Beatriz Horta Correia
A LIMPIDEZ DA MATÉRIA À cerâmica associa-se a ideia de opacidade, matéria densa que quando empregue em recipientes oculta e protege o que contêm. A transparência, o limite da coesão do material, permitindo que a tessitura constituinte dos objectos possa ser observada é o que procura Beatriz Horta Correia. Partindo da construção de delicadas redes cerâmicas, que por vezes se sobrepõem ou surgem depositadas em taças, ao corte cirúrgico das paredes de jarras levado ao limite do (quase) improvável, nestes objectos a ausência acaba por assumir um maior protagonismo que a matéria que neles é deixada. Os efeitos dramáticos de sombras que potenciam permitem (re)criar neles sempre novas identidades, numa capacidade de reinvenção pouco usual. O emprego de papel ou tecidos mergulhados em calda de porcelana e trabalhados de modo a criar uma coesão cuja destruição parece ocorrer só pela respiração do observador, através do uso de luz directa garantem uma transparência que permite recriar os passos da sua criação. Nestes objectos é possível encontrar uma certa citação oriental nas técnicas empregues, mas em nenhuma é mais evidente como no emprego de bagos de arroz para criar texturas de ainda maior transparência, em paredes já quase levadas ao limite. LA CLARTÉ DE LA MATIÈRE À la céramique on associe l'idée d’opacité, matière dense qui quand imprégnée dans des récipients occulte et protège ce qu'elle contient. La transparence, la limite de la cohésion du matériel, permettant que la tessiture constituante des objets puisse être observée est ce que recherche Beatriz Horta Correia. Partant de la construction de délicats réseaux céramiques, qui parfois se superposent ou surgissent dépositées dans des tasses, au coup chirurgical des parois des vases amenés à la limite du (presque) improbable, dans ses objets l'absence fini par assumer un plus grand protagonisme que la matière qui leur est laissée. Les effets dramatiques d'ombres qui potentiellement permettent de (re)créer en eux toujours de nouvelles identités, dans une capacité de ré-invention peu usuelle. L'utilisation de papier ou de tissus plongés dans la barbotine de porcelaine et travaillés de manière à créer une cohésion dont la destruction parait se produire uniquement par la respiration de l'observateur, à travers l'utilisation de lumière directe garantissant une transparence qui permet de recréer les pas de sa création. Dans ces objets il est possible de trouver une certaine citation orientale dans les techniques utilisées, mais il est le plus évident dans l'utilisation de grains de riz pour créer des textures de encore plus grande transparence, dans des parois déjà presque à leur limite. CLEARNESS OF MATTER Ceramics is associated with opacity; a dense matter that once molded into a container can hide its contents. In her projects, Beatriz Horta Correia explores the boundaries between opacity and transparency. The adoption of eastern traditions such as the use of grains of rice reveals in a clear way the transparencies obtained in certain objects. Through her work, the artist seeks the very limits of the cohesion of materials, inviting us to see the tissue that objects are made of. In some cases, however, the absence of material to shape objects is much more relevant than the remaining substance of what these pieces are made of. The use of paper or fabrics soaked in porcelain liquid are molded in such a way that their consistency, that is to say the cohesion of its components, seem to be at risk of destruction by the mere breathing of the observer. The lighting of these objects reveals a transparency, unveils a making process that Beatriz Horta Correia is willing to share with us. Alexandre Pais, in O Poder do Fazer, Museu Nacional do Azulejo, Lisboa
S/ título | Sans titre | Untitled, 2011. Faiança e metal | faïence et métal | earthenware and metal; 22 cm x Ø 38,5 cm.
Do Papel | From Paper, 2010/2011. Porcelana | porcelaine | porcelain; dimensĂľes variĂĄveis | dimensions variables | variable dimensions.
Lightness # 1, 2011. Porcelana | porcelain | porcelaine; 20 x 48 x 36 cm. > Lightness # 3, 2011. Porcelana | porcelain | porcelaine; 7 x 49 x 46,5 cm.
Cálice #1, 2014. Porcelana vidrada e bronze | porcelaine émaillée et bronze | glazed porcelain and bronze; 16 x 19,5 x 21 cm; base ø 9,8 alt. 8,8 cm; alt. total 22 cm.
Contentores de Luz | Conteneurs de lumière | Light containers, 2011. Porcelana | porcelaine | porcelain Dimensþes variåveis | dimensions variables | variable dimensions Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.
Relicรกrios | Reliquaires | Reliquaries, 2011. Porcelana, rocha e coral sobre madeira | porcelaine, rock et de corail sur le bois | porcelain, rock and coral on wood; 11 x 75 x 25 cm; Museu Nacional do Azulejo, Lisboa
Formas de luz | Formes de lumière | Light shapes, 2014. Porcelana e folha de ouro | porcelaine et feuille d'or | porcelain and gold leaf; 31 x 27 x 8,5 cm | 30 x 27 x 8 cm | 31 x 28 x 8 cm.
Jardins de silĂŞncio | Jardins de silence | Silence gardens, 2013. Porcelana | porcelaine | porcelain; 35 x 18 cm | 34 x 17 cm | 32 x 18 cm | 30 x 17 cm.
S/ tĂtulo | Sans titre | Untitled, 2014. Porcelana | porcelaine | porcelain, 9 x 38 x 23 cm.
S/ tĂtulo | Sans titre | Untitled, 2014. Porcelana | porcelaine | porcelain, 11 x 27 x 27 cm.
Quase paisagens #2, 2008. Grafite e acrĂlico sobre papel | graphite et acrylique sur papier | graphite and acrylic on paper; 76 x 57 cm
S/ tĂtulo | Sans titre | Untitled, 2014. GrĂŞs e porcelana | grès et porcelaine | stoneware and porcelain; 26 cm x 38 cm.
Branco SilĂŞncio, 2011. Grafite e acrĂlico sobre papel | graphite et acrylique sur papier | graphite and acrylic on paper ; 76 x 57 cm
S/ tĂtulo | Sans titre | Untitled, 2011. Porcelana | porcelaine | porcelain; 16 x 45 x 40 cm. S/ tĂtulo | Sans titre | Untitled, 2011. Porcelana | porcelaine | porcelain; 6 x 48,5 x 47,5 cm.
S/ tĂtulo | Sans titre | Untitled, 2011. Porcelana | porcelaine | porcelain; 15,5 x 32 x 31 cm.
As palavras sĂŁo como o vento, 2011. Colagens, grafite e acrĂlico sobre papel | assemblage, graphite et acrylique sur papier | collage, graphite and acrylic on paper; 60 x 54,6 cm
Com que matéria se fazem poemas?, 2014. Porcelana vidrada | porcelaine émaillée | glazed porcelain Dimensões variáveis | dimensions variable | variable dimensions Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.
Branco quase tudo, metáforas apenas, 2014. Porcelana vidrada | porcelaine émaillée | glazed porcelain; Dimensões variáveis | dimensions variable | variable dimensions Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.
“A chama leva-nos a ver como que pela primeira vez, aquilo de que temos mil lembranças, sonhamos tudo à luz de uma memória muito antiga e, todavia, sonhamos como todos, lembramo-nos como todos se lembram – então, seguindo uma das leis mais constantes do devaneio diante da chama, o sonhador vive num passado que não é somente o seu, no passado dos primeiros fogos do mundo.” “La flamme nous appelle à voir en première fois nous en avons mille souvenirs, nous en rêvons tout à la personnalité d’une très vieille mémoire et cependant nous en rêvons comme tout le monde, nous nous souvenons comme tout le monde se souvient — alors, suivant une des lois les plus constantes de la rêverie devant la flamme, le rê-veur vit dans un passé qui n’est plus uniquement le sien, dans le passé des premiers feux du monde.” Gaston Bauchelard, La Flamme d’une Chandelle
S/ título | Sans titre | Untitled, 2010. Faiança | faïence | earthenware; Ø 43 cm. > S/ título | Sans titre | Untitled, 2010. Faiança | faïence | earthenware; 80 cm x Ø 34 cm.
S/ tĂtulo | Sans titre | Untitled, 2009. Grafite e acrĂlico sobre papel | graphite et acrylique sur papier | graphite and acrylic on paper; 76 x 57 cm (18 desenhos | 18 dessins | 18 drawings)
S/ título | Sans titre | Untitled, 2013. Grês | grès | stoneware; 35 x 30 x 30 cm.
S/ título | Sans titre | Untitled, 2014. Grês | grès | stoneware; 15 x 43 x 31 cm.
S/ título | Sans titre | Untitled, 2013. Grês | grès | stoneware; 40 x 22 cm; 42 x 23 cm.
Natura #1, 2013. Grês | grès | stoneware; 20 x 42 cm.
Beatriz Horta Correia (1962) Vive e trabalha em Lisboa. Estudou Design e Cerâmica no IADE Creative University e Desenho no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual. Desde 1983 trabalha como designer e artista plástica. Funda o atelier Artlandia Design (www.artlandia.pt) em 1990, onde durante mais de 20 anos desenvolve projectos de edição, cartaz, embalagem, ilustração, identidade corporativa, merchandising, produto e exposições, principalmente no âmbito de actividades culturais, para Museus, Monumentos e outras instituições. Vit et travaille à Lisbonne. À étudier Design et Céramique dans l'IADE Creative University et Dessin au Ar.co – Centro de Arte e Comunicação Visual (Lisbonne). Depuis 1983 travaille comme designer et artiste plastique. Créé l'atelier Artlandia Design (www.artlandia.pt) en 1990, où pendant plus de 20 ans développe des projets d'édition, affiche, emballage, illustration, identité corporative, merchandising, produit et expositions, principalement dans le but d’activités culturelles, pour des Musées, Monuments et autres institutions. She lives and works in Lisbon. She studied Design and Ceramics at IADE Creative University and Drawing at Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual (Lisbon). She has been working as designer and artist since 1983, and in 1990 she created the Artlandia Design company (www.artlandia.pt) where for over 20 years she has devoloped design projects such as editorial, poster, packaging, illustration, branding, merchandising, produt and exhibitions, with focus on the cultural area for museums, heritage and other institutions. Prémios | Prix | Awards: Prémio Revelação VI Bienal de Arte Vila Nova de Cerveira, 1988; The European Design Annual 5 - Certificate of Excellence, 2000; Prémio Design Briefing Merchandising – Linha de Papelaria Álvaro Siza, Fundação Serralves, 2005; Red Dot Award Communication Design, 2012. Exposições individuais| Expositions individuelles | Solo exhibitions: Quase paisagens, Casa Colombo-Museu do Porto Santo, 2007; Quase paisagens, Galeria Rosadarua, Lisboa, 2008; Branco Silêncio, Galeria Gomes Alves, Guimarães, 2011. Exposições colectivas | Expositions collectives | Group exhibitions: VI Bienal de Arte Vila Nova de Cerveira, 1988; Triennale di Milano – Arquitectura e Design de Portugal, Milão, 2004; ExperimentaDesign – Bienal de Lisboa, 2005; 30 anos Bienal de Cerveira, Vila Nova de Cerveira, 2008; Laboratório#4 Way Out, Pavilhão 28, Lisboa, 2009; II Bienal Iberoamericana de Design, Madrid, 2010; 16.ª Bienal de Cerveira Vila Nova de Cerveira, 2011; O objecto e o espaço, Teleférico Dinâmico, Guimarães, 2012; Arquivos Secretos, Arquivo Municipal de Lisboa, 2012; III Bienal Iberoamericana de Design, Madrid, 2012; Laboratório#7 O Poder do Fazer, Museu Nacional do Azulejo, Lisboa, 2013; Até as árvores são sonhos, Galeria Reverso, Lisboa, 2013; ID. A Identidade do Desenho, Casa da Cerca, Almada, 2014; Spectrum, Galeria Reverso, Lisboa, 2014; Prometheus fecit: terra, água, mão e fogo, Museu Nacional Soares dos Reis, Porto, 2014. bhc@beatrizhortacorreia.com www.beatrizhortacorreia.com
FOTOGRAFIA | PHOTOGRAFIE | PHOTOGRAPHY Miguel Gaspar DESIGN Beatriz Horta Correia IMPRESSテグ | IMPRESSION | PRINTING M2 Artes Grテ。ficas Lisboa, 2015