ď ‰t Girl Novel Livro 07
infamous Garotas em Festa
Não leia o que escrevem sobre você. Meça em centímetros. — ANDY WARHOL
A missão de Jenny Humphrey neste feriado de Ação de Graças é proporcionar às amigas Tinsley e Callie um agradável fim de semana em Nova York: descanso e muitas compras. Mas quando seu pai decide convidar os amigos hare krishnas para a comemoração, as meninas não têm outra saída senão procurar um lugar menos esquisito e barulhento para ficar. É aí que entra a superfesta que a também esquisita Yvonne Stidder está dando em seu apartamento. Lá está igualmente barulhento, mas ao menos os hare krishnas foram substituídos por um monte de gatinhos.
principal sala de leitura da Biblioteca Swayer estava estranhamente silenciosa na quarta-feira à tarde antes do Dia de Ação de Graças. Brett Messerschmidt bateu a beirada de sua pilha de anotações em cartão no carvalho sulcado da imensa mesa de estudos onde estava. Livros de latim com uma tipologia elegante e cursiva se espalhavam a sua frente, como se a mochila tivesse explodido. Só alguns alunos continuavam na biblioteca, uns com bolsas estufadas aos pés, esperando que os utilitários Lexus dos pais os pegassem e os levassem para um fim de semana de peru caipira orgânico e HDTV. Desde que veio para a Waverly Academy, Brett morria de medo de voltar à espalhafatosa McMansão dos pais em Rumson, Nova Jersey, tendo concluído que cada aspecto da vida suburbana no Garden State era completamente deselegante. Talvez fosse pelo pesadelo que foi sua vida no semestre passado, mas não suportava pensar no molho de amora direto-da-lata do pai, nem na insistência da mãe em enfrentar o shopping abarrotado em Short Hills na Sexta-feira Negra. A ideia de se sentar num banco do shopping ao lado da mãe, comendo um pretzel quente e amanteigado da Auntie Anne’s, mesmo cercadas de sacolas e mais sacolas de roupas da Betsey Johnson e da Guess, fazia Brett se sentir meio tosca. O estalo da cadeira de madeira a sua frente a trouxe de volta ao presente. Encostado perigosamente em uma estante de revistas estava um rapaz alto de cabelos escuros, com uma expressão que pairava entre o tédio e a diversão. Brett semicerrou os olhos verdes e amendoados para ele, tentando vê-lo objetivamente, como se não tivesse passado as últimas quatro semanas procurando fazer com que ele decorasse Cícero — e como se ele já não fosse um tremendo pé no saco para ela. — Sebastian. — Brett enfiou uma mecha de cabelo ruivo e sedoso atrás da orelha e tentou aparentar severidade. Ela marcou hora com o cabeleireiro no sábado, grata pelo iminente fim de semana de Ação de Graças e pela chance de ir a algum lugar além do Supercuts no Rhinecliff Mall — não que alguém da Waverly realmente fosse lá. — Foco, por favor. — Quer mesmo que eu preste atenção? — Um fraco raio de sol de outono caiu no queixo de Sebastian, lembrando a Brett o quanto essa época do ano a deprimia. Quando saía de sua última aula, já estava escuro. — Talvez da próxima vez você possa usar alguma coisa mais sexy em vez de, sei lá, parecer a Sra. Birdsall. — A Sra. Birdsall era a bibliotecáriachefe, cujo uniforme consistia em um suéter de gola rulê preto e uma saia comprida de veludo, mesmo no verão. Brett o encarou. — Sou sua monitora, seu nojento, e não uma Pussycat Doll.
Ela tentou não deixar que o comentário a incomodasse, partindo de alguém que julgava se uma menina era gata pela quantidade de pele que ela mostrava. Ela sabia que estava atraente com o suéter American Apparel de gola rulê, preto e justo, e o jeans Calvin Klein preto de corte reto, com um cinto vermelho e estreito cingindo a cintura pequena. Era um visual que planejou com cuidado, caso encontrasse algum universitário da Williams ou da Bard mais tarde, no trem Metro-North indo para a Grand Central. — Você também não está lá muito concentrada — resmungou Sebastian, tocando o cabelo denso e escuro, como se quisesse ter certeza de que tinha aplicado bastante gel pela manhã. Ele tinha. — E. Qual. É. O. Problema? — Ele destacou as palavras batendo o pé da cadeira no chão e olhando nos olhos de Brett. A camisa branca de manga comprida parecia ter sido pisoteada, o contorno da camiseta branca claramente visível por baixo. — O problema — disse Brett com um suspiro, querendo pela centésima vez sacar uma navalha e decepar aquele cabelo brilhante — é que provavelmente você não vai se formar. Será um presente de Natal e tanto para mamãe e papai, não é? — Não vamos falar dos meus pais — disse ele, ajeitando-se na cadeira. Os olhos escuros, quase pretos, fitavam Brett com arrogância. — Eu vou me formar, então não fique toda irritadinha. Brett bufou. — O que o faz pensar assim? — Ela o olhou. O cheiro de Drakkar Noir permeava a área ao redor e ela apenas agradeceu pela biblioteca estar vazia. A Sra. Birdsall já trancara as portas dos andares superiores — aparentemente temerosa de que alguma coruja assanhada tentasse se entocar na biblioteca durante o fim de semana prolongado, profanando os sagrados espaços de estudo. — Porque... — Sebastian sorriu, recostando-se, revelando uma pequena lasca no incisivo inferior que sempre surpreendia Brett. Por que ele ainda não consertou esse dente? — Eu mexo com você. Brett sentiu pelo corpo uma onda de eletricidade — parte irritação, parte algo mais. — Olha aqui. Não estou fazendo isso por prazer pessoal. — Sei alguma coisa sobre seu prazer pessoal, se estiver interessada. Ele tinha sorte por não haver ninguém por perto, ou ela pegaria os livros abertos de latim e bateria nele. Com força. — I’ve got you, babe — ele começou a cantar. Estalou os dedos ao cantarolar o resto da música. Brett se obrigou a reprimir um sorriso da piada idiota. A realidade era que ele não estava levando as sessões de estudos a sério e, quer reconhecesse ou não, corria um risco verdadeiro de perder o ano na Waverly. Ela bateu as unhas cor de amora (Madame Butterfly, da Nars) no seu Mac iBook branco fechado. Ainda não tinham visto nem metade das coisas que ela queria pesquisar naquele dia. Sebastian passou a mão no rosto, parecendo tão exasperado com Brett quanto ela estava com ele. — Olha, por que não damos o fora daqui? Tomamos um café ou coisa assim, e você pode me contar o verdadeiro motivo para agir com toda essa caretice. Brett fechou bem os olhos, pensando em mil outros lugares onde poderia estar em vez de perder seu tempo na biblioteca com Sebastian. Infelizmente, aquele em que ela não queria pensar era o mais fácil de imaginar — aconchegada com Jeremiah Mortimer, seu namorado vai-e-vem, na frente de uma lareira crepitante da cabana de esqui da família dele no Colorado, bebendo chocolate quente caseiro em imensas canecas de cerâmica. Ou talvez entre partidas de Imagem & Ação, ouvindo os pais de sangue azul da Nova Inglaterra e gosto
perfeito contarem a história de como se conheceram. As imagens zombavam dela, lembretes dolorosos do que ela podia ter se fosse um pouco mais inteligente. Porque, infelizmente, graças a seu pequeno lance experimental com Kara Whalen enquanto ela e Jeremiah davam um tempo, e sua subsequente mentira a respeito disso, agora estavam permanentemente separados. O telefone de Sebastian vibrou na mesa de madeira. Ele o pegou e franziu a testa para a tela. Atendeu num sussurro baixo: — Cara, pensei ter dito para nunca mais ligar para mim. Brett cruzou os braços e olhou as revistas na prateleira atrás de Sebastian. Ficou tentada a pegar um exemplar da New Yorker para ler no trem na ida para casa, mas já comprara uma revista People na loja de conveniência na cidade e a ideia de ler sobre os problemas dos outros era muito mais atraente. Lá se foi a intenção de impressionar universitários. Antes de dar um tapa na mesa para lembrar a Sebastian de que estavam estudando e que os celulares no campus, em especial na biblioteca, eram estritamente proibidos, seu próprio celular vibrou na bolsa Zac Posen xadrez preta com uma nova mensagem de texto. Ela o pegou e se surpreendeu ao ver o nome Bree iluminado sob o envelopinho. Veria a irmã dali a algumas horas — estava louca para vestir o moletom rosa-shocking Juicy Couture e vegetar na frente do telão de TV em sua sala de mídia com Bree. E talvez falar de Jeremiah e do quanto sua vida estava uma droga. Adivinha quem vem para jantar?, dizia o texto. Brett respondeu, Quem?, embora desconfiasse da resposta antes que aparecesse na telinha: Willy. Brianna mal conseguia falar de outra coisa além do grande Willy Cooper Terceiro desde que se conheceram meses antes, enquanto estavam em mesas adjacentes na Waverly Inn. No início, Brett ficou curiosa e quis conhecê-lo, mas quanto mais Bree falava dele, mais ele parecia um bobalhão. Ele era formado em Yale, tinha MBA da Wharton, trabalhava em Wall Street para um dos maiores bancos de investimento e não tirava férias há três anos desde que chegara lá. A não ser, ao que parecia, para passar o Dia de Ação de Graças com os Messerschmidt. Brett esperava que ele não se importasse de se sentar no sofá e ver maratonas da MTV o dia todo. O telefone vibrou novamente. E os pais dele. Brett olhou as quatro palavras com o estômago arriando no chão. Parece que ela realmente ia dividir Bree neste fim de semana. Brett queria responder, De Greenwich até aí?, mas resistiu. Em vez disso, fechou o telefone, olhando Sebastian, que ainda ria alto ao celular, distraído do fato de que a Sra. Birdsall os fuzilava com os olhos da mesa da recepção. Brett bateu num relógio invisível no pulso e esbugalhou os olhos para ele. Sebastian ergueu um dedo e assentiu. — Até mais, cara. — Ele fechou o telefone, largando-o no bolso da mochila a seus pés. — Desculpe. Era importante. — É, parecia importante mesmo — disse ela com rispidez, arrancando uma lista de vocábulos de seu caderno de espiral e empurrando para Sebastian. — Ei, você também estava ao telefone — ele retrucou com raiva, pegando o papel. — É, esperando que você desligasse o seu. — Brett ficou agradecida por repreender Sebastian, porque podia fazer isso no piloto automático. Impedia que as lágrimas de frustração brotassem de seus olhos. Ia mesmo ter estranhos invadindo sua casa no feriado de Ação de Graças? Se havia um ano em que precisava de alguma tranquilidade para se refazer, era este. Agora, se quisesse ter alguma paz, teria de se entocar no quarto com alguns DVDs. Brett se imaginou de pernas cruzadas sob o edredom, a neve cobrindo Nova Jersey enquanto ela comia o jantar de Ação de Graças num prato no colo, metendo o garfo num pedaço frio de peru gorduroso e passando-o no purê de batatas com cheddar da mãe, enquanto ouvia ao longe a discussão do mercado de ações que rolava na sala de jantar.
A Sra. Birdsall apagou uma série de luzes fluorescentes e metade da biblioteca ficou às escuras. Brett olhou o relógio na parede e saltou da cadeira. — Merda — murmurou, enfiando freneticamente os cadernos na bolsa e vestindo o casaco DKNY preto e curto. Como podia ter ficado tão tarde? Todo o projeto de salvar Sebastian estava condenado desde o início, então por que manter essa farsa? — Vou me atrasar para meu trem. Você que estude sozinho. — Feliz Dia de Ação de Graças, tá? — disse ele quando Brett já estava de costas. Ela passou o cachecol xadrez amarelo L.A.M.B. no pescoço e colocou as luvas de couro preto. Abriu as portas duplas da biblioteca e saiu na tarde cheia de neve, ao escurecer, absorta demais com terríveis visões dos Cooper de Greenwich para se despedir.
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RyanReynolds: Eu vi vc saindo de uma porcaria de Fiat? WTF? BennyCunningham: Acho que papai está com crise de meia-idade. Sacou a peruca? RyanReynolds: Vi essa peruca do outro lado do parque! Vc sabe o que vem agora? Uma nova Mamãezinha Querida. BennyCunningham: Não, eles querem o melhor para os filhos. Além disso, eles têm um acordo. RyanReynolds: O que quer dizer que todo mundo vai levar namorado no feriado? BennyCunningham: Vc entendeu. RyanReynolds: Posso ir? BennyCunningham: Você não ia conseguir lidar com a gente. Tatá!
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LonBaruzza: Alguém tem um osso da sorte? Eu tenho um desejo incrível. AlanStGirard: O que é? LonBaruzza: Agora, na estação de trem, vendo Tinsley, Callie e Jenny reunidas no frio... Queria que elas estivessem nuas... AlanStGirard: Seria uma visão e tanto. Kd a Brett? Precisa de uma ruivinha aí para ficar completo. LonBaruzza: O que mais gosto nessas meninas é que a qualquer hora elas podem sair no tapa. AlanStGirard: Se rolar, tira uma foto, brother. Bom feriado!
crepúsculo azul pendia sobre a estação lotada do Metro-North. A plataforma estava repleta de alunos da Waverly carregando bolsas de viagem cheias de roupa para lavar, ansiosos para pegar o último trem de Rhinecliff para a cidade — e para longe das pressões da Waverly Academy por alguns dias preciosos e curtos. Jenny Humphrey deixou no chão a abarrotada bolsa de viagem L.L. Bean cor-de-rosa, ao lado de Tinsley Carmichael e Callie Vernon, cujas figuras magras estavam cobertas por grossos casacos de lã, enquanto acampavam em um dos poucos bancos sob o toldo da estação, as bolsas Louis Vuitton e Prada espalhadas a seus pés. — Ainda não veio? — choramingou Callie para Jenny antes de enfiar o queixo em sua pashmina azul-bebê. De gorro de tricô azul e luvas da mesma cor, parecia uma coelhinha da neve patricinha. — Vou morrer congelada. Tinsley abraçou Callie, apertando seu ombro esquerdo com uma das mãos cobertas pelas luvas para dirigir forradas de pele. — Se não morreu congelada nos bosques do Maine, não vai morrer congelada na plataforma de trem de Rhinecliff — debochou Tinsley carinhosamente, espanando flocos de neve de seu sobretudo Chanel vintage, cinza e acinturado. — Eu posso morrer mesmo. — Callie fungou, os lábios bonitos retorcidos numa careta de desespero que estava ali desde que Easy Walsh, o amor de sua vida, foi expulso da Waverly — para sempre. Como um cavaleiro em sua armadura prateada, ele alugou um avião e foi resgatá-la das instalações de reabilitação/campo de treinamento no Maine para onde sua mãe a banira. O heroísmo de Easy e a felicidade dos dois não duraram muito tempo. O reitor Marymount estava lá quando saíram do avião no aeroporto de Rhinecliff, esperando para dizer a Easy que ele violara a condicional ao sair do campus. Expulsou Easy de imediato. — É como se nunca mais eu fosse ver meu namorado de novo. Infeliz, Callie se remexeu no banco. Era tão ridículo — ele tinha quebrado as regras para salvar a vida dela, e não para, tipo assim, fumar maconha e jogar Xbox. O reitor Marymount podia ter sido um pouco mais solidário, mas não, teve de ser o fodão e provar ao mundo que era ele quem mandava. E por que o pai de Easy teve de matriculá-lo num colégio militar super-rigoroso em algum lugar do Tennessee ou da Virgínia Ocidental ou outro estado de caipiras? Easy estava em confinamento total, já que a escola não permitia telefonemas nem e-mails. Chegou aos ouvidos dela que ele agora era um cadete de Blue Ridge, mas era só o que ela sabia. Era como se as pessoas relutassem em falar o nome dele desde que desaparecera. Todos os seus telefonemas e torpedos ficaram sem resposta, até que por fim ela recebeu uma mensagem dizendo que a caixa postal dele estava lotada. O e-mail dele da Waverly foi cancelado e a conta no Yahoo! foi encerrada. Os e-mails desesperados de Callie
de cadê você? voltavam imediatamente depois de ela clicar em enviar, as pavorosas respostas automáticas se acumulando em sua caixa de entrada por semanas antes de ela ter coragem de deletá-las. Callie tinha medo porque não tinha a menor ideia de como eram os dias de Easy por lá. Ou se ele pensava nela. Durante a viagem de avião de volta do Maine tudo parecia tão perfeito — seu Príncipe Encantado realmente foi salvá-la. Mas seu estômago embrulhava só de pensar em como o reitor Marymount tenha sido horrível parado ali na pista, ansiando pela chance de desfazer o felizes-para-sempre dos dois. — Ânimo — pediu Jenny, esfregando as luvas de algodão listrado Gap como se tentasse criar fogo. — Você está de folga, lembra? Jenny estava linda e feliz, como sempre, de pé ali com o casaco vermelho mínimo e as luvas. Sua colega de quarto, Callie, sempre se maravilhava que ela conseguisse manter o nível de energia em “alegrinha” sem um suprimento constante de café expresso nas veias. — Tudo bem, vou tentar. Só que dizem que a Ação de Graças é o pior feriado para se viajar, e vou ficar brigando com multidões de rabugentos de feriadão no JFK. Callie colocou os dedos nas têmporas, já exausta só de pensar na viagem que tinha pela frente: trem até a Grand Central, táxi ao JFK, avião a Atlanta, só para ter de fazer o caminho inverso dias depois. Ela odiava o Dia de Ação de Graças. Só mais uma desculpa para a mãe arrastá-la de volta ao Sul e bancar a Martha Stewart e tentar enchê-la de biscoitos e molho de peru, tudo cheio de gordura. E depois de toda a história de enviá-la-por-acidente-àreabilitação-e-quase-matá-la, toda a viagem parecia tão atraente como um prato de ração para cachorro. Tinsley ergueu uma sobrancelha para Jenny, revirando os olhos violeta num gesto de conspiração. Jenny piscou para Tinsley, depois se virou para Callie. — Pelo menos ela gastou na primeira classe para você — observou Jenny, ainda tentando animar Callie. Ela nunca viajara de primeira classe na vida e imaginou que seria um paraíso. Jenny chutou um montinho de neve no chão e olhou os trilhos de novo. Ainda era quase impossível acreditar que Tinsley Carmichael pudesse lhe lançar algo além de olhares fatais. Ou que ela própria estivesse tentando animar Callie. Afinal, só umas semanas antes, Tinsley e Callie tramaram para que Jenny levasse a culpa pelo incêndio que destruiu o celeiro da fazenda dos Miller — e deu certo, Jenny encarou a expulsão. Mas desde então tudo mudou. Sem que Jenny soubesse, Callie pagou a Sra. Miller para colocar a culpa pelo incêndio nas vacas, e não num aluno descuidado da Waverly. A mãe de Callie, pensando que o cheque imenso que Callie pediu tinha algo a ver com um problema com drogas, despachou Callie para a reabilitação no Maine. Assim que Jenny descobriu o canhoto do cheque na gaveta da cômoda da colega de quarto, percebeu que sua salvação não foi Drew, o gato do último ano que ela andou beijando, mas sua colega de quarto. Então Jenny correu até Tinsley, que tinha acabado de receber um e-mail frenético de Callie implorando que alguém a salvasse de seu inferno na reabilitação, e as duas pegaram emprestado o carro de Sebastian, colega de quarto de Drew. Carro que, infelizmente, morreu na estrada do Maine antes de conseguirem chegar a Callie. Jenny e Tinsley foram obrigadas a passar a noite juntinhas para se aquecerem — não era exatamente uma coisa que Jenny imaginara poder ter algum resultado positivo. Mas naquela primeira manhã, quando acordaram e descobriram que estavam estacionadas nos limites de um country club o tempo todo, Tinsley insistira em pagar um café da manhã gourmet para as duas, de omeletes de ovos brancos e suco de grapefruit fresco.
E as coisas foram diferentes desde então. Ainda não eram amigas, não exatamente, mas o que quer que fossem, Jenny ia aceitar. Tinsley jogou a cabeça para trás, o cabelo comprido e quase preto ajeitando-se teatralmente sobre o casaco cinza. Recostou-se no banco e esticou as longas pernas, cruzando as botas pretas Sigerson Morrison na altura dos tornozelos. — Cal, meu bem, você precisa seriamente transar. Callie soltou um gritinho e colocou as mãos nos ouvidos. — Nem acredito que você acabou de dizer isso. Tinsley lançou outro olhar a Jenny, que sorriu. Ela estava apenas... feliz. As últimas semanas não foram exatamente fáceis para ela, depois de saber que Drew, o cara por quem estava completamente apaixonada, tentara enganá-la totalmente deixando que acreditasse — e até dizendo a ela — que foi ele que a salvou da expulsão. Mas era tudo mentira — Callie é que a havia salvado, Drew só estava tentando, bem, usá-la. Jenny tentou evitá-lo ao máximo, mas a Waverly era uma escola pequena e sempre que ela via um cara de jaqueta de lacrosse, virava e ia para o outro lado — e rápido. O bom nisso tudo é que ela agora tinha um apreço renovado por Callie, sua verdadeira salvadora. Jenny e Callie passaram muitas noites na sala de estar do segundo andar, de pijama, comendo pipoca e vendo filmes da ampla coleção do Dumbarton Hall. Às vezes Tinsley até se juntava a elas, zombando de suas preferências de mulherzinha, embora Jenny tivesse a sensação de que ela no fundo gostava mais de uma boa comédia romântica piegas do que dos filmes estrangeiros em preto e branco que ela sempre escolhia. — Estou louca para comer peru — disse Jenny, olhando sonhadoramente o vazio. Ia voltar para casa, para Nova York, para seu pai, para seu apartamento enorme no Upper West Side com o teto superalto e a tinta descascando. O feriado de Ação de Graças significava manhãs confortáveis no sofá, vasculhando os discos velhos no toca-discos vintage do pai enquanto o irmão, Dan, passava o dia todo na espreguiçadeira de couro remendado lendo um livro grosso. Ela estava chateada por Dan não poder ir este ano — ele decidiu construir casas em Spokane com a Habitat for Humanity —, mas ele prometeu que compensaria no Natal. — Estou louca para ver nossa casa de novo. — Tinsley apertou o joelho magro de Callie numa tentativa de distraí-la de seus pensamentos depressivos. — Ficaram reformando o apartamento por meses, tentando preparar tudo para meu feriado. — Ela passou as últimas semanas imaginando as melhorias na cobertura revestida de carvalho dos pais em Gramercy Park. Esperava que não tivessem tocado no lustre da biblioteca, que a fazia pensar em uma cascata de diamantes caindo sobre ela quando se sentava embaixo dele. O Dia de Ação de Graças dos Carmichael sempre era um acontecimento. Nos anos anteriores ela conheceu pintores, modelos, artistas e escritores, inclusive Sofia Coppola, que apareceu num dia de Ação de Graças com um lindo modelo, anos mais novo do que ela. Fez com que Tinsley quisesse ser uma cineasta famosa um dia. Tinsley não confessaria isso a ninguém, mas sentia falta dos pais. Estava louca para ficar a manhã toda deitada na cama queen-size, sentindo o cheiro de peru invadindo o quarto, antes de se arrastar para fora para ajudar a mãe e Judit, a cozinheira, a encher os bowls Limoges com deliciosos vegetais assados e queijos gourmet. Depois iria para o banheiro — aimeuDeus, um banheiro só dela de novo! — e se encheria de mimos, e finalmente colocaria, recém-banhada e esfoliada, o vestido verde-escuro Missoni parecido com o que Keira Knightly usou em Desejo e reparação. Ela beberia vinho com os adultos e talvez um deles tivesse levado o filho jovem e sexy, de Stanford, para Tinsley se entreter depois que os adultos ficassem tediosos. Sim, seria um feriado perfeito.
Um ronco ao longe colocou todo mundo de pé. Cigarros foram apagados sob sapatos de salto e o ar se encheu da tagarelice animada e das despedidas de último minuto. Apressadas, Tinsley e Callie pegaram as bolsas e as três garotas foram juntas para a beira da plataforma. O trem parou com um guincho na estação enquanto todos se acotovelavam perto das portas. — Não posso viajar de costas! — gritou alguém desesperadamente, fazendo com que as três rissem. As portas se abriram com um silvo e Jenny, Tinsley e Callie embarcaram. — Peraí, cadê a Brett? — perguntou Jenny, olhando por sobre o ombro o mundo de gente que empurrava para entrar no trem, — Ela vai pegar esse? — perguntou Tinsley, os olhos semicerrando-se. Ela deixou que Jenny subisse em seu conceito, mas Brett era outra história. Sua colega de quarto rabugenta só ficou mais rabugenta desde que Jeremiah a largara depois de descobrir que ela tinha sido uma lésbica temporária, e mesmo que Tinsley sentisse um pouco de pena da ex-amiga, Brett não fazia o menor esforço para se entender com ela. Callie inclinou-se para trás, procurando a cabine. — Eu a vi na biblioteca com Sebastian mais cedo. — Ela vai perder o trem — disse Jenny, o alarme encobrindo seu rosto. — Peguem aqueles quatro lugares — instruiu Tinsley, apontando um quadrado livre de assentos no meio do trem. — Ei, esses são nossos — exclamou ela a dois calouros magrelos que ficaram paralisados no corredor. Ao ver Tinsley, deram cordialmente um passo para o lado. — Obrigada, meninos. — Ela lhes lançou um sorriso agradecido por sobre o ombro enquanto colocava a bolsa no bagageiro e deslizava para o assento na janela. Callie se sentou de frente para ela. Jenny se sentou no banco do corredor e olhou em volta, esperando achar uma Brett esgotada disparando pelo corredor a qualquer momento. Em vez de Brett ela viu Drew, com seu cabelo cor de areia, que entrou no trem com alguns meninos do último ano, todos rindo de alguma coisa. De imediato, o estômago de Jenny embrulhou. É claro que estavam falando dela e de como Drew quase a convenceu a perder a virgindade com ele. — Não me diga que também não pode viajar de costas — disse Tinsley, os olhos focalizados na súbita palidez de Jenny. Jenny balançou a cabeça, tirou o gorro e soltou o rabo de cavalo, sacudindo os cachos longos e passando o elástico no pulso. Expirou alto e meteu o gorro no bolso. — Não é nada. Tinsley tirou o casaco, deixando que caísse no banco vazio ao lado. Cruzou os braços. — Não me parece um nada. — Eu o vi também. — Callie dobrou o cachecol e o enfiou, como um travesseiro, entre a cabeça e a janela. — Drew. A menção do nome dele provocou um arrepio pelo corpo de Jenny e ela cravou as unhas nas palmas das mãos para não chorar. Não sabia o que a magoava mais: as mentiras de Drew, ou o fato de que quase cedera a ele sem questionar. — Alguém espalhou o boato de que ele tem DST — disse Tinsley com malícia e um sorriso na cara. — Isso do cara que... Jenny deu uma gargalhada. — Para com isso. — Jenny podia contar em uma das mãos as vezes em que viu Tinsley sorrir e se perguntou se ela sabia que ficava ainda mais bonita assim. — Sabe qual é o seu problema? — perguntou Tinsley, mexendo na delicada argola de prata que pendia da orelha.
— Não, mas tenho a sensação de que vai me dizer. — Jenny recostou-se na cadeira, surpresa por poder brincar com Tinsley sem se preocupar com revides. Callie riu. Tinsley torceu o nariz e mostrou a língua a Jenny, conseguindo continuar glamourosa mesmo assim. — Você se apaixona por caras que mal conhece e transforma tudo numa grande história dramática de amor, como se estivesse numa porcaria de filme. — Ela tornou a cruzar as pernas, alisando os jeans Earl escuros. — Eu... — começou Jenny, a mente em disparada. Easy Walsh. Julian McCarfferty. Drew Gately. Ela pensou que todos eram seu verdadeiro amor — e olha onde estava agora. Ela até quase se apaixonou por Heath Ferro — em sua primeira noite na Waverly. Heath? Eca! Tinsley examinou as unhas com esmalte, procurando imperfeições imaginárias. — Você precisa relaxar, garota. Divirta-se. Não leve tudo tão a sério. Quero dizer, você não está pensando em se casar, está? — Seus olhos violeta encontraram os castanhos e grandes de Jenny. — Ou está? — acrescentou ela, com malícia. Callie, já cabeceando de sono ao lado de Tinsley, gargalhou. Jenny corou. — Para você, é fácil falar — retrucou. — Você nunca se apaixonou. Uma sombra atravessou o rosto de Tinsley. Ela tombou a cabeça de lado e franziu a testa. Jenny se preocupou por um momento que ela fosse dar o bote como uma cascavel, rápida e mortal. — Não é? Jenny esperou por uma resposta mordaz, mas Tinsley não disse mais nada, encarando a janela do trem, embaçada por muitos corpos em um espaço tão pequeno. Jenny ouviu tantos boatos sobre Tinsley que não sabia se acreditava em todos ou em nenhum. Nos momentos em que odiava Tinsley, estava convencida de que a garota tinha dormido com a maioria dos professores, bem como com todos os caras da Waverly e das escolas vizinhas, como a St. Lucius. Mas sabia que isso era só para se sentir melhor com suas próprias ficadas constrangedoras. A expressão de mágoa de Tinsley incitou a imaginação de Jenny — será que Tinsley Carmichael realmente se apaixonou? Se for verdade... Por quem? Jenny se acomodou em seu banco, pegando o iPod mini no bolso. Bem, pensou ela, tudo era possível.
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VerenaArneval: E aí, vai sentir falta do Alan no feriado? AlisonQuentin: Hummm, estamos dando um tempo, então... NÃO. VerenaArneval: O quê? Não recebi essa notícia. AlisonQuentin: Foi só ontem. Parece que a ex dele também vai para a casa no feriado, e quer se encontrar com ele e fumar uns baseados. VerenaArneval: E daí? Alan é maconheiro. Grande coisa. AlisonQuentin: É... Mas eu sei o que o Alan gosta de fazer quando tá chapado. VerenaArneval: Então por que vai sair no feriado? Isso não é dar permissão a ele para fazer isso? AlisonQuentin: Não se ele quiser falar comigo de novo!
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De: exmagov@gmail.com Para: CallieVernon@waverly.edu Data: Quarta-feira, 27 de novembro, 15:15h Assunto: Re: Dados do voo Ent達o n達o se esque巽a de que nos veremos logo, meu amor. Vamos conversar. Bjs mam達e. Quarta-feira, 27 de novembro Partida 20:15h Nova York (JFK) Voo 399 sem escala da Delta para Atlanta (ATL)
randon Buchanan tentou enfiar o último frasco de gel para barbear Acqua di Parma na estufada bolsa de viagem de couro surrado John Varvatos, mas o zíper não fechava. Heath Ferro, com quem tinha o azar de dividir um quarto pelos últimos dois anos, manteve-o acordado por metade da noite com sua tagarelice incoerente de bêbado sobre o quanto ele odiava o Dia de Ação de Graças, até que Brandon se manifestou: — Agradeceria se alguém calasse a porra da boca. Heath entendeu isso como um convite para listar todas as coisas pela quais ele era grato, começando pelos biquínis fio dental, indo até os palitinhos de queijo. Mas, de qualquer forma, Brandon não conseguira dormir. Estava morrendo de medo do feriado de Ação de Graças. Para falar com franqueza, morria de medo de todos os feriados — ter de pegar o trem para Connecticut, até a casa sem alma de seu pai, da má-drasta e dos dois meios-irmãos gêmeos incrivelmente irritantes que, a essa altura, aprenderam a andar e tropeçavam pela casa, puxando gavetas de prataria e derrubando estantes enquanto a madrasta arrulhava sobre a inteligência deles. Mas desta vez era ainda mais difícil ir embora porque ele iria sem Sage Francis, sua namorada há um mês. Nos últimos dias ele devaneou com cenários que incluíam os dois entrando num avião para passar o feriado em Paris ou indo de jatinho até a casa de inverno de seus pais na Flórida, em West Palm Beach, para um feriado ensolarado. Mas era tarde demais para heroísmos de última hora — todos os voos estavam lotados. Uma batida na porta o assustou — a essa altura o Richards Hall estava quase vazio —, e ele levantou a cabeça, vendo Sage em pessoa na soleira da porta, com um novo casaco de lã verde acinturado, o cabelo louro e sedoso numa trança francesa que o afastava do rosto, com alguns fios soltos de um jeito glamouroso. O alto da cabeça estava coberto por flocos de neve se derretendo. — Oi — disse ele, e imediatamente se sentiu dez vezes melhor. — Desculpe pela bagunça. — É o lado do Heath que está uma bagunça — observou Sage, os grandes olhos azuis da cor do mar vendo uma cueca boxer Calvin Klein cinza de Heath pendurada em uma pilha de livros no canto da mesa. — O seu sempre está... imaculado. Parece que tem uma fronteira no meio do quarto ou coisa assim. — Vou tomar isso como um elogio. — Brandon tocou de leve a cintura de Sage, passando os dedos no tecido do casaco novo. — Gostei desse. É Michael Kors? — Como é que você... — Sage meneou a cabeça, interrompendo-se. Seus olhos percorreram o quarto como se procurassem alguma coisa. — Deixa pra lá. Você sempre sabe. Brandon hesitou, perguntando-se se era hora de lhe dar o presentinho de despedida. Ela parecia meio... irritada com ele, embora tivessem ficado juntos até o toque de recolher na
noite anterior, sentados em um dos sofás do Maxwell, reclamando de suas famílias. Devia ser porque ela estava nervosa, afinal ia ficar com a irmã mais velha no feriado. A irmã que Sage reclamava que sempre foi a bonita e inteligente da família (Brandon achou isso difícil de acreditar). Mas Sage não estava aliviada por ter um namorado que realmente gostava de ouvir o que ela pensava e não tentava transar com ela o tempo todo? — Tem espaço para isso? — disse ele colocando a mão por baixo do travesseiro para pegar um pacote pequeno, embrulhado em jornal. Brandon sabia que embrulhar o presente era demais, mas esperava que o fato de estar em jornal negasse a cafonice do gesto. Sage se encostou no batente da porta, tombando um pouco a cabeça de lado. — Depende do que for — disse ela com malícia. Brandon estendeu o pacotinho de jornal para ela e, depois de olhá-lo por um minuto, Sage o pegou. Rasgou a beirada do jornal e espiou o que havia dentro. — Abra — estimulou Brandon. — É só uma coisinha, assim você vai saber que estou pensando em você. — Ele sentiu o calor subir ao rosto. Nas últimas semanas, deixara bilhetes carinhosos na caixa de correio de Sage, tinha entrado furtivamente no Dumbarton para deixar uma única rosa em sua porta pelo aniversário de um mês, a levara ao penhasco para ficar de mãos dadas e ver o sol nascer. — Lembro de um garoto no ensino fundamental que uma vez embrulhou a tartaruga de estimação dele e deu à menina de quem gostava — disse Sage com desconfiança. — É melhor que não seja uma tartaruga. Que coisa esquisita de se dizer, pensou Brandon. — Humm, eu nem saberia onde achar uma tartaruga — disse, perguntando-se se Sage tinha alguma fobia incomum de répteis. — Espero que seja do seu tamanho — continuou ele, sentando-se na beira da mesa e alisando o suéter Armani. Sage rasgou o papel e segurou a pequena caixa de joias na palma da mão. Uma expressão de pavor atravessou o rosto dela e o medo o dominou. — Mas o que você fez? — perguntou Sage, em pânico. Brandon andou até ela e abriu a tampa da caixa, erguendo o colar de balas e abrindo-o para que Sage o colocasse. Ele se lembrou de Sage dizendo que adorava colares de balas quando estava no fundamental, mas que era triste não ter achado nenhum com seu nome, como as outras meninas tinham. Brandon vasculhou a internet atrás de uma empresa que gravasse SAGE da noite para o dia, e não saiu nada barato. — Tem seu nome nele. — Caramba. — Sage recuou um pouco, tocando a têmpora com as unhas rosa e lascadas. — Isso é... — Sua voz falhou. — O quê? — perguntou Brandon, afagando o queixo, preocupado. Ele deu um passo na direção dela, sentindo o cheiro do leave-in hidratante Frédéric Fekkai que ela borrifara no cabelo. — Tem alergia a balas? — Ele procurou na memória qualquer menção a alergias — aspirina, talvez, mas não colares baratos de balas. Sage tocou o colar e correu os dedos por ele, examinando as letrinhas gravadas nas balas. — Não, isso é mesmo muito doce. Encorajado, Brandon colocou a mão no quadril de Sage, o casaco frio sob sua pele. — É só uma coisa, sabe como é, para você se lembrar de mim. — A ideia de ficar sem ela por quatro dias lhe dava vontade de agarrá-la e colocar a boca na dela, mas ele se controlou. — Achei que você podia guardar as duas últimas e podemos comer quando voltarmos.
Os olhos de Sage se fixaram nas pontas das botas de hipismo de couro brilhante Elie Tahari. — Humm, tá, combinado. — Mas antes que Brandon pudesse dizer alguma coisa, Sage levantou a cabeça com os olhos subitamente cheios de confusão. — Não, peraí. Na verdade, não. É doce demais. O encanamento estremeceu nas paredes e soltou um estalo alto. O coração de Brandon foi ao chão. Doce demais. Ele desabou involuntariamente na cama bem-feita. — Como assim? Sage cerrou os lábios finos. — Acho que não posso mais continuar saindo com você — soltou ela. — Por causa de um colar de balas idiota? — Não, Brandon — disse Sage gentilmente, e Brandon se sentiu ainda pior por ela tentar não ter pena dele. — Não é por causa do colar. Eu vim aqui meio que sabendo que tinha que terminar com você. — E por quê? — Brandon gemeu. — As coisas estão tão... — Você é doce demais, Brandon. — Os brincos de pingente de Sage puxavam os lóbulos das orelhas para baixo, algo que ele sempre percebeu. Ele já havia reservado um par de brincos de diamante na Tiffany para lhe dar de Natal. Ainda bem que não fez o depósito. — Tudo o que você faz é superprestativo e superdoce. Você é meio... assim... sei lá... feminino demais. — Feminino? — Brandon se levantou. Ele sabia que feminino era código para uma coisa: gay. — Porque tento fazer coisas legais para você? Como isso podia estar acontecendo de novo? Parecia uma reprise do pesadelo de Callie largando-o; só que pelo menos Sage era cortês ao ponto de lhe falar em vez de se agarrar com Easy Walsh em público para dar a entender que a relação tinha acabado. — Você é sentimental demais. Eu já tenho muitas amigas, entendeu? — Ela chutou a mala dele, agitando os produtos de toalete dentro dela. — O que uma garota quer é um cara que não tire as mãos dela, que de uma hora para outra a jogue no chão e acabe com ela. Você é louca, Brandon queria gritar, mas na verdade não estava com vontade nenhuma. — Acho que sou cavalheiro demais para fazer o gênero demolidor. — Sua voz não saiu com a frieza que ele queria — mais parecia um gemido. Sage olhou nos olhos de Brandon pela primeira vez desde que entrou no quarto. — Acho que o problema é esse. — Antes que ele entendesse o que estava acontecendo, Sage avançou para ele e plantou um beijo em seu rosto. — Feliz Dia de Ação de Graças, tá? Tá. Até parece que isso ia acontecer agora.
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De: ReitorMarymount@waverly.edu Para: Corpo Estudantil Data: Quarta-feira, 27 de novembro, 16:45h Assunto: Refeição de Ação de Graças Caros alunos, Desejo-lhes um feriado de Ação de Graças seguro e feliz. Para todos os nossos alunos estrangeiros sem planos para os feriados, o Salão de Jantar da Waverly abrirá em seu horário normal, com um cardápio limitado. A talentosa equipe do Salão de Jantar também dará um banquete especial e culturalmente diversificado de Ação de Graças amanhã, das 17:00 às 18:30h. Eu e vários de seus professores preferidos estaremos neste jantar e ansiamos por uma conversa instigante sobre a história do nosso país e o que significa dar graças. Desejo-lhes um bom intervalo de suas responsabilidades escolares. Atenciosamente, Reitor Marymount
enny via o rio Hudson correr pela janela ao se aproximarem da cidade, seus olhos pesados de sono. Na janela, o reflexo de Callie e Tinsley estava imóvel, a conversa das duas silenciada pelo ruído tranquilizador do trem que seguia para o sul. O alvoroço dos primeiros minutos no trem esmoreceu rapidamente quando todos ligaram seus iPods ou pegaram os Blackberries, enviando furiosamente torpedos sobre os planos de fim de semana. Jenny fechou os olhos, ainda se perguntando quem seria o amor perdido de Tinsley. Eric Dalton? O jovem e sexy professor da Brown que ela afastou de Brett e que a própria mais tarde conseguiu que fosse demitido da Waverly? Parecia improvável — Tinsley tratou a coisa toda como uma piada, outra marca em seu cinto de couro Prada. — Ei, meninas! — cantarolou uma voz ofegante com um leve sotaque britânico. Antes de abrir os olhos, Jenny sabia que Yvonne Stidder, uma bobalhona do primeiro andar do Dumbarton, estava parada acima delas. Ela era bem legal, mas sempre que falava, Jenny tinha a sensação de que Yvonne a estava sugando ou coisa assim. — Têm algum plano grande e excitante para o feriado? Tinsley abriu apenas um olho e olhou friamente a loura com cara de passarinho. — Excelente pergunta. — Ela fechou o olho de novo, os cílios longos e grossos fazendo sombras no rosto. — Na verdade, não. — Jenny se sentia mal por Yvonne, mas também não queria exatamente andar pela Columbus Avenue com ela. Ainda assim, não seria grosseira. — Só estou louca para chegar na minha casa. Yvonne sorriu, os olhos claros cheios de uma gratidão que deixou Jenny pouco à vontade. O trem balançou e Yvonne se segurou no encosto da cadeira de Callie. Callie encarou Yvonne como se não conseguisse imaginar por que estava falando com ela. — Porque, se não tiverem planos para esta noite — continuou Yvonne impávida, empurrando para cima os óculos com aro de metal —, estão totalmente convidadas para minha festa de Ação de Graças. — Ela observou Tinsley e Callie, para ver sua reação, e então, sem ter recebido nenhuma, virou-se para Jenny. — Na esquina da 80 com a Park. Procure o toldo verde. Número sete. Às nove horas. Callie fingiu mexer na bolsa Lanvin laranja queimado, o que — Jenny sabia — significava que ela tentava não rir de Yvonne. Ela olhou para cima por um breve segundo, os olhos castanhos varrendo a calça de veludo cotelê chocolate e curta demais de Yvonne e o suéter laranja Ralph Lauren com o emblema azul de polo no peito. — Se meu avião atrasar, talvez. — É. — Jenny aproveitou a deixa. — Se meu pai não tiver nada para esta noite, eu dou uma passada por lá. — Demais. — Yvonne sorriu para Jenny, colorindo o rosto pálido. — Vejo vocês lá. Espalhem por aí. — Yvonne andou pelo corredor, parando no grupo seguinte de alunas da Waverly.
— Dez Coisas que Prefiro Fazer Hoje à Noite a Ir à Casa de Yvonne Stidder. — Tinsley se recostou no banco e sorriu maliciosamente. — Número dez: comer um peru vivo, com penas e tudo. Callie riu e pegou um tubo de Lip Glaze com Guava da Stila na bolsa e passou nos lábios. — Número nove: passar o Dia de Ação de Graças com o reitor Marymount. Jogando Twister. Sem roupa nenhuma. Jenny riu. — Você ou ele? Tinsley abriu a boca para responder quando seu Nokia tocou no bolso do casaco. — Caixa postal... Alguém deve ter ligado quando estávamos no túnel. — Ela abriu o celular e ouviu o recado com a testa meio franzida. — É minha mãe. — No meio do recado seu queixo caiu, e Jenny e Callie trocaram olhares preocupados, preparando-se para uma Tinsley Carmichael ensandecida. — Não dá para acreditar — vociferou Tinsley depois de fechar o celular. — O que foi? — perguntou Callie, com cautela. — Não tem peru de tofu esse ano? — A droga do piso da porcaria do apartamento precisa de outra camada de poliuretano ou uma merda dessas. — Tinsley balançou a cabeça, assombrada, parecendo mais perdida do que Jenny já vira. — Então eles decidiram ir para a merda de St. Barts. Vão passar o feriado lá! As três ficaram em silêncio por um momento, Jenny se perguntando que tipo de pais vai para St. Barts e só avisa à filha na última hora. — Olha, acho que podemos arrumar outra passagem para Atlanta — propôs Callie, meio de brincadeira. — Sua presença tornaria um jantar de Estado muito mais suportável. Os lábios de Tinsley formaram um biquinho delicado. — Obrigada, mas não quero desembrulhar meu vestido de debutante. Callie franziu o cenho. — Dá pra você ficar no apartamento, ou ele está, tipo assim, de quarentena? — Eles querem que eu fique num hotel — suspirou Tinsley, revirando os olhos. Seu rosto rapidamente se compôs numa expressão típica e levemente entediada, mas Jenny sabia que ela estava aborrecida com toda a história. — Algo me diz que o cartão AmEx de papai vai pagar pelo jantar de Ação de Graças mais caro que o Soho Grand já serviu. Embora fosse divertido passar o fim de semana num hotel de luxo, Jenny não conseguia imaginar passar o Dia de Ação de Graças assim. Sozinha. — Venha pra minha casa — disse ela por impulso, inclinando-se para a frente e colocando a mão no joelho de Tinsley. — Só vamos ficar meu pai e eu, e vai ser bom ter mais alguém com quem conversar. Tinsley virava o celular na palma da mão, pensando. Ela torceu os lábios. — Não vai atrapalhar? — Ah, francamente. Rufus adora minhas amigas altas e charmosas! — disse Jenny, sorrindo. — Não pode ficar sozinha no Dia de Ação de Graças. Ela se encolheu ao pensar no pai dançando na manhã seguinte de roupão com estampa havaiana, cantando músicas dos Beach Boys enquanto fazia a torrada. Ou Tinsley acharia incrivelmente cativante — ou pra lá de irritante. Jenny teve a sensação enjoativa de que podia ser a última opção. Callie vasculhou a bolsa, desligando-se da conversa de Tinsley e Jenny, entrando em pânico de repente por achar que tinha esquecido a passagem de avião. Era estranho que Tinsley e Jenny passassem o feriado de Ação de Graças juntas — Callie não conseguia deixar
de sentir um pouco de ciúme. Dois meses antes, Tinsley teria asfixiado Jenny com um travesseiro enquanto ela dormia, e agora iam fazer guerras de travesseiro e ririam comendo pipoca tarde da noite na casa de Jenny. Isso não a incomodava de verdade. Só o que ela queria era Easy. As pessoas já estavam cansadas de suas lamúrias, mas o que Callie podia fazer? Ela percebia os olhares vidrados de Jenny, Tinsley e Brett quando ela começava a falar do quanto sentia falta dele, e não podia culpá-las. Ela também estava enjoada disso, mas não sabia como parar, além de talvez contratar um detetive particular para rastrear Easy onde quer que ele estivesse e talvez libertálo, se os detetives particulares pudessem fazer esse tipo de coisa. Quem sabe pagando um extra? Ela revirou a bolsa toda, dominada por um pânico desesperado ao fazer a busca. Mas onde está a passagem do avião? Ela a viu quando chegou por FedEx de sua mãe e depois a enfiou na gaveta de cima da cômoda para se lembrar de guardar na bolsa. Mas era na gaveta de cima que ela guardava o que a mãe podia chamar de seus “berloques femininos”, e ela não pegou nenhuma das coisas de seda para o dia Ação de Graças, já que ninguém ia apreciar mesmo. O canto de um envelope branco se projetou sob os jeans dobrados e ela o puxou. Arrá! Callie virou o envelope, procurando pela abertura. Estava lacrado. Ela não se lembrava de ter lacrado. Sem dúvida não se lembrava de lacrar. E sem dúvida não tinha escrito a letra C num coração na frente. Seu coração bateu forte no peito enquanto ela passava uma unha recentemente pintada pelo alto do envelope aparentemente impenetrável, finalmente revelando um pedaço amassado de papel pautado, rasgado de um caderno. Ela reconheceu a letra de Easy de imediato e as lágrimas brotaram de seus olhos só porque ela sentia tanta falta disso.
Callie Se você recebeu isto, eu devo estar no colégio militar e não posso me comunicar. Mas eu tenho um plano — vou fugir para Nova York no fim de semana de Ação de Graças, Estarei no topo do Empire State às oito da noite no dia de Ação de Graças, como em Tarde demais para esquecer, ok? (Não é romântico?) Tem outra coisa aqui, algo que eu queria te dar, mas estava esperando pela hora certa. Acho que perdi essa hora, então terei de fazer isso agora. É um anel de compromisso. Prometo que nos veremos logo e estarei pensando em você todo dia até lá. Eu te amo. Easy, Callie remexeu no envelope até que caiu em seu colo um pequeno anel platinado, com uma ametista em forma de pera. Ela deu um gritinho, sobressaltando Jenny e Tinsley. Callie pegou o anel entre o polegar e o indicador e o colocou no dedo anular direito. — É do Easy! — exclamou ela. — É um anel de compromisso. Os olhos de Jenny se arregalaram. — É mesmo? Isso é bem sério, né? Callie não pôde deixar de sentir uma pequena onda de triunfo — apesar do breve caso de Easy com Jenny no início do semestre, ele voltou para Callie, e para sempre. Uma visão dela mesma num vestido de noiva branco e esvoaçante no alto do Empire State, o ar soprando seus cachos luxuriantes em volta dela como um anjo, dançou em sua mente. Ela de repente podia sentir os lábios fortes de Easy em sua boca e o trem agora parecia lento demais.
— Ele vem a Nova York — cochichou Callie confidencialmente, olhando em volta para evitar enxeridos. — Que pena que você vai para Atlanta — lembrou Tinsley. — E acho que nessa mão só aliança de noivado. — Perdi minha passagem — disse Callie simplesmente, estendendo a mão e olhando o anel. Era meio parecido com uma aliança de noivado, de certo modo. Uma aliança de noivado pré-noivado, é isso. — Está no seu bolso de fora. — Tinsley cutucou a cintura de Callie. — Eu vi você colocar quando saímos do Dumbarton. Callie colocou a mão no bolso lateral do casaco de pele de camelo e ficou decepcionada ao encontrar a passagem. De repente percebeu que tinha total controle da situação. — Foda-se. Eu não vou. — Só porque tinha uma passagem de avião não queria dizer que precisava usá-la. — Se ela acha que pode me enfiar na reabilitação e depois me chamar para passar o dia de Ação de Graças em casa só para me ignorar enquanto não faz nada além de trabalhar... — O espírito é esse. Foda-se a governadora. — Tinsley sorriu com malícia. — Depois, foda-se Easy. Callie concentrou os olhos castanhos em Jenny e soprou uma mecha loura arruivada do rosto. — E aí, quantas camas seu apartamento tem mesmo? — perguntou Callie a Jenny suavemente, com a voz melosa que usava para pedir favores. O suéter solto de Tinsley escorregou dos ombros, revelando a pele clara e macia e a alça preta do corpete de seda. — Vai mesmo dar bolo na sua mãe? Tem certeza de que quer fazer isso? Callie ergueu o anel de compromisso. — Eu vou para Nova York. E ponto final. — Ela se virou para Jenny, que ainda não tinha respondido à pergunta. — Claro que pode ficar na minha casa! — exclamou Jenny, sentindo-se meio excitada por Tinsley Carmichael e Callie Vernon realmente se hospedarem em seu apartamento. Será que ela ainda tinha aquele pôster do verão passado de Shia LaBeouf em Transformers pregado no alto da cama? Ou aqueles desenhos em preto e branco do concurso de hinos da Constance Billard? Ela não conseguia se lembrar, mas esperava que as provas de sua monguice de infância pudessem ser reduzidas ao mínimo. — Vai ser como uma festinha de pijama gigante. Tinsley riu. — Ação de Graças Chez Humphrey — disse ela, balançando as mechas escuras. — Quem diria? Jenny sorriu e olhou novamente o Hudson. Seu pai sempre a estimulava a levar as amigas para ele conhecer — bem, agora ele teria uma dose dupla delas.
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CelineColista: Vi o Brandon agorinha no portão da frente com cara de mataram meu gatinho. O que foi? SageFrancis: Ai... Eu meio que dei o fora nele. CelineColista: COMO É? Ele não era o Sr. Romântico? SageFrancis: Ele é... Mas se dissesse mais alguma coisa meiga para mim, eu ia vomitar. CelineColista: Acabaram-se as sacanagens pra você, minha irmã. SageFrancis: Rá! Nada com B tem sacanagem — o problema é esse!
rett afundou no banco frio na frente do guichê de passagens, levantando a gola de seu casaco Betsey Johnson preto de listras diagonais. O último trem para Manhattan tinha saído alguns minutos antes e a plataforma Metro-North estava inteiramente deserta. Fios de eletricidade zumbiam no alto e alguns táxis amarelos espreitavam no estacionamento, a descarga do motor saindo de seus canos. Brett ficou tentada a subornar um deles para levá-la a Jersey — será que os táxis ainda aceitavam cartões AmEx platinum? Depois de sair correndo da biblioteca, ela decidiu, como idiota, parar primeiro no alojamento para pegar seu exemplar francês de O estrangeiro, de Albert Camus, que esquecera — tinha uma prova de tradução na semana seguinte na aula de Madame Renault. Mas a ida ao alojamento foi um equívoco. Enquanto subia voando a escada para a plataforma, deixando cair uma luva, viu as luzes do último trem desaparecendo pelos trilhos para Nova York. Era tudo culpa de Sebastian. Ele tinha sido completamente incapaz de se concentrar hoje, ainda mais que o de costume, bombardeando Brett com perguntas sobre sua família e suas tradições de Ação de Graças como se realmente se importasse e não estivesse apenas deixando de lado os estudos de latim. Seu sotaque de Jersey lhe dava nos nervos, lembrandoa de todos os caras bregas na escola que usavam roupas Tommy Hilfiger berrantes e tinham fotos de mulheres esparramadas em carros potentes coladas em seus armários. Brega, brega, brega. Ela pegou no bolso o Nokia prata e começou a discar para a casa dos pais, mas desligou ao pensar no sermão da mãe: Sua irmã nunca perderia o trem. Ela não estava pronta para encarar aquela. Poderia pegar carona? As pessoas ainda faziam isso? Brett já podia ver as manchetes: Aluna de Internato Desaparece Depois de Entrar em Carro de Psicopata Quando Ia para o Feriado de Ação de Graças em Casa. Membros decepados encontrados no estacionamento do McDonalds local. O mundo tinha mudado desde que o hippie e velho professor de inglês avançado Doc Henderson, como ele sempre falava, “estendia o polegar” pelo país nos maneiros anos 1960. Uma buzina tocou, sobressaltando Brett no banco. Um Mustang preto estava em ponto morto no estacionamento. A buzina soou de novo e a janela baixou. Sebastian enfiou a cabeça pela janela, o vento frio agitando seu cabelo. — Achei que estaria aqui — disse ele, batendo as cinzas do Marlboro no ar. — Precisa de uma carona? Brett cruzou os braços, indo cautelosamente até ele. — Bem, você é o motivo para eu ainda estar aqui, antes de mais nada.
Mas o alívio tinha livrado seu corpo de toda a ansiedade e, antes que pudesse pensar duas vezes, pegou a bolsa e desceu despreocupadamente a rampa até o carro, com o cuidado de não deixar que as botas Givenchy pontudas escorregassem no concreto. — Então acho que é o mínimo que posso fazer. — Sebastian revirou os olhos. — Pode me fazer companhia, desde que prometa não falar em latim. — Ele acelerou o Mustang e ela sabia, pela expressão em seu rosto, que foi sem querer. Por mais descolado que ele pensasse que fosse, ela achava que o havia afetado um pouco. — Rumson fica muito fora de mão para você? — perguntou ela, desconfiada. Brett odiava que ele soubesse que ela era de Jersey. Em todo o tempo na Waverly, ela tentou fazer mistério de onde era, em geral confiando que o fato de que os pais tinham uma casa em East Hampton era resposta suficiente a todos. Mas estava ficando cansativo manter a farsa e Jenny, Callie e a vaca da Tinsley agora sabiam que ela era de Jersey, de qualquer maneira. Normalmente, ela ficaria constrangida de ter algum amigo da escola parando na frente da mansão espalhafatosa e francesa falsa dos pais, mas não podia ser pior do que a casa de Sebastian. E além de tudo, ele não era exatamente um amigo. — Não se preocupe. Está tudo incluído no preço. — E qual é o preço? — Gasolina, nicotina ou vagina. — Ele sorriu. — Ninguém pega carona de graça. Brett fechou a cara e Sebastian abriu um largo sorriso. — Brincadeirinha — disse ele. — Você nem tem que entrar com a gasolina. Só o prazer de sua companhia. Brett hesitou. A ideia de uma longa viagem de carro com Sebastian logo depois de sua sessão infernal de estudos era tão pouco atraente quanto comer no Salão de Jantar, mas que alternativa tinha? — Tá, tudo bem — disse ela, e andou até o banco do carona. Sebastian se inclinou para abrir a porta e um fedor de cigarro e Drakkar Noir foi soprado pelo vento. Ele espanou repetidas vezes o banco do carona, embora estivesse bem limpo. — Perdeu o trem, hein? — perguntou ele enquanto acelerava o Mustang, desta vez de propósito. Brett assentiu. Ele esperou que ela dissesse alguma coisa. — Bem, tá legal, então. O Mustang disparou do estacionamento e antes que Brett percebesse, estavam na rodovia, voando para Nova Jersey. Ela olhou a paisagem zunir e pensou em ligar para os pais e dizer que ia de carona com um colega da escola. Decidiu esperar até que parassem para colocar gasolina ou coisa parecida, assim Sebastian não teria ideias sobre uma suposta amizade dos dois. — O que vai fazer quando chegar em casa? — perguntou ele enquanto ultrapassava uma perua que andava lentamente. — Só descansar — suspirou ela, acomodando-se melhor no banco. — Um monte de coisa nenhuma. Era meio deprimente a ideia de se recostar numa das poltronas de zebra da mãe, olhando distraída a tela plana gigantesca da TV na sala de mídia. Desde que o pai tinha aberto a clínica de cirurgia plástica quando ela estava no primário e feito uma cirurgia de pálpebra de sucesso em uma celebrada socialite de Nova York, o Dr. Messerschmidt tornou-se o cirurgião preferido de mulheres envelhecidas de sangue azul que queriam discrição. — E sair com seus amigos de Jersey? — perguntou ele, olhando-a de lado.
Brett riu contra a vontade. Ela nem via os amigos pré-Waverly havia anos e era um esforço se lembrar de seus nomes. Sebastian continuou falando como se Brett tivesse perguntado alguma coisa. — Já eu só quero tirar a merda do cheiro do internato do meu nariz. Sabe o que quero dizer? — Ele passou os dedos pelo cabelo quase preto e olhou pelo retrovisor. Sebastian não era feio, é verdade, se pudesse levar uma daquelas repaginadas do Queer Eye. O cabelo era comprido demais e tinha gel demais, mas a pele macia tinha um tom moreno que fazia cintilar seus olhos castanhos escuros. E as maçãs do rosto — eram do tipo que só se viam em anúncios da Armani. — Quero ver o que está rolando no mundo real. — Podia ler os jornais, sabia? Ver os noticiários. Brett olhou pela janela. Nova York ficava em algum lugar ao longe e, de certo modo, Brett desejava que ela e Bree pudessem se esconder durante o feriado todo no loft da irmã em Tribeca, e ir às compras no Soho no fim de semana em vez de ir para casa. — É tão bom ficar um tempo longe de todos os babacas da Waverly, porra. — Ele olhou para Brett e abriu um sorriso que era ao mesmo tempo cavalheiresco e lascivo. — Com exceção da companhia presente. — Nem todos são babacas. — Brett lançou um olhar para ele. — E você também entra nessa. — Nada de babacas, então. — Sebastian tombou a cabeça de lado e franziu os lábios, como se estivesse imerso em pensamentos. — Só imbecis arrogantes. Brett riu a contragosto. É claro que havia alguns esnobes na Waverly — onde é que não tinha? —, mas isso não queria dizer que ela gostasse menos deles. Ela se lembrou de como ficou emocionada quando colocou os pés pela primeira vez no campus luxuriante, onde os prédios cobertos de hera emanavam herança, berço e elegância. É claro que o Sebastian antiautoridade tinha de ter problemas com isso — ou talvez fosse só fingimento, uma vez que ele ia repetir de ano. Melhor agir como se fosse uma opção dele do que admitir algum fracasso. Ela se virou e o olhou com interesse. No escuro, seu perfil era afilado contra a janela e as luzes dos carros batiam em seu rosto e desapareciam. Ele parecia muito mais manso do que à luz do dia, quando era cheio de atitude. — Ainda tem muitos amigos em Jersey? — perguntou ela por fim, a curiosidade levando a melhor. — Um monte — respondeu ele. Sebastian pegou um maço de Marlboro vermelho no bolso da jaqueta de couro e tirou um cigarro. Colocou-o na boca e apertou o isqueiro do painel do carro. — Quer um? — Claro. — Ela deu de ombros. Pegou um Marlboro do maço estendido e o encostou no isqueiro em brasa, depois passou a Sebastian. — Tenho um melhor amigo desde o primeiro ano — disse ele, abrindo a janela e soprando a fumaça para fora. Brett também baixou a dela, curtindo o vento frio no rosto. Era legal ouvir um cara chamar alguém de “melhor amigo”. — Ainda vamos à praia, nós e um bando de amigos, sempre que podemos — continuou ele. — Você vai à praia? — Ah, claro que sim — respondeu ela com frieza. — O tempo todo. — Na verdade, ela não ia há anos. Passou os dois últimos verões fazendo o tipo de programação educacional que parecia ótima para candidaturas a universidades — seis semanas em Creta numa escavação arqueológica, um mês em Aix-en-Provence ensinando inglês a crianças de baixa renda do jardim de infância. Mas os verões que antecederam a Waverly foram cheios de dias quentes e madrugadas pelo litoral de Nova Jersey, onde a família alugou uma casa de praia. Parecia fazer séculos, mas assim que pensou nisso, o cheiro de loção bronzeadora de coco e cachorroquente lhe voltou rapidamente. — Wildwood. Sempre fomos a Wildwood.
— Eu adoro Wildwood. — Animado, Sebastian bateu os dedos no volante. — Impossível não adorar o píer e as praias. E o calçadão à noite. — O calçadão é um nojo. — Brett deu um trago no cigarro e soltou a fumaça. — Tem turistas demais. — É, mas traz um monte de ótimas lembranças. — Não para mim — suspirou ela. — E por quê? — perguntou ele, seu interesse despertado. — Foi assaltada ou coisa assim? Brett balançou a cabeça. — Não, só fico cansada de passar pelas mesmas lojas de sempre, vendendo as mesmas toalhas de praia feias e guarda-sóis com flamingos. É meio tosco. — É boa demais para Wildwood hoje em dia, hein? — Sebastian implicou com ela. Brett o ignorou e os olhos dele voltaram à estrada, o trânsito congestionando à medida que se aproximavam da cidade. — Cara, teve um verão que nunca vou esquecer. Eu estava com uma garota, a Clarissa. E meu amigo ficou muito a fim de uma menina que trabalhava na barraca de cachorro-quente com ela. A gente estava tipo no oitavo ano, e ele só falava daquela garota. Coitado do Neal... Brett caiu em si ao mesmo tempo que Sebastian e se encolheu no banco, baixando a janela um pouco mais e batendo as cinzas do lado de fora. — Era você! — exclamou ele, perdendo o controle da direção por um segundo. — Era você mesma. — Pode prestar atenção na estrada, por favor? — perguntou ela, dando outro longo trago no cigarro. — O que era eu? Sua única esperança era confundi-lo. Ela sem dúvida se lembrava da amiga Clarissa saindo com um sebento no verão do oitavo ano que elas passaram trabalhando na Snack Shack. E é claro que ela se lembrava de Neal, com o cabelo louro espigado e o calção de surfista. Ele foi seu primeiro beijo e foi meio divertido, para o oitavo ano. Mas ela terminou com ele depois de algumas semanas andando de mãos dadas pela praia quando Ethan, o garoto mais velho de escola particular cujo pai era dono do Snack Shack, começou a aparecer por ali, dando mole para ela e chamando-a de “linda”. — Meu Deus, eu sabia que conhecia você de algum lugar, mas achei que era só da escola, sabe? — Ele olhou de lado para Brett, examinando-a com uma intensidade que a deixou nervosa, e não só porque isso significava que ele não prestava atenção à estrada. — Seu cabelo na época não era ruivo, né? Caraca, você usava umas camisetinhas amarelas o tempo todo. Com um cachorro-quente gigante e sorridente. Brett se agarrou à porta do carro com a mão direita, tentando manter a pose. Fingiu um bocejo, procurando não pensar na salsicha sorridente e um tanto pornográfica que ainda estava na última gaveta de sua cômoda em casa. — Às vezes eu me preocupo com sua sanidade mental. — Eu achava que a amiga de Clarissa se chamava L qualquer coisa. — Sua testa se franziu. — Tipo Leona? Não, peraí... Lenore. Era Lenore. Caraca. — Que interessante. Já que meu nome é Brett. — Ela esperava que ele não visse como seu rosto ficou vermelho. Lenore era seu segundo nome e ela passou o verão pedindo a todos que a chamassem assim porque estava cansada de ter nome de homem. Brett jogou a guimba pela janela, depois fechou o vidro. — Ei, se está me dizendo que não era você, então não era você — disse ele, navegando entre as estações de rádio. — Mas você está mentindo total. Espere só até eu contar ao Neal.
— Você passa o Dia de Ação de Graças com ele? — Brett estava desesperada para mudar de assunto. Sebastian balançou a cabeça. — Não, o Natal. O Ação de Graças é uma droga. Só eu e meu velho vendo futebol, principalmente. Uma ou outra cerveja. Mas olha, é bem melhor do que ficar na escola. Uma música de Springsteen começou e Sebastian aumentou o volume. — O Boss — disse ele enquanto atirava a guimba pela janela. — Legal. Brett revirou os olhos. — Dá pra abaixar? — Ela colocou as mãos sobre os ouvidos. — O quê? — perguntou ele, incrédulo. — Abaixe ou desligue — gritou ela, mais alto do que a música. — De jeito nenhum! — Sebastian bateu os punhos no volante. — Não vai me pedir mesmo para abaixar o Boss. Brett estendeu a mão para o botão e o desligou. — Tem razão, não vou pedir. Sebastian balançou a cabeça. — Não sei qual é o seu problema, Lenore. — Eu preciso ter um problema só porque acho que Bruce Springsteen é superestimado? E velho? — Ela soava intimidada, mas isso não desestimulou Sebastian. Ele só balançou a cabeça com tristeza e ligou o rádio de novo, rapidamente procurando outra emissora. — Tem Jersey em algum lugar aí em você — disse ele —, por mais que você tente negar isso.
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De: YvonneStidder@waverly.edu Para: Undisclosed Recipients Data: Quarta-feira, 27 de novembro, 18:45h Assunto: Festa Pré-peru! Oi, gente Só um lembrete da festa hoje à noite na minha casa. Os velhos estão em Londres, então vamos botar pra quebrar! A bebida da noite é rum Turkey Hill, mas fiquem à vontade para levar o que quiserem. Vamos ter pega-maçãs, peru-sem-rabo e outras brincadeiras divertidas. Acho que incluí todo mundo que encontrei no trem, mas se deixei alguém de fora, foi sem querer, então convidem quem vocês quiserem. Tem muito espaço! Na 80 com a Park, nº 7 — Google Map em anexo. Nove horas. Vejo vocês lá!
Bjs, Yvonne
randon estava sentado na cama, olhando a mala aberta, cheia de todas as porcarias que guardou para passar o fim de semana idiota em casa. Toda linha de cuidados com a pele Dr. Brandt, de creme esfoliante aos tonificantes, purificadores e hidratantes noturnos com vitamina C. Seu jogo de barbear Acqua di Parma que tinha a própria bolsa de couro com zíper. As palavras de Sage — você é feminino demais — ardiam em sua mente e ele mal conseguia deixar de concordar com a cabeça. Ela sem dúvida o chamara de gay. E talvez ele fosse mesmo. Bom, não dessa maneira, e nem havia nada de errado nisso. Certamente não queria ficar beijando homens nem nada, mas não era a primeira vez que alguém sugeria que ele era gay graças à sua necessidade de produtos de beleza, suas roupas de grife, a arrumação obsessiva. Ele sabia que não era realmente gay, mas magoava que a garota por quem era totalmente louco pudesse jogar uma coisa dessas em sua cara. Sage Francis. Ela era tão... perfeita. Ela disse que adorava receber os bilhetinhos meigos que ele deixava em sua caixa de correio ou metidos em seu livro de biologia quando ela não estava olhando. Ao que parecia, era tudo mentira. Sage estava louca para Brandon ter colhões e jogá-la no chão como um homem das cavernas. — Cara. Brandon não tinha percebido Heath entrar no quarto. Ele levantou a cabeça e viu o colega de quarto com a jaqueta xadrez Ben Sherman e um gorro de tricô vermelho vivo puxado até as orelhas. — Ainda está aqui? — O que há com você? — disse Heath, colocando as mãos na cintura. — Está ouvindo a droga da Natalie Merchant de novo? — É Lucinda Williams, imbecil. — Brandon rapidamente fechou a bolsa de viagem antes que Heath pudesse fazer alguma piadinha com seu “regime de beleza”. — Sage e eu acabamos de terminar, tá legal? — Brandon confessou. — É isso aí! — Heath levantou a mão com luva. — Bate aqui. Solteiro de novo. Brandon ficou com as mãos nos bolsos. — Não, ela é quem terminou comigo. Heath abaixou a mão. — Ah, bom, então eu sinto muito, cara. Que merda. Mas feliz Dia de Ação de Graças, tá? Brandon sabia que era o melhor que Heath tinha a dar no quesito consolo, então aceitou. — Tá, valeu. — O que ela falou? — perguntou Heath. Ele baixou em sua cama desfeita, tirando o gorro coberto de neve e sacudindo o cabelo louro e desgrenhado (isto é, sujo e louro).
A pulsação de Brandon se acelerou. De jeito nenhum ia pronunciar as palavras de Sage na frente de Heath, que as repetiria impiedosamente pelo resto da existência de Brandon. Ele podia se imaginar voltando a Waverly vinte anos depois para um reencontro e vir um Heath careca dizendo a ele, “Você ainda é gay?”, ou coisa pior. — Sei lá, cara. — Ele tentou aparentar irritação. — Só um monte de besteira de garota. — Heath assentiu. Alan St. Girard colocou a cabeça pela porta, fedendo a maconha. — Até mais, senhoras — disse ele, os olhos vermelhos e inchados. — Glu-glu, glu-glu. — Cocorocó para você! — respondeu Heath, mas Alan tinha desaparecido no corredor com a bolsa. — Cara — Heath se voltou para Brandon, abrindo a jaqueta e se recostando no travesseiro. — Meninas. Não sei qual é a delas. Elas não sabem o que querem. E se dizem que sabem, estão mentindo. — Pensei que as coisas estavam indo bem. Brandon ficou meio surpreso por estar se abrindo com Heath, que era sensível como um trem de carga. Mas Heath Ferro, apesar dos muitos e muitos defeitos, fora vítima de uma cruel rejeição poucas semanas antes quando Kara Whalen, com quem teve um namoro pouco característico, lhe deu um chute na bunda. Brandon na verdade vira Heath chorar, algo que ele quase desejou captar numa câmera, para ameaçar descarregar no YouTube da próxima vez que Heath tentasse andar pelo quarto dos dois com aquelas cuecas rasgadas que mal cobriam suas partes. Heath se levantou de repente. — Tive uma ideia. — Se é aquela história de roubar calcinha de cada menina do campus e fazer um paraquedas gigante, não estou interessado. — Brandon colocou a bolsa de viagem no chão. — A gente podia fazer isso — disse Heath, animado —, ou pode fazer uma coisa dez vezes mais legal. — Ele sorriu, esperando que Brandon adivinhasse, mas Brandon só o olhava, de braços cruzados. — Vamos ficar aqui no feriado. Brandon bufou. — Ah, claro. Vamos ficar aqui no feriado. E o que mais? Ir ao jantar dos alunos estrangeiros? Soube que vai ter jogo de mímica. — Dá pra você me ouvir? — pediu Heath. Claramente deixava-o louco que Brandon não gostasse de seu brilhantismo. — Estou ouvindo. — Brandon balançou a cabeça enquanto procurava o número do carro de aluguel que devia pegá-lo em breve. — Só não estou acreditando no que ouço. — E se eu te der duas alternativas para o feriado de Ação de Graças? — Heath aventurou-se. — Você pode: a) passar com sua família chata... Não quero ofender, a minha também é um porre... ou b) ficar aqui e ter sexo sueco e selvagem o fim de semana todo. — Mas você não é sueco — sorriu Brandon, com malícia. — Hiii-hiiii-hiiii. — Heath fez a cara de cavalo que Brandon odiava depois dos relinchos. — Mas as gêmeas Dunderdorf são! — Quem? — Cara, você mora mesmo aqui? — Heath embolou uma camiseta de treino de futebol fedorenta que pegou na pilha ao lado da cama e a atirou em Brandon. — Tá, tá. — Brandon desviou. — Estou ouvindo. As gêmeas Dusseldorf. O que têm elas? — Dunderdorf, pateta — corrigiu Heath. — As filhas gêmeas do Sr. Dunderdorf. — Nosso professor de alemão do primeiro ano? — perguntou Brandon, lembrando-se dos dias desagradáveis ouvindo o ancião Dunderdorf ler seu volume gordo e igualmente
ancião de Goethe, parando a intervalos irregulares para apontar os alunos e lhes pedir para traduzir a última frase. Ele se lembrou de não acreditar no bigode torcido do professor e de se perguntar vagamente se era contra o código de vestimenta da Waverly. — Ele não tem uns 78 anos? — Bingo — disse Heath, todo animado. — Ele está tipo na terceira mulher, que é, tipo assim, sueca... — Se meu pai estivesse na terceira mulher, eu não me importaria de ir para casa. — Brandon recostou-se na cabeceira da cama e olhou o pôster de Scarface de Heath, perguntando-se se alguém já tinha dito a Al Pacino que ele era “gay demais”. Duvidava. Heath o ignorou. — E agora eles têm duas filhas adolescentes, lindas e gêmeas. Elas são de Le Rosey, na Suíça, uma escola de aperfeiçoamento para meninas. Passam o ano todo cantando iodelei e aprendendo a costurar espartilhos, ou uma merda dessas. — A voz de Heath ganhou ímpeto enquanto continuava a descrição. — Mas então, elas voltam todo feriado de Ação de Graças, e dizem os boatos que Teague Williams ficou com as duas no feriado do ano passado... As duas ao mesmo tempo. Brandon balançou a cabeça. — Só você acreditaria numa coisa dessas. — Acredito que seja a verdade — disse Heath solenemente fazendo o sinal da cruz. — E se não quiser ficar e me ajudar a descobrir, bem, é com você. Brandon suspirou. Heath o distraíra por um momento de Sage, cujo senso de oportunidade insensível ameaçara fazer do Dia de Ação de Graças um fluxo ininterrupto de autopiedade, pontuado por um jantar de peru insosso preparado pela madrasta e sua mãe ainda mais infernal que, junto com o pai adorador, ficaria sentada e observaria com assombro os gêmeos espremerem abóbora no cabelo e enfiarem brócolis pelo nariz. — Vamos nessa, cara — pediu Heath. — Misses Suíças. Quando é que vai ter uma oportunidade dessas de novo? — No próximo feriado de Ação de Graças, ao que parece — zombou Brandon. — E pensei que tinha dito que eram suecas. — Suecas, suíças, dá no mesmo — disse Heath. — Tudo significa GOS-TO-SA. É garantido. Brandon olhou a bolsa de viagem. Mesmo que não acreditasse exatamente em tudo o que Heath dizia, a alternativa era muito, mas muito pior. — Tá legal, eu vou ficar. — Mas é disso que estou falando! — exclamou Heath. Ele estendeu a mão e Brandon bateu nela, a pele formigando ao desfazer a bolsa. — Olha, cara, já está na hora de você relaxar e me deixar cuidar das coisas. Eu sei exatamente o que estou fazendo. Partindo de alguém que usa as cuecas três vezes antes de lavar e ainda consegue pegar as garotas, Brandon pensou, talvez ele soubesse mesmo.
enny Humphrey andou pelo corredor de seu prédio no Upper West Side, grata por estar entre paredes familiares e longe da noite congelante de novembro. As três meninas levaram uma hora e meia para conseguir um táxi na frente da Grand Central Station — todo mundo, ao que parecia, estava chegando para passar o feriado em Nova York. Ela estava feliz demais por chegar em casa para ficar constrangida com o mofo amarelado e o cheiro dos dois schnauzers da Sra. Ullstrup, a vizinha. Uma das luzes do corredor estava apagada, lançando uma sombra sinistra na frente do apartamento 9D. — É aqui — suspirou Jenny, baixando a bolsa pesada no chão. — Conheci uma menina que morava neste prédio. — Tinsley espiou o trânsito na West End Avenue pela janela do corredor. Jenny esperou pelo desfecho da piada — e ela era uma vaca. Ou, e ela sempre se vestia como se fosse ao circo —, mas felizmente não veio nenhum. Seus nervos estavam em frangalhos desde que convidou Tinsley e Callie para passar o Dia de Ação de Graças com ela, mas Jenny esperava que o feriado unisse mais as três. Por mais legal que fosse estar com as duas, ela ficava prendendo a respiração, esperando pelo próximo incidente ou briga que faria com que as duas se virassem contra ela. Jenny passou a chave na fechadura e girou, mas continuou trancada. — Mas o que... — Ela sacudiu a maçaneta. — O velho trocou as fechaduras por sua causa? — Tinsley riu. — Talvez ele tenha uma namorada e queira alguma privacidade. — Eca — suspirou Callie, olhando uma teia de aranha acima da porta. Jenny girou a chave de novo e a tranca não cedeu. As trancas pareciam estalar de dentro e Jenny empurrou. A porta se abriu um pouco e o odor pungente de patchouli saiu do apartamento. — Oi? — perguntou Jenny, insegura. — Pai? A porta se abriu de todo e uma mulher careca com um manto laranja resplandecente abriu os braços. — Bem-vinda a nosso banquete. Jenny sentiu o queixo cair completamente. — Humm, cadê o meu pai? — Será que ele tinha uma namorada nova? Rufus tinha um gosto estranho, mas isto era pra lá de esquisito. Será que ele tinha sido despejado e não contara a ela? — Ah, criança você deve ser a Jennifer — disse a mulher, unindo as mãos como que em oração. — E estas devem ser suas irmãs. — Na verdade não somos parentes. — Tinsley sorriu com doçura, esfregando as mãos. Claramente estava gostando da cena.
Callie olhou incrédula e Jenny sentiu todo o sangue disparar para a cabeça. De dentro do apartamento, elas ouviram vozes baixas entoando: “Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare...” Jenny olhou em volta da mulher e viu que o velho apartamento da família, onde ela foi criada, onde dera os primeiros passos e vira desenhos animados nas manhãs de sábado, estava cheio de outros carecas, homens e mulheres, todos com mantos laranja berrante. Em toda parte — sentados no sofá, na espreguiçadeira de couro remendado do pai, na poltrona de veludo azul perto da janela, onde Jenny gostava de ler. Mas que diabos estava havendo? Por fim, Rufus Humphrey abriu caminho pelos carecas esquisitos e dançantes no fundo da sala. Estava com o pulôver amarelo roído por traças que Jenny conhecia e um moletom preto e velho de Dan que era uns seis números menor. O cabelo grisalho e espetado estava amarrado atrás com um fecho de saco de lixo. — Meu docinho! Você chegou. — Oi, pai. — Ele a envolveu em um abraço de urso enquanto a mulher na porta voltava para a sala abarrotada. — Mas o que... O que é isso? — sibilou Jenny. — Quem é essa gente? — E trouxe amigas! — exclamou Rufus, deliciado, abrindo os braços para cumprimentar Tinsley e Callie, que estavam encolhidas no hall. Elas deram um abraço mecânico em Rufus e se afastaram. — Elas são ainda mais deslumbrantes do que você disse. — Pai — disse Jenny com severidade, parada entre ele e as amigas antes que ele pudesse dizer a Callie que o cabelo dela era pré-rafaelita e que os olhos de Tinsley pareciam caramelos de uva. — O que é tudo isso? — Eu te falei sobre isso, bonequinha — respondeu Rufus de modo brincalhão, colocando a mão grande no ombro de Jenny e apertando. — Pai. — Jenny em geral ficava irritada com o pai, mas agora estava simplesmente furiosa. — Eu me lembraria se você tivesse me dito que vinte carecas estariam cantando em nossa casa quando eu chegasse. — Ela baixou a voz na palavra carecas, caso um deles estivesse ouvindo. — Isso é estranho. — Rufus esfregou o queixo, a barba grisalha muito mais densa desde a última vez em que ela vira. — Eu tinha certeza de ter falado com você. — Bem, não falou — repetiu ela, séria. Um bicho grande disparou da sala e entrou na cozinha. Correu em zigue-zague pelo ladrilho, contornando a mesa. Jenny percebeu apavorada que era um peru vivo. — Vocês não vão... matar um peru, vão? — Tinsley se manifestou, olhando o animal emplumado que agora rondava o sofá. Os carecas de manto riram enquanto o peru corria perto deles. — Ah, meu Deus, não. Essas pessoas são de meu ashram. Eu as convidei para o festival de Graças — anunciou Rufus com grandiloquência. — Todos estamos nos purificando durante esse grande festival. E homenageamos o peru. Que bom que estão aqui... Podem ajudar a partilhar nosso banquete vegetariano. Jenny entrou com relutância no apartamento e olhou a cena. Cada cabeça careca na sala se virou e disse, “Bem-vinda!” Ela podia sentir Tinsley e Callie atrás dela, estarrecidas. Precisava levá-las a seu quaro, onde poderiam se reagrupar. — Vamos para o meu quarto — anunciou Jenny. — Ah. — Rufus franziu a testa. — Seu quarto está ocupado, na verdade. Eu cedi o meu também. Mas podemos todos nos ajeitar nos sofás. Vai parecer acampamento. — Rufus sorriu como se tivesse resolvido um dilema particularmente espinhoso.
O peru correu até Callie e bateu de cabeça em sua bolsa Louis Vuitton, a barbela em seu pescoço balançando como louca. — Ai, meu Deus — sussurrou Callie, os olhos se esbugalhando. Ela se encolheu de volta ao hall. — Nós temos que, hum, dar um telefonema. — Tinsley pendurou a bolsa no ombro e ela e Callie praticamente correram para o elevador. Jenny ficou paralisada, sem saber o que fazer. Ficaria ela no apartamento por lealdade ao pai, ou suas lealdades agora estavam em outro lugar? — Olha, pai, fico feliz por você ter seus, hum, amigos aqui. Mas parece que a casa está cheia, então eu vou achar outro lugar para ficar. Talvez na casa da Tinsley — mentiu, colocando a bolsa no ombro. — Meu Botão de Petúnia! — exclamou Rufus. — Mas vamos comer às oito. — Sem problemas. — Jenny pôs a mão no braço do pai. — Vocês podem, humm, desfrutar de meu quarto. Vou ligar amanhã. — Depois de insistir um pouco mais que ela ficaria bem, Jenny disparou para o corredor e entrou no elevador atrás das duas amigas. — Nunca mais vamos falar nisso. — Jenny apertou o botão para o térreo. — Isso nunca aconteceu — concordou Tinsley, rindo. — Mas cara, e eu que pensava que a minha família era pirada. — Acho que tem meleca de peru na minha bolsa, de quando a criatura esbarrou nela. — Callie examinou a bolsa. Quando o elevador chegou ao térreo, Jenny sabia que tinha sobrevivido ao constrangimento. — Tem uma cafeteria na esquina. — Ela apertou o cachecol amarelo de cashmere Banana Republic, preparando-se para o entardecer gelado. — Eu preciso de cafeína. — Eu preciso de uma bebida — retrucou Tinsley com ironia. No Melnyczuk’s, a cafeteria ucraniana de nome quase impronunciável, as meninas pegaram uma cabine perto da janela e pediram três xícaras de café à garçonete irritada, que não parecia muito feliz por trabalhar na véspera do feriado. — Precisamos de um quarto de hotel — disse Callie, decidida a declarar o óbvio. — E rápido. Ela olhou os hotéis no iPhone, lendo os números para Tinsley e Jenny, que rapidamente discavam com uma ansiedade cada vez maior. Uma enxurrada de ligações para o Four Seasons, o Soho Grand, o Plaza, o New York Palace, o Peninsula, o Ritz no Central Park, o St. Regis e o Trump Tower confirmou o que Jenny suspeitava: todos os hotéis estavam lotados. — Isso é terrível. — Callie balançou a cabeça, a voz beirando o gemido. Seu rosto bonito estava franzido numa carranca e ela parecia prestes a cair em prantos. — E agora? Tinsley atirou o celular na mesa, derramando os cafés recém-servidos nas xicrinhas de porcelana mínimas. — O que a gente precisa fazer para conseguir uma merda de quarto de hotel nesta cidade? — perguntou ela com raiva. — Acha que os vapores do piso do seu apartamento são mesmo tão tóxicos como sua mãe disse? — perguntou Callie, nervosa. Jenny se lembrou do que Tinsley tinha dito no trem. A acusação de Tinsley sobre Jenny levar tudo tão a sério demais — de meninos à vida em geral — magoou mais ainda porque Jenny não podia discordar. Bem, aqui estava sua chance.
— Olha, talvez a gente esteja dando importância demais a isso — propôs Jenny. — Somos três meninas sozinhas em Manhattan — continuou ela, limpando uma mancha de café com o guardanapo. — Sem regras. Podemos fazer o que quisermos. — Menos conseguir um quarto de hotel, ao que parece — observou Tinsley, os olhos violeta e frios encarando Jenny desafiadoramente. Jenny endireitou os ombros e olhou nos olhos de Tinsley, louca pela oportunidade de mostrar à outra o que podia fazer. — É o que veremos — respondeu ela, pedindo a conta com um gesto.
rett largou a mala no piso de mármore italiano do saguão de sua casa. Seu corpo estava cansado da longa viagem de carro no apertado banco da frente do Mustang, o cérebro exausto de fugir das perguntas intermináveis de Sebastian. Ela conseguira convencê-lo de que não era a garota do cachorro-quente de verões atrás. Ou talvez ele só estivesse fazendo a vontade dela. Toda a viagem foi muito intensa, tentando reprimir as tentativas de Sebastian de algum tipo de experiência de vida em comum só porque os dois eram do mesmo estado. Ela ficou tremendamente aliviada por finalmente parar na frente da casa dos pais. Sebastian assoviou quando parou na entrada circular — e até Brett ficara tanto tempo longe que se esquecera de como a mansão era grande (e ostentosa). O exterior era projetado para parecer o palácio Versalhes, completo, com uma fonte na frente, onde um Poseidon reclinado afagava um querubim seminu. — Casa bacana — disse ele sem ironia nenhuma, antes de Brett se despedir, tensa. Agora só o que ela queria era tomar um longo banho quente no banheiro de sua suíte, calçar os chinelos cor-de-rosa felpudos e esfarrapados e colocar a vida em dia com Bree. Era difícil realmente conversar com a irmã por e-mails e telefonemas intermitentes, e Brett ansiava para tomar um sorvete Cherry Garcia e ter uma conversa de mulheres. Tirou as botas Manolo e atirou o casaco no armário gigantesco do hall. — Olá? — chamou, a voz ecoando pelo saguão. Brett ficou meio surpresa por não ter sido recebida pelos chihuahuas da mãe, que pareciam xicrinhas e costumavam vir correndo pelo piso de mármore à menor sugestão de movimento na porta. — Estamos na sala de visitas, querida. — Ouviu a mãe chamar. Brett seguiu a voz da mãe e passou pela imensa sala de estar rebaixada — a mãe finalmente cedera a suas queixas e mandou refazer o estofamento daquelas horríveis poltronas de zebra? Que estranho — e na sala de visitas formal no fundo da casa que eles nem usavam há... Bem, eles nunca usavam. Talvez uma vez, depois do enterro do tio Chuck, e outra para a entrevista de Brett com um representante da Waverly, mas foi só isso. Era uma sala de pé-direito alto com uma parede de portas francesas dando para o jardim dos fundos, com sua linda vista da baía. Mas era cheia de móveis Luís XIV formais que a mãe comprara em um leilão público, na esperança de dar um ar de respeitabilidade à McMansão nova em folha. A mãe e a irmã estavam empoleiradas em volta da mesa redonda com três estranhos, que Brett imaginou serem os Cooper. Quando Bree disse que eles passariam o Dia de Ação de Graças lá, Brett pensou que ela estava dizendo o jantar de Ação de Graças, e não o feriado todo. — Ah. — Brett sorriu amarelo para os estranhos. — Oi, gente.
Que estranho. O Sr. Cooper estava ereto na desconfortável cadeira de madeira, examinando uma mão de cartas que segurava sob o nariz. O cabelo não tinha mais cor e era bem fino, mas a pele possuía um brilho avermelhado de quem acabara de sair do golfe em Palm Beach e isso fazia com que parecesse magro e respeitável em sua camisa e suéter de gola redonda. A Sra. Cooper estava sentada ao lado dele e levantou a cabeça quando Brett entrou. O cabelo louro-claro também exibia fios grisalhos e tinha um corte sofisticado que emoldurava o queixo. Parecia exatamente a mãe de Gwyneth Paltrow. Dois pequenos brincos de pérola — herança de família, deduziu Brett — brilhavam sutilmente nas orelhas enquanto ela colocava as cartas viradas para baixo na mesa. — Baixe as cartas — disse ela a Willy, e ele obedeceu às instruções da mãe. — Estávamos mesmo nos perguntando o que teria acontecido com você. — A mãe de Brett, Becki Messerschmidt, também baixou as cartas. — Estamos esperando você há mais de uma hora. — Suas palavras eram lentas e calmas, o que assustou Brett. Será que ela dobrou a dose do Zoloft ou coisa assim? Em geral a mãe explodia no saguão e a envolvia em um abraço cheio de Obsession de Calvin Klein, cintilando os anéis imensos de diamantes cor-derosa, e a enchia de mil perguntas sobre a Waverly, os amigos, os meninos. Em vez disso, a mãe foi até ela feito um zumbi — de calça cáqui de boca estreita e um suéter de gola rulê Polo azul marinho, e nem uma só pedra cor-de-rosa nos dedos. Nunca vira a mãe, que gostava de estampados berrantes, de preferência de animais, e colares espalhafatosos, tão mamãe de classe média. — Eu te falei. — Brett abraçou a mãe rapidamente e lhe deu um beijo no rosto. Os cachos normalmente desgrenhados de Julia-Roberts-em-uma-linda-mulher da mãe tinham sido alisados e agora eram ondas soltas e largas. — Peguei uma carona com um amigo. — Sua mãe nem mesmo cheirava como sua mãe. Brett deu um passo para trás, quase tropeçando na ponta da mesa. Isso era totalmente horripilante. Normalmente Brett teria exigido saber que droga estava acontecendo, mas com os Cooper por ali, preferiu ficar em silêncio. — Amigo ou namorado? — falou Bree finalmente de seu lugar à mesa, erguendo as sobrancelhas. O cabelo castanho-arruivado na altura dos ombros estava puxado para trás com duas fivelas de tartaruga. E quando ela estendeu os braços para dar um abraço, Brett notou que ela também vestia roupas meio certinhas. Ou chatas. Brett estava acostumada com Brianna, uma assistente editorial da revista Elle, parecendo um pouco mais moderninha do que agora, com a saia marinho na altura dos joelhos e um suéter de gola canoa branco. Ela parecia estar num chá no iate clube. — Que bom que chegou. Quero que conheça os Cooper. — Vamos ter que dar as cartas de novo — disse o Sr. Cooper à meia-voz à Sra. Cooper, atirando as cartas no meio da mesa. — Segundo as regras, precisamos dar as cartas de novo se alguém se levanta da mesa, por qualquer motivo. — A Sra. Cooper ignorou o marido, embora Brett tenha detectado um leve assentir. — Este é William Cooper Terceiro. Bree andou e pôs as mãos nos ombros de Willy, dando-lhes um apertão carinhoso. Willy — será que Brett podia chamar o cara assim? — fazia-a pensar em Free Willy, o filme da Disney sobre a orca que fica presa na tubulação. Ele era uma graça — com cabelo castanho-claro e olhos castanho-escuros — mas com jeito de ser totalmente mauricinho, meio Brooks Brothers, a camisa branca e imaculada enfiada direitinho na calça de algodão azulmarinho. Será que todo mundo nesta sala usava azul-marinho? — Willy, prazer em conhecê-la. — ele disse, se levantando e apertando a mão de Brett formalmente. — Este é o único William em nossa casa. — Ele riu, apontando com a cabeça para o pai.
— É um prazer conhecer a todos — disse Brett automaticamente, perguntando-se o que todos estavam jogando. Seus pais nunca jogavam cartas, a não ser Uno. Brett olhou para a mãe, cujo cabelo ruivo-escuro estava puxado para trás e preso como o de Bree. Será que ela tinha entrado em Mulheres perfeitas? — Onde estão as xícaras? — Por mais que ela revirasse os olhos para o bando de cachorrinhos mínimos que a mãe amealhara com o passar dos anos, eles eram uns amores. Uma expressão de terror passou do rosto da irmã para o da mãe. — Seu pai está vindo com o chá agora mesmo, querida! — exclamou a mãe com alívio ao ver o pai de Brett na porta, carregando uma bandeja cheia de porcelana florida que ela nem sabia que tinham. A mãe lhe lançou um olhar que dizia para ficar de boca fechada. — Brett, meu amor! — Stuart Messerschmidt baixou a bandeja e lhe deu um abraço rápido. Brett recuou um passo, assombrada. Ele estava usando um suéter sem mangas. — Que bom que está em casa. — Ele abriu um sorriso para Brett, mas, em vez de retribuir, Brett lhe lançou um olhar que dizia, O que está rolando por aqui? — Sente-se, querida. — A mãe de Brett puxou outra cadeira de madeira para a mesa. — Descanse. Brett se sentou, respirando fundo. Tudo bem, tá legal. Ela faria esse jogo por uns 15 minutos, depois iria hibernar em seu quarto pelo resto do fim de semana, vendo o E! sozinha. — Espero que não estejam jogando pôquer — brincou Brett, colocando os cotovelos na mesa de cartas e tentando demolir a fachada deste novo mundo bizarro dentro de sua casa. Ela sorriu para Willy. — Bree trapaceia. Uma expressão de confusão apareceu nos Cooper. — Quem trapaceia? — perguntou a Sra. Cooper, olhando para Brett como se ela estivesse falando de uma amiga imaginária. — Bree. — Brett apontou a irmã. — É uma famosa vigarista nas cartas. Uma vez ela... A irmã a interrompeu: — Agora todo mundo me chama de Anna, meu bem. — Ela olhou para os Cooper. — Ela me chamava de Bree quando éramos crianças. Quando elas eram crianças? Como assim, há uns dois meses? Brett abriu a boca para falar, mas respirou fundo, tentando imitar a respiração que aprendera na ioga. Anna? An-na? Como é? A irmã estava agindo como uma virgem recatada e de algum modo fez lavagem cerebral nos pais para agirem feito robôs. A mãe não substituíra as poltronas de zebra por causa das queixas constantes de Brett, mas porque quis impressionar os Cooper, e isso era... errado. Ela sentiu um ronco no estômago que não era do milkshake que tinha tomado no drive-thru do McDonalds perto de Newark. — Anna estava nos dizendo que você estuda na Waverly. — A Sra. Cooper voltou os olhos azul-claros para Brett, que sentiu-os parar levemente nos cinco brincos de ouro que ela usava no alto da orelha esquerda. — Sim, senhora — respondeu Brett, empinando o queixo, na defensiva. Ela se recostou na cadeira. — Estudo. — O que acha de lá? — perguntou a Sra. Cooper. Cruzou as mãos sob o queixo, com os cotovelos na toalha de linho nova. — É ótimo — disse Brett dando de ombros e reprimindo o impulso de dizer alguma coisa como, “As drogas são boas, mas o sexo é podre”. Ela também não queria que sua irmã subitamente freira tivesse um ataque cardíaco antes de Brett ter a oportunidade de arrancar informações dela. Brett olhou os pais, que a encaravam com impotência. Uma onda de vergonha tomou Brett — mesmo que tivesse falado dos pais com as amigas da Waverly, ela jamais quis que
eles fossem outras pessoas, só eles mesmos. (Talvez só que eles, bem, usassem menos estampa de safári e falassem menos em rinoplastia.) Ela só esperava que Bree — desculpe, Anna — não tivesse feito a mãe dar os chihuahuas para adoção. Ou coisa pior. Depois de uma discussão arrastada sobre as diferenças entre os internatos de hoje e aqueles dos tempos do Sr. Cooper, Brett conseguiu pedir licença com a desculpa de se vestir para o jantar. Enquanto pegava uma lata de Diet Coke na geladeira de aço inox, perguntou-se onde estavam todas as garrafas de Bud Light do pai, justo quando ela precisava de uma bebida.
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De: SebastianValenti@waverly.edu Para: BrettMesserschmidt@waverly.edu Data: Quarta-feira, 27 de novembro, 20:45h Assunto: A volta Lenore... Quero dizer, Brett Obrigado pelo prazer de sua companhia na viagem para casa. Da próxima vez, tome uns drinks e relaxe um pouco, tá legal? Se precisar de carona para voltar para a Waverly no domingo, me avise. Devo sair lá pelas três horas. Wildwood é demais! Seb
stá preparado? — sussurrou Heath para Brandon com o punho na pesada porta de carvalho entreaberta para a sala do Sr. Dunderdorf no segundo andar do Hopkins Hall. Seu rosto estava coberto de um brilho radiante que sempre lhe aparecia quando ele estava especialmente otimista com a probabilidade de transar. Estava claro que a promessa das Misses Suíças o deixou extenuado. — Estou louco para ver como você vai se safar dessa. Brandon imaginou que levaria dez segundos para o notório velho rabugento entender que Heath só estava atrás de suas filhas e o expulsar aos pontapés. Com um balanço da pélvis para frente para dar sorte, Heath bateu na porta. — Kommen Sie herein — disso uma voz, e Heath abriu a porta. O Sr. Dunderdorf, com uma camisa que parecia ter sido pisoteada e uma gravata borboleta, mexia na pilha de papéis que ameaçavam inundar sua mesa, o cabelo branco como a neve afofado num afro-Einstein. Ele meteu uma pilha em uma bolsa de couro surrado que parecia ter atravessado uma ou duas guerras. A sala empoeirada era sinistramente silenciosa na escuridão do início do anoitecer. — Was, Jungen? — A Irritação na voz de Dunderdorf enervava Brandon e de repente todo o plano parecia uma péssima ideia. — Ansiando pelo fim de semana prolongado, Sr. Dunderdorf? — perguntou Heath, passando o dedo no globo de aparência antiga, montado em um suporte de madeira no meio da sala, fingindo interesse. — Ja, ja, Sr. Ferro — respondeu Dunderdorf, fechando a bolsa. — É sempre bom ter uma folga. — Ele parou de preparar a pasta e olhou para Brandon e Heath pela primeira vez. A desconfiança toldou seu rosto enrugado. — O que posso fazer pelos cavalheiros? — Nada, senhor. Brandon recuou um passo no tapete persa puído, tentando sinalizar com os olhos a Heath que precisavam abortar a missão — e rápido. Uma hora não era tempo suficiente para procurar na Wikipedia e decorar o bastante de alemão ou suíço para ter acesso ao Dia de Ação de Graças dos Dunderdorf, disso ele tinha certeza. Se as filhas de Dunderdorf eram tão lendárias como afirmava Heath, não estaria ele cansado de meninos excitados tentando entrar em sua casa — e em suas filhas? — Brandon e eu estávamos discutindo sobre onde mora a maioria protestante na Alemanha — disse Heath, esfregando o queixo, coberto de uma leve penugem, uma vez que ele dormiu demais de manha e não teve tempo de se barbear antes de correr para o laboratório de química. Dunderdorf o olhou, incrédulo, as sobrancelhas grossas e brancas subindo na testa. — E por quê? — perguntou ele.
— Bem... — Heath começou a andar pela sala. — Nós dois somos apaixonados pelas religiões do mundo e andamos discutindo sobre católicos e protestantes, e pensávamos em alguns exemplos de vida dos dois grupos em harmonia, e lembramos da Alemanha. Só que não conseguimos lembrar onde eles viveram em harmonia. — Ele respirou fundo. Brandon, reprimindo um gemido, foi até uma estante abarrotada, fingindo olhar com interesse os textos alemães desbotados. — Os católicos vivem predominantemente no sul. — Dunderdorf se recostou no canto de sua mesa. Algumas folhas de papel escorregaram da pilha e caíram no chão. — E no oeste. O resto é protestante. — Ele semicerrou os olhos para os dois, os olhos brilhantes e pequenos brilhando e diminuindo ainda mais. — Não sabia que se interessavam por história da religião. — Ah, nos interessa — respondeu Heath com uma expressão séria que Brandon reconheceu das vezes em que ele falava da Superwoman ou da superioridade das coxas de frango do Salão de Jantar em comparação com as do Denny’s. — Mas a religião é secundária à nossa paixão por culturas estrangeiras. Por exemplo, nós dois morremos de vontade de ir à Alemanha. E à Suíça, não é? — Heath cutucou Brandon quando Dunderdorf se abaixou para pegar os papéis do chão. — Claro que sim — concordou Brandon, a voz constrangedora de tão entusiasmada. Sua única experiência em atuação foi um papel de gãngster em Grease no oitavo ano — e era um papel que não tinha fala. — Estamos pensando em viajar como mochileiros pela Alemanha e Suíça neste verão. — Não peguem carona — alertou Dunderdorf com seriedade. — Não é seguro como era antigamente. — O telefone da mesa de Dunderdorf tocou e ele atendeu. — Não — disse ele de mau humor ao fone. — Não pode esperar que termine o feriado? Tudo bem. Obrigado. — Ele baixou o fone e pegou um cachecol xadrez puído no encosto da cadeira, passando-o pelo pescoço. Pegou a pasta e foi para a porta. Brandon deu um passo para o corredor, sentindo que tinham perdido sua chance. A ideia de ir ao jantar dos alunos estrangeiros no dia seguinte lhe deu vontade de se matar, mas talvez a pizzaria da cidade estivesse aberta. — Também estávamos nos perguntando uma coisa — acrescentou Heath rapidamente, colocando o corpo firmemente na porta e lançando a Brandon um olhar que era equivalente a dizer, Não comece a dar piti. Dunderdorf pegou um sobretudo pesado e verde-escuro, de aparência militar, no cabideiro do canto. — Sim? — Qual é a principal diferença entre a salsicha alemã e a salsicha polonesa? — perguntou Heath, arqueando as sobrancelhas como um cientista. Uma pausa, depois um sorriso se espalhou pela cara de Dunderdorf. — Meu rapaz, a salsicha alemã é muito superior à polonesa ou a qualquer outra salsicha — respondeu ele, lambendo os lábios involuntariamente. — As salsichas alemãs usam carne de cervo e de porco fresca. As polonesas são feitas de traseiro de porco e carne de rato. É a única diferença. Mas deve ter o mesmo gosto para você, não? — Esse é o problema, senhor. — Heath franziu a testa de leve e seus olhos assumiram uma expressão distante. — Nunca provamos uma boa e autêntica salsicha alemã. Queríamos muito saber o gosto. Brandon tentou esconder a incredulidade — e a repulsa. Ele só veio nessa missão imbecil porque não queria ficar sozinho no quarto, remoendo sobre Sage ou se perguntando onde ela estaria, o que estaria fazendo agora, como seria o Dia de Ação de Graças dela. Além disso, embora odiasse confessar, uma parte mínima dele queria ver Heath fracassar e ser
jogado na sarjeta, já que de jeito nenhum Dunderdorf ia cair nessa tramoia idiota. Mas enquanto via Heath encher Dunderdorf de perguntas sobre a culinária alemã, inclusive uma questão particularmente cara de pau, se os Dunderdorf gostariam ou não de uma salsicha de peru no Dia de Ação de Graças, Brandon se perguntou por que ele não estava se esforçando mais. É claro que ele queria dormir com Sage — esteve pensando nisso desde a primeira vez que ela falou com ele. Mas a não ser por alguns amassos intensos, ele não tentou realmente passar para a segunda base. Será que ele não nasceu com o gene do tesão ou coisa assim? Ele não podia pelo menos tentar transar com duas gatas europeias, nem que fosse para esquecer o rompimento cruel de Sage no feriado? — Por que não passam em nossa casa amanhã? — perguntou finalmente Dunderdorf com a testa pontilhada de suor. — Ah, não! — Heath ergueu as mãos, sempre o ator sutil. — Não vamos impor nossa presença no Dia de Ação de Graças, não é? — Ele lançou a Brandon um olhar que dizia que era melhor Brandon avançar. — Foi um convite muito gentil — concordou Brandon. — Pretendíamos ir ao jantar dos alunos estrangeiros... — Os olhos de Heath se arregalaram e Brandon sabia que ele tinha entrado em pânico. — Mas não tem nenhuma boa salsicha alemã por lá. — Então está combinado — disse Dunderdorf com um brilho nos olhos. Ele pegou uma manta feia que combinava com o cachecol e abotoou o casaco. — Será um prazer receber vocês com a boa e verdadeira comida alemã. O feriado de Ação de Graças é uma comemoração de dia inteiro em nossa família, então é melhor chegarem cedo, se quiserem experimentar verdadeiramente ein authentisches Deutsches Thanksgiving. — Ele deu um tapinha fraco nas costas de Heath e acenou com a cabeça para Brandon ao conduzir os dois para fora e fechar a porta da sala, assoviando pelo corredor. — Inacreditável. — Brandon se encostou na parede do corredor longo e mal iluminado. — É, e graças a mim — afirmou Heath, irritado. — É melhor você ter alguma atitude amanhã, porque não posso carregar os dois nas costas de novo. — Então seu rosto se abriu num sorriso bobo. — Mas foi uma beleza, não foi? — Ele fez uma dancinha, rebolando o quadril.
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CliffordMontgomery: E aí, vai naquela festa da Yvonne? AlisonQuentin: A do tema do peru? Humm, sei lá. E vc? CliffordMontgomery: Talvez. Os outros filhos do meu padrasto idiota estão aqui e eles são um porre. AlisonQuentin: Pelo menos seus pais não acham que é um feriado colonialista e comemoram queimando imagens de peregrinos! CliffordMontgomery: Caraca. De repente o uísque Wild Turkey não parece tão ruim. AlisonQuentin: Guarda um pra mim.
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KaraWhalen: Festona na casa da Yvonne hoje. Vc vai? EmilyJenkins: Pegar maçãs boiando com os dentes? KaraWhalen: Espero que seja piada... Mas acho que ela tem uma hidro. EmilyJenkins: Com minha bunda branca? Nem pensar. KaraWhalen: Soube que ela convidou Pierce O’ Connor no trem... EmilyJenkins: NESTE caso, preciso de um autobronzeador e um biquíni novo!
ndando na Quinta Avenida com as meninas pela calçada que começava a ficar lamacenta, Callie quis calçar alguma coisa mais prática do que as sandálias Missoni de bico quadrado. Ela deveria estar num avião para Atlanta agora, recostada no assento da primeira classe, sem sapatos. Mas ficou quase delirante de feliz por não pegar o avião — ela ia ver Easy de novo. Amanhã. Não conseguia deixar de tirar a luva para dar mais uma olhada no elegante anel de ametista. Era lindo — simples, é claro, porque Easy era assim, mas simplesmente lindo. — Meus pés estão ficando dormentes — disse Callie com um ar sonhador, pensando que seria bom se enroscar com Easy e receber uma massagem nos pés. Mas como era ele que estava no colégio militar, onde o obrigavam a fazer Deus sabia o quê — trilha puxada por terrenos acidentados, corridas torturantes de 20 quilômetros, prática de tiro —, talvez ele precisasse mais de uma massagem do que Callie. — Fique aqui embaixo. — Tinsley pegou o braço de Callie e a meteu sob a beira da entrada de um hotel de aparência sofisticada. Callie olhou para cima e leu o letreiro bonito, The Granfield. As três se apertaram perto da porta giratória, deixando que o calor da entrada as banhasse. — Vamos nos concentrar. — Tinsley olhou os dois mensageiros de elegantes uniformes vermelhos e azuis que passavam sem parar pelas portas para pegar a bagagem cara das malas dos carros pretos e compridos que paravam junto ao meio-fio. Callie olhou a rua na direção do Central Park. Uma névoa arroxeada caía com o frio sobre os que ainda corriam e passeavam com os cães na rua. — Na boa. Não vamos ficar de pé aqui feito plebeias. Antes que Jenny e Callie pudessem dizer alguma coisa, Tinsley passou pelas portas, a bolsa Prada pendurada de lado. Andou com autoridade para a recepção, onde havia um homem bonito de terno ao computador. — O que acha que ela está dizendo? — cochichou Jenny, olhando o piso de mármore preto que conseguia ficar perfeitamente encerado apesar do entardecer lamacento lá fora. Callie moveu a mão para ver como o anel de compromisso cintilava na forte luz do lustre do saguão. — Sei lá — respondeu ela, distraída. — Só espero que dê certo. — Elas andaram alegremente enquanto Tinsley fazia sua melhor imitação de Marilyn Monroe, batendo as pestanas e paquerando o recepcionista. — Sei que vocês sempre têm um quarto reservado para o caso de surgir uma Madonna ou alguém parecido. Sabe quem ela é? — Tinsley apontou para Callie, que abriu um sorriso desanimado. Depois de uma hora andando pela neve derretida de Nova York, o cabelo de Callie estava colado na testa. Ela devia parecer a Noiva de Frankenstein.
— Não. — O recepcionista olhou por sobre o ombro de Tinsley a mulher de casaco de pele que se aproximava do balcão. — Bom, ela é a filha da governadora da Geórgia — sorriu Tinsley com triunfo, os dentes brancos e perolados dignos de um anúncio de creme dental. — Agora podemos conseguir um quarto, por favor? — Meu bem, nós simplesmente não temos nenhum quarto. — O funcionário balançou a cabeça com impaciência. — Recebemos reservas para este fim de semana com meses de antecedência. Nem a Madonna conseguiria um quarto esta noite. — Duvido. — Tinsley deu meia-volta. — Logo vocês vão receber uma carta do governador. — Ela se virou para Jenny e Callie e disse: — Eu tinha que pegar um gay. — Elas seguiram Tinsley de volta à rua. — Merda. Jenny soltou um leve suspiro. — Bem... A gente podia voltar para a casa do meu pai... — Ela se interrompeu quando Tinsley lhe lançou um olhar sombrio. — Vamos pegar um táxi para o Peninsula. Vou ter que mudar a história da filha da governadora... Não está dando certo. Enquanto Jenny e Tinsley andavam decididas para a Madison Avenue, Callie parou de repente voltando os olhos para cima e encontrando o vestido branco mais bonito que ela já viu — um vestido em A com busto drapeado e uma faixa de malha bronze na cintura império. Era um sinal — tinha de ser um sinal. Seus olhos flutuaram para o letreiro acima da porta: Vera Wang. Callie se imaginou usando o vestido transparente ao seguir de elevador até o alto do Empire State ao encontro de Easy. A imagem era perfeita, como um bolo de noiva. Ela empurrou a porta da loja, mas a porta travou assim que as luzes se apagaram. A loja já estava fechada. Callie revirou a bolsa Lanvin atrás do maço amarrotado de Marlboro Ultra Lights e ficou olhando a porta. Era tão perfeito. — Peraí um minutinho — exclamou Jenny, colocando a mão com luva no braço de Tinsley antes de ela chamar um táxi. — Olha só onde estamos. Tinsley olhou os dois lados da Madison. — Largadas? — É. — Jenny revirou os olhos. — E quem a gente conhece no Upper East Side que nos convidou tão delicadamente para a casa dela sem os pais hoje à noite? — A gente tem alguma alternativa? — perguntou Tinsley, infeliz. Aquela nerd inglesa? Bem, ir para a casa de Yvonne Stidder era melhor do que ficar na rua, desde que os pais dela tenham lhe deixado um bar bem abastecido. — Eu preciso mesmo de um drinque. — Ela viu Callie, a cara praticamente espremida no vidro da Vera Wang, olhando um vestido de noiva. Meu Deus. A garota sem dúvida precisava transar logo e parar com aqueles malditos planos de casamento. A curta caminhada pela Park Avenue pareceu uma eternidade, as meninas arrastando-se pelas ruas cheias, por causa das malas pesadas. As botas Givenchy de salto de Tinsley batiam na calçada e ela começava a se sentir um pouco melhor, mesmo que ainda estivesse totalmente amargurada com os pais por a colocarem nesta situação, antes de mais nada. Era muita falta de consideração. Por fim, elas estavam na frente do numero 866, a leste da 80th Street, um prédio alto com um porteiro que parecia um astro do cinema italiano. Ele abriu a porta para as meninas no segundo em que elas pararam ali. — Viemos ver Yvonne Stidder — disse Jenny, pasma, olhando a imensa tela indistinta pendurada sobre o sofá no saguão.
— Sim, naturalmente. — O porteiro tocou o quepe, sorrindo para Tinsley ao pegar a bagagem das três e as conduzir ao elevador. — Já estão todos lá em cima. Último andar. — Estão todos quem? — cochichou Callie enquanto elas esperavam pelo elevador. — Espero que não todos os amigos da banda de jazz dela. — Não sei se vou ter estômago para uma festinha de nerds hoje. — Tinsley apertou o botão dourado do C. — Pelo menos estará aquecido — sugeriu Jenny, os lábios meio azulados. — E não lotado de Hare Krishnas — acrescentou Tinsley. O elevador se abriu para outro pequeno saguão decorado com telas abstratas e sofás rígidos que pareciam pequenos demais para se sentar. Bem à frente delas uma porta estava aberta e se ouvia uma música dançante meio jazz. As meninas largaram as bolsas do lado de dentro da porta da frente e olharam a cena: a sala de estar luxuosa, uma parede de vidraças dando para a cidade, decorada em azuis escuros e marrons de bom gosto, e cheia de móveis modernos e polidos. E apinhada de companheiras Waverly Owls. — Olha a Kara ali! — exclamou Jenny toda animada, tirando o casaco vermelho e pendurando no armário aberto. — Esqueci que ela é do Brooklyn. E Alison Quentin. Graças a Deus. — Tinsley viu as meninas num sofá de couro comprido, cercadas por caras mais velhos com taças de martini nas mãos. — Isto é uma loucura — sibilou Callie para Tinsley enquanto elas contornavam Clifford Montgomery, um menino do terceiro ano com cabelo preto perpetuamente eriçado e óculos de armação preta e quadrada. — Quem diria que Yvonne tinha amigos? E ainda por cima bonitos! — Quem não teria se morasse num lugar desses? Pelas vidraças se via um deck de terraço com vista de 360 graus da cidade, uma sólida cerca-viva envolvendo a coisa toda e uma banheira de hidro do tamanho de uma piscina pequena. Ali estava o irmão mais velho de Yvonne, Jeremy, que Tinsley reconheceu de um dia no primeiro ano quando a família de Yvonne foi de visita à Waverly. Mas ela não se lembrava que Jeremy era tão... bonitinho. Bêbado, Jeremy espirrou água em alguns amigos igualmente gracinhas na banheira quando uma menina de biquíni vermelho descia a escada para a água quente. — Nem acredito que vocês vieram! — Yvonne deu um gritinho, passando pela multidão ruidosa. Estava com uma frente-única estampada que podia ser bonitinha se não fosse pelo estampado, e jeans pretos que eram meio pequenos demais para ela. — Isso é demais. — Casa bonita. — Jenny a cumprimentou com os olhos cor de chocolate percorrendo a sala. — E uma ótima festa... Está bombando. — Eu juro que acho que metade da Waverly está aqui — disse Yvonne, delirando um pouco com o próprio sucesso. Tinsley e Callie se olharam e deram uma risadinha. Uma máquina de pinball soou em algum lugar da cobertura como um alarme de incêndio, mas ninguém pareceu perceber. O telefone no bolso de Yvonne zumbiu e ela o abriu. — Fiquem à vontade — disse ela, apertando o braço de Jenny antes de se afastar. — Tenho que me trocar agora — reclamou Callie, tocando o cabelo molhado com a ponta dos dedos. — Parece que estou toda suada e nojenta. — Mas você não estava, tipo assim, noiva? — Tinsley passou os dedos pelo cabelo, dando vida novamente às ondas pretas.
Callie revirou os olhos para Tinsley antes de pegar a bolsa e desaparecer no corredor em busca de um banheiro. Esta era uma autêntica festa. Só mostrava o que pode acontecer quando as Waverly Owls estão entediadas em Nova York. — Vou falar com a Kara. — Jenny desapareceu na multidão, lançando os braços em Kara Whalen, a irritante ex-namoradinha de Brett, enquanto a loura ao lado dela olhava. Peraí. Aquele cabelo louro e ondulado era totalmente familiar e quando a menina se virou para Jenny e apertou sua mão, Tinsley a reconheceu. Sleigh Monroe-Hill, sua colega de quarto por três meses inteiros no primeiro ano. Um suor frio — não por nervosismo, mas por uma raiva muito latente — brotou em sua pele. Sleigh Monroe-Hill era a maior vaca que Tinsley já conheceu na vida — e olha que ela conheceu muitas. Elas voaram no pescoço uma da outra desde o primeiro dia na Waverly, quando Alexander Zales, capitão do time de futebol e o cara mais gato do primeiro ano, tinha se sentado ao lado delas no refeitório. Foi o que bastou: alguns dias depois, Sleigh disse a ele que Tinsley tinha uma misteriosa doença de pele — algo que provocava coceira em lugares impronunciáveis. Tinsley revidou encolhendo todos os jeans de grife de Sleigh na lavanderia do porão, repetindo os ciclos de lavagem um após o outro até que ficassem pequenos demais. Sleigh passou semanas se lamentando, usando calças de veludo cotelê e comendo gelatina, convencida de que tinha caído na engorda dos calouros. Mas quando Sleigh descobriu que Tinsley tinha ficado com Alexander (ah, o meigo Alexander) depois de um dos jogos de futebol, ela pirou completamente, atirando todas as coisas de Tinsley — roupas, livros, laptop, calcinhas La Perla, caixas de absorventes, tudo — pela janela do quarto andar do alojamento Graham Hall. Totalmente insana. Logo depois disso, Tinsley voltou do almoço e encontrou o lado de Sleigh do quarto limpo, como se ela nunca tivesse estado ali. O reitor Marymount chamou Tinsley e disse que Sleigh estava em uma curta “licença médica”, mas Tinsley nunca mais viu a menina e curtiu um quarto só para ela — e com dois armários — pelo resto do ano letivo. Tinsley fingiu examinar um mapa antigo de Manhattan pendurado na parede da sala de estar enquanto fitava Sleigh pelo canto do olho. — Que surpresa ver você, Carmichael. — Cliff Montgomery, com um sorriso no rosto, apareceu diante dela. Estava com um suéter azul royal justo por cima de uma camisa branca amarrotada e Doc Martens surrados. — E posso saber por quê? — perguntou Tinsley, gélida, irritada por ele estar cobrindo sua visão de Sleigh. Suas entranhas palpitavam pelo reaparecimento inesperado de sua Nêmesis e ela mal conseguia se concentrar. Mas que diabos Sleigh estava fazendo aqui? — Pensei que você só fosse a lugares com gente bonita. — Cliff deu de ombros. — Tipo o Beatrice Inn, entendeu? Ele soltou o nome de um lugar exclusivo, como se ele ficasse mais descolado por saber disso. Cliff era uma graça, de um jeito emo e Death Cab for Cutie de ser. Mas tinha um pé atrás desde uma excursão do Clube de Italiano para ver La Bohème, quando Tinsley deixou que ele a beijasse no escuro do Metropolitan Opera House — e depois nunca mais permitiu que ele repetisse. — Pode pegar uma bebida pra mim? — perguntou Tinsley com doçura, querendo se livrar de Cliff e ficar o mais longe possível de Sleigh. O último boato que Tinsley ouvira era de que Sleigh estava recebendo aulas em casa e tinha se reinventado como uma espécie de aspirante da cantora folk Joan Baez. A fivela de couro com o prendedor de madeira no cabelo louro embaraçado, junto com o jeans que parecia sujo e a camiseta infantil de florzinha pareciam confirmar esse boato. Francamente.
Enquanto Cliff se afastava para procurar um coquetel, Tinsley pegou a bolsa e entrou pela primeira porta que encontrou. Pertencia a um quarto de hóspedes com paredes carvão e uma cama baixa, e uma porta do outro lado que dava para um banheiro pequeno. Depois de se olhar no espelho e passar um pouco de delineador cinza chumbo, Tinsley saiu mais parecida consigo mesma. Com o vestido American Apparel preto trespassado que mostrava a bainha do corpete Cosabella pêssego, ela estava sexy, relaxada e não dava a mínima para nenhuma outra menina na sala. Sleigh Monroe-Hill que se danasse.
epois de tirar a roupa e colocar um vestido de jérsei Kyumi de manga bufante, meias-calças marrons e um par de sandálias de veludo azul royal no toalete de pédireito alto de Yvonne Stidder, Callie se sentia muito melhor. Pela milionésima vez quis que Easy estivesse com ela. Não era tão divertido passar o batom DuWop na boca sabendo que ele não a beijaria — pelo menos, esta noite não. Amanhã, pensou ela sonhadoramente enquanto voltava para a festa, os sapatos batendo de leve no piso de tábua corrida de nogueira brasileira. Ela foi para a parede das vidraças e olhou a cidade, perguntando-se se Easy já conseguira sair do colégio militar e se os planos dele para um fim de semana romântico incluíam um quarto no hotel W. Callie estava tão imersa em pensamentos que nem ouviu o cara parando ao lado para lhe fazer uma pergunta. — Desculpe, o que disse? — perguntou ela, tirando os olhos da noite escura. Um garoto com cabelo louro e curto e o queixo do Brad Pitt estava diante dela, estendendo uma taça de martini cheia de um líquido rosa, com uma cereja flutuando no alto. — Yvonne me pediu para te trazer um Cosmo... Ela disse que você parecia precisar de um. Ele ofereceu a bebida e Callie aceitou, olhando-o de cima a baixo. Ele vestia suéter Hugo Boss cinza e justo por cima de um blusão azul e jeans escuros Rock & Republic — exatamente o tipo de roupa que ela escolheria para Easy, se Easy a deixasse escolher suas roupas. Callie sorriu, um tanto agradecida por ter se precavido ao passar um gloss. — Bem, obrigada — respondeu ela com frieza, recostando-se na estante de aço e vidro do canto. No passado, se um universitário lhe oferecesse uma bebida numa festa, ela teria de pensar cuidadosamente em todas as ramificações da aceitação. Mas agora que estava praticamente noiva, ela se sentia imune às paqueras dos que a cercavam — fossem universitários ou não. — Meu nome é Ellis. — Brad Pitt estendeu a mão educadamente. Parecia meio um antiEasy, o que fez Callie sentir ainda mais saudade do próprio. — Callie. — Ela jogou a cabeça de leve, o cabelo louro na altura do ombro quicando no rabo de cavalo frouxo. — Como conheceu Yvonne? — O que queria dizer era, como um gato como esse conhece Yvonne Stidder? Ela passou despreocupadamente o dedo pelos grossos livros de arquitetura que se enfileiravam na estante. — Fui colega de Jeremy na escola preparatória. O irmão dela. — Ele apontou o terraço, que estava momentaneamente vazio. — Vim de Princeton agora. — Ele sorriu para o martini antes de tomar um gole.
— Princeton — repetiu Callie, impressionada. Ela sempre pensou que Princeton era uma das universidades chatas e ultracompetitivas onde os nerds se entocavam para estudar na biblioteca por semanas a fio, mas agora imaginara um campus coberto de hera e cheio de caras que pareciam o Brad Pitt. — Gosta de lá? Ellis assentiu, recostando-se no espaldar de uma cadeira vermelha berrante que parecia vir dos Jetsons. — Mas sinto falta de Nova York. Morei aqui a minha vida toda. — Ele passou a mão no cabelo louro. — E aí, o que vai fazer enquanto estiver aqui? — Na verdade, vou encontrar meu namorado. — Ela soltou a palavra namorado sem esforço nenhum, observando a expressão de Ellis para ver sua reação. — Já faz algum tempo que a gente não se vê. — Sei como é isso — confidenciou Ellis, os olhos verde-claros e solidários. — Minha namorada mora na Bélgica. — Uau, isso sim é distância. Callie olhou o escuro de novo, imediatamente conjurando para ele uma namorada tipo Angelina Jolie, lábios carnudos e francófona. Ela se perguntou como se sentiria sabendo que Easy estava em outro continente. Tomou outro gole do drinque, sem perceber que já havia secado metade dele. Jenny, sentada no sofá com Kara, olhou-a nos olhos. Callie lhe lançou um olhar que dizia que só estava conversando, que não estava rolando nada. Ele tinha namorada, pensou ela, quase com alegria. Não havia problema só conversar com ele. — Não é assim tão ruim. É meio como ir daqui até a Califórnia — disse Ellis. — Apenas não faço isso com muita frequência, é só isso. Ela às vezes vem, mas a família dela está toda lá. O pai é diplomata... Então não é fácil para ela. — Ele parecia triste e Callie podia sentir sua dor. — Qual é o nome dela? — perguntou Callie, fingindo interesse em um livro imenso sobre arquitetura brasileira moderna. — Sybil — respondeu Ellis, triste. Por um momento parecia que ele estava devaneando, depois ele tomou outro gole do martini. — E você? Qual é a história do seu namorado? — Easy está numa escola da Virgínia, a oeste... Mas vai escapulir para passar o fim de semana aqui. — Dizer isso em voz alta a fez tremer. Ela não havia pensado em como seria depois de seu fim de semana romântico, quando Easy teria de voltar ao colégio militar. Será que ele ficaria encrencado? Para onde se vai quando se é expulso do colégio militar? Para a prisão? — Ele me deu isso. — Ela mostrou a ele o anel de compromisso. — Impressionante. — Ellis coçou o pescoço e Callie viu uma correntinha platinada ali. — Achar alguém assim. Especialmente quando ainda se está no ensino médio. — Callie procurou vestígios de condescendência no rosto dele — parecia algo que Tinsley diria —, mas não achou nenhum. Ela entendeu, pela expressão de Ellis, que ele também tinha encontrado a pessoa com quem queria passar o resto da vida. — Seu namorado é um cara de sorte — acrescentou ele. — Espero que ele saiba disso. — Eu também — riu Callie. Só mais uma noite e ela estaria com Easy de novo. — Ao... Hummmm... amor de longa distância. — Callie ergueu a taça e Ellis brindou com ela. — Amém — disse ele. — Só que sua taça está vazia. Vou encher pra você.
Do outro lado da sala, Jenny olhava Callie e um dos amigos bonitinhos de Jeremy Stidder reunidos no canto. — Ele é seu amigo? — perguntou a Casey, o universitário lindinho que estava ao lado dela. Ele tinha se sentado no sofá de couro preto com ela e Kara e entrou na discussão sobre onde achar o melhor restaurante da cidade. Quando Rifat Jones chamou Kara para jogar air hockey no salão de jogos, Casey se aproximou alguns centímetros de Jenny. — É o Ellis. — Casey seguiu os olhos de Jenny pela sala, com um cacho de cabelo escuro caindo na testa. — A gente já andou por aí. Ele é legal. Tem namorada. — E você? — Jenny voltou a atenção à sua paquera. Casey tinha começado dizendo o quanto ela era parecida com uma estrela de cinema cujo nome ele não se lembrava. Ele era uma graça total — com uma camiseta vintage dos Thundercats e calça preta, parecia uma espécie de roqueiro alternativo numa noite de folga. — Nada de namorada — disse ele com a mão no coração. — Dá pra acreditar nisso? — Não. — Jenny riu, encostando a cabeça no sofá e olhando o teto. As pessoas giravam em volta deles, mas parecia que os dois estavam sozinhos em seu próprio mundo. Ele se encostou na almofada cinza e achatada no canto do sofá e Jenny teve de se segurar para não partir para cima dele, sentir seu peito largo contra o rosto. Mas será possível que ela já estivesse bêbada? — E aí, como conheceu Yvonne mesmo? — perguntou ele, os olhos castanhoacinzentados faiscando. Jenny mordeu o lábio, relutando em romper o feitiço de sua paquera ao dizer que estava no ensino médio. Será que ele ia mudar de ideia? — Waverly — disse ela por fim. — Tá de sacanagem. — Ele sorriu. — Eu sou da Union. Fica, tipo assim, a meia hora de você. — Que legal. Sua imaginação se encheu com imagens dela mesma andando com confiança pelo campus da Union College nas visitas de fim de semana, acenando para os amigos de Casey, ouvindo cochichos de Essa é a namorada do Casey. Jenny podia se ver chegando a festas loucas de fraternidade, de mãos dadas com ele. — É, é superbacana — concordou Casey, coçando o joelho. — A Union é ótima. Jenny de repente percebeu que ainda estava com o suéter aveia calombento e feio — a roupa do trem — e nem um pingo de maquiagem. Ela mesma devia estar parecendo um naco calombento de aveia. — Ei, guarda meu lugar — disse ela timidamente, colocando o copo vazio de cosmo no tampo de vidro da mesa de café. — Tenho que tirar o suéter... Está bem quente aqui dentro. — Ela disparou na direção de sua mala para pegar alguma coisa mais bonita e a bolsa de maquiagem. Entrou num quarto de hóspedes exatamente quando Tinsley saía com um olhar decidido no rosto. — Vou me trocar — cochichou Jenny, tirando o suéter. — Nem tinha percebido que estou parecendo uma qualquer. — Você não está tão mal assim. — Tinsley tombou a cabeça de lado, o cabelo roçando nos ombros. — Mas já vi dias melhores.
Tinsley deixou Jenny e andou pelo corredor, procurando algum sinal da maléfica Sleigh Monroe-Hill, que provavelmente começaria uma briga de mulheres bem no meio da festa, gritando que Tinsley conseguira sua expulsão da escola. Que fosse. Até parece que foi Tinsley que largou toda a gaveta de lingerie dela no gramado da frente. (Tinsley tinha certeza absoluta de que Heath Ferro tinha roubado dos arbustos sua calcinha de biquíni Agent Provocateur preferida, mas ele ainda negava.) Ela viu Callie e um cara lindo conversando perto das portas de vidro que davam para o terraço. Que interessante. Ao que parecia, Callie abandonara sua fantasia de vestido de noiva. Pelo menos a festa de Yvonne não era uma nerdfest total. Tinsley se sentia ligada e parecia que algo muito interessante podia acontecer. Ao entrar na cozinha, ficou totalmente decepcionada ao ver um monte de completos imbecis — provavelmente da banda de jazz de Yvonne — se reunindo no cômodo de mogno e aço inox. A galera magricela e esquisita bebia cooler de Bacardi. Tinsley colocou a mão no quadril. — Alguém sabe onde a bebida está escondida? Ela espiou um armário, mas só viu caixas de Froot Loops. — Posso te preparar um cosmo, Tinsley. Um louro de cabelo curto cuja cabeça só chegava ao queixo de Tinsley de imediato saltou para a frente, pegando uma coqueteleira prateada e uma taça de martini. Ela parou por um segundo, perguntando-se se conhecia aquele mané. Depois teve um estalo. Era o colega de quarto de Julian, Kevin. — Não bebo nada rosa — respondeu ela, pegando a taça de martini da mão dele e agarrando uma garrafa de Absolut. — Mas obrigada. Tinsley não soube o que a fez olhar para cima naquele momento na sala de jantar, mas ela olhou. Seus olhos caíram em um cara parado sozinho, olhando fixamente uma tela enorme, vermelha e laranja, no estilo Jackson Pollock, imerso em pensamentos. Julian. Julian estava aqui. Ela sentiu o coração tremer, se isso fosse possível. Ainda podia ouvir as últimas palavras de Julian, quando ela perguntou por que não o vira na festa de Halloween da Waverly: Mesmo que eu tivesse ido, não ia querer ficar com você. Foi de longe a coisa mais cruel que alguém já disse a ela, mas vindo de Julian, que era o cara mais descolado que ela havia conhecido, tinha magoado mais do que qualquer outra coisa. De repente Tinsley recuou, encostando-se na bancada da cozinha. Kevin, que estava em modo de ataque, ofereceu-se para lhe preparar um martini, mas em vez de responder ela deu meia-volta e saiu dali. Com a taça de martini e a garrafa de vodca nas mãos, ela voltou ao quarto de hóspedes e desabou na cama. Não era mais Halloween, mas os fantasmas de seu passado voltavam para assombrá-la.
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EmilyJenkins: AimeuDeus, vc nem acredita em quem está na festa da Yvonne Stidder. BennyCunningham: Quem? Um monte de manés? Rá! EmilyJenkins: Cara, não. TODA a Waverly está em NY — até Callie, Jenny e Tinsley... E Sleigh Monroe-Hill BennyCunningham: Essa vaca me disse no primeiro ano que conhecia um dermatologista que podia fazer maravilhas no meu rosto — na frente de Tom Pham, pra quem eu dava mole total! EmilyJenkins: Vc estava com uma acne séria naquele ano... BennyCunningham: Nem tanto! Era alergia ao meu uniforme de hóquei. Não arrume desculpa por ela ser uma VACA! EmilyJenkins: Acho que ela tem certo currículo... BennyCunningham: Tá mais para ficha. Queria ver essa garota e TC saindo na porrada!
enny passou com cuidado o batom Cargo PlantLove com sabor de cereja, deixando a boca macia, doce e hiperbeijável. Já havia ficado uma hora conversando com Casey e queria passar a hora seguinte conversando com ele também — quem sabe, se ela tivesse sorte, ele pensaria em beijá-la. Será que ela deixaria? A resposta era... Jenny não sabia. Sabia que não devia — ela o conheceu há mais ou menos uma hora — mas havia toda uma lista de coisas que não devia fazer, e onde é que estava a diversão nisso? Depois de tirar o suéter pesado e revelar a blusa Free People transparente e preta de mangas soltas, ela sentiu muito mais vontade de se divertir. A porta do banheiro se abriu, empurrando Jenny contra o espelho e sua mão esquerda quase enfiou o pincel de maquiagem no olho. — Mas o que... — começou Jenny, surpresa ao ver Tinsley à porta. — Desculpe, pensei que não tinha ninguém — murmurou Tinsley, recuando. — Está tudo bem — insistiu Jenny. — Pode entrar. — Obrigada. — Tinsley fechou a porta com a taça de martini na mão. — E aí... — Jenny sentiu a necessidade de dizer alguma coisa, já que ela e Tinsley não eram exatamente íntimas para ficar juntas num banheiro estranho em completo silêncio. — Acabo de conhecer o cara perfeito. — Ela uniu os lábios para suavizar o batom, sentindo o gosto de cereja na ponta da língua. — Eu também — disse Tinsley em voz baixa, olhando a si mesma no espelho com severidade. Jenny percebeu com interesse que não era um olhar do tipo Eu não sou uma gata? Tinsley sempre estava uma gata, e especialmente esta noite, com o vestido preto trespassado e brincos de pingente em formato de folha; mas era um olhar mais do tipo Onde estou? Um tremor percorreu o corpo de Jenny. Ela não quis dizer que tinha conhecido Casey também, né? — Quem? — perguntou Jenny, meio temerosa da resposta. Tinsley pôs as mãos nos quadris e baixou os olhos, dando a impressão de que estava prestes a vomitar. Jenny se preparou para o pior — que Casey era um ex-namorado e eles estavam falando em passar o Dia de Ação de Graças em alguma cobertura do centro, cercados de supermodelos e estrelas de cinema, restando a Jenny se arrastar de volta ao pai e aos Hare Krishnas. — Julian. — Como é? Sem querer, Jenny largou o pincel e ele bateu na cuba de vidro claro da pia, que ficou manchado de preto.
Julian McCafferty estava aqui? Não parecia fazer tanto tempo desde que Jenny foi convencida de que estava apaixonada pelo calouro lindo e superalto — mas descobrir que ele tinha ficado com Tinsley Carmichael só alguns dias antes de eles ficarem juntos foi o fim de tudo. Jenny via as mãos de Tinsley tremerem. — Eu te disse que já estive apaixonada. — Pensei que estivesse falando daquele cara da África, ou de algum príncipe europeu. — Julian? Mas ele era tão... normal. — Ou de um astro do rock. Tinsley riu, a cor voltando a seu rosto. — Não, é só um calouro. — A mente de Jenny disparava — se Tinsley realmente era apaixonada por Julian, não admirava que ela desse aquele ataque contra Jenny depois de descobrir que eles estavam juntos. Não que isso tornasse mais aceitável colocar a culpa nela por começar o incêndio no celeiro — mas talvez ficasse um pouco mais compreensível. Tinsley abriu uma gaveta na penteadeira e começou a mexer ali, distraidamente. — Eu nunca senti o que ele me provoca. Ele é tão franco e honesto. Não tem, tipo assim, segundas intenções, entendeu? — Os olhos de Tinsley se arregalaram, como se de repente ela se lembrasse de que falava com alguém que também tinha ficado com Julian. — Quero dizer, não é que você não saiba... Hummm, bom, acho que sabe, mas não foi o que eu quis dizer... — Eu sei. — Jenny olhou a gaveta aberta. Ela e Tinsley viram uma caixa de camisinhas — extragrande, Muito Prazer. — Ai, que nojo. — Tinsley fechou a gaveta com um baque. — Esse é o banheiro do Sr. e da Sra. Stidder? Quem é que deixa camisinhas para os convidados? — Talvez eles só sejam atenciosos. — O riso de Jenny rapidamente se transformou em soluços e Tinsley lhe deu um tapa rápido nas costas para ela parar. Passou-se um momento e Jenny se sentiu mais à vontade do que nunca com a menina mais velha e glamourosa. — Sabe de uma coisa, não houve realmente nada entre mim e Julian. Seria a verdade? Certamente não era assim na época — mas já se passou mais de um mês desde que Jenny falou com ele, e ela não ficou morrendo de amores por ele todo esse tempo. Em seus sonhos mais loucos, ela nem teria pensado que Tinsley e Julian tinham mais do que algumas ficadas ao acaso, mas o olhar de Tinsley deixava claro que ela se apaixonara pra valer. — Não consigo tirar esse cara da cabeça — admitiu Tinsley, curvando-se para a pia e jogando água no rosto. Jenny se sentou na tampa da privada. Julian e Tinsley? Ela esperou pela pontada familiar de ciúme que sentira momentos antes, quando pensou que Tinsley tinha laçado Casey bem debaixo de seu nariz, mas não havia nada. E realmente pensou que esteve apaixonada por Julian. Podia se lembrar de uma noite, há não muito tempo, quando olhou as estrelas pela janela de seu quarto de alojamento, perguntando-se se Julian estaria vendo a mesma coisa. Mas depois ela se lembrou do mesmíssimo cenário, aquela sensação de novo amor, só que com Drew... E estremeceu. Olhando fixamente a pequena bandeja de velas aromáticas no chão ao lado da banheira de pés em garra, Jenny se lembrou de pensar em Easy da mesma maneira. Ela só estava na Waverly desde setembro — e já tinha se apaixonado três vezes. — Queria ser mais parecida com você. — Tinsley suspirou, abaixando na beira da banheira, unindo os joelhos com meias pretas. — O quê? — Jenny deu um gritinho. Tinsley Carmichael, a pessoa mais glamourosa a colocar os Manolos no campus verdejante da Waverly, queria ser como Jenny Humphrey,
que tinha acabado de passar uma hora paquerando um cara vestida num suéter gigantesco e feio pra caramba? — Mas como? — Não sei. — Tinsley suspirou, passando os dedos pelas ferragens de bronze da banheira. — Quero dizer, esta é a única vez em que me sinto assim, mas nunca deixei que Julian percebesse nada. Eu só fui a Tinsley mandona de sempre. — Ela olhou novamente para Jenny, os olhos violeta lindos e tristes. — Entendo por que ele gostou mais de você. — Talvez ele só quisesse te conhecer melhor — sugeriu Jenny, girando a pulseira no braço. — E você não deixou. Tinsley assentiu e pegou um frasco de espuma para banho de lavanda da L’Occitane. Abriu a tampa, cheirou e o devolveu ao lugar. — Quero dizer, eu vejo como as pessoas reagem a você. É tão fácil conviver com você. — Não tem truque nenhum. — Jenny se levantou, espanando os jeans escuros J Brand com bainha torta. Ela teve de cortar uns 30 centímetros e costurar ela mesma. — Só gosto de conhecer gente. — Eu não. — Tinsley torceu o nariz. — Perturba meu equilíbrio. Odeio ter de reconfigurar todo mundo constantemente, quem cabe onde e essas coisas. — É por isso que você é tão fria com as pessoas quando as conhece? — perguntou Jenny para o próprio reflexo. Ela não teria se arriscado a fazer essa pergunta antes, em especial no trem, quando Tinsley estava em seu mau humor eterno. Tinsley fez biquinho. — Acho que sim. Uma batida alta sobressaltou as duas e Tinsley foi até a porta para abri-la. — Que foi? — perguntou ela à coitada da menina que tremia ali. — Tem outros banheiros na casa, sabia? Este está ocupado. — Tinsley bateu a porta antes que a menina pudesse dizer alguma coisa. — Bem, se quiser Julian de volta, vai ter que tirar a capa de rainha do gelo — disse Jenny abruptamente. Ela percebeu que isso parecia meio ríspido e que Tinsley não tinha pedido conselho nenhum, então acrescentou: — Na minha opinião. — Não sei o que quer dizer — disse Tinsley friamente, cruzando os braços. Jenny aproveitou a chance, pressionando um pouco mais. — Isto — disse ela, apontando o espelho. — Você fica na defensiva. Não faça isso. Não há nada demais em se arriscar à rejeição. Sabe o que meu irmão diz? “Uma garota bonita não pode dizer não se eu não convidá-la para sair.” Sempre penso nisso quando tenho medo do fracasso. — Eu diria que agora é tarde demais. — Tinsley reprimiu um sorriso falso. — Julian nunca mais vai gostar de mim, não depois do que eu fiz com você. — Ela sugou as bochechas. Jenny se virou para ela. — Só o que estou dizendo é que está claro que você é mesmo apaixonada pelo Julian — continuou — e precisa se abrir com ele. Não tente manipular o cara para ele gostar de você de novo, porque não ia dar certo. Só... Sabe como é... Peça desculpas por tudo e diga a ele como se sente. Se ele não der ouvidos, bem, pior para ele. — Ela colocou o tubo de gloss na bolsa. Tinsley sorriu. — Obrigada — disse ela mansamente. — Talvez eu faça isso mesmo. — Que bom. — Jenny abriu a porta, mas Tinsley se interpôs, fechando-a novamente, para um coro de gemidos do lado de fora.
— Então um conselho para você, já que estamos no modo amiguinhas. — Tinsley apontou o dedo de brincadeira para Jenny, mas sua expressão era séria. — Não comece a pensar em namoro firme com esse cara que acaba de conhecer. Você precisa pegar leve e se divertir. Jenny olhou a própria boca no espelho. Tá legal, então ela meio que já planejava sua primeira ida à Union. — Quer dizer que não posso beijar o cara? — Desde quando eu virei freira? — Tinsley revirou os olhos. — Claro que pode beijar. Mas não comece, sabe como é, a escolher a aliança. — Tudo bem, é justo — concordou Jenny. — Parta alguns corações antes de deixar que o seu se parta de novo, está bem? Jenny deu uma última olhada em seu reflexo no espelho. Perto de Tinsley, ela ficava... Bem, não era tão ruim como pensava. Tinsley olhou para Jenny pelo espelho. — Nós duas temos muito trabalho pela frente. Ela lhe deu um leve empurrão para a porta e Jenny a abriu. Uma multidão de meninas que morriam de vontade de fazer xixi explodiu em aplausos. Kara puxou Jenny para um canto enquanto Tinsley passava. — Eu a vi entrar aqui... Pensei que ela estava te estrangulando! — Ela fez um olhar indagativo. — O que estavam fazendo aí dentro? Jenny se limitou a sorrir. — Você não acreditaria em mim se eu contasse.
insley abriu caminho pela multidão espremida, voltando para a cozinha. A cobertura fedia à fumaça azeda de cigarro e colônia e perfume demais num espaço muito pequeno. Sua garganta estava seca de falar com Jenny, e a taça de martini também. Como se o destino a estivesse pressionando a testar o conselho de Jenny, a única pessoa na cozinha era quem ela mais queria ver — e ao mesmo tempo a última. Julian estava na frente da geladeira, olhando a porta fechada. Tinsley ficou paralisada. Ele estava lindo com um cardigã listrado de verde e cinza por cima de uma camiseta, calça Levi’s preta e os tênis Chuck Taylors pretos e desbotados. O estômago de Tinsley revirou. Ela tentou olhar por sobre o ombro dele para ver o que tinha prendido sua atenção, perguntando-se se havia alguma foto divertida da família de Yvonne usando alguma coisa idiota, ou um ímã de geladeira abertamente inteligente com alguma piadinha. — Verduras — disse uma voz, e Tinsley levou um ou dois segundos para entender que não era Julian, mas a geladeira. Julian abriu e fechou a porta do refrigerador. — Cerveja — disse a mesma voz eletrônica. — Oi — disse Tinsley suavemente, sem querer assustá-lo. Julian deu um salto, virando-se para ela. A surpresa em seus olhos castanhos a fez sorrir involuntariamente. — Oi. — Ele passou a mão pelo cabelo castanho desgrenhado que cortara. Também não era mais descolorido de sol e o fazia parecer mais velho. No bom sentido. — O que está fazendo aqui? Ela procurou por algum sinal de irritação ou raiva na voz dele, mas não percebeu nada. — Meus pais estão terminando o piso — explicou, embora soubesse que a resposta só o confundiria. Então decidiu explicar toda a saga, contando de um fôlego só que o pai de Jenny era de um culto, todos os hotéis estavam lotados e elas terminaram na casa de Yvonne. Julian sorriu. A covinha à esquerda da boca era como uma velha amiga para Tinsley. Uma velha amiga que ela queria lamber. — Parece o filme Depois de horas. — Esse eu não vi. — Ela adorava que Julian também fosse fã de cinema, mas odiava quando não entendia uma referência a um filme. Na realidade, Tinsley sentia pelo conhecimento de cinema de Julian o mesmo que sentia por ele: de certo modo odiava, porque ele era um calouro e não devia saber mais do que ela, e ela meio que amava isso. — O que você está fazendo aqui? — perguntou ela, recostando-se na bancada de granito e tentando não dar a impressão de que queria parecer sexy, o que ela era mesmo. — Quero dizer, além de conversar com uma geladeira.
Julian sorriu um pouco. Ela se perguntou se ele só estaria pouco à vontade, ou se ele talvez se sentisse meio mal pela última coisa que disse a ela. Não que não fosse verdade ou ela não merecesse — mas ela via que Julian se sentia mal assim mesmo, e uma onda de esperança correu por suas veias. — Seattle fica muito longe para o dia de Ação de Graças, e sou vegetariano mesmo, então é meio complicado querer pegar um voo longo só para comer um... — Peru de tofu? — sugeriu Tinsley, pegando algumas castanhas em uma tigela com nozes na mesa. — Não sabia que você era vegetariano. Julian olhou diretamente para ela e Tinsley sentiu um arrepio correr pela espinha até os dedos dos pés. — Tem muita coisa que você não sabe sobre mim. — O coração de Tinsley afundou e ela teve a sensação de que ele estava a ponto de ir embora. — Leite — disse a geladeira de repente, provocando o riso dos dois. — Acho que pifou. — Julian apontou o polegar e se afastou da geladeira num movimento suave. — Acho que é uma espécie de sistema de alerta de mantimentos de alta tecnologia. Nenhum dos dois disse nada por um segundo, o ruído da sala de estar entrando pela porta. Alguém gritou a letra de uma música do Radiohead a plenos pulmões, mas foi rapidamente tragada por um coro de “Cala a boca!” Julian olhava o chão, batendo no ladrilho com os tênis. Tinsley sentiu uma pontada ao se lembrar das palavras de Jenny. — Olha, Julian. — Ela engoliu em seco, encarando a marca de caneta no bico de plástico branco do sapato de Julian. Ela odiava quando as pessoas começavam frases por Olha. — Me desculpe. — As palavras saíram com dificuldade, mas o alívio a tomou no minuto em que ela as pronunciou. Tinsley sentia os olhos de Julian e desejou ter uma bebida, um cigarro ou algum outro esteio para esconder o nervosismo. — Pelo quê? — Por tudo. — Ela se afastou um pouco dele, pegando a garrafa de vodca e servindo um jato na taça de martini vazia na bancada. — Desculpe pelo modo como tratei você, por agir com tanta frieza quando você foi, sabe como é... — Ela deixou que a voz se arrastasse, sexy, não podia evitar. Meu Deus, por que era tão difícil ser sincera? Parar com aquele teatro? Então ela percebeu que estava sendo sincera. E depois que ela abriu as comportas das desculpas, não conseguiu mais parar. — Desculpe pelo que aconteceu com Jenny também. A gente conversou e estamos... Agora está tudo bem. — Ah, é? — É. — Tinsley assentiu devagar, olhando um prato de hummus e cenouras. — Ela é mil vezes mais legal do que eu. No lugar dela, provavelmente eu nunca teria me perdoado. — Isso deve ser verdade mesmo. Tinsley teve a sensação de que ele estava fazendo a linha dura para testá-la, para ver se ela se irritava e atirava algum comentário depreciativo para cima dele. Mas ela não se sentia assim, mesmo que estivesse constrangida por ser tão humilhada na cozinha idiota de Yvonne Stidder. — Mas queria te dizer que peço desculpas a você, porque sei que deve pensar que sou a pessoa mais cruel do mundo, mas na verdade não sou. — Sua voz tremeu um pouco, involuntariamente. — Não acho que seja a pessoa mais cruel do mundo. Julian pegou uma Heineken na geladeira e a abriu. Tinsley se perguntou se tinha imaginado a ênfase na palavra mais. Mas era tarde demais para revidar.
— Só tive ciúme. — Ela baixou os olhos e espiou Julian pelos cílios longos e grossos. Era um gesto que usou muitas vezes para parecer humilde quando não se sentia assim, mas agora era difícil demais olhar diretamente para Julian. Era como se ele fosse o sol ou coisa assim, e ela tivesse de proteger os olhos. — E agora estou totalmente arrependida. Nem consigo pensar nisso sem ficar com nojo de como me comportei. Eu não sou uma pessoa má. — Ela controlou a respiração pesada, reprimindo o choro que sentia crescer no peito. — Sou mais legal do que você pensa. Julian a encarava, confuso. Tirou as mãos dos bolsos, depois as recolocou ali. Tinsley tinha rompido a frieza com a qual ele se protegia, ela podia notar. — Não sei se acredito em você — disse ele por fim —, mas seria bom se fosse verdade. — Me dê uma chance de provar — pediu Tinsley. Tinha ido longe demais para voltar atrás e sabia que não ouviria um não. — Talvez a gente possa passar um tempo juntos. Julian sorriu e deu de ombros. — Tá legal — disse ele simplesmente. — Acho que gostaria disso. — Ei, você vem, Jules? — Uma voz familiar e indesejada falou da porta, e Tinsley nem precisou erguer os olhos para saber que era Sleigh Monroe-Hill. Jules? — Carreguei todo meu vídeo do YouTube, como prometi. Você disse que... — Ela parou de repente ao ver Tinsley, arregalando os olhos azuis. — Ai, meu Deus, essa é Tinsley Carmichael? A voz de Sleigh era coberta de açúcar e Tinsley mal conseguiu controlar a ânsia de vômito. Mas de maneira nenhuma ia deixar que Sleigh estragasse seu recomeço com Julian. Tinsley abriu a boca para dizer alguma coisa educada, mas que não a comprometesse (afinal, na última vez que Tinsley a vira, o pai de Sleigh estava preenchendo um gordo cheque pelo laptop e todas as outras porcarias que ela arruinou), mas antes de poder fazer isso, Sleigh a envolveu num abraço imenso. — Meu Deus, já faz tanto tempo, TC. — Tinsley lhe deu um abraço frouxo. Desde quando Sleigh era tão simpática? Ou legal? — Você está deslumbrante, como sempre! Com esse pequeno comentário, Tinsley sabia que nada tinha mudado. Sleigh disse “deslumbrante” como se fosse um insulto — que só as mulheres conseguiam ouvir. — É, já faz um tempão. Tinsley se afastou de Sleigh, olhando a camiseta sem manga lavanda de hippie (hummm, estava nevando lá fora) e o cabelo descorado do sol (ela andou pelo Caribe?). Ela não usava sutiã, era isso mesmo? Mas Tinsley sentiu os olhos de Julian nela, então rapidamente emendou: — Você também está ótima, Sleigh. Os olhos azuis de Sleigh pestanejaram brevemente antes de ela pegar a mão de Julian. — Vem, está todo mundo esperando. — Tá bem, estou indo. Julian olhou Tinsley uma última vez antes de os dois desaparecerem na sala da frente, deixando-a sozinha na cozinha subitamente vazia. Ela estava um tanto curiosa sobre o vídeo, mas uma pergunta mais urgente se metia na frente de seu cérebro: como assim Sleigh conhecia Julian? — Manteiga — disse a geladeira, como se respondesse à pergunta.
enny se recostou na estante preta e polida, vendo a neve cair do lado de fora da biblioteca. A vista do terraço era desimpedida e algumas almas corajosas estavam na banheira ali, curtindo, bêbadas, a paisagem de inverno que se esparramava pelos terraços da Park Avenue. A intensidade da neve aumentara nas últimas horas, mas Jenny mal percebera. Mal percebia qualquer coisa além de Casey — o tempo voou enquanto conversava com ele sobre tudo, de seus filmes preferidos a bandas que eles adoravam e lugares que Casey tinha conhecido. — Phuket deve ser o lugar mais bonito que já fui — disse ele, passando o dedo pelo globo antigo em seu suporte de madeira escura. — Precisa ir, quando tiver oportunidade. — Jenny não se importaria de ir — com Casey. Mas depois ela se lembrou da reprimenda de Tinsley para pegar leve e se divertir. E uma viagem à Tailândia devia violar essa regra — embora imaginasse que certamente contaria como diversão. — Gente, olha. Emily Jenkins acenou para a janela e uma dezena de Owls bêbadas se reuniram em volta dela, olhando a rua. Jenny balançou a cabeça para clarear os pensamentos — nem percebeu que tinha mais alguém ali — e correu para a janela com Casey. Um ônibus tinha enguiçado no meio do cruzamento tomado de neve da 80 com a Park Avenue. Soou uma cacofonia de buzinas e instantes depois a rua estava engarrafada, uma camada de neve rapidamente se acumulando em todos os carros. Toda a cena parecia em miniatura, como um globo de neve que alguém tinha sacudido. Yvonne subiu na mesa executiva de mogno no canto. Ela acenou, mal conseguindo ficar de pé depois de beber todo seu peso em rum e Diet Coke. — Quem precisar de um lugar para passar a noite pode acampar aqui! — gritou ela, feliz. Yvonne estivera circulando pela festa a noite toda, bêbada não só dos drinks, mas por sua festa ter sido esse sucesso todo. — Vai ser como uma festinha de pijama gigante... Meus pais ficam em Londres até segunda, então todos estão convidados para o feriado de Ação de Graças! — Sua voz era arrastada e Jenny teve medo de que ela pudesse despencar no piso de madeira. — A pizza é por minha conta. Vai ser o máximo! — Caraca, ela tá de porre — sussurrou Casey, inclinando-se para Jenny. Jenny assentiu, encarando os olhos castanho-escuros dele. Havia um aro cinza em volta da pupila, algo que Jenny não tinha notado. Ele era mais alto do que Jenny — praticamente todo mundo com mais de 10 anos era assim —, mas não era tão mais alto quanto a maioria dos meninos por quem Jenny se apaixonou, e era bom não ter que arquear o pescoço para olhá-lo. Ou beijá-lo, pensou ela, a pulsação começando a acelerar.
— Vai ficar aqui? — perguntou Casey, como se lesse sua mente. Ele colocou o copo plástico vazio ao lado do globo na ponta da mesa. — Você vai? — perguntou ela como quem não quer nada. Jenny balançou o cabelo para mostrar que podia ficar ou não, mas na realidade não tinha aonde ir. Voltar à casa do pai? Mesmo que quisesse fazer isso, seria um pesadelo atravessar a cidade tomada de neve. — Vou — respondeu ele. E Jenny seria capaz de jurar que os olhos dele pousaram por uma fração de segundo nos lábios dela. A eletricidade disparou pela espinha de Jenny. — Eu também. — Ela sorriu. — Todos os hotéis estão lotados mesmo — acrescentou ela, surpresa por parecer tão cosmopolita. — Ótimo. — Casey sorriu. As luzes diminuíram enquanto o começo da noite virava madrugada. A tela plana no alto da lareira exibia, muda, Meninas malvadas e as pessoas em volta jogavam cartas ou inventavam falas de bêbadas para o filme. A neve diminuiu e a banheira reabriu seus trabalhos. Uma trilha molhada corria do terraço à sala e todos gritaram quando a porta se abriu e uma lufada de ar frio entrou pelo apartamento. Julian estava junto da grande lareira do canto, virando as pequenas toras com o atiçador, enquanto uma loura que Jenny não reconhecia estava sentada em uma almofada a seus pés, de pernas cruzadas, como se meditasse ou estivesse numa aula de ioga. Jenny procurou por Tinsley, perguntando-se se ela conseguira conversar com ele, mas só viu Callie, sentada em uma cadeira vermelha e ultramoderna em forma de lágrima, conversando atentamente com o cara ao lado. A noite esmoreceu em murmúrios enquanto todos reivindicavam camas ou cavavam um lugar na sala da frente com os sacos de dormir, cobertores e travesseiros que alguém desenterrara de um armário no corredor. Jenny não se lembrava de quem tinha afastado o sofá, ou como terminou recostada nele ao lado de Casey, mas gostou. — Você está tremendo. — Ele estendeu a mão para a escuridão enevoada e puxou o cobertor para cima. Ele colocou o edredom por cima dela e o enfiou sob seu queixo, as mãos tocando de leve em seu corpo. — Obrigada. — O rosto de Casey estava tão perto que ela podia beijá-lo. Casey se inclinou como se a desafiasse a isso, mas se limitou a colocar um cacho atrás da orelha de Jenny, demorando-se um pouco com os dedos ali. — Tenha doces sonhos — sussurrou ele, metendo um travesseiro sob a cabeça, e Jenny, enquanto adormecia, percebeu que já estava sonhando.
s degraus para a casa de madeira do Sr. Dunderdorf na margem norte do campus estavam cobertos de uma grossa camada de neve e Heath os subiu com ansiedade. Brandon ficou para trás, perguntando-se que merda estavam fazendo acordados àquela hora, na manhã de Ação de Graças, quando deviam estar de férias. Quase quis estar em casa, metido em sua cama, deixando que a “onda do mar” de seu aparelho de som Bose bloqueasse os ruídos de dois bebês barulhentos que viam Thomas e seus amigos e transformavam a sala numa zona de guerra. Ao que parecia, não havia mais nenhum lugar seguro. Mas no segundo em que Heath saltou da cama às 5 da manhã, antes até de o sol nascer, ele entendeu que seria um dia longo, muito longo. Brandon tentou rolar na cama, enterrando a cabeça no travesseiro, mas Heath não deixou. — As gêmeas Dunderdorf estão esperando por nós — ficava entoando sem parar antes de Brandon ceder, dormindo no banho até que a água quente esfriou. Agora Heath mostrava a Brandon os dois polegares erguidos e bateu na porta desgastada da casa dos Dunderdorf. O cheiro quente do forno os recebeu quando a porta foi aberta. — Entrem — disse o Sr. Dunderdorf com aquela voz, incrivelmente grave para um homem de aparência tão frágil. — Ele está usando lederhosen? — cochichou Brandon a Heath. Enquanto isso, Dunderdorf acenava para que passassem pelo sólido batente de carvalho e entrassem na sala do estar, que era um pesadelo alpino de paredes revestidas de madeira e prateleiras de quinquilharias empoeiradas. Ele olhou para a calça verde escura de Dunderdorf, que só ia até os joelhos, por baixo da qual tinha uma espécie de cenoura de lã. — A lederhosen é a roupa tradicional dos bávaros — sibilou Heath. — Não seja tão ranheta. Os olhos de Brandon se adaptaram à meia-luz, vendo os entalhes de elfos e gnomos que se espalhavam por toda parte. Um entalhe em particular — de um elfo gigante com uma cara ameaçadora de porco — realmente lhe deu medo. Uma mesa no canto abrigava toda uma aldeia de cerâmica, cada casa pintada numa cor primária diferente, todos os telhados laqueados com uma camada de neve falsa. Um fio de luzes de Natal serpenteava pela aldeia, piscando em vermelho, verde, amarelo, rosa e azul a cada trinta segundos. Ouviram um carrilhão e, antes que Brandon pudesse se equilibrar, o relógio de cuco na parede soou oito badaladas. Um tirolês minúsculo — de lederhosen — saiu numa prancha, a carinha demoníaca gasta dos anos de exposição. — Cara, esse sujeito do relógio não tem rosto — observou Heath. — Eu vi.
Brandon de repente teve a impressão de que fora apanhado numa espécie de dobra do tempo intercultural. Precisou olhar seus jeans True Religion desbotados e o familiar colete Burberry para se lembrar de que não estava em outro planeta. — Frau Dunderdorf e eu estamos no meio do Dutch Blitz. — O Sr. Dunderdorf enfiou os polegares nos suspensórios da calça curta e os puxou do peito. — Sabem jogar? Brandon estava prestes a dizer não — quem jogava cartas a essa hora? — quando Heath se intrometeu. — Não, senhor, mas adoraríamos aprender. Dando um tapinha nas costas de Heath, Dunderdorf os levou pela sala da frente até a cozinha abafada, onde uma mulher baixa e corpulenta, com uma semelhança impressionante com o Sr. Dunderdorf, estava sentada em uma mesa de metal cheia de cartas que nenhum dos dois reconheceu. — Esta é a Sra. Dunderdorf. Heath e Brandon assentiram para cumprimentá-la. Como esses dois geraram um par de gêmeas de arrasar?, pensou Brandon. Ele queria perguntar a Heath se ele realmente vira as lendárias gêmeas, mas sabia que Heath estava tão apavorado quanto ele próprio. — Caramba, essas cartas são de dar medo. — A voz de Heath quase guinchava de pânico. — Ah... — O Sr. Dunderdorf fez um gesto de desprezo. — É fácil. Sentem-se. Eles se sentaram com cautela à mesa e a atenção de Brandon vagou enquanto o Sr. Dunderdorf explicava sobre os quatro naipes — Bomba, Carroça, Arado e Balde — e que cada naipe tinha dez cartas vermelhas, azuis, verdes e amarelas. Brandon olhou o pequeno holandês que aparecia em cada um dos quatro cantos das cartas, perguntando-se se de algum modo tinha entrado em Além da imaginação. Pelo menos ele não estava pensando em Sage, perguntando-se o que ela estaria fazendo... Mas agora que pensou nisso, o que ela estaria fazendo mesmo? E o que, aliás, ele estava fazendo? — Qual é o problema? — perguntou a Sra. Dunderdorf, os olhos azuis de Mamãe Noel concentrados em Brandon. — Nenhum — garantiu Brandon. — Eu só, humm, estava procurando uma... — ele se interrompeu, vasculhando o cérebro atrás da palavra para salsicha alemã. — Deutsche Wurst. A Sra. Dunderdorf sorriu para ele, revelando um buraco entre os dentes da frente, grande o bastante para se meter um lápis por ali. O Sr. Dunderdorf começou a primeira rodada de Dutch Blitz, que acabou se mostrando parecida com Uno. Depois de uns vinte minutos de um intenso jogo de cartas, a Sra. Dunderdorf trouxe o bule de café e encheu as xícaras. Brandon deu um rápido chute na canela de Heath, mas este só lhe lançou um olhar de eu sei, cara, mas o que quer que eu faça? O Sr. Dunderdorf pediu licença para usar o Raum des Kleinen Jungen — Brandon pensou significar “quarto do garotinho”, mas já fazia alguns anos desde que teve aulas de alemão. Depois que Dunderdorf estava fora do alcance, Heath se inclinou para a frente e perguntou à Sra. Dunderdorf: — Então, humm, suas filhas ainda estão dormindo? — A pergunta pareceu inocente, mas Brandon estremeceu quando Heath a pronunciou. A Sra. Dunderdorf balançou a cabeça e Brandon se preparou para as más notícias, de que ou elas não viriam, ou simplesmente não existiam. Talvez algum veterano safado tenha espalhado o boato, sabendo que uma alma fogosa tentaria explorá-lo. — O avião delas atrasou — respondeu a Sra. Dunderdorf embaralhando as cartas. — Vamos pegá-las mais tarde.
O quê? Heath se recusou a olhar para Brandon, fingindo se concentrar nas cartas. Eles arrastaram a bunda para lá praticamente ao amanhecer — e por nada! Pelo menos elas viriam... — Agora está na hora de pegar o peru — anunciou o Sr. Dunderdorf, voltando à cozinha e batendo palmas. Sua expressão era positiva e alegre. — Acompanhem-me. Brandon e Heath se afastaram da mesa e se colocaram de pé, ansiosos pela oportunidade de evitar mais uma rodada de Dutch Blitz. Talvez uma ida à Stop & Shop de Rhinecliff lhes desse a chance de escapar — ou, raciocinou Brandon consigo mesmo, pelo menos “lembrar” de um “projeto importante” em que precisava trabalhar. Podiam voltar mais tarde — ou amanhã — para dar uma olhada nas gêmeas. — Obrigado pelo delicioso café, Sra. Dunderdorf. — Heath sorriu obsequiosamente, sem jamais desistir. — Acertou em cheio. O Sr. Dunderdorf os levou para fora, o frio da manhã pendendo no ar, mas em vez de irem para o Volkswagen estacionado na entrada, ele contornou a casa com os dois. Brandon ficou paralisado quando ouviu o que esperava não ter ouvido. O Sr. Dunderdorf abriu o portão de um pequeno quintal. Um peru grande andava pelo gramado, parando e olhando para eles antes de fugir. — Vamos, meninos, é só um passarinho. — Ele riu consigo mesmo. — Ah, droga, não. — Brandon balançou a cabeça e se recostou no portão, tentando gesticular para Heath que agora era a hora de correr. Acabou-se. Nada de gêmeas, só um peru vivo e uma casa que tinha cheiro de bolo Grandma Ginny’s. — Cara. — Heath deu um suspiro, ele estava pálido. — Isso é péssimo. O Sr. Dunderdorf, sem perceber a agonia dos dois, foi até a gaiola no canto. — Precisamos colocá-lo aqui dentro, meninos — disse ele. — Vocês têm de perseguir, ou ele não vai se mexer. Não podem só andar até ele. — O velho desandou a correr atrás do peru, que batia as asas e disparava na direção contrária à da gaiola aberta. — Não estou fazendo isso — declarou Brandon, passando a mão no cabelo castanho dourado e curto. — Cara, vai valer a pena. — Heath plantou as duas mãos nos ombros de Brandon. — Tem alguma ideia de como as gêmeas são deliciosas? Já pensou que seremos uma lenda na segunda de manhã? Sage provavelmente vai saber e ficará toda “oh, o que foi que eu fiiiiz?” — Heath imitou uma voz aguda bem feminina para imitar Sage. E deu certo. Brandon adorou a ideia de Sage descobrir que ele ficou com uma gostosa alemã dias depois de ela tentar partir seu coração. Foi o bastante para que corresse pelo quintal, perseguindo a ave gigantesca e estúpida. O coração de Brandon batia loucamente no peito enquanto ele tentava conduzir o peru para a gaiola — mas a ave sempre se desviava da porta aberta no último minuto, contornando o quintal e gritando. Sem fôlego, ele parou, com as mãos nos joelhos, vendo o Sr. Dunderdorf e Heath levarem a gaiola ao peru, encurralandoo no quintal até que ele não teve alternativa a não ser entrar. — Arrá! — exclamou o Sr. Dunderdorf ao trancar a porta da gaiola. — Bom trabalho, Sr. Ferro. — Ele pegou um machado. — Agora, vamos à bagunça.
Uma hora depois, após se lavar, quando Heath e Brandon ainda estavam traumatizados demais para falar, o Sr. Dunderdorf anunciou que era a hora perfeita para uma sauna. — Uma sauna? Brandon sufocou, fraco demais para resistir enquanto o Sr. Dunderdorf o levava com Heath pela escada do porão. O cheiro de madeira úmida encheu as narinas de Brandon e a escuridão de repente se iluminou, revelando uma sauna completa atrás de uma porta de vidro, os bancos de madeira iluminados por lâmpadas vermelhas. O Sr. Dunderdorf ajustou o botão junto à porta e começou a se despir. — Deixem as roupas do lado de fora — instruiu o Sr. Dunderdorf. — Pendurem nos ganchos. — Ele apontou uma série de ganchos na parede. Brandon olhou para ver se o primeiro instinto de Heath era o mesmo dele — fugir —, mas Heath deu as costas ao Sr. Dunderdorf e começou a tirar a roupa. O Sr. Dunderdorf pegou uma toalha limpa do cesto de vime perto da porta e entrou na sauna, a porta de vidro estalando depois de ele passar. — De jeito nenhum — disse Brandon. — Confie em mim, cara — disse Heath, parado de cueca. — Vai valer totalmente a pena. Você já chegou até aqui. Brandon assentiu. Heath tinha razão. Ele só precisava que as gêmeas Dunderdorf chegassem, e rápido, para que Sage soubesse daquilo tudo, ficasse com um ciúme louco e então lhe implorasse para voltar. Ele tirou a cueca Ralph Lauren listrada de marinho e amarelo, jogou as roupas numa pilha ao lado das de Heath e pegou uma toalha.
cordes de música clássica soavam pelos alto-falantes recuados do sistema de som ambiente embutido dos Messerschmidt na manhã de quinta-feira. Infeliz, Brett olhou a torta de caviar com cebolas champanhe, um prato de que nunca ouvira falar, que dirá vira servido em sua casa. Apertou os olhos pela mesa de jantar de carvalho polido na direção de Bree, que considerava a responsável pela monstruosidade. Quando prometeu à mãe que se comportaria no brunch de Ação de Graças com os Cooper, Brett imaginara que teria auxílio em seu esforço mastigando silenciosamente as rabanadas leves da mãe, e não preparando ovas de peixe gelatinosas. Ela sentiu a garganta se apertar ao meter o garfo num pedaço da torta, soltando-o com uma sacudida e empurrando pelo prato, a porcelana imaculada brilhando como um espelho. Mas Brianna, com um vestido azul virginal Ann Taylor estampado de rosinhas minúsculas, recusava-se a reconhecer sua presença, como vinha fazendo desde a chegada. Brett no início ficou em pânico com a irmã noiva zumbi da Vogue — será que eles a drogaram? Fizeram lavagem cerebral? —, mas agora só estava irritada com toda a situação. — Gosta de golfe? — perguntou o pai de Brett ao Sr. Cooper, tomando um gole de suco de laranja fresco. Stuart Messerschmidt, cujo tema preferido — histórias de cirurgia plástica — sem dúvida foi proibido por Bree, passou ao segundo assunto de que mais gostava: esportes. Ele parecia mais estressado agora do que quando todo o elenco das Rockettes o procurou em um mês de novembro e exigiu que ele aplicasse Botox em cada uma para sua estreia. O Sr. Cooper engoliu uma garfada de torta e assentiu. — Sim, gosto. Estava com uma camisa Nautica rosa e uma gravata azul-marinho com pequenos veleiros amarelos. Ao que parecia, os brunches de Ação de Graças deviam ser formais — quando Bree esbarrou com a irmã no corredor do segundo andar naquela manhã, obrigou Brett a voltar ao quarto e trocar sua calça aveludada favorita Juicy Couture e camiseta preta dos Rolling Stones. — Quem é seu jogador preferido? — perguntou o pai de Brett, parecendo grato por ter achado alguma coisa para conversar. A mãe de Brett, numa espécie de terninho bege que parecia algo usado por uma advogada, apertou a mão dele do outro lado da mesa. — Jogador preferido? — O Sr. Cooper parecia perplexo. Olhou a esposa, como se dependesse dela como intérprete. — Acho que ele quis dizer na televisão — disse a Sra. Cooper, toda prestativa. Ela bebeu de seu copo de água com gás.
— Ah. — O semblante do Sr. Cooper escureceu e ele olhou o Sr. Messerschmidt como se ele fosse uma criança. — Não assisto golfe. Eu jogo. A expressão do pai de Brett esmoreceu e Brett se controlou para não estender a mão pela mesa e meter um tabefe no Sr. Cooper. Ela tentou pensar num comentário mordaz sobre o golfe, mas não lhe veio nada. — Pai, você gosta do Tiger Woods. — Willy se manifestou, empurrando o pedaço de torta de caviar para a beira do prato. Ele, Brett percebeu com alivio, não estava de gravata. O Sr. Cooper assentiu, os olhos de um verde pálido da cor de uma cédula de dólar que tinha caído na lavadora por acidente. — Certamente gosto. — É impossível não amar um jogador como aquele. — O Sr. Messerschmidt balançou a cabeça e soltou um assovio leve. — Mas, pessoalmente, sou fã de John Daly. É de se adorar um cara que consegue fazer tantas trapalhadas daquele jeito. — Não o conheço — disse Bree toda recatada, sabendo muito bem quem ele era. Ela ajeitou o lenço branco que prendia o cabelo. — Sabe quem é, o gordo que joga bêbado e é casado com uma ex-presidiária — respondeu Brett alegremente, vendo o olhar de pavor toldar a cara de Bree. Brett sempre reclamava quando entrava na sala e o pai estava vendo golfe na tela grande, mas agora bem que veio a calhar. O Sr. e a Sra. Cooper partilharam um olhar e voltaram em silêncio a sua torta. — Alguém gostaria de outro bolinho de mirtilo com cobertura de laranja? A Sra. Messerschmidt se levantou e passou a bandeja de bolos endurecidos pela mesa. Ela afundou na cadeira, mexendo no colar de pérolas no pescoço que Brett jamais a vira usar. Ela tendia a preferir colares imensos com um monte de contas e muito ouro, num visual meio excêntrico de Home Shopping Network. — Somos fãs de corridas — disse Willy, tentando mudar de assunto. Brett percebeu que ele sorria com verdadeira doçura para Bree, que estava com cara de quem passava mal. — Nascar? — perguntou o pai de Brett, e esta deixou escapar uma risadinha. — Não — disse Bree, exasperada. Ela baixou garfo. — Remo. Sabe o que é, corrida de barcos? Brett semicerrou os olhos. Tinha certeza absoluta de que Bree não entendia nada de corridas de barcos e Brett queria que ela soubesse para colocar Bree no lugar dela. Quem era essa Ann Taylor chata e o que ela fez com a irmã divertida de Brett? — Papai estudou em New Haven — continuou Willy, tomando um grande gole de sua mimosa — e a equipe dele também. — Sherrie, nossa vizinha, estudou em New Haven também. A mãe de Brett sorriu, os olhos verdes de gata que Brett herdara brilhando de uma alegria forçada. Sherrie Inman era a melhor amiga da mãe, presidente da seção local da Sociedade Protetora dos Animais, onde a mãe pegara todos os chihuahuas, e secretária rotativa do Neighborhood Watch. — Ah? — O Sr. Cooper se empertigou. — Em que ano? A mãe de Brett franziu a testa. — Não sei bem. Ela estudou gestão de restaurantes, imagino. — Acho que não — disse a Sra. Cooper, reprimindo o riso. A Sra. Messerschmidt piscou para a grosseria evidente na observação da Sra. Cooper. — Certamente sim. — Ela se sentou mais reta na cadeira.
— Mãe — começou Bree calmamente, as unhas de esmalte claro estalando com impaciência no copo de suco de grapefruit pela metade. — A Sra. Inman foi do Albertus Magnus College. — É isso mesmo — disse a mãe de Brett com vigor, sem entender o que Bree tentava dizer. — O Sr. Cooper foi de New Haven... — continuou Bree. Brett teve de apertar as mãos para não revirar os olhos. — O Albertus Magnus fica em New Haven — disse a mãe, confusa. — Mãe... — Brett se inclinou na direção da mãe e sussurrou: — As pessoas dizem que foram a New Haven quando querem dizer que estudaram em Yale. — Bree lançou-lhe um olhar severo. — Mas quem diria, hein? — disse o pai de Brett, rindo um pouco, tentando neutralizar o tom passivo-agressivo de Brett. — Conheci uma menina que foi de Yale — continuou Brett, baixando o garfo na torta intocada. — Bom, na verdade era irmã de alguém que foi da Waverly. Ela estudava teatro... — Yale tem um programa de teatro famoso — interrompeu a Sra. Cooper. — Jodie Foster estudou lá — intrometeu-se Bree. — Mas então — continuou Brett —, a irmã da menina largou a faculdade e foi morar em Nova York para ser modelo. Foi tipo top model em Paris, Milão e Londres. Viajou o mundo todo. — Brett pegou o garfo para ver se os Cooper tinham mordido a isca. — Acho que é muito comum os atores largarem a faculdade para aproveitar outras oportunidades. — Bree semicerrou os olhos e encarou Brett, perguntando-se onde ela queria chegar com aquilo. — Qual é o nome dela? — perguntou Willy, todo inocente. — Não me lembro. — Brett meteu o garfo num pedaço de melão macio. — Só lembro dela porque ela morreu de Aids. A Sra. Cooper pôs a mão na frente da boca e tossiu. — Não acho que tenha sido algo sexual — garantiu Brett. — Foi de dividir agulhas. Ela se viciou feio em heroína em New Haven. O Sr. Cooper gemeu audivelmente e Brett se afastou do prato, satisfeita o bastante com sua história inventada. — Deixei meu remédio lá em cima — anunciou ela e saiu da mesa, ao som de Bree se desculpando profusamente. Brett se jogou na cama queen size trenó e folheou um exemplar da W que estava na mesa de cabeceira, na esperança de que gastasse com aquilo tempo suficiente para o brunch acabar. Só o que ela queria era uma tigela gigante de Cap’n Crunch, o cereal matinal preterido do pai. Seu estômago roncou ao pensar nisso. Brett ficou paralisada ao ouvir passos no corredor e se perguntou se talvez Bree tivesse vindo se desculpar por ser tão megacretina. Mas o som da Sra. Cooper soltando uma exclamação suave espicaçou a curiosidade de Brett e ela abriu um pouco a porta. Espiou os Cooper, que involuntariamente tinham aberto a porta da lavanderia do segundo andar, lar temporário dos chihuahuas. Brett passou uma hora enroscada com eles na noite anterior, depois que todos foram dormir — os coitadinhos estavam solitários, sem a mãe dela. Todas as roupinhas Gucci iguais estavam enfiadas em uma das prateleiras acima da secadora. — Eles são criadores de cães? — perguntou o Sr. Cooper numa voz baixa enquanto a esposa rapidamente fechava a porta na cara dos cães que latiam. Um deles escapou — seria Tinkerbell? — e disparou escada abaixo.
— Como saberiam alguma coisa sobre criação? — perguntou a Sra. Cooper, a voz pingando sarcasmo. — Quero dizer, convenhamos. O Sr. Cooper riu. — Acho que tem razão. — Percebeu que a torta foi comprada em loja? — Suspirou a Sra. Cooper, descendo mais o corredor na direção do quarto de hóspedes que ocupavam. — Vi as latas de torta na lixeira quando procurei a adega. Aliás, acho que eles não têm uma. — Uma compaixão com o vinho — acrescentou o Sr. Cooper. — A irmã é uma menina-problema, não acha? — A Sra. Cooper abriu outra porta. — Cá estamos. Só preciso me deitar por um minuto antes de descer novamente. Brett fechou a porta com as orelhas ardendo. Uma fúria cega a tomou e ela cerrou os punhos, olhando uma série de fotos em preto e branco. Tiradas em Creta e penduradas sobre sua cama. Essa gente era horrível — da pior espécie de esnobes. Brett se lembrou de como se sentiu na primeira vez que colocou os pés no campus da Waverly Academy e rapidamente percebeu que usar roupas novas de grife não era a coisa certa a fazer. Em vez disso, as roupas ali eram vintage, jeans de grife que perderam parte da cor, botas e bolsas de couro meio surradas — era assim que devia se vestir. Era sutil, e Brett rapidamente mandou por FedEx metade das roupas novas que ela e a mãe tinham comprado no shopping de Short Hills, aproveitando a primeira oportunidade que teve de pegar um trem para Nova York e comprar em lojas de segunda mão em Williamsburgh. Como a irmã trouxe essa gente horrorosa para a família, que dirá para dentro de sua casa? Brett de imediato correu ao closet e abriu a porta espelhada, procurando uma de suas antigas roupas que ela condenara por não serem adequadas à Waverly. E ela não ia parar nas roupas. Pegou o celular Nokia, com um plano já se formando. Se os Cooper achavam que ela era uma menina-problema, esperem só até conhecerem os amigos dela.
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BrettMesserschmidt: Tá vendo futebol? SebastianValenti: Não, só mais tarde. O que tá pegando, gata? BrettMesserschmidt: Acredite ou não, pensando se você estaria interessado em vir jantar aqui. Desculpe pelo convite de última hora, mas aqui tá muito chato. SebastianValenti: Tá falando sério? BrettMesserschmidt: Vc só vai ver TV, né? Pensei que podia querer um peru com recheio de verdade. SebastianValenti: Caraca. Valeu. Levo alguma coisa? BrettMesserschmidt: Só você. Jantamos às seis. A gente se vê!
ma luz fraca entrava pelas janelas cobertas de neve, criando uma leve névoa na sala de estar. Jenny abriu os olhos, piscando para afastar o sono e olhando o lustre de vidro e metal moderno e desconhecido que pendia sobre a cabeça. Precisou de um minuto para se lembrar de que estava na sala de Yvonne Stidder, mas só mais um segundo para se lembrar de que Casey dormia tranquilamente a centímetros dela. Ela puxou mais para perto do corpo o cobertor que Casey lhe dera — tinha cheiro de lavanda. A sala estava em silêncio, como se a nevasca da noite anterior tivesse abafado o som normal da cidade a que Jenny estava acostumada. Depois ela voltou os olhos para outra bela visão — Casey, deitado a seu lado com o braço estendido por baixo do travesseiro de Jenny, quase como se seu braço a envolvesse. A noite toda lhe voltou num relance — ela se lembrava de adormecer murmurando com Casey, a sala viva de segredos cochichados e paqueras disfarçadas dos pares de sacos de dormir enroscados no chão. Em algum lugar entre contar a Casey sobre seu pai e ouvir as histórias da vida na Union, Jenny caíra num sono que não tinha há meses. Quando acordou no meio da noite querendo um copo de água, escovou os dentes de novo, sem querer acordar com aquele bafo horroroso. E então, olhando a pele perfeita de Casey a centímetros de seu rosto, deu graças a Deus por ter sido precavida. O braço de Jenny coçou e enquanto ela tentava alcançálo, Casey abriu os olhos. — Bom dia — sussurrou ela. — Bom dia. — Ele sorriu. Seus olhos pareciam Hershey’s kisses derretidos. Jenny bocejou, cobrindo a boca com a mão. — Alguém ainda está cansada — disse Casey. — Na verdade, eu dormi muito bem. — Um cacho rebelde escorregou de trás da orelha de Jenny, caindo em seu rosto. Ela esperava que o cabelo parecesse sexy e não sujo. — Parece que dormi numa nuvem. Os olhos de Casey percorreram lentamente seu rosto. Ela imaginou que acordava em alguma cabana de esqui nos Alpes, completamente coberta de neve, sem nada a fazer além de se manter aquecida. E depois Casey se inclinou para beijá-la. Ela sabia que ia acontecer antes que ele o fizesse. Sentiu os lábios dele tocando os dela num beijo tão suave que Jenny pensou que talvez ainda estivesse sonhando. Quando ela finalmente abriu os olhos e se afastou um pouco, seu coração batia forte no peito. Era perfeito demais. — Isso foi bom. — Bom? Foi mais do que bom. — Casey esfregou os olhos com a mão livre e baixou a cabeça no travesseiro dobrado. — Você tem gosto de morango.
Jenny riu baixinho, pensando na Crest de menta com morango. — E você tem gosto de cerveja. — Ahhh, desculpe. — Eu não ligo — confessou ela. O corpo no saco de dormir ao lado no chão se agitou e eles ficaram paralisados, sem querer quebrar a magia da quietude que os cercava. — Sabe o que eu adoro? — sussurrou Jenny, virando-se de costas e olhando o teto. Ela cruzou o braço sob a cabeça. — Fala. — Adoro que ontem, quando acordei, eu não sabia que ia terminar numa festa na casa de Yvonne, nem dormir no sofá dela, nem conhecer você, nem... — Ela corou e sua voz falhou. — Que eu te daria um beijo — disse Casey sem rodeio nenhum, tocando as sardas do braço branco de Jenny com os dedos. Ela riu. — Não é ótimo estudarmos tão perto? Eu podia te fazer uma visita. Casey cobriu a boca ao bocejar. — Claro — disse ele. — Quem sabe? Jenny corou de constrangimento. Lá vou eu de novo, pensou ela. Ela se lembrou do que Tinsley disse sobre pegar leve, só se divertir. Era tão complicado. Ela realmente devia beijar Casey e tentar se obrigar a não sentir nada? Bom, podia tentar. Afinal, quando foi que Tinsley a deixou errar? Rá.
Tinsley tocou as pontas molhadas do cabelo, irritada por ter ficado no final da fila de meninas que tomavam banho nos três banheiros da cobertura e por uma menina imbecil do segundo ano já ter queimado o único secador. Yvonne prometera correr até a Duane Reade na esquina e comprar outro, mas ela não conseguiu ir além da cozinha antes de se envolver em várias conversas sobre os planos do dia, depois de a nevasca ter tomado a cidade à noite. Ventilaram várias propostas de “beber o dia todo, comer pizza e beber a noite toda”, incitando Yvonne a anotar os sabores de pizza que queriam. Todo mundo gritava suas coberturas preferidas até que Yvonne, aturdida, prometeu pedir uma de cada. Tinsley parou no corredor, vestindo o suéter largo French Connection creme por cima da camiseta branca. Sua atenção foi atraída por uma foto de Yvonne com quem devia ser o pai dela (ele tinha o mesmo cabelo louro palha de milho e óculos grossos). Era no campo do estádio dos Yankees e uma Yvonne nova e de aparência hiperbobalhona apertava a mão de um jovem Derek Jeter, o famoso — e notoriamente gato — shortstop do time de beisebol. O pai de Tinsley teria ficado impressionado. Julian apareceu como que por mágica ao lado dela, com as roupas que estava na véspera. Tinsley terminara no canto oposto da sala de estar na noite passada, consciente de Julian jogando cartas com o irmão de Yvonne e seus amigos. Pelo menos ele não se enroscou no sofá com Sleigh. Ele olhou Tinsley e tocou a moldura da foto, endireitando-a. — Não é fã de beisebol, é?
— Por que a surpresa? — Tinsley enfiou as mãos nos bolsos da calça skinny Citzens preta. — As mulheres não podem gostar de beisebol? — Ela empinou o queixo para ele. Não gostava nada de beisebol, mas de certo modo queria provar que ele não a conhecia inteiramente. — Você é cheia de surpresas, né? — Julian cruzou os braços e se recostou no batente da porta. Tinsley passou o dedo do pé no piso de madeira escura. — Mas no espírito sinceridade total, na verdade sou mais fã do jogador gato de beisebol. Julian riu, um riso bonito e completo que deu arrepios em Tinsley. Era bom fazê-lo rir de novo. — Dormiu bem? — Feito uma pedra — mentiu ela. — O chão mais confortável do Upper East Side. — Ela sorriu para que ele percebesse que ela não estava reclamando e ele retribuiu o sorriso. Isso. Tinsley podia sentir as coisas se encaixando. — E quais são seus planos para hoje? Julian deu de ombros. — Está horrível lá fora. Ele se virou e olhou pela vidraça que dava para uma rua 80 coberta de neve. Durante a noite, caiu um metro de neve em Manhattan, a maior nevasca que a cidade tinha em anos, e uma escavadeira amarela gigante trabalhava na rua. Os carros estacionados pareciam montes misteriosos de neve. — Tá brincando? — perguntou Tinsley brandamente, tocando os dedos na vidraça. Uma baixinha com quatro labradores pretos nas guias andava com dificuldade pela calçada ainda tomada pela neve, deixando que os cães a arrastassem para o parque. — Está lindo lá fora. — Ela se virou para Julian. — E se a gente andasse de trenó no parque? Julian passou a mão no cabelo meio comprido, pensando na proposta. — Não diga não — acrescentou Tinsley, na esperança de parecer pedir. — Tá, tudo bem. — Ele se virou para ela. — Você tem umas luvas? O coração de Tinsley fez uma dança da vitória no peito. — Claro que sim. A TV de plasma na sala estava ligada e quem estava com o controle remoto colocou no SportsCenter. Uma prévia do jogo Detroit Lions/Green Bay Packers se uniu à cacofonia de vozes na sala, mas Tinsley só conseguia pensar em Julian. Ela o seguiu até o armário de casacos e ele de imediato pegou o sobretudo acinturado Michael Kors de lã cinza de Tinsley. Ele se lembra, pensou ela. — Aonde vão, meninos? Sleigh apareceu na porta da cozinha, tombando a cabeça loura de trança no batente e bebendo um copo de suco de laranja, com a mesma blusa hippie que usava na véspera. Tinsley de imediato deu graças a Deus por ter chegado com a mala. Não vamos a lugar nenhum, pensou Tinsley, e quase verbalizou o sentimento. Mas ela sabia que se quisesse reconquistar Julian, não podia começar a implicar com Sleigh. Tinsley ainda nem acreditava que ela se materializara depois de todos esses anos. Era como um daqueles filmes de terror onde alguém volta dos mortos. — Vamos andar de trenó no Central Park — respondeu Julian, vestindo um casaco verde-oliva acolchoado. — Demais! Posso ir com vocês? A mente de Tinsley falhou enquanto ela amarrava os cadarços das botas Ugg Adirondack, procurando pela coisa certa a dizer, algo que informasse a Sleigh de que ela não
era bem-vinda sem parecer que estava sendo uma cretina — o que, claramente, ela era mesmo. — Claro — respondeu Julian antes que Tinsley conseguisse dizer alguma coisa. Ele colocou um par de luvas grossas e pretas. — Pegue seu casaco. No elevador, Sleigh berrou sobre algum passeio de snowboard a Telluride que fizera com outro amigo “que estuda em casa” — “Foi como nossas férias de primavera” — e que os hippies do Colorado eram legais, e que ela aprendeu esqui Telemark com Ty, um dos instrutores de esqui mais lindos do mundo. Página nova, Tinsley lembrou a si mesma. Você está virando uma nova página. Agora é uma pessoa muito mais legal; e a idiota da Sleigh Monroe-Hill não vai estragar nada para você. — Que divertido! — comentou Tinsley, por nada, para manter bom humor. E assim os três se arrastaram pelos bancos de neve, batendo os pés em uma ou outra calçada que fora limpa, o ar frio do final da manhã em seus pulmões, seguindo para o parque. Tinsley passou o cachecol no pescoço para se proteger do frio, surpresa por Sleigh deixar aberto o alto do casaco marrom-vômito Urban Outfitters, expondo o pescoço aos elementos. Maldita hippie, pensou Tinsley. Ela lançou um olhar fatal para a nuca de Sleigh enquanto esta colocava no braço de Julian a mão com a luva rosa de tricô. — Espera um pouco — disse ela. — Volto já. Sleigh entrou numa mercearia de esquina. A luz elétrica da placa de néon do Boar’s Head refletia-se na neve intacta. Tinsley colocou as mãos nos bolsos, tremendo. — E aí — arriscou-se ela —, como conheceu Sleigh? — Ela é amiga da irmã mais velha de Kevin, meu colega de quarto — respondeu Julian, chutando uma nuvem de neve no ar gelado. — Eu saí com ela algumas vezes. Ela é legal. — É — respondeu Tinsley involuntariamente. Ela fez um círculo de neve com seus passos para se manter aquecida, suas Ugg deixando pegadas perfeitas. Parou, olhando para Julian. Flocos de neve começavam a cair de novo, pousando em seu gorro cor de aveia. A cidade estava em silêncio em volta dela. De repente, Tinsley não deu a mínima para o que Sleigh fez. — Nós já fomos colegas de quarto. — É mesmo? — Julian arqueou uma sobrancelha, como se detectasse algum sarcasmo, mas Tinsley olhava a vitrine da mercearia. — Ela é uma pessoa legal. Esta última frase deu uma ferroada na pele já congelada de Tinsley. Pessoa legal era um elogio enorme para Julian. Pessoa legal? Será que uma atira o iMac novo em folha de alguém, com seu dever de casa, pela janela do quarto andar? Não. Como se recebesse uma deixa, Sleigh reapareceu, as mãos equilibrando três copos brancos com tampas de papelão. — Achei que a gente podia tomar um chocolate quente. — Ela sorriu com doçura, o gorro listrado enfiado pela testa. — Demais — disse Julian, pegando um copo. O vapor escapava do buraquinho da tampa de plástico. — O seu tem menta. — Sleigh passou a Tinsley o copo com o X marcado na tampa. — Lembrei que era o seu preferido. Tinsley fez um esforço para não vomitar. Tá legal. Sleigh a conheceu por três meses e se lembrava de como preferia o chocolate? Tinsley se obrigou a sorrir. — Tá, valeu — conseguiu dizer. Queria dar um banho de chocolate escaldante em Sleigh, derreter o verniz falso para que Julian visse que ela era medonha por baixo. Tinsley procurou algum sinal de ironia nos olhos
de Sleigh, um lampejo da velha colega de quarto vingativa que ela conheceu — será que ela colocou Tabasco no copo marcado de Tinsley? Arsênico? Laxante? Tinsley se lembrou de Sleigh ter despejado seu xampu e o condicionador Frédéric Fekkai privada abaixo — mas só o que ela viu foi um rosto sardento e angelical. Sleigh tomou outro gole do chocolate, lambendo a boca como uma criança provando sorvete pela primeira vez. — O dia não está perfeito? Ela pegou um punhado de neve de uma caixa de correio sepultada e atirou de bom humor em Tinsley, que riu hesitante. Será possível que Sleigh tenha mudado verdadeiramente? Ela realmente superou seus rancores? Tinsley tomou um gole do chocolate. O gosto era ótimo, mas não tão bom quanto a visão de Julian sorrindo para ela com seu rosto brincalhão, malicioso e lindo. Ela pegou um punhado de neve e atirou nele. Podia ser mais legal do que Sleigh quando quisesse. Só precisaria de algum esforço.
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CallieVernon: TC, kd vc? CallieVernon: Vc me abandonou MESMO na casa da Yvonne? CallieVernon: Sério, onde vc foi? CallieVernon: Oi? Kd todo mundo? JennyHumphrey: Patinando no gelo no parque. Com Casey. Vem pra cá! CallieVernon: Desculpe. Não preciso quebrar o tornozelo antes de ver EZ. Talvez eu vá fazer as unhas. JennyHumphrey: Tá! Tchau!
allie estava sentada sozinha no ensolarado recanto de café da manhã de Yvonne Stidder na manhã de domingo, ouvindo os ruídos do Xbox no outro cômodo e bebendo um Sanka descafeinado horrível que ela achou no fundo de uma gaveta da cozinha, o café aguado morno na boca. Seu estômago roncava de fome, mas seus pensamentos estavam envolvidos demais no encontro com Easy mais tarde no alto do Empire State. Ela pegou o donut com açúcar de confeiteiro na caixa que alguém tinha trazido da padaria da esquina e olhou o limpador de neve pela janela. Callie olhou o pingente de relógio de ouro antigo na pulseira, um presente de aniversário de 16 anos do pai, os minutos passando com uma lentidão agonizante. Como diabos ia aguentar até as oito da noite? O dia todo se estendia diante dela como um deserto — de certo modo, as últimas quatro semanas sem Easy não eram nada se comparadas com o tempo interminável entre eles agora. Era totalmente injusto que Tinsley e Jenny a desertassem desse jeito — o que ela realmente precisava agora era que alguém a distraísse durante a espera... ou de uma ida à um spa. Ela ligou para salões de beleza no bairro, na esperança de relaxar fazendo as mãos e os pés, mas tudo estava fechado pelo feriado. Além disso, parecia estar um frio de lascar lá fora, lembrando-a de sua estada dolorosa demais nos bosques do Maine na reabilitação que a mãe lhe prometera que era um spa. Ela engoliu mais um pouco de Sanka e colocou a xícara na pia. — Bem que estou precisando disso. — Ellis, o gracinha com quem ela passou uma hora conversando na noite anterior, bocejou ao entrar na cozinha, os pés de meias pretas deslizando pelo piso de granito. Ele massageou o pescoço. — Tive que dormir como um pretzel. — Ai. — Callie estremeceu, solidária. — Mas acho que o Sanka não é a resposta. Você precisa de Starbucks. — Bom diagnóstico. — Ellis riu. — Quer ir comigo? — Ele se recostou em uma das cadeiras da mesa de café da manhã. Seu cabelo louro escuro e curto estava molhado do banho e ele tinha cheiro de creme de barbear. — Tem Starbucks aberta no Dia de Ação de Graças? Callie de repente se sentiu constrangida por ter vestido o suéter cinza e velho Juicy Couture com gola em V por cima de uma camiseta preta e básica e a calça Banana Republic stretch preta e comum. Pretendia se produzir mais tarde para Easy, mas precisava de uma roupa para matar o tempo e agora se sentia desmazelada — embora Ellis estivesse com o mesmo suéter da noite anterior. — Este não seria o nosso país se não houvesse.
Callie mordeu o lábio. Os dois tinham namorados. Então que mal podia haver em se sentar numa cafeteria abarrotada e comercial, bebendo um latte dez vezes mais forte do que o Sanka fedorento que ela esteve tomando? Com um gato que não era seu namorado. — Claro — concordou, meio culpada. Felizmente, Tinsley não estava ali para vê-la saindo com Ellis. E, de qualquer forma, se Tinsley não a tivesse abandonado, Callie nem sairia com ele. Tinsley não entenderia e Callie não queria nenhuma fofoca — em especial hoje, o melhor dia de sua vida. Eles vestiram os casacos e foram para a rua. As calçadas, só parcialmente limpas, estavam surpreendentemente cheias de nova-iorquinos ocupados, levando sacos ou caixas de compras de última hora das padarias. Eles empurraram a porta da Starbucks mais próxima, que ficava a menos de uma quadra. Todos os lugares estavam ocupados, as mesas cheias de jovens com laptops ou mulheres lendo revistas. Callie de repente foi tomada de uma sensação esmagadora de solidão. Era tão triste que essas pessoas não tivessem aonde ir no Dia de Ação de Graças em vez do Starbucks. Mas ela também estava ali. Ellis se curvou para ela com preocupação. — Você está bem? — As máquinas de cappuccino zumbiam atrás do balcão enquanto ele lhe passava o latte grande desnatado de baunilha que ela pedira. — Estou. — Callie levantou o copo de papel fumegante e sentiu o cheiro. Qual era o problema dela? — Acho que eu só... Sei lá. Acho que estou nervosa. Nem acredito que tenho que esperar o dia todo para ver Easy. — Ela tomou um gole do latte, o líquido quente ardendo em sua garganta. — Imagino. — Ellis assentiu, solidário, enquanto esvaziava um pacote de açúcar em seu café. — Você só precisa de algo para se distrair enquanto espera. — Ele abriu o casaco de lã Diesel. — Vamos. Meia hora depois, eles saíram do metrô. Callie estava grata por Ellis saber exatamente aonde iam, uma vez que ela ficava completamente perdida sempre que olhava um dos mapas coloridos do Metrô. Só pegou o metrô algumas vezes na vida e a linha 6, com seus bancos pegajosos e chão tomado de jornais, era um nojo. Mas quase valeu a viagem quando ela e Ellis saíram da estação subterrânea. Uma estrutura gótica imensa assomava diante deles. Ellis a olhou. — Já atravessou a ponte do Brooklyn? — Dá pra ir a pé? — perguntou Callie, surpresa. Os carros disparavam pela enorme ponte suspensa diante deles, tocando as buzinas e os faróis piscando. — Não é, tipo assim, perigoso? — Não, é totalmente seguro — disse Ellis com confiança. — Um monte de gente atravessa a pé todo dia. Ele levou Callie por uma rampa larga que dava na passarela de pedestres, olhando os carros que passavam rápido embaixo. O vento soprava através do cabelo de Callie e ela se esqueceu de ficar nervosa ao ver a imagem tremeluzente de uma cidade de arranha-céus, refletida no azul escuro, quase negro, da água do East River. — Caramba. — Parou e se recostou na grade. Um jovem casal de moletom da NYU passou correndo por eles, empurrando um carrinho de bebê de bom gosto. — A gente está tão no alto. — Ela começou a se virar para olhar a cidade, mas Ellis a segurou pelos ombros. — Não olhe para trás agora. — O quê? — Callie se aproximou um pouco dele. — Por que não? — Confie em mim. É melhor esperar. A vista é incrível mais lá para cima.
Ellis apontou à frente deles, para os arcos imensos de tijolos aparentes. Milhões de cabos percorriam o alto das torres dos lados da ponte, como uma teia de aranha gigante. Eles andaram por alguns minutos sem dizer nada. O som alto e ritmado do trânsito abaixo, combinado com o movimento da água, teve um efeito tranquilizador em Callie. Quanto mais ela andava, mais começava a se sentir agradecida — pelo céu azul e ensolarado, pelo calor do latte através de suas luvas de cashmere, por... — Agora — instruiu Ellis, puxando Callie pelo casaco para detê-la. Ela se virou rapidamente e seu estômago desabou ao ver Lower Manhattan. O vidro liso dos arranha-céus cintilava ao sol, seus topos pontudos chegando às nuvens. Soprou uma lufada de vento, jogando o cabelo de Callie no rosto. Mas mesmo através dos fios de cabelo, a vista era incrível. — Caramba — repetiu Callie com o coração batendo mais rápido. — É tão lindo. — Não conseguia tirar os olhos dos prédios, que quase pareciam em miniatura ali do alto. Callie abriu a boca para agradecer a Ellis por levá-la ali, mas algo frio bateu em seu pescoço. Callie girou e viu alguns pré-adolescentes com casacos North Face acolchoados lhes jogando bolas de neve. — Eles me atingiram! — esbravejou ela. — E o que está esperando? — Ellis já pegava um punhado de neve da beira da passarela, fazendo uma bola firme. Mirou com perfeição uma bola de neve na barriga de um dos meninos. — Guerra! — Gritaram as crianças alegremente e se dispersaram para pegar mais bolas de neve. E antes que se desse conta, Callie estava cravando as mãos no banco de neve sujo, sem se preocupar com o estrago nas luvas.
O Pilgrim Hill no Central Park era uma multidão de parkas coloridas em um leito branco e brilhante de neve, crianças pequenas de casacos vermelhos e pink numa correria, seus pais animados perseguindo-os como formigas procurando açúcar. Um vendedor esperto oferecia trenós de plástico em formato de disco voador, a 15 dólares cada um, e dezenas de crianças com tobogãs infláveis voavam imprudentemente pela colina, adernando num campo largo e branco, Sleigh pegou uma nota de cinquenta e se apressou em comprar três trenós antes que Tinsley pudesse se oferecer para pagar. O vendedor olhou a nota de cinquenta para ver se era verdadeira enquanto Tinsley amarrava novamente o cadarço das botas. — Eu nunca andei de trenó — anunciou Julian, olhando em volta as crianças bamboleando feito pinguins com seus trajes de neve de corpo inteiro. — Dá pra acreditar nisso? — Ah, garotos da Costa Oeste. — Sem acreditar, Sleigh balançou a cabeça, o cabelo louro caindo da trança desordenada enquanto ela ia na frente para o alto da colina. — Eu trazia meu irmão mais novo aqui o tempo todo quando éramos crianças. — Que legal. — Julian ergueu o disco sobre a cabeça, como um escudo. — Aposto que foi muito divertido ser criado perto disso.
Tinsley observou esse diálogo, lembrando-se de como era irritante que Sleigh sempre conseguisse voltar toda conversa para ela. Tinsley sabia que tinha de se intrometer antes que começasse a falar da porcaria de sua cor preferida ou coisa assim. — Quando trabalhei no meu documentário na África do Sul, tentei explicar às crianças como era a neve — isso a fazia parecer a Madre Teresa, e Tinsley gostava —; e elas arregalaram os olhos no tamanho desses trenós. Julian riu, satisfazendo a necessidade de atenção de Tinsley. — Que loucura. Os três se desviaram a tempo de evitar o atropelamento por um garotinho que acidentalmente descia pelo lado errado da colina. Um sujeito com cara de corretor de ações, com um casaco comprido de lã e galochas Hunter na altura dos joelhos, ia atrás dele. — Sei exatamente o que quer dizer — contra-atacou Sleigh. — Já fui voluntária do Children’s Crisis Center na Flórida... É realmente um lugar horroroso, onde colocam as crianças que foram tiradas dos pais pela polícia... — Que horror — disse Julian. Ele tirou o adesivo do fundo do trenó. Tinsley sacudiu a neve das botas. Voluntária? Tá legal. No dia em que ela não estava tomando banho de sol na mansão dos pais em West Palm Beach. — E não é? — continuou Sleigh, sem se abalar. — Aquelas criança eram ótimas. Não sabiam o que estava acontecendo. E meu trabalho era distraí-las. Sabe como é, tirar a cabeça delas das coisas. Podiam ficar totalmente traumatizadas, mas quando eu começava a contar uma história boa ou coisa assim, devia ver a cara daquelas crianças. Valia totalmente a pena fazê-los sorrir. — Puxa vida. — Julian subiu o último trecho da colina. — É, é incrível — disse Tinsley, metendo-se na conversa — As famílias são tão diferentes na África do Sul. É tipo um jeito totalmente diferente de viver, que não temos aqui. — Ela se sentia em apuros. — Lembro que uma vez, na época do Natal perguntei a uma menina de uma das aldeias onde estávamos filmando se ela estava pronta para os presentes... — Eles comemoram o Natal na África do Sul? — intrometeu-se Sleigh. — Oficialmente, não — respondeu Tinsley prontamente. — Mas há todo tipo de gente e todos sabem do Natal — Ela sorriu para Julian para reafirmar a credibilidade de sua história. — Mas então a garotinha disse que não ia ganhar presente nenhum naquele ano e eu reuni a equipe, e juntamos tudo o que tínhamos... Pentes, chaveiros, livros de palavras-cruzadas, lápis de cor... Qualquer coisa que achássemos, e embrulhamos em jornal para essa garotinha e as irmãs. Nem imagina o olhar delas. — Puxa — disse Julian. — Que legal. Aposto que a garotinha nunca mais vai esquecer aquele Natal. — Deu para ver o ar condensado flutuando diante dele, quando então sorriu para Tinsley, vendo-a talvez por uma nova ótica. Pelo menos, assim ela esperava. — Isso foi mais ou menos na época em que eu construía casas na República Dominicana! — Antes que Sleigh pudesse começar outra história interminável sobre abertura de poços, Tinsley jogou o trenó no chão e olhou a colina, marcada de sulcos e pegadas de todos os tamanhos. — O último a chegar é um ovo podre! Tinsley caiu de joelhos. Sentia o frio do trenó de plástico através de seus jeans. O trenó girou no sentido horário e Tinsley o empurrou com força, tomando uma boa dianteira de Sleigh e Julian, que partiram em seus trenós atrás dela. Os três mergulharam pelo declive, espalhando um grupo de crianças que zanzavam na base, Tinsley em primeiro, Sleigh em segundo e Julian empacado a alguns metros do pé do morro, o trenó escapando de seu corpo.
— Isso foi irado! — gritava Sleigh loucamente e Tinsley começou a questionar a sanidade da garota. Não era difícil acreditar que sua “licença médica mental” da Waverly a levasse a problemas mais sérios, como a esquizofrenia. — Sente só meu coração disparando — Sleigh pegou a mão de Julian e a colocou em seu peito, como se ele pudesse sentir alguma coisa com aquele casaco grosso e horroroso. — O meu também — disse Julian, tirando a mão rapidamente e colocando-a no peito. — Isso foi ótimo. — Uma melhor de três — disse Sleigh, disparando colina acima. Tinsley a seguiu, com Julian a reboque. Uma guerra de bola de neve estourou perto do alto da colina e uma espiral fria zuniu pela cabeça de Tinsley, errando por pouco. — Aquele garoto quase te pegou — disse Julian, ofegando da subida. — Ainda bem que ele tem 7 anos. — Tinsley riu. — Ou eu podia bater nele. O resultado da segunda corrida foi exatamente o mesmo da primeira, embora ela não perdesse a esperança de que Sleigh de algum modo trombasse numa árvore e a deixasse a sós com Julian. Ficar perto dela de novo era sufocante, e o que foi bom ficava cansativo. Tinsley precisava de uma escapada rápida para se recompor psicologicamente. Então ela se lembrou da Olesia’s, a padaria pequena com croissants que derretiam na boca, do outro lado do parque. — Volto já — disse Tinsley, largando o trenó a seus pés. — Aonde você vai? — perguntou Julian. Ele espanava a neve dos jeans. — Vocês podem disputar o segundo lugar. Ela andou com neve na altura dos joelhos na direção da Olesia’s. Estava com fome de verdade, mas não foi comprar os pãezinhos amanteigados para saciar o ronco de seu estômago. Quando um não quer, dois não brigam. O ar quente dentro da Olesia’s soprou em seu rosto enquanto olhava o mostruário bem-abastecido. Ela aumentou seu pedido de croissants de sempre, pedindo croissants de chocolate. Por que não empurrar algumas calorias a mais em Sleigh também? Vinte minutos depois, Tinsley encontrou Sleigh e Julian praticamente onde os deixara, mas Julian estava de um lado, com os trenós empilhados por perto, enquanto Sleigh perseguia dois gêmeos idênticos vestidos com trajes de inverno cor-de-rosa. Os gêmeos galopavam pela neve, gritando, e Sleigh fingia que ia pegá-los. Os pais não se preocupavam com uma adolescente maluca brincando com seus filhos? — O que tem aí? — perguntou Julian, apontando o saco na mão de Tinsley. — Croissants de chocolate. — Tinsley abriu o saco e Julian olhou seu conteúdo. — Mas que amor de sua parte — disse Sleigh, sem fôlego, com os gêmeos em seus calcanhares. Ela se virou de repente e os gêmeos gritaram. — Estão com fome? — Esses são para nós... — Tinsley começou a dizer antes de perceber que tirar doces de duas crianças pequenas provavelmente a desclassificaria como “pessoa legal”. — Mas podem ficar com eles. — Relutante, ela entregou o saco a um dos gêmeos, que o pegou, guloso. O ardor lento dentro de Tinsley se aproximou perigosamente do ponto de ebulição. Seus olhos embaçaram e ela piscou para se livrar do ódio que sentia por Sleigh enquanto os gêmeos atacavam o saco. — Sabem fazer um boneco de neve? — perguntou Julian aos gêmeos, curvando-se ao nível deles. — Boneco de neve! — gritaram os gêmeos em uníssono. Atiraram os croissants no chão e seguiram Julian para um grande monte de neve que tinha se acumulado sob um grupo de árvores.
Tinsley mordeu o lábio, olhando os croissants arruinados. Em um movimento rápido, Sleigh estava ao lado de Tinsley, as duas vendo Julian e os gêmeos. — Sei muito bem o que está fazendo — disse Sleigh num tom de ameaça, num tom de que Tinsley se lembrava do primeiro ano, sem todos os arco-íris e raios de sol. — Você já me roubou um cara e não vou deixar isso acontecer de novo. Lembra o que eu fiz com as suas coisas? Trate de se cuidar ou vou fazer duas vezes pior. O queixo de Tinsley caiu. Ela nunca duvidou de sua capacidade de acabar com Sleigh — tinha chegado bem perto no primeiro ano —, mas aquela mudança súbita na garota a assustou e ela ficou muda, querendo que Julian pudesse ouvir. Sleigh pregou o sorriso na cara de novo. — Julian te falou que estou pensando em voltar para a Waverly? Foi ideia dele. Então, de repente, a gente vai se ver no campus. — Ela andou até Julian e os gêmeos, ajudando-os com o boneco de neve. Tinsley observou, incrédula. Tá legal, mudança de planos. Claramente não havia como ser mais legal do que Sleigh. A única alternativa era expor a vaca manipuladora que ela era. E isso parecia muitíssimo mais divertido.
s Messerschmidt já sofriam com uma longa e tediosa história dos Cooper de Greenwich quando a campainha tocou “Born in the USA”. Brett percebera que a mãe havia mudado o toque para alguns acordes inócuos de Beethoven, mas Brett o alterou de novo. Os Cooper estremeceram visivelmente. — Eu atendo! — disse Brett se levantando de um salto. Sua blusa de balé preta e cortada C&C Califórnia escorregou do ombro esquerdo, a alça de seda amarela da combinação Paul & Joe brilhando contra a pele clara. A blusa caiu pouco abaixo do umbigo e alguns centímetros de pele apareceram acima da saia Dolce & Gabbana de estampa de leopardo — um presente de aniversário da mãe no ano anterior. Os pés descalços com as unhas pintadas de esmalte pink berrante (Bourjois Pink Flamingo) pisaram o mármore do saguão e ela deu graças por se libertar da sala sufocante onde os Cooper e seus pais se reuniam para o chá da tarde. Chá da tarde! Surreal. A pesada porta se abriu o revelou Sebastian parado na soleira de jaqueta de couro preta aberta na gola, apesar das rajadas de vento que varriam a neve no imenso jardim dos Messerschmidt. A corrente de ouro em seu pescoço cintilou ao sol e uma nuvem de Drakkai Noir soprou no rosto de Brett. Mas pela primeira vez Brett não se importou com a colônia brega dos anos 1980. Na realidade, ela até gostou, pelo menos para seus propósitos imediatos. — Oi — disse ela, tímida de repente. — Entra. — Caraca. — Sebastian balançou a cabeça, os olhos partindo dos pés descalços de Brett e subindo pelo corpo. — É assim que você se veste em todo feriado? Constrangida, Brett puxou a blusa para cima do ombro, revirando os olhos para Sebastian. — Só nos feriados especiais. — Ele tirou os olhos dela e viu o saguão de teto alto dos Messerschmidt, balançando a cabeça, impressionado. — Cara, toda sua família gosta de estampas safári? — perguntou ele, olhando a sala de mídia da frente. — Que demais. Brett tinha derramado água “sem querer” nas capas bege que Bree usara para cobrir as poltronas de zebra, tirando-as alegremente. Os sete chihuahuas latiam no saguão, pulando animados nas pernas de Sebastian. Ela soltou os cães algumas horas antes, apelando à sensibilidade da mãe. Eles estão tão sozinhos e confusos, trancados naquela salinha, ela tentou persuadi-la, até que a mãe cedeu. — Acho que é genético. Brett pendurou a jaqueta de Sebastian no armário do hall, ao lado dos casacos de pele de camelo dos Cooper. Abriu um largo sorriso enquanto ele a seguia para a sala de estar,
interrompendo o monólogo da Sra. Cooper sobre os Cavalier King Charles spaniels de sua família. — Gente, esse é o Sebastian — anunciou Brett, gesticulando para Sebastian como uma apresentadora de game show revelando um prêmio. — É um amigo meu da Waverly. Brett o apresentou a todos, observando a frieza dos Cooper e o comportamento caloroso dos pais para com ele. Ela sentiu uma onda súbita de emoção — os pais eram boas pessoas; só gostavam de coisas grandes e reluzentes. — E esta é minha irmã, Bree. — Ela apontou para Bree e Willy, que estavam acampados no sofá de dois lugares. Bree aninhou a xícara de chá de camomila, com as pernas cruzadas delicadamente na altura dos tornozelos. Seu vestido florido subiu cerca de 3 centímetros acima do joelho e ela rapidamente o puxou para baixo. — Quero dizer, Anna. — Brett se corrigiu, batendo a palma da mão levemente na testa. Ela murmurou um “desculpe” para Bree antes de continuar. — E o namorado dela, Willy. — E aí, cara — disse Sebastian a Willy, trocando um aperto de mãos. Ele assentiu para Bree, sem se deixar abalar pela confusão de Brett com o nome da própria irmã. — Quer um chá? — perguntou Brett cheia de inocência, cruzando as mãos às costas. O Sr. Cooper baixou a xícara no descanso de oncinha que Brett recuperou proveitosamente do armário do corredor. — Hum, sim. — Sebastian olhou os outros. — Ou, será que tem um Red Bull, Gatorade ou coisa assim? Brett viu a Sra. Cooper olhar o cabelo preto cuidadosamente esculpido de Sebastian. Parecia que ele passara mais gel para a ocasião. — É qualquer coisa, né? — perguntou Brett com atrevimento, seguindo o olhar da Sra. Cooper. Ela tocou o cabelo de Sebastian e ele se encolheu, fugindo da mão dela. — Ei. — Ele franziu a testa, irritado. Na verdade ele estava meio bonito de jeans pretos e uma camisa branca bem passada. Mesmo que tivesse aberto dois botões a mais no pescoço. — Acabei de fazer. — Eu não estava olhando o cabelo dele. — A Sra. Cooper ficou vermelha. Pegou a xícara e girou o chá, fingindo estar envolvida em um fio qualquer em sua calça de linho. — Não se preocupe. Todas as mulheres fazem isso — disse Brett confidencialmente à Sra. Cooper, como se trocassem segredos sexuais no salão de beleza. Era meio divertido deixá-la constrangida — e meio fácil também. Sebastian ajeitou o local onde Brett ameaçara tocar seu cabelo e olhou para ela com malícia. — E não é mesmo? — Receio não saber o que é Red Bull. — A mãe de Brett se colocou de pé com um olhar preocupado. — É tipo uma bebida energética com cafeína — disse Sebastian, todo prestativo. — Mas qualquer refrigerante está bom. — Vou pegar — ofereceu Brett. Ela saltou para a cozinha e voltou num átimo com um copo de gelo e uma lata de Mountain Dew para Sebastian, que estava empoleirado na beira de uma cadeira de madeira de espaldar duro. Brett quase desmaiou de prazer quando o ouviu falar de como foi complicado substituir a alavanca de câmbio de seu Mustang por uma bola oito de sinuca. — Um tio meu é dono de um salão de bilhar — disse Sebastian, pegando o copo de Brett e colocando-o na mesa de canto. — Ei, valeu. — Ele bebeu o refrigerante com gosto. Brett pegou a mão de Sebastian e o puxou para o sofá, colocando-o ao lado dela. Ele olhou a mão pequena na dele, mas depois que os dois desabaram nas almofadas confortáveis
e enormes estampadas de chita que Brett tinha resgatado da sala de mídia, ela rapidamente soltou a mão. — Você chegou bem na hora — disse ela. — Estávamos prestes a ver o velho álbum de fotos da família. — Brett. — Os olhos verdes de Bree escureceram. — Não seja ridícula. Não queremos aborrecer ninguém. Brett enxotou a mão da irmã do baú antigo e abriu a tampa. Além dos destroços de jogos de tabuleiro amassados, antigos controles remotos de TV e fitas VHS, ela pegou triunfante um álbum grosso com uma capa rosa e felpuda. — Acho que Willy gostaria de ver como você era linda quando criança — disse Brett, adoçando a voz para dar mais efeito. — Pode apostar que sim. — Willy se sentou mais para frente, afável como sempre, pousando os cotovelos de seu suéter de lã marmorada Nautica nos joelhos das calças cáqui. Brett abriu o álbum. — Aqui tem uma ótima — suspirou ela, pegando a bem lembrada foto de uma Bree préadolescente e uma Brett no jardim de infância, vestidas de Madonna para o Halloween, as perucas louras em penteados malucos, usando idênticos tops de renda pretos por cima de camisetas vermelhas cortadas e minissaias de brim chamejante. — Ganhamos um concurso no shopping... Lembra? Cantamos “Material Girl” e você atirou a luva de renda branca na plateia. — Ela olhou a irmã, que lhe respondeu fechando a carranca. — Eles ficaram loucos — sussurrou ela a Willy ao lhe passar a foto. — Eu nem me lembro disso. — Bree cruzou os braços, séria, sem olhar para os Cooper. — Já faz muito tempo. — É mesmo uma graça. — Willy apertou o joelho com meia de tricô de Bree. — E eu nem sabia que você gostava da Madonna. — Que demais. — Sebastian cutucou Brett. — Uma vez eu me vesti de Michael Jackson. Devia ver meu moonwalk. — Brett não pôde deixar de rir. — Deve se lembrar dessa — disse Brett alegremente. — É uma daquelas cabines da Disney. Onde fazem capas falsas de revista com sua foto, lembra? — Ela olhou os Cooper, como se eles um dia tivessem feito uma coisa dessas, enquanto sacava outra foto de Bree, de mão no quadril, na capa da Cosmopolitan. A manchete dizia, Bree Messerschmidt: Uma Deusa de 16 Anos. — Deixa eu ver — disse Willy com ansiedade. Ele estendeu a mão e Brett lhe entregou a foto. — Vou emoldurar essa — disse ele a Bree, sorrindo. Sebastian deu uma gargalhada, apontando a foto de uma Brett de oito anos, toda de preto, agitando uma guitarra no alto da cabeça, na capa da Rolling Stone. — Mas você tem mesmo complexo de estrela do rock, né? A Sra. Messerschmidt, provavelmente se lembrando de que na página seguinte havia fotos dela e do Sr. Messerschmidt na capa da Fortune, saltou e pegou o álbum das mãos de Brett. — Já basta — disse a mãe com firmeza. Mas Brett sabia que ela não teria se importado em mostrar a foto constrangedora se não fosse pelos Cooper. — O que teríamos de ver depois disso? — Ei, pai, que tipo de intervenções acha que a Madonna fez? — perguntou Brett com inocência, sabendo que era o assunto preferido do pai. O rosto de Stuart Messerschmidt se iluminou e ele se recostou na poltrona, cruzando as mãos na barriga.
— Eu diria que, no mínimo, ela tem uma série de injeções de Botox... Uma mulher da idade dela? Sem rugas na testa? — Ele riu alegremente. — É mais provável que tenha feito um lift no rosto e no pescoço, porque ela está bem demais para uma mulher de cinquenta natural. O Sr. Cooper deu um pigarro, indicando seu desejo de mudar de assunto. — Meu pai é um milagreiro. — Brett estendeu as pernas e pensou ter visto o Sr. Cooper encarar sua saia. O cretino reprimido deve ter gostado. Um trio de chihuahuas entrou correndo na sala da frente — Curly, Larry e Princess, ao que parecia. — Ele trabalhou em todo mundo no bairro. — Oh! — A Sra. Cooper ofegou, erguendo os pés assim que Princess disparou para eles. Sebastian soltou um assovio curto e os cães correram de imediato para ele, pulando em seu colo e tentando lamber seu rosto com as linguinhas cor-de-rosa. — Brett, por que não me ajuda a dar uma olhada no peru? — pediu a mãe. — Papai não devia ser tão modesto. — Brett ignorou a mãe e pegou Curly, que reagiu lambendo seus dedos. A língua macia e quente fez cócegas e Brett riu. — O quarteirão todo foi alisado por suas injeções de Botox, ou beliscado, dobrado e lustrado. Devíamos ser eleitos o bairro mais gato de Nova Jersey! Sebastian bufou. — Cara, isso é engraçado demais. Brett olhou a Sra. Cooper, que parecia apoplética. — E como é mesmo o nome, aquilo no... — Ela não tirava os olhos da Sra. Cooper, em particular da pele frouxa sob o queixo. — Como se chama mesmo? — Ela pegou a pele frouxa no próprio queixo, — Minha mãe também — disse Sebastian, afagando Princess sob o queixo. — Ela odeia. Ela se mudou para Miami. — Ele olhou a sala. — Meus pais são divorciados. Mas então, ela disse que ninguém em Miami tem. Também esqueci como se chama. — É queixo duplo — disse o pai de Brett, olhando a xícara de chá. — Isso mesmo — disse Sebastian, estendendo o Moutain Dew como se fizesse um brinde. — Queixo duplo. Brett não tirava os olhos da Sra. Cooper, que evitava seu olhar. É claro que ela estava morrendo de vontade de perguntar ao pai de Brett se ele podia fazer alguma coisa com seu queixo duplo, mas estava nervosa demais para abrir a boca. — Podemos mudar de assunto? — pediu Bree. — Por favor? Uma onda de satisfação tomou Brett ao ver a irmã se contorcer junto com os Cooper. Bem-feito para eles. Ela sentia que os pais se divertiam com a história toda, mas não deixavam transparecer. — Onde comprou esses descansos? — perguntou Sebastian de repente, pegando um dos porta-copos de oncinha que Brett tinha desenterrado de uma caixa de sapatos escondida na despensa. — São demais. A Sra. Messerschmidt olhou para Bree, sem saber o que dizer. — Nosso decorador... fez sob encomenda para mim. — Ela olhou os Cooper como quem se desculpa. — Foi uma fase por qual eu passei. — Bom, acho que vou querer o telefone dele. Seria um ótimo presente de Natal para minha mãe. — Sebastian ainda afagava Princess em seu colo. Ele se virou para o pai de Brett. — Senhor, tenho que dizer que aquela TV de plasma na sua sala da frente é uma das obras de arte mais lindas que já vi. O rosto do Sr. Messerschmidt se iluminou imediatamente.
— Filho, às vezes eu olho para ela e acho que é mais bonita do que um Monet... E isso com ela desligada! — Ele soltou uma gargalhada ofegante e seu rosto ficou vermelho — era sua marca registrada —, e então deu um soquinho nas costas de Sebastian. Os Cooper ficaram tão mortificados que quase derramaram o chá. Brett colocou o cotovelo na almofada de chita, roçando o joelho no de Sebastian. Ele ergueu a lata de Moutain Dew e a bateu na lata de Diet Coke de Brett. O discípulo se transformara em mestre.
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BrandonBuchanan: Mas onde vc está? Dunderdorf tá na terceira história das cabras! HeathFerro: Fumando um aqui fora. Preciso de algo que mantenha minha sanidade. BrandonBuchanan: E eu? HeathFerro: Vou deixar a ponta aqui pra vc. Fica calminho aí.
insley abriu a porta de correr do terraço para deixar entrar um pouco de ar fresco. O apartamento de Yvonne fedia com corpos quentes amontoados em volta da TV de plasma, vendo uma maratona de America’s Next Top Model e passando maconha de um a outro. Uma avalanche de neve caiu em seus pés com meias e ela soltou um gritinho. — Ei, fecha a porta aí! — gritou alguém da sala. — A fumaça está escapando toda! Tinsley respirou fundo o ar fresco antes de fechar a porta. Sua tarde brincando na neve com Julian como criancinhas teria dado um roteiro perfeito, se Sleigh Monroe-Hill não tivesse grudado em Julian o tempo todo. A porta de vidro parecia um espelho no escuro, refletindo a imagem de Tinsley com o minivestido Lauren Conrad preto e solto, o tecido de jérsei macio e as mangas sino dando-lhe um visual hippie muito mais sofisticado do que os trapos de sem-teto de Sleigh. Engole essa, pensou Tinsley, girando em suas meias de lã. — Chegou a pizza! — Yvonne veio derrapando da sala de jantar, onde ela e algumas amigas bobocas acendiam velas para o que ficavam chamando de “banquete de Ação de Graças”. Tinsley olhou a sala, procurando por Julian. Cerca de metade dos convidados tinha ido para a casa das famílias pela manhã, mas a outra metade — pessoas que a nevasca prendera na cidade, ou cujas famílias as abandonaram, como a de Tinsley — ficou por ali. Embora ela tivesse passado a última hora enroscada na frente da lareira da aconchegante biblioteca de Yvonne Stidder, o único cômodo da cobertura que não exibia nenhum aço inox, Tinsley não conseguia se livrar da sensação que a acometera na saída da tarde. Sleigh Monroe-Hill tinha de ser a pessoa mais falsa da terra e lhe dava arrepios que tivesse manipulado Julian a pensar que ela realmente era boa gente. Tinsley estava morrendo de vontade de puxar Julian para uma sala vazia e lhe contar aos cochichos todas as coisas terríveis que Sleigh fizera, até que ameaçou Tinsley havia apenas uma hora, mas talvez fosse exatamente isso que Sleigh quisesse. Yvonne conseguiu reunir um monte de Owls na sala de jantar, o ar tomado pelo cheiro delicioso de pepperoni, linguiça e cogumelos. O irmão dela e alguns amigos, querendo ver o jogo de futebol americano na sala de estar, pegaram três caixas de pizza, sob protestos de Yvonne. — Sentem-se por aí. Yvonne, parecendo vagamente uma bibliotecária com um vestido de gola rulê marrom reforçada e um cinto preto e grosso, sentou-se à cabeceira da mesa de carvalho entalhada. Velas votivas vermelhas bruxuleavam em pequenas tigelas de água pela mesa, lançando um brilho romântico no rosto de todos. Tinsley esperou que Sleigh se sentasse — na outra ponta da mesa, previsivelmente — e ficou decepcionada quando Julian se sentou ao lado dela. Será que ela o acorrentou? Julian ouvia uma história que Sleigh contava sobre a mãe obrigá-la a ler Guerra e paz — e que ela ficou agradecida pela experiência. Tinsley pegou a cadeira na
frente dele, ao lado de Rifat Jones, como que para mostrar a Julian que esta não era uma competição. — Sua casa é muito bonita, Yvonne — disse Tinsley, alisando o vestido nas coxas pretas. — Vocês fizeram um ótimo trabalho. Yvonne corou intensamente e se sentou do outro lado de Rifat, cuja mãe era embaixadora na Somália e comparecia ao jantar de Ação de Graças do presidente em Washington. — Obrigada — guinchou ela para Tinsley. — Vamos lá, gente, mãos à obra, rápido. Uma por uma, as caixas de pizza se esvaziaram enquanto os pratos se enchiam de fatias e porções generosas de salada. Garrafa após garrafa aparecia da adega dos pais de Yvonne, até que um pequeno exército de taças surgiu no meio da mesa. Tinsley saciou sua fome com uma fatia e garfadas de salada caesar, bebericando o merlot que alguém pusera na sua frente, o vinho frutado trazendo-lhe o gosto de uvas frescas. Ela estava faminta. Quem sabia quantas calorias andar de trenó podia queimar? Ou talvez tivesse se esgotado de tanto se preocupar com uma Sleigh hiperfalsa. Ela cortou um pedaço de pizza de mozarela com uma faca e um garfo do mesmo faqueiro que os pais possuíam. Uma pontada de tristeza lhe atingiu quando percebeu o quanto queria estar reunida com a própria família à mesa de jantar, em vez de acampada no apartamento de Yvonne com Sleigh Monroe-Hill. Yvonne bateu o garfo na taça, os olhos azuis claros brilhando à luz das velas. — Agora cada um de nós vai dizer um motivo para agradecer. — Tinsley lamentou um pouquinho por Yvonne, sabendo que na segunda-feira seguinte a maioria dos Owls agora em seu apartamento a trataria com a mesma desconsideração que tinham antes da festa de Ação de Graças. Ninguém ia começar a convidá-la para as festas deles. Incluindo ela mesma. — Eu começo — continuou Yvonne. — Agradeço por partilhar este fim de semana com todos vocês. — Aai — disse Jeremy ao entrar para pegar mais pizza. — Isso não é lindo? — Ele abriu um sorriso lascivo para Tinsley, que ela ignorou educadamente. Ele a esteve perseguindo o dia todo. — Cala a boca, Jerm. — Yvonne o olhou com desprezo. — Eu agradeço porque os Lions fizeram um touchdown. — Jeremy enfiou uma garrafa de vinho debaixo do braço e saiu com meia pizza de mozarela. — Agradeço por ele não ser o meu irmão — brincou Rifat, que estava à esquerda de Yvonne. Estimulados pelo vinho e pela comida gratuita, o festival de graças prosseguiu pela mesa e Tinsley suportou tributos à paz mundial, aos direitos dos animais e ao novo disco do Five Times Fast antes de alguém dizer, “eu agradeço só por um fim de semana longe da Waverly”. Um coro de “apoiado, apoiado!” correu a mesa, todos erguendo as taças. Tinsley bateu a taça na de Julian, cujos olhos castanhos pontilhados de dourado pegaram os dela por uma fração de segundo antes de ele tomar um gole de vinho. Isso, Tinsley queria gritar alegremente. É por esse olhar que eu nunca vou desistir para Sleigh Monroe-Hill. — E você, Sleigh? — perguntou Yvonne. — Não disse nada ainda. — Como todos se conheciam aqui, antes de mais nada? Na Waverly, Sleigh tinha sido o pior tipo de esnobe e agora era toda amiguinha de Yvonne? Que coisa esquisita. — Eu sei. — Sleigh olhou o teto, os olhos claros assumindo um jeito sonhador que ou vinha da maconha do irmão de Yvonne, ou de sua etérea sensação de bem-estar. — É só que tenho motivos demais para agradecer. — Ela parou teatralmente e um silêncio caiu na sala de
jantar. Tinsley teve vontade de vomitar em cada uma das sardas redondas e castanhas de Sleigh. Uma das velas votivas apagou e a mão de alguém se estendeu no escuro para acendêla em silêncio. — Agradeço pela WILDFARM, a organização que me mandou à República Dominicana para trabalhar nas casas — disse ela por fim. — Isso mudou toda minha perspectiva de vida. Tinsley baixou a cabeça e revirou os olhos. Meu Deus, os pobres sem-teto dominicanos de novo, não. Será que ela não tinha outro truque? — Agradeço pelas pessoas que se importam com os outros — disse Julian de repente, olhando para Sleigh. Tinsley tomou um gole de vinho para se recuperar. O que ele pretendia dizer com isso? Seria dirigido a Sleigh? Ele não estava seriamente interessado nela, estava? Primeiro Julian a largou para ficar com Jenny Humphrey, agora a estava largando para ficar com a encarnação do mal Sleigh Monroe-Hill? Sleigh não era mais legal do que ela — Sleigh não era mais legal do que ninguém. A ideia a deixou nauseada e, antes que ela pudesse se controlar, as palavras saíram aos tropeços de sua boca. — Agradeço por uma colega de quarto que não atira minhas coisas pela janela — disse ela com doçura, o vinho zumbindo em sua cabeça. Mesmo na luz baixa, Tinsley viu Sleigh ficar vermelha. De imediato sua cara iluminada e feliz rachou. — Você mereceu isso, merda! — gritou Sleigh, pulsando uma veia azul na pálpebra. Ela se afastou da mesa, deixando cair no chão o garfo coberto de molho de tomate. Tinsley a viu sair, mordendo o lábio para reprimir o sorriso presunçoso que se formava em seu rosto. Risos irromperam pela mesa. — Eu me lembro totalmente de ver seus sapatos espalhados pelo gramado! — disse Rifat Jones, balançando a cabeça. — Nem tinha percebido que era a mesma Sleigh. Tinsley se limitou a sorrir e deixar que os outros falassem, grata porque enfim o segredo da psicopata foi revelado. Julian se virou para Tinsley. — Acho que era demais ter esperanças. — Do quê? De uma colega de quarto legal? — perguntou Tinsley, surpresa. Ela podia sentir que os outros a encaravam. — Sleigh me contou tudo sobre o que aconteceu naquele primeiro ano — disse Julian. — Ela disse que você a provocava sem parar, até que ela simplesmente explodiu. — Seus olhos varreram o rosto de Tinsley e ela de repente sentiu-se nua — e não uma nudez sensual, mas algo típico de um pesadelo, nua-no-meio-de-uma-aula. — Ela se arrependeu do que fez. Disse que agora é uma pessoa melhor e eu acredito nela. Ela mudou, mas você claramente é a mesma. — Ele se levantou da mesa, com o cuidado de colocar o guardanapo amassado no prato, e desapareceu na sala de estar. — E por falar em colegas de quarto — manifestou-se Jenny fazendo com que todos, petrificados pelo drama, se virassem para ela. — Agradeço totalmente por não ter de jantar com meu pai e todos os Hare Krishnas amontoados na minha casa agora! Todos riram e Jenny explicou que as três tinham entrado num apartamento cheio de carecas e mantos laranja — e um peru vivo. Outros começaram a contar histórias de feriados de pesadelo, e o bater de garfos na porcelana ressoou mais uma vez na sala de jantar. Tinsley ficou sentada em silêncio, tinha ficado mexida. Por que ela teve de dizer aquilo? Sleigh merecia totalmente... Mas ainda assim... A ideia de Julian correndo para confortar
Sleigh a deixou enjoada e ela imaginou Julian tirando o cabelo louro e despenteado do rosto de Sleigh e limpando suas lágrimas aos beijos. — Você está bem? — cochichou Jenny, cutucando Tinsley na cintura. Tinsley sorriu com tristeza e olhou a expressão preocupada de Jenny. — Agradeço por a gente não se odiar mais — cochichou ela. Jenny sorriu de volta. — Eu também. Se Tinsley ao menos tivesse a mesma sorte de esquecer Julian...
randon tomou outro gole de kirsch, o gosto de cereja doce ardendo no fundo da garganta. O álcool — estiveram bebendo a tarde toda, do primeiro prato, uma celebrada salsicha alemã, ao último, o peru recém-abatido — fez sua cabeça zumbir e ele fechou os olhos, descansando momentaneamente. E isso, com o assassinato de uma ave indefesa, as repetidas rodadas de Dutch Blitz e uma longa sauna com o colega de quarto e o velho professor alemão, bastava para afirmar que o Dia de Ação de Graças deste ano foi surreal. Talvez não o pior da vida de Brandon — ele se lembrava de ficar preso no aeroporto de Newark por 18 horas, a caminho da casa da família nas Bermudas, a madrasta grávida e rabugenta enfiando Cupcakes Hostess na boca como uma refugiada —, mas chegou perto. Depois de um dia inteiro preso na casa do Sr. Dunderdorf, Brandon sentia-se claustrofóbico e tenso, pronto para disparar porta afora e correr de volta ao campus a pé assim que aparecesse a oportunidade. Mas Heath se recusava a deixar. — Cara — ficava cochichando —, não seja tão gay. Brandon não podia evitar — ele tinha sido chamado de gay tantas vezes nos dois dias anteriores que precisava provar que não era. E assim Brandon se deixou convencer de que as gêmeas valiam o esforço, se isto significava não ter de voltar a seu quarto de alojamento e ficar sentado sozinho no escuro, pensando em Sage. — Cara — disse Heath, talvez pela milionésima vez naquele dia. — Esse troço é tipo álcool 90. — Heath soltou o que só podia ser descrito como uma risada enquanto tombava o copo para trás. Lambeu os lábios, com os olhos meio vidrados. — Lá vamos nós. — O Sr. Dunderdorf voltou num rompante à sala da frente com um álbum de fotos da família metido debaixo de cada braço. Brandon queria poder pedir licença, como fez a Sra. Dunderdorf horas antes — ela disse que precisava cuidar de umas coisas na cozinha, mas quando Brandon foi ao banheiro, viu-a sentada na banqueta da cozinha vendo uma novela na TV minúscula. — Nada como começar bem do começo. Esta é a casa onde fui criado. — O Sr. Dunderdorf apontou uma foto em preto e branco desbotada de uma pequena cabana alpina, quatro homens de lederhosen e duas cabras que pareciam furiosas paradas rigidamente na frente. Brandon teve vontade de se matar. — Tem mais desse suquinho de cereja? — perguntou Heath inocentemente, levantando o copo que esvaziara pela quinta vez. — É tão delicioso. Os olhos do Sr. Dunderdorf faiscaram. — Você tem gosto para kirsch, hein? Excelente. — Ele se esforçou para se levantar do sofá e Brandon agradeceu pela chance de tirar a lederhosen do velho de sua vista. — Vamos ver. — Ele desapareceu na cozinha.
Heath esticou as pernas e fechou os olhos. — A que horas ele disse que as gêmeas iam chegar? — Brandon vasculhou a memória, mas seu cérebro era uma névoa só. — Tarde. Seu estômago roncava. Ele sabia que isso o fazia parecer um fresco, mas ele não conseguira comer o peru fatiado que a Sra. Dunderdorf colocou em seu prato sem pensar no pobre animal correndo pelo quintal. Talvez ele devesse trabalhar na PETA e pegar umas hippies que militavam pelos animais. Depois ele se lembrou de seu breve e malfadado caso com “Eu não fico com ninguém exclusivamente” Elizabeth do St. Lucius e percebeu que já tentara essa. — Meu Deus, queria que elas já estivessem aqui — murmurou Heath. Ele lambeu os lábios de novo. — Já estou de porre. — É, eu também — concordou Brandon. Ele evitou olhar o relógio de cuco que soava a hora — Brandon nem mesmo acompanhava as batidas e não suportava olhar o celular. — Ei, quais são os nomes delas, você se lembra? Heath se sentou ereto. — Merda, não sei. Todo mundo só as chama de gêmeas Dunderdorf. — Ele colocou os dedos nas têmporas, tentando invocar os anos de fofoca, procurando por uma menção do nome das gêmeas. — Porcaria. O Sr. Dunderdorf reapareceu com uma garrafa nova de kirsch e Brandon tomou os últimos goles do copo antes de estendê-lo para ser servido. O Sr. Dunderdorf serviu nos dois copos, mas só pela metade. — Precisamos ir mais devagar, cavalheiros, não? Sei que não estão acostumados a beber. — Ele passou por Brandon e reassumiu seu lugar entre os dois, abrindo o álbum no colo largo. — Esta é uma foto minha no gramado da Waverly quando cheguei, em meu primeiro ano de magistério. — O Sr. Dunderdorf virou a página com as mãos enrugadas. Toda a casa tinha cheiro de salsicha alemã. — Quem é? — perguntou Brandon, apontando o jovem ao lado de Dunderdorf. — É o seu reitor Marymount — respondeu o Sr. Dunderdorf. — Ele era um dos meus alunos de alemão mais promissores. — Não brinca. — Heath se curvou para frente. — Ele tinha cabelo. — Ah, sim — assentiu o Sr. Dunderdorf. — Era um tremendo mulherengo. — O professor tomou um longo gole de kirsch. — É mesmo? — perguntou Brandon, sentindo que Dunderdorf estava prestes a contar uma fofoca. Talvez eles pelo menos pudessem ter algumas histórias picantes em seu longo dia jogado fora. Dunderdorf bufou. — Era famoso por ter uns namoricos com docentes nos tempos dele. — Ele esfregou o queixo, coberto de uma barba branca por fazer. — Mas não sei muita coisa disso. — Tipo com quem? — Heath quis saber. Brandon sabia que o principal objetivo de Heath era transar com uma professora nova e gata antes de se formar — mas o máximo que conseguira até agora tinha sido um afago na cabeça da Srta. Seraphim, a professora de química. O Sr. Dunderdorf balançou a cabeça. — Não cabe a mim dizer — respondeu ele, para decepção dos dois. — De qualquer forma, duvido que vocês as conhecessem. — Ele virou a página como forma de dar um fim àquela conversa. — Ah, nossa viagem à EuroDisney. — Ele suspirou.
Heath se inclinou. — São suas filhas? — Brandon se curvou também. A foto era do Sr. e da Sra. Dunderdorf e duas meninas louras de seis anos, fantasiadas de Minnie Mouse. — São — disse o Sr. Dunderdorf. Ele suspirou. — Todos esses anos. Parece que foi só ontem que elas eram tão pequenas. Vocês verão quando as conhecerem. — Mal posso esperar — disse Heath com ansiedade. — Qual é o nome delas mesmo? — perguntou Brandon. O Sr. Dunderdorf apontou as Minnies. — Esta é Helga, e esta é Gretchen. Heath fez uma careta por trás das costas do Sr. Dunderdorf, como quem diz, É melhor que não sejam feias como os nomes. — Vocês verão quando também se tornarem pais — disse-lhe o Sr. Dunderdorf, tristonho. Por um segundo seus olhos lacrimejaram e Brandon torceu para que ele não chorasse. Em vez disso, ele espirrou e assoou o nariz no lenço desbotado enfiado no bolso da camisa. — O tempo passa rápido demais. O Sr. Dunderdorf folheou algumas páginas do álbum, passando rapidamente pelos anos. — Aqui tem uma foto mais recente — disse ele. — Minhas lindas meninas. Heath engasgou com o kirsch, tossindo na mão. Brandon se curvou para ver a foto de duas louras desajeitadas da lederhosen, as duas exibindo faiscantes aparelhos extrabucais nos dentes. Uma das gêmeas tinha uma espécie de permanente ultrabizarra, o cabelo louro em espirais mínimas, enquanto a outra tinha uma bandana turquesa de bolinhas e botas de couro que pareciam ter saído de Miami Vice. Brandon fuzilou Heath com os olhos. Gatas? Misses Suíças deliciosas? Mais pareciam patinhos feios de boca de lata com nenhuma noção de moda e o que parecia uma acne medonha. Todo o dia estúpido tinha dado nisso — num pesadelo. Como ele ia deixar Sage com ciúmes ficando com uma garota que parecia ter um centro de reciclagem na boca? Heath fingiu não perceber o olhar de Brandon, perguntando ao Sr. Dunderdorf se o kirsch era a bebida nacional da Alemanha — porque, se não fosse, certamente deveria ser. Satisfeito com o interesse dos alunos pela cultura alemã, Dunderdorf serviu mais da bebida em seus copos. Os três álbuns seguintes foram um borrão de histórias chatas, fotos horríveis e poses das gêmeas nada atraentes em cada cidade da Europa Oriental. Brandon sentiu as pálpebras se fecharem por mais tempo sempre que ele piscava. — Estão cansados, meninos — anunciou o Sr. Dunderdorf, fechando o álbum com um baque. — Sim! — disse Brandon, desperto de repente. Enfim. Eles podiam voltar para casa aos trambolhões, desmaiar e apagar de sua lembrança o dia todo — talvez a começar pela noite passada, quando Sage o largou. As pernas de Brandon vacilaram e ele se segurou no braço do sofá. — Subam. — O Sr. Dunderdorf apontou. — Podem dormir no quarto de hóspedes. Não tem sentido voltar ao campus. Isso pode ser ruim para todos nós, não? — Ele balançou a garrafa vazia de kirsch com malícia. — Ah, não queremos ser demais aqui — protestou Brandon, mas mesmo enquanto dizia isso ele se perguntou se seria capaz de voltar ao alojamento. Sua testa transpirava, e de repente beber todo aquele kirsch não parecia mais uma ótima ideia. — Eu insisto. De algum jeito, Heath e Brandon concordaram com relutância — a essa altura, estavam totalmente derrotados. Enquanto seguiam Dunderdorf pela escada acarpetada e mofada que
lembrava Brandon da casa vitoriana dilapidada da avó em Danbury, Connecticut, as pernas de Brandon pareciam pesadas e rígidas. Dunderdorf os levou a um quarto com duas camas iguais sob o teto inclinado. O resto do espaço era apinhado de caixas com os nomes de HELGA e GRETCHEN. Como um testemunho de como estavam esgotados, Heath e Brandon afundaram em suas respectivas camas sem investigar o tesouro — normalmente, Heath não teria sossego até que descobrisse algumas calcinhas de cetim e as colocasse sob o travesseiro. — Como pude deixar que me convencesse a fazer isso? — perguntou Brandon, embriagado. — Achei que elas eram parecidas com a Heidi Klum. Heath gemeu antes de rolar e chutar as cobertas no chão. Brandon encarou o teto inclinado, de boca seca, o cérebro assombrado pela imagem do lindo rosto de Sage rindo dele.
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EmilyJenkins: Vc perdeu — TC acaba de dar um fora em Sleigh MH. BennyCunningham: Já tava na hora. Essa garota é uma vaca. Teve sangue? EmilyJenkins: Ainda não. Mas acho que tem algo a ver c/ Julian. BennyCunningham: Não admira que seja de novo um garoto — até um calouro.
EmilyJenkins: Sei lá... TC acabou mal... Talvez SMH enfim possa revidar. BennyCunningham: Aposto na Tinsley. Sempre. EmilyJenkins: E se Sleigh voltar para Waverly? BennyCunningham: No meu quarto ela não fica!
allie subiu numa banqueta de couro vermelho à bancada da cozinha de granito e meteu o polegar na tigela de vidro quase vazia de brownies no alto do fogão de aço inox. Ela lambeu os farelos, querendo que alguém tivesse pensado em guardar um brownie inteiro. (Mas com o irmão de Yvonne e seus amigos, quem podia saber com o que tinha sido batizado?) Sedenta depois das atividades do dia, ergueu a taça de vinho e tomou um gole imenso. Ellis atirou a parka com capuz numa banqueta e vasculhou a pilha de caixas de pizza nas bancadas, procurando algum resto. — Cara, a gente chega meia hora atrasado para o jantar e já acabou tudo. Callie riu, tirando as meias ensopadas. Ela não estava acostumada a sair com os garotos só como amigos. Havia algo inteiramente renovador nisso, e há muito tempo ela não ria tanto num único dia. Depois de esmagarem os dois meninos de dez anos numa guerra de bolas de neve, foram para o Brooklyn e andaram pelo Park Slope, vendo as vitrines de todas as lojas fechadas. Pararam para comer panquecas de cebolinha em um restaurante chinês que estava aberto, mas ainda assim Callie estava faminta ao voltar ao Upper East Side. A cozinha de Yvonne, assim como todo o apartamento, estava uma bagunça completa pós-pizza-de-Ação-de-Graças e Callie ouvia o barulho das portas de vidro deslizantes se abrindo e fechando enquanto as pessoas entravam na hidro. Só que não havia sinal de Tinsley ou Jenny. A ideia de que saíram juntas para fazer alguma coisa mais divertida parecia impossível. Mas pela primeira vez Callie não ia enlouquecer de pensar nisso. — Quer beber alguma coisa? Ellis pegou uma garrafa de merlot da adega de aço inox na despensa e a abriu rapidamente com um saca-rolhas em formato de coelho. Serviu-se de uma taça cheia e girou o vinho na taça como um especialista. — Sim, por favor. Minha mãe sempre bebe merlot — disse Callie ao acaso, pensando na mãe e na raiva que ela sentiu quando Callie ligou na noite anterior para dizer que não ia para casa. Callie colocou uma mecha de cabelo arruivado atrás da orelha ainda fria. Olhou Ellis servir outra taça. — Mas ela não bebe com tanta frequência assim. É governadora e é muito chata. O que sua mãe faz? Ellis bebericou o vinho. — É artista. — É mesmo? — perguntou Callie, colocando os cotovelos na bancada. Isso era muito mais legal do que o trabalho da mãe dela. Ellis provavelmente nunca foi obrigado a comparecer a jantares de Estado usando luvas brancas. — Mas que tipo de arte?
— Ela faz colagens com objetos que encontra... Sabe como é, coisas que acha na rua, no metrô etc. — Ellis passou a mão no cabelo e deu de ombros. — Tipo lixo? — Callie teve uma breve visão de uma mulher elegante do Upper East Side pegando um papel higiênico sujo na sarjeta e colando numa tela. Eca. Ellis riu e Callie teve um vislumbre de uma obturação prateada no fundo de sua boca. — Ela prefere chamar de “lembranças recicladas”. Às vezes é lixo, mas em geral são coisas como cartas ou postais, ou, sei lá, buttons. — Parece legal — admitiu Callie, pensando no quanto a mãe odiaria ter uma colagem de buttons e embalagens de chiclete na sala de jantar. — Gostaria de ver um dia desses. — Ah, é? — Ellis ficou surpreso. — Então vou te levar ao ateliê dela. Ela tem um espaço ótimo na Broome Street. — Seria divertido — disse Callie, falando seriamente. Ela observou Ellis lhe servir mais uma taça de vinho, depois baixar a garrafa na bancada. Uma mancha mínima de molho de pizza tinha caído na gola de sua camisa. — Que foi? — perguntou ele, percebendo que Callie o olhava. — Derramei vinho em mim? — Ele olhou a camisa. — Não. — Callie saiu da banqueta sentindo o piso frio nos pés descalços. — Pizza. — Ela pegou um guardanapo de linho amassado e molhou a ponta, depois foi até Ellis. Sua mão tremia quase imperceptivelmente enquanto ela passava o guardanapo no molho de pizza, a cabeça girando. Sentiu os olhos dele em seu rosto e parecia que estavam agora mais perto do que os cinco centímetros de distância que ela costumavam manter. Depois ela percebeu que seu anel tinha sumido. Ela soltou um grito e se afastou de Ellis, os olhos procurando no piso escuro por algum lampejo do anel de ametista. — O que foi? — perguntou Ellis, com a voz preocupada. — Perdi — gemeu Callie, inteiramente em pânico. Seus dedos escavaram pelas crostas de pizza e pedaços de cobertura seca, mas nada de anel. — O quê? — perguntou Ellis com paciência. Ele deu a volta até o lado dela na mesa e se ajoelhou. — Meu anel. — Ela pôs a cabeça nas mãos, apertando a testa com a ponta dos dedos, tentando se lembrar de quando o vira pela última vez. Será que o deixou cair em algum momento do dia? — Minhas luvas! — Ela se colocou de pé rapidamente, mas uma olhada nas luvas não revelou o anel de compromisso. — Onde pode ter sido? — perguntou Ellis, prestativo. — Você olhou na bolsa e no bolso do casaco? Callie fez o que Ellis sugeriu, mas nada. Depois se lembrou. A guerra de bolas de neve na ponte. Ela tirou as luvas para espanar a neve molhada que grudava ali depois de preparar uma bola extradura. Seu anel deve ter saído com a luva. — A guerra de bolas de neve. — Callie sentiu o lábio inferior tremer. Não ia chorar na frente de Ellis. Seus ombros envergaram pela derrota. — Eu sacudi as luvas. Perdi. Ellis tocou suas costas, um gesto que era meio abraço, meio carinho. — Tenho certeza de que ele vai entender — disse ele com ternura. — Basta explicar o que houve. Foi um acidente. — Ai, meu Deus! — exclamou Callie. — Que horas são? Ellis olhou os números verdes e digitais no micro-ondas, que Callie nem tinha percebido até agora. — Oito horas — respondeu ele.
A cabeça de Callie clareou, o zumbido do vinho de repente sumiu quando ela pensou em um Easy desnorteado, provavelmente de farda, sozinho no alto do Empire State. Esperando por ela. Ela disparou para a porta, colocando casaco e luvas num só movimento. — Estou atrasada. Ellis vestiu o próprio casaco. — Vou arrumar um táxi para você. Ela martelou repetidas vezes o botão do elevador com o polegar. Só pensava no cara no alto do prédio mais alto de Nova York, perguntando-se onde diabos estava a namorada.
rett ajudou a mãe a colocar no lava-louças os últimos pratos do jantar de Ação de Graças, até se oferecendo para ajudar o pai a secar panelas e potes enquanto ele se curvava na pia com as mangas da camisa enroladas para cima. Ela se sentia protetora com relação aos pais desde que os alienígenas Cooper aportaram em sua praia e, finalmente, talvez pela primeira vez na vida, Brett começava a verdadeiramente apreciar Becki e Stuart Messerschmidt. E embora ficar sentada com os Cooper sempre fosse torturante, o jantar de Ação de Graças não foi tão ruim. Primeiro, Sebastian teve uma conversa de dez minutos com o pai sobre a TiVo ser a maior invenção do século XXI. E quando a Sra. Cooper ofegou ao ver a mãe servir batata-doce com uma camada de marshmallows tostados, como Brett gostava, Sebastian disse: “A senhora é demais, Sra. Messerschmidt.” No todo, seu plano tinha funcionado à perfeição. Logo depois de uma discussão iniciada por Brett sobre que celebridade tinha os piores implantes de seios (os pais de Brett votaram em Pamela Anderson, enquanto Sebastian escolheu Posh Spice), e pouco antes de a torta de abóbora ser passada pela mesa, o Sr. Cooper anunciou que ele e a esposa voltariam a Greenwich após a refeição e não ficariam por mais uma noite. A Sra. Cooper tentou atenuar as coisas culpando a previsão do tempo do dia seguinte, mas Brett não pôde deixar de se sentir triunfante. Brett guardou os restos na geladeira abarrotada. — Sanduíche de peru para o fim de semana todo. — O pai sorriu, esfregando a barriga. — Jogo os pãezinhos doces no lixo? — perguntou a mãe. — Deixa de fora — disse o pai. — Alguém pode querer comer mais tarde. Brett equilibrou o Tupperware de açúcar no alto do pote de farinha de trigo e os carregou para a despensa. Peaches, um dos cães da mãe, disparou entre suas pernas e o pote de açúcar vacilou. — O que pensa que está fazendo? Brett se virou devagar. A irmã bateu a porta da despensa depois de entrar. Tinha o rosto vermelho e as mãos nos quadris. — Ajudando na cozinha enquanto vocês tomam os aperitivos. — A despensa tinha cheiro de canela e maçãs, e as prateleiras eram abarrotadas de tudo, dos vidros de azeitonas pretas preferidas da mãe a Tupperwares gigantescos contendo cortadores de biscoitos de Natal. — Você entendeu muito bem o que eu quis dizer! — Bree adquirira um tom arroxeado que Brett nunca vira na vida. Não era um bom visual para ela, mas a roupa Ann Taylor tapatudo também não era. — Desde quando você usa essas roupas? — perguntou Bree. Ela
estendeu a mão para tocar a camiseta de Bon Jovi — outra relíquia do oitavo ano — que Brett vestira depois de derramar molho na outra blusa. — E desde quando você usa essas roupas? — Brett estendeu o dedo para o vestido estampado de rosas de Bree. — Parece que você canta no coro da igreja. Bree apertou os lábios até ficarem quase brancos. Da última vez em que Brett a vira com tanta raiva, ela simplesmente tinha descoberto que Melanie Spielgelman comprara o mesmo vestido para o baile do último ano. — E quem era aquele cara? Aposto que nem mesmo é da Waverly. Você o escolheu na estação de trem e o convidou a vir a nossa casa. Confesse. — Quando foi que você virou uma esnobe de merda? — O sangue de Brett fervia, mas ela mantinha a voz baixa. — Mesmo que eu confessasse, ainda seria melhor do que o que você trouxe para nossa casa. Eu preferia ter passado o Dia de Ação de Graças no sopão dos pobres a ficar um minuto a mais com essa gente. Eles são uns caretas metidos a besta. E você também, já que não vê isso. Por que está se esforçando tanto para fingir ser um deles? — Pelo menos não procuro a companhia de traficantes de drogas — rebateu a irmã. Brett teve vontade de estender a mão e dar um tabefe na irmã. Ela e Bree sempre foram próximas, o que significava que tinham sua parcela de brigas e gritos. Mas Bree jamais tinha sido tão estranha. Brett queria pegar o pote de farinha de trigo e atirar na roupa perfeita da irmã. Em vez disso, baixou-o com cautela em uma das prateleiras e cruzou os braços com orgulho. — Eu sabia que ia dar certo. — Sabia que ia dar certo o quê? — perguntou Bree. — O único motivo para eu convidar Sebastian foi dar um susto em você e em seus futuros sogros-monstro. — Ela controlou o impulso de mostrar a língua. — E sabe de uma coisa? Eu consegui. Brett passou empurrando Bree para escapar da despensa subitamente sufocante e ficou paralisada ao ver os Cooper e Sebastian com os pais dela na cozinha. Os Cooper fingiram admirar a bancada de granito enquanto a mãe de Brett estava de braços cruzados, olhando para ela com decepção. A carteira de corrente de Sebastian tilintou quando ele colocou as mãos nos bolsos, arriando os ombros. — Estávamos nos preparando para partir — falou o Sr. Cooper, dirigindo-se aos pais de Brett como se não tivessem acabado de ouvir Brett dizer que eram uns caretas metidos a besta. — Obrigado por um... dia interessante. — Eles marcharam para fora da cozinha com Bree, Willy e os pais de Brett em seus calcanhares. Sozinha com Sebastian, Brett quis dizer que se desculpava por todo o drama. Mas sua pulsação ainda estava acelerada da briga com Bree e sua mente era um branco completo. O que ela queria agora era levar algumas cervejas do pai para a sala da família, se jogar no sofá gigantesco e mole e ver o Homem-Aranha. Talvez se enroscar sob uma das mantas de oncinha da mãe. — Você quer... — começou a perguntar, mas Sebastian a interrompeu. — Acho que está na hora de eu ir também. — Ele estava com uma expressão estranha. — Ah. — Brett tombou a cabeça de lado, surpreendentemente decepcionada. — Por favor, não... — Mas antes que pudesse terminar, ele já havia saído.
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De: BrettMesserschmidt@waverly.edu Para: CallieVernon@waverly.edu; JennyHumphrey@waverly.edu; KaraWhalen@waverly.edu Data: Quarta-feira, 28 de novembro, 20:15h Assunto: O fracasso do Dia de Ação de Graças Receita para um feriado de merda: Pegue um bando de futuros sogros pretensiosos e desalmados, misture com uma irmã subitamente insípida e pais inteiramente dóceis, acrescente uma pitada de garoto de Jersey para temperar e — bum! Veja explodir. Suspiro. Espero que vocês estejam se divertindo mais do que eu.
Contem histórias para me animar, por favor, porque estou presa em NJ e os shoppings só abrem às nove da manhã. Estou louca para voltar à escola. Bjs B
stá congelando aqui fora! — gritou Jenny ao chegar ao terraço, com uma toalha de algodão egípcio branca enrolada na regata Calvin Klein preta, combinando com o short masculino. Ela se arrastou para a hidro, os dedos dos pés enfiados nos sapatos de alguém para atravessar o deck molhado. Tinsley, Kara, Yvonne e meia dúzia de outros já estavam espremidos na banheira quente, mas Kara e Casey abriram espaço para Jenny. — Entra aqui — disse Casey com um sorriso diabólico na cara. — Vai se sentir muito melhor. Como Jenny não se apaixonaria por esse cara? Ele era tão... tentador. Depois de seu beijo perfeito de manhã, passaram o dia todo juntos — patinando no Rockefeller Center, coisa que Jenny não fazia há anos, travando uma guerra de bolas de neve na Madison Avenue na frente de todas as lojas elegantes, bebendo chocolate quente em uma espelunca qualquer. Mas um único olhar de Tinsley a lembrou de que ela devia estar se divertindo. Ela pegou um cooler de vinho e meteu um dedo na água quente. Depois largou a toalha e rapidamente afundou na água o bastante para que seus peitos imensos ficassem submersos. Sua cabeça estava leve depois de um jogo alcóolico — caso contrário, talvez ela não tivesse coragem de pular na banheira, pelo menos não com Tinsley ali, com aquele corpo perfeito e bronzeado no conjunto de calcinha e sutiã Ralph Lauren pink. Jenny fechou os olhos e contou lentamente até três antes de tomar um gole do cooler, o elixir frio e frutado fazendo cócegas em sua língua. Tinsley tinha dito para ela se divertir e Jenny estava fazendo exatamente isso. A começar por, ah, seus drinques a mais no final da tarde. — Não é uma loucura? — disse Kara Whalen, o cabelo castanho-claro molhado grudando nos ombros nus. — Ficar numa banheira em Manhattan no meio de uma nevasca? — Tem espaço para mais um aí? Julian McCafferty passou pelas portas de vidro e pegou um punhado de neve de uma planta num vaso. Largou a toalha, revelando o tronco magro e musculoso e uma cueca samba-canção Gap de estampa havaiana com morangos por toda parte. Jenny e Tinsley trocaram um olhar — era evidente que Julian não olhava para Tinsley, depois de tê-la repreendido na sala de jantar. — Pra você, tem! — Yvonne Stidder riu e tomou outro gole do cooler de vinho. Seu cabelo louro estava preso num rabo de cavalo frisado e os óculos completamente embaçados. Eles estiveram fazendo jogos com as bebidas desde o jantar e agora todos estavam agradavelmente embriagados. Yvonne se afastou de Tinsley, deixando um bom espaço para que Julian se sentasse. — O que todos estão fazendo aqui fora?
Julian entrou na banheira até que só a cabeça ficasse visível. Jenny se recostou, olhando o céu noturno e deixando a água borbulhar em volta de suas orelhas. Ela pensou sentir o joelho de Casey esbarrar nos seus por baixo d’água. — O que há para se fazer numa banheira? Yvonne tropeçava nas palavras ao se aproximar mais de Julian. Ela ajeitou a alça da regata amarela C&C, uma cor que a deixava parecida com um daqueles pintinhos de marshmallow de Páscoa. — Que tal um joguinho da verdade ou consequência? — falou Casey, tomando outro gole da cerveja. Seus cachos escuros estavam molhados e colados na testa. Quando ele tirou a camiseta, Jenny quase desmaiou. Ele tinha um corpo de nadador lindo — ombros musculosos afilando numa barriga sarada e magra. — Não se faz muito esse jogo na faculdade. — Mas como não? — perguntou Jenny, afundando para que seus ombros ficassem sob a água maravilhosamente quente. Sua cabeça estava deliciosamente confusa e ela mal conseguia deixar de passar os braços em volta de Casey e começar a beijá-lo na frente de todo mundo. Ele era tão gracinha. Casey se inclinou para ela e ergueu as sobrancelhas. Ela sentiu a respiração dele na pele. — Fazemos jogos muito mais sofisticados — disse ele de brincadeira. Ela não teria se importado de aprender quais eram. — Tá legal... Tinsley. Verdade ou consequência? — Clifford Montgomery, o jogador de polo aquático que era completamente apaixonado por Tinsley, se curvou para ela. — Consequência — disse Tinsley com tédio ao estender a mão e torcer o cabelo em um coque na nuca. Ela ficou surpresa ao ver Julian vir para a banheira — ou pelo menos sem a idiota da Sleigh Monroe-Hill —, uma vez que ele relutava completamente até em ficar no mesmo ambiente de Tinsley desde o jantar. Mas onde estava Sleigh, afinal? Talvez tenha ido para casa, já satisfeita por ter acabado com as chances de Tinsley para sempre. — Desafio você a beijar Kara. — Cliff sorriu de orelha a orelha. — Ei! — protestou Kara. — O desafio não é meu. — Ela cruzou os braços. — Só porque já beijei meninas... Revirando os olhos, Tinsley se levantou da banheira e rapidamente se curvou sobre Kara, beijando-a de leve no rosto, bem ao lado da boca. — Desculpe — cochichou Tinsley antes de afundar de novo em seu lugar na banheira e olhar o céu nublado. — Não é justo. — Cliff agitou a garrafa de cerveja vazia no ar. — Não foi de língua. Casey apontou o dedo para ele. — Acho que da próxima vez você vai saber especificar, cara. Ele riu e se reclinou, passando os braços despreocupadamente pelos ombros nus de Jenny. Parecia o paraíso. O ar da noite era frio em sua pele quente e ela sentia cada floco de neve que caía e derretia em seu corpo. Por baixo da água, Jenny sentia os pés de Casey tocando levemente os dela. Tudo era tão... perfeito. Este era O. Melhor. Dia. De. Ação. De. Graças. Da. História. — Verdade ou consequência, Jenny? — Tinsley deu um peteleco na superfície da banheira, borrifando água em Jenny. Como não queria beijar nenhuma menina, Jenny optou pela verdade. Casey se pronunciou antes que Tinsley pudesse dizer alguma coisa. — E aí, Jenny, se tivesse de beijar alguém na hidro, quem seria? — perguntou ele com a voz rouca. Jenny riu. Ele era tão lindo. Seu cérebro ensopado de bebida gaseificada de vinho conseguiu ordenar à boca para falar o que ela realmente pensava, que foi:
— Você, seu bobo! Sabe que eu te amo! Foi uma gargalhada geral, mas antes que Jenny pudesse abrir a boca para dizer mais alguma coisa, Tinsley praticamente voou para cima dela, colocando a mão sob o braço de Jenny e levantando-a com um puxão. — Você vem comigo. — Tinsley puxou Jenny da banheira e atirou uma toalha em seus ombros. — Mas não quero ir a lugar nenhum! — gemeu Jenny, virando-se para a hidro e acenando como bêbada para todos. O grupo gritou para ela. Jenny deixou a toalha cair dos ombros e Tinsley teve a sensação de que se não levasse a menina dali agora, o que ela tiraria — agora que a palavra começada por A já fora pronunciada — seria a roupa. — Vamos! — Você está bêbada — sibilou Tinsley. Apertou o braço de Jenny com mais força, pegou a toalha no chão e a empurrou pelas portas de correr. Ao ver as meninas pouco vestidas e pingando água, a sala de estar, numa nuvem de maconha e cheia de universitários jogando videogames, explodiu em uivos de satisfação. — Fica aqui com a gente! — disse Jeremy Stidder enquanto Tinsley empurrava Jenny pelo corredor até o banheiro. Depois de entrar, com a porta trancada, Tinsley serviu um copo de água enorme para Jenny. — O que estamos fazendo aqui? — Jenny girou a maçaneta, mas não conseguiu descobriu onde ficava a tranca. Sua cabeça oscilava como se fosse pesada demais para o suporte do pescoço e seus olhos estavam completamente vidrados. — Quero ficar lá fora... com Casey. — Beba. — Tinsley entregou o copo a Jenny, que o bebeu obedientemente. Ela mexeu num interruptor na parede e zumbiu uma lâmpada de calor vermelha no alto. — Epa. Jenny de repente baixou o copo na bancada. Em sua toalha branca e frouxa e com o cabelo molhado colado na cabeça, ela parecia uma criança. E de certo modo, era mesmo uma. Mais uma razão para não declarar seu amor a meninos que nem conhecia. — Qual é o problema? — perguntou Tinsley cautelosa, tremendo um pouco. Ela pegou um vislumbre de Julian enquanto obrigava Jenny a sair da banheira. Pelo olhar dele, ela sabia que a cena era mais uma prova de que Tinsley Carmichael era uma cretina mandona. — Acho que eu vou... — Jenny se interrompeu, mas Tinsley reconheceu o tom esverdeado de sua pele e rapidamente levou Jenny até a privada. Segurou seu cabelo na nuca enquanto toda a bebida que Jenny tinha consumido — assim como suas tentativas de continuar distante e só se divertir — desceram pelo ralo.
cheiro de madeira embolorada da sauna enchia o nariz de Brandon enquanto ele colocava a toalha junto de um dos bancos. Ele enxugou o suor da testa e se esticou num dos bancos de cedro, ajeitando a cueca Ralph Lauren. — Isso é lindo. — Heath meteu a toalha debaixo da cabeça e bocejou. — Sem Dunderdorf, eu podia relaxar mesmo por aqui. Depois do jantar, eles se remexeram sob o beiral do quarto abafado das gêmeas Dunderdorf, incapazes de dormir num ambiente tão estranho. Brandon originalmente tinha hesitado à sugestão de Heath de que fizessem sauna para “suar nossa frustração sexual”, mas vinte minutos insones depois, ele cedeu. Heath lhe garantiu que ele tomou a decisão certa, insistindo que a sauna “abriria os poros de Brandon”. — Posso sentir o kirsch saindo de mim. — Heath fechou os olhos e tomou um gole enorme da Evian que pegaram na geladeira quando desceram. — Essa coisa é braba. — É do mal — acrescentou Brandon, recostando a cabeça na parede de cedro e deixando que o vapor o ajudasse a ficar sóbrio. Ele ainda estava infinitamente irritado com Heath por arrastá-lo à casa do Sr. Dunderdorf sob pretextos falsos — a fábula das gêmeas supostamente lendárias agora lhe parecia fantástica como as histórias do Monstro de Loch Ness ou o Pé-Grande — mas ele também estava feliz, de certa maneira. Feliz por ter algo para fazer além de ficar infeliz por Sage. A mágoa do repentino rompimento de Sage começara a ceder, porque embora o dia todo na casa de Dunderdorf tenha sido sufocante e chato, agora parecia que tinham se passado cinco anos. O vapor encheu a sauna e Brandon esfregou os olhos cansados. Dois rostos na porta de vidro o assustaram. — Heath! — sibilou, ainda meio bêbado. Um ronco suave emanou de Heath. — Heath. — Ele bateu em Heath com a toalha, atingindo-o no peito nu. Heath abriu um olho. — Hein? — Olha. Bem. Ali. — Brandon apontou a porta da sauna assim que ela se abriu e Heath se sentou rapidamente. Assombrados, viram duas meninas numa armadura de trajes de esqui acolchoados um laranja, outro azul — colocando a cabeça para dentro, o cabelo encerrado em grossos gorros de lã. Os óculos iguais de aro preto ficaram embaçados de imediato. — São amigos do nosso pai? — perguntou uma delas, tirando os óculos para limpar o vapor. Uma rajada de ar frio entrou na sauna.
Brandon e Heath só olhavam, de boca escancarada. Pior do que a ideia das gêmeas sendo fantasmas era a verdadeira visão delas com roupas volumosas. Elas são mesmo nerds, pensou Brandon. — Somos da Waverly — conseguiu dizer Heath, finalmente. Ele estufou um pouco o peito — para ele, até as mongas ainda eram meninas. — Seu pai nos convidou para passar o Dia de Ação de Graças. — Então você deve ter uma opinião — disse a de azul. — A América é uma democracia, ou na verdade é uma república? O rosto de Heath, que mostrava uma centelha de esperança, logo murchou de novo. — Não tem aula no feriado — grunhiu ele. Brandon ainda estava bêbado demais para se meter numa discussão sobre política e se perguntou como eles iam sair dessa. Não podiam ser grosseiros com as filhas de Dunderdorf, podiam? Mas só o que Brandon queria neste momento era pegar suas roupas e voltar rapidinho ao campus. A outra gêmea começou a abrir o traje de esqui. — É uma democracia — disse ela, tirando a calça e revelando leggings pretas — Os americanos só falam disso. Que vivem numa democracia. — Não sou idiota — disse a irmã, atirando despreocupadamente o traje de esqui pela porta e tirando o suéter de tricô coberto de neve pela cabeça. — Eu sei disso. Mas não é verdadeiramente uma democracia. — Ela tirou as leggings pretas, revelando um par de pernas longas e magras. Brandon ouviu um gorgolejo vindo de Heath, que olhava, assombrado. Brandon achou que ia desmaiar. Era como uma daquelas bonecas que tem outra boneca por dentro e quanto mais bonecas você descobre, menores elas ficam — só que desta vez as bonecas só ficavam mais sexy. As gêmeas deviam ter uns 10 quilos de roupa para se protegerem do frio, todas terminando numa pilha à porta da sauna; os corpos magros, agora de calcinha cinza de seda e sutiãs iguais com uma rosa pequena no meio, não pareciam nada com as fotos das meninas de lederhosen. Sem aparelhos nos dentes, sem botas brancas de bobocas, sem cortes de cabelo horríveis. Elas cresceram e amadureceram — e muito, muito bem. Brandon olhou para Heath, cujos olhos estavam fixos nas gêmeas que iam para o banco do canto. — E então? — perguntou a mais próxima de Brandon. Sem os óculos, os olhos azuis, emoldurados por cílios escuros, eram claros e incisivos. Pareciam uma pedra preciosa, pensou Brandon, ou pelo kirsch, ou pelo vapor, ou por outro motivo qualquer, não conseguia se lembrar qual. — É sem dúvida uma democracia — respondeu Heath, deslizando do banco na direção das meninas. As gêmeas riram. — Viu o que eu quis dizer? — disse uma à outra. Brandon não conseguia tirar os olhos das duas meninas idênticas e lindas de sutiã e calcinha, com gotas de suor começando a se formar nas clavículas. Ele sentiu que estava numa espécie de comercial de cerveja, onde o mané consegue pegar duas gatas só porque está com a cerveja certa na mão. — Meu nome é Helga, a propósito — disse a gêmea sentada ao lado de Brandon. Ela tirou o elástico da ponta de uma trança comprida e começou a soltar o cabelo. — E esta é minha irmã Gretchen. Gretchen acenou rapidamente.
— A propósito, é uma república. — Ela afastou as tranças dos ombros. Enquanto se virava para sorrir para Heath, Brandon viu uma tatuagem mínima na forma de uma fada nas omoplatas. — Caso contrário, vocês não teriam colégio eleitoral. Heath deu de ombros e Brandon sabia que não tinha ideia do que significava colégio eleitoral. — É verdade — respondeu Brandon, curvando-se para a frente, com os cotovelos nos joelhos. — O que tem na Suíça? — De perto, a pele das meninas parecia chocolate branco. — Tem de tudo. Brandon percebeu que as duas embolavam ligeiramente os t’s nos z’s de modo que pareciam dizer Tzem de tzudo, o que provocou arrepios em Brandon. Elas podiam ser Bond Girls. Ele viu Helga abrir um compartimento no banco da sauna que nem ele nem Heath sabiam existir e pegar dois frascos de spray. As meninas apertaram os gatilhos, soltando uma névoa fria em torno da cabeça e do peito. — Como foi a viagem? — perguntou Brandon, remexendo-se no banco e tentando não pensar em como eram essas meninas seminuas. Heath, com um sorriso de êxtase grudado no rosto, parecia embasbacado demais para contribuir. — Ótima. — Helga recostou-se no banco. Ou talvez fosse Gretchen. Não, Gretchen era a da tatuagem, né? — Li Goethe e isso sempre faz o tempo voar. — Brandon se limitou a assentir e tentou não encarar a gotinha de suor que escorria pelo peito da garota. — Onde está o seu pai? — perguntou Heath de repente. A expressão normalmente relaxada estava tensa, como se ele estivesse morrendo de medo de o Sr. Dunderdorf passar pela porta a qualquer momento, agitando seu machado sangrento de matar peru e enxotandoos dali. — Está num coma de kirsch no sofá. — Gretchen —, ou a que ainda estava de tranças, tocou despreocupadamente o braço de Heath, para acalmá-lo. — Só vai acordar amanhã. — Um coma de kirsch no sofá — repetiu Helga, e as meninas deram uma gargalhada. Havia algo incrivelmente sexy nas gêmeas — além dos óbvios corpos de matar e os rostos lindos — que Brandon não conseguia situar. O modo como brincavam, fazendo piadas, perguntas, gargalhando. Ele tentou imaginar Helga e Gretchen na Waverly. De quem seriam amigas? Ele não conseguia ver Tinsley ou Callie se dignando a falar com elas, em especial se seu traje de esqui acolchoado fosse indicação de senso de moda. Talvez Jenny. Mas Jenny gostava de todo mundo. Ele tentou imaginar as gêmeas no parque, rindo e discutindo política, e depois teve um estalo: as gêmeas não tinham pudor nenhum. Não sabiam que eram gostosas, porque não passaram a vida toda pensando nisso, ao contrário da maioria das meninas da Waverly. — Talvez tenha sido muita diversão de Ação de Graças pra ele. — Heath se aprumou de repente, agora que sabia que Dunderdorf estava seguramente desmaiado. — Cara, vocês tiveram muita sorte de perder o abate do peru. — Somos vegetarianas. — Gretchen se borrifou de novo, as gotas de água cintilando na pele. — Vocês não deviam comer animais. — Helga pegou o cabelo louro e magicamente o torceu em um daqueles coques frouxos que as meninas de cabelos compridos sempre estavam fazendo. — É péssimo para o ambiente. — Ter filhos também — observou Gretchen, futucando a coxa magra da irmã. — E parece que as pessoas não param com isso. — Heath já tem três, então acho que não está pensando no meio ambiente. — Brandon brincou. As gêmeas riram.
— Nem ligo. — Heath jogou a cabeça, o cabelo suado colado na testa. — Meus filhos vão acabar com os seus, Buchanan. — Ele tomou um gole da água. — É garantido. Mas Brandon não ouviu muito da conversa que se seguiu. Estava imerso em pensamentos sobre se devia ou não estar numa sauna com as gêmeas. As coisas tendiam a escapar da boca enorme de Heath e Sage terminara com ele há menos de 24 horas. Talvez agora ela estivesse em casa, arrependida do que disse, pronta para pedir desculpas na segunda de manhã. Um boato sobre uma sauna de madrugada com as Misses Suíças destruiria qualquer chance que ele podia ter com Sage Francis. Só o que ele sabia era que não conseguia tirar os olhos de Helga... Ou Gretchen. — Pode me emprestar isso? — perguntou ele, estendendo a mão para o frasco de spray. — Claro — disse Helga, entregando-o a Brandon. Em vez de borrifar em si mesmo, ele impulsivamente borrifou a água em Helga e Gretchen, a névoa caindo em suas barrigas vegetarianas perfeitamente magras. Elas jogaram a cabeça para trás numa gargalhada e pegaram a garrafa da mão dele, borrifando nele também. — E aí — disse Brandon com malícia, passando a mão no cabelo molhado. — Seu pai nos convidou para passar a noite. Quando estava sóbrio. — Ele bocejou. — Acho que eu podia voltar ao quarto do sótão que ele nos cedeu. Os belos lábios rosados de Helga se abriram. — Não podem dormir ali. Tem cheiro de... naftalina. O nariz de Gretchen torceu enquanto ela enxugava uma gota de suor da clavícula. — E gente morta. — Bem. — Brandon respirou fundo e olhou nos olhos azuis bebê de Helga. — Tem outro lugar para a gente dormir? Heath teve um acesso de tosse ao beber um gole da água na garrafa. Gretchen lhe deu uns tapas fortes nas costas. Helga se levantou e estendeu a mão para Brandon. — Vou te mostrar meu quarto. A eletricidade tomou o corpo de Brandon enquanto ele segurava a mão da menina e deixava que ela o levasse para fora da sauna. — Shhhh — sussurrou Helga ao subirem a escada do porão e passarem pela sala de estar escura. Uma garrafa vazia de kirsch estava na mesa de centro. — Eles devem estar dormindo. — Uma mecha de cabelo molhado grudava sedutoramente em seu ombro. Antes que pudesse se reprimir, Brandon deu um passo para a frente e colocou a boca, gentilmente mas com firmeza, na mecha de cabelo no ombro nu e perfeito de Helga. Ela saltou de leve e se virou. Por um segundo terrível, Brandon teve certeza de que ela ia começar a gritar em alemão e atrair Dunderdorf escada abaixo com um rifle. Mas ela passou as mãos pelos braços e sorriu timidamente para Brandon. — Isso me deu arrepios. Com o coração aos saltos, Brandon se aproximou mais e deixou que sua boca roçasse de leve na orelha de Helga. Ele sentiu o corpo da gêmea se inclinar para o dele, como se os dois se atraíssem feito ímãs. — Você tem um cheiro incrível. De flores silvestres ou coisa assim. — E antes que conseguisse pensar que agia como um não Brandon, suas mãos acabaram nos quadris de Helga e a puxaram para ele. — Todos os garotos da Waverly são assim tão avançadinhos? — murmurou ela suavemente. Pela janela da sala de estar, a lua brilhava contra o banco de neve.
— Não — respondeu Brandon com um sorriso, a cabeça de repente clara. — Você é que teve sorte. — E ele colocou a boca nos lábios macios e receptivos de Helga.
rett bateu a porta do quarto com força suficiente para abalar as paredes e derrubar da mesa uma tacha que prendia o pôster de Johnny Depp em Piratas do Caribe. Ela a deixou cravada no tapete, sem se importar se pisaria ali depois, e se jogou na cama enorme. Estava irritada demais com todo mundo até para apreciar o quanto aquele colchão era mais macio e mais mole do que a cama gasta que rangia em seu quarto de alojamento. Sua mente disparava sobre o que acontecera — como Bree a encurralou daquele jeito, ou foi tão idiota a ponto de fazer de forma que todos ouvissem o que elas diziam? Como Bree teve essa audácia? Mas que tremenda cretina ela se tornou. Toda a briga foi tão feia e constrangedora — mas Bree a obrigou a agir assim. Bree era, inteiramente culpada. Brett vestiu uma calça do pijama DKNY preto e confortável e olhou o e-mail para ver se Callie ou Jenny já haviam se materializado... Mas nada. Onde elas estavam? Provavelmente tendo um Dia de Ação de Graças tão merda quanto o dela. Eu devia ir embora, pensou Brett. A Waverly nunca pareceu tão atraente. Ela tocou o rosto e percebeu que estava chorando. Arriou em sua cama, surpresa ao perceber o quanto estava angustiada. Toda a trama para estragar o feriado de Bree e dos Cooper pareceu uma boa ideia quando ela a concebeu — Sebastian foi tão perfeito. Mas o olhar de mágoa dele enquanto saía da cozinha doeu em seu estômago cheio de peru. Brett se deitou de costas na cama e respirou fundo, tentando se equilibrar. Sim, ela constrangera Bree. E sim, foi culpa de Bree... Mas talvez dela também. Mesmo que os Cooper fossem totalmente idiotas, ainda eram hóspedes na casa de Brett e ela podia ter sido um pouco mais cortês. Ou ter alguma classe. Merda. Ela podia ter puxado Bree de lado — para algum lugar mais reservado — e perguntado por que agia como se tivesse sofrido uma lavagem cerebral. Esta teria sido a atitude madura. Ela encontrou Bree sozinha na cozinha, servindo-se de um copo de água. Elas não brigavam desde que Bree foi para a Columbia e era estranho saber que a irmã estava com raiva de Brett. — Oi — disse Brett, andando com os pés descalços pelo piso frio. Bree levantou a cabeça com uma carranca no rosto bonito — ela ainda estava com o vestido caretinha, mas pelo menos tinha se livrado do lenço, e as ondas castanhas caíam pelo rosto. — O que você quer? — Quero... — A garganta de Brett estava seca. Ela queria um gole da água que estava na mão de Bree. Queria um novo fim de semana de Ação de Graças. Queria a irmã de volta. — Quero te pedir desculpas. Bree a olhou com ceticismo, recostando-se na bancada.
— Desculpe pelo modo como agi na frente de Willy e dos pais dele — disse Brett, as palavras atropelando-se para fora de sua boca. Ela olhou a janela escura atrás da cabeça de Bree, onde podia ver o reflexo da lua na água. — Foi... infantilidade minha. — Bom, devia ter percebido isso um pouco mais cedo. — Bree colocou o copo na pia e ia saindo da cozinha. — Agora o estrago já está feito. Brett tocou o braço de Bree. — Eu sei, mas ainda assim peço desculpas. Até vou me desculpar com os Cooper, se você quiser. — Ela reprimiu o leve pânico com a possibilidade de Bree não aceitar suas desculpas. — Mas coloque-se no meu lugar. Vim para cá e de repente minha casa está cheia de estranhos totalmente arrogantes, a casa parece ter sido camuflada, os cães estão trancados na lavanderia, alguém obrigou minha mãe a usar calça cáqui... — Brett se interrompeu, vendo a cara da irmã. Bree apertou os lábios antes de abrir um sorriso. — Tive que levá-la à Talbots para comprar essas. — Ela estava esquisita — insistiu Brett. — Parecia que eu tinha que compensar isso com a saia Dolce & Gabbana que ela me deu de aniversário. — E ficou muito bem em você — suspirou Bree. — Olha, desculpe se tentei mudar tudo por aqui... Mas não é porque eu tenha vergonha da mamãe e do papai. Eu só sabia que os pais de Willy são complicados. — Bree bateu as unhas sem cor na bancada e baixou a voz, embora ninguém mais estivesse ali. — Mas você não escolhe seus pais, nem de onde vêm, nem como foram criados. E eu amo o Willy de verdade, então estava disposta a fazer o que fosse para que tudo desse certo. — Aliás, ele é mesmo um gato. — Brett abriu a geladeira e pegou uma Diet Coke. Abrindo-a, ela se lembrou de quando chegou à Waverly, percebendo que todo mundo chamava de “refrigerante” em vez de “gasosa”, e ela imediatamente começou a dizer “refrigerante” também, embora a sua vida toda tivesse chamado de “gasosa”. — O Willy, quero dizer. Não o Sr. Cooper. — Sei o que quis dizer, parceira. — Bree se curvou e mexeu no cabelo de Brett como sempre fazia quando queria irritá-la, mas desta vez foi carinhosa. — Ele não é lindo? Quero dizer, devia vê-lo saindo do banho quando ele está todo molhado... — Detalhes demais! — gritou Brett. — Eu não queria ver isso. — Mas ela bem que queria. Bree deu de ombros, os olhos verdes finalmente felizes de novo — só falar de Willy a animava toda. — Mas então abri uma exceção para os pais de Willy porque eu o amo. O amor é isso... Aceitar o bom e o ruim. Não espero que você faça o mesmo, mas se você me ama, talvez vá fazer. — E farei — assentiu Brett. — Eu te amo. — Eu também te amo. — Bree baixou o copo de água na bancada e abraçou Brett, que podia sentir toda a força do corpo de Bree no dela. Ela a apertou com a maior força que pôde. — O Willy ainda está aqui? — perguntou Brett, enxugando um dos olhos com a ponta do dedo. Bree assentiu. — Na sala de TV com papai. — Eu lamento de verdade que os pais dele tenham ido embora — disse Brett, sendo sincera. Mais ou menos. Ela ainda estava meio satisfeita consigo mesma.
— Acho que foi melhor para todos que eles voltassem para Greenwich. — Bree sorriu. — Eles não saíam daquela casa tipo há vinte anos. E mesmo assim foi só para ficar no Yale Club em Nova York. Brett riu e seguiu Bree para a sala da família, onde os pais relaxavam nas poltronas reclináveis La-Z-Boy vendo algum torneio de golfe no que parecia um Havaí ensolarado pela enorme tela de plasma que ocupava metade da parede. — Oi, meninas. — O pai abriu o sorriso bobo que costumava dar quando elas eram crianças. — Vejo que já se beijaram e fizeram as pazes. — Por enquanto. Bree cutucou as costelas de Brett, bem onde ela sentia mais cócegas. As duas sentaramse no sofá gigante, onde Willy estava na ponta. Brett cruzou as pernas sob o corpo e pousou a cabeça nas almofadas. As lâmpadas lançavam um brilho suave e o pai pegou o controle remoto. Selecionou o guia na tela e achou Antes só do que mal acompanhado, uma clássico da família Messerschmidt. Ele aumentou o volume enquanto Steve Martin e John Candy se embriagavam no avião e Brett sentiu o corpo se livrar de toda a tensão com os cinco voltando sua atenção para o filme, gratos por um momento de paz. O pai começou a roncar baixinho. Tudo parecia bem no mundo de novo. Princess pulou no sofá, tilintando o sininho na coleira de oncinha. Acariciando seu pelo macio, Brett se lembrou de como foi legal ver Sebastian, que gostava de bancar o durão, com o cachorrinho enroscado em seu colo. Brett sentiu um frio na barriga — mas sem querer admitir que havia alguma coisa errada, culpou a segunda porção de purê de batatas.
allie olhou pela janela do táxi amarelo que seguia lentamente pela Quinta Avenida através da escuridão nevada. Normalmente teria ficado emocionada ao passar em câmera lenta pela Tiffany, vendo as pessoas elegantes entrarem e saírem pelas portas. Mas a loja estava fechada e ela só se importava em chegar a Easy o mais rápido que fosse humanamente possível — algo que seu taxista parecia não entender. — Por favor! — Callie agitou uma nota de vinte pela janelinha da divisória de plástico — Pode ir mais rápido? — A neve, a neve — ele não parava de dizer. A traseira do táxi estava fria, mas Callie não queria se arriscar a irritar ainda mais o motorista — ela levou dez minutos para chamar um táxi e a neve entrava por suas botas. Callie esfregou as mãos enluvadas nas pernas, sem acreditar que conseguiu perder a hora. O que ela esteve pensando? Fez todos aqueles planos de usar alguma coisa linda e sensual que tiraria o fôlego de Easy, mas nem teve tempo de colocar mais desodorante antes de disparar para fora do apartamento com a mesmíssima roupa que tinha usado o dia todo. Respire fundo, ela disse a si mesma. Vai checar lá. Até parece que Easy não estava acostumado com seus atrasos. Ela olhou as agulhas góticas da catedral de St. Patrick, a mente vagando ao dia de seu casamento com Easy. Eles se casariam numa igreja assim? Talvez. E o vestido Vera Wang seria perfeito. Sinos de igreja tocaram e eles avançaram, passando pelas vitrines escuras da Sacks Quinta Avenida, refletindo uma imagem distorcida do táxi amarelo. O estômago de Callie roncou — parecia ter comido as panquecas de cebolinha no Brooklyn há anos. Seu coração martelava e todo o corpo começou a transpirar. Ela sem dúvida podia ter usado mais desodorante. Mas enquanto a agulha amarela e azul no alto do Empire State entrava em foco, ela podia sentir a presença de Easy. Estava atrasada, mas sabia que Easy estaria esperando. Enquanto paravam, Callie atirou algumas notas ao motorista e correu. Os saltos de suas botas Chloé estalavam no piso de mármore ao disparar pelo saguão art déco. Onde diabos devia ir? Ela foi para os elevadores. — Epa, epa — disse uma voz. Um segurança vestido de azul e cinza saiu das sombras da fila de elevadores. — Estamos fechando. Callie percebeu pela primeira vez que o saguão estava vazio. — Mas não é hora de fechar. — Callie pediu. — Vou encontrar uma pessoa. — Ela deu um passo para o elevador aberto, mas o segurança a bloqueou. — Desculpe — disse ele, sem parecer se lamentar em nada. — Mas estamos fechando. É Dia de Ação de Graças e o tempo está piorando.
— Mas alguém está esperando por mim — insistiu Callie. — Ele já está lá em cima. Estou atrasada e ele está esperando, não entende? — Lágrimas se acumulavam em seus olhos e ameaçavam se derramar. — Sei — o segurança a tranquilizou, olhando desconfiado para ela. A mão pousou na fivela preta do cinto. — Mas não posso deixar que suba. Estamos fechando o prédio. — O segurança tocou o bigode bem aparado e olhou o relógio. — Na realidade, eu devia estar trancando os elevadores centrais agora. Disse que tem alguém lá em cima? — Sim! — disse Callie desesperadamente. — O homem que eu amo! — Algumas lágrimas quentes escorreram por seu rosto — até agora ela havia conseguido e só o que se interpunha entre ela e Easy era um segurança meio gorducho com uma espécie de complexo de Deus. — Por favor. Já estou atrasada, e vou... Vou escalar esse prédio por fora, se for necessário. — O sangue de Callie pulsava nos ouvidos e ela começava a se sentir nauseada com a ideia de Easy se perguntando onde diabos ela estava. — Olha, não posso... — O senhor é casado — continuou ela, pegando o segurança de surpresa, porque vira a aliança de ouro no dedo dele —, então sabe como é estar totalmente apaixonado por alguém, não sabe? — Ela levantou a mão e a agitou na frente dos olhos do segurança para ele ver seu anel, mas só o que a mão paralisada revelou foi um dedo branco e frio. — Já perdi meu anel de compromisso... Por favor, não deixe que eu o perca também. O segurança tirou a corda de veludo verde da frente do elevador aberto. — Tudo bem, mas seja rápida. E os dois desçam logo ou ficarão presos a noite toda. Não estou brincando. Callie plantou um beijo no rosto do segurança antes que ele percebesse o que ela estava fazendo. — Obrigada, obrigada. O elevador se fechou com um tinido e começou a subir, passando pelos andares, pelo vigésimo e trigésimo, disparando como um foguete para o piso de observação no octogésimo sexto andar. Ela se lembrou de uma viagem a Nova York que fizeram com a Sessão Modelo da ONU no fundamental em que a mãe a obrigara a ingressar. Callie participou do Tribunal de Justiça Internacional, a parte mais tediosa do Modelo da ONU, e ameaçou largar, até que a mãe lhe falou sobre o prêmio de uma viagem a Nova York no final do ano letivo. Enquanto o elevador subia pelos andares superiores, ela se lembrou que uma das colegas de turma vomitou no elevador. Achava que podia fazer o mesmo enquanto as portas se abriam no ventoso andar 86, o ar frio de inverno batendo em seu rosto. Uma figura escura avançou da beira do deck de observação. Callie reconheceu o casaco Patagônia verde-oliva de Easy, mas o cabelo — os cachos desgrenhados e sensuais, escuros, quase pretos — tinha sido completamente tosado. Ele estava lindo — quase ainda mais — porém diferente. Seu rosto pegou a luz amarela do pináculo e ela sorriu. Com o cabelo curto, ele parecia um garotinho. — Oi. — O vento jogou o cachecol Hugo Boss laranja e vermelho no pescoço de Easy, presente de Natal dela no ano anterior. — Achei que você não ia conseguir. — Está esperando há muito tempo? — perguntou ela, irritada consigo mesma por fazer uma pergunta tão banal. No elevador, ela imaginou pular nos braços de Easy, derrubando os dois no chão, cobrindo-o de beijos. Mas algo em toda a cena no alto do Empire State parecia... incorreto. — Eu não tinha mais para onde ir. — Easy sorriu timidamente e Callie derreteu. Correu para ele, deixando que ele a abraçasse. Enterrou o rosto em seu peito — embora ainda estivesse com um nó no estômago. Era tão surreal vê-lo de novo depois de pensar nele por
tanto tempo — era quase como se ele não fosse a pessoa com quem ela fantasiou, embora, a não ser pelo cabelo, este ainda fosse o Easy Walsh que ela conhecia e amava. Não era? O olhar de Callie vagou para a vista panorâmica de Nova York à noite, os rios escuros gorgolejando em algum lugar ao longe, depois dos pontos de luz. Ela tagarelou alguma coisa sobre ela, Tinsley e Jenny não acharem um hotel, terminando na casa de Yvonne, mas deixou de fora a parte louca, o dia passado com Ellis e a viagem mágica ao mundo underground da arte. Ela percebeu que estava se estendendo, mas não sabia por quê. — É bom ouvir você falar de novo. — Easy riu, afagando seu cabelo com as mãos sem luvas. Ele nunca as usava. — Esteve pintando? — perguntou ela em seu peito. Ele balançou a cabeça e recuou um passo. — Eles não deixam a gente fazer esse tipo de coisa. — Seus lindos olhos azuis, que sempre a lembravam das águas tempestuosas do mar, pareciam um pouco mais duros do que o de costume e ela tremeu ao pensar em Easy acordando ao amanhecer para fazer abdominais. — Fiquei sonhando com você. — Ele tocou seu queixo e ternamente a puxou para um beijo. Mas Callie recuou. — Que foi? — perguntou Easy, a confusão cruzando seu rosto. Flocos de neve caíram em sua pele, derretendo-se. — Eu... É que... — gaguejou Callie, com o coração parecendo prestes a explodir. — Olha. — Ela tirou as luvas e estendeu a mão enquanto as lágrimas caíam pelo rosto. — Eu já perdi seu anel. Sou tão idiota. Estava numa guerra de bola de neve e eu... — Esta tudo bem. — Easy tentou acalmá-la. Passou a mão pelas costas de Callie. — Está tudo bem. É só um anel. — Eu sei — disse Callie amargamente. — Mas você me deu e eu perdi. Ela percebeu então como suas fantasias de noiva eram idiotas. Nem conseguia ficar comprometida com seu noivado falso por um dia inteiro. A culpa pelo modo como perdeu o anel — atirando bolas de neve com Ellis — fez seus dedos começarem a tremer. Mas por que ela se sentia culpada? Não fez nada de errado. E ela sabia que não estava apaixonada por Ellis — ela nem o beijou, nem imaginou beijá-lo. Antes de conhecer Ellis na casa de Yvonne, ela tocou o anel de Easy a cada minuto, maravilhando-se com sua capacidade de trazer à vida o cheiro e a sensação de Easy. Mas Ellis a distraiu e Callie tinha de confessar que se esquecera completamente do anel, até perceber que o perdera. E agora Easy estava diante dela, em carne e osso. Mas parecia que era... tarde demais. Ela olhou a expressão confusa e preocupada de Easy. — Eu sempre vou te amar. — Suas palavras saíram trêmulas E ela morreu ao olhar nos olhos azuis arrasados de Easy. Mas precisava dizer isso. Callie pôs a mão no peito dele e desejou se sentir de outra forma, mas assim como teve tanta certeza meses antes de que o amava mais do que qualquer coisa, agora tinha certeza de que era o fim. — Mas acho que acabou. — Ela mordeu a língua para não dizer que passara as últimas dez horas sem pensar nele — e ainda se divertiu muito. — Callie. — Easy tossiu no punho. — Foi alguma coisa que eu fiz? Desculpe por não ter conseguido telefonar ou... Callie olhou para o alto, para a torre iluminada do Empire State no céu escuro da noite. A neve caía com mais força, pousando em seus cílios e toldando a visão. Ela balançou a cabeça devagar e recuou, para longe de Easy. — Está tudo bem. É melhor assim. Só é melhor.
Ela ergueu a mรฃo e se virou, surpresa com a facilidade com que dava as costas para ele. Easy continuou parado perto da grade sem dizer nada. Ela se perguntou se o abraรงaria, ou diria a ele que os dois podiam ser amigos, mas nada do que tinha a dizer parecia significativo. Respirando fundo, Callie voltou ao elevador. E enquanto as portas se fechavam, ela deixou que as lรกgrimas escorressem.
insley dormia e acordava enquanto o céu preto da noite aos poucos assumia um cinza leitoso sobre a cidade. Depois que a parte da hidro na festa se desfez, todos se reuniram em volta da lareira imensa da sala de estar de Yvonne, contando histórias de fantasma sob os cobertores até que as pessoas começaram a adormecer. Ela colocou Jenny em uma das camas de hóspedes, mas não conseguiu conciliar o sono. Seus nervos ainda estavam tensos de pensar no olhar que Julian lhe lançou quando ela, toda mandona, conduziu uma Jenny bêbada para fora da banheira. Depois que os últimos cochichos se aquietaram, ela ficou rolando na cama por horas. Por fim pegou um saco de dormir North Face verde-lima, preparou uma caneca de chocolate quente e estava sentada no terraço, recostada na parede do prédio de Yvonne e olhando o pró-amanhecer lindo e tomado de neve. Sozinha. Sua imensa caneca de cerâmica de chocolate quente instantâneo esfriava nas mãos. Ela soprou na caneca, o vapor subindo e vagando para os terraços escuros do outro lado da Park Avenue. Tinsley adorava subir no terraço de seu prédio e tinha um compartimento secreto sob um dos respiradouros para esconder seus cigarros e o ocasional baseado furtado. Meu Deus, o fim de semana de Ação de Graças estava um porre. Primeiro seus pais a abandonaram de repente — precisava se lembrar de ainda estar irritada com isso da próxima vez em que falasse com a mãe —, depois ela se reconciliou momentaneamente com Julian, só para ter aquela megavaca da Sleigh estragando tudo. Tinsley não ia ter outra oportunidade. Por fim, o sol apareceu sobre o East River, lançando a cidade nas sombras. O Empire State parecia imenso e intimidador. Ela nem acreditava que Callie tinha largado Easy — quando voltou tarde da noite para a casa de Yvonne, suja do choro e meio trêmula, Callie contou tudo. Foi para melhor, mesmo. Tinsley pensou em suas palavras de conselho a Jenny — Relaxe, divirta-se. Não comece a planejar seu casamento. Ela foi sincera, de verdade... Mas sabia o que era conhecer alguém que mudava completamente sua vida. Era pior para Julian, lembrou-se pela milionésima vez. Como ele pôde ser levado tão facilmente por Sleigh? Ele era só um calouro, mas mesmo assim. Como ele pôde não ver a cretina transparente que ela era? Tinsley procurou os cigarros e acendeu um, soprando uma torrente de fumaça no ar gelado. A porta do terraço se abriu e o humor de Tinsley afundou ainda mais — se tivesse de ver mais um amigo de Jeremy saindo para ver o nascer do sol e dar mole para as meninas do ensino médio, ela ia vomitar. Um pé chutou a porta quando esta emperrou, como Tinsley teve de fazer, e Julian olhou de soslaio, o cabelo louro-escuro despenteado e atraente de quem acabou de sair da cama. Ele não pareceu surpreso ao vê-la, o que deixou Tinsley ainda mais agitada.
— O que é agora? — perguntou ela com arrogância. — Veio me criticar por gritar com uma menina bêbada? — Ela não pretendia parecer tão cretina, mas como ele pensava que ela era assim mesmo, que diferença ia fazer? Julian tinha o olhar de alguém que acabara de acordar. — Não — disse ele, a voz quase um sussurro. — Posso? Tinsley deu de ombros, puxando o saco de dormir sobre os ombros, como um casulo protetor de lã. — Fique à vontade. Julian endireitou uma cadeira de plástico, passando a mão pelo assento antes de se sentar cautelosamente. Estava com os jeans e um moletom preto da Columbia que pegou emprestado, e as mangas eram curtas demais. — Na verdade, foi uma coisa legal o que você fez pela Jenny — disse ele, dando um pigarro para dominar a voz matinal. Tinsley o olhou com cautela. — Obrigada. — Ela bebeu o chocolate quente, que ficou frio em sua mão. Engoliu à força para não cuspir de volta na caneca. — Mas eu nunca serei tão gente boa quanto Sleigh, ao que parece. — É, quanto a ela... — Julian sorriu timidamente, passando a mão no cabelo e deixando-o ainda mais zoneado. — O que tem ela? — Tinsley tentou esconder a irritação. A última coisa que queria era falar de Sleigh, e se arrependia de ter mencionado o nome da vaca. Se ele ia dizer que Sleigh ia voltar para a Waverly, ou que os dois estavam namorando, Tinsley teria de jogar alguma coisa do terraço do prédio — talvez o próprio corpo. — Quando eu estava falando com ela depois do jantar, acabei dizendo que você e eu, sabe como é, ficamos antes. — O rosto de Julian corou um pouco. Ele chutou a neve com os tênis, estava sem meia. — E ela meio que deu um ataque comigo. — É mesmo? Tinsley bebeu novamente o chocolate frio, tentando controlar a alegria na voz. Resistiu ao impulso de perguntar se Sleigh tinha tentado atirar as coisas dele pela janela — até ela sabia que não era boa ideia tripudiar. Julian assentiu. — Eu sempre achei que havia alguma coisa estranha nela. Só não conseguia apontar exatamente o que era. — Ele se curvou e passou o dedo na neve, pegando uma camada fina e atirando no ar. — Meu melhor amigo na minha cidade tinha uma namorada que era toda meiga e cheia de charme, e uma vez estávamos de madrugada pela praia e ele se esqueceu de ligar para ela. Ela apareceu gritando com um fusquinha azul-claro... Ela nem tinha carteira de motorista. A merda que saiu da boca da garota apavorou todo mundo. E nenhum de nós esperava por aquilo. — Humm — disse Tinsley, balançando-se para se aquecer. De repente tomou consciência de que sua perna estava dormente. — Então está dizendo que você julga muito mal o caráter das pessoas? — Nem sempre. — Julian enfiou as mãos nos bolsos dos jeans. — Senti que Sleigh tinha isso em algum lugar. Acho que eu tinha razão. Tinsley torceu o nariz. — Se desconfiou que ela era uma cretina, por que ficou todo amiguinho dela? — Só queria ver como você agia perto dela — admitiu ele. — Desculpe.
Uma rajada de vento subiu e Julian esfregou as mãos e soprou nelas. Tinsley olhou para ele e depois ao longe, com a mente em disparada. Ele a havia testado? Por quê? Ele só faria isso se... Bom, se estivesse interessado. De novo. — Pensei que não íamos mais fazer joguinhos um com o outro. — Ela não conseguiu resistir. Julian riu, depois fitou Tinsley, os olhos como lasers. — Acho que eu também não sou perfeito. — Então... — Tinsley se interrompeu. Julian deu de ombros. — Gostaria de tentar de novo. Se você quiser. Tinsley abriu um leve sorriso. — Eu gostaria — concordou ela. — Meus pais saíram da cidade, então vou voltar para a Waverly amanhã. Ou hoje ainda, quero dizer. Você... vai passar o fim de semana todo com Kevin? Julian bocejou, cobrindo a boca com os dedos. O bocejo transformou-se num sorriso. — Agora que perdi o peru, posso muito bem voltar também. Quer companhia no trem? — Sempre. — Tinsley sorriu. Conseguiu recuperar a sensibilidade na perna. — Legal. — Julian bocejou novamente. — Preciso dormir mais um pouco. Não fique muito tempo aqui fora... Vai morrer congelada. Tinsley assentiu e viu Julian lutar com a porta do terraço de novo e desaparecer dentro do apartamento. Ela olhou por sobre o horizonte que parecia tão frio antes de o sol nascer, e antes da visita de Julian. Agora, com o sol rosa alaranjado surgindo atrás dos elegantes prédios cinzentos, parecia um dia novo em folha. Julian não tinha declarado exatamente seu amor eterno por ela. Ainda.
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CallieVernon: Terminei c/ EZ. BrettMesserschmidt: Como é? Vc chegou a falar com ele? Ele ainda está no quartel? Vc não está em Atlanta? CallieVernon: Ele desertou para me ver em NY. Uma longa história... Mas percebi que não estava preparada para ficar tão sério. BrettMesserschmidt: Ai, querida. Você parece triste. CallieVernon: E estou. Mas é para melhor. Vou pegar o avião para casa hoje. Minha mãe quer conversar sobre toda a história de me mandar para a reabilitação por acidente. BrettMesserschmidt: É melhor que ela te compense no shopping. CallieVernon: É. A terapia de varejo é parte fundamental do processo de cura.
sol forte e quase ofuscante cintilava pelo terreno coberto de neve da Waverly quando Brandon e Heath voltavam ao campus pelos caminhos tomados de neve em algum momento depois das sete da manhã de sexta-feira. O vento frio de inverno golpeava suas roupas, mas Brandon não sentia nada. Ele sorriu para Heath e Heath sorriu para ele. — Cara, foi demais. — Brandon procurou os óculos de aviador Gucci nos bolsos. — Justo o que o médico mandou. — O Dr. Heath sempre acerta. — Heath relinchou e galopou em volta de Brandon antes de estender a mão para um high five. Brandon bateu nela com força. Brandon não se lembrava da última vez em que ficara a noite toda acordado, se é que um dia ficou. Ouvira falar de festas que rolavam a noite toda, mas nunca foi convidado a nenhuma, então para ele a ideia tinha adquirido o status de mito. Mas ficar com Helga — ele tinha noventa por cento de certeza de que era Helga, e não Gretchen — fez valer toda a espera. Ele nem acreditava na facilidade com que tudo aconteceu. Será que tinha contraído alguma coisa de Heath? Bastou pensar nisso para seu passo ficar mais leve, e ele reduziu para que Heath o acompanhasse. — Vai ver Gretchen de novo antes de elas irem embora? — perguntou Brandon enquanto pisavam numa poça. O pináculo coberto de neve da capela da Waverly aparecia ao longe. Heath deu de ombros. — Duvido — respondeu ele, amarrando de novo o cachecol Burberry vinho e bege no pescoço. — E por que não? — perguntou Brandon. Helga implorara a ele para voltar antes de ela ter de ir embora no domingo, e como ele não sabia se o encontro exigia a presença de Heath, não queria fazer a excursão sozinho e de algum modo ficar preso a Dunderdorf com seu papo sobre cabras de novo. — Não me leve a mal. — Heath bufava. Eles pegaram o caminho para o Richards, passando por alguns alunos estrangeiros que faziam anjos de neve no parque branco e liso. — Nós arrasamos total. — Mas? — Mas a gente só ficou abraçadinho — admitiu Heath, metendo as mãos nos bolsos do casaco. — O que ainda é legal. Brandon nem acreditava no que ouvia. O autoproclamado devasso tinha passado a noite toda... juntinho? Peraí, isso não tornava Brandon mais depravado do que Heath?
— Claro — disse Brandon, pensando de novo na maciez da pele de Helga, que na Suíça eles deviam ter algum hidratante milagroso que transformava a pele em seda. — É legal. — Mas eu sou mais legal. — Eu só fiquei... — A voz de Heath estacou. Ele chutou um grumo de neve no ar. — Sabe como é. Pensando em Kara. Brandon parou de repente. Ele sabia que Heath tinha ficado arrasado quando Kara o largara um mês antes — nunca vira o colega de quarto chorar e foi comovente, de um jeito meio assustador. Mas depois de alguns dias de lamúrias, Heath conseguira voltar quase naturalmente a sua velha identidade sacana e mulherenga. Ou assim pensou Brandon. Ele olhou para Heath, cujos olhos normalmente despreocupados confirmaram o que ele dizia. Ele não esquecera Kara. — Vai dizer a ela? — perguntou Brandon, curioso. Agora que pensou nisso, foi mesmo estranho quando Heath ficou subitamente interessado em ver a apresentação de Sonho de uma noite de verão no Clube de Teatro na semana anterior. Brandon imaginou que tinha mais a ver com o boato de que as ninfas da floresta estavam nuas do que com o fato de que Kara Whalen era gerente de palco, mas agora precisava repensar as coisas. — Sei lá, cara — disse Heath, meio irritado, ou só fingindo irritação. Ele continuou andando. — É só um fato. Nem sei se tem alguma coisa a fazer sobre isso. Brandon lhe deu um tapinha nas costas. Heath empurrou Brandon num banco de neve, retaliando. — Não tão rápido, porra! — Os dois se perseguiram no caminho de volta ao alojamento, jogando um no outro as bolas de neve mais duras que conseguiam fazer.
insley apareceu no recanto de café da manhã da casa de Yvonne Síidder na sexta de manhã cedo, largando a bolsa Prada a seus pés. — E aí, dá pra gente ir andando, por favor? — gemeu alegremente, jogando-se no colo de Callie. — Alguém está de bom humor. — Callie estava sentada com um bagel tostado com geleia de uva ainda intocado a sua frente. Ela tentou se livrar do corpo leve de Tinsley, mas ela passou o braço por seu pescoço e lhe plantou um beijo no rosto. — De muito bom humor — assentiu Jenny, olhando infeliz os farelos do muffin de laranja e amora. Ela nem sabia se já vira Tinsley feliz. Nunca. Já a vira parecer satisfeita, puxa-saco, exultante, diabólica, alegre, até contente, mas não feliz. Seus olhos violeta de Elizabeth Taylor positivamente faiscavam. Jenny não se sentia tão bem, sofrendo de uma grave ressaca e um forte arrependimento. Não vira Casey de novo depois de dizer embriagada que o amava e, sempre que pensava nisso, tinha vontade de vomitar. Tudo de novo. Ela se fez de idiota na frente de um cara que mal conhecia — de novo. Tomou outro gole imenso de água e esperou que os comprimidos de Advil extraforte fizessem efeito logo. Tinsley arqueou uma sobrancelha escura e perfeita. Seu cabelo preto e liso estava puxado em duas marias-chiquinhas que começavam na nuca e caíam pela metade do cardigã listrado de preto e cinza de manga curta Juicy Couture. — Acho que estou pronta para voltar à escola. — Ela deu uma mordida no bagel de Callie antes de pular e espanar as sementes de gergelim da saia Rock & Republic preta. — Por que será? Callie torceu os cantos da boca com gloss Chanel num meio sorriso. Pegou uma gota de geleia que tinha caído no suéter de gola rulê Ralph Lauren e tombou a cabeça de lado para a sala de estar, onde Julian estava arriado no sofá, jogando videogame. — Você vai mesmo voltar? — Jenny colocou o prato na pia de aço inox sobrecarregada de pratos e restos de comida. Ela se ofereceu, meio desanimada, para ajudar Yvonne a limpar tudo, mas Yvonne garantiu alegremente que as faxineiras marcaram para chegar dali a algumas horas e estavam loucas para receber a bonificação de feriado no pagamento da semana. — Pode ir para minha casa, agora que os Hare Krishnas devem ter saído. — Que amor. — Tinsley, com meias de listras cinza-escuro, girou num círculo sobre a ponta dos pés. — Mas já estou arrumada. — E você? — perguntou Jenny a Callie, cujos olhos castanhos pareceram meio perdidos a manhã toda. Callie afastou o bagel e se levantou. — Remarquei minha passagem de avião. — A saia de Callie se levantou e revelou uma tira mínima de pele branca acima dos Sevens pretos. — Vou para casa. Para descansar.
— Precisa de uma comidinha caseira? — perguntou Tinsley, passando a mão na barriga de brincadeira. — Alguns grãos de aveia e milho na espiga? — Algo assim. — Callie lhe mostrou a língua. — Minha mãe tem que compensar um monte de coisas. — Ela jogou o cabelo louro arruivado e deu de ombros. — Deve valer pelo menos um par de Louboutins. — Está pronta? — perguntou Julian, colocando a cabeça para dentro da cozinha. Com uma camiseta xadrez cinza desbotada Racounteurs e jeans largos, o cabelo molhado caindo em mil lados diferentes, ele estava totalmente lindo. Jenny olhou para Tinsley, que sem dúvida também percebeu a beleza dele. Um sorriso torceu os cantos dos lábios com gloss de Tinsley. — Julian também vai pegar o trem. Callie e Jenny trocaram um olhar, e Tinsley torceu o nariz para as duas antes que Julian pudesse ver. — Deixa eu pegar minha bolsa... Vou descer com vocês. — Callie desapareceu em uma nuvem de perfume Joy Jean Patou. Jenny andou pelo apartamento, ainda um tanto deprimida, procurando por alguma coisa que tivesse deixado para trás. Casey tinha desaparecido em alguma hora naquela manhã. Sem se despedir. Jenny tentou não deixar que isso a incomodasse, pensando que seria legal passar alguns dias com o pai — e só o pai. Talvez andassem pelas livrarias do Upper West Side, procurando tesouros e fazendo umas compras antecipadas de Natal. Eles parariam e almoçariam em um dos restaurantes de caldos preferidos de Jenny, ou na espelunca tailandesa na quadra deles que fazia o melhor pad thai que ela já comeu na vida. Instantes depois ela saiu do elevador com Tinsley, Callie e Julian. O ar frio da manhã era claro e fresco enquanto o porteiro abria a porta para o grupo. Eles ficaram sob o toldo verde do prédio e procuraram os óculos de sol. A neve cintilante ainda não teve tempo de ficar toda suja e cinza, e a cidade parecia uma paisagem de inverno. O coração de Jenny acelerou. Ela adorava estar em casa. — Precisamos de um táxi — disse Tinsley, batendo a bolsa na de Julian enquanto a largava na calçada. — Na verdade, três. — Callie olhou o céu e Jenny se perguntou se ela procurava o Empire State, imaginando se Easy ainda estaria lá. Ela contou toda a história esta manhã e Jenny de certo modo desejou poder dar um abraço em Easy. Ela sabia como era ter o coração partido — ou talvez não soubesse. Será que realmente esteve apaixonada na vida? — Aonde vão? — perguntou o porteiro, entreouvindo. — Grand Central — disse-lhes Julian. Ele pegou a bolsa de Tinsley e a levou para o meio-fio. — JFK. — Callie colocou um par de luvas de cashmere azul-bebê. — Upper West Side — disse Jenny. O porteiro tirou o apito do colete e saiu na Park Avenue, agitando a mão. O telefone de Jenny zumbiu e ela o pegou por instinto, quase deixando-o cair na neve. Viu um número desconhecido, o que sempre a deixava em pânico, mas abriu assim mesmo. Oi, desculpe por não me despedir. Vc estava lindinha dormindo. Vc é um amor e devia vir me ver na Union. Bjs. Casey. — Não é dos Hare Krishnas, é? — perguntou Tinsley com um falso olhar de alarme. — Que Hare Krishnas? — perguntou Julian, confuso. — Conto depois. — Tinsley casualmente colocou a luva no braço dele. — Uma história para o trem.
— É Casey. — Animada, Jenny leu a mensagem em voz alta, as palavras saindo de sua boca com orgulho. — Alguém tem namorado novo — disse Callie com indiferença, olhando a ponta das botas. — Humm, talvez não. — Jenny fechou o telefone, sentindo-se cheia de poder. Talvez ela lhe mandasse uma mensagem depois... Ou só amanhã. Ou talvez ela nem mandasse mensagem nenhuma. — Não sei se estou pronta para ter namorado agora. Assim que as palavras saíram de seus lábios, Jenny entendeu que eram verdadeiras. Como tinha acabado de conhecer Casey, só o que ela queria era que ele a quisesse. E agora que ele tomou a iniciativa, bem... Talvez fosse mais divertido não ficar ligada a ninguém. Por enquanto. Tinsley sorriu para Jenny, as duas trocando seus parabéns em silêncio. Jenny sorriu também. O homem dos sonhos podia esperar. Agora ela só queria se divertir um pouquinho mais.
ire à esquerda aqui — instruiu Brett, semicerrando os olhos para as orientações impressas do Mapquest. — Depois à direita em 300 metros. — Ele mora mesmo aqui? — perguntou Bree, girando o volante do BMW Mini alugado. Era tarde de domingo e Bree ia voltar a Nova York. Willy, que passou o resto do fim de semana com os Messerschmidt, insistira em pegar o trem de volta, para dar a Bree e Brett um pouco de privacidade. Foi um amor da parte dele, e Brett, no caminho para Nova Jersey, contou toda a história cheia de drama de seus últimos meses na Waverly, de ficar com o Sr. Dalton, o professor de latim gato, mas nojento, a ficar com Kara e terminar com Jeremiah — três vezes. Bree rira nos momentos certos e disse exatamente as coisas de irmã que Brett sabia que ela diria, e ela já se sentia mil vezes melhor. — Aqui! — exclamou Brett. — Eastman Parkway, 1212. É aqui. — Brett olhou o gramado bem-cuidado e a enorme mansão Tudor. Seu coração saltou ao ver o Mustang preto, de mala aberta, ainda na entrada. — Valeu pela carona, B. — Brett deu um longo abraço na irmã. — Te amo, mana. — Bree olhou por sobre os óculos de aviador vermelhos. — Comporte-se. — Brett pegou a bolsa no banco traseiro e acenou enquanto o Mini voltava pela entrada. Respirando fundo, Brett se virou e seguiu pelo passadiço até a escada. Mas antes que chegasse lá, a porta de carvalho escuro Old English — com uma imensa cabeça de leão como aldrava — abriu-se e Sebastian saiu, de jaqueta, com a gola erguida. Ele parou ao ver Brett. — O que está fazendo aqui? Brett corou. Não pensou exatamente no que ia dizer e de repente pareceu má ideia simplesmente dar as caras ali. — Eu queria, humm, aceitar sua oferta. Da carona de volta à Waverly. — Ela mexeu os pés. Sebastian tombou a cabeça de lado e olhou para Brett por um segundo antes de dar de ombros. — Tanto faz. — Uma bolsa Tommy Hilfiger vermelha e azul gigantesca estava pendurada em seu ombro e ele fechou a porta, depois testou para ter certeza de que estava trancada. Sentando-se no banco do carona, Brett puxou para baixo e com pudor a bainha da minissaia de estampa geométrica preta e branca, mas pela primeira vez Sebastian nem olhou suas pernas. Decepcionada, ela ficou olhando pela janela.
— Sua casa parece bonita. — Ela tentou conversar. Perguntou-se se tinha uma decoração britânica por dentro, ou uma sala de bilhar, mas assim que abriu a boca para falar, Sebastian se pronunciou. — Pode escolher a rádio — propôs ele, saindo cautelosamente da entrada da casa. Brett de certo modo sentia falta de como ele acelerava o motor. — Está tudo bem — declinou Brett. — O carro é seu. — É sério, vai nessa. — Ele nem a olhou. — O que você quiser está bom para mim. Brett mexeu no rádio, passando pela estática até achar uma emissora que não estivesse nos comerciais. — E aí, humm... Está pronto para voltar? — perguntou ela sem jeito enquanto Sebastian entrava na via expressa. Sebastian deu de ombros. — Tô. — A jaqueta Hugo preta com listras brancas nas laterais parecia nova. Talvez a família dele desse presentes de Ação de Graças, ou talvez ele tivesse ido ao shopping em Short Hills na sexta também. — E você? Brett mexeu no colar de turquesa no pescoço. Qual era o problema dele? Ela odiava admitir, mas sentia falta do tom brincalhão de suas caronas anteriores e sabia que era culpa dela. A ideia de que ela lhe devia um pedido de desculpas pelo que aconteceu no Dia de Ação de Graças a incomodava. Não foi legal usá-lo como uma espécie de peão num jogo para irritar os Cooper, e foi menos legal ainda ter uma briga aos gritos com a irmã sobre isso. Mas levantar esse assunto de novo seria... esquisito. — Tô, acho que sim — respondeu ela, a voz igualmente despreocupada. Eles se misturaram ao trânsito pesado, os carros cheios de famílias indo para casa depois do fim de semana prolongado. Um mar de lanternas de freio vermelhas se esparramava diante deles à medida que os carros paravam e recomeçavam a andar no tráfego. Eles ficaram sentados em silêncio por um tempo, até que Brett não aguentou mais. — Você se divertiu com a sua família? — Claro. — Sebastian assentiu, cantarolando com o rádio. Ele abriu um pouco a janela e acendeu um cigarro. O cheiro de fumaça e da colônia de Sebastian se misturaram no nariz de Brett e ela se surpreendeu ao ver o quanto era reconfortante, lembrando-a dos últimos dias em casa. Com os Cooper mais velhos longe, os pais e a irmã voltaram a seu jeito normal. Fizeram um pacto de se comportar na frente dos futuros sogros de Bree — era assim que os chamavam — sem exagerar. Na noite anterior, Willy apareceu para ver a TV a cabo, navegando de um reality show a outro enquanto comia tigelas imensas de sorvete Cherry Garcia. Bree e Brett fizeram as unhas uma da outra enquanto Willy tentava ensinar Peaches e Princess a se fingir de mortas. Por todo o fim de semana prolongado que começara estressante, Brett se sentiu reviver, pronta para voltar à insanidade que era a Waverly. Mas ainda havia uma coisa que a incomodava. Ela não tinha estado pensando exatamente em Sebastian o fim de semana todo, mas sua presença ao vivo deixou uma aura na casa e volta e meia Sebastian pipocava em sua mente — o quanto os chihuahuas o adoraram, como ele ficou satisfeito quando se lembrou dela da praia tantos verões antes. E ela não detestou isso. — Olha. — Brett se mexeu no banco e mordeu os lábios com Gloss Dior Addict Red Stockings. — Eu te devo desculpas — disse ela rigidamente. Sebastian tombou a cabeça de lado, mas não tirou os olhos da estrada. Brett percebeu como parecia uma idiota e voltou a seu tom de voz normal. —É sério, me desculpe.
— Pelo quê? — perguntou Sebastian. Ele reduziu a velocidade para acompanhar o tráfego, as luzes de freio do carro da frente acendendo-se e apagando, depois permanecendo num vermelho fixo. Sebastian parou o carro e ficaram ali, presos no engarrafamento. A silhueta de Nova York era visível ao longe. — Desculpe por convidar você para o Dia de Ação de Graças usando uma desculpa esfarrapada. — Brett olhava as unhas recém-pintadas de vermelho. — Para me deixar sem graça — acrescentou Sebastian. Ela ainda podia ouvir a mágoa em sua voz. — É o que você acha? Que eu queria te deixar sem graça? — Ela jamais quis magoar ninguém intencionalmente — e muito menos Sebastian. Ele deu de ombros de novo. — Claramente você não me convidou porque queria estar comigo. — Vou admitir que eu tinha segundas intenções. — Ela girou na direção dele no banco. Era idiotice dela não ter notado isso antes, mas ela se divertiu muito com Sebastian, completamente independente dos Cooper, e de repente era importante que ele entendesse isso. — Eu queria, sabe, chocar aqueles bestas. — Ela o olhou, humilhada. — Mas acabei me divertindo muito com você. Será que você podia, sabe como é, me perdoar? Sebastian semicerrou os olhos. — Tá, acho que sim — disse ele, abrindo um meio sorriso. — Até parece que não gostei do olhar daquela velha quando você a pegou encarando meu cabelo. — E ela sacou... Eu sei que sim — garantiu Brett a Sebastian, rindo. Ela o olhou pelo canto do olho e suspirou, ficando séria de novo. — Não tenho orgulho nenhum de meu comportamento. É só que minha irmã estava... Sebastian ergueu a mão. — Ei, já acabou. — Ele a olhou enquanto o trânsito começava a se mover de novo. — O que passou, passou. — Tudo bem — disse Brett, obediente. Ela olhou pela janela, perguntando-se se Jenny e Callie estariam voltando para a Waverly agora. Talvez Jenny já estivesse lá quando Brett chegasse e elas pudessem fazer margaritas. Ela recebeu e-mails de Jenny e de Callie, contando das loucuras do feriado, mas estava louca para vê-las pessoalmente. — Só tenho uma pergunta para você. — Sebastian passou a mão no rosto e Brett ficou tensa, indagando-se se foi tudo uma armação para que ela pagasse por seu mau comportamento. — Você trouxe aquela roupa sexy que estava usando no Dia de Ação de Graças? — Ele arqueou as sobrancelhas e sorriu. Brett sentiu todo o rosto corar. Na realidade ela vasculhou o armário e guardou algumas das velhas roupas, as que chocariam gente como os Cooper — mas de jeito nenhum ia dar a satisfação de contar isso a Sebastian. — Acho que vai ter que esperar para ver. Um comercial no rádio acabou e uma música de Springsteen apareceu pelas ondas do rádio. Em vez de se encolher, Brett aumentou o volume, sorrindo para Sebastian. Ele sorriu para ela e pegou a pista da esquerda, passando pelo trânsito parado e voando para os campos cobertos de neve da Waverly.
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AlanStGirard: Caraca, é verdade que vc ficou com as gêmeas Dunderdorf??? BrandonBuchanan: Cara, já tá sabendo disso? AlanStGirard: Então é verdade? BrandonBuchanan: Não tudo... Só uma delas. AlanStGirard: Aí, mano! Arrebentou. E a Sage? BrandonBuchanan: Quem??
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BennyCunningham: Acabo de ver Brett saindo do carro esporte preto de seu coleguinha de estudos. SageFrancis: Que interessante. Eles estudaram latim no feriado todo?? BennyCunningham: E vi Tinsley enroscada num sofá na Maxwell com aquele calouro gato, o Julian. SageFrancis: Cara, todo mundo se ocupou no feriado, menos eu? BennyCunningham: Já que falou nisso, tá sabendo de um lance sobre Brandon e uma modelo sueca?? SageFrancis: Valeu. Você é a oitava pessoa a me dizer.
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EmilyJenkins: Soube que Callie e EZ se separaram para sempre? Ele estava tipo pronto para pular do Empire State ou coisa assim. AlisonQuentin: Totalmente doido! Acho que eu e Alan também terminamos. EmilyJenkins: Ah, não! Precisa de um ombro amigo? AlisonQuentin: Preciso mais é de uma boa bebida. E de uma fofoca de verdade. Soube que Jenny e Tinsley agora são grandes amigas? Dizem que elas vão aprontar algumas das boas. EmilyJenkins: O que foi que aconteceu no feriado? AlisonQuentin: Hummm, o que foi que não aconteceu?
Fim
Adored (Adorada)