Durval Baranowske
Noivos Formação para
Editora A Partilha 2011
Índice Apresentação 05 Prefácio
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Considerações sobre o matrimônio
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Antes do Matrimônio
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Aspecto psicológico do matrimônio
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Aspecto bíblico do matrimônio
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Aspecto doutrinal do matrimônio
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Primeiro Passo Segundo Passo Terceiro Passo Quarto Passo
Aspecto moral do matrimônio Durante o Matrimônio
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Aspecto litúrgico do matrimônio Após o matrimônio
48 58
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Quinto Passo Sexto Passo
Aspecto social do matrimônio
Sétimo Passo
Aspecto familiar do matrimônio Considerações finais
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Apresentação O que é mais importante: encontrar, divertir, ficar, namorar ou casar? Qual a importância de subdividir as relações humanas? Que outros recursos podem ajudar o homem e a mulher no encaminhamento de seus relacionamentos e paixões? Estes assuntos interessam diretamente àqueles que pretendem ou estão pensando em se casar, desde que a preocupação maior seja a busca da verdade sobre um gesto significativamente humano que se tornou sacramento da Igreja. Todavia, ter consciência do que é matrimônio – até mesmo pela visão da Igreja – pode ser útil naqueles momentos em que o noivo e a noiva podem voar mais alto, sobrepondo os gêneros de amor que se vive fora de um projeto de matrimônio, conduzindo os seres humanos através da leitura de um lugar, muito embora fascinante, mas cheio de emoções adversas que escondem uma prisão, uma mentira, e/ou até a perdição da pessoa. Ali, neste lugar, fora do matrimônio, tudo pode ser lúdico, narrativa e informação de uma vida descontextualizada nos seus aspectos psicológicos, bíblicos, doutrinais, morais, sociais e familiares. Interpretando, com maestria, as mazelas e as maravilhas do matrimônio, o autor nos apresenta estes sete passos de formação para noivos e casais, explicando e esclarecendo os aspectos fundamentais do casamento.
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Exorto-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, a andares de modo digno da vocação com que fostes chamados: com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros com amor. Paulo de Tarso In: Ef 4,11-12.
Prefácio Quanto aos Sete Passos para Formação de Noivos e Casais, não é necessário dizer muita coisa, visto que este conteúdo tem estado presente na vida de vários casais com que trabalhei durante 15 anos e tem sido amplamente aceito pelos mesmos. Tenho todas as razões para estar agradecido pela maneira bondosa com que noivos e casais tem acolhido este material, pelo testemunho favorável de muitos padres e pelo fato desta formação tornar-se agora livro texto destinada a curso de noivos e encontro de casais. Estas são graças que eu não previa quando comecei a estudar o tema em 1995 no seminário dos padres Premonstratenses, que não somente nos preparava para receber o sacramento da ordem, como também o sacramento do matrimônio, caso deixassemos o seminário. Agora, profundamente agradecido a Deus, espero que esta obra possa continuar sendo uma benção para muitos casais em muitas partes da Igreja de Jesus Cristo. Durval Baranowske Belo Horizonte - MG 26 de junho de 2011
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Considerações sobre o Matrimônio “Vai, come com alegria o teu pão e bebe gostosamente o teu vinho. Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias dessa existência fugaz...” Eclesiastes 9. 7,9.
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Matrimônio é um contrato entre duas pessoas sensíveis e virtuosas. Sensíveis, porque se amam e o amor é uma sensibilidade gratuita e nada é mais gratuito do que o amor. “Aos sensíveis”, diria o livro santo: “pertence o reino dos céus”. Aos sensíveis, diríamos: pertence o matrimônio. O matrimônio também pertence aos virtuosos, porque os malvados só conhecem cúmplices; os falsos, companheiros de deboche; os ambiciosos, sócios; os devassos, objetos libidinosos; os homens vulgares, amantes apenas; mas os homens e mulheres virtuosos, só eles, têm matrimônio. Que contém então esse contrato entre duas almas ternas e honestas? As suas obrigações são maiores e mais tênues, conforme o grau de sensibilidades e virtudes. Entretanto, se o amor que une dois corpos, só une os corpos e não também as almas, pode-se chamar tal união de devassidão. Se o amor for de alma e revelar sentimentos honestos, devemos aplaudi-lo; se for devassidão, somos forçados a sentir vergonha por ele. O matrimônio, desde o princípio das civilizações, foi um tema de religião e legislação. Os tebanos tinham o regimento dos amantes que incluía a união pederástica.
Sobre isso filosofa Lucrécio: “O amor é o mesmo para todos”. Tal afirmação legitimava a pederastia entre os tebanos. Enquanto aos puritanos, a ignorância, como, aliás, sempre se comete quando se fala do puritanismo, pretendeu durante muito tempo que a mulher fosse escrava e não igual ao seu marido. Entre os islamitas, Maomé reduziu a quatro o número de esposas a um homem, legislando assim a poligamia masculina entre seus religiosos. Os judeus, por muito tempo, tiveram a liberdade de possuir suas escravas e de desposar mais de uma mulher. Jacó casou-se com as duas irmãs. Abraão teve um filho com Agar, escrava de Sara, sua mulher. Davi teve dezoito esposas. Salomão chegou a ter setecentas. Atualmente, como sempre foi desde a tradição dos apóstolos, os cristãos não concedem publicamente o direito à poligamia masculina nem à feminina. Uma vez unidos os noivos, mesmo separando-se depois, de corpos e bens, não podem ter outro esposo, ou esposa. Depois do Concílio de Trento as decretais dos papas sempre tiveram por objetivo afinar o discurso da monogamia entre os casais católicos e do celibato entre os padres. Santo Afonso de Ligório criou leis para os colégios internos, que cuidam da formação de padres. A tais colégios a Igreja chamou de seminários, que são as escolas de celibatários. Uma encíclica do papa Gregório II, determinou o direito dos meninos e meninas, consagrados por seus pais ou suas comunidades à Igreja, de não contraírem matrimônio. Essa lei, que já caiu nos costumes e já não parece tão injusta, ainda é motivo de várias controvérsias. Nos dias de hoje, os grandes seminários caíram em desuso. Mas ainda existem estes seminários que bem cedo recrutam certos jovens. Entretanto, a tendência
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contemporânea está na formação de pequenas comunidades de seminaristas coordenadas por um padre reitor. Os ingressos nestas comunidades apresentam um perfil já adulto, com personalidade formada e decidida a vivenciar o celibato. Deus disse: não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliar que lhe convenha”. Daí se sabe, aliás, que o autor do Gênesis pretendeu que homem e mulher começassem a se unir, e, assim, prossegue o autor: “Disse o homem: desta vez, sim! É osso de meus ossos, e carne de minha carne! Esta se chamará mulher, isto é, a humana, porque do homem foi tirada”. Ainda o Gênesis, remetendo-nos a uma noção mais completa sobre o matrimônio, diz: “Por isso que o homem deixará pai e mãe, e se apegará à sua mulher, e serão uma só carne (Gn 2, 23-24).
Nenhum animal, além do Homem, conhece a delícia de amar. No homem o corpo é todo cheio de sensibilidades e, como os homens possuem o dom de aperfeiçoarem tudo o que a natureza lhes deu, também aperfeiçoaram o amor, mas como todo progresso das ideias traz sempre um regresso no comportamento, então o homem criou leis para o amor. Segundo vários costumes e antigos regimes, o Homem criou o amor conjugal. Para a Bíblia o homem traiu sua aliança com Deus e também o projeto de matrimônio que Deus tinha para ele e a mulher. Dentro de suas próprias leis o Homem criou o amor conjugal e os amantes passaram a ser cônjuges. Palavra estranha. Vem do verbo latino, conjugare, que significa andar junto, amarrado a alguém.
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Para os romanos, os bois que andavam juntos estavam conjugados, subjugados, amarrados um ao outro de forma que, por sua vontade, jamais poderiam se separar. Assim foi o que várias culturas e sociedades fizeram com o matrimônio entre um homem e uma mulher. Conjugaram, subjugaram, amarraram os dois em leis que não são as do amor. Na lei de Deus lê-se: “Amai-vos uns aos outros”. Na lei dos Homens escreve-se: “Amarrai-vos uns aos outros”. E assim as pessoas vão vivendo, amarrando-se umas as outras, com sentimentos mesquinhos de possessão, de inveja, de ciúmes, de desejo do desejo do outro. Escravos das relações os homens e as mulheres se relacionam com a amarração. Vigiam-se uns aos outros, punem-se, cobram-se, escravizam-se, matam-se uns aos outros, abraçados. O amor liberta, o amor aceita, o amor nada quer para si, tudo deseja para o outro. Como sempre, Jesus tinha razão: ensinou os seus discípulos a amarem como Ele os amou e não à maneira deles. E Ele amou a todos, e a mesma porção de amor que dedicou aos outros onze, também dedicou a Judas, mesmo sabendo, desde o principio, que Judas o haveria de trair. Mesmo assim, não privou Judas de seu amor, porque o amor nada quer em troca. A moral do matrimônio exige fidelidade e cumplicidade entre os noivos. A Igreja Católica não entende amor matrimonial entre mais de duas pessoas. Não entende também que o matrimônio resida em superstições, nem nos cerimoniais, e nem sequer que alguma coisa tenha em comum com interesses sociais ou econômicos. Para a Igreja o casamento é um ato de amor e liberdade, por isso é indissolúvel. Sendo assim, a moral do matrimônio, condição natural e Divina, é decisão eterna, seu juramento é para sempre e sua maior lei é a lei do amor.
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“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, se não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca passará; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá. Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos. Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor” (1 Cor. 13, 1-13).
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Antes do Matrimônio Durante a era glacial, muitos animais morriam por causa do frio. Nessa altura os porcos-espinhos resolveram juntar-se em grupos para se aquecerem e protegerem uns aos outros. Mas cada porco-espinho feria o companheiro mais próximo com os seus espinhos, os espinhos feriam justamente aquele que fornecia mais calor, ou seja, o mais próximo. Por isso tornaram a afastarem-se uns dos outros. Então voltaram a morrer congelados e precisaram fazer uma escolha: desapareceriam da face da Terra ou aceitariam os espinhos dos seus semelhantes. Decidiram voltar a ficar juntos. Aprenderam assim a conviver com as pequenas feridas que uma relação muito próxima pode causar, já que o importante era o calor do outro. Por isso os porcos-espinhos sobreviveram até os nossos dias.
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