideal, a gente não devia centrar o curso de jornalismo no fragmentado, nas especialidades. Para mim, o bom curso de jornalismo do futuro deverá estar centrado numa redação convergente; o centro do curso é esse espaço de convergência. A dinâmica da disciplina e a questão da transdisciplinaridade Diferentes metodologias são utilizadas pelos professores no ensino do jornalismo digital. Tendo em vista um cenário marcado por constantes mudanças operacionais, o grupo partilhou suas experiências e a dinâmica das disciplinas. Aqui, eles apresentam problemas e soluções encontrados em sala de aula, pessoas, processos e recursos. Dois temas ganham destaque: o primeiro é a questão da transdisciplinaridade, que consta da maior parte dos projetos pedagógicos e deve ser colocada em prática; o outro refere-se ao uso de ferramentas para o ensino a distância. Suzana: Os currículos hoje são bastante compartimentalizados. Mas não dá para ser assim, porque tudo é integrado. Não há produção em uma disciplina que não passe pelo digital, inclusive porque atualmente é mais fácil e mais barato. Gerson: No meu caso, existem várias disciplinas não ligadas ao ciberjornalismo que utilizam as ferramentas da internet. Mas não há integração com a disciplina Ciberjornalismo, o que no meu entendimento é péssimo! Acho que deveria haver um relacionamento entre todas as disciplinas de uma estrutura curricular que utilizem questões ligadas à internet, um debate para que uma auxilie a outra em seu desenvolvimento.

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Claudia: Na Tuiuti, há um projeto chamado Projeto Interdisciplinar. Começou com as disciplinas de Jornalismo Digital e Radiojornalismo e neste momento atinge vários períodos e outras disciplinas como Telejornalismo, Jornal Laboratório e Diagramação. Gerou até a criação de novos projetos, como cursos de verão e cursos de inverno envolvendo design, história, relações internacionais e geografia. Além dos projetos interdisciplinares, nós temos o Núcleo de Comunicação, em que são desenvolvidos produtos, desde blogs até a TV que é colocada no YouTube, a web-rádio, que contribui para a disciplina de radiojornalismo. Luciana: O que se percebe é que, muito mais por sugestão dos estudantes que dos professores, há essa vontade de agregar outras disciplinas. Eles chegam assim: “Que legal, vamos falar com o professor de TV para trazer coisas para o digital, vamos pegar reportagem do impresso”. No produto laboratorial existe a vontade de agregar outras disciplinas. Beth: Na ECA, o jornalismo on-line entrou na grade curricular do curso em 2002, sem atribuir a responsabilidade da disciplina a um professor, sendo ministrado de maneira teórica e por palestrantes. O curso sempre teve uma disciplina, no 2º e 3º anos letivos, com o objetivo específico de ensinar a usar tecnologias. A divisão de disciplinas permanece e, em jornalismo on-line, mantém-se a ideia da palestra. Só que os alunos têm clareza da necessidade de produzir conteúdos integrados digitais. Eles têm algumas iniciativas próprias, reúnem-se em grupos autônomos ou para fazer TCC na área. Luciana: Quando cheguei, a UFSM estava passando por uma reforma. Em 2004, havia as disciplinas voltadas para rádio, TV, impresso e a mesma carga horária para digital. Neste semestre, estamos implementando um novo currículo, com Comunicação e Mídias Digitais no primeiro semestre e Jornalismo Digital depois que os alunos fizeram disciplinas introdutórias de rádio, TV e impresso. O aluno chega para fazer Jornalismo Digital e acha que vai sair mexendo em computador. Primeiro, trabalhamos o conteúdo de uma maneira teórica, depois introduzimos algumas noções básicas de jornalismo. Na disciplina prática surgiu um produto laboratorial, um jornal chamado InfoCampus. Fabio: Na Ufes, sou o único professor de on-line. O primeiro objetivo da disciplina é firmar a cultura da independência, pois como o on-line é uma prática que atravessa redações, o mais importante é o desenvolvimento de veículos dos próprios alunos. No momento são duas disciplinas: Teoria e Prática de Meios On-Line e Laboratório de Jornalismo On-Line. Reivindico uma terceira na reformulação do currículo, que seria Cibercultura, para um debate mais amplo. 90


Claudia: Na Tuiuti, a disciplina de jornalismo on-line, teórica e prática, começou em 2000, para atender ao mercado que estava precisando de jornalistas com essa especialidade. Hoje existem Fundamentos Web, Comunicação e Linguagem, e Jornalismo Digital, Produção e Criação de Jornalismo Digital. Beth: No meu caso, há uma disciplina que se chama Gerenciamento de Empresas Informativas. Eu não ensino gestão, ensino o que está acontecendo no mundo do jornalismo hoje, em termos de propostas de narrativas, modelos de negócios, tendências tecnológicas, contextos de grandes grupos de mídia, predomínio da grande mídia com relação não só à mídia alternativa ou a vertentes novas que estão muito fortes dentro do jornalismo digital, sites com patrocínio, com mecenato, onde se faz jornalismo investigativo, onde se faz jornalismo hiperlocal. Onde entra o jornalismo digital nesse processo? Entra em cada tema que a gente joga na disciplina. Os alunos têm de produzir uma matéria em formato digital e colocar no nosso blog, usando o Wordpress. Isso porque estou suprindo aquela falta de oferta em relação às competências técnicas, formatar, saber como se usa o Word, o que é uma reportagem multimídia, como pautar um assunto que possibilite a geração de conteúdos aplicáveis no iPod, conteúdos que vão servir para o impresso, para o SMS, multiplataformas. Como fazer isso? A gente tem de ensinar! Isso eu entendo como competências técnicas, cognitivas. Fabio: Em um primeiro momento, eu trabalhava com jornal on-line e depois fazia com que eles desenvolvessem seus próprios sites. Agora, faço as duas coisas. Na metade do semestre, desenvolvem o jornal on-line e, na outra metade, uma reportagem especial, de profundidade, usando linguagens que acharem convenientes. No semestre passado, trabalhei o jornal on-line estruturado em cinco canais, um deles live streaming. O Twitter a gente usava de duas formas: videocast, podcast, Universo Ufes, de fotos com narrativa fotográfica. E no pé da página notícias e reportagens, uma provocação do que seria notícia para a gente. Luciana: Um dilema que eu sempre vivo é o seguinte: vamos criar uma identidade, fazer um produto fixo, ou vamos trabalhar em cada semestre? Acho que o enfoque do produto laboratorial vai depender da cena geral daquele curso. Suzana: Na UFBA, a disciplina Oficina de Jornalismo Digital começou como optativa, em 1995, e, a partir da reforma curricular, em 1996, foi agregada como obrigatória. A ideia seria trabalhar com a participação e o envolvimento maior da turma. Eles têm de desenvolver a pauta e fazer a matéria, a edição multimídia, a interatividade e, se merecer, a divulgação, articulando o que foi visto na parte conceitual. E eles têm outras disciplinas na área de cibercultura, principalmente de comunicação e tecnologia. Nós trabalhamos disciplinas mais voltadas para conteúdo local, 91


que chamei de Jornalismo em Proximidade, depois Jornalismo Local, e agora Jornalismo Hiperlocal. Em outra disciplina, Tópicos Especiais sobre Hipermídia, a intenção é analisar a questão da convergência. Gerson: Tenho duas experiências, na UFRN e na UFMS, que em termos de metodologia não se diferenciam. A dinâmica é a seguinte: faço uma discussão teórico-prática sobre as reflexões de ciberjornalismo. Depois foco na produção. Transformo minha sala de aula em uma redação, tenho um jornal-laboratório on-line. Reservo um espaço da aula para refletir sobre a produção, tendo como referência o que já foi publicado de pesquisa sobre esse assunto. Eu divido a turma e depois há um revezamento. É importante a experimentação em cada momento, até porque na hora em que for para o mercado profissional, se trabalhar com aquilo de que gosta, ótimo. Mas nem sempre isso acontece, então acho importante preparar. Beth: Na disciplina, temos uma lista de discussão da classe que serve tanto para arquivos de texto como para troca de mensagens e especialmente para postagem de links, dicas de cada um. Todos têm a tarefa de, pelo menos uma vez por semana, postar dois ou três conteúdos de novidades que sejam de uso coletivo. Aproveitando a existência da lista, criamos um grupo dentro do Twitter. Em eventos, eles têm a obrigação não só de dirigir perguntas aos palestrantes, mas também fazer um monitoramento e divulgar para a rede deles. Gerson: Eu tenho me perguntado: faço in loco todas as minhas aulas de ciberjornalismo, alunos no laboratório, até mesmo na sala de aula-padrão, com carteira e quadro. Quantas vezes fiz esse trabalho na modalidade de educação a distancia? Por que nós que trabalhamos com tecnologia não fazemos isso? Infraestrutura: a ideal e a real Além de suas atividades como professores e pesquisadores, os componentes do Grupo Focal conhecem de perto a realidade de inúmeras instituições de ensino brasileiras, seja participando de congressos, seja como membros de bancas examinadoras. Neste tópico, eles discutem a infraestrutura encontrada nas escolas de jornalismo, tanto públicas quanto particulares. Quais são os problemas e dificuldades mais recorrentes, quais são as diferenças e quais as estratégias possíveis para enfrentar essas dificuldades? A se destacar, ainda, neste tópico, o dilema de como as escolas dão livre acesso ou bloqueiam determinados sites e recursos da rede, notadamente as redes sociais. 92


Gerson: Estive em São Paulo, em um trabalho para o MEC, para avaliar uma faculdade. Nesse trabalho, uma das coisas que você observa é o laboratório de informática, as condições, o acesso à biblioteca, os terminais de acesso, aquela coisa toda. Quando cheguei a essa escola, encontrei um laboratório reduzido, os terminais de acesso à biblioteca inexistentes. Questionei isso com a escola e eles me responderam: “Professor, é simples. Todos os alunos que vão entrar nesta escola, na hora da matrícula, recebem um netbook”. Aí eu disse: “Se vocês tiverem mil alunos, vão ter mil netbooks?”. Eles confirmaram: “Cada um vai ter o seu. Então para que laboratório de informática? Para que terminal de acesso à biblioteca, sendo que o prédio todo tem rede sem fio e cada um que faz a matrícula recebe um netbook?”. Perguntei o custo disso. “Nós fizemos um convênio, uma compra grande com os chineses, e cada netbook saiu por 50 dólares. A mensalidade custa 2 mil reais.” Claudia: Sou de uma instituição particular, mas estou desenvolvendo um projeto de pesquisa junto com a USP, a UFBA e a UFSC, que também busca um panorama do ensino do jornalismo digital. Uma das questões que a gente colocou é exatamente sobre a infraestrutura para o curso. As oito escolas de jornalismo de Curitiba têm infraestrutura aparente, mas, se você precisar de acessos a diversos programas, não são todas as escolas que oferecem. Eu me refiro a programas como Photoshop e Dreamweaver. Assim, essas que não têm tais acessos usam software livre. Os professores têm trabalhado muito mais com os blogs por causa disso. Suzana: Na UFF a gente também contava com dois laboratórios que rodavam software livre. Para os alunos, isso era um problema, porque eles não gostavam, tinham rejeição. Luciana: Na Universidade Federal de Santa Maria, hoje se percebe um crescimento do uso de software livre em função, eu não diria de uma política, porque isso não se consegue impor, mas em função de uma vontade da administração de cada vez mais utilizar esses softwares. Suzana: Hoje, nessa ideia de web social ou de web 2.0, a maioria dos aplicativos está mesmo on-line, o que facilita bastante para ministrar disciplinas nessa área, porque não depende de ficar baixando tudo para a máquina, sobrecarregando, que implica o problema de manutenção. Na UFF, os laboratórios eram abertos a todos os alunos, nos momentos em que não havia aula. Como nem sempre há um bolsista presente para controlar a forma como as pessoas usam os computadores, isso gera outro problema: deixa as máquinas muito mais sujeitas ao mau uso, exigindo mais manutenção. Já na Federal da Bahia, a situação da Facom é diferente: ela tem uma infraestrutura bem melhor, ainda que não seja a ideal. 93


Beth: A USP reflete um pouco a realidade das outras universidades públicas. Nós não temos falta de equipamentos. Mas são máquinas obsoletas, antiquíssimas, com monitores que, de tão antigos, até distorcem a visualização dos sites. Além disso, não tem nada integrado dentro desse processo do laboratório. As partes de rádio e TV não são digitais e estão mais obsoletas do que o próprio laboratório de texto. No todo, a situação é de tal precariedade que as aulas de jornalismo on-line acabam não ocorrendo no laboratório, mas quase que na máquina do aluno. O outro lado da moeda é que, a cada semestre que passa, a gente vê mais e mais alunos com seu próprio laptop. Luciana: Eu defendo que, tão importante quanto investir em um laboratório, seria viabilizar que o estudante comprasse sua própria máquina. Aquele caso que o Gerson contou é de uma escola particular, mas as universidades federais poderiam ter programas de financiamento, como o governo tem programa para a compra de computadores para os professores. Mesmo porque a carga horária é pequena para que se possa fazer isso tudo em aula, então sempre se conta com o uso dos computadores dos próprios alunos: notebook, netbook etc. Se você propõe uma atividade, de criar uma comunidade, tentar fazer alguma coisa viral, isso vai depender de mais tempo, e o aluno vai precisar ficar conectado por um período maior. Em vários setores dentro do campus tem wi-fi, na Casa do Estudante, na biblioteca. A gente vê assim o pessoal sentadinho no corredor de fora, encostado no prédio, acessando. Gerson: A boa condição de um laboratório de informática é muito importante. Nós trabalhamos com base na informática, e pela informática fazemos uso de vídeo, áudio, texto, enfim, uma série de coisas. A UFMS ainda tem um problema seriíssimo de infraestrutura no curso de jornalismo. Mas neste ano, assim como a maior parte das federais, ela está passando por uma grande transformação, graças ao Reuni. Hoje as universidades federais são verdadeiros canteiros de obras. Fabio: Por incrível que pareça, a Ufes é uma federal que não apresenta a maior parte desses problemas. Na universidade pública, o professor precisa ter em algum momento alguns surtos psicóticos para conseguir resolver as coisas. Eu, geralmente a cada dois anos, tenho um surto desses, quando o computador quebra, falta memória, o monitor é mal selecionado, não entende nada de computador, fica ganhando a bolsa sem fazer nada... É uma questão mesmo de gestão. É quando vou ao reitor, à imprensa, a todo e qualquer lugar para conseguir manter a estrutura em bom estado. Gerson: Outro ponto importante é que as universidades precisam ter redes de acesso sem fio. Eu mesmo tinha um roteador sem fio sobrando em casa, levei para minha sala e acabou servindo para todo o departamento. 94


Beth: Na USPnet você faz o que quiser, é a liberdade. Não tem restrição de acesso às redes sociais. Só dentro da rede de computadores, que é a rede fixa, aí sim tem restrições de acesso, mas a gente se vira muito com o material dos alunos. O que a gente faz em classe? Eu, por exemplo, levo meu equipamento para dar aula porque é completamente inviável dar aula de outra forma. Claudia: Uma grande reclamação dos professores é com relação ao acesso às redes sociais. Eu tenho acesso ao Twitter, hoje, porque consegui conscientizar o pessoal responsável de que era preciso mostrar isso para os alunos, a nova narrativa do microblog. Mas eles não têm acesso a Facebook, Orkut e outras redes sociais, e não é só na escola onde eu trabalho, mas em várias. Isso é bastante preocupante porque os jornais digitais hoje estão incorporando essas redes sociais ao seu dia a dia. Gerson: Eu enfrento o mesmo problema. O professor trabalha com as redes sociais, essencialmente, e a universidade bloqueia o acesso? Por enquanto, somente temos acesso ao Twitter, mas ao Facebook, Orkut, MSN, ninguém mais tem acesso dentro da universidade. Para nós isso é um grande retrocesso. Claudia: Os argumentos usados para o bloqueio são vários, sendo o principal o de que a rede fica carregada, mas alegam também que os alunos ficam fazendo outras coisas. Os responsáveis pela parte técnica não entendem que a gente está ensinando jornalismo. Suzana: Quando eu estava na UFF, não existia nenhum tipo de bloqueio em relação ao uso das redes sociais e outros sites. Um dado curioso! Fabio: Existem algumas saídas para as questões de infraestrutura. Uma estratégia boa é trazer outros cursos, que não de comunicação, para o laboratório. Na Ufes, por exemplo, as aulas de música estão acontecendo lá dentro, então eles trazem equipamentos de som. Outra saída interessante é fazer do laboratório um prestador de serviço. Com o streaming, por exemplo, o laboratório está virando quase uma extensão da universidade, para exibir palestras em tempo real. Beth: Na USP, tem um pequeno grupo que desenvolveu um projeto para vídeos em edição não linear e ganhou um equipamento específico, porque conquistou verba de um patrocinador. 95


Fontes de pesquisa Convergências e diferenças. Foi isso o que se verificou quando os professores foram convidados a indicar suas principais referências em jornalismo digital. Quando se trata de bibliografia, fontes de pesquisa e do mar de informações contidas no ciberespaço, o espaço torna-se pouco. Mesmo assim, eles fizeram uma sistematização, dividida em tópicos, do que existe de mais relevante sobre o tema.

1. Blogs/Mídias Sociais – Comunisfera: http://comunisfera.blogspot.com/ – Dossiê Alex Primo: http://www.interney.net/blogs/alexprimo/ – Howard Rheingold: http://www.rheingold.com/ – Social Media (Raquel Recuero): http://www.pontomidia.com.br/raquel/ – Social Media.biz: http://www.socialmedia.biz/ 2. Convergência – Blog 233 grados: http://www.233grados.com/ – Blog André Deak: http://www.andredeak.com.br/ – Blog Henry Jenkins: http://www.henryjenkins.org/ – Cultura da Convergência: http://culturadaconvergencia.com.br – Editors Weblog: http://www.editorsweblog.org/ – Infotendências (Blog/Espanha): http://infotendencias.com –IfraNewsplex:www.ifra.com/website/website.nsf/weblistk?readForm&NP&E&CONT_ANP_ INTRO&N1.1&&NP&E& – Intermezzo Blog: http://imezzo.wordpress.com – Innovations in Newspapers’ Blog: http://www.innovationsinnewspapers.com/ 3. Entidades – Associação Nacional de Jornais: www.anj.org.br – Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo: http://www.abraji.org.br/ – Associação Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor): www.sbpjor-org.br – Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós): www.compos.org.br – Investigative Reporters and Editors (IRE): http://www.ire.org/ – The Institute for Interactive Journalism: http://www.j-lab.org/ – The On-Line News Association: http://www.journalist.org/World Associação of Newspapers (WAN): www. wan-press.org 96


4. Narrativas – Digital Narratives Blog: http://www.digitalnarratives.blogspot.com/ – Digital Storytelling: http://www.inms.umn.edu/elements/ – Digital Storytelling BBC: http://www.bbc.co.uk/wales/audiovideo/sites/galleries/pages/digitalstorytelling. shtml – Five Steps to Multimedia Storytelling: http://www.newsu.org/node/338 – Infografando: http://infografando.blogspot.com/ – Information Aesthetics: http://infosthetics.com/ – Interactive Narratives: http://www.interactivenarratives.org/ – The Future of News: http://www.ryanthornburg.org/blog/ – Visual Journalism: http://visualjournalism.com/ 5. Modelos de negócio – Blog Mídia8!: http://www.blogmidia8.com/ – B to B (Media Business): http://www.btobon-line.com/ – Innovations in Newspapers’ Blog: http://www.innovationsinnewspapers.com/ – The Future of Journalism Business Models: http://www.poynter.org/column.asp?id=132&aid=163541 6. Fontes úteis Artigos: – American Journalism Review: http://www.ajr.org/index.asp – Blog/GJOL (Jornalismo & Internet): http://gjol.blogspot.com – Blog e-periodistas (Ramón Salaverría): http://e-periodistas.blogspot.com/ – Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação (BOCC): http://www.bocc.ubi.pt/ – BuzzMachine (Jeff Jarvis): http://www.buzzmachine.com/about-me/ – Chasqui (Revista Latinoamericana de Comunicación): http://chasqui.comunica.org/ – Columbia Journalism Review: http://www.cjr.org/ – Deuzeblog: http://deuze.blogspot.com/ – Digitalismo.com (Carlos Scolari, Hugo Pardo Kuklinski): http://digitalistas.blogspot.com/ – eCuaderno (José Luis Orihuela): http://www.ecuaderno.com/ – Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL): http://www.facom.ufba.br/jol – Journalism.co.uk: http://www.journalism.co.uk>/ – MediaShift | PBS: http://www.pbs.org/mediashift/ – Nieman Journalism Lab: http://www.niemanlab.org/ – On-Line Journalism Blog (Paul Bradshaw): http://on-linejournalismblog.com/ 97


– Periodistas 21 (Juan Varela): http://periodistas21.blogspot.com/ – Periodista Digital: http://www.periodistadigital.com/ – Projecto for Excellence in Journalism (PEJ): http://www.journalism.org/ – PoynterOn-Line: http://www.poynter.org/ – ReadWriteWeb: http://www.readwriteweb.com/ – Sala de Prensa: http://www.saladeprensa.org/ – The Digital Journalist: http://digitaljournalist.org/ 7. Sobre o ensino do jornalismo digital – Blog Clases de Periodismo (Esther Vargas): http://www.clasesdeperiodismo.com/ – On-Line Journalism Review: http://www.ojr.org/ – Blog Cyberjournalism (Javier Díaz Noci): http://javierdiaznoci.wordpress.com/ – Ponto Media (António Granado): www.ciberjornalismo.com/pontomedia – Reportr.net (Alfred Hermida): http://www.reportr.net/ – Teaching On-Line Journalism (Mindy McAdams): http://mindymcadams.com/tojou/ 8. Bibliografia BRADSHAW, Paul. A model for the 21st century newsroom, partes 1, 2 e 3. In: On-Line Journalism Blog, publicado em 17 set. 2007. Disponível em: http://on-linejournalismblog.com/2007/09/17/a-model-forthe-21st-century-newsroom-pt1-the-news-diamond/. BRIGGS, Mark. Jornalismo 2.0. Como sobreviver e prosperar. Um guia de cultura digital na era da informação. Editado em português pelo Knight Center for Journalism in the Americas, 2007. Trad. Carlos Castilho e Sonia Guimarães. Disponível em: http://knightcenter.utexas.edu/Jornalismo_20.pdf. ROMANÍ, Cristóbal COBO; KUKLINSKI, Hugo Pardo. Planeta 2.0. Inteligencia colectiva o medios fast food. 2007. Disponível em: www.planetaweb2.net. CANAVILHAS, João. Webnotícia: propuesta de modelo periodístico para la www. Covilhã: Livros Labcom, 2007. (Coleção Estudos em Comunicação.) Disponível em: http://www.livroslabcom.ubi.pt/pdfs/ canavilhas-webnoticia-final.pdf. CRUCIANELLI, Sandra. Ferramentas digitais para jornalistas. 2010. Editado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas/Austin. Trad. Marcelo Soares. Disponível em: http:// knightcenter.utexas.edu/hdpp.php. FRANCO, Guillermo. Cómo escribir para la web. Bases para la discussión y construcción de manuales de redacción ‘on-line’. Editado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas/ Austin. 2008. Disponível em: http://knightcenter.utexas.edu/Como_escribir_para_la_WEB.pdf. MACHADO, Elias; PALACIOS, Marcos (Org.). Modelos do jornalismo digital. Salvador: Calandra, 2003. MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. Salvador: Calandra, 2003. MOHERDAUI, Luciana. Guia de estilo web – Produção e edição de notícias on-line. São Paulo: Editora Senac, 2007. 98


MORENO, Plácido. Reinventando el periódico: una estrategia para la supervivencia de la prensa diaria. Madrid: Euroeditions, 2009. PALACIOS, Marcos; RIBAS, Beatriz. Manual de laboratório de jornalismo na internet. Salvador: Edufba, 2007. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/18648974/Manual-de-Laboratorio-de-Jornalismo-naInternet. PALACIOS, M; NOCI, J. Díaz. Metodologia para o estudo dos cibermeios: Estado da arte & perspectivas. Salvador: EDUFBA, 2008. RODRIGUES, Carla (Org.). Jornalismo on-line: modos de fazer. Rio de Janeiro: PUC-Rio: Sulina, 2009. SALAVERRÍA, R.; NEGREDO, S. Periodismo integrado. Convergencia de Medios y Reorganización de Redacciones. Barcelona: Sol 90 Media, 2008. SALAVERRÍA, Ramón. Redacción periodística en internet. Pamplona: Eunsa, 2005. 9. História – Especial JB On-Line 10 Anos: http://jbon-line.terra.com.br/destaques/2005/10anos/index.html. – Guia do Jornalismo na Internet (AndréManta): http://www.facom.ufba.br/pesq/cyber/manta/Guia/. – History of On-Line Journalism (Timeline): http://www.dipity.com/Journalismcouk/History-of-On-Line-Journalism. – Manual de Jornalismo na Internet (Marcos Palacios, Elias Machado): http://www.facom.ufba.br/jol/fontes_manuais.htm. – New Media Timeline/Poynter On-Line: http://www.poynter.org/content/content_view. asp?id=75953&sid=26. – The Third Wave of On-Line Journalism (Larry Prior): http://www.ojr.org/ojr/future/1019174689.php. – UOL – Especial 14 Anos: http://sobreuol.noticias.uol.com.br/historia/. 10. Jornalismo participativo – Código Aberto (Carlos Castilho): http://www.observatoriodaimprensa.com.br/blogs.asp?id_blog=2 – Jay Rosen’s Blog: http://www.newassignment.net/blog/jay_rosen – Mediactive (Dan Gillmor): http://mediactive.com/ – Periodismo Ciudadano: http://www.periodismociudadano.com/ – We Media (Chris Willis & Shayne Bowman): http://www.hypergene.net/wemedia/weblog.php – We The Media (Dan Gillmor): http://wethemedia.oreilly.com/

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Deixe aqui seu comentário – a opinião de cada professor Aline Strelow, Ana Gruszynski, Bernardete Toneto, Leonardo Cunha, Sandra Machado, Soraya Venegas, Thiago Soares e Vitor Necchi

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É possível achar beleza numa ruína: lições e fragmentos sobre jornalismo impresso na era na internet Thiago Soares Chego à sala de aula para ministrar a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). De alguma forma, tenho certo pudor em falar o termo “jornalismo impresso”. A grande maioria dos alunos divide-se entre querer atuar no telejornalismo e na internet. Se, quando entrei na graduação em jornalismo na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nos idos dos anos 1990, o fetiche era trabalhar na redação de um grande jornal, percebo que, hoje, entre sites, blogs e Twitter, meus alunos não dão muita “bola” para o impresso. Um aqui, outro acolá. “Professor, nos Estados Unidos, os jornais estão demitindo, todo mundo está migrando para sites”, diz um estudante bem informado. “Na Inglaterra, alguns jornais impressos são distribuídos gratuitamente no metrô. Sobrevivem por causa de anúncios”, endosso. O impasse: como falar sobre o jornalismo impresso quando os estudantes querem saber sobre o jornalismo digital? Pareço estar falando sobre uma ruína. Uma imensa e grandiosa ruína. “O futuro do jornalismo impresso é ser literatura” Sigo minha argumentação: o jornalismo noticioso, aquele da factualidade, do “assunto quente”, está fadado à internet. Portais e sites “sobem” notícias a cada segundo. Os telejornais também noticiam. A notícia está cada vez mais distante do impresso. Ela chega às páginas impressas envelhecida, caduca, cheia de rugas e varizes. Tem coisa mais estranha que notícia velha? Acho que não. Dedico poucas aulas ao estudo da notícia. Meu foco passa a ser a grande reportagem, o jornalismo literário, a crônica, o perfil, a crítica. Esses gêneros, sim, me parecem ainda fazer sentido no papel. Cito textos das revistas Piauí, Bravo!, do suplemento literário Rascunho, da CartaCapital. Lemos alguns. Quando discutimos como Truman Capote é um exímio apurador em seu romance de não ficção A Sangue Frio, um aluno me interpela: “Eu acho que o futuro do jornalismo impresso é ser literatura”. Quase sorrio. E essa coisa de “jornalismo expandido”? Como equalizar o impasse? Jornalismo impresso é jornalismo de papel, no papel. Jornalismo digital é online, na internet. Gosto de pensar que, embora estejamos falando de ambientes de circulação da informação, há um denominador comum: a prática jornalística. Por isso, em vez de tentar observar as fronteiras entre o jornalismo impresso e o digital, trato logo de sugerir a existência de uma névoa, que borra os limites. A estrada do jornalismo impresso vai dar na alameda do jornalismo digital: caminhos cruzados, vias de mãos duplas. Chamo, momentaneamente, essa minha atividade proposta na disciplina de “prática de jornalismo expandido”. Acho interessante pensar a ideia de expansão: de um meio para outro, conteúdos “desdobrados”, complementados. A atividade proposta é a seguinte: os alunos fazem o projeto editorial e gráfico de 101


um jornal impresso, e também criam um blog e um Twitter para o veículo. Se, na edição impressa, há o limite da página, no blog a reportagem entra completa, sem cortes. Cria-se uma galeria de fotos on-line. Uma aluna entusiasta do jornalismo digital vai logo dizendo: “Não quero que o blog seja só um depósito de restos do jornal impresso”. Nem eu. “Vamos produzir conteúdo exclusivo para ele”, ela me avisa. Um jornalista multifunções Observo como os estudantes se organizam em relação às funções no jornalismo: quem vai ser editor, repórter, diagramador, webdesigner, fotógrafo. A questão da afinidade com a “área” de atuação me parece fundamental. Uma nova perspectiva ganha relevo: com a prática do que chamo de “jornalismo expandido”, também aumentam as funções a serem desempenhadas. Mas as equipes continuam do mesmo tamanho. O editor acumula as funções de editar o veículo impresso e o blog, pensamos a princípio. Mas é preciso uma pessoa para cuidar da área de redes sociais. Um aluno sugere que criemos a função de “editor de mídias digitais”. Pela ausência de um nome melhor, batemos o martelo. Ficamos assim: o “editor” edita o impresso, o “editor de mídias digitais” fica com o blog e o Twitter. Repórteres atuam para os dois meios: impresso e digital. Fotógrafo passa a ser também cinegrafista: grava vídeos que serão postados no blog. Quando o trabalho está muito “pesado”, ele pede ajuda ao repórter e este passa a “funcionar” como cinegrafista também. Diagramador passa a se “vestir” também de webdesigner. E, assim, chegamos ao denominador comum: jornalismo expandido dá muito mais trabalho. Mas, se observarmos as redações dos grandes jornais e dos principais sites, vamos identificar essa noção de um jornalista multifunções. Discutindo pautas na “terra de ninguém” Entramos em um embate hierárquico: de onde partem as pautas, do “editor” ou do “editor de mídias digitais”? Há uma leve inclinação minha, que venho da “escola” do jornal impresso, de fazer com que as pautas “nasçam” na edição impressa. Em alguns casos, sim, elas nascem. Em outros, as pautas chegam através de tuitadas, de comentários no blog, de opiniões de leitores em sites. A internet, esse ambiente livre e meio “terra de ninguém”, acaba sendo o local mais propício a que brotem novas pautas. Aquilo que é noticioso vai para o blog, vira tuitada. A edição impressa vai assumir ares mais de jornalismo literário. Aquela frase do aluno – “o futuro do jornalismo impresso é ser literatura” – ainda reverbera. “O site é meu, eu sou a editora” Assisti, com o grupo de professores do Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural, a uma palestra da jornalista Lúcia Guimarães. Ela falou de algumas de suas inquietações com o que chamava de “onda” do “tudo pode” que a internet havia gerado no jornalismo. Citava o exemplo de um leitor de seu blog que enviou uma mensagem reclamando por ela haver tirado a seção de comentários. Recordo sua colocação firme: “O site é 102


meu, eu sou a editora, faço o que quiser com ele. Meu site não é rede social, ele tem meu nome”. Por outro lado, ouço, com mais frequência do que gostaria, máximas que dizem que, em época de Twitter e redes sociais, para que servem jornalistas? Todo mundo é jornalista, ora essa. Não. Mesmo nesta época em que qualquer pessoa passa a ser um produtor de conteúdo, ainda é preciso que haja algo que aprendemos nas disciplinas introdutórias do curso de jornalismo: credibilidade. Uma das premissas da apuração jornalística é a checagem da informação. Sim, alguém pode até noticiar, em primeira mão, algum fato. Mas a legitimação dele se dá por meio dos veículos jornalísticos. Os exemplos batem à nossa porta: a morte do cantor Michael Jackson foi noticiada, em primeira mão, pelo site norte-americano de fofocas TMZ. Obviamente, no Twitter e no Facebook, muitos davam a notícia como certa. No entanto, o impacto da notícia foi muito maior quando a informação figurou também no site do Los Angeles Times. O jornal californiano enviou repórteres para apurar a informação. No Brasil, o portal UOL, do Grupo Folha, só “subiu” a manchete quando a informação foi confirmada pelo site do LA Times. Chegamos a algumas considerações: o jornalista não é somente aquele que noticia. É o que noticia com propriedade. Jornalistas devem ser portos seguros de informação em meio a oceanos de conteúdo. O amor (e a apuração) em tempos de MSN Percebo que os alunos, apesar de entusiastas da cultura e do jornalismo digitais, ainda têm pudores em relação à apuração em tempos de convergência. Um dos métodos de apuração é a entrevista. A entrevista pode ser presencial ou a distância (por telefone, videoconferência ou MSN). Comento, inclusive, que, pelo fato de não estarmos “cara a cara” com o entrevistado, o MSN até permite certa liberdade, maior ousadia nas perguntas e, também, nas respostas. Zum-zum-zum na turma e uma aluna cheia de tatuagens assume: “Eu mesma só me declarei ao meu namorado porque estava ‘protegida’ pelo MSN”. E gargalha. Parece-me que estamos tateando em busca de um novo lugar para a apuração na lógica das novas tecnologias. Apuração por MSN, GTalk, Facebook, barateamento de custo operacional de telefone com chamadas através do Skype, checagem de notícia via SMS, e assim por diante. Há a questão de uma nova “etiqueta” envolvendo essas formas de conexão entre jornalista e fonte de informação. Disposições como MSN, GTalk, Facebook e Skype parecem trazer, em seu bojo, uma latente informalidade: as pessoas estão ali, conectadas, você as “acessa” de maneira rápida e indicial. Nesse sentido, o telefonema passa a ser muito formal: telefonar para uma fonte não é apenas acessá-la, mas acioná-la como dispositivo de informação. Vou reconhecendo que há uma hierarquia interessante nessas novas formas de apuração, que demandam novos comportamentos. É preciso ir até Nova York? Chegamos ao epicentro da problemática de realização de um veículo impresso num modelo de “jornalismo expandido”: como tratar os conteúdos? Definimos o tema. Como em 2011 teremos os dez anos dos atentados às Torres Gêmeas, no episódio rotulado como o “11 de Setembro”, peço para que os estudantes façam dossiês temá103


ticos sobre o atentado. Exaltação. Alguns alunos ficam consternados. “Quero ver onde achar dinheiro para ir apurar isso em Nova York”, ironiza um. Obviamente, ninguém precisa ir aos Estados Unidos para fazer o jornal-laboratório de uma disciplina da universidade. Os grandes veículos de mídia, certamente irão: devem entrevistar parentes de vítimas, saber o que vai ser feito com a área vazia do World Trade Center, pautas do gênero. O que cabe a nós? “O jornalista é um foco” A nós, cabe usar com propriedade disposições de busca por informação: a internet. Com ela, vamos atrás de detalhes sobre os atentados. Não estamos em Nova York, mas a internet funciona como a imensa memória coletiva que nos lega caminhos, itinerários: relatos da época, reportagens, blogs. Um aluno acha no YouTube uma série de depoimentos do terrorista Osama bin Laden. “Podemos usar esse vídeo? Não fomos nós que captamos!”, ele me questiona. Explico que a função do jornalista não é somente “captar”, mas fundamentalmente saber “usar” disposições de informação que estão “escondidas”. Isso é o trabalho de “burilar” a informação com vídeos, com imagens, com links: o trabalho de edição. Alguns estudantes chegam ao curso de jornalismo ainda com certa ideia romântica de que a única forma de apuração é “ir para a rua”. Relativizo e digo que, sim, há pautas que precisam de apuração presencial; no entanto, outras podem ter uma arquitetura erguida por outros conteúdos, sobretudo digitais. Muitas vezes, a informação dispersa, difusa, precisa ser “organizada”. O jornalista é, portanto, um foco: faz com que enxerguemos com mais nitidez, clareza e contraste o fato. Eu sou um bombeiro no World Trade Center... Um aluno escreve uma crônica em primeira pessoa, como se fosse um dos bombeiros resgatando vítimas do World Trade Center. Outro produz uma entrevista pingue-pongue com um professor do curso de relações internacionais sobre as questões geopolíticas pós-11 de Setembro. Uma estudante faz uma pauta sobre o preconceito contra os povos árabes e usa como fonte imigrantes árabes que vivem em João Pessoa. Outra usa a reportagem, em tom literário, para explicar a religião islâmica – acha vídeos no YouTube com as principais mesquitas do mundo. Vamos agrupando os conteúdos no impresso, no blog, no Twitter. Editamos. E essa tal ruína? Ao final da disciplina, um aluno lembra daquela frase: “O futuro do jornalismo impresso é ser literatura”. Comenta que achou a ideia fatalista, muito “é a morte do jornalismo”. Lembro que tantos autores já falaram em morte, entre eles, Roland Barthes na “morte do autor”. Com a chegada de gadgets como o iPad, ouço o questionamento: é a morte do livro? Não é a morte de nada. Porque tudo isso – jornalismo, literatura, livro, blog – só existe por causa da palavra. A palavra é essa coisa inquieta que insiste em habitar múltiplos ambientes. O estudante, irônico, me diz: “E não é que eu até gostei um pouquinho mais de jornalismo impresso?”. Sorrio. É possível, sim, ensinar a achar beleza numa ruína. 104


O aluno e o curso de jornalismo em tempos de convergência Leonardo Cunha Luciana Cafaggi é aluna de jornalismo em Belo Horizonte. Apaixonada por quadrinhos, criou um blog em que publica suas tirinhas e ilustrações. Ali, divulga seu trabalho, recebe dicas, sugestões e críticas, além da visita de outros quadrinistas, que compartilham suas experiências e propõem projetos e parcerias. Luciana também participa ativamente das redes sociais, principalmente o Twitter, onde segue artistas do mundo todo e se atualiza sobre eventos, palestras e lançamentos. No YouTube, encontra material para satisfazer sua outra paixão: o cinema. Assiste a entrevistas, curtas-metragens, trailers e documentários que nunca encontrou nas TVs e locadoras brasileiras. E inclui no blog alguns de seus vídeos preferidos. Com tantas aventuras no ciberespaço, Luciana certamente vai chegar bem preparada na disciplina de Jornalismo On-Line, daqui a três semestres. Sim, porque faltou um detalhe no parágrafo acima: Luciana acabou de entrar no 4º período de jornalismo e todas essas atividades ocorrem fora da escola, sem ligação direta com o curso. Todo professor de jornalismo sabe que alunos como Luciana são cada vez mais numerosos. Antes mesmo de entrar na universidade, já estão sintonizados com o ciberespaço. Leem, escrevem, assistem, postam, debatem, pesquisam, participam. Mas até que ponto os cursos estão preparados para lidar com esse novo tipo de aluno e com a chamada “cultura da convergência”? Os dados recolhidos pelo programa Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural neste mapeamento ajudam a responder a essa questão. Mas, antes de abordar tais dados, cabe uma pausa para perguntar: afinal de contas, o que estamos chamando de convergência? A convergência em dois momentos Início da década de 1990. No visionário livro Hypertext: The Convergence of Contemporary Critical Theory and Technology1, George Landow situa a convergência como um tópico central e complexo. Falar em convergência é falar da imbricação de formas discursivas (texto, imagem, som, vídeo, simulações), da influência mútua entre diversas artes narrativas (literatura, cinema, videogame), da confluência dos próprios equipamentos (jornais, livros, rádios, TVs, computadores, celulares), e ainda de um tipo menos evidente: a convergência entre a prática hipertextual e a teoria de autores como Roland Barthes, Jacques Derrida e Mikhail Bakhtin. Todos anteriores à internet, esses teóricos entendiam o discurso como algo fragmentado, aberto, incom1 Lançado em 1992, com atualizações em 1997 e 2006.

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pleto, espacializado, polifônico, funcionando como um inesgotável diálogo entre gêneros, épocas, formas, línguas. Em consonância com os teóricos da informática (como Theodor Nelson e Andries van Dam, entre outros), todos defendem uma mudança de paradigma, com “o abandono dos sistemas conceituais fundados nas ideias de centro, margem, hierarquia e linearidade, substituindo-as pelas de multilinearidade, nós, links e redes” (LANDOW, 1992, p. 2). Dando um salto para o fim da década de 2000, vemos que Landow não errou: a convergência é mesmo uma questão-chave nas reflexões e práticas da comunicação social. Segundo Henry Jenkins (2009), um dos principais pesquisadores do tema, ela vai muito além da questão tecnológica, ou seja, do fluxo de conteúdos pelas mais variadas mídias. É principalmente uma transformação cultural e social, ligada ao comportamento do cidadão contemporâneo, que, a exemplo da estudante Luciana, transita com fluência entre plataformas distintas e dispersas, em busca das informações e/ou do lazer que deseja ou necessita. A convergência não ocorre por meio de aparelhos, por mais sofisticados que venham a ser. Ocorre dentro dos cérebros de consumidores individuais e em suas interações sociais com outros. Cada um constrói a própria mitologia pessoal, a partir de pedaços e fragmentos de informações extraídos do fluxo midiático e transformados em recursos através dos quais compreendemos nossa vida cotidiana. (JENKINS, 2009, p. 30)

Estaríamos diante de uma revolução radical, da falência das antigas mídias, procedimentos e gêneros? Longe disso, segundo Jenkins. Os novos e velhos modos convivem, sem fronteiras delimitadas. No campo específico do jornalismo, Larrondo, Mielniczuk e Barbosa (2008) mostram que os gêneros tradicionais do jornalismo analógico não desaparecem, mas são reconfigurados na internet, inclusive com o surgimento de novas modalidades, como a entrevista on-line, o chat, o fórum, o debate on-line, a infografia digital, entre outros. Nesse ambiente, o sucesso de uma iniciativa passa, cada vez mais, pela forma como se dialoga com o público. O público, que ganhou poder com as novas tecnologias e vem ocupando um espaço na intersecção entre os velhos e os novos meios de comunicação, está exigindo o direito de participar intimamente da cultura. Produtores que não conseguirem fazer as pazes com a nova cultura participativa enfrentarão uma clientela declinante e a diminuição dos lucros. (JENKINS, 2009, p. 53).

No caso do jornalismo digital, por exemplo, percebe-se que os modelos, formatos e categorias existentes em cada uma das chamadas “quatro gerações” não substituem um ao outro, e sim coexistem, na medida em que o site ou portal compreende as necessidades e o perfil de seu usuário. E na prática, a teoria é outra? Retomando a questão levantada no início do texto: com base nos dados do mapeamento, como as escolas 106


de jornalismo estão se adequando à cultura da convergência (entendida de forma ampla, em seus aspectos tecnológico, discursivo, social)? Até que ponto as reflexões e práticas acadêmicas levam em conta a imbricação de categorias e mídias, a reconfiguração dos gêneros, a dissolução entre os papéis de autores e leitores, produtores e espectadores? Quatro aspectos merecem destaque: a) Com relação à convergência de mídias, o mapeamento mostra que boa parte das faculdades aponta, como direta ou indiretamente ligadas ao ensino do jornalismo digital, algumas disciplinas que tradicionalmente estariam vinculadas a outras mídias eletrônicas (como TV e rádio). Isso sugere que, a partir de certo momento, tais disciplinas passaram a contemplar a questão da convergência, entendendo que o ensino de redação, produção e edição em rádio e TV é essencial para o trabalho em jornalismo digital. Passa por essa questão a formação dos jornalistas considerados polivalentes. Cabe ressaltar, porém, como fez o professor Fábio Malini, no grupo focal, que o jornalismo de convergência não implica necessariamente um profissional competente nas mais variadas mídias. Malini defende que cada aluno se aperfeiçoe na(s) mídia(s) que desperta(m) seu interesse e em que revele habilidade. O que importa, nessa perspectiva, não é o domínio individual de múltiplos talentos ou técnicas, mas sim o uso integrado das várias habilidades, de vários profissionais, em um mesmo produto jornalístico. b) Os dados do mapeamento também indicam que a reconfiguração dos gêneros, estimulada pela web, já se reflete no ensino. Várias instituições apontaram, como ligadas ao jornalismo digital, disciplinas tradicionalmente identificadas com o ensino e a prática dos gêneros textuais, como Técnicas de Reportagem, Entrevista e Pesquisa Jornalística; Redação Jornalística; Produção de Textos; Narrativas e Linguagens Jornalísticas; Gêneros Jornalísticos, entre outras. Isso sugere que tais disciplinas estariam abertas para repensar os gêneros e as estratégias narrativas. Aqui cabe, porém, também buscar um contraponto nas discussões realizadas no grupo focal (ver cap. 5.0), no qual a professora Luciana Mielniczuk recomendou uma postura cautelosa. Em alguns casos, argumentou, a simples transposição do conteúdo de uma mídia impressa ou televisiva, sem alterações de formatos ou gêneros, já pode ser entendida como uma proposta interessante e adequada, pois muitos dos leitores estão habituados aos gêneros tradicionais e esperam encontrá-los também na internet. c) Outro ponto que chamou atenção foi a menção muito pequena a disciplinas como Estética e Cultura de Massa, Semiótica, História da Arte, Literatura, Jornalismo Cultural ou outras que inserissem a discussão do jornalismo digital ou dos modos discursivos na web em um panorama cultural e estético mais amplo. Disciplinas como Teorias da Imagem, Cultura Visual e Estética da Comunicação não chegaram a 3% das 386 disciplinas mencionadas como ligadas (direta ou indiretamente) ao ensino do jornalismo digital.

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Pode-se imaginar que esse diálogo seja estabelecido isoladamente pelos professores de tais disciplinas, mas, a julgar pelas informações prestadas pelos coordenadores, não se trata de algo previsto, de forma programática, no planos curriculares. Nesse sentido, a convergência vaticinada por Landow (entre os teóricos do hipertexto e as teorias literária e semiológica contemporâneas) ainda ocorre de forma tímida nas escolas. O mesmo vale para o que foi sugerido por Luciana Mielniczuk: No caso da web, em relação aos outros suportes, o limite entre o que seria uma potencialização de possibilidades já existentes e o que seria uma ruptura, especificamente nesse caso do uso simultâneo de texto, sons e imagens, é muito tênue. E aqui o jornalismo vai precisar de subsídios em outras áreas como semiótica e artes para a compreensão dos processos que estão ocorrendo. (MIELNICZUK, 2002)

No grupo focal, a professora Beth Saad salientou um dilema importante ligado a esse aspecto. Por mais que as pesquisas e as escolas adotem o discurso da convergência (muitas vezes embutido na ideia de inter ou transdisciplinaridade), o que ainda prevalece, mesmo em instituições de ponta e identificadas com a pesquisa, é um fenômeno de natureza contrária: a fragmentação, a compartimentalização do ensino, das reflexões e das práticas. Não se estabeleceu, ainda, um efetivo diálogo entre os diversos professores (e suas disciplinas) ligados ao jornalismo digital e à cibercultura. É mais provável, portanto, que a discussão sobre as especificidades culturais e discursivas dos meios digitais esteja sendo realizada efetivamente nas disciplinas específicas de jornalismo digital (e, provavelmente, também em Crossmídia, da Universidade de Passo Fundo, única das mais de 300 disciplinas citadas que sugere mais claramente o viés da convergência). d) Em termos de laboratórios de informática, o mapeamento indica que 59% das escolas trabalham com a proporção de um micro por aluno, e outras 20% trabalham com até dois por aluno, o que sugere um quadro favorável ao ensino e à prática do jornalismo digital. Mas, como foi destacado no grupo focal, esse quadro é afetado por outros fatores. Por um lado, os problemas de manutenção diminuem o número efetivo de máquinas. Por outro lado, a cada semestre cresce o número de alunos que levam para a escola seus próprios notebooks. Além disso, aumenta a quantidade de produções – inclusive em áudio e vídeo – que os alunos fazem por conta própria, de forma menos ou mais caseira, mas sem depender dos equipamentos da escola. O grupo focal também lamentou o fato de diversas instituições ainda controlarem o acesso dos alunos às redes sociais, ambientes que favorecem a fusão dos papéis de emissores e receptores de informação. Tal controle impede a realização de diversas experiências potencialmente jornalísticas, ou faz com que sejam realizadas fora da universidade, por iniciativa própria, sem participação nem orientação dos professores. Esses fatores nos levam a especular se, atualmente, já não seria o caso de identificar e analisar mais um tipo 108


de convergência presente no cotidiano dos alunos: a convergência entre casa e escola como espaços de produção de material acadêmico e jornalístico. Não resta dúvida de que as escolas de jornalismo já despertaram para a cultura da convergência. Mas é fundamental que o tema não seja tratado como “tarefa” de uma disciplina, professor ou laboratório específico. Se a convergência tem a ver com a diluição de fronteiras, só poderá se consolidar quando sair do gueto e for assimilada pela maior parte dos professores e currículos. Só assim os cursos poderão aproveitar o talento, o potencial e a vivência que alunos como Luciana trazem para a escola.

Referências bibliográficas JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução Susana Alexandria. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009. LANDOW, George P. Hypertext: the convergence of contemporary critical theory and technology. London: John Hopkins, 1992. LARRONDO, Ainarra, MIELNICZUK, Luciana; BARBOSA, Suzana Narrativa jornalística e base de dados: discussão preliminar sobre gêneros textuais no ciberjornalismo de quarta geração. Artigo apresentado no VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), nov. 2008. Acesso em: 22 jul. 2010. MIELNICZUK, Luciana. Webjornalismo de terceira geração: continuidades e rupturas no jornalismo desenvolvido para a web. Trabalho apresentado ao NP 02 – Jornalismo do XXVII Encontro dos Núcleos de Pesquisa da Intercom, 2002. Acesso em: 15 jul. 2010.

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Crises e oportunidades do jornalismo interconectado Sandra Machado Foi bem curto o intervalo – apenas poucas décadas entre o século XIX e o XX – para que a espécie humana passasse da ausência quase absoluta de circulação de informação em escala global ao seu excesso. Não admira que todo mundo esteja meio perdido. Da implantação industrial dos meios de comunicação de massa para a proliferação do lixo digital, sob o ponto de vista da história, houve apenas um lapso. A geração de agora é a primeira que depara com esse questionamento e com a tarefa de entender o caos informativo contemporâneo. Como são, em princípio, os jornalistas os artífices da informação, cabe a eles a maior parte do ônus, especialmente quando tomam para si a tarefa de ensinar o ofício para quem está chegando. Tudo aconteceu muito depressa e, praticamente, ontem. Embora não haja consenso, o Jornal do Brasil é apontado pela maioria dos autores como o primeiro jornal eletrônico do país, com o JB On-Line, em maio do mesmo ano (FERRARI, 2003; NOBLAT, 2002; CASTILHO, 2005). No início, não se podia falar propriamente de jornalismo digital. Os veículos da grande imprensa que se arriscavam na rede apenas reproduziam seus conteúdos sem adaptá-los às características próprias do meio, em especial à multimidialidade e à interatividade, fundamental porque propicia o diálogo entre público e redação e, logo, desenvolvimento de massa crítica. Quando se pensa em jornalismo digital, as confusões comuns entre jornalistas de outras mídias, professores e estudantes são as mesmas. Quem se debruçar sobre a totalidade das produções laboratoriais digitais dos cursos de jornalismo vai perceber um subaproveitamento das potencialidades da rede que, por sua vez, replica características da grande imprensa: – a internet não é entendida como uma mídia generosa, que aceita todo tipo de arquivo e, portanto, mereceria matérias preparadas para ela com o mais amplo leque de recursos multimidiáticos possível; – é negligenciado o fato de que a rede pode dar apoio a outras publicações. Num impresso, a utilização do ícone em forma de mão que indica um endereço na rede dá chance de exibir, por exemplo, o trailer de uma estreia no cinema, além de texto e fotos sobre o filme; – como ler no computador é desconfortável, cada unidade de texto independente deve ser mais curta, o que não é sinônimo de texto menos informativo, se assuntos correlatos forem lincados à matéria principal pelo hipertexto. Assim como aconteceu na imprensa escrita, no rádio e na TV, na internet o jornalista tem aprendido a fazer fazendo, e mais ousadia no segmento acadêmico não faria nada mal. O processo de ambientação da atividade jornalística no horizonte digital ainda tem a desvantagem de estar sempre um passo atrás das inovações tecnológicas. Sem dúvida, isso se reflete sobre os cursos de graduação e tem impactos diferentes, por exemplo, num país em que não se exige o diploma de graduação para a categoria, como Estados Unidos, 110


França ou Alemanha. O atual estágio da globalização impõe, ainda, outros modelos aos quais as empresas jornalísticas e, a reboque, as instituições de ensino superior buscam satisfazer. Crise da ética Nenhum setor da vida contemporânea sofre tão intensamente os impactos da digitalização como a comunicação – como mostram os mercados de telefonia e informática – que dão a sustentação tecnológica para as redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter). É neles que emergem, a cada dia, novos dispositivos informacionais e reconfigurações dos papéis sociais, até então definidos no que diz respeito à imprensa. É na apropriação desses mecanismos de socialização que se revelam identidades, processos e poderes em fluxos de um ineditismo potencialmente revolucionário. No mercado do newsmaking, o produto jornalístico contemporâneo parece atender ao conceito de infotainment (KOVACH, ROSENSTIEL, 2004) – quando “as notícias viram entretenimento e informação sobre entretenimento”. O jornalista, por sua vez, precisa assumir uma função muito mais de intérprete da realidade do que de produtor de conteúdo, num cenário em que o público de ontem se transforma numa espécie de promidor, híbrido de produtor e consumidor da informação. Também chamado produser, somatório das palavras producer e user, ou produtor/usuário, conceito pelo qual o conteúdo, ao passar pelo usuário, gera uma produção em cadeia de mais conteúdo (BRUNS). Os veículos on-line, em geral, têm por hábito convocar a participação do público como colaborador e publicam textos, fotos e audiovisual enviados por não jornalistas. Dentro da lógica da lucratividade, duas forças convergem para tornar híbridos os produtos midiáticos. De um lado, os novos conglomerados de mídia surgidos da fusão de provedores de internet, estúdios de cinema e canais de TV, por exemplo, atuam no sentido de estimular a chamada cultura da discussão (KOVACH, ROSENSTIEL, 2004), em que o velho jornalismo de verificação se vê suplantado pelo novo jornalismo de afirmação: apura-se pouco e discute-se muito. É comum encontrar gêneros indistintos que mesclam entretenimento e notícias. Já a participação pública tende a aderir a esse modelo sob diversas formas: pela automediação na rede (criação de blogs, páginas pessoais, perfis, avatares), por meio de mecanismos de interatividade (participação em chats, fóruns, microblogs), o que desperta grande interesse comercial. Numa contradição linguística, empresas têm se infiltrado nas redes sociais (agora sociocomerciais) em busca de mais visibilidade. Esse novo estilo de parceria entre capital e notícia faz, inclusive, a histórica disputa entre jornalismo e publicidade pelo espaço na página parecer amadorismo. Acostumados que estão às carências de toda sorte ao longo da graduação, os recém-formados, de maneira geral, talvez tendam a ver com bons olhos qualquer iniciativa de injeção de recursos onde quer que estejam empregados. Mas a imprensa que não é independente, ao fazer sua opção pela personalização, se distancia irremediavelmente do compromisso com o interesse público. 111


Crise da igualdade Em relação à deontologia profissional, o que está em xeque é um critério muito caro aos parâmetros de noticiabilidade (valor-notícia) e que, no caso brasileiro, tangencia a supremacia da cobertura de praças como Rio-São Paulo-Brasília, metrópoles cultural, econômica e política, respectivamente, do país. A proximidade geográfica perde sentido porque, no ciberespaço, alcance e armazenagem são relativizados. A Teoria do Imperialismo Estrutural, uma variação da Teoria da Dependência (KUNCZIK, 2002) gera uma adoção dos modelos profissionais importados, pelos quais os jornalistas que pertencem à elite urbana desconsideram as informações referentes ao campo. Ou seja, é um jornalismo sob o ponto de vista do consumidor urbano. A seleção dos acontecimentos com vistas à publicação sujeita-se a uma metodologia segundo a qual contam a proximidade geográfica (KUNCZIK, 2002; ERBOLATO, 2004) e a identificação (etnocentrismo), o que obviamente circunscreve a cobertura jornalística nacional às notícias das mesmas capitais, o que contraria um movimento emergente de valorização do alcance local, por meio do nanojornalismo (CASTILHO, 2005), principalmente na web. O entendimento de como os cidadãos se comportam, ou Teoria da Participação Pública (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004), potencializado pela automediação da rede, permite, inclusive aos jornalistas, formas de expressão que fogem à normatização das redações, em geral nos relatos dos blogs, nem sempre jornalísticos, nem sempre publicados sob a égide da home page do empregador. Crise da função É pela automediação que a posição central do intelectual e do jornalista se torna problemática na rede. Existe uma crise do representante do interesse geral e da hierarquia que ele gera (VAZ, mimeo). O jornalista visto como um mediador do interesse da sociedade precisa colaborar na construção de uma nova esfera pública. Pela primeira vez, produções à procura de um público hibernam no ciberespaço. O meio acadêmico e o meio jornalístico são, em larga medida, sociedades de discursos que não apenas produzem doutrinação com modelos conservadores, mas também se encarregam de fazer com que seus discursos circulem num ambiente privilegiado, contrário ao espírito da internet, na qual o discurso publicado é predominantemente livre, com todos os ônus e bônus que a liberdade implica (SANTOS, 2002). Oportunidades para jornalistas, professores e estudantes No entanto, a internet vem a ser o advento capaz de burlar os mecanismos que impediam o que Foucault (1996) escolheu chamar de “a grande proliferação do discurso”. Ele vislumbrava o que chamou de “a plenitude virtual de um mundo de discursos ininterruptos” (1996). A internet pode ser comparada àquele lugar que qualificou como “práticas descontínuas de discursos que se cruzam”. Para Foucault, os discursos deveriam ser 112


tratados como acontecimentos discursivos em si, com toda a sua significação, originalidade e singularidade. É o que, em análise do discurso, remete às condições de produção. No meio virtual, cada atualização é um ato discursivo em si, sempre revisto, e até então livre de fórmulas consagradas, valendo como a garantia de um espaço aberto de representação. Como bem lembra Wertheim (2001): “As pessoas só adotam uma tecnologia quando ela está em consonância com um desejo latente. A simples escala do interesse despertado pelo ciberespaço sugere haver aqui desejos intensos em ação”. A beleza da profissão de jornalista está justamente na oportunidade que ela oferece do contato, a cada dia, com a mais plena compreensão do que possa representar diversidade. Uma postura em que jornalistas, professores universitários e estudantes consigam deslocar o limiar de seu olhar para além do que está na zona de conforto do que lhes é familiar e conhecido, seja em termos de moldes jornalísticos, seja em termos de pautas distantes, geográfica ou simbolicamente falando, pode ser a chave para que todo o esforço tecnológico valha a pena e esteja mais próximo de revelar tudo aquilo que, no momento, ainda falta revelar. Referências bibliográficas CASTILHO, Carlos. Jornalismo digital: o que é notícia no mundo on-line. In: RODRIGUES, Ernesto. No próximo bloco... O jornalismo brasileiro na TV e na internet. Rio de Janeiro: PUC; São Paulo: Loyola, 2005. ERBOLATO, Mário. Técnicas de codificação em jornalismo. São Paulo: Ática, 2004. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2003. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996. KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo. São Paulo: Geração, 2004. KUNCZIK, Michael. Conceitos de jornalismo: Norte e Sul. São Paulo: Edusp, 2002. NOBLAT, Ricardo. A arte de fazer um jornal diário. São Paulo: Contexto, 2002. SANTOS, Sandra Machado dos. Cybercomix: a eleição 2002 no humor eletrônico. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: ECO/URFJ, 2002. VAZ, Paulo. Mediação e tecnologia. Mimeo. VILLELA, Fernando. O lide do próximo milênio. In: CALDAS, Álvaro. Deu no jornal – o jornalismo impresso na era da internet. Rio de Janeiro: PUC; São Paulo: Loyola, 2002. WERTHEIM, Margaret. Uma história do espaço, de Dante à internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. Referências eletrônicas Bruns, Axel. From prosumer to produser: understanding user-led content creation. Disponível em: http:// www.slideshare.net/Snurb/from-prosumer-to-produser-understanding-userled-content-creation. Acesso em: 23 ago. 2010. 113


Do grão ao pixel: a incorporação da fotografia ao ensino do jornalismo digital – uma questão de ponto de vista Soraya Venegas Clique, clique. A festa nem começou, a viagem está no início, o filho ainda não nasceu, mas é preciso fotografar e fotografar. “Para quê?”, pergunta a professora de Introdução à Fotografia. A resposta dos alunos vem rápida e segura: para registrar, lembrar, documentar, guardar. E ela, provocadora, rebate: “Ué, sofremos de amnésia? Lembramos do que vivemos, do que experienciamos ou do que vimos no velho álbum de 36 fotos? Quem de vocês não fotografa com a câmera digital compacta ou com a que está incorporada ao seu aparelho de telefone já pensando no que vai postar em seu Facebook, Orkut, blog ou fotolog?” Mas onde estão as imagens das férias de dois anos atrás? Volta o incômodo. Qual a durabilidade da mídia propriamente dita e dos periféricos capazes de lê-la? Nova incógnita. Afinal, para que seja possível pensar a incorporação da fotografia no ensino do jornalismo digital, é preciso reconhecer que a produção e o consumo de imagens fotográficas estão em franca transformação. Quer mais um exemplo? Experimente rasgar aquela foto que guarda na carteira. Difícil, não? Então por que deleta com facilidade a imagem recémarmazenada em seu cartão de memória (sim, deveria ser de memória e não de esquecimento)? Esse cenário estimula questionamentos sobre o ensino do jornalismo digital na atualidade e como se dão a produção e a incorporação de imagens fotográficas nas práticas promovidas no espaço acadêmico. Disciplinas com foco no ensino de técnicas e na produção de imagens fotográficas não são exatamente uma novidade nas grades curriculares dos cursos de comunicação social em geral e de jornalismo em particular. Sua existência justifica-se tanto pela necessidade de discutir a potência da fotografia como linguagem e informação quanto pela necessidade de instrumentalizar tecnicamente os alunos para o uso da imagem fotográfica em produtos jornalísticos. Desde sua invenção, a fotografia passou por alterações que modificaram seus usos, seu valor comercial e, também, a maneira como deve ser tratada em sala de aula e nos produtos laboratoriais das instituições de ensino superior. A vista de um telhado a partir de um único clique de oito horas1. Para alguns, assim começou a história da fotografia. Mais de 50 anos foram necessários para que ela se tornasse popular. Em 1888, com o slogan “Você aperta o botão e nós fazemos o resto”, a Eastman Company entregava por apenas 25 dólares uma câmera Kodak já carregada com um filme de 100 exposições e, por mais 10 dólares, revelava, ampliava as fotos e ainda carregava a câmera com outro filme para novas aventuras fotográficas. Apesar dos momentos de frustração (quem não se 1 Embora Louis Jacques Mandé Daguerre seja ainda reverenciado por muitos como o inventor da fotografia em 1839, outros pontuam que esse crédito deve ser dado a Joseph Nicephore Nièpce que, em 1826, obteve a primeira imagem escrita pela luz (foto = luz e grafia = escrita). Era a vista de um telhado. O processo foi denominado heliografia (helio = sol) e a imagem formava-se em uma placa coberta por betume da Judeia.

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lembra da frase: “seu filme queimou”?), a fotografia firmou-se no século XX como uma possibilidade de registro e expressão visual bastante acessível aos amadores, mas com os princípios técnicos fechados numa caixa-preta. Nesse momento, a formação dos fotojornalistas deveria passar obrigatoriamente pelo ensino da técnica fotográfica. O domínio das câmeras e dos filmes seria imprescindível para o desempenho profissional. Durante boa parte do século XX, ser fotógrafo pressupunha destacar-se entre os milhares de “apertadores de botão” criados pela Eastman. Para isso, além de talento, era necessário algum capital a ser investido em equipamentos, filmes e papéis fotográficos e, possivelmente, algum curso técnico que desvendasse os mistérios da fotografia ou ensinasse alguns truques conhecidos apenas pelos profissionais. Os limites técnicos dos equipamentos e dos materiais sensíveis geravam acirradas discussões entre aqueles que se dedicavam à prática fotográfica em seus mais diferentes mercados. No fotojornalismo brasileiro, em meados do século XX, tornou-se famoso o apaixonado embate entre os repórteres fotográficos que defendiam o uso da câmera Leica 35 mm e com visor na altura dos olhos e os que não abriam mão da Rolleiflex e seu grande negativo tamanho 6x6. Eram tempos sem fotômetro embutido, sem focalização automática, sem motordrive e com restritas possibilidades de troca de objetivas e tipos de filme. Nessa fase, raros eram os fotojornalistas que tinham alguma formação acadêmica. Eram normalmente “crias da redação” que, com muito esforço, conseguiam adquirir uma câmera e dominá-la. Mas o último terço do século XX traria grandes surpresas. Nunca o slogan da Eastman tinha sido tão atual. Câmeras cada vez mais automáticas chegavam às mãos de amadores e profissionais. Se você não enxerga direito, não há problema, temos o autofocus. Não entende de luz? Use o fotômetro automático. Não sabe que objetiva usar? Ora, aproveite a zoom e decida na hora. Precisa do vendedor de filme para ajustá-lo na câmera ou ele não “anda”? Seus problemas acabaram. Agora, ela vai puxar o filme sozinha e ainda rebobinálo quando acabarem as poses. Não tem luz suficiente? O flash embutido será acionado em segundos. Point and shoot e o momento “olha o passarinho” estava gravado com uma qualidade bastante razoável no filme. No filme? Sim, no bom e velho filme. Se a questão não era mais profundamente técnica, o que ensinar, então, aos futuros fotojornalistas? Era necessário mudar o foco das disciplinas para o uso das imagens nos diversos veículos, para a importância do direito autoral e comercial dos negativos, para os grandes nomes da reportagem fotográfica e seus conceitos. No entanto, logo foi preciso buscar de novo o ângulo para encarar as alterações no suporte da imagem e a eclosão do fenômeno internet. No fim do século XX, existia uma tal de digitalização e uns softwares que prometiam alterar de vez a produção e o consumo de imagens fotográficas, especialmente no fotojornalismo, que precisou encarar a crise de credibilidade face às alterações pós-fotográficas. A necessidade de escanear as fotos, passando do grão ao pixel, para depois tratá-las digitalmente, enviá-las remotamente por telefone ou através de um ambiente pouco amigável chamado internet estava com os dias contados. Assim como no início da fotografia analógi115


ca, nos primeiros anos, as fotos digitais trouxeram alguma frustração para os consumidores2. Equipamentos caros, longos tempos de captação da imagem e pouca qualidade final eram as principais queixas de profissionais e amadores. Para ambos, a caixa-preta, que anteriormente guardava os princípios físico-químicos da fotografia, havia trocado de conteúdo. Agora era preciso entender de pixels, histogramas, formatos jpeg, tiff, raw, além de cuidar da calibragem dos monitores. A luz projetada em tela podia não corresponder ao resultado esperado. Seria o momento de trocar as lentes e ensinar uma nova técnica? Jornalistas que somos, olhávamos o fenômeno com desconfiança. Alguns chegaram a questionar se essa nova forma de captação da imagem ainda poderia ser chamada de fotografia. Outros, frente à dificuldade de garantir a veracidade e a autoria do registro fora do tradicional terreno analógico, sentenciaram que o fotojornalismo estava morto. A passagem para o terceiro milênio deu-se sob intenso bombardeio. O uso comercial do filme e as discussões sobre os limites no tratamento de imagens, entre outras questões referentes às características da fotografia como informação jornalística, pareciam ter ficado sob os escombros. Nesse cenário de tensões entre forças antagônicas e apaixonadas, o capital venceu a parada. Menos mágica e mais produção. Nos primeiros anos do novo milênio, a fotografia digital foi incorporada ao sistema noticioso, tanto nos veículos impressos quanto em suas versões on-line. On-Line? Sim, on-line. O sistema de dígitos embalava também a internet, que chegou de mansinho a uma circunscrita rede de universidades brasileiras nos anos 1980 e, em meados dos 1990, já era acessada pelo público capaz de pagar pelo serviço. Nessa época, os provedores de acesso telefônico eram lentos e bem pagos. As imagens levavam minutos para aparecer na tela, mas havia jornalismo a ser feito nessa nova mídia. Assim, a partir de 1995, surgiam as primeiras versões on-line dos principais periódicos brasileiros e, com elas, a necessidade de, num primeiro momento, aliar texto e fotos, repetindo a lógica do produto impresso. Nos anos 2000, a rede ganhava cada vez mais velocidade e era incorporada a aparelhos móveis por meio de conexões wireless. Simultaneamente, as câmeras fotográficas digitais cresciam em termos de megapixels e de automatismos, além de diminuírem de tamanho e preço. Consequência? Uma nova “era Eastman”, dessa vez não liderada pela Kodak, mas talvez pela Sony, pela Samsung, e com os tradicionais fabricantes de equipamento fotográfico, como Canon e Nikon, correndo atrás do prejuízo e se modernizando no sentido de atender às demandas do mercado profissional. Atualmente, sob a impressão de que o ato do clique não implica dispêndio financeiro, a alfabetização visual começa cada vez mais cedo, com crianças de 2 ou 3 anos “cometendo” suas primeiras fotografias. Os programas de tratamento de imagem, no mesmo embalo, passam a ser inerentes ao fazer fotográfico. A eles não se 2

A Fairchild All-Sky Camera, desenvolvida nos anos 1970 na Universidade de Calgary, no Canadá, é considerada a primeira câmera digital por alguns pesquisadores por trazer como novidade o CCD (Charge Coupled Device) já acoplado a um microcomputador. Mas, apesar de seu pioneirismo, quem daria status de produto de consumo às câmeras sem filme, mas ainda não digitais, seria a Sony, que, em 1981, anunciaria sua primeira Mavica, de 0,3 megapixel, que poderia armazenar até 50 fotos coloridas em Mavipacks de 2 polegadas

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atribui qualquer limitação no sentido de resguardar a veracidade do registro e a originalidade das imagens captadas. Em virtude do caráter descartável, reforçam a noção de rascunho e obra aberta à manipulação, o que coloca em xeque a noção de autoria da foto com base unicamente no ato fotográfico. Com o ato de clicar banalizado e equipamentos cada vez mais automáticos, a formação do repórter fotográfico precisa ser rediscutida. O mesmo deve acontecer em relação à função da fotografia nos veículos noticiosos e às qualidades esperadas de um fotojornalista. Que competências devem ser enfatizadas na formação desse estudante que escolheu a imagem para transmitir eticamente a informação de interesse público? Ainda há espaço para um profissional que se dedique apenas a produzir imagens fotográficas? Ou o que se espera é que o jornalista do século XXI seja capaz de apurar informações, gravar sons e imagens e, imediatamente (sim, imediatamente), transformá-las em notícias em formato de áudio, vídeo, texto e foto, a serem enviadas a um sítio de informação (seu ou de seu empregador) e só depois, se necessário, contextualizá-las e aprofundá-las para a versão impressa – se existir – dos periódicos? É preciso lembrar, ainda, que esse profissional precisa fazer tudo isso de maneira mais eficiente e ágil que o cidadão repórter, que de modo colaborativo envia diariamente notas e imagens (aos montes) para as versões on-line dos periódicos. Esse material normalmente continua a ser filtrado por jornalistas, que avaliam suas condições técnicas, relevância e adequação à linha editorial do veículo. Apocalíptico? Não, também há espaço para os integrados. Os meios digitais permitem o uso de cada vez mais fotos. As fotogalerias oferecem uma diversidade de olhares sobre um mesmo tema. Os ensaios fotográficos, muitas vezes bissextos nas publicações impressas por causa do espaço dispensado e do custo de impressão, ganham destaque nas mídias digitais. Mas, ao se observar a produção laboratorial das instituições de ensino brasileiras, destacadas no capítulo 4.0 desta publicação, ainda há muito a se explorar nesse campo. O que se percebe, na maior parte dos projetos, são imagens pescadas na rede, sem a menção do autor (é claro), e fotos produzidas pelos estudantes de modo pouco inovador. As exceções ficam por conta de algumas URLs que mantêm espaços destinados a ensaios fotográficos ou que oferecem links para blogs de alunos fotógrafos. Há luz no fim do túnel. Referências bibliográficas BUSSELLE, Michael. Tudo sobre fotografia. São Paulo: Círculo do Livro, 1988. PEREGRINO, Nadja. O Cruzeiro: a revolução na fotorreportagem. Rio de Janeiro: Dazibao, 1991. PREUSS, Julio. Fotografia digital: da compra da câmera à impressão das fotos. Rio de Janeiro: Axcel Books, 2003. Referências eletrônicas Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9610.htm. 117


O design de jornais: do texto ao hipertexto Ana Gruszynski O jornal passa por debaixo do vão da porta. Faz companhia no café da manhã em um ritual que inaugura o dia. Dos resquícios da memória de quem viveu a infância no século passado, permanece a impressão de que ser um dia adulto seria de fato incorporar à rotina o desfiar de todas aquelas palavras e fotos que enunciavam o mundo. Disputar o espaço sobre a mesa entre a xícara e a geleia, percorrer as manchetes principais, compartilhar os cadernos com a família, dar uma olhada geral no que vai render a conversa no elevador, ir direto àquele colunista imperdível – o domínio de tão complexo conjunto de fatores deveria ser mesmo sinal de ingresso em outra fase da vida. Ler o jornal ainda hoje também. Mas as práticas de leitura desdobram-se em uma variada rede que se estabelece com e em torno dos objetos portadores de textos. Do jornal impresso para o on-line, o mundo dos textos continua confrontando-se com o dos leitores, onde objetos, formas e rituais – ligados à materialidade – são apropriados por comunidades de interpretação constituindo, assim, diferentes práticas (CHARTIER; CAVALLO, 1998). O mosaico de notícias que se compõe no papel ou na tela ganha sua forma final por meio do trabalho de design, que opera na junção entre um nível abstrato (conceber/projetar) e outro concreto (registrar/configurar), atribuindo forma material a conceitos intelectuais (CARDOSO, 2000). A forma física de um texto e o modo de disposição dos elementos na página são fatores que determinam a relação histórica entre autores, textos e leitores. O campo físico e visual que se define com base nos recursos tecnológicos de escrita constitui um espaço condicionante com base no qual alternativas de articulação da retórica tipográfica são responsáveis por conformar um texto. Nesse sentido, diferentes edições de um mesmo conteúdo permitem a proposição de novas significações, podendo atender a expectativas de públicos diferenciados, evidenciando, assim, o papel do design na produção de peças comunicacionais. Café na sala Nos cursos de jornalismo, os termos planejamento gráfico e diagramação ainda preponderam sobre design, indicando uma parte dos conteúdos previstos na formação profissional que visam dar conta da organização dos elementos componentes das notícias no espaço. Esboçando um plano de ensino nessa área, o primeiro desafio a empreender com os alunos seria o de gerar um estranhamento em relação ao formato do jornal, colocando em evidência que configurações que hoje nos parecem naturais baseiam-se na apropriação de técnicas datadas e transitórias (GRUSZYNSKI, 2010). A perspectiva histórica – com ênfase na cultura gráfica – seria um ponto de partida. Da mesa do café para a sala de aula, a moldura diferenciada reenquadraria o objeto gráfico, incorporando à 118


conversa experiências cotidianas, referências exemplares do passado e do presente, sites de instituições reconhecidas na área, autores com seus livros e blogs, enfim, um repertório variado que permitiria tensionar noções familiares e ampliar pontos de vista. O entendimento do jornal impresso como um dispositivo (MOUILLAUD, 2002) – forma que estrutura o espaço e o tempo, constituindo, assim, uma matriz que articula os conteúdos – é fundamental para que entre no cardápio a relação entre os projetos editorial e gráfico como um segundo eixo a ser trabalhado. O jornal tem uma cara: sua personalidade gráfica compreende uma continuidade de estilo em que um diagrama de base assegura uma variabilidade de layouts com base em um esquema comum. Nas negociações entre forma e conteúdo, o projeto editorial baliza decisões tomadas ao longo dos processos de edição. Entre os valores do campo que condicionam a prática profissional, está o fator temporal, no qual o imediatismo e a velocidade – brevidade entre o acontecimento e sua transmissão – são soberanos (WOLF, 2006; TRAQUINA, 2005). Contudo, se a composição visual tem papel importante na orientação dos leitores pelas páginas e sedimenta uma série de opções tomadas ao longo das etapas editoriais, o foco dos leitores costuma estar na história, ou seja, naquilo que é narrado, no fato noticiado. A mediação efetuada pelo design parece ter um sentido de transparência. Uma vez que acontecimento e acontecimento jornalístico não são equivalentes, vemos que o planejamento gráfico colabora de modo fundamental para a inserção dos fatos em um quadro contextual. O relato elaborado visa construir um sentido, desvendando causas, envolvidos, consequências etc., tornando-o, assim, um acontecimento jornalístico. Entra-se, então, em um terceiro eixo formativo, que compreende a relação do design com os valores-notícia, com o newsmaking. A sistemática de efetuar o design dos jornais foi gradualmente se consolidando justamente em torno de uma noção de previsibilidade dos acontecimentos, e muito menos na ideia de ruptura que habitualmente associamos à produção jornalística periódica. Sua divisão em seções e cadernos, a presença de suplementos especiais são eixos fundamentais que enquadram a variedade temática que compõe o mosaico de informações presentes nas publicações. Distribuir fotos e textos, ampliar, cortar, inserir... não se trata apenas de embelezar a composição, mas de estabelecer hierarquias e contrastes que visam sobretudo informar. Assim, no âmbito das práticas de ensino e aprendizagem, a consciência da dinâmica entre os três eixos (cultura gráfica; projeto gráfico versus projeto editorial; design, valores-notícia, newsmaking) que perpassam a atividade de design de notícias seria a base a partir da qual se articulariam os princípios que orientam a sintaxe visual, tanto no que se refere aos elementos básicos como aos critérios compositivos (DONDIS, 1997; LUPTON, 2006). Por meio da definição de formato, mancha, colunas, tipografia, cores e elementos iconográficos, desenvolve-se um conceito de publicação que passa pelo domínio das tecnologias digitais de edição e de produção gráfica, envolvendo hardwares e softwares. Esse quarto eixo compreende os aspectos mais aplicados, que demandariam exercícios de produção e análise, tanto do que é realizado em laboratório no espaço acadêmico como do que é publicado na mídia. Desse modo, ao proporcionar a troca sistemática de 119


posições entre produtor e leitor, espera-se despertar e amadurecer o olhar dos profissionais em formação para essa atividade que faz parte do menu do café matinal diário – em outra fase da vida adulta, não somente ler o jornal, mas desvendar a trama que reúne as pastilhas desse mosaico. Mosaico multidimensional Os primeiros jornais on-line levaram para a tela sobretudo reproduções do impresso. Diferentes pesquisadores evidenciaram o gradual desenvolvimento de produtos característicos do ciberespaço, que se autonomizaram em relação aos parâmetros do jornal impresso (Cf. MACHADO et al., 2010). Das experiências pioneiras ocorridas no fim da década de 1960, passando pelo estabelecimento de estratégias próprias de apuração, produção e circulação de conteúdos, é possível encontrarmos hoje sistemas informáticos que agregam diferentes funções, que integram bancos de dados e que permitem o envolvimento de usuários por meio do que se vem denominando de jornalismo colaborativo. Do ponto de vista da composição visual, contudo, Moherdaui (2008) entende que as diferentes fases do jornalismo digital se misturam, uma vez que as convenções estabelecidas na mídia tradicional preponderam segundo o princípio da remediação (BOLTER; GRUSIN, 2000), ou seja, a inter-relação entre os meios. Os eixos, portanto, que orientaram a proposição de tópicos de estudo no âmbito do ensino de design de jornais impressos podem estar presentes na formação voltada à web. Contudo, o espaço aqui é outro e propõe novos desafios, exigindo a ampliação do repertório formativo em função das características específicas do jornalismo digital: hipertextualidade, interatividade, multimidialidade, personalização, memória e instantaneidade (PALACIOS, 2003). Textos, imagens e elementos gráficos em simultaneidade na página de papel de um veículo impresso proporcionam experiências próprias em função de seu espaço de escrita singular (BOLTER, 1991). Na medida em que sua reprodução on-line se dá por meio de um arquivo que simula o folhear de páginas que são visualizadas em tela, temos já outra forma de lidar com o jornal. Uma interface planejada para o jornalismo digital, por sua vez, compreende características multimidiáticas, em que a experiência dos usuários depende de projetos de design que contemplem desde os planos mais concretos aos mais abstratos que envolvem o design informacional. Nesse sentido, Garret (2003) sistematiza os níveis de superfície, de esqueleto, de estrutura, de escopo e de estratégia, em que as atividades ligadas a cada nível são apresentadas segundo a dualidade básica da web: como interface de software (ferramentas) e sistema de hipertexto (informações). Cabe ressaltar que campo jornalístico são os valores-notícia que determinam a forma de articulação entre os elementos presentes estabelecendo hierarquias que configuram as narrativas, nesse caso, específicas para o ciberespaço. Quanto a isso, cabe destacar que hoje vemos duas linhas principais de trabalho: a integração de conteúdos por justaposição – texto, áudio, vídeo etc., acessíveis de maneira independente (SALAVERRÍA, 2005) – e a multimídia por integração. Os desafios nesse sentido são complexos e supõem um largo avanço em relação ao que temos atualmente. 120


Se, por um lado, são raros os alunos de jornalismo que efetivamente se voltam para a atuação direta em design de jornais, de outro, vemos a demanda pelo envolvimento cada vez maior dos profissionais junto aos instrumentos digitais variados que abrangem os processos de seleção, produção e edição de material informativo. O design do jornal não tem mais como ser visto apenas como etapa final de um processo, na medida em que está diretamente vinculado ao perfil da organização que o edita, bem como ao conjunto de profissionais e suas rotinas produtivas, que são mediadas por recursos tecnológicos gerenciados cada vez mais pelos membros das redações e integrados em redes midiáticas. Da memória de quem vive a maturidade no século XXI, escapam as impressões de que um dia desfiarei os links que compõem e recompõem o mosaico multidimensional das bookmarks em minha conta no site Delicious. O domínio de tão complexo gerenciamento do tempo diante de tantas coisas para ler, ver, aprender e ensinar só pode ser sinal de cansaço típico dessa fase da vida. Ou da vida nessa fase. Referências bibliográficas BOLTER, J. D. Writing space: the computer, hypertext, and the history of writing. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, 1991. BOLTER, J. D.; GUSIN, R. Remediation: understanding new media. Cambridge: MIT Press, 2000. CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000. CHARTIER, R.; CAVALLO, G. (Org.). História da leitura no mundo ocidental. São Paulo: Ática, 1998. v .1. DONDIS, A. Sintaxe da linguagem visual . São Paulo: Martins Fontes, 1997. GARRETT, J. R. The elements of user experience: user centered design for the web. New York: Aiga/New Riders, 2003. GRUSZYNSKI, A. Jornal impresso: produto editorial gráfico em transformação. Anais do XXXIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom). Caxias do Sul, set. 2010. LUPTON, Ellen. Pensar com tipos: guia para designers, escritores, editores e estudantes. São Paulo: Cosac Naify, 2006. MACHADO, E.; KERBER, D. B.; ESPINOLA, R.; CAMINHA, K. Plataformas de produção de conteúdos jornalísticos (resultados preliminares do projeto PACJOR). Anais do XIX Encontro da Compós. Rio de Janeiro, jun. 2010. MOUILLAUD, M. Da forma ao sentido. In: MOUILLAUD, M.; PORTO, S. (Org.) O jornal. Da forma ao sentido. Brasília: Editora UnB, 2002. p. 29-35. MOHERDAUI, L. A composição da página noticiosa nos jornais digitais – O estado da questão. VI SBPjor – Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, São Paulo, 2008. PALACIOS, M. Ruptura, continuidade e potencialização no jornalismo on-line: o lugar da memória. In: MACHADO, E.; PALACIOS, M. Modelos de jornalismo digital. Salvador: Edições GJOL/Calandra, 2003. p. 13-36. SALAVERRÍA, R. Redacción periodistica en internet. Navarra: Eunsa, 2005. TRAQUINA, N. Teorias do jornalismo. A tribo jornalística: uma comunidade interpretativa transnacional. Florianópolis: Insular, 2005. v. 2. WOLF, M. Teorias da comunicação. Portugal: Presença, 2006.

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Em tempos de jornalismo digital, a reportagem está no limbo? Vitor Necchi Este texto conta a história de um estudante de jornalismo que gosta de cultura, almeja escrever reportagens sobre cultura e quer lançar um site de cultura. O propósito aqui é refletir sobre o pouco espaço dedicado a reportagens de temas culturais em publicações on-line e o papel dos cursos de jornalismo no estímulo à criação de projetos editoriais em ambientes digitais. A história de Rafael Gloria serve de mote para pensar que, se a reportagem – considerada por muitos o produto mais nobre do jornalismo – já não contava com muito espaço nas editorias de cultura dos veículos impressos, ela é cada vez mais rara nos sites dedicados à área. Na contramão desse processo, universitários mobilizam-se para lançar produtos digitais vocacionados a dar fôlego à elaboração de narrativas jornalísticas de porte. Antes de refletir sobre essas questões, abre-se espaço para a apresentação do estudante de jornalismo que pretende lançar um site de cultura destinado a publicar o que deseja ler e não encontra com facilidade: reportagens. A travessia de Rafael – ou o caminho para Nonada Rafael Gloria estuda jornalismo na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nasceu em 1988, sempre gostou da área cultural e foi se direcionando naturalmente para ela. No 4º semestre da faculdade, conquistou uma bolsa de iniciação científica para pesquisar o jornal Diário do Sul, que pertencia ao grupo Gazeta Mercantil e circulou em Porto Alegre entre 1986 e 1988. A publicação tinha como slogan “cultura na capa” e desprezava temas como esporte e polícia. A investigação acadêmica estava no fim quando Rafael iniciou sua participação, e ele permaneceu quatro meses vinculado ao projeto – tempo suficiente para se impregnar com a proposta de um jornalismo cultural aprofundado, de credibilidade, expresso em textos longos e fruto de entrevistas com diversas fontes. Cada vez que deparava com reportagens alentadas nas amplas páginas do extinto Diário do Sul, sentia vontade de fazer algo parecido. Rafael começou a trabalhar na editoria de cultura do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, e reconheceu que a experiência sedutora descoberta nas páginas amareladas do Diário do Sul ficava cada vez mais distante. No novo trabalho, cumpria um jornalismo conciso, apressado e superficial. Também percebeu que os critérios de noticiabilidade eram flexíveis demais, e os editores acabavam publicando pautas que, em seu entendimento, não deveriam constar da cobertura cultural. Ao fim de dois anos, em julho de 2010, desligou-se desse trabalho. Uma referência nostálgica de qualidade, em contraste com uma experiência que não primava por apura122


ções mais profundas em pautas de cultura, despertou em Rafael a vontade de lançar um projeto próprio, para moldá-lo de acordo com suas convicções e expectativas. Ao presumir que os custos de uma publicação seriam menores no ambiente digital, decidiu montar um site de cultura. Embora o currículo que cumpre na universidade ainda não tivesse espaço específico para o jornalismo digital, há pelo menos dez anos essa temática é discutida em várias disciplinas e seminários. Não poderia ser diferente, pois é impossível discutir jornalismo e mídia em geral sem levar em conta o impacto da digitalização dos processos comunicacionais. As turmas que sucederam à de Rafael na Fabico já contam com disciplinas específicas de jornalismo digital, criadas após a última reforma curricular do curso, há dois anos. Os planos de Rafael ganharam dose extra de entusiasmo depois que ele participou em São Paulo do 2º Congresso de Jornalismo Cultural, promovido pela revista Cult em maio de 2010. Ficou satisfeito quando viu a convergência de seu pensamento com o de Nuria Azancot, redatora-chefe do suplemento El Cultural, do jornal espanhol El Mundo. Para ela, os textos de cultura deveriam ser “volumétricos”, e as pautas buscadas com um “outro olhar”, uma perspectiva que não reproduzisse os padrões recorrentes. Outro episódio estratégico ocorreu no primeiro semestre de 2010, quando Rafael se matriculou em uma disciplina do curso de jornalismo cuja proposta era o desenvolvimento de um projeto, e assim começou a nascer o Nonada – Jornalismo Travessia, site jornalístico de cultura que estreou em setembro de 2010. O projeto nasceu em um ambiente de pesquisa acadêmica e acabou planejado em uma disciplina, o que reforça a importância do tradicional tripé que caracteriza e sustenta a universidade: ensino, pesquisa e extensão. Rafael chamou seis colegas de faculdade e dois amigos do Jornal do Comércio para apresentar o projeto. A única pessoa ainda não conhecida por eles foi a webdesigner que concebeu a identidade visual do site. O discurso do rapaz tímido Rafael é tímido, muito tímido. Fala engolindo sílabas e diminuindo o volume, a ponto de o final das frases restar inaudível. Mesmo assim, preparou um discurso de apresentação do projeto para ler no encontro com os companheiros. Sabedor dos percalços associados a uma fala de improviso, procurou abrigo no texto pensado e impresso. O grupo reuniu-se no pequeno apartamento de um deles, onde, para ouvir Rafael, se acomodaram na cama, no chão, na cadeira. Na parede, um pôster do filme Abraços Partidos, de Pedro Almodóvar, estampava uma Penélope Cruz com um semblante levemente sobressaltado. Então o rapaz tímido sacou o discurso e disparou: “Pode soar pretensioso, mas acho que as coisas devem soar pretensiosas, porque daí deve-se trabalhar muito mais para que elas deixem de ser pretensiosas e tornem-se reais”. A cada proposta, a cada provocação, o grupo anuía com o tímido estudante de jornalismo que pretende resgatar a reportagem do limbo. A propósito: por que Nonada? 123


Nonada é a palavra que inicia o monumental Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa: “– Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego”. Rafael considera que se trata de uma palavra marcante, fácil de lembrar e que “tem tudo a ver com cultura”. Há outra justificativa de ordem pessoal. Ainda inspirado pelo universo roseano, ele e seu grupo pretendem encarar o site como “travessia”, ou seja, aprender fazendo – Nonada seria a ponte. No planejamento que Rafael desenvolveu com o grupo, foram traçados os objetivos do site, cuja atualização se pretende mensal. O principal é “produzir conteúdos jornalísticos aprofundados, procurando instigar o leitor a ir atrás de maiores informações sobre o tema”. Narrativas desse porte não eram estranhas aos universitários do grupo, que experimentam a modalidade, por exemplo, na revista Sextante, editada pelos alunos de jornalismo da Fabico. Esses jovens têm no papel impresso um emblema de jornalismo de qualidade, embora pertençam a uma geração que lida cada vez mais naturalmente com dispositivos digitais. Mesmo assim, temem que o público seja refratário à leitura na internet de textos maiores do que o padrão disseminado. Para evitar o desconforto, estabeleceram limites de caracteres para os textos, mas acreditam que o leitor está acostumado e prossegue na leitura quando há interesse. O grupo ainda pretende se valer dos recursos que a internet possibilita (videocasts e podcasts, por exemplo) para buscar profundidade sem depender de um único modelo narrativo. Alguns desses produtos serão desenvolvidos em parceria com a Rádio da Universidade, emissora da UFRGS. Por que o interesse pela reportagem? O jornalismo impresso e diário não anda muito pródigo em relação às chamadas reportagens especiais. Na contramão dessa tendência, nos últimos anos, pelo menos duas revistas, Piauí e Brasileiros, vêm dedicando esforço, talento e papel para perpetuar em narrativas alentadas fatos e personagens extraídos da realidade. A lógica tradicional pregava que o jornal se ocupa da notícia do dia, do factual, enquanto a revista se dedica à análise, à contextualização e ao aprofundamento. Até que a internet alterou a lógica das publicações. Assim, na véspera de o jornal impresso ir para as bancas, os leitores já sabem dos acontecimentos. Nesse processo de “antecipação” da notícia do dia seguinte, a televisão cumpre um papel importante, assim como celulares, smartphones, tablets etc. Para não nascerem velhas, as publicações que se valem do papel estão repensando sua atuação. Um dos caminhos cogitados para criar permanência e valor para as publicações tradicionais é o desenvolvimento de conteúdo mais analítico, como alternativa ao potencial informativo dos jornais eletrônicos. Mas, ao mesmo tempo em que 124


temor e incerteza marcam presença, não se percebe uma transformação expressiva em termos qualitativos do conteúdo impresso. De maneira geral, os produtos que as rotativas seguem imprimindo revelam: • • • • • • • • •

relatos apressados e superficiais; textos mal escritos e desinteressantes; encolhimento das redações; pautas sem originalidade que perpetuam fórmulas e clichês da cobertura jornalística; adoção de discursos hegemônicos e do senso comum como ponto de partida para a apuração; cômodas entrevistas realizadas por telefone ou por e-mail; dependência de agências de notícias, que pulverizam relatos pasteurizados, padronizando e homogeneizando o conteúdo dos jornais; perda da capacidade de observação e de extração de sentidos desse ato; desconexão da realidade, de forma que as notícias não dão conta da complexidade dos acontecimentos.

Nesse cenário, deve-se celebrar a reportagem como possibilidade para o jornalismo romper com a mesmice e a superficialidade. Para tanto, uma ressalva: REPORTAGEM – com maiúsculas não apenas na primeira letra. Ou seja, narrativas jornalísticas que resultem de um intenso trabalho de apuração (entrevista, observação e pesquisa). Matinas Suzuki Jr., coordenador da coleção Jornalismo Literário, da Companhia das Letras, e editor da revista Serrote, é categórico ao afirmar que a grande característica do jornalismo literário não se aplica ao tipo de texto, às questões formais da escrita, mas à apuração, que deve ser profunda. E, antes da apuração, a REPORTAGEM precisa nascer de um “olhar insubordinado” – conforme apregoa a jornalista Eliane Brum –, para romper com modelos previsíveis, desgastados e acomodados. O diagnóstico nada alvissareiro apresentado linhas acima não se restringe aos jornais impressos e se aplica quase todo ao jornalismo da era digital. Um item, porém, precisa ser adicionado como próprio de publicações on-line: a hegemonia da opinião. Política, economia, cultura, esporte – independentemente do tema, há uma prevalência de críticas, artigos, resenhas e pensatas, além de textos de caracterização mais difusa, como os verificados em blogs. Algumas causas podem ser sugeridas para o fenômeno, a começar pela natureza dos espaços que publicam tais textos na internet. Uma ou poucas pessoas podem criar e manter um blog, um site ou uma revista on-line prescindindo de uma estrutura complexa, o que acaba por imprimir um traço muito autoral à produção. Além disso, reportagem custa dinheiro e requer condições materiais e de logística. A prevalência de textos opinativos nas publicações culturais de suporte digital, assim como o tamanho reduzido dos textos e a superficialidade da abordagem, ficou evidenciada no levantamento que Rafael e sua equipe de universitários fizeram durante a fase de planejamento do Nonada. E é desse cenário que eles pretendem se afastar, planejando resgatar a reportagem do limbo para lhe ofertar não o céu, mas o universo digital. 125


A conquista dos leitores: do folhetim ao hipertexto Aline Strelow No fim da década de 1990, quando o jornalismo digital entrava em sua segunda geração e começava a explorar as potencialidades da rede, eu trabalhava como tradutora de romances-folhetim. Vertia para o português contemporâneo textos publicados em jornais há mais de cem anos no Rio Grande do Sul. Sentia-me como uma espécie de “correspondente no século XIX”. Exerci essa função por três anos, diariamente, como parte de um projeto de iniciação científica que foi definitivo para minha escolha pela carreira acadêmica. Enquanto o jornalismo começava a se adaptar à internet, as notícias traziam links para outras e o texto se transformava em hipertexto, minha língua era um português arcaico, que abrigava palavras como assucar, dous, matte, rozario e apparencia. Esses textos, que durante muitos anos foram alvo de preconceito no campo literário, tiveram um papel central no desenvolvimento do jornalismo. Você não acredita? Página virada do meu folhetim Como todas as boas histórias, a dos folhetins também é recheada de intrigas. Seu idealizador foi Émile Girardin, criador do jornal francês La Presse. Para multiplicar e baratear sua folha, Girardin bolou uma forma diferente de publicar textos literários – eles passariam a aparecer em capítulos. Assim, cativariam leitores e ajudariam a ampliar a tiragem. A ideia era excelente. Mas ele tinha um sócio, Armand Dutacq, que percebeu o potencial daquilo, separou-se de Girardin e, antecipando-se a ele, lançou o primeiro romance-folhetim no jornal Le Siécle, do qual foi fundador. No dia 5 de agosto de 1836, foi publicado o primeiro capítulo de Lazarillo de Tormes, narrativa anônima espanhola, cuja primeira edição conhecida data do século XVI. A escolha do texto não foi por acaso: além de não exigir pagamento de direitos autorais, a obra consistia numa espécie de modelo primitivo da narrativa que faria enorme sucesso entre os parisienses, franceses, a Europa e, logo, o mundo: os textos em folhetim. A publicação sequenciada popularizou a literatura por meio dos jornais. Essa aproximação aconteceu graças, principalmente, aos avanços tecnológicos ocorridos em meados do século XIX e aos episódios político-culturais do período. O desenvolvimento das máquinas impressoras permitiu a ampliação das tiragens, chegando aos 4 mil exemplares e, depois, saltando para os 20 mil exemplares diários. Parece pouco para nossos padrões atuais, mas era bastante para a época. O problema, então, era que esses jornais precisavam ser distribuídos, conquistar leitores e, principalmente, sua fidelidade (HOHLFELDT, 2003). 126


Para não perder nenhum capítulo Mas como convencer o leitor a assinar o jornal? O que poderia fazê-lo querer ler todos os dias o mesmo periódico? Os folhetins foram a resposta perfeita para esses perguntas. Publicados em partes, com sua ação dramática suspensa de tal forma que a solução dos conflitos exigia vários capítulos, os romances atraíam a curiosidade dos potenciais assinantes dos jornais. Como hoje fazem as telenovelas, alguns personagens ganhavam maior importância por imposição do público, histórias de sucesso tinham de ser estendidas, sem esquecer, é claro, o sempre presente entrelaçamento entre ficção e realidade (MEYER, 1996). Dessa maneira, conquistavam-se novos leitores e ampliava-se a abrangência do jornal. A rápida popularização dos folhetins fez com que, logo, os exemplares fossem disputadíssimos e a melhor saída para não perder nenhum capítulo fosse mesmo investir na assinatura. Os textos eram publicados no rodapé, espaço reservado ao entretenimento, onde também apareciam contos, artigos, ensaios, crítica de arte, poemas e tudo, enfim, que pudesse entreter literariamente os consumidores do jornal. As histórias, recheadas de traições, amores impossíveis e crimes hediondos, encantavam os leitores. A popularização da literatura e do jornalismo alastra-se rapidamente pela Europa. Os folhetins alcançam tanto sucesso que passam a ser sinônimo de literatura popular. Em seguida, começam a ser publicados na forma de livro. Novela impressa no Brasil A febre dos folhetins logo chegou ao Brasil. O primeiro romance nessa linha no país foi Capitão Paulo, de Alexandre Dumas, publicado em 1838 no Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro. Os leitores multiplicaram-se num país ainda semianalfabeto, e a influência sobre os que se tornariam os primeiros escritores seria plenamente reconhecida, bastando citar José de Alencar. Os escritores surgidos na maré do romantismo brasileiro utilizariam o mesmo princípio para a divulgação de suas obras, e a circulação dos romances, no Brasil, pelos jornais, permaneceria até meados do século XX, fazendo com que não apenas os textos românticos quanto os autores das tendências que se seguiriam, especialmente o realismo e o naturalismo, adotassem o mesmo tipo de veiculação (HOHLFELDT, 2003). Também os textos de peças teatrais consagradas foram veiculados no espaço do folhetim. Na década de 1940, o dramaturgo Nelson Rodrigues, sob o pseudônimo de Susana Flag, publicou, nos jornais de Assis Chateaubriand, algumas das mais famosas histórias em capítulos da imprensa brasileira. Mas não foi nos jornais que o folhetim atingiu seu ápice de popularidade no Brasil. Isso só acontece quando suas histórias passam a ser adaptadas para o rádio, na década de 1940, e para a televisão, na de 1950. Só para ter uma 127


ideia, em 1956, a Rádio Nacional transmitia 14 radionovelas por dia, que representavam 50% da programação da emissora (HAUSSEN, 1997)! Na televisão, o gênero transforma-se em um dos principais fenômenos de massa – a popularidade da ficção televisual se dá, por aqui, quando as novelas descobrem a realidade brasileira e passam a desvendá-la em capítulos diários, oferecidos para o deleite e a distração do telespectador (MELO, 1998). Folhetim digital? A representatividade da internet para os campos jornalístico e literário é indiscutível. Assim como aconteceu no século XIX, quando os primeiros movimentos literários brasileiros foram apresentados ao público pelos jornais, o mesmo acontece hoje, no espaço virtual. Sites, blogs e redes sociais representam para a literatura e para o jornalismo literário uma potencialização do espaço de trocas, divulgação e crítica que era, praticamente, exclusividade dos veículos impressos. No início dos anos 2000, o formato do folhetim começou a ser adaptado para a internet. Nos Estados Unidos, o escritor Stephen King colocou no ar um capítulo do livro The Plant. Por 1 dólar, os leitores poderiam copiá-lo – o preço foi aumentando à medida que a história se aproximava do final. No Brasil, a experiência de Mário Prata é pioneira: ele foi observado pelos internautas durante os seis meses que levou para escrever Os Anjos de Badaró, no ano 2000. Antes ainda de Prata, em 1998, um grupo de jovens estudantes universitários reuniu-se no Cardoson-line, ou COL, publicação virtual distribuída a assinantes por e-mail – o e-zine, que circulou por três anos, também investiu na ficção seriada, chegou a ter 5 mil assinantes e revelou escritores como André Czarnobai (conhecido como Cardoso), Clarah Averbuck, Daniel Galera e Daniel Pelizzari. Os romances em capítulos conquistam seu espaço na internet especialmente após o surgimento dos blogs, na década de 1990. Sem exigir conhecimento técnico prévio, os blogs são espaço privilegiado para a publicação de textos literários. A escritora Ana Paula Maia divulgou as histórias Entre Rinhas de Cachorros e Porcos Abatidos e O Trabalho Sujo dos Outros em folhetins antes de publicá-las em forma de livro. A autora Alessandra Félix chama sua forma de escrita de webnovela – uma de suas histórias, a trama adolescente A Saga do Primeiro Beijo, foi tema de dissertação de mestrado em literatura comparada (COSTA, 2007). O termo webnovela é usado também para designar histórias editadas em vídeo e disponibilizadas no YouTube. Mas e na França, onde tudo começou? Como não poderia deixar de ser, os franceses seguem protagonistas, para usar um termo literário, quando o assunto é folhetim. Em março de 2010, uma equipe composta de um roteirista e 14 ilustradores lançou Les Autres Gens [As Outras Pessoas] – novela em quadrinhos na internet que pode ser acompanhada mediante assinatura em suportes diversos: computador, telefone celular ou iPod/iTouch. O folhetim conta a história de Mathilde, estudante que, ao ganhar na loteria, vê sua vida virar de pernas para o ar. A atualização é diária e a assinatura mensal custa 3 euros. 128


Jornalista e leitor no texto digital Os jornais digitais vivem, hoje, conflito semelhante ao experimentado pelas folhas do século XIX. Como conquistar o leitor? Como fazê-lo voltar diariamente a determinado portal? Baseados nos mesmos fornecedores de conteúdo e oferecidos aos internautas apenas com roupagem diferenciada, como os webjornais podem conquistar a fidelidade do público? Se o leitor está “inscrito” no texto impresso, mesmo antes de lê-lo, pela forma como o imagina o autor (ECO, 1989), no universo digital a presença do público é explícita. No caso dos folhetins contemporâneos, a participação do leitor dá-se, em especial, por meio de sugestões sobre os próximos capítulos e de uma interação efetiva que repercute nos rumos da história. Entre abril de 2007 e dezembro de 2008, Ricardo Brandes e Fabiana Langes publicaram A História de Cláudio e Raquel em 17 capítulos – ao final de cada um, a sequência da trama era aberta para votação e sugestões dos internautas. Para o exercício do jornalismo na web, interatividade e colaboração são palavras-chave. A participação efetiva do leitor no processo jornalístico, agora também como emissor da mensagem, tem suscitado acalorados debates sobre o que é e o que não é jornalismo na rede. Assim como o folhetim, o texto jornalístico digital não apenas é escrito pensando no leitor, mas, muitas vezes, pelo leitor. A prática tem vários nomes, entre eles jornalismo colaborativo, jornalismo open source e jornalismo cidadão. Mas tratar as manifestações dos leitores como jornalismo, como sugerem as referidas terminologias, está longe de ser um consenso. Para Machado (2003), o leitor participa como fonte que se torna difusora de informação. A arquitetura descentralizada da web altera a relação de forças entre os diversos tipos de fontes porque concede a todas as pessoas o status de fontes potenciais para os jornalistas (RIBAS, 2007). E na sala de aula? Até o advento da internet e sua influência no processo global de comunicação, a relação entre jornalistas e leitores não costumava ser amplamente discutida em sala de aula. Talvez porque, até o jornalismo ganhar a rede, o leitor não fosse suficientemente considerado, mesmo dentro dos veículos de comunicação, com sua participação restrita à seção de cartas à redação. Se o cenário se modifica no campo profissional, o mesmo acontece nos cursos de graduação. A utilização de blogs, fóruns de discussão, chats, distribuição de textos on-line, sites e páginas colaborativas como ferramentas de ensino do jornalismo insere os estudantes no contexto da produção jornalística digital e promove as primeiras experiências de interação nessa área (RIBAS, 2007). No caso do ensino do jornalismo, a conquista do leitor/internauta parece passar, como aponta Ferrari (2004), pela combinação entre a informação bem trabalhada e a exploração dos recursos hipermídia. 129


Na essência, estamos falando no equilíbrio entre a formação teórica/intelectual e a técnica/prática. Isso tudo para que os estudantes aprendam a contar boas histórias (no caso do jornalismo, reais), com múltiplas possibilidades de interação. Quem sabe seja esse o caminho para a conquista dos internautas, assim como a estrutura narrativa do folhetim foi para os jornais do século XIX. Para conhecer o desenrolar dessa história, no entanto, será preciso acompanhar os próximos capítulos.

Referências bibliográficas COSTA, Maurício Alves da. Teoria do polissistema: do folhetim ao blog, o polissistema literário brasileiro sob a interferência da internet. Dissertação de mestrado, 2007. Disponível em http://www.lume.ufrgs.br/ handle/10183/10875. Acesso em 24 ago. 2010. ECO, Umberto. Lector in fabula. São Paulo: Perspectiva, 1989. FERRARI, Pollyana. Jornalismo digital. São Paulo: Contexto, 2004. HAUSSEN, Dóris. Rádio e política: tempo de Vargas e Perón. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1997. HOHLFELDT, Antonio. Deus escreve direito por linhas tortas: o romance-folhetim dos jornais de Porto Alegre entre 1850 e 1900. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003. MACHADO, Elias. O ciberespaço como fonte para os jornalistas. Salvador: Calandra: 2003. MEYER, Marlyse. Folhetim: uma história. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. MELO, José Marques de. As telenovelas da Globo. São Paulo: Summus, 1998. RIBAS, Beatriz. Blogs como ferramentas de ensino do jornalismo. In: MACHADO, E.; PALÁCIOS, M. (Org.). O ensino do jornalismo em redes de alta velocidade: metodologias & softwares. Salvador: EDUFBA, 2007. p. 159-176.

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As lições de Bentinho e Capitu Bernardete Toneto Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim?... Eu amava Capitu! Capitu amava-me! E as minhas pernas andavam, desandavam, estacavam, trêmulas e crentes de abarcar o mundo. Esse primeiro palpitar da seiva, essa revelação da consciência a si própria, nunca mais me esqueceu, nem achei que lhe fosse comparável qualquer outra sensação da mesma espécie.

O amor! Sua inebriante capacidade de cegar os sentidos é apregoada em versos e ações por poetas, loucos e enamorados. Já na prática do jornalismo a história é outra: está oficialmente estabelecida a neutralidade desapaixonada, traduzida entre outros pelo exercício da isenção, da independência e da crítica1. Mas, tal qual na história de Bentinho e Capitu, no magistral romance Dom Casmurro, de Machado de Assis, não seria possível perceber uma relação afetiva em que se desenvolve o jogo da sedução? Em 1899, o escritor, fundador da Academia Brasileira de Letras e também jornalista Machado de Assis publicou sua obra mais polêmica, Dom Casmurro. Narrado em primeira pessoa pelo personagem Bentinho, de forma fragmentada o texto leva o leitor à história de amor e de possível traição da amada Capitu com Escobar. Amizade, paixão, apego, ciúmes e principalmente dúvidas marcam a relação do jovem racional com a musa “de olhos de ressaca”. A ligação do público com o jornalismo, em especial o jornalismo cultural, pode ser comparada ao casamento de Bentinho e Capitu, com direito à descoberta da paixão, compromisso mútuo firmado publicamente, e idas e vindas feitas de conflitos. A convivência, feita de uma relação carnal, inclui também diferenças, em que ambas as partes demandam confiança. Quando a dúvida impera, fica a pergunta: de quem é a culpa? Há ou não traição? Até os anos 1990, o casamento parecia um mar de rosas. De um lado, quem ditava as regras do jogo era o jornalismo cultural – entendido aqui como o gênero jornalístico desenvolvido por um profissional especializado na cobertura e análise da cultura, inserido em uma editoria voltada às artes e à crítica. Os critérios de noticiabilidade e de relevância da informação eram (e ainda são) definidos com base em uma visão unilateral, eurocêntrica, parcial e incompleta, em que o conceito do que é ou não cultura fica pautado pela indústria de bens culturais. O diálogo acaba traduzido em monólogo. Não leva em conta o outro lado da relação: o público, submetido à exigência da monogamia, do respeito e da fidelidade cega. Conforme analisa Moles (MOLES, 1974): 1

Kovach e Rosenstiel elencam nove elementos do jornalismo: verdade, verificação, monitoramento do poder, isenção, crítica e compromisso público, significação, compreensibilidade, proporcionalidade e liberdade. Cf. KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo. São Paulo: Geração, 2003.

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Na sociedade, especialmente na sociedade extremo-ocidental, na qual os problemas da produção apagam-se antes dos do consumo e dos lazeres, há dois tipos extremos de meio, entre os quais se distribuem as diferentes camadas sociais vistas sob o ângulo da cultura: o micromeio intelectual, que representa alguns centésimos da sociedade, e no qual se recruta um núcleo extremamente estreito de criadores “profissionais” que representa menos de um milésimo da sociedade e, no outro extremo, uma massa enorme nutrida pela imprensa de grande tiragem, a televisão, o rádio e o cinema, que absorve, praticamente de maneira passiva, o que o micromeio por intermédio de agentes tecnocratas que regem a máquina de difusão lhe propõe.

Nesse cenário, na maior parte das vezes o polígamo jornalismo cultural exige monogamia. Estabelece a linha entre o visível e o invisível no que se refere à cultura, entendida como entretenimento dividido em coberturas estanques (a literatura separada da dança, que por si não dialoga com a música, o cinema, o teatro ou as artes visuais, e muito menos com as artes e expressões que vêm das ruas), e não em sua dimensão identitária, de habitus2, e como esfera do desenvolvimento social, portanto transversal em si mesma. Como afirma Moles (1971), ao falar da civilização tecnológica, “as realizações técnicas influenciam o ambiente intelectual no instante em que penetram na sociedade, e devido a isto reagem finalmente, por seu turno, sobre a concepção de mundo da época”. Nasce o conflito O casamento está em crise. Contemporaneamente, em tempos de mudança nos processos de produção e difusão da informação estabelecidos pelas novas tecnologias da informação e comunicação (TICs), o público deixa de ser agente passivo. Digitaliza-se. Definitivamente, deixa de ser apenas receptor para assumir reconhecidamente o papel de emissor de informação. Posiciona-se. Demanda atenção. Gera conteúdo. Colabora. A facilidade extrema que a internet oferece à autodifusão cultural muda a relação. O jornalismo cultural, que, assim como todo jornalismo, deve ser fruto da dúvida e do questionamento, vê ruírem as bases das certezas em que estava erguido. Atônito, ainda resiste em reconhecer a diversidade à qual não está acostumado. Faz lembrar a constatação do sisudo Bentinho, inconformado ao ver o desabrochar da jovem Capitu: Tinha já ideias atrevidas, muito menos que outras que lhe vieram depois; mas eram só atrevidas em si, na prática faziam-se hábeis, sinuosas, surdas, e alcançavam o fim proposto, não de salto, mas aos saltinhos. Não sei se me explico bem. Suponde uma concepção grande executada por meios pequenos. 2 O sentido do habitus é definido por Pierre Bourdieu como a identidade social instituída por uma linha conhecida e reconhecida por todos, ou seja, uma lei social incorporada. Cf. BOURDIEU, Pierre. Campo do poder, campo intelectual e habitus de classe. In: BOURDIEU, P. Economia das trocas simbólicas. Rio de Janeiro: Perspectiva, 1992. p. 119.

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Transpostos para o campo do jornalismo, os “meios pequenos” de que fala o personagem machadiano podem ser representados pelas mídias colaborativas e pelas redes sociais amadoras, a exemplo dos blogs e redes sociais independentes, em que as ideias atrevidas do público dão seus saltos. Por meio dos novos meios de comunicação de configuração digital, o público fala, provoca e maneja um espaço de poder. Trata-se de um mundo em que o jornalista, com competências e habilidades desenvolvidas para seu oficio, teme tornar-se apenas mais um, já que o outro – até então parceiro fiel – pode oferecer conteúdos, não apenas particulares, mas de caráter societário, sem intermediação, manipulados pelos próprios interessados. Enclausurado em seu papel de conformador da opinião pública e de determinador de saberes, condutas e preferências, o jornalismo cultural vive a perplexidade do mundo digitalizado. Não percebe que o parceiro tem voz. Esquece-se de que o cosmo onde a cultura acontece é um espaço de relações entre posições diferenciadas. Ou, de acordo com Bourdieu, não percebe a cultura como campos de força da produção cultural3, em que há relações de dominantes e dominados, conservadores e vanguardas, lutas subversivas e mecanismos de reprodução. Em um panorama condicionado pela mudança dos modelos na produção e a imposição de uma nova forma de relação com as audiências, movida pelas tecnologias da informação e comunicação, o jornalismo cultural não percebe que, se mudou a intermediação, os procedimentos de captação, produção e difusão da informação jornalística continuam imutáveis. Esquece-se que o meio digital traz como diferença da prática do jornalismo a interatividade, que possibilita a participação do usuário em todas as etapas de processo produtivo, de forma potencializada e quase instantânea, recuperando o papel político do comunicador como agente político da sociedade. Fica na defensiva. Assim como Bentinho em relação a Capitu, vê inimigos onde antes havia aliados. Sente ciúmes de seu papel único de intermediador cultural, sem perceber outras possibilidades de abordagem da cultura. Não raras vezes, considera os meios digitais o amigo que trai, e o público o amante traidor. Diante da tela luminosa, parece repetir como o personagem de Machado: Perdeu-se em fitar [...], com tal força e concentração, que me deu ciúmes. – Você não me ouve, Capitu. – Eu? Ouço perfeitamente. – O que é que eu dizia?

3 Para Bourdieu, o conceito de campo resume-se a “um espaço no interior do qual há uma luta pela imposição da definição do jogo e dos trunfos necessários para dominar nesse jogo”. Cf. BOURDIEU, Pierre. A dissolução do religioso. In: BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas. São Paulo: Brasiliense, 1990. p. 119.

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A paz da formação Muitos desses conflitos que permeiam o casamento do jornalismo cultural com o público podem ser apaziguados já no período de namoro, ou seja, na formação acadêmica do jornalista. O ensino e a prática do jornalismo digital – seja por meio de disciplinas específicas, seja por meio de conteúdos transversais e multidisciplinares – poderá levar o aluno a novas experiências, traduzidas em novo olhar e novas reflexões sobre a cultura. O educador Edgar Morin (MORIN, 2000) considera função da universidade contribuir para a autoformação da pessoa – ou seja, ensinar a assumir a condição humana e ensinar a viver –, e também ensinar como se tornar cidadão. Para isso, é fundamental que o curso de jornalismo se volte para a formação integral do futuro jornalista, adaptando o conhecimento formal à modernidade científica, integrando-a ao mesmo tempo em que fornece um ensino metaprofissional, metatécnico, classificado por ele como “cultura”: A Universidade deve adaptar-se à sociedade ou a sociedade é que deve adaptar-se à Universidade? Há complementaridade e antagonismo entre as duas missões... Uma remete à outra em um circulo que deve ser produtivo.

Para que isso ocorra, é necessário repensar os modelos pedagógicos do ensino de jornalismo – considerado uma ciência não cartesiana, mas complexa porque dialoga com a realidade em mutação. Seja no ensino do jornalismo cultural, seja no ensino do jornalismo digital, e em todas as confluências advindas desse encontro, vale lembrar o mestre Paulo Freire, que defendia uma prática pedagógica reflexiva e transformadora que busca contribuir para o processo de transformação social. A competência para utilizar pedagogicamente as recentes tecnologias da informação e comunicação e novos olhares pressupõe formas diferentes de se relacionar com o conhecimento, com os outros e com o mundo, em uma perspectiva colaborativa. Como afirma Freire (1998), A educação constitui-se em um ato coletivo, solidário, uma troca de experiências, em que cada envolvido discute suas ideias e concepções. A dialogicidade constitui-se no princípio fundamental da relação entre educador e educando. O que importa é que os professores e os alunos se assumam epistemologicamente curiosos.

Nesse processo, a curiosidade é fator fundamental para que os futuros jornalistas busquem formas diferentes de incorporar novos olhares, novas possibilidades, novos sujeitos e, principalmente, a diversidade e a alteridade cultural, sem a pressão por papéis profissionais que estão em transformação. Sem ciúmes, detentores que são de conhecimentos inerentes ao jornalismo, mas compromissados com o objeto único do jornalismo: o público. Isso se torna ainda mais relevante em tempos de partilha de saberes originados no contexto da cibercultura, em que democracia, liberdade e participação são palavras-chave. Aos que não entendem o processo de transformação por que passa o jornalismo, resta a frase última de Dom Casmurro: “A terra lhes seja leve! Vamos à história dos subúrbios”. 134


Referências bibliográficas ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ bv00180a.pdf. BOURDIEU, Pierre. Campo do poder, campo intelectual e habitus de classe. In: BOURDIEU, P. Economia das trocas simbólicas. Rio de Janeiro: Perspectiva, 1992. _____. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. BOWMAN, Shayne; WILLIS, Chris Willis. Nosotros, el médio. The Media Center del American Press Institute. Disponível em: www.hypergene.net/wemedia/espanol.php. KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo. São Paulo: Geração, 2003. MOLES, Abraham A. A criação científica. São Paulo: Perspectiva, 1971. _____. Sociodinâmica da cultura. São Paulo: Perspectiva, 1974. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000.

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uma reflex達o sobre as descobertas deste mapeamento Alex Primo

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As faculdades de jornalismo chegaram a 2010 tentando avaliar que efeitos teria o fim da obrigatoriedade do diploma, decidido pelo STF no meio do ano anterior. Antes mesmo dessa mudança nas regras do jogo, alguns cursos de jornalismo já viviam uma crise de demanda. Durante a coleta de dados deste mapeamento, ligações telefônicas foram realizadas para todas as faculdades que não responderam aos e-mails enviados. Com esses contatos diretos, realizados por Laura Folgueira, então colaboradora do Itaú Cultural, encontrou-se um conjunto de faculdades cujos cursos de jornalismo foram descontinuados ou não mantinham mais turmas em andamento. Logo percebeu-se que esse também seria um dado relevante. Quais seriam as razões para o encerramento das atividades? Ainda que o foco deste livro seja o ensino de jornalismo digital – e não o jornalismo como um todo, ou seu sistema global de formação –, entendeu-se que um levantamento, ainda que precário, dos problemas que levaram cursos de jornalismo a fechar seria um subproduto importante deste projeto. Os contatos com as faculdades que informaram ter encerrado seus cursos foram retomados por Vivian Belochio para apurar novas informações. Algumas instituições não puderam ser ouvidas, pois seus números de telefones e sites não respondiam às tentativas de comunicação (Faculdade Veredas, de Conselheiro Lafaiete/MG, e FIC, de Caratinga/MG) ou não havia um responsável que pudesse oferecer informações (Facinder, de Colider/MT)1. A falta de demanda foi a justificativa mais ouvida das faculdades que fecharam cursos de jornalismo ou não conseguem dar início a novas turmas. É o caso da Fabavi, que possui campi em Vitória, Vila Velha e Guarapari (ES). O curso de jornalismo funcionou entre 2003 e 2009. No entanto, as habilitações de comunicação social foram canceladas ao se identificar que não havia interesse na região por essa formação. A Faro, de Porto Velho (RO), fechou as três habilitações de comunicação por causa da baixa procura por vagas. Turmas com menos de dez alunos matriculados tornaram os cursos economicamente inviáveis. Para preservar sua imagem diante do MEC, a Faro decidiu cancelar os cursos de jornalismo (2003-2009), publicidade e propaganda e relações públicas. A Unimsb, de Campo Grande, RJ, também alegou que a baixa procura pelo vestibular de Jornalismo causou o encerramento do curso. Além do pouco interesse despertado nos vestibulandos, a grande concorrência na região e a baixa expectativa quanto ao mercado de trabalho foram razões que levaram a Universo, de Belo Horizonte, a deixar de oferecer jornalismo em seu vestibular. Em cinco anos de funcionamento (2004-2009), mais de cem alunos foram formados. O curso de publicidade e propaganda, no entanto, segue em funcionamento. A Universo, do Recife, por sua vez, também relata que, como não se verificava a procura pelo vestibular de jornalismo, ele deixou de ser oferecido. A instituição acredita que a queda da exigência do diploma tenha influenciado no decréscimo da procura. No Recife, a habilitação em publicidade e 1 Inicialmente identificado como um curso que teria fechado, verificou-se mais tarde que a Facenop, de Sinop (MT), havia sido vendida para a Fasip. Assim, seu curso de jornalismo continuava em funcionamento, mas sob nova administração.

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propaganda também segue em funcionamento. E, assim como na Universo de Belo Horizonte, não se pensa em abrir a habilitação de relações públicas, nem reativar a de jornalismo. A Fundação Novo Milênio, de Vila Velha (ES), é outra instituição que cancelou a habilitação jornalismo, mas encontra demanda satisfatória para publicidade e propaganda. Nesses últimos casos, o problema da procura não se refere a toda a comunicação social. O Instituto João Alfredo de Andrade ainda oferece vagas de jornalismo e publicidade e propaganda em Juatuba (MG), mas não tem conseguido abrir novas turmas nos últimos quatro semestres. A instituição, que entre 2003 e 2008 formou cerca de 50 jornalistas, acredita que o fim da obrigatoriedade do diploma seja uma das causas para o baixo interesse. Esse é o mesmo caso da Iesfato, de Teófilo Otoni (MG). Depois de formar 22 alunos entre 2004 e 2008, a baixa demanda inviabilizou as duas últimas tentativas de abertura de turmas. De toda forma, a Iesfato espera conseguir o número mínimo de inscrições em futuros processos seletivos. A FAC-Fito, de Osasco (SP), cujo curso funcionou de 2005 a 2009, tampouco encontra demanda para a abertura de novas turmas de jornalismo e publicidade e propaganda. A rigor, nesses casos, tais habilitações não foram fechadas, mas as instituições não conseguem dar andamento aos cursos. Já a Unifeg nunca conseguiu iniciar seu curso de jornalismo em Guaxupé (MG), pois o número mínimo de inscritos para o vestibular não é alcançado. A universidade, que mantém turmas de publicidade e propaganda, também alega que o fim da exigência do diploma motivou o cancelamento de parte das 17 inscrições em 2010, quando se supunha que o curso de jornalismo poderia finalmente ser aberto. De toda forma, ainda pretende oferecer jornalismo no próximo vestibular. A Finac, de Vitória (ES), chegou a mencionar a decisão do STF sobre o diploma, mas reconhece que o curso já havia sido fechado antes daquela mudança. Por outro lado, a faculdade pretende abrir o curso de relações públicas por acreditar na demanda por essa habilitação. Já a falta de mercado de trabalho para os egressos foi o motivo alegado pela Faculdade Pitágoras de Guarapari. Como a cidade possui apenas dois pequenos jornais, praticamente não existe demanda por profissionais de jornalismo. É possível que esse levantamento de cursos inativos de jornalismo tenha deixado de contemplar faculdades não identificadas. De toda forma, observa-se que os cursos em crise ou já fechados são todos de faculdades privadas, em sua maioria de pequeno porte. Em cidades menores, a falta de mercado de trabalho é ainda mais séria, refletindo diretamente na busca por formação superior. A oferta de vagas mostra-se maior que a procura principalmente nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, cada um com quatro cursos inativos, totalizando oito dos 12 verificados. A concorrência entre essas instituições menores na disputa por vestibulandos de jornalismo mostra que existe uma oferta que supera a necessidade de vagas. O fim da obrigatoriedade do diploma foi referido por algumas faculdades como causa para a desa138


tivação de seus cursos de jornalismo. Tendo-se verificado que tais cursos já estavam com problemas de manutenção antes mesmo da decisão do STF, não se pode confirmar uma reação tão imediata, nem que o problema do diploma seja a única causa direta. Como o fim da obrigatoriedade é ainda recente, será preciso aguardar por pesquisas futuras que possam identificar se futuros jornalistas deixam de reconhecer a importância da formação superior. Os dados aqui relatados precisam ser interpretados com cautela. Mesmo que se observe uma oferta de vagas maior que a demanda em certas regiões, a análise não deve se deter em aspectos meramente econômicos, nem tampouco se deve abordar a decisão recente do STF como o tiro de misericórdia nos cursos de jornalismo. Existe jornalismo em países democráticos que não exigem apresentação do diploma na área? Sim, inclusive na França e nos Estados Unidos, normalmente citados como exemplos de bom jornalismo. Na comunicação social, a habilitação de publicidade e propaganda tem conseguido manter boa demanda, mesmo que o diploma nunca tenha sido exigido no Brasil. Claro, a situação do mercado brasileiro e as relações empregatícias são muito distintas das realidades francesa e norte-americana. Como se vê, a constatação de uma crise das faculdades e do jornalismo em si ainda não pode ser confirmada. Os elementos estatísticos e qualitativos que possuímos são insuficientes para qualquer alarde. De qualquer forma, a reflexão da área sobre si mesma, observando seus problemas e potências, é fundamental para seu fortalecimento. Ainda não se sabe que desdobramentos terá a questão do diploma. De toda forma, sendo ele obrigatório ou não, o que se sabe é que uma ampla e boa formação está na base dos profissionais competentes. Em tempos de tantas transformações, em que tudo parece ficar obsoleto rápido demais, essa certeza permanece válida.

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1. Aline Strelow 2.Ana Gruszynski 3.AndrĂŠa Barros 4.Beatriz Deruiz 5.Bernardete Toneto 6.Elinara Barros 7.Emerson Cunha 8.Eron Rezende 9.Giovana Penatti 10.JessĂŠ Torres 146


Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010 O processo Este Dossiê tem entre suas funções ser uma prestação de contas do Rumos Itaú Cultural de Jornalismo Cultural 2009-2010. Destacamos aqui as principais informações sobre as inscrições e o trabalho de seleção do programa, em suas duas categorias – Estudante e Professor. Os textos dos editores tratam do cotidiano e da produção das duas publicações resultantes desse biênio: o livro Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil em 2010 e a revista multimídia :singular 2. E o Quem É Quem relaciona as pessoas e os parceiros que foram importantes em todo o processo dessa edição do Rumos Jornalismo Cultural.

11 13 12

14 15

16

18

20

17 19

11.Karina Costa 12.Laryssa Caetano 13.Leonardo Cunha 14.Letícia Queiroz 15.Luana Lazarini 16.Rafael Pereira 17.Sandra Machado 18.Soraya Venegas 19.Thiago Soares 20.Vitor Necchi

147


Radiografia das inscrições Avaliar o perfil dos inscritos no Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural 2009-2010 é o objetivo deste mapa, realizado com base nas informações das fichas de inscrição de ambas as carteiras disponíveis – Professor e Estudante. Para se inscrever na primeira carteira era necessário que o professor universitário do curso de comunicação social, de graduação ou pós-graduação, comprovasse experiência como docente por pelo menos dois anos. A exemplo da edição passada, o ensaio solicitado em edital para o processo de seleção teria de tratar da formação do aluno ou do aperfeiçoamento do professor em jornalismo cultural. Já para a Carteira Estudante, o aluno de comunicação social que estivesse cursando comprovadamente do terceiro ao quinto períodos de graduação no primeiro semestre de 2009 inscrevia-se com uma reportagem para a editoria de cultura optando entre quatro categorias: Reportagem para Mídia Impressa, Mídia Audiovisual, Mídia Sonora e Web.

minadas deste quadro inscrições repetidas (identificadas por títulos de trabalhos idênticos) ou cujas informações, de imediato, conflitassem com o regulamento.

Nesta pequena análise do painel de inscritos, são levadas em conta todas as inscrições válidas, ou seja, fichas cujas informações se alinham com as regras do edital. Estão eli-

O total geral de inscrições válidas foi 285, oriundas de 125 faculdades, 91 municípios e 25 estados, incluindo o Distrito Federal.

148

Esta radiografia mostra onde residem as pessoas interessadas na terceira edição do Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010, em qual instituição lecionam ou estudam, que tema escolheram para se inscrever. É, assim, importante instrumento para reflexão, seja para mapear as instituições de ensino superior cujos professores e/ou alunos têm particular interesse pela área cultural, seja para retratar o público inscrito em 2009 para registro da memória do programa ou para formatar editais futuros. É importante ressaltar que as cidades estão mapeadas de acordo com o município de residência do inscrito, não sendo, necessariamente, a cidade-sede da instituição de ensino em que leciona ou estuda.


CARTEIRA PROFESSOR A Carteira Professor recebeu um total de 34 inscrições de 30 universidades, 21 cidades e 14 estados, sendo contemplados oito professores de sete universidades, cinco cidades e cinco estados. O estado cujos professores manifestam maior interesse por esta edição é São Paulo, com oito inscrições (seis da capital, uma da Grande São Paulo e outra do interior). Rio Grande do Sul aparece em segundo lugar na base de dados, com seis ensaios inscritos. Não figuram na lista professores dos estados do Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Sergipe. Docentes da Universidade Plesbiteriana Mackenzie, de São Paulo (SP) são os que mais demonstram interesse no programa, com três inscrições. Integram a Comissão de Seleção os professores Marialva Barbosa, então professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), como representante do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ, parceiro do Itaú Cultural na divulgação das inscrições), e Marcos Palácios, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), além do jornalista Claudiney Ferreira, gestor no Núcleo Diálogos do Itaú Cultural, área responsável pelo Rumos Jornalismo Cultural. De acordo com o regulamento, cada professor selecionado ganha, entre outros prêmios, 30 livros escolhidos em uma lista elaborada pela Comissão de Seleção e uma bolsa de pesquisa sobre o Ensino do Jornalismo Digital no Brasil em 2010, realizada em grupo, via internet, pelo Fórum Virtual de Discussão mediado pelo professor Alex Primo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGRS), ora publicada em livro homônimo. Assuntos abordados nos ensaios inscritos Nesta edição, os temas escolhidos pelos professores são menos diversos que os do biênio anterior. Percebese maior concentração no enfoque da especialização em jornalismo cultural e da importância do gênero como instrumento de desenvolvimento sociocultural (cada um com quatro inscrições), e também no ensino multidisciplinar da matéria e na formação cultural necessária ao aluno que deseja se especializar na editoria

(três inscrições por tema). Sejam experiências já consolidadas ou projetos ainda em implantação, há poucos relatos que tratam do ensino do jornalismo cultural em suas diversas áreas de expressão artística, como o cinema, a música e a televisão – exceção feita à correlação jornalismo e literatura, com três textos inscritos. A agenda no jornalismo cultural

2

Análise da prática de jornalismo cultural discutida em sala de aula

2

Crise no jornalismo cultural

1

Ensino multidisciplinar do jornalismo cultural

3

Especialização em jornalismo cultural

4

Formação crítica

1

Formação cultural

3

Jornalismo como instrumento de desenvolvimento sociocultural

4

Jornalismo cultural e consumo

1

Jornalismo cultural e direito

1

Jornalismo cultural e imagem

2

Jornalismo cultural e literatura

3

Jornalismo cultural e música

1

Jornalismo cultural na TV

2

Jornalismo cultural e antropologia

1

Jornalismo cultural e cinema

1

Reflexões críticas sobre a disciplina de jornalismo cultural

2

Disciplinas que lecionam A grande maioria dos docentes inscritos leciona mais de uma disciplina (não raro chega a três). Nesta edição, do total de inscrições válidas de professores, nota-se que as matérias mais recorrentes são as relacionadas a redação e oficinas de texto, com nove ocorrências, seguidas não muito de perto pelas disciplinas que enveredam pelas mídias audiovisuais e os projetos experimentais/especiais (seis em cada), e logo em seguida pelas de jornalismo cultural, as que envolvem as novas tecnologias de maneira geral (com nomenclaturas distintas, mas de mesma natureza), as que relacionam a comunicação e a mídia com a cultura, especialmente a contemporânea, e as que tratam das teorias do jornalismo, da comunicação e da imagem (cinco ocorrências em cada). 149


Antropologia /Antropologia Cultural

2

Assessoria de Imprensa

1

Atendimento Publicitário

1

Audiovisual / Cinema / Telejornalismo / Edição de TV

6

Cenários do Mercado de Comunicação

1

Comunicação & Discurso

1

Comunicação e Cidadania / Comunicação e Cultura / Comunicação e Cultura / Cultura e Mídia

5

Comunicação Empresarial / Jornalismo Empresarial

2

Comunicação Visual / Direção de Arte

2

Cultura Brasileira

1

Direito empresarial

1

Edição

3

Empreendedorismo

1

Estágio

1

Estética e História da Arte / Estudos sobre Artes Plásticas

4

Estudos Críticos da Comunicação / História da Comunicação

2

Ética

3

Fotografia

2

Gêneros do Jornalismo

1

Jornalismo Cultural

5

Jornalismo Especializado

1

Jornalismo Literário

2

Jornalismo On-Line / Projeto Digital / Novas Tecnologias da Comunicação

5

Marketing Cultural

2

Metodologia da Ciência

1

Pedagogia da Comunicação Crítica

1

Pesquisa

2

Planejamento e Edição de Revistas / Planejamento Gráfico em Jornalismo

2

Processos Criativos

1

Produção em Áudio Publicitário

1

Produção Musical

1

Projeto Experimental / Temas Especiais

6

Radiojornalismo

3

Realidade Socioeconômica Brasileira

1

Laboratório de Jornalismo Impresso / Oficina de Texto / Produção Textual / Redação

9

Semiótica

1

Sistemas Internacionais de Comunicação

1

TCC

4

Teoria da Imagem / Teoria da Mídia / Teoria do Jornalismo

5

150

Os selecionados na Carteira Professor, suas faculdades e ensaios contemplados Aline Strelow (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre/RS), por “Jornalismo Cultural: uma Proposta para a Formatação da Disciplina”. Ana Gruszynski (Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, Porto Alegre/RS), por “Entre Palavras, Imagens e Diagramas: o Lugar do Design na Formação do Jornalista Cultural”. Bernardete Toneto (Universidade Cidade de São Paulo – Unicid, São Paulo/SP), por “Formação em Cultura para Jornalistas no Cenário da Mídia Radical e da Pedagogia por Projetos”. Leonardo Cunha (Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH, Belo Horizonte/MG), por “A Crítica na Grande Imprensa: Entre o Óbvio e as Altas Aspirações”. Sandra Machado (Universidade Veiga de Almeida, Rio de Janeiro/RJ), por “Beco dos Garranchos, uma Experiência Literário-jornalística”. Soraya Venegas (Universidade Estácio de Sá – Unesa, Niterói/ RJ, residente no Rio de Janeiro), por “Em Tempos de Cultura de Imagem, Imagem É Cultura: Reflexões sobre o Uso da Teoria da Imagem na Pós-graduação em Jornalismo Cultural”. Thiago Soares (Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa/PB, residente em Jaboatão dos Guararapes/PE), por “Jornalismo Cultural em Tempos de Cultura Líquida”. Vitor Necchi (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC-RS, Porto Alegre/RS), por “Jornalismo Cultural e a Formação Universitária”. A opinião da Comissão de Seleção Rumos e percursos de uma avaliação Marcos Palacios Avaliar é uma parte delicada e algumas vezes penosa da atividade acadêmica: uma técnica e, em alguns sentidos, também uma arte, demandando sensibilidade e atenção para cenários e suas nuances. Avaliações não ocorrem no vazio, mas sempre em contextos de vivências. Não sem razão há todo um folclore em torno dessa faceta de nossa vida docente e universitária. Todos conhecem a máxima: “Dou 8 quando o estudante demonstra que sabe tudo que eu sei; 9 quando me ensina alguma coisa; o 10


fica reservado a Deus, pois perfeição é um dos atributos divinos”. Conhecida é também a história de um professor que, por três vezes, devolveu sucessivas versões de uma tese de doutorado de um orientando, sem nenhuma outra anotação senão um “tenho certeza de que você pode fazer melhor que isso”. Recebeu a quarta versão com um desabafo desesperado do doutorando: – Aí está, professor, isto é realmente o melhor que posso fazer. Não aguento mais. Se desta vez não estiver à altura de sua aprovação, eu desisto do curso... – Está bem, está bem, desta vez eu vou ler! De fato, em nossa vida acadêmica, passamos grande parte de nosso tempo avaliando. Avaliamos provas e trabalhos de estudantes; avaliamos projetos de nossos pares para concessão de bolsas, passagens e diárias; avaliamos pedidos de financiamento para pesquisa e de inclusão de artigos em livros e periódicos especializados; avaliamos projetos de criação e relatórios de funcionamento de cursos de graduação e pós-graduação. E vivemos em um constante processo de autoavaliação, no que diz respeito a nosso próprio trabalho acadêmico. A atividade de avaliação é de tal forma central no mundo da docência e da academia que os cursos de pedagogia têm essa área como um dos campos de especialização e pesquisa mais importantes de seus currículos. Sem ser um especialista, mas munido de uma experiência docente e acadêmica de quase 30 anos, posso afirmar com convicção que a forma mais justa e produtiva de avaliação é a chamada “continuada”. Avalia-se, por meio de um acompanhamento constante, o crescimento, o esforço, a autossuperação de alguém que se dispõe a fazer alguma coisa. A avaliação consiste em um “antes” e um “depois”, historiados por todo um percurso. Não foi esse o caso na avaliação dos projetos submetidos ao Rumos Jornalismo Cultural – Carteira Professor. Não tínhamos um “antes” e um “depois”; não tínhamos conhecimento de um percurso; desconhecíamos os processos de tentativa e erro que, muito provavelmente, haviam marcado cada um desses trajetos, cada uma dessas propostas. Nem sequer tínhamos conhecimento dos nomes e das faces daqueles que estávamos avaliando. Os autores estavam reduzidos aos seus projetos. E pior: ao hierarquizarmos e selecionarmos aquelas anônimas propostas, estaríamos,

consequentemente, também excluindo. Em tal situação, julga-se o proposto e não o proponente e seu percurso, utilizando dois critérios fundamentais: o do valor intrínseco da peça que se está avaliando e o comparativo. O critério de valor intrínseco funciona como garantia de que aquilo que se está selecionando tem méritos para preencher os requisitos colocados pelo edital do programa; o comparativo é a garantia de que os melhores serão os selecionados. Mas e a subjetividade nesse tipo de avaliação? Novamente sem ser especialista, minha resposta é que um processo de avaliação desse tipo nunca estará totalmente isento de subjetividade. E nem deveria estar. A subjetividade, nesse caso, deve ser entendida como as lentes que cada um dos três examinadores envolvidos no julgamento da Carteira Professor do Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010 utilizou para escrutinar e pesar cada uma das propostas. São decisivos, nesse processo, os percursos não dos examinados, mas dos examinadores. Três percursos, três necessárias subjetividades, três óticas. Três julgamentos? Tudo correu conforme programado: recebemos os projetos com ampla antecipação à data marcada para nossa avaliação conjunta. Tivemos tempo suficiente para lê-los, relê-los, compará-los, imaginá-los implementados e em funcionamento. Quando nos encontramos na sede do Instituto Itaú Cultural, no dia e hora marcados, para cotejarmos e colocarmos em confronto nossas subjetividades, o que eu mais ansiava que acontecesse aconteceu: o grau de convergência foi tão alto que o julgamento quase se esgotou em uma primeira rodada de apresentação de resultados e justificativas por parte de cada membro da comissão julgadora. Três percursos, três subjetividades, três óticas e uma quase unanimidade inicial. Uma pausa para um café, uma segunda rodada de argumentações e a lista dos selecionados se fechou, em um processo de convencimento e novas convergências, ao fim do qual nenhum dos examinadores se sentiu fazendo concessões inadmissíveis ou abrindo mão de princípios pétreos. 151


Nem sempre, é claro, comissões julgadoras funcionam de maneira tão pacífica e convergente. Há algo que é também do âmbito do subjetivo e que nunca saberemos explicar: uma comissão funciona bem quando há uma boa química entre seus membros. Foi claramente o caso, nesta experiência. Desbravar é preciso Mirna Tonus A tarefa de selecionar os oito trabalhos vencedores da Carteira Professor no Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010 foi um prazeroso desafio. Primeiramente, pelo exercício de abstrair dos textos elementos que atendessem a critérios como relevância, clareza, argumentação, fundamentação pedagógica e correção. Em segundo lugar, por oferecer-nos a possibilidade de mapearmos mentalmente as ideias que circulam pelo país e que podem contribuir para a capacitação de estudantes de jornalismo na editoria de cultura. Um mapa sem local, indivíduos sem nome ou rosto – o anonimato garantiu a isenção da seleção –, mas com alguns caminhos já traçados e discretos indicativos de rumos que o jornalismo cultural tem seguido ou pode seguir. As propostas atendem, de certa maneira e ainda timidamente, à necessidade de novos caminhos para superar a tão anunciada e comentada crise do jornalismo. O traçado das reflexões teóricas indica que poucos enveredaram pelos caminhos da produção acadêmica sobre o tema, haja vista a enxuta lista de bibliografia especializada. Releituras são importantes, mas não suficientes. E os textos selecionados são excelentes pontos de partida para ampliar e difundir o conhecimento entre professores, estudantes e profissionais do jornalismo cultural. A qualidade do texto é outro aspecto importante a ser levantado e que deve ser preocupação constante no jornalismo, especialmente entre professores. Em virtude da sobrecarga cotidiana e na busca de cumprir o deadline de um cada vez maior número de editais e chamadas de trabalhos, corremos um sério risco, o de nos perdermos em meio às palavras 152

e ignorarmos que podemos ser nossos revisores e editores, assim como o fomos – ou somos – nas publicações em que trabalhamos ou as quais coordenamos nas universidades. Quanto à urgente inovação nesse campo jornalístico, um pouco mais de ousadia talvez fosse capaz de potencializar as propostas apresentadas nos textos que derivam de projetos de curso ou de componentes curriculares. Mais do que alterar suas estruturas, o desafio está em evitar que essas propostas se tornem tão estáticas quanto aquelas já estabelecidas na academia, configurando inovações aparentes e levando ao mesmo lugar. Saber, entretanto, que essa preocupação tem permeado a atuação dos docentes é reconfortante, pois demonstra inquietação, inconformismo e, sobretudo, vontade de abrir trilhas para os futuros jornalistas e incentivá-los a traçar rotas próprias. A importância da imagem, a pedagogia por projetos, a mídia radical, a crítica, o experimentalismo e os olhares incomuns para aquilo que se coloca como formação, assuntos abordados nos textos selecionados, atestam a diversidade, por vezes oculta e restrita aos muros das universidades brasileiras, das múltiplas visões a respeito do jornalismo cultural. Evidenciá-la, como faz o Rumos Jornalismo Cultural, já é um grande passo. E pensá-lo para além dos textos e das mídias tradicionais pode levar-nos a desbravar novos caminhos e construir cenários mais interessantes. Ameaçadores, posto que são desconhecidos, mas igualmente encantadores e transformadores.


Os livros escolhidos pelos professores contemplados Título

Autor

@rte e Mídia

Priscila Arantes

A Ditadura Derrotada

Elio Gaspari

A Ditadura Encurralada

Elio Gaspari

A Ditadura Envergonhada

Elio Gaspari

A Ditadura Escancarada

Elio Gaspari

A Era dos Extremos

Eric J. Hobsbawm

A Era dos Festivais

Zuza Homem de Mello

A Feijoada que Derrubou o Governo

Joel Silveira

A Fogueira das Vaidades

Tom Wolfe

A História da Arte

E. H. Gombrich

A Marca Humana

Phillip Roth

A Moderna Tradição Brasileira

Renato Ortiz

A Noite da Madrinha

Sergio Miceli

A Norma Oculta: Língua e Poder na Sociedade Brasileira

Marcos Bagno

A Pintura na Vida Moderna

T. J. Clarck

A Sangue Frio

Truman Capote

A Televisão Levada a Sério

Arlindo Machado

A Vida como Performance

Kenneth Tynan

A Vida Literária no Brasil: 1900

Brito Broca

Abusado

Caco Barcellos

Apocalípticos e Integrados

Umberto Eco

Apresentação do Teatro Brasileiro Moderno

Décio de Almeida Prado

Arquivos do Mal-estar e da Resistência

Joel Birman

Arte e Mídia

Arlindo Machado

Arte Moderna

Giulio Carlo Argan

Arte para Quê?

Aracy Amaral

Arteciência: Afluência de Signos Comoventes

Roland de Azeredo Campos

As Crônicas Marcianas

Ray Bradbury

As Melhores Crônicas de Zuenir Ventura

José Carlos de Azeredo (Org.)

As Veias Abertas da América Latina

Eduardo Galeano

Brasil Século XX: Ao Pé da Letra da Canção Popular

Luciana Salles Worms e Wellington Borges

Casa-grande & Senzala

Gilberto Freyre

Cem Anos de Solidão

Gabriel García Márquez

Chatô, o Rei do Brasil

Fernando Morais

Chega de Saudade

Ruy Castro

Cidades Invisíveis

Italo Calvino

Como e por que Ler?

Harold Bloom

Conversas com Historiadores Brasileiros

José Geraldo Vinicius de Moraes e José Márcio Rego 153


Crítica Cultural: Teoria e Prática

Marcelo Coelho

Cultura Brasileira e Identidade Nacional

Renato Ortiz

Cultura e Política

Roberto Schwarz

Culturas Híbridas: Estratégias para Entrar e Sair da Modernidade

Néstor García Canclini

Da Diáspora: Identidade e Mediações Culturais

Stuart Hall

Dentro da Baleia e Outros Ensaios

George Orwell

Dentro da Floresta

David Remnick

Dicionário do Folclore Brasileiro

Luís da Câmara Cascudo

Dicionário do Teatro Brasileiro: Temas, Formas e Conceitos

Jacob Guinzburg

Diferentes, Desiguais e Desconectados

Néstor García Canclini

Dos Meios às Mediações

Jesús Martin-Barbero

Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana

Nei Lopes

Ética, Jornalismo e Nova Mídia: Uma Moral Provisória

Caio Túlio Costa

Fama & Anonimato

Gay Talese

Filme

Lilian Ross

Freud, Pensador da Cultura

Renato Mezan

Grande Sertão: Veredas

João Guimarães Rosa

Guerra e Paz

Leon Tolstói

Hamlet

William Shakespeare

História da Imprensa no Brasil

Nelson Werneck Sodré

Homem Secreto: A História do Garganta Profunda

Carl Bernstein e Bob Woodward

Homo Ludens: O Jogo como Elemento da Cultura

Johan Huizinga

Introdução a uma Ciência Pós-moderna

Boaventura de Souza Santos

Inventário das Sombras

José Castello

Lado B

Sergio Augusto

Literatura como Missão: Tensões Sociais e Criação Cultural na Primeira República

Nicolau Sevcenko

Linguagens Líquidas na Era da Mobilidade

Lucia Santaella

Literatura, Cinema e Televisão

Tânia Pellegrini, Randal Johnson, Ismail Xavier, Hélio Seixas Guimarães e Flávio Aguiar

Literatura e Música

Solange Ribeiro de Oliveira, Carlos Rennó, Paulo Freire, Maria Alice Amorim e Janaina Rocha

Matéria e Memória

Henri Bergson

Minoridade Crítica

Luís Antônio Giron

Mistério do Samba

Hermano Vianna

Mundialização e Cultura

Renato Ortiz

Na Pior em Paris e em Londres

George Orwell

Notícias do Planalto

Mário Sérgio Conti

O Afeto Autoritário: Televisão, Ética e Democracia

Renato Janine Ribeiro

O Arco-íris da Gravidade

Thomas Pynchon

O Brasil Pode Ser um País de Leitores?

Felipe Lindoso

O Cinema Brasileiro Moderno

Ismail Xavier

154


O Cinema de Meus Olhos

Vinicius de Moraes

O Escritor e Seus Fantasmas

Ernesto Sabato

O Ex-estranho

Paulo Leminski

O Fim das Certezas: Tempo, Caos e as Leis da Natureza

Ilya Prigogine

O Grande Livro do Jornalismo: 55 Entrevistas com Grandes Escritores Jornalistas

Jon E. Lewis (Org.)

O Livro dos Insultos

H. L. Mencken

O Mito do Eterno Retorno: Introdução à Filosofia da História

Mircea Eliade

O Olho da Rua

Eliane Brum

O Pasquim: Antologia 1969-1971

Sergio Augusto e Jaguar (Org.)

O Ponto de Mutação: a Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente

Fritjof Capra

O Povo Brasileiro

Darcy Ribeiro

O que É História Cultural?

Peter Burke

O Sagrado e o Profano: A Essência das Religiões

Mircea Eliade

O Som e o Sentido

José Miguel Wisnik

O Super-homem Vai ao Supermercado

Norman Mailer

O Tao da Física

Fritjof Capra

O Teatro Brasileiro Moderno

Décio de Almeida Prado

Obra Completa

João Cabral de Melo Neto

Os Melhores Jornais do Mundo

Matias Molina

Por que as Comunicações e as Artes Estão Convergindo?

Lucia Santaella

Por Trás da Entrevista

Carla Mühlhaus

Radical Chique e o Novo Jornalismo

Tom Wolfe

Redes de Criação: Construção da Obra de Arte

Cecilia Almeida Salles

Revisão Crítica do Cinema Brasileiro

Glauber Rocha

Rumo à Estação Finlândia

Edmund Wilson

Rumos (do) Jornalismo Cultural

Felipe Lindoso (Org.)

Seis Propostas para o Próximo Milênio

Italo Calvino

Sem Trama e sem Final: 99 Conselhos de Escrita

Anton Tchekov

Sincretismos: Uma Exploração das Hibridações Culturais

Massimo Canevacci

Sobre Ética e Imprensa

Eugênio Bucci

Tristes Trópicos

Claude Levi-Strauss

Ulysses

James Joyce

Um Bom Par de Sapatos e um Caderno de Anotações

Anton Tchekhov

Uma História da Leitura

Alberto Manguel

Uma História do Espaço: de Dante à Internet

Margareth Werthein

Urbanismo

Le Corbusier

Vida para Consumo

Zygmunt Bauman

Videologias

Maria Rita Kehl e Eugênio Bucci

Violência e Psicanálise

Jurandir Freire Costa

Vira e Mexe Nacionalismo

Leyla Perrone-Moisés

155


CARTEIRA ESTUDANTE A Carteira Estudante teve um total de 251 reportagens inscritas, de 109 cursos, 76 municípios e 24 estados. Foram selecionados 12 universitários de dez universidades, dez cidades e oito estados. A Comissão de Seleção é formada por Antonio Achilis Alves da Silva, então presidente da Rede Minas de Televisão; Everton Constant, do Portal Terra (parceiro do Itaú Cultural na criação e no desenvolvimento da Categoria Web); o jornalista e escritor José Castello, que, pela segunda vez consecutiva, também exerce a função de editor do Laboratório On-Line de Jornalismo Cultural oferecido aos contemplados; e a professora Mirna Tonus, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), como representante da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom, parceira do Itaú Cultural na divulgação das inscrições), além de Claudiney Ferreira como representante do Itaú Cultural. Já os destaques da premiação são um Laboratório On-Line de Jornalismo Cultural, para produção de reportagens publicadas na revista multimídia :singular nº 2, sob a orientação de José Castello, com direito a bolsa mensal, além de uma coleção de 20 livros – para o aluno e para a biblioteca de sua faculdade – indicada pela comissão. A radiografia dos universitários inscritos em todas as categorias é traçada com base nas seguintes informações: em que cidade/estado residem, em qual instituição estão matriculados e quais as pautas definidas para a realização das reportagens. Categoria Mídia Impressa Inscrição: 157 inscritos de 81 faculdades, 63 cidades e 21 estados Seleção: 10 selecionados de 10 faculdades, 10 cidades e 8 estados 1. Estado, cidade, instituição de ensino superior Mais uma vez, o estado de São Paulo lidera de longe as inscrições: um total de 39, sendo 11 na capital, 5 na Grande São Paulo e 23 no interior. A Bahia, com 15 reportagens, fecha o ranking uma única colocação à frente de Minas Gerais, com 14. A instituição campeã de inscrições nessa categoria 156

é a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), de Natal, com oito ocorrências, incluindo a de um aluno que declara residir no município de Parnamirim. Universitários dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Piauí, Rondônia e Tocantins não se interessaram pela categoria nesta edição. 2. As pautas Nesta edição, nota-se certo desinteresse pelas matérias de agenda (apenas 11) em relação ao tema campeão da categoria, os perfis de artistas, grupos ou mesmo instituições, com nada menos que 40 incidências. Pautas sobre comportamento – incluindo tendências da vida contemporânea, como moda e tecnologia, que aparecem com 30 inserções – e a cultura popular, tratando de temas da identidade cultural nas mais diversas regiões do Brasil (28 inscrições), são os temas que mais se destacam. Agenda (festas populares, shows, espetáculos de artes cênicas etc.) Comportamento (fotografia, moda, games, música, internet, hip hop, turismo etc.) Cultura e educação Cultura estrangeira do Brasil Cultura popular e identidade cultural (maracatu, cultura negra, boi-bumbá etc.) Crítica (cinema, música, teatro etc.) Mídia e mercado Perfil (de artistas, grupos ou instituições) Políticas culturais e políticas públicas

11 30 4 4 28 16 8 40 16

Os selecionados Emerson Cunha (Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa/PB), por “Era a Luz que Escrevia Naqueles Papéis”. Eron Rezende (Universidade Federal da Bahia – UFBA, Salvador/BA), por “Da Guerra Fria ao Hype”. Giovana Penatti (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp, Bauru/SP, residente em Piracicaba/SP), por “O que É que o Caipira Tem?” Jessé Torres (Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis/SC), por “Polaroid, a Fênix da Fotografia”. Letícia Queiroz (Universidade Federal Fluminense – UFF, Niterói/RJ, residente no Rio de Janeiro/RJ), por “Cultura no Subúrbio do Rio de Janeiro”. Rafael Pereira (Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Rio de Janeiro/RJ), por “Por uma Mecânica Quântica”.


Categoria Mídia Sonora

As selecionadas

Inscrição: 27 inscritos de 25 faculdades, 22 municípios e 13 estados Seleção: 2 estudantes de 2 faculdades, 2 municípios e 2 estados

Beatriz Deruiz (Universidade Federal do Maranhão – UFMA, São Luís/MA), por “Tambor de Crioula, Ritmo da Terra”. Karina Costa (Universidade Federal da Bahia – UFBA, Salvador/BA, residente em Simões Filho/BA), por “Farinhada”.

1. Estado, cidade, instituição de ensino superior Inscrições: 27 inscritos de 25 faculdades, 22 cidades e 13 estados Seleção: 2 selecionados de 2 faculdades, 2 cidades e 2 estados São Paulo é o estado que mais desperta o interesse de estudantes nesta categoria, com seis inscrições: três da capital, duas da Grande São Paulo e uma do interior. Como na Categoria Mídia Impressa, a Bahia fica com o segundo lugar em Mídia Sonora, com cinco inserções. Apenas a metade dos estados brasileiros aparece nessa lista, ficando de fora Alagoas, Amazonas, Amapá, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraíba, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins. As duas únicas instituições que aparecem com dois inscritos são a Universidade Federal da Bahia (UFBA, com residentes em Salvador e Simões Filho) e a Faculdade Jorge Amado (com residentes em Camaçari e Salvador). Todas as outras aparecem com apenas um aluno de cada.

Categoria Mídia Audiovisual Inscrição: 20 inscritos de 17 faculdades, 16 municípios e 8 estados Seleção: 2 estudantes de 2 faculdades, 2 municípios e 2 estados 1. Estado, cidade, instituição de ensino superior A maior incidência de inscrições está no estado de São Paulo, com sete ocorrências – três da capital, duas da Grande São Paulo e duas do interior. O Rio de Janeiro figura em segundo lugar, com quatro reportagens inscritas, e Maranhão em terceiro, com três. Aliás, todas as inscrições maranhenses vêm da instituição recordista na categoria, Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís. Apenas oito estados aparecem nessa lista: Bahia, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo. 2. As pautas

Temas da cultura popular despertam o interesse dos aficionados pelo rádio, com um total de sete inscrições. Os perfis aparecem em segundo lugar, com um número muito próximo do primeiro, seis reportagens. Já as que tratam do comportamento e da vida contemporânea aparecem cinco vezes, empatadas com as matérias de agenda.

Novamente as pautas que tratam da cultura popular, com questões do folclore regional e da identidade cultural, despertam interesse – o que ocorre em todas as categorias desta edição. Mídia Audiovisual ganha seis reportagens desse tema, seguidas por quatro de comportamento e quatro perfis. Aqui, matérias de agenda praticamente não têm vez: há apenas uma incidência, o que só vem consolidar o desinteresse dos alunos inscritos nesta edição do Rumos Jornalismo Cultural pelo assunto.

Agenda (eventos em geral) Comportamento (consumo, modo de vida, turismo, internet) Cultura popular e identidade cultural Mídia e mercado Perfil (profissionais de música, literatura, teatro etc.) Políticas culturais e políticas públicas

Agenda cultural Comportamento Cultura popular e identidade cultural Cultura e educação Cultura estrangeira no Brasil Mídia e mercado Perfil

2. As pautas

5 5 7 2 6 2

1 4 6 2 1 2 4 157


As selecionadas

As selecionadas

Andréa Barros (Universidade Federal do Maranhão – UFMA, São Luís/MA), por “Nas Costas da Minha Mão”. Luana Lazarini Loureiro (Universidade do Vale do Paraíba – Univap, São José dos Campos/SP), por “Divulgação de Audiovisual em São José dos Campos”.

Elinara Barros (Universidade Federal do Piauí – UFPI, Teresina/PI), por “Seu Agenor e a Conservação do Folclore Piauiense”. Laryssa Caetano (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – UFMS, Campo Grande/MS), por “Lendas e Folclore da Cultura Pantaneira”.

Categoria Reportagem para Web Inscrição: 47 inscritos de 37 faculdades, 30 municípios e 17 estados Seleção: 2 estudantes de 2 faculdades, 2 municípios e 2 estados

Ao contrário do biênio 2007-2008, é uma surpresa receber 47 inscrições, da maior parte do Brasil, numa categoria que ainda é conhecida por “novas mídias”. Somente alunos dos estados do Acre, Amapá, Distrito Federal, Espírito Santo, Pernambuco, Rondônia, Santa Catarina, Sergipe e Tocantins não manifestam interesse pela web nesta edição. São Paulo também lidera essa tabela, com 14 inscrições – sete da capital, seis do interior e uma da Grande São Paulo. Minas Gerais figura em segundo lugar, com cinco reportagens, seguido de perto pela Bahia, com quatro. A Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho (Unesp), de Bauru (SP), é a instituição líder de inscrições, com três ocorrências. 2. As pautas A grande surpresa é a maior incidência de blogs críticos, gênero que quase não aparece em outras categorias, mas aqui ocorre cinco vezes. As pautas sobre cultura popular são de interesse geral dos blogueiros, com nada menos que 13 inscrições, seguidas por temas igualmente recorrentes em todas as outras categorias – comportamento, com dez inscrições, e perfil, com nove.

158

Expressão cultural do Brasil Antonio Achilis Alves da Silva

1. Estado, cidade, instituição de ensino superior

Agenda (eventos diversos) Comportamento (modo de vida, cultura, turismo etc.) Cultura e educação Cultura popular e identidade cultural Crítica (cinema, música, teatro etc.) Mídia e mercado Perfil (literatura, música, artes visuais etc.) Políticas públicas e políticas culturais

A opinião da Comissão de Seleção

5 10 1 13 5 2 9 2

Quem estiver acostumado e limitado ao óbvio de viseira sempre sentirá uma estranheza e, se for sincero, se culpará pelos preconceitos acumulados. Caso contrário, viverá uma experiência apenas emocionante e surpreendente. É isso que ocorre toda vez que se lançam olhares nacionais sobre a cultura brasileira. Para qualquer abordagem, a diversidade brasileira mostra sua exuberância muito além do que compramos dos centros tradicionais. A Carteira Estudante do Rumos Jornalismo Cultural, do qual participei como jurado, deu mais uma amostra desse fenômeno. Mesmo nas produções mais precárias, os trabalhos são reveladores da criação e das expressões cultivadas e acontecidas Brasil afora. Fica mais gratificante aplaudir com mais entusiasmo os estudantes que souberam se expressar e que romperam matrizes tidas como pétreas, para oferecer razão, sentido e direção novos a seus conteúdos. Parece-me adequado estimular os realizadores do programa – no seu papel de indutor de futuro – a fazer mudanças compatíveis com os novos tempos. Com a tecnologia disponível, não é difícil para um estudante enriquecer seu texto com fotos, gráficos, infográficos e até animação. Melhor mesmo é provocar a convergência de mídias, estimulando o surgimento da metalinguagem decorrente. Ou apenas participar e se alinhar com sua eclosão inevitável.


Rumos desenha painel da produção estudantil brasileira Everton Constant Todos os dias, por dever de ofício, leio e releio textos produzidos por jornalistas profissionais, alguns ainda iniciantes, analisando os aspectos técnicos obrigatórios em todas as reportagens: lide, objetividade, clareza na exposição dos fatos, dados apresentados e comparados e, principalmente, fonte, senão tudo não passará de um exercício de ficção. Salvo quando o espaço é opinativo, como numa coluna. A luta diária pelo furo e pela informação fresquinha é dura. O relógio trabalha contra. Por isso, não é fácil encontrar matérias que ofereçam um texto saboroso e que ao mesmo tempo não abram mão da exatidão dos fatos. Não quero dizer que nas redações não se reconheça ou se deixe de valorizar autores talentosos. Mas a verdade é que a opressão do processo industrial da notícia muitas vezes não deixa espaço para uma produção mais elaborada, que muitas vezes requer condições que não são compatíveis com a rotina do dia a dia do hardnews. Seja pelo deadline, seja pela corrida para dar a notícia antes da concorrência. Mas o olhar de um editor sempre será diferente do olhar do professor, do analista. Uma coisa é trabalho, outra a liberdade acadêmica. Sempre briguei para que meus alunos desafiassem o padrão, nem que fosse como exercício de reconhecimento da necessidade de determinadas regras. A escola é o ambiente onde as ideias devem ser estimuladas. O grande desafio é exercitar a criatividade e ao mesmo tempo ser fiel aos mandamentos do bom texto e da notícia correta. Só assim se consegue melhorar a qualidade das novas redações. Para ajudar as escolas em sua missão de estímulo à produção autoral dos estudantes, existem projetos como este aqui. Já participei e montei banca para trabalhos de formação de cursos de jornalismo. Também fui jurado de prêmios empresariais de jornalismo. Mas em todos os casos a análise era sempre de apenas uma modalidade de mídia. Rádio, revista ou TV, por exemplo. No caso do Rumos Jornalismo Cultural, a proposta de avaliação é outra e sem dúvida mais instigante. Na escolha dos vencedores deste programa você lê,

ouve, vê e escolhe as produções inscritas em diferentes categorias, no caso, Mídia Imprensa, Mídia Audiovisual, Mídia Sonora e Web. Com um tempero a mais. As inscrições são oriundas de todas as regiões do país. Algumas chegam a trazer de forma forte e marcante o acento ou a temática regional. O que se quer, quando se faz esse olhar “transversal” das várias manifestações da mídia, é buscar uma unidade de análise e reconhecimento de trabalhos realizados nas distintas formas de comunicação de massa. Todas avaliadas com o mesmo peso e rigor. Acho que a proposta funcionou muito bem. Até porque na reunião da banca para a escolha dos vencedores, após prévia e solitária consideração dos trabalhos participantes, tem-se o privilégio de poder discutir, reavaliar e, por fim, votar a favor de determinada obra e premiar seu autor. A experiência José Castello Em um momento em que o jornalismo tende à padronização, a primeira qualidade que adotei foi a ousadia. A padronização é um efeito da inércia, do espírito burocrático e do medo. Surgem boas reportagens, realizadas com eficiência e competência, mas elas não provocam susto algum. Ora, o jornalismo existe para revelar o novo – e, logo, para provocar, surpreender, assombrar. E, para chegar ao novo, um repórter precisa colocar a coragem acima da técnica. São essas as reportagens que mais me interessam: as imprevisíveis, as que despertam surpresa e deslocam minhas certezas. Com esse espírito, trabalhei com as reportagens que se candidataram ao programa Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010. Meu método foi simples. Primeiro, eliminei os trabalhos inspirados – preguiçosamente – no calendário cultural e na agenda dos produtores culturais. Isto é, previsíveis – escravos das tendências comerciais e das programações de lançamento. Em seguida, deixei de lado aquelas que se detiveram nos padrões tradicionais de apuração e, sobretudo, nas regrinhas odiosas do “como-onde-quando-por quê”. Muitas reportagens inscritas limitavam-se a repetir os padrões medianos que estamos acostumados a encontrar 159


nos jornais, na televisão e no rádio. Corretas, aplicadas, elas despertam, porém, o sentimento do “já visto”. Para mim, são o resultado, antes de tudo, de um sentimento: a preguiça. E um jornalista preguiçoso não pode ser um bom jornalista. Para o jornalista, o medo é a grande desgraça. Se você trabalha com medo, trabalha com os olhos voltados para os concorrentes e para os padrões consagrados, não consegue efetivamente ver o real. Em vez de observar o mundo, observa como os outros o observam. Com isso, oferece o pescoço à coleira confortável da repetição. Agindo assim, o repórter torna-se um repetidor – quase como uma antena ou uma transmissora. Ora, é função do repórter interferir na realidade. Não para mascará-la, ou deformá-la; não para falsificar, ou para mentir. Mas para dela arrancar aquilo que, numa primeira olhada, sempre se esconde. É função do repórter não apenas interrogar seus entrevistados, mas interrogar a própria realidade. E interrogar é colocar em dúvida, é suspeitar, é experimentar novas perspectivas e novas relações entre os fatos. No jornalismo cultural, o eu – esse grande demônio do “jornalismo objetivo” –, enfim, retorna à cena. Não o eu do repórter vaidoso e narcisista, que se julga o centro da notícia; mas o eu criativo que define um autor. Daí ser tão importante a descoberta (invenção) de grandes personagens. De novo: não só descoberta, mas construção. O repórter não é um espelho que reflete e captura o mundo. Ele é mais um aventureiro que o perfura e escava. Não se trata de colocar o eu em cena como “egotrip”: como efeito da vaidade pessoal, ou para falar de si. O eu participa de outra maneira: como perspectiva singular, como escolha. Por isso descartei com rapidez aquelas reportagens que, ainda que bem apuradas e bem realizadas, não arriscavam olhares subjetivos sobre o real. Essa postura vem, já, na escolha dos temas. Afastar-se dos clichês jornalísticos (ou pelo menos lutar para isso) é outra qualidade essencial do bom jornalista. Lembro de João Cabral de Melo Neto, para quem o poeta devia, por princípio, recusar os temas “poéticos”. Um poeta, ele dizia, não existe para “poetisar” o mundo, nem para “fazer poesia”. Poeta é aquele que encontra versos na lama. Que chega à poesia onde menos se espera que ela esteja. O 160

poeta, ele diz, é um construtor, um engenheiro. Não se encontra a poesia, fabrica-se poesia. Cabral chegava a dizer que fazia “poesia sem poesia”. Com isso afirmava seu repúdio às regras e aos clichês poéticos. Transfiro a ideia de Cabral para o jornalismo. Fazer jornalismo “sem jornalismo” não é trair o jornalismo, mas praticá-lo sem o apoio dos clichês, facilidades e vícios que o caracterizam. Pensei muito nessa ideia cabralina enquanto avaliava as reportagens inscritas no Rumos Jornalismo Cultural. A cada “bom efeito” jornalístico, meu entusiasmo declinava. A cada bom uso das regras, eu desanimava. A cada “bela apuração”, eu me enchia de desconfiança. Desde o início, minha ideia – ainda mais porque escolhíamos alunos para um laboratório – era ficar com os menos “treinados”. Não: não era ficar com os mais despreparados, ou os sem vocação, mas com aqueles que não têm medo de colocar em dúvida os próprios recursos e, indo mais longe, de duvidar de si. Repórteres “cheios de si”, em geral, são péssimos repórteres. Já sabem o que querem encontrar, e encontram mesmo. Em suas mãos, o jornalismo não serve para nada. Eles aproximamse do panfleto e da propaganda. Nada mais distante do jornalismo do que o mundo das “ideias prontas”. Por fim, desconfiei também das reportagens “bem acabadas”. Se assinadas por jornalistas experientes elas já me incomodam, quando assinadas por iniciantes se tornam absolutamente inaceitáveis. O repórter de vídeo que repete, com perfeição, o tom e os gestos dos apresentadores das grandes redes. O repórter de rádio que adota o vozeirão dos locutores esportivos. O repórter de texto que imita a linguagem padronizada e “objetiva” das revistas. Fugi, como pude, de tudo isso. A boa reportagem é aquele que deixa muitas coisas em aberto. Só assim uma reportagem sincroniza com o mundo: trabalhando com seu caráter inacabado e com suas sombras. O jornalismo não é uma moldura que delimita, fixa e fecha a realidade. Deve ser mais – para usar outra imagem cabralina – uma faca que a perfura e faz sangrar. No fim, saí bastante satisfeito. Com nossa seleção, creio que chegamos a um conjunto de jovens inquietos e insatisfeitos, que veem o jornalismo não como repetição e tranquilidade, mas como desafio e aventura. O


desassossego é a marca do bom repórter. É ele que nos leva não só a suspeitar, mas a experimentar. E um laboratório é isso: experiência. A realidade, matéria primordial do jornalista, está sempre a nos surpreender. Escolhi os que me pareceram mais dispostos a aceitar esse desafio e essa inquietação. Impressões de um avaliador Marialva Barbosa Avaliar trabalhos de alunos tem sido uma tarefa constante em minha vida nas últimas três décadas. Assim, quando recebi o convite para participar como avaliadora da Carteira Estudante do Rumos Jornalismo Cultural tive, no íntimo, a sensação de que repetiria o mesmo gesto que faço há exatos 31 anos. Recebi algumas instruções de como proceder. Primeiro, teria de ver alguns blogs. Pensei: começou a dificuldade. Moradora fora dos grandes centros urbanos e dependente da boa vontade da minha conexão, fiquei algumas horas diante do computador para conseguir “baixar” as páginas produzidas pelos alunos. Temáticas interessantes, lugares longínquos e estranhos, conceitos escondidos por detrás dos assuntos de páginas que diziam respeito a outras culturas, outros povos, outra gente. Começou o encantamento. Em seguida, continuei o processo. Agora eram reportagens de rádio e também de TV. Do som e da imagem continuava a surgir um leque de personagens singulares. Formas de narrar que envolviam a vida e transformavam o ato comunicacional em algo duradouro. Não eram meros programas, mas maneiras como os jovens veem o universo à sua volta. Cada uma das matérias tinha uma marca autoral. Mesmo aquelas que reproduziam na estética e na forma de narrar o que a grande mídia produz cotidianamente traduziam numa tomada, numa fala, num som inusitado uma forma particular de visualizar o mundo. Percebi nos contornos das narrativas maneiras de contar a vida: alegres, emocionais, mas, sobretudo, profissionais. Em todos, a intenção de fazer o melhor programa de rádio ou de TV, de escrever a melhor reportagem, de produzir um ato criativo inovador.

Havia certa repetição nas temáticas, o que me fez pensar que alguns jovens possuem uma visão do jornalismo cultural como aquele que rememora certo tradicionalismo de determinadas regiões. Assim, as chamadas manifestações folclóricas tiveram privilégio na escolha temática. Mas houve outros assuntos profundamente criativos. Cito um em particular: o programa de rádio realizado por uma jovem, que soube depois ser da Bahia, mas que poderia ser de qualquer lugar do Norte/Nordeste do Brasil, e que era uma verdadeira ode à farinha, realizada com bom humor e, sobretudo, com criatividade. Comecei, então, nesse lugar de avaliador com certa experiência, a situar esse momento num lugar particular: a avaliação de centenas de trabalhos de jovens universitários de todos os cantos do Brasil, de centenas de universidades, mostra não apenas a diversidade de formas de pensar, maneiras próprias de conceituar o jornalismo que se autonomeia como cultural, mas, sobretudo, que em múltiplos suportes comunicacionais fica evidente a força da criação. A criação que emana dos sons de um breve programa de rádio, de um vídeo que invade as telas do computador com imagens de terras e rostos distantes, de textos curtos que discorrem sobre uma multiplicidade temática sem fim. O Rumos Jornalismo Cultural mostra, na prática, que, a par de estarmos apregoando diuturnamente a globalidade do mundo e o amalgamento nas formas de pensar, existem jovens espalhados pelo Brasil que olham minuciosamente o que fica ao redor de seu cotidiano e tentam retratar em seus atos narrativos esses mundos particulares. O mundo em torno é ainda formado por personagens, lugares, objetos que tocam os sentidos. A palavra final, portanto, é de elogio a esta iniciativa do Itaú Cultural que dá voz a centenas de jovens que, assim, podem dizer quais os rumos do jornalismo cultural brasileiro.

161


Coleção de 20 livros sobre jornalismo e cultura enviada aos universitários selecionados e às bibliotecas de seus cursos de comunicação

Título

Autor

A Era dos Extremos

Eric J. Hobsbawm

A Era dos Festivais

Zuza Homem de Mello

A Sangue Frio

Truman Capote

Cidades Invisíveis

Italo Calvino

Crítica Cultural – Teoria e Prática

Marcelo Coelho

Da Diáspora – Identidade e Mediações Culturais

Stuart Hall

Dicionário do Teatro Brasileiro: Temas, Formas e Conceitos

Jacob Guinzburg

Fama & Anonimato

Gay Talese

Freud, Pensador da Cultura

Renato Mezan

Inventário das Sombras

José Castello

Mimesis

Erich Auerbach

O Grande Livro do Jornalismo – 55 Entrevistas

Jon E. Lewis

O Olho da Rua

Eliane Brum

Os Melhores Jornais do Mundo

Matias Molina

Seis Propostas para o Próximo Milênio

Italo Calvino

Sobre Ética e Imprensa

Eugênio Bucci

Um Bom Par de Sapatos e um Caderno de Anotações

Anton Tchekhov

Uma História da Leitura

Alberto Manguel

Vida Capital

Peter Pál Pelbart

Violência e Psicanálise

Jurandir Freire Costa

162


MAPEAMENTO GERAL

gundo estado da lista, o Rio de Janeiro, com 14. Três estados empatam em terceiro lugar, com 13 inserções cada um: Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Números totais Inscrição: 285 inscritos de 125 faculdades, 91 municípios e 25 estados (inclusive Distrito Federal) Seleção: 20 contemplados de 16 faculdades, 14 municípios e 11 estados

Conforme informado no início desta radiografia, a cidade listada é sempre o município declarado como o de residência do inscrito, não sendo, necessariamente, a cidade-sede da instituição em que ele trabalha ou estuda.

Duas instituições empatam como recordistas de inscrições nesta edição, com nove ocorrências cada uma: Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). A primeira aparece com uma inscrição de Camaçari em Mídia Impressa e uma de Simões Filho em Mídia Sonora, além de sete provenientes de Salvador, sendo quatro em Mídia Impressa, uma em Mídia Sonora e duas em Web. A universidade sediada em Natal sustenta sua posição com oito inscrições em Mídia Impressa (sendo uma delas de um residente em Parnamirim) e uma em Mídia Audiovisual. É curioso observar que nenhuma das duas universidades que estão no topo do ranking apresentam professores inscritos. Em segundo lugar, está a Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, com um total de oito inscrições: uma na Carteira Professor e sete na Estudante, sendo quatro em Mídia Impressa e uma em cada uma das outras categorias.

São Paulo é o estado que mais apresenta inscrições, num total de 40, com larga margem de vantagem para o se-

Lamenta-se a falta de inscrições dos estados do Amapá e Rondônia no Rumos Jornalismo Cutural 2009-2010.

No quadro abaixo, vê-se um grande painel com todas as inscrições validadas da terceira edição do programa Rumos Jornalismo Cultural, com dados das duas carteiras e das quatro categorias unificados por estado/cidade/instituição. A Carteira Estudante apresenta as quatro categorias, uma ao lado da outra, para melhor visualização. A Carteira Professor não está dividida em nenhuma categoria.

UF

Cidade

Instituição

Professor

Impressa

Audiovisual

Sonora

Web

Total

AC

Rio Branco

Iesacre

1

1

AL

Maceió

Ufal

2

2

AL

Maceió

Centro de Estudos Superiores de Maceió

1

1

AL

Maceió

Fits

3

1

4

AM

Manaus

Uninorte

1

1

BA

Salvador

Faculdade Social da Bahia

3

3

BA

Salvador

Faculdade Integrada da Bahia

1

1

BA

Camaçari

Unime

1

1

BA

Camaçari

Centro Universitário Jorge Amado

1

1

BA

Madre de Deus

Faculdade 2 de Julho

1

1

2

BA

Salvador

UFBA

4

1

2

7

BA

Juazeiro

Universidade do Estado da Bahia

1

1

BA

Salvador

Centro Universitário Jorge Amado

2

1

3

BA

Camaçari

UFBA

1

1

BA

Muritiba

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

1

1

163


BA

164

Simões Filho

UFBA

1

1

BA

Feira de Santana

Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana

1

1

BA

Cruz das Almas

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

1

1

2

CE

Maracanaú

Faculdade 7 de Setembro

1

1

CE

Fortaleza

Fanor

1

1

CE

Fortaleza

UFC

1

4

1

1

1

8

CE

Fortaleza

Faculdade 7 de Setembro

1

1

CE

Fortaleza

Faculdades Integradas do Ceará

1

1

2

CE

Pires Ferreira

Intituto Superior de Teologia Aplicada (Inta)

1

1

2

DF

Brasília

UnB

1

1

2

DF

Taguatinga

Universidade Católica de Brasília

1

1

DF

Núcleo Bandeirante

Faculdade JK - Anhanguera

1

1

DF

Taguatinga

Faculdade JK - Anhanguera

1

1

ES

Vila Velha

Ufes

2

1

3

ES

Vitória

Centro Universitário Vila Velha

1

1

GO

Goiânia

Araguaia

1

1

2

GO

Goiânia

UFG

1

1

2

GO

Goiânia

Universidade Católica de Goiás

1

1

MA

Timon

UFPI

2

2

MA

São Luís

UFMA

1

1

3

1

1

7

MG

Juiz de Fora

Unipac

1

1

1

3

MG

Belo Horizonte

Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix

5

1

6

MG

Belo Horizonte

UniBH

1

1

MG

Varginha

Centro Universitário do Sul de Minas

1

1

MG

Mariana

Ufop

1

1

MG

Belo Horizonte

UFMG

1

2

3

MG

Ribeirão das Neves

Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix

1

1

MG

Uberlândia

Unitri

1

1

MG

Sabará

Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix

1

1

MG

Juiz de Fora

UFJF

4

1

5

MG

Borda da Mata

Univas

1

1

MG

Uberlândia

Faculdade Católica de Uberlândia

1

1

MS

Campo Grande

Uniderp

1

1

MS

Campo Grande

Universidade Católica Dom Bosco

1

1

MS

Campo Grande

Estácio de Sá

1

1

MS

Campo Grande

UFMS

1

2

3

MS

Dourados

Unigran

1

1

MT

Cuiabá

IVE

1

1

2

MT

Cuiabá

Universidade de Cuiabá

1

1


MT

Cuiabá

UFMT

2

2

4

MT

Tangará da Serra

Unemat

1

2

3

PA

Belém

UFPA

1

1

2

PA

Belém

Unama

4

1

5

PA

Belém

Feapa

2

2

PB

Campina Grande

UEPB

1

1

2

PB

João Pessoa

UFPB

1

1

2

PE

Paulista

Faculdade Joaquim Nabuco

1

1

2

PE

Petrolina

Uneb

1

1

PE

Jaboatão dos Guararapes

UFPB

1

1

PE

Recife

Faculdade Maurício de Nassau

1

1

PE

Recife

Unicap

1

1

PE

Recife

UFPE

1

1

PI

Teresina

UFPI

1

2

3

PI

Teresina

Ceut

1

1

PR

Campo Largo

UniBrasil

1

1

PR

Londrina

UEL

1

1

PR

Maringá

Faculdades Maringá

1

1

2

PR

Maringá

Cesumar

1

1

PR

Curitiba

Universidade Positivo

2

2

PR

Curitiba

Universidade Tuiuti do Paraná

1

1

PR

Araucária

Unasp

1

1

PR

Curitiba

UFPR

1

1

RJ

Barra Mansa

Centro Universitário de Barra Mansa

1

1

RJ

Rio de Janeiro

Universidade Estácio de Sá

1

1

2

RJ

Rio de Janeiro

Universidade Veiga de Almeida

1

1

2

RJ

Rio de Janeiro

UFF

3

3

RJ

Niterói

Universidade Estácio de Sá

1

1

RJ

Niterói

Universidade Cândido Mendes

1

1

RJ

Niterói

UFF

1

1

RJ

São Gonçalo

Universidade Estácio de Sá

1

1

RJ

São Gonçalo

UFF

1

1

2

RJ

Rio de Janeiro

Unisuam

3

3

RJ

Rio de Janeiro

Facha

1

1

RJ

Rio de Janeiro

UFRJ

2

2

RJ

São Pedro d’Aldeia

Universidade Veiga de Almeida

1

1

RJ

Cabo Frio

Universidade Veiga de Almeida

1

1

RN

Natal

UFRN

7

1

8

RN

Parnamirim

UFRN

1

1

RR

Boa Vista

Faculdade Atual

2

2

165


166

RR

Boa Vista

UFRR

1

1

2

RS

Sapiranga

Feevale

1

1

RS

Caxias do Sul

UCS

1

1

RS

Frederico Westphalen

Cesnors/UFSM

1

1

RS

Novo Hamburgo

Feevale

1

1

RS

São Leopoldo

Unisinos

1

1

RS

Santa Maria

UFSM

5

5

RS

Santa Maria

Unifran

1

1

RS

Guaíba

UFRGS

1

1

RS

São Borja

Unipampa

1

1

RS

Porto Alegre

Instituto de Desenvolvimento Social Brava Gente

1

1

RS

Porto Alegre

PUC-RS

2

2

RS

Porto Alegre

Feevale

1

1

RS

Porto Alegre

UFRGS

2

1

1

4

SC

Joinville

Univali

1

1

SC

Joinville

Ielusc

1

1

SC

Florianópolis

UFSC

2

2

SC

Caçador

Unoesc

1

1

SE

São Cristóvão

UFSE

1

1

SP

Osasco

Uninove

1

1

1

3

SP

Praia Grande

Unesp

1

1

SP

São Paulo

Unisa

1

1

SP

São Paulo

Uniban

1

1

2

SP

São Paulo

USP

1

1

SP

São Paulo

Universidade São Judas Tadeu

2

1

1

4

SP

Araras

Unasp

1

1

SP

São Paulo

Faculdades Integradas Rio Branco

1

1

SP

São Paulo

Uninove

1

1

1

3

SP

Guarulhos

UNG

1

1

2

SP

Dourado

Unesp

2

2

SP

Taboão da Serra

Universidade São Judas Tadeu

1

1

1

3

SP

Franca

Unifran

2

2

SP

Limeira

Isca

1

1

SP

Ribeirão Preto

Instituto de Ensino Superior COC

1

4

5

SP

Salto

Uniso

1

1

SP

Engenheiro Coelho

Unasp

4

1

5

SP

Osasco

UniFiam-Faam

1

1

SP

São Paulo

UniFiam-Faam

1

1

SP

São Paulo

Universidade Cidade de São Paulo

1

1

SP

Lorena

Fatea

1

1


SP

Santo André

Universidade São Judas Tadeu

1

1

SP

São Paulo

Fapcom

1

1

SP

Bauru

Unesp

3

3

6

SP

São Paulo

Faculdade Cásper Líbero

3

3

SP

São José dos Campos

Unitau

1

1

SP

São José dos Campos

Univap

1

1

SP

Ribeirão Preto

Unaerp

1

1

SP

Piracicaba

Unesp

1

1

SP

São Paulo

UnG

1

1

2

SP

São Paulo

PUC-SP

1

1

SP

São Paulo

USCS

1

1

2

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SP

Taubaté

Unitau

1

1

SP

Campinas

Facamp

1

1

SP

São Paulo

Belas Artes

1

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SP

Pindamonhangaba

Unitau

1

1

SP

São Bernardo do Campo

Uniban

1

1

SP

São Paulo

Instituto Plesbiteriano Mackenzie

3

3

SP

São Paulo

Universidade Municipal de São Caetano do Sul

1

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SP

Araçatuba

Faculdade Cásper Líbero

1

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TO

Palmas

UFT

1

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Curiosidades: em relação às edições anteriores

– A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) classifica estudantes pela terceira vez consecutiva desde a primeira edição do programa. Desta vez, duas jovens (nas edições anteriores, houve um estudante por edição). – A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que teve na edição passada duas estudantes selecionadas, nesta edição aparece com duas professoras; – Pela segunda vez consecutiva as universidades Federal de Santa Catarina (UFSC), Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) têm um aluno selecionado cada uma.

– A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) classifica um aluno e um professor (na edição passada, foi selecionado um professor). – A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), que teve na edição passada uma estudante selecionada, nesta edição classifica um professor. – Já o Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH), classifica um professor pela segunda vez consecutiva.

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Quando o tão, tão distante fica muito, muito perto Babi Borghese “Eu tenho uma caixa de Lego. Monto as peças de acordo com a necessidade de vocês.” Essa foi a frase de maior efeito na reunião de novembro de 2009 com Wilton Pinheiro, da Zaine Software. Nas duas edições anteriores do Rumos Itaú Cultural Jornalismo Cultural, usamos o TelEduc (do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade de Campinas – Nied/Unicamp) para realizarmos o Laboratório On-Line de Jornalismo Cultural oferecido aos selecionados na Carteira Estudante, em 2005 e 2008, e o Fórum Virtual de Discussão sobre Jornalismo, aos contemplados na Carteira Professor, em 2008. Em 2010, precisávamos de uma série de alterações no próprio sistema de e-learning para adaptá-lo às nossas atividades já consolidadas ao longo dos anos, além de um servidor mais poderoso que possibilitasse chats sem quedas ou travas. O Nied indicou-nos Pinheiro, ex-aluno da Unicamp e ex-colaborador do Núcleo. Foi quando abrimos a caixa de Lego chamada B2Learn. Páginas limpas, fácil navegação. Indexação por assunto, armazenamento de arquivos em texto, fotos, áudio e vídeo de até 128 MB e espaço para links. Calendário mensal. Últimos posts na home. Extração de relatórios de participação, sem notas nem avaliações, que são feitas apenas por comentários, visto que não se trata de pontuar para passar de ano. “Tem e-mail interno nesse Lego?”, pergunto. Passaria a ter em poucos dias. Como coordenadora do programa, continuo o interrogatório: “As conversas mais importantes acontecem pelo chat. Ele aguenta o tranco de duas horas sem 168

cair?” Na verdade, devíamos entrar para o Guiness Book 2010. Duas vezes: os bate-papos mais longos da história da internet, e simultâneos. As consultorias técnicas em web para montagem de cada um dos dois sites que integram o DVD-ROM híbrido da :singular tiveram duração de três dias – de 12 de agosto (quinta-feira), às 13h, até o dia 15 (domingo), às 19h. Pós-carnaval 2010, treinamento com o pessoal do Itaú Cultural responsável pelo Rumos Jornalismo Cultural, o editor do Laboratório, José Castello, e o mediador do Fórum, Alex Primo. Na ocasião, discutiram-se as metodologias para ambos os trabalhos [ver boxes]. Em março, tudo pronto e funcionando. É dada a largada. No Laboratório On-Line de Jornalismo Cultural, o B2Learn possibilita a produção de reportagens para a revista multimídia :singular nº 2 realizada pelos 12 universitários selecionados, além de reflexões críticas sobre jornalismo cultural e leituras comentadas. O Fórum de Discussão sobre Jornalismo mantém articulados os oito docentes contemplados, para fazer as pesquisas ora publicadas no livro Mapeamento do Ensino de Jornalismo Digital no Brasil em 2010. Logo, o B2Learn vira b2. Com frequência assíncrona quase diária por comentários e e-mails, e contatos em tempo real pelos chats bissemanais (no Laboratório) e quinzenais (no Fórum), a intimidade cresce. Os estudantes viram “rumaria do coração” e os professores, “querido G-8”. O Laboratório promove a interação de pessoas de São Luís, João Pessoa, Salvador, Campo Grande, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Florianópolis e cidades do interior de São Paulo e Bahia, com algumas


intervenções de Vitória, Manaus, Pedro Juan Caballero, Londres e Paris. O Fórum reúne gente de Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e interior de Pernambuco, com direito a participações de Londres e Buenos Aires durante as férias de julho. As experiências anteriores do Rumos Jornalismo Cultural repetem-se: os integrantes dos dois grupos estão mais próximos de seus respectivos colegas de b2 do que seus vizinhos que moram na casa ao lado ou trabalham na sala em frente. No ciberespaço não há distâncias tangíveis.

to de ambas as publicações. Lançamento de livro na Bienal. As atividades virtuais desenrolam-se no meio do cotidiano de cada um, e tudo é vivido por todos com bastante emoção. Educação a distância? Laboratório a distância? Mapeamento a distância? Nada disso. Tal qual nas edições anteriores, esperamos que a ligação entre todos nós perdure para além do Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010.

Apuração, argumentação e aprovação das pautas das reportagens. Levantamento das universidades que possuem cursos de jornalismo no Brasil. Festa de aniversário de 80 anos da avó. Agendamento e realização de entrevistas. Listagem dos cursos de jornalismo que têm a disciplina de jornalismo digital. Mudança de casa. Comentários e orientações sobre o andamento das reportagens. Criação e envio de questionário para pesquisa nas faculdades. Cachorro doente. Redação de esqueletos e roteiros de reportagens. Escolha de temas para redação de ensaios. Pedra nos rins. Licenciamento de uso de entrevista, voz, imagem, obra intelectual. Tabulação e análise de dados. Participação na Intercom. Pauta de fotos, gravação de áudios e captação de imagens. Formação do grupo focal. Acidente de carro. Consultoria técnica em rádio, TV e web para a produção das reportagens da revista multimídia. Consultoria editorial e preparação de textos para o livro. Pequena cirurgia. Produção das reportagens para a revista e redação dos capítulos do livro. Nascimento da filha. Entrega das reportagens e dos textos finalizados. Venda de apartamento. Pedido das últimas alterações com deadline para fechamen169


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O laboratório Conceito: A Carteira Estudante do Rumos Jornalismo Cultural contribui para o processo de formação de um dos mais importantes agentes da cultura, o jornalista, profissional que atua na mediação entre a sociedade e os demais agentes culturais – artistas, produtores, gestores públicos, educadores, instituições, técnicos, pesquisadores etc. Objetivo: Por meio de discussões teóricas e práticas de produção de reportagens orientadas por profissionais de mercado, a intenção é ampliar a discussão sobre os conceitos culturais no ambiente universitário, estimular a reflexão sobre os problemas atuais que o meio cultural enfrenta, da formação de público às condições da criação artística, passando pela necessária democratização do acesso à cultura e o atual momento do jornalismo cultural brasileiro. Além disso, o programa de estímulo tem como objetivo revelar talentos para a editoria de cultura e promover a aproximação dos futuros jornalistas com profissionais da área e demais agentes culturais. Ferramenta: Laboratório On-Line de Jornalismo Cultural, via ambiente B2Learn, para promover o encontro de 12 universitários selecionados com seu editor, José Castello, e com os consultores nas mídias específicas que não a impressa, especialidade do editor: Eduardo Baszczyn para sonora, Fábio Malini para web e João Gago para audiovisual. Participam também colaboradores do Itaú Cultural envolvidos no programa e alguns eventuais convidados para uma conversa ou orientação, como a jornalista Eliane Brum. Metodologia: Nos primeiros meses, por uma questão operacional, a prioridade é a produção das reportagens para a :singular nº 2: seis em mídia impressa, duas em sonora, duas em web e duas em audiovisual. Em paralelo, leituras referenciais e debates que possam auxiliar nessa produção. Uma vez fechada a revista multimídia, parte-se para a segunda fase, que exercita a crítica e a autocrítica, além da continuidade das leituras debatidas sobre o

jornalismo e a cultura, e avaliações acerca do processo. É importante frisar que toda a bibliografia recomendada faz parte dos 20 títulos doados como parte do prêmio aos alunos contemplados no programa. Cronograma: Março – Debates sobre a primeira edição de :singular – resultado do trabalho no Laboratório 2007-2008 e reflexões genéricas sobre as bases gerais e os princípios que norteiam os trabalhos em 2010. Abril-Maio – Apuração e aprovação de pautas para as reportagens da :singular e debates sobre os temas jornalismo e realidade, baseados na leitura do livro O Olho da Rua, de Eliane Brum, e a arte da apuração, com a leitura de Um Bom Par de Sapatos e um Caderno de Anotações, de Anton Tchekhov. Junho-Julho – Produção das reportagens e leituras discutidas referentes aos seguintes temas: a arte da entrevista, com a leitura de capítulos de O Grande Livro do Jornalismo: 55 Entrevistas, de Jon E. Lewis, e a construção dos personagens, por meio de Inventário das Sombras, de José Castello. Agosto – Correções e edições finais das reportagens e fechamento da revista, com debates sobre o tema jornalismo e ética, com base na leitura de Sobre Ética e Imprensa, de Eugênio Bucci. Setembro-Outubro – Enquanto a revista entra em produção editorial, o laboratório prioriza discussões teóricas e exercícios de crítica e autocrítica, com os temas aprender a ver, com base na leitura de As Cidades Invisíveis, de Italo Calvino, e jornalismo e literatura, com a leitura de A Sangue Frio, de Truman Capote. Novembro – Avaliações finais e sugestões para edições futuras, além de debate sobre o jornalismo como reinvenção da realidade, baseado na leitura de Fama & Anonimato, de Gay Talese.

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O fórum Conceito: Apesar do ritmo muitas vezes lento das universidades em atualizar os currículos das faculdades de comunicação, já não é surpresa ou raridade encontrar diversas disciplinas dedicadas basicamente ao estudo do jornalismo on-line. Mas qual é hoje o cenário desses processos educacionais? Não se tem em mãos um mapeamento exaustivo do ensino de jornalismo digital no Brasil que possa dar lastro e maior precisão a essa discussão. Objetivo: Mapear os processos de ensino de jornalismo on-line nas universidades brasileiras públicas e privadas em 2010. Ferramenta: Fórum Virtual de Discussão sobre Jornalismo, no ambiente B2Learn, para possibilitar a articulação dos oito professores selecionados, o mediador Alex Primo, a assistente Vivian Belochio, a consultora editorial Maria José Silveira e colaboradores do Itaú Cultural envolvidos no processo. Metodologia: – Contato com as 313 faculdades brasileiras que possuem curso de jornalismo listadas no site do MEC. Solicitação da grade curricular de cada uma e dos planos de ensino das disciplinas de jornalismo on-line. Envio de questionários a ser respondidos por coordenadores de cursos ou titulares das disciplinas em estudo, para analisar o perfil dos professores dessas matérias, a formação pretendida para os estudantes, a infraestrutura disponível, os jornais experimentais on-line e outras atividades formativas. Avaliação de como o ensino de jornalismo on-line é conduzido em relação às práticas de jornalismo cultural nas faculdades brasileiras. – Divisão de tarefas por grupos entre os participantes do fórum para a tabulação de resultados, análise subjetiva das respostas e produção de textos reflexivos sobre diferentes aspectos do ensino de jornalismo on-line no Brasil. Alguns temas importantes para esses ensaios são: a formação esperada dos professores de jornalismo online; os desafios no ensino da disciplina; as principais competências a ser desenvolvidas com os estudantes.

– No B2Leran ficam armazenados os dados, comentários, sugestões, críticas e conversas sobre a pesquisa para garantir a organização e a recuperação dos dados, especialmente para registro dos processos criativos do trabalho. Com a ferramenta, o grupo compartilha experiências e resultados, debate os temas em questão, relata o desenvolvimento das tarefas e prepara os textos para o livro. O ambiente também é usado para referências bibliográficas que oferecem suporte aos debates. – Tendo em vista a especificidade do objeto do mapeamento desta edição, faz-se necessário um hotsite com a versão on-line da pesquisa no endereço www.itaucultural.org.br. Além do PDF da publicação impressa, o endereço virtual apresenta grades curriculares das faculdades investigadas, planos de ensino de jornalismo on-line, referências básicas (citadas nos planos de ensino), tabelas com dados brutos, textos adicionais, links para todos os jornais laboratoriais on-line identificados e entrevistas. Cronograma: Março – Preparação da pesquisa com leituras e discussões. Abril – Divisão de tarefas e mais leituras referenciais. Maio – Envio dos questionários e coleta de dados. Junho – Início da tabulação e análise de dados, escolha de temas para ensaios autorais. Julho – Seleção de nomes para montar o grupo focal com base nas respostas mais relevantes dos questionários e posterior convite, além da formatação do encontro. Agosto – Redação e edição dos capítulos do livro, incluindo o de ensaios individuais. Setembro – Fechamento e início da produção gráfica da publicação, enquanto o fórum permanece vivo com discussões teóricas sobre os resultados obtidos. Outubro – Avaliação crítica do trabalho. Novembro – Finalização do trabalho com as últimas reflexões e sugestões para edições futuras.

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Sobre o laboratório José Castello A definição de um laboratório não pode ser fixa. Se for, corre o risco de trair a própria ideia que a rege. A palavra laboratório fala da experiência viva, de um processo que se desenrola, e não de uma fórmula ou de uma experiência terminada. Ela só aceita, em consequência, uma definição móvel e inconstante, em estado permanente de interrogação e de reformulação. Nunca sabemos ao certo o que é um laboratório; cada experiência particular, cada laboratório redefine o que ele é, ou pode ser. O laboratório não é um princípio, ou uma direção; ele é uma postura e, no máximo, um jogo de acerto e erro. Quanto mais se acertar, melhor; mas o erro está sempre incluído e, com ele, as súbitas mudanças de direção.

de parâmetros sobre os quais se apoiar, ou simplesmente não conseguirá seguir em frente. Motivos objetivos me levaram a experimentar essa comparação entre o laboratório e a arte do ensaio. Posso pensar, ainda, nos ensaios das companhias de teatro ou das grandes orquestras: apesar da necessidade de um formato final, a ser apresentado ao público, durante o processo existe todo um tempo para o erro, a experiência instável e a frustração – o que não exclui nem o rigor do texto dramático nem a referência firme da partitura.

Por isso mesmo, ando sempre a repensar meu trabalho no Laboratório On-Line de Jornalismo Cultural, do programa Rumos Jornalismo Cultural – de que participo pela segunda vez. Por prudência, retorno ao dicionário, que define laboratório como um “lugar destinado ao estudo experimental”. Pensando assim, como o lugar de uma aventura e de teste, posso talvez comparar minha experiência no laboratório de 20087-2008 e essa que agora concluo, do biênio 2009-2010.

Em um exercício de criação, a ideia do parâmetro, do limite, soa sempre desagradável, ou pelo menos incômoda. Tudo se complicava, em meu caso, com a média de idade dos universitários selecionados para o laboratório que agora se encerra, inferior à média de idade dos estudantes que participaram do primeiro. Mais jovens ainda, mais inquietos e insatisfeitos (o que é ótimo!), eles exigiram de mim decisões que não estou habituado a tomar. Para que não se afogassem em sua própria riqueza e inquietação, exigiram mais firmeza e mais limites. A ideia do limite, portanto, esteve todo o tempo no centro de nossa experiência.

Minha primeira descoberta, penso só agora, pois durante o processo não tive a menor clareza a respeito disso, foi, provavelmente, a de que um laboratório, mesmo tendo como ponto de partida o ensaio e o improviso, não exclui um método e, mais ainda, um comando. A comparação com o ensaio – o gênero literário que se define pela interpretação mais ligeira e subjetiva de um tema – é muito apropriada. Também o ensaísta literário, mesmo se deixando levar pelo fluxo de pensamentos e leituras e livre dos rigores que definem as grandes teses, necessita

Isso me surpreendeu desde os primeiros encontros: como eles são jovens! Sem vícios e absolutamente disponíveis para o novo, pensei, com um desejo intenso de “fazer coisas”, mas sem conseguir definir com clareza “exatamente o que”, eles me pareciam no momento ideal para a experiência de um laboratório. Logo nas primeiras semanas, contudo, entendi que essa liberdade interior colocava em cena seu amargo reverso, obstáculo que também eu precisava considerar e enfrentar. Já nas primeiras conversas consegui entender que os alunos

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me pediam (mesmo sem saber disso, e muitas vezes até acreditando que me pediam o oposto!) um comando, ou uma direção. Não a presença de uma autoridade rígida e inflexível, que sufocasse seus projetos e sua rica instabilidade. Mas um corpo de hipóteses – nas pautas, nos “esqueletos” de reportagens, nos conceitos, nos chats – que lhes servissem de trilho para que pudessem se firmar e avançar. Em resumo: precisavam de um caminho pelo qual escorrer sua feérica liberdade. Não é fácil lidar com a liberdade – e a matéria de um laboratório é, por princípio, a liberdade. Justamente porque é um processo de invenção contínua e sem limites (ou não seria liberdade), porque é um ensaio contínuo de acerto e erro, o laboratório necessita de uma contrapartida, de freios que temperem e moderem o turbilhão criativo. Um laboratório precisa do esboço, precário e provisório, mas nítido, de uma direção. Entendi – contra meu próprio temperamento, que é inquieto também, e contra até alguns de meus princípios mais arraigados, como o apego à liberdade interior – que os jovens precisavam (volto à palavra-chave) de limites. De muralhas sob as quais se proteger e se abrigar. Isto é, necessitavam de uma divisa imaginária, mas firme, dentro da qual pudessem exercer a liberdade que lhes sobra e, assim, em vez de nela sufocar, dela fazer um combustível para a invenção. Já nos primeiros esboços de pauta e nos primeiros exercícios, entendi que lhes faltava uma fronteira sem a qual, talvez, não conseguissem avançar. Foi difícil, para mim também, entender que, mesmo sendo um lugar para a experiência e o improviso, um laboratório é também uma aventura que exige regras claras, parâmetros firmes e, por que não, alguma dose de autoridade, ou todos – e aqui me incluo novamente, e arrastaria comigo minha

preciosa parceira de aventura, Babi Borghese – corremos o risco de nos perder. Como dosar as coisas? Como saber a hora de soltar e a hora de reter? Como temperar a liberdade com a disciplina? O problema dos limites ultrapassa, na verdade, o terreno do laboratório e se espalha pela sociedade contemporânea. Como educar os filhos: com castigos ou com liberdade? Como incentivar um talento: com dogmas ou apostando na rebeldia? Como levar alguém a crescer: vigiando ou libertando? São perguntas insistentes, que estão no centro do cotidiano do século XXI. Perguntas que hoje angustiam pais, professores, diretores de escola, autoridades. E que, é claro, apareciam no laboratório também. Sim, tínhamos desde o início nossa rotina e nossas regras. Os dois chats semanais, que conferem ao laboratório um ritual e que estimulam o exercício do diálogo e da troca regular de ideias. Não era o caso de reproduzir no laboratório, logo pensei, a rotina de ferro das redações da imprensa: prazos apertados, pautas hiperobjetivas, tamanhos rígidos. Todo jornalista, porém, precisa de limitações (prazos, tamanhos, pautas, focos) e esses aspectos não podiam estar excluídos de nossa experiência. O problema era, sempre, o tempero. Como temperar a desordem natural da juventude, seus sentimentos impulsivos, sua dispersão e paixão, com alguma ordem que, enfim, pudesse resultar não só em uma publicação (a :singular), mas em uma formação? Sim, porque um laboratório se trata disso: de uma formação. E uma formação é diferente de uma conformação, ou de uma resignação. Uma formação é uma experiência ativa – basta ler com cuidado os grandes romances de formação, começando por O Ateneu, de 175


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Raul Pompeia, e chegando ao Jovem Törless, de Robert Musil, ou a Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe. Todos eles falam de luta, de abnegação, de empenho – mas apontam também a necessidade de conservar o fogo interior e descrevem a formação não como uma conformação, mas como uma “queda em si”. Também os alunos de um laboratório não são pedras a ser moldadas ao gosto do escultor. Alunos? A própria palavra me parece estranha. Eles preferiam ser chamados não de alunos, mas de estudantes – mas essa palavra também não me bastava. Todo processo de formação, voltei a pensar, precisa partir de um exercício de escuta – justamente em busca da singularidade de cada um. Para que a formação não atropele, ou deforme, aquele que se forma. Formar é levar cada um a ser (dentro de limites humanos, com certa ordem indispensável e certas regras nítidas) aquilo que é. Por isso um laboratório só funciona com um número pequeno de participantes: na zoeira das turmas imensas, é impossível escutar seja quem for. Pois é: o silêncio também é parte crucial de um laboratório – mesmo de um laboratório de jornalismo que tem como objeto central a palavra. Não preciso dizer que também eu me submeti – e como! – a um longo período de formação. A formação pessoal nunca termina, é uma experiência que se estende por toda a vida e com ela se confunde. É claro: partir do sujeito que sou, de minhas ideias, de meu estilo, de minha maneira de ser. Mas um laboratório é uma delicada negociação – a base de um laboratório é o acordo. Sem abrir mão de si, o formador precisa abdicar da intransigência e do medo e ceder lugar ao outro. Em que medida ceder esse lugar? Em que medida bloqueá-lo? Em que medida escutar? Em que medida se fazer ouvir? É como estar sobre uma balança que ora pesa demais para um lado, ora para o outro. A coisa nunca se resolve. O equilíbrio não é uma solução, mas um estado de atenção e de espera. Tive de estabelecer e sustentar limites que, na intimidade, me pareciam excessivos e me aborreciam. Tive de dar ordens – e como isso é difícil para alguém que,

completamente imerso na literatura, trabalha a maior parte do tempo com a dispersão e a desordem. Mas foi preciso, sim. O objetivo de um laboratório de jornalismo é não só ajudar os alunos para que encontrem seu potencial; é sacudi-los, e isso inclui, inevitavelmente, alguma dose de incômodo e, mesmo, de dor íntima. Na maior parte das vezes, os jovens, cheios de ideias soltas e de projetos apenas esboçados, não conseguem ordenar, dar uma direção ao que desejam fazer. Nesse momento entra o laboratório, como um instrumento de “facilitação do desejo”. Um laboratório não ensina nada: sua função é criar desafios, destrancar portas, mas também erguer barreiras e exigir uma direção. Na grande turbulência dos primeiros anos, a maioria de nós não consegue emprestar uma forma e uma direção ao que deseja de si. Intuímos vagamente o que desejamos, e só. Apenas esboçamos um caminho, na maior parte das vezes ficamos com esses sonhos. Não, não cabe a um laboratório dizer aos alunos o que eles querem, ou o que devem querer. Por meio da conversa constante e da escuta insistente, porém, cabe, sim, experimentar caminhos, estabelecer desafios, criar horizontes – até porque, sem isso, eles correm sempre o risco de se perder. Não é fácil traçar limites. Muitas vezes essa imposição de limites se parece, se confunde (e pode até se converter mesmo!) com um comando. Em um laboratório, porém, não estamos presos à ideia de resultados pragmáticos e imediatos – como parece inevitável no mercado de trabalho. Também não é função do laboratório impor um repertório, levar a uma reflexão sistemática, ou transmitir fórmulas e técnicas – como se faz, quase sempre, na universidade. Um laboratório é outra coisa – e a dificuldade começa quando tentamos defini-lo, quando tentamos dizer o que ele é. Se você diz o que um laboratório é, como deve ser, a que deve levar, já o mata. Ele já deixa, de saída, de ser um laboratório. Nunca se chega ao que um laboratório deve ser. Todo laboratório é, sempre, uma tentativa de fazer um laboratório. É essa impossibilidade de uma forma final, apesar dos esforços e do empenho e das regras provisórias, que o define.

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Na rede com o jornalismo Alex Primo Durante o período de dois meses em que estive trabalhando como voluntário no jovem departamento CNN Interactive, pude acompanhar o lançamento do primeiro site de notícias de uma empresa que fez história ao lançar um canal de 24 horas de telejornalismo. Entrávamos na segunda metade de 1995 e tudo cheirava a novidade. Antes testemunha dos primórdios dos sites noticiosos na web, hoje escrevo este relato de um grande mapeamento sobre o ensino de jornalismo digital no país. Esta pequena história pessoal justifica o entusiasmo com que recebi o convite do Itaú Cultural para atuar como mediador do mapeamento 2010. Além do mais, tinha sido informado de que todo o trabalho seria conduzido a distância, através do ambiente B2Learn. Ora, nada mais justo com um projeto cujo foco era o digital. Muitos anos já se passaram desde aquele 1995. Portanto, o deslumbre com o trabalho colaborativo através da internet já não faz muito sentido. Os oito professores participantes da pesquisa, tão logo se familiarizaram como o ambiente, interagiram sem dificuldades com as ferramentas de interação disponíveis: fóruns, chat, mensagens internas etc. Os chats ocorriam quinzenalmente, mas o debate e a publicação de resultados parciais prosseguiam durante toda a semana. Todo o projeto foi estruturado e desenvolvido coletivamente através do ambiente virtual. Cada rascunho era publicado no B2Learn e discutido por todos. O trabalho colaborativo on-line foi mediado por mim e por Babi Borghese e contou com a valiosa assessoria de Vivian Belochio, minha orientanda de doutorado. Além dessa equipe formal, o pai de Vivian acabou atuando como um colaborador inesperado, ao nos ensinar como domar o Excel e dar sentido aos números que se avolumavam. 178

Às vezes, o papel de mediador pode ser ingrato. Ao mesmo tempo em que busca fazer fluir o trabalho, valorizando os talentos que cada participante traz para o coletivo, o mediador é também aquele que cobra o cumprimento de tarefas e prazos. Em outros momentos, o mediador parece um pouco esquizofrênico. Diante do G-8 (como carinhosamente chamávamos os professores), eu representava as demandas do Itaú Cultural. Mas o inverso também era verdadeiro. Nesse vai e vem, minha função era jogar fermento nas interações. Em tempos de interações mediadas por computador, meu papel como mediador era justamente este: fazer pontes, conectar e criar novas ligações. A cordialidade do grupo nas interações foi marcante e o entusiasmo com o produto final era contagiante. Quando os debates ficavam intensos, sempre havia alguém para descontrair com um bom trocadilho ou uma piada gostosa. Bem, para ser sincero, os dois primeiros chats foram difíceis, marcados por diversas dúvidas sobre o projeto. Apesar da intenção de prolongar o mapeamento de 2008, buscando identificar como o jornalismo cultural (especialidade do grupo) vinha sendo desenvolvido em produtos laboratoriais digitais nas faculdades, alguns participantes sentiram alguma insegurança no início do processo. Talvez o receio de alguns tenha se intensificado ao tomarem conhecimento do projeto “O Ensino de Jornalismo na Era da Convergência Tecnológica”, envolvendo pesquisadores referenciais do jornalismo digital e financiado pelo edital Procad, da Capes. Tal pesquisa ingressava no segundo ano de estudo (de quatro previstos) sobre alguns cursos de jornalismo de quatro estados brasileiros. Mesmo assim, aos poucos as diferenças entre os dois projetos foram ficando claras. Como o Itaú Cultural não é uma instituição acadêmica,


nem o programa Rumos Jornalismo Cultural se assemelhava àqueles de entidades de fomento à pesquisa, nosso projeto de mapeamento visava a outro ponto de chegada. Isso fica claro nas páginas do livro publicado. A própria seleção dos professores que conduziriam o mapeamento já garantia uma abordagem sem vícios. O G-8 constituiu-se como grupo heterogêneo. As especialidades variavam de jornalismo cultural e digital a fotografia e design. Alguns também conheciam de perto os desafios de administrar cursos de jornalismo, cuja experiência de chefia e até mesmo burocrática fizeram diferença na avaliação de dados sobre a estrutura curricular e laboratorial. É justamente esse conjunto de diferenças que garantiu a riqueza de resultados. Como educadores e pesquisadores de jornalismo, a coleta e análise dos dados sobre a estrutura curricular dos cursos estudados foi primorosa. E, conforme eles mesmos reconheceram, aqueles que não lidavam diretamente como o ensino de jornalismo cultural precisaram sair de suas “zonas de conforto” na reflexão sobre os resultados. Esse foi um dos grandes diferenciais do livro, e que garantiu o olhar criativo e original dos capítulos individuais. Um projeto sobre o digital não teria como ser desenvolvido sem fazer buscas, estabelecer conexões e criar o novo com base na colaboração on-line. Foi assim que a rede social do G-8 se fez produtiva e criou links com outras redes. E, como qualquer teia se faz por meio de interconexões, coube a mim estabelecer uma conversa-

ção com o projeto do Procad e avaliar possíveis trocas. A partir disso, utilizamos uma versão simplificada do questionário desenvolvido por Beth Saad e Lia Almeida em nosso mapeamento. Também convidamos Beth e Claudia Quadros, participantes daquela pesquisa, para nossa entrevista em grupo. Em qualquer busca no Google, temos um norte que guia nossas buscas. Mas essa exploração não raro recupera uma riqueza de resultados que ultrapassa nossas expectativas e nos conduz a outros dados até então desconhecidos. O mesmo ocorreu quando buscávamos informações sobre produtos laboratoriais de jornalismo digital. Assim que os questionários começaram a chegar, com links para blogs, portais e vídeos on-line, nos demos conta de que o ciberespaço guardava um tesouro educacional. As 134 URLs coletadas logo revelaram uma produção competente e criativa que testava os limites do jornalismo na rede. Tal riqueza demandou uma alteração de nosso projeto inicial: nosso livro precisava incluir um capítulo dedicado à análise qualitativa de toda essa produção laboratorial – o que acabou se constituindo um dos pontos altos da publicação. Voltando no tempo, e olhando desde aquele 1995 (um passado tão distante no timing da cibercultura!), é possível conferir o longo caminho trilhado até o atual estado do ensino do jornalismo cultural. De volta a este presente, podemos já vislumbrar o tanto que ainda falta trilhar. Apesar de todas as dificuldades vividas pelas instituições de ensino superior, dá para ter orgulho do protagonismo brasileiro no ensino e na pesquisa de jornalismo digital. 179


Quem é quem no Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010 Alberto Pucheu Neto (debatedor) é poeta e professor de teoria literária da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Rio de Janeiro. Escreveu os livros A Fronteira Desguarnecida, Pelo Colorido, Para Além do Cinzento: A Literatura e Seus Entornos Interventivos, e organizou Poesia (e) Filosofia: por Poetas-Filósofos em Atuação no Brasil e Nove Abraços no Inapreensível: Filosofia e Arte em Giorgio Agamben.

Alexandre Inagaki (debatedor) é jornalista e autor do blog Pensar Enlouquece, Pense Nisso. É colunista da revista Pix e do portal Yahoo, e um dos curadores da área de blogs da Campus Party Brasil. Ministra palestras e consultorias sobre blogs e mídias sociais para empresas e agências de publicidade. Mantém ainda o blog Pop Cabeça, no portal MTV.

Alcino Leite (debatedor) é jornalista. Editor da Publifolha e da revista cultural eletrônica Trópico, criada há oito anos, exerceu, no jornal Folha de S.Paulo, as funções de correspondente em Paris e de editor da seção de moda e dos cadernos Mais!, Ilustrada e Domingo. Tem mestrado em comunicação e semiótica na PUC-SP.

Aline Strelow (professora selecionada) leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Doutora em comunicação social pela Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), pesquisa os métodos de pesquisa em jornalismo, teorias da comunicação e do jornalismo, história da comunicação e jornalismo e literatura.

Alex Needham (debatedor) é jornalista e crítico. Editor de cultura do guardian.co.uk, site do jornal britânico The Guardian, trabalhou para revistas como Smash Hits, The Face e NME. Também escreve sobre arte, música e moda para publicações como Fantastic Man e The New York Times. Alex Primo (debatedor e mediador do fórum) é professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Pesquisador com bolsa de produtividade do CNPq, é doutor em informática na educação pela UFRGS, com tese premiada pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e pela Sociedade Brasileira de Infomática na Educação. 180

Almir de Freitas Miranda (debatedor) é jornalista. Foi editor-sênior da revista Bravo!, responsável pelas seções de livros, teatro e dança. Atualmente, integra equipe de criação de uma nova publicação da Editora Abril, onde também atuará como editor-sênior. Estudou história na Universidade de São Paulo (USP). Ana Gruszynski (professora selecionada) leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. É jornalista, designer gráfica, ilustradora, doutora em comunicação e pesquisadora do CNPq. Desenvolve pesquisas nas áreas de design, produção editorial, imagem e tecnologia.


Andréa Barros (estudante selecionada) cursa jornalismo na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís. Estagia na Rádio Universidade FM. Já estagiou na assessoria de imprensa da UFMA. Antonio Achilis Alves da Silva (integrante da comissão de seleção Estudante) é jornalista. Atualmente, desenvolve projetos de formação profissional na TV digital, de desenvolvimento da TV pública e de divulgação científica. Pós-graduado em gestão estratégica da informação, foi presidente da Rede Minas e da Associação Brasileira das Emissoras Públicas, Educativas e Culturais. Antonio Prada (debatedor) é jornalista. Diretor de conteúdo do portal Terra, responsável pelo editorial e pelas áreas de banda larga e produtos de conteúdo do Terra Brasil. Também exerceu as funções de diretor de novas mídias e editor-chefe do Diário do Grande ABC. Beatriz Deruiz (estudante selecionada) cursa jornalismo na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís. Estagia como produtora na TV Mirante. Já estagiou como repórter na Rádio Universidade FM e trabalhou como produtora cultural na Guilherme Frota Produções. Bernardete Toneto (professora selecionada) leciona na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), em São Paulo. É mestre em comunicação e cultura pelo Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina, da Universidade de São Paulo (USP), e membro do Centro de Estudos Latino-americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc). Escreveu oito livros com temáticas sociais, para crianças e adolescentes. Beth Saad (integrante do Grupo Focal) é professora titular da ECA/USP e diretora de estratégia da Digital Happenings. Mestre em administração de empresas e doutora em ciências da comunicação, é autora do livro Estratégias 2.0 para a Mídia Digital, Internet, Informação e Comunicação e coautora do blog Intermezzo, sobre ciberjornalismo. Coordenadora do curso de especialização Digicorp, em comunicação e mídias digitais. Beto Figueiroa (fotografo) é fotojornalista e desenvolve pesquisas para projetos de fotografia autoral. Já expôs seus trabalhos na Europa e na América Latina, incluindo seu nome entre os dez artistas que representaram, em 2007, o Panorama da Fotografia Brasileira na Pinacoteca de Cuba.

Blake Eskin (debatedor) é editor de web da The New Yorker e apresentador do podcast The New Yorker Out Loud. Fundou e editou o site Nextbook e trabalhou no Conselho de Relações Internacionais e no jornal Forward. É autor de A Life in Pieces: The Making and Unmaking of Binjamin Wilkomirski, considerado pelo New York Times um dos notáveis livros de 2002. Cândida Almeida (design) é designer, webdesigner, roteirista e diretora de cinema e vídeo. Sócia-proprietária e diretora de arte da empresa Rema De-sign. Professora Universitária, leciona nas áreas de comunicação e artes. Mestre e doutora em comunicação e semiótica, também é poeta e artista multimídia. Cao Guimarães (debatedor) é cineasta e artista plástico. Dirigiu documentários como Andarilho (2007), Acidente (2007) e Da Janela do Meu Quarto (2004). Seu filme mais recente é Ex-isto (2010), livre adaptação da obra Catatau, de Paulo Leminski. É formado em jornalismo pela PUC Minas, em filosofia pela UFMG e é mestre em estudos artísticos da fotografia pela Universidade de Westminster, na Inglaterra. Cassiano Elek Machado (debatedor) é jornalista especializado em cultura espanhola pela Universidad Complutense, de Madri. Trabalhou por nove anos no caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo, foi redator-chefe da revista Trip, de São Paulo, e trabalhou por dois anos na revista Piauí, do Rio de Janeiro. Desde 2008 é diretor editorial da Cosac Naify. Cecília Zancan (suporte técnico) é da área de desenvolvimento de interfaces do portal Terra no Brasil. Trabalha e reside em Porto Alegre (RS). Christina Rufatto (fotógrafa) é fotojornalista. Trabalhou em jornais e revistas e atualmente dirige a Agência Rufatto Press, pela qual realiza trabalhos fotográficos para as áreas institucional e editorial. Também desenvolve atividades em projetos sociais e trabalha na finalização de seu projeto com idosos com mais de 100 anos. Claudia Quadros (integrante do Grupo Focal) é professora na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), em Curitiba. É pós-doutora em jornalismo pela Universidade Pompeu Fabra (UPF). Doutora em comunicação, com ênfase em jornalismo digital pela Universidade de La Laguna (ULL), na Espanha. Coordena o Grupo de Pesquisa JOR XXI e é diretora científica da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor). 181


Claudia Nina (redatora e editora) é jornalista. Doutora em letras, foi professora visitante no curso de letras da Uerj e professora de comunicação na PUC-Rio. Tem dois livros publicados: A Palavra Usurpada: Exílio e Nomadismo na Obra de Clarice Lispector e A Literatura nos Jornais. Foi editora do Ideias & Livros. No site www.claudianina. com.br há uma seleção de seus principais artigos, matérias e entrevistas. Claudiney Ferreira (gestor do programa e integrante das comissões de seleção das duas carteiras) é jornalista. Gerente do Núcleo Diálogos do Itaú Cultural, é responsável pelo Rumos Jornalismo Cultural e também pelo Rumos Itaú Cultural Literatura. Eduardo Baszczyn (consultor para mídia sonora) é jornalista e escritor. Foi repórter, editor, repórter aéreo e apresentador da Rádio CBN, âncora dos jornais da Rádio BandNews FM e a voz dos programas de literatura e música da web-rádio Itaú Cultural. Atualmente, faz reportagens para o Canal Futura. É autor do romance Desamores. Eduardo Lucas (webdesign) é designer e técnico de transmissão ao vivo pela internet. Atua em Vitória (ES) no Coletivo Multi e como ativista do Fórum de Mídia Livre. Eliane Brum (debatedora e oficineira) é jornalista, escritora e documentarista. Colunista do site da revista Época e cronista do site Vida Breve, lançou, em 2008, o livro O Olho da Rua, terceiro de sua carreira. Estreou nos documentários como codiretora e corroteirista de Uma História Severina (2005), contemplado com mais de 20 prêmios nacionais e internacionais. Ganhou mais de 40 prêmios de reportagem. Elinara Barros (estudante selecionada) cursa comunicação social com habilitação em jornalismo na Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina. Participa como ouvinte do Núcleo de Pesquisa em Jornalismo e Comunicação da UFPI. Atua ainda em pesquisas na área de webjornalismo e cibercultura. Elis Regina Nogueira (fotógrafa) é jornalista, professora de fotografia nos cursos de jornalismo e publicidade da faculdade Anhanguera Uniderp, em Campo Grande (MS), e sócia do estúdio EV Imagens. Atua nas áreas de fotografia institucional, still de cinema, e fotojornalismo, entre outras. Já colaborou com as revistas Piauí e IstoÉ. Também realiza projetos sociais como Nosso Olhar e Ava Marandu. 182

Emerson Cunha (estudante selecionado) cursa jornalismo na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa. Estagiou no jornal O Norte e participa do Coletivo de Estudantes COMJunto, na UFPB, e do Projeto Cinestésico, onde realiza pesquisas sobre a produção audiovisual paraibana. Emilio Damiani (ilustrador) é desenhista e caricaturista. Formado em comunicação visual, trabalhou na Folha de S.Paulo, no jornal Shopping News, na editora Brasiliense e nas revistas semanais IstoÉ, Veja e Exame. Eron Rezende (estudante selecionado) cursa jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. Repórter de cultura do portal de notícias da Rede Bahia, participou do Laboratório de Fotografia da UFBA e foi um dos organizadores do Festival Cuco, o primeiro festival brasileiro de cinema totalmente on-line. Eugênio Bucci (debatedor) é jornalista e professor. Leciona na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em São Paulo, e é colunista do site Observatório da Imprensa e do jornal O Estado de S. Paulo. Autor dos livros Em Brasília, 19 Horas e A Imprensa e o Dever da Liberdade. Foi presidente da Radiobrás e secretário editorial da Editora Abril. Everton Constant (integrante da comissão de seleção Estudante como representante do Terra) é gerente de conteúdo do portal Terra e responsável pelo gerenciamento do serviço de conteúdo e operação de internet TV do Terra na América Latina. Tem passagens pelas Redes Bandeirantes, Record e Globo e foi professor do curso de jornalismo da Faculdade Cásper Líbero. Fábia Fuzeti (produtora da vinheta do DVD) é jornalista e diretora da Gasolina Filmes, onde atua como editora, roteirista e produtora. Fabio Malini (consultor para web, oficineiro, debatedor e integrante do Grupo Focal) é doutor em comunicação, professor de jornalismo na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e ativista do Fórum de Mídia Livre e da Universidade Nômade. É um dos editores da revista on-line GlobalBrasil. Também é consultor do Onda Cidadã – Mapeamento Nacional da Comunicação Autônoma, para o Itaú Cultural.


Fernanda Kock (fotógrafa) é fotógrafa, autora de um livro sobre esportes radicais praticados em Florianópolis, onde vive e trabalha. Colaborou com a revista semanal Contigo!, cobrindo shows. Filipe Soriano (cinegrafista) é publicitário pós-graduado em comunicação empresarial pela Univap. Trabalhou em diversas TVs do Vale do Paraíba, como TV Clima Tempo, Setorial, Vanguarda Paulista (atual TV Vanguarda), e em projetos de educação ambiental pela ONG Vale Verde. Atualmente faz parte do corpo docente da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas e Comunicação da Univap. Franklin Leopoldo e Silva (debatedor) é professor de história da filosofia contemporânea da Universidade de São Paulo (USP) e da Faculdade São Bento, em São Paulo. Escreveu os livros Bergson: Intuição e Discurso Filosófico, Descartes, a Metafísica da Modernidade, Ética e Literatura em Sartre e Felicidade. Gerson Luiz Martins (integrante do Grupo Focal) é professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande. Doutor em jornalismo pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, é diretor de relações institucionais do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), coordenador do Grupo de Pesquisa em Ciberjornalismo da UFMS e membro da Comissão Nacional de Ética da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Geylson Antonio de Sousa Paiva (cinegrafista e editor de imagem) é graduando em comunicação social pela Universidade Federal do Maranhão e atualmente trabalha na Assessoria de Comunicação da UFMA como editor de imagens, editor de texto e cinegrafia, e na Rádio Universidade como operador de áudio, sonoplastia e máster. É, também, proprietário da produtora independente Cabaça GP. Gilvan Barreto (fotógrafo) é fotógrafo e editor de imagens. Colaborador assíduo de veículos das editoras Abril, Globo e Trip, também participou de exposições coletivas no Brasil e no exterior e atualmente se dedica à documentação de temas sociais e ambientais para ONGs internacionais. Foi sócio da extinta Lumiar Fotografia, agência pioneira no registro da cultura, da natureza e da geografia da Região Nordeste.

Giovana Penatti (estudante selecionada) cursa jornalismo na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), em Bauru. É estagiária na Editora Alto Astral, onde escreve para as revistas semanais Malu e Teen Week. Foi editora-chefe do programa da web-rádio Unesp Virtual NJ Notícias e editora de variedades da revista virtual Livrevista. Mantém o blog sobre cultura pop Pop Me Up. Reside em Piracicaba (SP). Giselle Beiguelman (debatedora) é midiartista, professora dos cursos de pós-graduação em Comunicação e Semiótica e Tecnologias da Inteligência e Design Digital da PUC-SP e editora da seção Novo Mundo da revista eletrônica Trópico. É autora de O Livro Depois do Livro, Link-se, entre outros, e organizadora, com Jorge La Ferla, de Nomadismos Tecnológicos (Barcelona, Ariel, no prelo). Gleice Meire Almeida (divulgadora) é jornalista. Selecionada para o Rumos Jornalismo Cultural 2004-2005, é atualmente repórter da Agência Goiana de Comunicação (Agecom) e assessora política. Trabalhou na TV Anhanguera e integrou a equipe de pesquisadores da produção vencedora do DOCTV Goiás Santa Dica – de Guerra e Fé. Guillermo Alfonso Gonzalez (debatedor) é jornalista. É diretor da revista Número e colaborador de periódicos da América Latina e da Europa. Foi coordenador do suplemento dominical do jornal El Espectador e diretor da revista Gaceta del Ministerio de Cultura. Jornalista premiado, editou mais de 30 livros de fotografia, literatura, ensaios e ciências sociais. Humberto Werneck (palestrante) é jornalista e escritor. Trabalhou em Veja, IstoÉ, Playboy e Jornal do Brasil. Escreveu O Espalhador de Passarinhos & Outras Crônicas, O Santo Sujo – A Vida de Jayme Ovalle, Chico Buarque – Tantas Palavras e O Pai dos Burros – Dicionário de Lugarescomuns e Frases Feitas, entre outros livros. É cronista do caderno Outlook do jornal Brasil Econômico e do site www.vidabreve.com. Jan Fjeld (debatedor) é diretor de Showbiz, do UOL, onde trabalha desde 1997. Norueguês, reside no Brasil desde 1986. É formado em literatura e comunicação pela San Jose State University, nos Estados Unidos. Foi programador na Eldorado FM, assessor de imprensa nas gravadoras EMI, Virgin e Paradoxx, colunista da Bizz e do Jornal da Tarde e colaborador da Folha de S.Paulo.

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Jeder Janotti (debatedor) é pesquisador e baterista. Professor-adjunto da Universidade Federal de Alagoas e professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia, onde coordena o grupo de pesquisa Mídia e Música Popular Massiva. É autor, entre outros, de Aumenta que Isso Aí É Rock and Roll: Mídia, Gênero Musical e Identidade.

José Marcelo Zacchi (debatedor) é coordenador do site Overmundo, que ajudou a fundar. Formado em direito na USP, fundou o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Instituto Sou da Paz. Participou do projeto Modelos de Negócios Abertos, América Latina, da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, e fez curadoria para o Centro Cultural Waly Salomão, do Grupo AfroReggae.

Jessé Torres (estudante selecionado) cursa jornalismo na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. É redator da agência de publicidade Glóbulo e prepara monografia sobre Vilém Flusser. Foi estagiário na 8ª Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis e colaborou com artigos para a revista on-line obviousmag.org.

Juan Freire (debatedor) é doutor em biologia, professor titular na Universidade da Coruña (UDC) e responsável pela cátedra de economia digital da Escola de Organização Industrial, de Madri. É requisitado consultor sobre inovação e estratégia em novos meios e autor do blog Nómada (http://nomada.blogs.com/). Ver também www. juanfreire.net.

João Carlos Salles (debatedor) é doutor em filosofia pela Unicamp e professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal da Bahia (UFBA). É autor, entre outros, de A Gramática das Cores em Wittgenstein (2002) e Retrato do Vermelho e Outros Ensaios (2009). Dirige a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA. João Luis Gago (consultor para mídia audiovisual) é jornalista e professor universitário. Trabalha na Rede Globo há 15 anos, onde atualmente se dedica à pesquisa de projetos especiais para o jornalismo. É professor e nucleador das disciplinas práticas do curso de jornalismo da Universidade Nove de Julho em São Paulo (SP), onde já foi coordenador do curso de pós-graduação em comunicação social. José Castello (oficineiro, integrante da comissão de seleção Estudante e editor do Laboratório) é jornalista, escritor, colunista do Prosa & Verso, do jornal O Globo, e colaborador do jornal Valor Econômico, das revistas Bravo! e Época e do mensário Rascunho. Autor de Inventário das Sombras e A Literatura na Poltrona: Jornalismo Literário em Tempos Instáveis, além do recém-lançado Ribamar. José Eduardo Gonçalves (debatedor) é jornalista, editor e escritor. Presidente da Fundação TV Minas Cultural e Educativa e curador do projeto literário Ofício da Palavra. Atuou no jornal O Globo, chefiou a comunicação corporativa do grupo Andrade Gutierrez e editou a revista de cultura Palavra. Foi presidente da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e da Rádio Inconfidência (MG). Escreveu os livros Vertigem e Cartas do Paraíso. 184

Karina Costa (estudante selecionada) cursa jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador. É estagiária do Grupo A Tarde. Foi repórter da Assessoria de Comunicação da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), monitora do Laboratório de Fotografia da UFBA e assistente de comunicação do escritório de design gráfico Nix On-Line. Reside em Simões Filho (BA). Kenneth Goldsmith (debatedor) é fundador e publisher do arquivo UbuWeb. É autor de dez livros de poesia e editor do livro I’ll Be Your Mirror: The Selected Andy Warhol Interviews. É professor da Universidade da Pensilvânia e editor sênior do PennSound, um arquivo de poesia on-line. Laryssa Caetano (estudante selecionada) cursa jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande. Atualmente trabalha com o tema qualidade de conteúdo televisivo com a Universidade Autônoma de Barcelona. Colaborou com pesquisa para a Unesco na América Latina, foi monitora de teoria da comunicação e estagia em TV na área rural. Leonardo Cunha (professor selecionado) leciona no Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH) e na pós-graduação da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Doutorando em artes/cinema pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestre em ciência da informação (UFMG). É autor premiado de mais de 40 livros de literatura infantil, juvenil e crônicas.


Letícia Queiroz (estudante selecionada) cursa jornalismo na Universidade Federal Fluminense. É estagiária da gerência de comunicação do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e bolsista de iniciação científica em análise do discurso pela Faperj. Luana Lazarini Loureiro (estudante selecionada) cursa jornalismo na Universidade do Vale do Paraíba (Univap), em São José dos Campos (SP). É repórter e editora gráfica do jornal-laboratório Foca em Foco e editora de arte da revista eletrônica Olhe!, ambos da Univap. Estagiou na assessoria de imprensa do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), na Santa Casa, e foi videorrepórter do programa Fiz+Sotaques, no FizTV. Lucia Guimarães (debatedora e palestrante) é colunista e colaboradora do jornal O Estado de S.Paulo e da Rádio Eldorado. Trabalhou para Rede Globo, TV Cultura, Globosat e participa, com reportagens, do Saia Justa, do GNT. Mora em Nova York desde 1985. Luciana Mielniczuk (integrante do Grupo Focal) é jornalista e professora da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul. Mestre em comunicação e informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e doutora em comunicação e cultura pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), fez estágio na Universidade de Santiago de Compostela (Espanha). Coordena o Grupo de Pesquisa Jornalismo Digital da UFSM. Luis Antonio Giron (debatedor) é jornalista e escritor. Edita a seção de livros da revista Época. Mestre em musicologia e doutor em artes cênicas pelas USP, é autor da coletânea de contos Até Nunca Mais por Enquanto, entre outros livros, e organizador da antologia Minoridade Crítica. Marcelo Costa (debatedor) é editor do site de música Scream & Yell e integra a equipe de coordenação da primeira página do iG. Já trabalhou nas redações de diferentes publicações e sites, como Notícias Populares, Zip.net, UOL, Terra, e colaborou com as revistas Pipoca Moderna, Bilboard Brasil, Rolling Stone, entre outras. Marcelo Monzani (produtor) é museólogo e crítico de arte. Formado em ciências aociais pela PUC-SP, é mestre em museografia. Foi pesquisador, coordenador e gerente do Núcleo de Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural e crítico de arte da Temporada de Projetos, no Paço das Artes,

em São Paulo. Atualmente, é chefe da divisão técnica do Museu Lasar Segall, em São Paulo. Marcos Palacios (integrante da comissão de seleção Professor) é jornalista e professor. Doutor em sociologia pela Universidade de Liverpool, é professor do curso de comunicação social na Universidade Federal da Bahia (UFBA), em Salvador, e catedrático visitante da Universidade da Beira Interior, em Portugal. Foi um dos criadores, em 1998, do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL), pioneiro no estudo do ciberjornalismo no Brasil. Marcos Strecker (debatedor) é jornalista e crítico. Atualmente, é editor de mídias sociais da Folha de S.Paulo, onde já coordenou páginas de livros, foi correspondente-bolsista em Paris, editorialista e editor-assistente de Mundo. Fundou o site Cineguia, dirigiu o documentário Julia Mann – Memórias do Paraíso e é autor de Na Estrada – O Cinema de Walter Salles. Maria José Silveira (consultora editorial) é escritora, tradutora e editora. Foi sócia-fundadora e diretora da Editora Marco Zero e trabalhou na Cosac & Naify. Escreveu os romances A Mãe da Mãe de Sua Mãe e Suas Filhas e O Fantasma de Luís Buñuel, entre outros, e diversos livros para jovens e crianças, entre eles Malcriada, Cabeça de Garota, Uma Cidade de Carne e Osso, e a coleção Meninos e Meninas do Brasil. Marialva Barbosa (integrante da comissão de seleção Estudante como representante da Intercom) é jornalista e professora. Doutora em história pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pós-doutora em comunicação pelo Laios/CNRS, em Paris, leciona na Pósgraduação em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiuti do Paraná. É diretora científica da Intercom e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia. Matinas Suzuki Jr. (debatedor) é editor da revista Serrote e membro da direção da Companhia das Letras. Foi editor-executivo e membro do conselho editorial da Folha de S.Paulo e diretor editorial-adjunto na Editora Abril. Apresentou o programa Roda Viva, da TV Cultura, e presidiu o portal iG. Mia Consalvo (debatedora) é presidente da Associação de Pesquisadores da Internet (Aoir) e professora do programa de Media Comparative Studies do Massachusetts 185


Institute of Technology (MIT), dos EUA. Seu mais recente livro é Cheating: Gaining Advantages in Videogames, de 2007. É coeditora do Blackwell Handbook of Internet Studies, de 2010.

sidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Trabalhou 15 anos no jornal O Globo, dos quais nove no suplemento de livros. Já colaborou para os suplementos literários dos jornais Le Monde e Valor.

Mirna Tonus (integrante da comissão de seleção Professor como representante do FNPJ) é jornalista e professora no curso de comunicação social com habilitação em jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre em educação e doutora em multimeios. É vice-presidente do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), na gestão 2010-2012.

Rafael Pereira (estudante selecionado) cursa jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Estagiou na editora Record.

Nelio Bizzo (debatedor) é biólogo, professor titular da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo, e professor visitante da Universidade de Verona. Tem trabalhado as relações entre história da biologia e seu ensino, em particular o ensino da evolução. Pablo Miyazawa (debatedor) é editor da Rolling Stone Brasil (http://www.rollingstone.com.br) e autor do blog Gamer.br. Foi editor de publicações infantojuvenis da editora Conrad. Colaborou com a Folha de S.Paulo, Set, Revista da MTV e Play, e assinou uma coluna televisiva no Notícias MTV. É um dos criadores do coletivo Gardenal.org e colunista na EGM Brasil e na Revista ESPN. Patrícia Canetti (debatedora) é artista multimídia e coordenadora do www.canalcontemporaneo.art.br, comunidade digital de arte contemporânea brasileira criada em 2001. Desde 2007, é titular da cadeira de arte digital no Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC). Participa de diversos simpósios e mostras de arte e cultura. Paulo Fehlauer (debatedor) é jornalista e fotógrafo. É um dos três criadores do coletivo Garapa, onde realiza produção e pesquisa em narrativas multimídia. Foi fotojornalista na Folha de S.Paulo e trabalhou no International Center of Photography, em Nova York. Pedro Markun (debatedor) é diretor do Jornal de Debates e da Nunklaki, onde trabalha com projetos colaborativos na internet. Fundou o projeto LivroLivre, de distribuição p2p de livros. Rachel Bertol (debatedora, curadora e editora) é jornalista e mestre em comunicação e cultura pela Univer186

Renato Franzini (debatedor) é editor-executivo do G1, o portal de notícias da Globo. Está no cargo desde a estreia do site, em 2006. Trabalhou nos jornais Notícias Populares e Folha de S.Paulo, no UOL, no Zip.Net e na Agência Folha. Reuben da Cunha (editor do blog) é jornalista. Selecionado pelo Rumos Jornalismo Cultural 2004-2005, atualmente edita os blogs do Itaú Cultural e é aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Rubens Chiri (fotógrafo) é fotojornalista. Foi editor de fotografia e fotógrafo dos Anuários do Futebol Brasileiro e Turismo SP e do Banco de Imagens da Secretaria de Esporte, Lazer e Turismo do Estado de São Paulo. Fundador da Perspectiva Agência Fotográfica, foi presidente da Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo (Arfoc-SP) e integrou a equipe de fotojornalistas do jornal Diário Popular. Sandra Machado (professora selecionada) leciona na Universidade Veiga de Almeida, no Rio de Janeiro. Escritora e mestre em comunicação e cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi repórter e produtora na revista Manchete, jornal Extra, Rede Globo, site do Shoptime e na rádio SFB4, em Berlim, na Alemanha. Publicou o livro de contos Berlim, 40 Graus e mantém o blog www.quasesociopata.com.br. Soraya Venegas (professora selecionada) leciona na Universidade Estácio de Sá, em Niterói (RJ), onde é coordenadora acadêmica de jornalismo e supervisiona os produtos laboratoriais em mídia impressa, rádio e TV do curso de comunicação. Tem pós-doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutorado em comunicação e cultura pela Escola de Comunicação da UFRJ.


Stuart Stubbs (debatedor) é jornalista e crítico britânico. Fundou há cinco anos o tabloide mensal Loud and Quiet, distribuído gratuitamente e disponível em versão on-line. A publicação tem se destacado por apresentar uma nova visão da diversidade presente na cena alternativa musical da Inglaterra. Suzana Barbosa (integrante do Grupo Focal) é professora da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Mestre e doutora em comunicação e cultura contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia, tem pós-doutorado pela Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha. É membro do Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) da UFBA e organizou o livro Jornalismo Digital de Terceira Geração. Thiago Soares (professor selecionado) leciona na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), em João Pessoa. É editor dos suplementos Revista da Folha e Turismo, da Folha de Pernambuco. Doutor em comunicação e cultura contemporâneas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre em teoria da literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é ainda autor do livro Videoclipe – O Elogio da Desarmonia. Valerioas (fotógrafo) é arquiteto e, desde 2009, fotógrafo residente do Núcleo Dirceu, em Teresina, Piauí. Tem fotos publicadas no site uruguaio Perro Rabioso e no site da companhia OZU, encabeçada pelo coreógrafo e performer holandês Rob List. Vitor Necchi (professor selecionado) leciona na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre, onde coordena o curso de jornalismo. Jornalista, foi repórter, chefe de reportagem e editor-assistente do jornal Zero Hora. Atualmente, é editor da revista Norte. Vivian Belochio (assistente de mediação do fórum) é jornalista. Mestre em comunicação midiática pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutoranda em comunicação e informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Estuda o jornalismo colaborativo, a cibercultura e as apropriações das tecnologias da informação e comunicação no jornalismo. Wilton Pinheiro (gerente de tecnologia do B2) é engenheiro de computação. Sócio da Zaine Software, tem especialização em gestão de projetos. Trabalhou na sede do ABN AMRO Bank, em Amsterdã, e integrou a equipe de separação e integração após a venda do banco, em 2007. 187


Os parceiros do Rumos Jornalismo Cultural 2009-2010 Alpendre Casa de Arte Fortaleza/CE – noaralprendre@hotmail.com Biblioteca da Floresta Marina Silva Rio Branco/AC – www.bibliotecadafloresta.ac.gov.br Casa Andrade Muricy Curitiba/ PR – http://www.cam.cultura.pr.gov.br Centro de Criatividade Odylo Costa Filho São Luís/MA – www.cultura.ma.gov.br/portal/ccocf Centro Municipal de Cultura Goiânia Ouro Goiânia/GO – www.goianiaouro.com.br Complexo Cultural Clube dos Diários Teresina/PI – (86) 3222-7100 / 3222-7075 Escola Municipal Ulisses Soares Ferreira Porto Velho/RO – Rua José Amador dos Reis, 2.938 Faculdade Integrada Tiradentes Maceió/AL – www.fits.edu.br Fórum Nacional de Professores de Jornalismo – FNPJ Brasília/DF – www.fnpj.org.br Faculdade São Luís São Luís/MA – www.facsaoluis.br Fundação Cultural do Piauí – Fundac Teresina/PI – www.fundac.pi.gov.br Fundação Cultural Monsenhor Chaves Teresina/PI – www.fcmc.pi.gov.br Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansour Rio Branco/AC – (68) 3223-5852 / 3223-9688 Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza Funcet Fortaleza/CE – (85) 3105-1392 Gasolina Filmes São Paulo/SP – www.gasolinafilmes.com.br

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Instituto de Artes do Pará Belém/PA – www.iap.pa.gov.br Intercom São Paulo/SP – www.intercom.org.br Memorial Zumbi dos Palmares Teresina/PI – www.fundac.pi.gov.br Rema Design São Paulo/SP – www.remadesign.com.br Secretaria de Cultura de Estado da Cultura do Maranhão São Luís/MA – www.cultura.ma.gov.br Secretaria de Estado da Cultura do Paraná Curitiba/PR – www.seec.pr.gov.br Secretaria Municipal de Educação de Porto Velho Porto Velho/RO – (69) 3901-3300 / 3901- 3313 Sesc Amapá Macapá/AP – www.ap.sesc.com.br Sesc Alagoas Maceió/AL – www.sescalagoas.com.br Terra Networks Brasil São Paulo/SP – www.terra.com.br Universidade Federal de Roraima – UFRR Boa Vista/RR – www.ufrr.br Universidade Federal do Espírito Santo – UFES Vitória/ES – portal.ufes.br Universidade Federal Rio de Janeiro – UFRJ Rio de Janeiro/RJ – www.ufrj.br Vila das Artes Fortaleza/CE – viladasartesfortaleza@gmail.com Zaine Software São Paulo/SP – www.zaine.com.br


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