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Com 182 ônibus vencidos, empresas vão trocar 71 veículos do transporte coletivo de Campo Grande
from Midiamax Diário | 15 de junho de 2023 | Empresas anunciam troca de apenas parte dos seus 182 ônibus
Priscilla Peres Gabriel Neves
Campo Grande tem 182 ônibus “vencidos”, prestes a completar 10 anos de idade rodando. Nesta quarta-feira (14), o Consórcio Guaicurus –que reúne as concessionárias do transporte coletivo da cidade– anunciou que vai colocar apenas 71 veículos novos para rodar.
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O Jornal Midiamax vem denunciando o descumprimento contratual por parte dos empresários do ônibus, que mantêm a frota velha e sucateada. A idade média dos ônibus que rodam na cidade ultrapassava os 8 anos em 2022, enquanto que a concessão permite idade média de até 5 anos.
Apesar das denúncias, as empresas seguem descumprindo con- trato sem punição por parte da Agereg (Agência de Regulação de Campo Grande) –responsável por fiscalizar o cumprimento do contrato–, Legislativo e do Ministério Público Estadual.
Na Câmara, já foram 3 tentativas de abertura de CPIs para apurar irregularidades no serviço. E, mesmo com denúncias de precariedade e prejuízos à população, as empresas conseguiram isenção milionária de impostos, que somam mais de R$ 11 milhões ao longo do ano.
O presidente da Agereg, Odilon Júnior, chegou a defender os empresários do transporte coletivo, concordando com a retirada de 140 ônibus de circulação nos últimos anos por parte do Consórcio Guaicurus.
A prefeitura também justificou que a redução se deu por conta de queda no número de passageiros. Apesar disso, superlotações e atrasos são verificados diariamente.
Lucro fácil e sem punição Ao mesmo tempo em que irá receber cerca de R$ 37 milhões em verba pública este ano –repasses municipais, estaduais, federais e isenção de impostos–, o Consórcio Guaicurus conseguiu se livrar de punição por descumprir o contrato.
Além disso, perícia judicial analisou os balanços financeiros e constatou que as empresas tiveram lucro de R$ 68 milhões em 5 anos.
Troca abrange 15% da frota e população deverá continuar enfrentando atrasos e a superlotação
Os novos ônibus vão renovar apenas 15% da frota atual, de 450 ônibus. Assim, outros 111 ônibus vencidos continuarão circulando em Campo Grande.
Na prática, muda pouca coisa para a população, já que não haverá criação de novas linhas.
Os novos veículos vão substituir 71 dos ônibus velhos que circulam. Com isso, superlotação e demora, principalmente nos bairros, devem continuar.
A frota tem idade média de 7,7 anos, acima do ideal estipulado em contrato, de 5 anos. Porém, as empresas não informaram se, com a renovação, a idade da frota ficará dentro do que estipula a concessão.
O Consórcio Guaicurus mantém 182 ônibus com idade igual ou superior a 10 anos, que deveriam ser substituídos ainda em 2023. Porém, não disse como e nem se vai substituir os 111 que vão completar uma década –os 71 estão nesse total.
Superlotação e falta de linhas
Os ônibus novos são simples, sem ar-condicionado ou articulados, o que proporcionaria maior espaço e comodidade.
Na prática, a população seguirá enfrentando os mesmos problemas no serviço, apesar de pagar R$ 4,65 por passagem. Com sorte, pegará um ônibus novo.
Recursos próprios
Durante o anúncio dos novos ônibus, o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, João Rezende, afirmou que cada ônibus custou R$ 730 mil e que todos foram custeados com recursos próprios da empresa.
Considerando o valor de cada ônibus, os 71 novos devem ter custado em torno de R$ 51 milhões.
Apesar de as empresas de ônibus que atendem a Capital receberem até R$ 37 milhões somente este ano de repasses municipais e estaduais, os passageiros tendem a continuar com muitos veículos “caindo aos pedaços”. (PP e GN)
Frota reduzida
O Consórcio Guaicurus tirou de circulação 140 ônibus nos últimos 3 anos, passando de 552 em 2019 para 412 em 2022.
Em contrapartida, Campo Grande ganhou 36 mil novos moradores, saltando de cerca de 906 mil em 2019 para 942 mil no ano passado, conforme dados do IBGE.
O número está abaixo do mínimo estipulado em contrato, que é de 575 ônibus em circulação. Enquanto isso, passageiros precisam aguardar mais de 1 hora para conseguir um ônibus, dependendo do horário e da linha.
Apesar de denúncias sobre o serviço prestado, o Consórcio Guaicurus vai embolsar R$ 32 milhões em verbas públicas somente este ano, além dos R$ 31 milhões que recebeu no ano passado.
E, diferente do alegado pela diretoria do grupo de concessionárias, as empresas de ônibus tiveram lucro líquido de R$ 68 milhões somente nos primeiros sete anos de concessão –entre 2012 e 2019. (PP e GN)
Diretor de concessionária é demitido e motoristas fazem protesto em letreiros de ônibus
KariNa camPos
Os letreiros luminosos de ônibus amanheceram nesta quarta-feira (14) com a mensagem “Obrigada por tudo, Leo”. O protesto de motoristas foi motivado pela demissão do diretor da Viação Cidade Morena, Leonardo Constantino Meneghin, após 16 anos no cargo.
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Meneghin gravou um vídeo de despedida, alegando ser desligado por “ordem acima”. As imagens foram divulgas no perfil do Ligados no Transporte CG.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do Consórcio Guaicurus, que informou apurar a situação. A assessoria afirma que a mensagem no le- treiro pode ter sido uma ação isolada de um motorista, mas o Jornal Midiamax recebeu imagens de diferentes veículos com a mesma mensagem.
A reportagem apurou que o ex-diretor da Viação possui registros de 14 empresas em sociedade com outras pessoas, 7 delas ativas. A maioria está ligada ao agronegócio. Uma das fazendas, localizadas em Nova Alvorada do Sul, tem capital social de R$ 7,6 milhões.
Paralisação?
Conforme informações apuradas pelo Jornal Midiamax, indignados com o desligamento, motoristas cogitaram até paralisação na segunda-feira (19), em protesto para o cargo ser devolvido.
“Leonardo foi substituído injustamente, aparentemente por ser um bom chefe e visa ajudar os funcionários”, disse um trabalhador.
Quem são os donos?
Leonardo Constantino Meneghin fazia parte da liderança da família Constantino. Conforme informações no site Transparência.cc, que lista empresas e CNPJs ligadas a pessoas, Nel- son Guenshi Asato é o nome ligado ao Consórcio Guaicurus. Uma delação de 2017, revelada em 2019 pelo Jornal Midiamax, aponta a possibilidade de o verdadeiro dono ser outro. A possível fraude foi detalhada pelo advogado Sacha Reck, que ajudou os empresários interessados na concessão do transporte público em 2011 e 2012. Toda a narrativa na delação atribui à família Constantino a administração do consórcio.
Constantino de Oliveira, o Nenê Constantino, é um empresário do setor de transportes e pai de Constantino Jr. e Henrique Constantino. Com eles, é dono do Grupo Comporte, de empresas de transporte.