A Cabana

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WilliamP.Young

comacolaboraçãode Wayne Jacobsene BradCummings

Créditos:lewrydiboys

Reedição:SusanaCap www.semeadores.net

Nossose-bookssãodisponibilizados gratuitamente,com a única finalidade de oferecer leitura edificante a todosaquelesque nãotem condiçõeseconômicaspara comprar. Se você é financeiramente privilegiado,então utilize nossoacervoapenaspara avaliação,e,se gostar,abençoe autores,editorase livrarias, adquirindooslivros. Semeadoresda Palavra e-booksevangélicos

Editora Sextante,2008

FICÇÃO

Títulooriginal:The Shack

Tradução:Ivanir AlvesCalado

Copyright©2007por William P.Young

Copyrightda tradução©2008por Editora Sextante Ltda.Música usada no Capítulo1:"One Way",de Larry NormanMúsica usada noCapítulo10:"New World",de DavidWilcoxCapa:Marisa Ghiglieri,Dave Aldriche Bobby Downes

A CABANA

Adaptaçãoda capa:Miriam Lerner

ISBN 97885-99296-36-3

1.Mudança de vida - Ficção.2.Criançasdesaparecidas- Ficção.3.Ficção americana.I.Alves-Calado,Ivanir,1953-.II.Título.

Todososdireitosreservados,noBrasil,por Editora Sextante Ltda.

Rua Voluntáriosda Pátria,45- Gr.1.407- Botafogo22270-000- Riode JaneiroRJ

Tel.:(21) 2286-9944- Fax:(21) 2286-9244 E-mail:atendimento@esextante.com.br www.sextante.com.br

Esta história foiescrita para meusfilhos Chad- oProfundoGentil, Nicholas- oExplorador Sensível, Andrew - oAfetoGeneroso, Amy - a Alegre Conhecedora, Alexandra (Lexi) - oPoder Luminoso, Matthew - oBeloProdígio, Édedicada em PrimeiroLugar a Kim,minha amada obrigadopor salvar minha vida Eem segundoa

"...todosnós,falhos,que acreditamosque oAmor governa.Levantemo-nose deixemosque ele brilhe". Índice

Prefácio............................................................................................6
de caminhos...................................................12 2.A escuridãose aproxima ............................................................21 3 O mergulho 30 4.A grande tristeza ........................................................................38 5.Adivinhe quem vem para jantar .................................................55 6.Aula de vôo................................................................................73 7.Deusnocais..............................................................................89 8.Um café da manhã de campeões..............................................100 9.Há
jardim muito,muitodistante ...............112 10.Andandosobre a água ...........................................................123 11.Olha ojuizaí,gente ...............................................................134 12.Na barriga dasferas...............................................................153 13.Um encontrode corações.......................................................167 14.Verbose outrasliberdades.....................................................178 15.Um festivalde amigos............................................................193 16.Manhã de tristezas.................................................................201 17.Escolhasdocoração..............................................................214 18.Ondulaçõesse espalhando.....................................................221 Posfácio........................................................................................229 Agradecimentos...........................................................................231
aoouvir um
que passouum
semana
1.Uma confluência
muitotempo,num
PREFÁCIO Quem nãoduvidaria
homem afirmar
fim de

inteirocom Deuse,ainda mais,em uma cabana?Principalmente naquela cabana.

ConheçoMackhá poucomaisde 20anos,desde odia em que nósdoisfomosà casa de um vizinhopara ajudá-loa embalar fenopara suaspoucasvacas.A partir de entãoa gente se encontra compartilhandoum café ou,para mim,um chá tailandêssuperquente,com soja.Nossasconversasnosdãoum prazer profundoe sãosempre salpicadasde muitorisoe de vezem quandode uma ou duaslágrimas.Francamente,quantomaisvelhosficamos,maisa gente se dá bem,se é que você me entende.O nome completodele é Mackenzie Allen Phillips,masa maioria daspessoasochama de Allen.

Éuma tradiçãode família:todososhomenstêm oprimeironome igual,massão conhecidospelonome domeio,provavelmente para evitar a ostentaçãodoI,II e III ouJúnior e Sênior.Assim,ele,oavô,opaie agora ofilhomaisvelhotêm o nome de Mackenzie,massóNan,a mulher dele,e osamigosíntimosochamam de Mack.

Ele nasceuem uma fazenda doMeio-Oeste,numa família irlandesa-americana de mãoscalejadase regrasrigorosas.Ainda que aparentemente religiosoe exageradamente rígido,seupaibebia muito,sobretudoquandoa chuva nãovinha ouquandovinha cedodemais,e quase sempre entre uma coisa e outra.Mack nunca fala muitosobre opai,masquandoO menciona a emoçãoabandona seu rosto,comose fosse uma maré vazante,deixandoseusolhossombriose sem vida.

Pelopoucoque Mackme contou,seique seupainãoera otipode alcoólatra que cainum sonorápidoe feliz,e sim um bêbadoperversoque batia na mulher e depoispedia perdãoa Deus.

A coisa (chegoua talpontoque,aos13anose com certa relutância,Mackabriuo coraçãopara um líder da igreja durante um encontrode jovens.Dominadopelo clima domomento,Mackconfessouchorandoque nunca fizera nada para ajudar a mãe nasváriasvezesem que testemunhara opaibêbadolhe dar uma surra até deixá-la inconsciente.O que Macknãopensoufoique seuconfessor freqüentava a mesma igreja que seupai.Quandochegouem casa,opaioesperava na varanda e a mãe e asirmãsnãoestavam.Maistarde,Mackficousabendoque elastinham sidomandadasà casa da tia May para que opaipudesse ter liberdade para dar aofilhorebelde uma liçãoinesquecível.Durante quase dois dias,amarradoaogrande carvalhonosfundosda casa,ele foicastigadocom um cintoe com versículosda Bíblia todasasvezesque opaiacordava de sua bebedeira e largava a garrafa.Duassemanasdepois,quandoenfim conseguiu

ficar em pé,Macksimplesmente se levantoue foiembora de casa.Masantesde partir colocouvenenode ratoem cada garrafa de bebida que conseguiu encontrar na fazenda.Depoisdesenterroude pertoda latrina externa a pequena lata onde guardava todososseustesouros:uma fotoda família em que opai estava meioafastado,uma figurinha de beiseboldoLuke Easter de 1950,uma garrafinha com maisoumenos30mlde Ma Griffe (oúnicoperfume que sua mãe havia usado),um carretelde linha e duasagulhas,um pequenojatoF-86da Força Aérea americana em metalfundidoe todasaseconomiasde sua vida:15 dólarese 13centavos.Esgueirou-se pela sala e enfiouum bilhete debaixodo travesseiroda mãe,enquantoopaironcava,curtindomaisum porre.O bilhete dizia simplesmente:"Um dia esperoque você possa me perdoar."Jurou que nunca maisolharia para tráse nãoolhou durante um longotempo.

Treze anosé muitopouco,porém Macknãotinha muitasopçõese se adaptou rapidamente.Ele nãofala muitosobre osanosseguintes.A maior parte foi passada fora dopaís,trabalhandopelomundo,mandandodinheiropara osavós, que orepassavam à mãe.Achoque num dessespaísesdistanteschegoua pegar em armase participar de algum conflitoterrível;desde que oconheço,ele odeia a guerra com um fervor sinistro.Seja lá oque for que tenha acontecido,aos20e poucos anosfoiparar num semináriona Austrália.QuandoMackse fartoude teologia e filosofia,retornouaosEstadosUnidos,fezaspazescom a mãe e asirmãse se mudoupara oOregon,onde conheceuNannete A.Samuelsone se casoucom ela.

Neste mundode faladores,Macké pensador e fazedor.Nãodizmuita coisa,a nãoser que alguém pergunte,oque pouca gente faz.Quandofala,dá a impressãode ser uma espécie de alienígena que vê a paisagem dasidéiase experiênciashumanasde mododiferente de todasasoutraspessoas.

O que acontece é que ascoisasque ele dizcausam um certodesconfortoem um mundoonde a maioria daspessoasprefere escutar oque está acostumada a ouvir,oque freqüentemente nãoé grande coisa.Osque oconhecem geralmente gostam muitode Mack,desde que ele mantenha guardadosseuspensamentos. Porque ascoisasque Mackdiznem sempre deixam aspessoasmuitosatisfeitas com elasmesmas.

Uma vezMackme contouque quandoera jovem costumava se abrir com mais liberdade,masadmitiuque a maior parte dessasconversasera um mecanismo

de sobrevivência para encobrir suasferidas.Freqüentemente acabava derramandoa dor sobre quem estivesse por perto.Disse que tinha prazer em apontar asfalhasdaspessoase humilhá-laspara manter seusentimentode falso poder e controle.Nada muitoelogiável.

Enquantoescrevoestaspalavras,reflitosobre oMackque sempre conheci:um sujeitobastante comum e certamente sem nada de especial,a nãoser para os que oconhecem de verdade.Vaifazer 56anose nãochama a atenção,está ligeiramente acima dopeso,é meiocareca,baixoe branco uma descrição que serve para muitoshomensdessasredondezas.Você provavelmente nãoo notaria numa multidãonem se sentiria incomodadosentadoaoseuladoenquanto ele cochila notrem que oleva à cidade para a reuniãosemanalde vendas.Faza maior parte de seutrabalhonum pequenoescritórioem sua casa na Wildcat Road,Vende alguma engenhoca de alta tecnologia que eunãopretendoentender: trecoseletrônicosque de algum modofazem tudoandar maisdepressa,comose a vida já nãofosse rápida demais.Você sópercebe comoMacké inteligente quando,por acaso,escuta diálogodele com um especialista.Já vivialgumas situaçõesdessasquandoa língua falada malparecia com a nossa e eume via lutandopara captar osconceitosque jorravam comoum riode jóias despencandode uma cachoeira.Ele consegue falar com inteligência sobre quase tudoe,apesar da força de suasconvicções,Macktem um modogentile respeitosoque deixa você manter assuas. SeusassuntosprediletossãoDeus,a Criaçãoe por que aspessoasacreditam em determinadascoisas.Seusolhosse iluminam e seusorrisorepuxa oscantosdos lábiospara cima.De repente,comose fosse um garotinho,ocansaçose dissolve e ele rejuvenesce,praticamente incapazde se conter.Mas,aomesmotempo, Macknãoé muitoreligioso.Parece ter uma relaçãode amor e ódiocom a religiãoe talvezaté com Deus,que ele imagina comoum ser mal-humorado, distante e altivo.Pequenasgotasde sarcasmoescorrem àsvezespelas rachadurasde seureservatório,comodardoscortantescheiosde veneno. Embora algumasvezesnósdoisvamosjuntosà mesma igreja,dá para ver que ele nãose sente muitoà vontade lá.

Mackestá casadocom Nanhá poucomaisde 33anos na maior parte do tempo,elessãofelizes.Dizque ela salvousua vida e pagouum preçoaltopor isso.Por algum motivoque nãodá para compreender,Nanparece amá-loagora maisdoque nunca,apesar de euter a sensaçãode que ele a magooude algum modoterrívelnosprimeirosanos.Achoque,assim comoa maior parte das nossasferidastem origem em nossosrelacionamentos,omesmoacontece com

ascuras,e seique quem olha de fora nãopercebe essa bênção.

De qualquer modo,Mackse casou.Nané a argamassa que mantém juntosos ladrilhosde sua família.EnquantoMacklutounum mundocom muitostonsde cinza,odela é principalmente pretoe branco.

O bom sensoé tãonaturalpara Nanque ela nem consegue perceber odom que issorepresenta.Ter uma família a impediude realizar seusonhode ser médica, masela se destacoucomoenfermeira e obteve um reconhecimentoconsiderável em seutrabalhocom pacientesterminaiscom câncer.Enquantoo relacionamentode Mackcom Deusé amplo,ode Nané profundo.Esse casal contraditórioteve cincofilhosde beleza incomum.Mackgosta de dizer que todos pegaram a beleza dele,"...porque Nanainda conserva a dela".Doisdostrês meninosjá saíram de casa:Jon,casadohá pouco,trabalha comovendedor de uma empresa local,e Tyler,recém-formadona faculdade,está fazendo mestrado.Joshe uma dasduasgarotas,Katherine (Kate),cursaram a escola comunitária local.Ea que chegoupor últimoé

Melissa ouMissy,comogostávamosde chamá-la.Ela...bem,você vai conhecer melhor algunsdosfilhosde Mackaolongodeste livro.

Osúltimosanosforam...comoé que possodizer...notavelmente peculiares. Mackmudou:agora está ainda maisdiferente e especial.Durante todososnossos anosde convívioele sempre foibastante gentile amável,masdesde a estada no hospitalhá trêsanosficou...bem,melhor ainda.Tornou-se uma daquelasraras pessoasque estãototalmente à vontade dentroda própria pele.Eeutambém me sintomaisà vontade pertodele doque de qualquer outra pessoa.Cada vezque nosseparamos,tenhoa sensaçãode ter tidoa melhor conversa da minha vida, mesmoque eutenha faladomais.E,a respeitode Deus,Macknãoé mais simplesmente amplo.Ficoumuitoprofundo.Masomergulhocustoucaro.

Osdiasde hoje sãomuitodiferentesde há sete ouoitoanos,quandoa Grande Tristeza entrouem sua vida e ele quase paroude falar.Maisoumenosnessa época,e por quase doisanos,nossosencontrosforam interrompidos,comose por um acordomútuonãoverbalizado.Eusóvia Mackde vezem quandona mercearia ou,maisraramente ainda,na igreja.E,embora em geraltrocássemos um abraçoeducado,nãofalávamosde muita coisa importante.Para ele era até difícilme encarar.Talveznãoquisesse entrar numa conversa capazde arrancar a casca de seucoraçãoferido.Porém tudoissomudoudepoisde um acidente feiocom...Maslá voueuoutra vezbotandoocarrona frente dosbois.Vamos chegar lá nodevidotempo.Basta dizer que estesúltimosanosparecem ter devolvidoa vida de Macke tiradoofardoda Grande Tristeza.O que aconteceu

trêsanosmudoutotalmente a melodia de sua vida e é uma cançãoque mal possoesperar para tocar.

Apesar de se comunicar bastante bem verbalmente,Macknãose sente seguro sobre sua capacidade de escrever algoque ele sabe que me apaixona.Por isso,perguntouse euescreveria esta história,a história dele "para ascriançase para a Nan".Queria uma narrativa que oajudasse a expressar para elesa profundidade de seuamor e que osajudasse a entender oque havia se passado em seumundointerior.Você conhece olugar:é

onde você está sozinho e talvezcom Deus,se acredita Nele.É

claroque Deuspode estar lá,mesmoque você nãoacredite.Issoseria bem o jeitode Deus.Nãoé à toa que ele é chamadode O Grande Intrometido.

A história que você vailer é resultadode uma luta minha e doMackpara, durante muitosmeses,colocar em palavrasoque ele viveu.Tem um ladoum pouco...digamos,muitofantástico.Nãovoujulgar se algumaspartessão verdadeirasounão.Prefirodizer que,mesmoque algumascoisasnãopossam ser cientificamente provadas,talvezsejam verdadeiras.Masprecisoafirmar honestamente que fazer parte desta história me afetoude modoprofundo, desvendandodetalhesmeusque eudesconhecia.Confessoque desejo desesperadamente que tudooque Mackme contouseja verdade.Na maioria das vezeseume sintopróximodele,masem outras quandoomundovisívelde concretoe computadoresparece ser oreal percoocontatoe tenhodúvidas. Algumasobservaçõesfinais.Mackgostaria que eulhe transmitisse oseguinte recado:"Se você odiar esta história,desculpe,ela nãofoiescrita para você."Mas euqueroacrescentar:afinal,talveztenha sido.O que você vailer é omáximo que Mackconsegue recordar daquiloque aconteceu.Esta é a história dele,nãoa minha.Por isso,naspoucasvezesem que apareço,voume referir a mim mesmona terceira pessoa e dopontode vista de Mack.

Àsvezesa memória pode ser uma companheira enganosa,em especialcom relaçãoaoacidente,e eunãoficareisurpresose,apesar de nossoesforço conjuntopara contar a história com exatidão,algunsfatose lembranças aparecerem distorcidosnestaspáginas.Nãoé intencional.Garantoque as conversase eventosforam registradosdomodomaisfielpossível,de acordo com aslembrançasde Mack.Portanto,por favor,tente nãose aborrecer com ele.Comovocê verá,essascoisasnãosãofáceisde contar.

- Willie

DECAMINHOS

Duasestradasse bifurcaram nomeioda minha vida, Ouvium sábiodizer. Pegueia estrada menosusada Eissofeztoda a diferença cada noite e cada dia. Larry Norman(pedindodesculpasa Robert Frost)

Marçodesatouuma torrente de chuvasdepoisde um invernode secura anormal. Uma frente fria desceudoCanadá e foicontida por rajadasde ventoque rugiam pelodesfiladeiro,vindasdoLeste doOregon.Ainda que a primavera certamente estivesse logoali,depoisda esquina,odeusdoinvernonãoiria abandonar sem luta seudomínioconquistadocom dificuldade.Havia um cobertor de neve recente nasCascades,e agora a chuva congelava aobater nochãodoladode fora da casa.Motivosuficiente para Mackse enroscar com um livroe uma sidra quente,aconchegando-se nocalor dofogoque estalava na lareira. Mas,em vezdisso,ele passoua maior parte da manhã nocomputador.Sentado confortavelmente noescritóriode casa,usandocalçasde pijama e uma camiseta,ele deutelefonemasde vendas.Parava com freqüência,ouvindoo som da chuva cristalina tilintar na janela e vendooacúmulovagarosomas constante dogelolá fora.Estava se tornandoinexoravelmente prisioneirodogelo em sua própria casa e com muitoprazer.

Há algoagradávelnastempestadesque interrompem a rotina.A neve oua chuva gélida nosliberam subitamente dasexpectativas,dasexigênciasde resultadose da tirania doscompromissose doshorários.Aocontrárioda doença,esta é uma experiência maiscoletiva doque individual.Quase podemosouvir um suspirode alívioerguer-se em uníssonona cidade próxima e nocampo,onde a natureza interveiopara dar uma folga aosexaustossereshumanos.Todososafetadospela tempestade sãounidospor uma desculpa mútua.De súbitoe inesperadamente o coraçãofica um poucomaisleve.Nãoserãonecessáriasdesculpaspor não comparecer a algum compromisso.Todosentendem e compartilham a mesma justificativa,e a retirada súbita de qualquer pressãoalegra a alma.

1.UMA CONFLUÊNCIA

Éclaroque astempestadestambém interrompem negócios,e,embora umas poucasempresastenham um ganhoextra,outrasperdem dinheiro oque significa que existem osque nãosentem júbiloquandotudofecha temporariamente.Masé impossívelculpar alguém pela perda de produçãoou por nãoconseguir chegar aoescritório.Mesmoque a situaçãosódure um oudois dias,de algum modocada pessoa se sente dona doseumundosimplesmente porque aquelasgotinhasde água congelam aobater nochão.

Até asatividadescomunsse tornam extraordinárias.Açõesrotineirasse transformam em aventurase freqüentemente sãovivenciadascom maior clareza.Nofim da tarde,Mackse encheude agasalhose saiupara lutar com os quase 100metrosda comprida entrada de veículosque vaiaté a caixa de correio. O gelohavia convertidomagicamente essa tarefa simplesdodia-a-dia numa batalha contra oselementos:levantouopunhoem contestaçãoà força bruta da natureza e,num atode desafio,riuna cara dela.O fatode que ninguém notaria nem se incomodaria com seugestopoucoimportava para ele sóo pensamentoofezrir por dentro.

Aspelotasde chuva gelada ardiam norostoe nasmãosenquantoele subia e descia com cuidadoaspequenasondulaçõesdocaminho.Mackse divertia pensandoque parecia um marinheirobêbadoindocom cuidadopara opróximo boteco.Quandovocê enfrenta a força de uma tempestade de gelo,nãocaminha exatamente com ousadia,demonstrandouma confiança incontida.Mackteve de se levantar duasvezesantesde finalmente conseguir abraçar a caixa de correio comose fosse um amigodesaparecidohá muito.

Paroupara apreciar a beleza de um mundoengolfadoem cristal.Tudorefletia luze colaborava para obrilhocrescente dofim de tarde.Asárvoresnocampodo vizinhotinham-se cobertocom mantostranslúcidos,e agora cada uma parecia única aoseuolhar.Era um mundoradiante e,por um momento,seuesplendor luzidioquase retirou,ainda que por apenasalgunssegundos,a Grande Tristeza dosombrosde Mack.

Demorouquase um minutopara arrancar ogeloque havia lacradoa tampa da caixa de correio.A recompensa por seusesforçosfoium únicoenvelope onde havia apenasseuprimeironome escritoà máquina doladode fora;sem selo, sem carimboe sem remetente.Curioso,ele rasgoua borda doenvelope,tarefa que nãofoifácil,poisosdedoscomeçavam a se enrijecer de frio.Dandoas costaspara oventoque lhe tirava ofôlego,finalmente conseguiuarrancar do ninhoum pequenoretângulode papelsem dobra.A mensagem datilografada dizia simplesmente:

Já fazum tempo.Sentisua falta.

Estareina cabana nofim de semana que vem,se você quiser me encontrar.

Papai

Mackse enrijeceuenquantouma onda de náusea percorria seucorpoe,com igualrapidez,se transmutava em ira.Esforçavase para pensar omínimopossível na cabana e,mesmoquandoela lhe vinha à mente,seuspensamentosnãoeram agradáveisnem bons.Se aquiloera uma piada de maugosto,a pessoa realmente havia se superado.Eassinar “Papai” sótornava a coisa ainda maishorrenda.

Idiota resmungou,pensandoem Tony,ocarteiro:um italiano exageradamente amigável,com grande coraçãomaspoucotato.Por que ele entregaria um envelope tãoridículo?Nem estava selado.Mackenfioucom raiva oenvelope e obilhete nobolsodocasacoe virou-se para começar a deslizar na direçãode casa.Ossoprosfortesdovento,que a princípiohaviam diminuídode intensidade,agora oempurravam,encurtandootemponecessáriopara atravessar a minigeleira que engrossava sobseuspés.Estava se saindobem, obrigado,até chegar à entrada de veículos,que se inclinava um poucopara baixo e à esquerda.Sem qualquer esforçoouintenção,começoua aumentar a velocidade,deslizandocom sapatosque tinham praticamente tanta firmeza quantoum patopousandonum lagogelado.Com osbraçosbalançando loucamente na esperança de,nãosabia como,manter oequilíbrio,Mackse viu adernandode encontroà única árvore de tamanhosubstancialque ladeava a entrada de veículos a única cujosgalhosmaisbaixosele havia cortadouns poucosmesesantes.Agora ela se erguia ansiosa para abraçá-lo,seminua e aparentemente desejosa de uma pequena retribuição.Numa fraçãode segundo, ele escolheuocaminhoda covardia e tentoudespencar nochão,permitindoque ospésescorregassem oque elesde qualquer modofariam.Melhor ter a bunda dolorida doque arrancar lascasdorosto. Mas a descarga de adrenalina

Mackenzie

fez

compensar exageradamente,e em câmara lenta Mackviuospésse erguerem à sua frente,comose puxadospara cima por alguma armadilha da selva.Bateu com força,primeirocom a nuca,e escorregouaté um monte na base da árvore brilhosa,que pareceuse erguer acima dele com uma expressãode presunçãoe nojo,além de uma certa decepção.

O mundopareceuficar escuropor um instante.Ele permaneceualideitado,tonto e olhandoocéu,franzindoosolhosenquantoa precipitaçãogelada esfriava rapidamente seurostovermelho.

Durante uma pausa ligeira, tudo pareceu estranhamente quente e pacífico, com sua cólera momentaneamente nocauteada peloimpacto.

o

Agora,quem é oidiota? murmurouconsigomesmo,esperandoque ninguém estivesse olhando.

O friose entranhava rapidamente pelocasacoe pelosuéter,e Macksoube que a chuva gelada que estava aomesmotempose derretendoe se congelando embaixodele iria logose tornar um enorme desconforto.Gemendoe sentindo-se muitovelho,rolouapoiando-se nasmãose nosjoelhos.Foientãoque viua marca de um vermelhoforte traçandosua jornada desde opontode impactoaté o destinofinal.Comose geradopela súbita percepçãodoferimento,um martelar surdocomeçoua subir pela nuca.Instintivamente ele procuroua fonte das batidasde tambor e trouxe de volta a mãoensangüentada.

Com ogeloásperoe ocascalhoafiadocortandoasmãose osjoelhos,Mackmeio engatinhou,meioescorregou,até conseguir chegar a uma parte plana da entrada de veículos.

Com um esforçoconsiderável,finalmente pôde ficar de pé e avançar cautelosamente,centímetroa centímetro,em direçãoà casa,humilhadopelospoderesdogeloe da gravidade.Assim que entrou,Mack se livroumetodicamente e domelhor modoque pôde dascamadasde roupa de frio,cornosdedosmeiocongeladosreagindocom quase tanta destreza quantose fossem porretesenormesna ponta dosbraços.Decidiulargar aquela bagunça molhada e manchada de sangue alimesmona entrada,onde a deixara cair,e avançoudolorosamente até obanheiropara examinar osferimentos.Nãoexistia dúvida de que ocaminhogeladohavia vencido.Dotalhona nuca escorria sangue aoredor de algumaspedrinhasainda encravadasnocourocabeludo.Comohavia temido,um galosignificativotinha se formado,emergindocomouma baleiacorcunda rompendoasondasde seucabeloralo.Enquantotentava ver a nuca com um pequenoespelhode mãoque refletia uma imagem invertida doespelho dobanheiro,Mackachoudifícilfazer um curativo.Depoisde uma curta frustração,desistiu,incapazde obrigar asmãosa irem na direçãocerta e sem saber qualdosdoisespelhosmentia para ele.Tateandocom cuidadoaoredor do talhoencharcado,conseguiutirar ospedaçosmaioresde cascalho,até que a dor ficouforte demaispara continuar.Pegouum poucode pomada de primeiros socorrose tapouoferimentodomelhor modoque pôde.Em seguida amarrou uma toalha de rostona nuca usandoum poucode gaze que encontrounuma gaveta dobanheiro.Olhando-se noespelho,pensouque se parecia um pouco com um marinheirorude saídodoromance Moby Dick.Issoofezrir,depoisse encolher.Teria de esperar até que Nanchegasse em casa para receber qualquer atendimentomédicoverdadeiro,uma dasmuitasvantagensde ser casadocom uma enfermeira.De qualquer modo,sabia que quantopior fosse a aparência,

maissolidariedade iria receber.

Se prestarmosbastante atenção,sempre conseguiremosdescobrir alguma compensaçãonosofrimento.Engoliudoisanalgésicospara diminuir a dor e mancouaté a porta da frente.Nem por um instante Mackse esqueceudobilhete. Remexendona pilha de roupasmolhadase ensangüentadas,finalmente o encontrounobolsodocasaco.Olhou,voltoupara oescritório,achouonúmeroda agência de correioe ligou.Comoesperava,Annie,a matronalchefe docorreioe guardiã dossegredosda populaçãolocal,atendeu.

Oi,por acasooTony está aí?

Oi,Mack,é você?Reconhecisua voz.

Claroque reconheceu.

Desculpe,masoTony ainda nãovoltou.Na verdade,acabode falar com ele pelorádio.Está na metade da Wildcat,nem chegouà sua casa ainda.O que você quer que eudiga a ele,se conseguir voltar vivo?

Na verdade você já respondeuà minha pergunta. Houve uma pausa dooutrolado.

O que há de errado,Mack?Ainda está fumandomuitobagulho,ousófazisso nasmanhãsde domingopara conseguir suportar ocultona igreja? Ela começoua rir,encantada com obrilhode seuprópriosensode humor.

Bom,Annie,você sabe que eunãofumobagulho.Nunca fumeie nem quero. Claroque Annie sabia disso,masMacknãopodia se arriscar.Nãoseria a primeira vezem que osensode humor de Annie se transformaria numa boa história que logose tornaria um "fato".Ele podia ver seunome sendo acrescentadoà corrente de oraçõesda igreja.

Tudobem,eufalocom oTony outra hora,nãoé importante.

Entãoestá certo,e fique dentrode casa,que é maisseguro.Você sabe,um cara velhocomovocê pode perder osensode equilíbriocom opassar dosanos.

Dojeitoque ascoisasandam,talvezTony nãoconsiga chegar à sua casa.

Obrigado,Annie.Tentareilembrar doseuconselho.Falocom você mais tarde.Tchau.

Sua cabeça latejava cada vezmais,pequenosmartelosde forja batendonoritmo docoração."Estranho",pensou,"quem ousaria colocar algoassim na nossa caixa de correio?"Osanalgésicosainda nãohaviam surtidooefeitodesejado,mas eram suficientespara embotar oiníciode preocupaçãoque ele estava sentindo,e de repente Mackficoumuitocansado.Pousoua cabeça na mesa e pensouque havia acabadode cair nosonoquandootelefone oacordoucom um susto.

Ah...alô?

Oi,amor.Parece que você estava dormindo.

Ele sentiuna vozde Nanuma animaçãoincomum,mesmopercebendoa tristeza encoberta que espreitava logoabaixoda superfície de cada conversa.Mackligou a luminária da mesa e olhouorelógio,surpresoaoconstatar que dormira por cerca de duashoras.

Ah,desculpe.Achoque cochileium pouco.

É,você parece meiogrogue.Tudobem?

Tudo. Mesmoestandoquase escurolá fora,Mackpodia ver que a tempestade nãohavia amainado.Tinha até depositadomaisuns5centímetrosde gelo.Osgalhosdasárvorespendiam baixose ele sabia que algunsacabariam se partindocom opeso,principalmente se oventoaumentasse. Tive um pequeno entreverona entrada de veículosquandofuipegar a correspondência.Mas,fora isso,tudobem.Evocê?

Ainda estouna casa da Arlene e achoque eue ascriançasvamospassar a noite aqui Ésempre bom para a Kate estar com a família parece que isso restaura um poucooseuequilíbrio.

Arlene era a irmã de Nan,que morava dooutroladodorio,em Washington.

De qualquer modo,está escorregadiodemaispara sair.Esperoque melhore de manhã.Queria ter chegadoem casa antesde otempoficar tãoruim,maso que se há de fazer? Houve uma pausa. Comoestá tudopor aí?

Bem,está absolutamente,espantosamente lindoe muitíssimomaissegurode olhar doque de andar,acredite.Eucertamente nãoqueroque você tente chegar aquinessa situação.Nada se mexe.Achoque nem oTony conseguiutrazer a

correspondência.

Acheique você já tinha pegadoa correspondência.

Não,acheique oTony tinha passadoe fuipegar.E

Mackhesitou,olhandoobilhete sobre a mesa nãohavia nenhuma correspondência.Ligueipara Annie e ela disse que oTony provavelmente nãoia conseguir subir a ladeira.De qualquer modo ele mudourapidamente de assuntopara evitar maisperguntas ,comoestá a Kate?

Houve uma pausa e depoisum longosuspiro.QuandoNanfalou,sua vozsaiu num sussurro,e Mackpercebeuque ela estava tapandoobocaldooutrolado.

Mack,eugostaria de saber.Por maisque eutente,nãoconsigo.Écomose eu falasse com uma pedra.Quandotem gente da família por perto,ela parece sair um poucoda casca,masdepoissome de novo.Simplesmente nãoseioque fazer. Rezeie rezeipara que Papainosauxiliasse a encontrar um modode ajudá-la, mas... Nanparoude novo parece que ele nãoestá ouvindo.

Era assim.Papaiera onome com que Nanse referia a Deuse expressava o deleite que lhe provocava sua amizade íntima com ele.

Querida,tenhocerteza de que Deussabe oque está fazendo.Tudovaidar certo. Essaspalavrasnãolhe trouxeram conforto,mas ele esperava que pudessem aliviar a preocupaçãoque sentia na vozdela.

Eusei Nansuspirou. Sógostaria que ele andasse maisdepressa. Eutambém foitudooque Mackconseguiudizer.

Bom,você e ascriançasfiquem aí,onde é seguro.Dê lembrançasà

Arlene e aoJimmy e agradeça a elespor mim.Esperover você amanhã. Eutambém.Se cuide e me ligue se precisar de alguma coisa.Tchau. Macksentou-se e olhouobilhete.Era confusoe dolorosotentar evitar a cacofonia de emoçõesperturbadorase de imagenssombriasque nublava sua mente um

milhãode pensamentosviajandoa um milhãode quilômetrospor hora.Por fim desistiu,dobrouobilhete,enfiou-onuma pequena lata que ficava sobre a mesa e apagoua luz.

Conseguiuencontrar algopara aquecer nomicroondas,depoispegoualguns cobertorese travesseirose foipara a sala de estar.Aoolhar rapidamente para o relógio,viuque oprograma de BillMoyer tinha acabadode começar;era seu programa predileto,que ele tentava nãoperder nunca.Moyer era uma das pouquíssimaspessoasque Mackadoraria conhecer:um homem brilhante e franco,capazde exprimir com clareza incomum uma compaixãointensa pelas pessoase pela verdade.

Quase sem pensar e sem afastar osolhosda televisão,Mackestendeua mãopara a mesinha de canto,pegouum porta-retratocom a imagem de uma menininha e oapertoucontra opeito.Com a outra mãopuxouoscobertoresaté oqueixoe se aninhoumaisfundonosofá.

Logoosom de roncossuavesencheuoar,enquantooaparelhoexibia um estudante noZimbábue,que fora espancadopor falar contra ogoverno.Mas Mackjá havia saídoda sala para lutar com seussonhos.Talvezessa noite não houvesse pesadelos,sóvisões,quem sabe,de gelo,árvorese gravidade.

2.A ESCURIDÃOSEAPROXIMA

Nada nosdeixa tãosolitáriosquantonossos segredos.

PaulTournier

Durante a noite um ventosudoeste soproupelovale de Villamette,libertandoa paisagem doapertogélidoda tempestade.Em menosde 24horasinstalou-se um calor de iníciode verão.Mackdormiuaté tarde,um daquelessonossem sonhos que parecem durar apenasum instante.

Quandofinalmente se arrastoudosofá,surpreendeu-se aodescobrir que as loucurasdogelohaviam se dissolvidotãodepressa,masdeliciou-se aover Nane ascriançasaparecerem menosde uma hora depois.Primeiroveioa bronca previsívelpor ele nãoter postoasroupassujasde sangue na lavanderia.Em seguida,uma quantidade adequada de exclamaçõesque acompanharam o exame que ela feznoferimentoda cabeça.O cuidadoagradouimensamente a Macke logoNanohavia limpado,remendadoe

alimentado.Masnãohouve mençãoaobilhete sempre presente em sua mente. Ele ainda nãosabia oque pensar a respeitoe nãoqueria envolver Nanem algum tipode piada cruel.Aspequenasdistrações,comoa tempestade de gelo,eram uma trégua bem-vinda que afastava por instantesa presença terrívelde sua companheira constante:a Grande Tristeza,comoele a chamava.Poucodepois doverãoem que Missy desaparecera,a Grande Tristeza havia pousadonos ombrosde Mackcomouma capa invisível,masquase palpável.O pesodaquela presença embotava seusolhose curvava seusombros.Até osesforçospara afastá-la eram exaustivos,comose osbraçosestivessem costuradosnasdobras escurasdodesesperoque agora,de algum modo,tinha se tornadoparte dele. Comia,trabalhava,amava,sonhava e brincava sempre usandoessa vestimenta, comose fosse um roupãode chumbo.

Andava com dificuldade pela melancolia tenebrosa que sugava a cor de tudo. Àsvezesele podia sentir a Grande Tristeza se apertandolentamente aoredor do peitoe docoração,comoosanéisesmagadoresde uma jibóia,espremendo líquidodosseusolhosaté

ele achar que nãoexistia maisnenhuma gota.Em outrasocasiõessonhava que seuspésestavam presosem lama pegajosa,enquantotinha rápidosvislumbresde Missy correndopelocaminhoque descia pela floresta à frente dele,ovestido vermelhode algodãoleve enfeitadopelasfloressilvestresque piscavam entre as árvores.Ela nãofazia qualquer idéia da sombra escura que a seguia.Ainda que Macktentasse freneticamente gritar,nenhum som saía e ele sempre chegava tarde demaise impotente demaispara salvá-la.Sentava-se empertigadona cama,osuor pingandodocorpotorturado,enquantoondasde náusea,culpa e arrependimentorolavam sobre ele comoum maremotosurreal.

A história dodesaparecimentode Missy infelizmente nãoé comooutrasque a gente costuma ouvir.Tudoaconteceunofim de semana do Dia doTrabalho,oúltimobradode alegria doverãoantesde outroanode escola e rotinasde outono.Mackdecidiucorajosamente levar astrêscriançasmenores para um últimoacampamentonolagoWalowa,noNordeste doOregon.Nanjá estava inscrita num cursode reciclagem em Seattle,um dosdoisgarotosmais velhoshavia retornadoà faculdade e ooutroestava trabalhandocomomonitor num acampamentode verão.MasMackconfiava na própria capacidade de combinar corretamente conhecimentosde sobrevivência aoar livre e habilidades maternas.Afinal,Nanera uma boa professora e ele,um alunoaplicado.O sentimentode aventura e a euforia doacampamentotomaram conta de todos,e

a casa virouum redemoinhode atividades.Num determinadopontoda confusão, Mackdecidiuque precisava de uma trégua e se acomodouna cadeira dopapai depoisde expulsar Judas,ogatoda família.Já ia ligar a TV quandoMissy entroucorrendo,segurandosua caixinha de plásticotransparente.

Possolevar minha coleçãode insetospara acampar com a gente? perguntou.

Quer levar seusbichos? grunhiuMack,sem prestar muita atenção.

Pai,elesnãosãobichos.Sãoinsetos.Olha,tenhoum monte aqui. Relutante,Mackdeuatençãoà filha,que,vendo-oconcentrado,começoua explicar oconteúdodoseu"baú"dotesouro.

Olha,tem doisgafanhotos.Eolha aquela folha,é a minha lagarta,e em algum lugar por aí...Ali! Está vendominha joaninha? Etenhouma mosca em algum lugar e umasformigas.

Enquantoela fazia oinventárioda coleção,Mackse esforçouaomáximopara demonstrar que estava atento,balançandoa cabeça.

Então terminouMissy. Você deixa eulevar?

Claroque sim,querida.Talveza gente possa soltá-losna floresta quando estivermoslá.

Nãopode,não! veiouma vozda cozinha. Missy,você

tem de deixar a coleçãoem casa,querida.Acredite,elesestãomaisseguros aqui. Nanesticoua cabeça pela quina da parede e franziua testa amorosamente para Mack,enquantoele encolhia osombros.

Eutentei,querida sussurrouele para Missy.

Grrr rosnouMissy.E,sabendoque a batalha estava perdida,pegoua caixa e saiu.

Na noite de quinta-feira a vanestava lotada e a carretabarraca de reboque presa, com luzese freiostestados.Na sexta de manhã,depoisde um últimosermãode Nanpara osfilhossobre segurança,obediência,escovar osdentesde manhã,não pegar gatoscom listrasbrancasnascostase todotipode outrascoisas,todos

saíram:Nanpara onorte e Macke ostrêsmosqueteirospara oleste.O planoera voltar na noite de terça-feira,véspera doprimeirodia de aula.

Macke osfilhospararam na cachoeira Multnomahpara comprar um livrode colorir e lápisde cor para Missy e duasmáquinasfotográficasdescartáveise à prova d'água para Kate e Josh.Depoisdecidiram subir a curta distância da trilha até a ponte diante da cachoeira.Antigamente havia um caminhorodeandoo poçoprincipale entrandonuma caverna rasa atrásda queda-d'água,mas infelizmente ele tinha sidobloqueadopelasautoridadesdoparque por causa da erosão.Missy adorava olugar e implorouaopaipara contar a lenda da bela jovem índia,filha de um chefe da triboMultnomah.Foiprecisoum poucode insistência,maspor fim Mackcedeue recontoua história enquantoolhavam para a névoa que envolvia a cachoeira.A história falava de uma princesa,a única filha que restava aopaiidoso.O chefe adorava a filha e escolheucom cuidado um maridopara ela:um jovem chefe guerreiroda triboClatsopque a amava.As duastribosse juntaram para ascomemoraçõesdocasamento.Mas,antesdo começoda festa,uma doença terrívelcomeçoua matar muitoshomens. Osanciãose oschefesse reuniram para discutir oque poderiam fazer contra a doença devastadora que dizimava rapidamente seusguerreiros.O curandeiro maisvelhocontouque seupai,pertode morrer,já bem idoso,havia previstouma doença terrívelque mataria seushomens,uma doença que sópoderia ser vencida se a filha de um chefe,pura e inocente,oferecesse de boa vontade a vida peloseupovo.Para realizar a profecia,ela deveria subir voluntariamente num penhascoacima doGrande Rioe pular para a morte nasrochasabaixo.

Uma dúzia de jovens,todasfilhasdosvárioschefes,foram trazidasdiante do Conselho.Depoisde demoradosdebates,osanciãosdecidiram que nãopoderiam pedir um sacrifíciotãoprecioso,sobretudoporque nãosabiam se a lenda era verdadeira.Masa doença continuouse espalhandoimplacávelentre oshomens, e finalmente ojovem chefe guerreiro,ofuturoesposo,caiudoente A princesa, que oamava muito,soube nofundodocoraçãoque algoprecisava ser feitoe, depoisde lhe dar um leve beijona testa,afastou-se.

Demoroutoda a noite e todoodia seguinte para chegar aolocalindicadona lenda,um penhascoaltíssimoacima doGrande Rioe dasterrasmaisalém. Depoisde rezar e se entregar aoGrande Espírito,ela cumpriua profecia sem hesitar,pulandopara a morte nasrochasabaixo.

Nasaldeias,na manhã seguinte,osdoentesse levantaram saudáveise fortes. Houve grande júbiloe comemoração,até que ojovem guerreirodescobriuque sua adorada noiva havia sumido.À

medida que a percepçãodoque acontecera se espalhava rapidamente entre o povo,muitosempreenderam a jornada até olugar onde sabiam que iriam encontrá-la.Enquantose reuniam em silêncioaoredor docorpodestroçadona base dopenhasco,seupai,tomadopelosofrimento,gritoupara oGrande Espírito, pedindoque osacrifíciodela fosse lembradopara sempre.Nesse momento,do lugar de onde ela havia puladocomeçoua jorrar água,transformando-se numa névoa fina que caía aospésdeles,lentamente formandoum lagomaravilhoso.

Normalmente,Missy adorava a história.A narrativa possuía todososelementos de um verdadeirocontode redenção,nãomuitodiferente da história de Jesusque ela conhecia tãobem.Falava de um paique amava a filha única e de um sacrifícioanunciadopor um profeta.Por causa doamor,a jovem escolheudar sua vida para salvar onoivoe astribosda morte certa.

Mas,dessa vez,Missy ficouquieta quandoa história terminou.Virou-se imediatamente e dirigiu-se para a van,comose dissesse:"Tudobem,nãotenho maisnada para fazer aqui.Vamosindo."

Deram uma parada rápida para um lanche juntoaorioHood,depoisvoltaram para a auto-estrada que iria levá-lospelosúltimos115quilômetrosaté a cidade de Joseph.O lagoolocalde acampamentoficavam poucosquilômetrosdepois de Joseph.Quandochegaram,arrumaram tudo nãoexatamente comoNan teria preferido,masdojeitoque lhespareceumelhor Naquele fim de tarde, sentadoentre astrêscriançasque riam assistindoa um dosmaioresespetáculos da natureza,ocoraçãode Mackfoisubitamente inundadopor uma alegria inesperada.Um pôr-do-solde corese padrõesbrilhantesdestacava aspoucas nuvensque haviam esperadonascoxiaspara se tornarem osatorescentraisnessa apresentaçãoúnica.

Ele era um homem rico,pensou,em todosossentidosque maisimportavam.

Quandoacabaram de limpar osrestosdojantar,a noite havia caído.Oscervos tinham idopara olugar onde dormem.Seuturnofoisubstituídopelos encrenqueirosnoturnos:guaxinins,esquilose tâmias,que perambulavam em bandosprocurandoqualquer recipiente ligeiramente aberto.OsPhillipssabiam dissopor experiência própria.A primeira noite que tinham passadonesseslocais de acampamentolhescustara quatrodúziasde barrasde cereal,uma caixa de chocolate e todososbiscoitosde creme de amendoim.

Antesque ficasse muitotarde,osquatroderam uma pequena caminhada para longe dasfogueirase daslanternasdoacampamento,até um lugar escuroe quietoonde pudessem se deitar e olhar maravilhadosa Via-Láctea,espantosa e

intensa sem a poluiçãodasluzesda cidade.Mackera capazde ficar horasdeitado olhandoaquela vastidão.Sentia-se incrivelmente pequeno,masem paz.De todos oslugaresem que a presença de Deusse fazia sentir,era ali,rodeadopela natureza e sobasestrelas,um dosmaistocantes.Quase podia ouvir ohinode adoraçãoque osastrosfaziam aoCriador,e em seucoraçãorelutante ele participava domelhor modopossível.

Entãovoltaram aoacampamentoe,depoisde váriasviagensaosbanheiros,Mack enfiouostrêsna segurança de seussacosde dormir.Rezoubrevemente com Josh antesde ir até onde Kate e Missy estavam esperando.Quandochegoua vezde Missy rezar,ela quisconversar com opai.

Papai,por que ela teve de morrer?

Mackdemorouum momentopara descobrir doque Missy estava falando Percebeusubitamente que a princesa índia devia estar na cabeça da menina desde cedo,quandoele contara a história.

Querida,ela nãoteve de morrer.Ela escolheumorrer para salvar seupovo. Elesestavam doentese ela queria que se curassem.

Houve um silêncioe Macksoube que outra pergunta estava se formandono escuro.

Issoaconteceumesmo? A pergunta agora vinha de Kate,obvia mente interessada na conversa.

Mackpensouantesde falar.

Nãosei,Kate.Éuma lenda,e àsvezesaslendassãohistóriasque ensinam uma lição.

Entãonãoaconteceude verdade? perguntouMissy.

Pode ter acontecido,querida.Àsvezesaslendasnascem de histórias verdadeiras,coisasque aconteceram de fato.De novosilêncio,e depois:

Entãoa morte de Jesusé uma lenda?

Mackpodia ouvir asengrenagensgirandona mente de Kate.

Não,querida,a história de Jesusé verdadeira.Esabe de uma coisa?Achoque a história da princesa índia provavelmente também é.

Mackesperouenquantosuasfilhasprocessavam ospensamentos.Missy foia próxima a perguntar:

O Grande Espíritoé outronome para Deus?Você sabe,opaide Jesus? Macksorriunoescuro.Obviamente asoraçõesnoturnasde Nanestavam surtindo efeito.

Achoque sim.Éum bom nome para Deus,porque ele é um espíritoe é grande.

Entãopor que ele é tãomau?

Ah,aliestava a pergunta que viera crescendona cabecinha da filha. Comoassim,Missy?

Bom,oGrande Espíritofeza princesa pular dopenhascoe fezJesusmorrer numa cruz.Issoparece muitomau. Mackficoutravado.Nãosabia comoresponder.Com seisanose meio,Missy estava fazendoperguntascom asquaispessoassábiashaviam lutadodurante séculos.

Querida,Jesusnãoachava que opaidele era mau.Achava que opaiera cheiode amor e que oamava muito.O paidele nãoofezmorrer.Jesusescolheu morrer porque ele e opaiamavam muitovocê,eue todasaspessoas.Ele nos salvouda doença,comoa princesa.

Agora veioosilênciomaislongoe Mackcomeçoua imaginar que a menina teria caídonosono.Quandoia se inclinar para lhesdar um beijo,uma vozinha com um tremor perceptívelrompeua quietude.

Papai? Sim,querida? Algum dia euvouter de pular de um penhasco?

O coraçãode Mackdoeuquandoele entendeua verdadeira questão.Abraçoua menininha e a apertou.Com a vozum poucomaisrouca doque ousual,

respondeugentilmente:

Não,querida.Nunca voupedir para você pular de um penhasco,nunca, nunca,jamais.

EntãoDeusvaime pedir para pular de um penhasco?

Não,Missy.Ele nunca pediria que você fizesse uma coisa dessas. Ela se aninhoumaisfundoem seusbraços.

Está bem! Me dá um abraçoapertado.Boa noite,papai.Eute amo. Eapagou,caindonum sonoprofundoembaladopor sonhosbonse doces. Depoisde algunsminutos,Macka colocousuavemente nosacode dormir.

Você está bem,Kate? sussurrouenquantolhe dava um beijo. Estou veioa resposta murmurada. Pai?

O que é,querida?

A Missy fazperguntasboas,nãoé?

Com certeza.Éuma menininha especial.Você também é,sóque nãoé mais tãopequenininha.Agora durma,temosum grande dia pela frente.Lindossonhos, querida.

Você também,pai.Te amodemais!

Te amotambém,de todoocoração.Boa noite.

Mackfechouozíper doreboque aosair,assoouonarize enxugouaslágrimasque desciam pelorosto.Fezuma oraçãosilenciosa de agradecimentoa Deuse foi coar um poucode café.

3.OMERGULHO

A alma é curada aoestar com crianças.

Fedor Dostoievski

O Parque EstadualdoLagoWallowa,noOregon,e a área aoredor têm sido chamados,com propriedade,de Pequena Suíça da América.Montanhas

escarpadase agresteserguem-se até quase 3 milmetrose,nomeiodelas,há inúmerosvalesescondidoscheiosde riachos, trilhasde caminhada e altascampinascobertasde floressilvestres.O lago Wallowa é a passagem para a Área de RecreaçãoNacionalde HellsCanyon, onde está omaior desfiladeiroda América doNorte.Esculpidonodecorrer de séculospelorioSnake,em algunslugarestem maisde 3quilômetrosdotopoà base,e àsvezes16quilômetrosde uma borda à outra.Na Área de Recreaçãohá maisde 1.400quilômetrosde trilhasde caminhada.Osvestígiosda presença da triboNezPerce,que antesdominava a região,estãoespalhadospor essa vastidão, juntocom osdoscolonosbrancosque passavam a caminhodoOeste.A cidade de Joseph,aliperto,é assim chamada por causa de um poderosochefe tribal cujonome indígena significava TrovãoRolandoMontanha Abaixo.A área oferece abundante flora e vida selvagem,incluindoalces,ursos,cervose cabritos monteses.O lagoWallowa mede 8quilômetrosde comprimentoe um e meiode largura e foiformado,segundoalguns,por geleirasque alise encontravam há 9 milhõesde anos.Fica a cerca de um quilômetroe meioda cidade de Joseph,a uma altitude de 1.340 metros.A temperatura da água é de tirar ofôlegodurante a maior parte doano, masfica agradávelnofim doverãopara um nadorápidopertoda margem.

Macke ascriançaspreencheram ostrêsdiasseguintescom diversãoe lazer Missy,aparentemente satisfeita com asrespostasdopai,nãovoltouaoassuntoda princesa,mesmoquandouma caminhada diurna oslevoupertode penhascos altíssimos.Passaram algumashorasandandode pedalinhojuntoà margem dolago,esforçaram-se aomáximopara ganhar um prêmiono minigolfe,cavalgaram nastrilhase visitaram aslojinhasda cidade de Joseph. Aolongodofim de semana,duasoutrasfamíliasjuntaram-se magicamente ao mundo dos Phillips. Como acontece

freqüentemente,ascriançasderam inícioà amizade.Joshgostouespecialmente de conhecer osDucette,poisa filha maisvelha,Amber,era uma linda mocinha maisoumenosda sua idade.Kate adorouimplicar com oirmãomaisvelhopor causa disso,e ele reagiuindoirritadopara a carreta-barraca,vociferandoe resmungando.Amber tinha uma irmã,Emmy,apenasum anomaisnova doque Kate,e asduaspassaram a brincar juntas.Vicky e EmilDucette tinham viajado de sua casa noColorado,onde Emiltrabalhava comoagente policialdoServiço de Pesca e Vida Selvagem e Vicky cuidava dolar e dofilhocaçula,J.J.,que agora tinha quase um ano.

OsDucette apresentaram Macke osfilhosa um casalcanadense que haviam conhecidoantes,Jesse e SarahMadison.Pareciam tranqüilos,despretensiosos,e Mackgostoudelesà primeira vista. Os dois trabalhavam como consultores

independentes,Jesse na área de recursoshumanose Sarahna de administração. Missy ligou-se logoa Sarahe asduascostumavam ir aoacampamentodos Ducette para ajudar Vicky com J.J.O domingonasceuradiosoe todoogrupose empolgoucom a idéia de pegar oteleféricodolagoWallowa até otopodomonte Howard 2.484metrosacima doníveldomar.Jesse e Sarahconvidaram todos para almoçar em um restaurante notopoda montanha.Depoispassariam oresto dodia caminhandoaté oscincopontosde observaçãoe osmirantes.

Armadosde máquinasfotográficas,óculosescuros,garrafasd'água e protetor solar,partiram nomeioda manhã.Comojá

imaginavam,fizeram uma verdadeira festa com hambúrgueres,batatasfritase milk-shakesnorestaurante.A altitude estimulouoapetite até Missy seguiu devorar um hambúrguer inteiroe a maior parte dasoutrasguloseimas.

Depoisdoalmoço,caminharam pelastrilhasaté osmirantespróximos.Dalise

divisava um panorama deslumbrante que ia até

ohorizonte,semeadode pequenascidades.Nofim da tarde estavam todos cansadose felizes.Missy,que Jesse havia carregadonosombrosaté osdois últimosmirantes,dormia nocolodopaienquantochacoalhavam noteleféricode descida.

"Este é um daquelesmomentosrarose preciosos",pensouMack,"que pegam a gente de surpresa e quase tiram ofôlego.Se Nanestivesse aqui,seria realmente perfeito."

Ajeitouopesode Missy numa posiçãomaisconfortávelpara ela e tirouocabelo dorostoda menina para olhá-la.A sujeira e osuor dodia sófaziam, estranhamente,aumentar seuar de inocência e sua beleza."Por que elestêm de crescer?"pensouaodar um beijona testa da filha

Naquela noite,astrêsfamíliasse reuniram para um últimojantar juntos.Mais tarde,osadultossentaram-se bebericandocafé aoredor de uma fogueira,enquantoEmilcontava suasaventurasem operações contra quadrilhasde contrabandode animaisem extinção.Era um narrador hábil e sua profissãooferecia um enorme elencode históriashilariantes.Tudoera fascínioe Mackvoltoua ser inundadopor um intensobem-estar.

Comoacontece freqüentemente quandouma fogueira de acampamentoarde por muitotempo,a conversa passoudohumorísticopara omaispessoal.Sarah parecia ansiosa para conhecer melhor orestoda família de Mack,especialmente Nan.

Comoela é,Mackenzie?

Mackadorava exaltar asmaravilhasde sua Nan

Modéstia à parte,Nané linda por dentroe por fora.

Sorriuencabuladoe viuosdoisolhandoafetuosamente para ele.Estava realmente com saudade de sua mulher. O nome completodela é Nannette, masquase todomundosóa chama de Nan.Tem uma tremenda reputaçãona comunidade médica,pelomenosnoNoroeste.Éenfermeira e trabalha com pacientesterminaisde câncer.Éum trabalhoduro,masela adora.Bom,Nan escreveualgunstextose tem feitopalestrasem congressos.

Verdade? perguntouSarah. Sobre oque ela fala?

Ela ajuda aspessoasque estãodiante da morte a pensarem norelacionamento com Deus.

Euadoraria ouvir maissobre isso encorajouJesse enquantoatiçava ofogo com um graveto,fazendo-oavivar-se com vigor renovado.

Mackhesitou.Por maisque se sentisse à vontade com aquelesdois,nãoos conhecia de fatoe a forma comoa conversa se aprofundara odeixava meio inquieto.Procurouresponder de maneira sucinta.

Nané muitomelhor nissodoque eu.Achoque ela pensa em Deusde modo diferente da maioria daspessoas.Ela até ochama de Papai,porque se sente muitoíntima dele,se é que issofazsentidopara vocês.

Claroque faz exclamouSarah,enquantoJesse confirmava com a cabeça. Toda a sua família chama Deusde Papai?

Não respondeuMackrindo. Ascriançasàsvezeschamam,maseunão me sintoconfortávelcom isso.Parece um poucofamiliar demaispara mim.De qualquer modo,Nantem um paimaravilhosoe,por isso,achoque é maisfácil para ela.A coisa havia escapadoe Mackestremeceupor dentroesperandoque ninguém tivesse percebido;masJesse oolhava com interesse.

Seupainãoera maravilhoso? perguntoucom gentileza.

É. Mackfezuma pausa. Achoque se pode dizer que ele nãoera maravilhoso.Morreuquandoeuera criança,de causasnaturais. Riu,maso som foioco.Olhoupara osdois. Bebeuaté morrer.

Lamentamosmuito disse Sarahafetuosamente.

Bom ele observou,forçandooutroriso ,àsvezesa vida é dura,maseu tenhomuita coisa para agradecer.Seguiu-se um silêncioincômodoe Mackse perguntoupor que estava falandosobre essascoisascom aquelesdois.Segundos depoisfoiresgatadopor um jorrode criançasque se derramaram dotrailer para omeiodeles.Para alegria de Kate,ela e Emmy haviam surpreendidoJoshe Amber de mãosdadasnoescuroe queriam que todossoubessem.

Joshestava tãofascinadoque nem chegoua protestar.QuandoosMadisonse despediram de Macke de seusfilhos,Sarahbateucarinhosamente noombrodo novoamigo.Depoisforam andandopela escuridãoaté oacampamentodos

Ducette.Mackficouolhando-osaté nãoconseguir maisescutar seussussurrose a luzoscilante da lanterna delesdesaparecer.Sorriue virou-se para arrebanhar sua turma na direçãodossacosde dormir.

Asoraçõesforam feitas,seguidaspor beijosde boa noite e risinhosde Kate conversandobaixocom oirmãomaisvelho.E,finalmente,silêncio.

Mackarrumouoque pôde usandoa luzdaslanternase decidiudeixar orestopara odia seguinte.De qualquer modo,só

planejavam partir noinícioda tarde.Encheuseuúltimocopode café e sentou-se, bebendo-odiante da fogueira que havia se consumidoaté sórestar uma massa faiscante de carvõesincandescentes.Estava sozinho,masnãosolitário.

Esse nãoera oversode uma música conhecida?Nãotinha certeza,mas,se conseguisse lembrar,procuraria oCD quandochegasse em casa.

Hipnotizadopelofogoe envolvidopor seucalor,rezou,principalmente orações de agradecimento.Tinha consciência dosprivilégiosque recebera.Bênçãos provavelmente era a palavra certa.Estava contente,descansadoe em paz.Mack nãosabia,masem menosde 24horassuasoraçõesmudariam.Drasticamente. ***

A manhã seguinte,apesar de ensolarada e quente,nãocomeçoutãobem.Mack acordoucedopara surpreender ascriançascom um café da manhã especial, masqueimoudoisdedosquandotentava soltar aspanquecasque haviam grudado na frigideira.Reagindoà dor lancinante,derrubouofogão,a frigideira e a tigela de massa nochãoarenoso.Ascrianças,acordadaspelobarulhoe pelospalavrões ditosem vozbaixa,vieram ver oque estava acontecendo.Começaram a rir quandodescobriram oque era,masbastouum "Ei,issonãoé engraçado!"de Mackpara voltarem para dentroda barraca,rindoescondidasenquantoolhavam pelasjanelasde tela. Assim,em vezdoplanejado,ocafé da manhã se resumiua cerealfriocom creme de leite diluído,já que orestodoleite fora usadona massa de panqueca. Mackpassoua hora seguinte tentandoarrumar oacampamentocom doisdedos enfiadosnum copode água gelada A notícia devia ter se espalhado,porque SarahMadisonapareceucom materialde primeirossocorrospara queimaduras. Minutosdepoisde ter seusdedoscobertospor um líquidoesbranquiçado,Mack sentiua ardência diminuir.Maisoumenosnessa hora,tendoterminadosuas tarefas,Joshe Kate vieram perguntar se poderiam dar um últimopasseiona canoa dosDucette,prometendousar coletessalva-vidas.Depoisdoinevitável

"não"iniciale da insistência dosfilhos,Mackfinalmente cedeu.Nãoestava muito preocupado.O

acampamentoficava pertinhodolagoe elesprometeram nãose afastar da margem.Mackpoderia vigiá-losenquantocontinuava a guardar ascoisas.

Missy estava ocupada colorindoolivroda cachoeira Multnomah.

Ela é linda demais,pensouMack,olhandoembevecidoa filha enquantolimpava a sujeira.A menina vestia a única roupa limpa que lhe restara,um vestidinho vermelhode verão,com flores-docampobordadas,compradoem Josephquando foram à cidade noprimeirodia.

Cerca de 15minutosdepois,Macklevantouosolhosaoouvir uma vozfamiliar chamandodolago:

Papai!

Era Kate.Ela e oirmãoacenaram dobote.Ambosusavam oscoletessalva-vidas e Mackacenoude volta.

Éestranhocomoum atoouacontecimentoaparentemente insignificante pode mudar vidasinteiras.Levantandooremopara acenar,Kate perdeuoequilíbrioe emborcoua canoa.Surgiuuma expressãocongelada de terror em seurosto enquanto,quase em silêncioe em câmara lenta,obarcovirava.Joshse inclinou freneticamente para tentar equilibrá-lo,masera tarde demaise ele desapareceu na água.Mackjá corria para a beira dolago,nãopretendendoentrar,maspara estar pertoquandoelessaíssem.Kate emergiuprimeiro,tossindoe gritando, porém nãohavia sinalde Josh.Ede repente Mackviuuma erupçãode água e pernase soube naquele momentoque algoestava terrivelmente errado.

Para seuespanto,todososinstintosque havia desenvolvidocomosalva-vidasna adolescência voltaram instantaneamente.Em questãode segundosele caiuna água,tirandoossapatose a camisa.Nem se deuconta dochoque geladoao disparar na direçãoda canoa virada,ignorandoossoluçosaterrorizadosda filha. Ela estava em segurança.Seufocoprincipalera Josh.

Respirandofundo,mergulhou.Apesar de toda a agitação,a água continuava razoavelmente límpida.

Encontrou

rapidamente e logodescobriua razãode seuproblema.Uma dastirasdocolete salva-vidasse prendera na amarra da canoa.Por maisque tentasse,Macknão conseguiusoltá-la e por issofezsinalpara Joshentrar maisfundosoba canoa, onde havia um bolsãode ar.Masopobre garotoestava em pânico,tentando livrar-se da tira que oprendia embaixod'água soba borda da canoa.

Mackveioà superfície,gritoupara Kate nadar até a margem,sugoutodooar que pôde e mergulhoupela segunda vez.Noterceiromergulho,sabendoque o tempoestava acabando,percebeuque tinha duasalternativas:tentar livrar Josh docolete ouvirar a canoa.Escolheua segunda opção.Se foram Deuse osanjos, ouDeuse a adrenalina,ele jamaisteve certeza,masna segunda tentativa conseguiuvirar a canoa,libertandoJoshda amarra.

O colete manteve orostodogarotoacima da água.Mackemergiuatrásde Josh, agora frouxoe inconsciente,com sangue escorrendode um talhona cabeça,que a canoa acertara quandoMacka virara de volta.Começouimediatamente a fazer respiraçãoboca a boca nofilho,domelhor modoque podia,enquanto outraspessoasoajudavam a puxá-loem direçãoà parte rasa.Sem perceber os gritosaoredor,Mackse concentrouna tarefa,com o?borbulhandonopeito. Quandoospésde Joshtocaram terrenofirme,ogarotocomeçoua tossir e a vomitar água e ocafé da manhã Aplausosempolgadosirromperam aoredor, porém Macknãodeua mínima.Dominadopeloalívioe pela descarga de adrenalina resultante doesforço,começoua chorar e,de repente,Kate estava soluçandocom osbraçosem volta de seupescoço,enquantotodosriam, choravam e se abraçavam.Dentre osque haviam sidoatraídospelobarulho estavam Jesse Madisone EmilDucette.Em meioà confusãode gritosde alegria e de alívio,Mackescutoua vozde Emilsussurrando:

Desculpe...desculpe...desculpe.

A canoa era dele,poderiam ter sidoseusfilhos.Mackoabraçoue disse quase gritandoem seuouvido:

Pare com isso! Nãofoiculpa sua e estãotodosbem.Emilcomeçoua soluçar, com asemoçõessubitamente liberadasde uma represa de culpa e medo contidos.

Uma tragédia fora evitada.Pelomenosera oque Mackpensava.

Josh
4.A GRANDETRISTEZA

A tristeza é um muroentre doisjardins.

KhalilGibran

Mackcontinuava paradojuntoà margem,ainda tentandorecuperar ofôlego. Demoroualgunsminutosantesde pensar em Missy.Lembrando-se que ela ficara colorindoolivro,subiupela margem até onde podia ver seu acampamento,masnãohavia sinalda menina.Apressouopasso,correndoaté a barraca,chamandoseunome com omáximode calma que conseguiu.Não houve resposta.Ela nãoestava ali.Mesmocom ocoraçãodisparado,ele racionalizou,pensandoque na confusãoalguém havia cuidadodela, provavelmente SarahMadisonouVicky Ducette.Procurandocontrolar a ansiedade e opânico,foiaoencontrodosnovosamigose perguntouse podiam ajudá-loa procurar Missy.Osdoisdirigiram-se rapidamente para seus acampamentos.Jesse retornouprimeiro,anunciandoque Sarahnãotinha visto Missy naquela manhã.AcompanhouMackaoacampamentodosDucette,mas, antesde chegarem lá,Emilveiocorrendoem sua direçãocom uma expressão claramente apreensiva norosto.

Ninguém viuMissy hoje e também nãoencontramosAmber.Será que estão juntas? Havia uma sugestãode pânicona pergunta de Emil.

Tenhocerteza de que é isso disse Mack,tentandose tranqüilizar e acalmar Emilaomesmotempo. Aonde você acha que elaspodem ter ido?

Por que nãoverificamososbanheirose chuveiros? sugeriuJesse.

Boa idéia falouMack. Vouolhar noque fica maispróximoda nossa área,oque meusfilhosusam.Por que você e Emilnãoverificam oque fica entre asduasáreas?

Elesconcordaram e Mackfoinuma corrida lenta para oschuveirosmais próximos,notandopela primeira vezque estava descalçoe sem camisa.

"Que figura devoestar",pensou,e provavelmente teria achadograça se sua mente nãoestivesse tãoconcentrada em Missy.Quandochegouaosbanheiros, perguntoua uma adolescente que saía da parte feminina se tinha vistouma garotinha de vestidovermelholá dentro,outalvezduasgarotas.Ela disse que não havia notado,masque olharia de novo.Em menosde um minutoestava de volta balançandoa cabeça.

Obrigadomesmoassim disse Mack,e foipara a parte de trásda construção,onde ficavam oschuveiros.Enquantovirava a esquina,começoua chamar Missy em vozalta.Mackpodia ouvir a água correndo,masninguém respondeu.Imaginandose Missy estaria em um doschuveiros,começoua bater na porta de cada um até obter resposta.Seiscubículosde chuveiroe nada de Missy.Verificouosdobanheiromasculino,masela nãose encontrava em lugar nenhum.Correude volta na direçãodoacampamentode Emil,incapazde rezar qualquer coisa,a nãoser repetir "Ah,meuDeus,me ajude a achá-la...Ah,meu Deus,por favor,me ajude a achá-la".

Quandooviu,Vicky correuaoseuencontro.Estivera tentandoconter ochoro, masnãoconseguiuquandose abraçaram.De repente,Mackdesejou desesperadamente que Nanestivesse ali.Ela saberia oque fazer,pelomenos qualseria a coisa certa.Ele se sentia totalmente perdido.

SarahlevouJoshe Kate para oseuacampamento,portantonãose preocupe com eles disse Vicky em meioaossoluços.

"Ah,meuDeus",pensouMack,percebendoque tinha esquecidocompletamente de seusoutrosdoisfilhos."Que tipode paieusou?"

Mesmosentindo-se aliviadoporque Sarahestava cuidandodeles,desejouainda maisintensamente que Nanestivesse ali.Nesse momento,Emile Jesse apareceram,Emilaparentandoalívioe Jesse parecendotensocomouma corda esticada.

Nósa encontramos exclamouEmil,orostose iluminandoe depoisficando sombrioaoperceber oque estava dizendo. Querodizer,encontramosAmber. Ela voltoudobanhoque foitomar em outrolugar,onde havia água quente.Disse que tinha faladocom a mãe,masVicky provavelmente nãoescutou...

Sua vozparounoar.

MasnãoencontramosMissy acrescentouJesse rapidamente,respondendo à pergunta maisimportante. Amber também nãoa viuhoje.

Emil,noauge da eficiência,assumiuocontrole.

Mack,temosde contatar asautoridadesdocampingimediatamente e botar todomundoprocurandoMissy.Talvez,nomeioda agitação,ela telha se assustadoe se confundidoe simplesmente saiuandandoe se perdeu,outalvez estivesse tentandonosencontrar e caminhouna direçãoerrada.Você tem uma fotodela?Talvezhaja uma copiadora noEscritórioe poderíamosfazer algumas

cópiaspara economizar tempo.

É,tenhouma fotona carteira. Mackenfioua mãonobolsode tráse por um segundoentrouem pânicoaonãoencontrar nada ali.Achouque poderia estar no fundodolagoWallowa,masentãolembrouque a deixara nocarrodepoisda viagem de telefériconodia anterior.

Ostrêsvoltaram aoacampamentode Mack.Jesse correuna frente para avisar Sarahque Amber estava em segurança,masque Missy nãofora encontrada. Chegandoaoacampamento,MackabraçouJoshe Kate,tentandoparecer calmo. Tirandoa roupa molhada,vestiuuma camiseta e jeans,meiassecase um par de tênis.Sarahprometeuque ela e Vicky ficariam com seusfilhosmaisvelhose sussurrouque estava rezandopor ele e Missy.Mackagradeceudando-lhe um abraçorápidoe depoisde beijar osfilhos,juntou-se aosoutrosdoishomensque corriam para oescritóriodocamping.

A notícia doresgate na água havia chegadoà pequena sede e todosse mostravam animados.O clima mudourapidamente quandosouberam do desaparecimentode Missy.Noescritóriohavia uma copiadora e Mack,depoisde tirar váriascópiasdoretratoda filha,asdistribuiu.

O jovem subgerente,Jeremy Bellamy,ofereceu-se para ajudar na busca.Então elesdividiram ocampingem quatroárease cada um saiulevandoum mapa,a fotode Missy e um walkie-talkie.Era um trabalholentoe metódico,lentodemais para Mack,masele sabia que esse era omodomaislógicode encontrá-la se...se ainda estivesse nocamping.Enquantoandava entre barracase trailers,rezava e fazia promessas.Tinha consciência de que prometer coisasa Deusera idiota e irracional,masnãoconseguia evitar.Estava desesperadopara ter Missy de volta e sem dúvida Deussabia onde ela se encontrava.

Muitoscampistasestavam acabandode arrumar suasbagagenspara irem embora.

Ninguém tinha vistoMissy ouuma menina parecida com ela.A pequenos intervalos,cada grupode busca entrava em contatocom oescritóriopara saber se havia alguma novidade.Masnãohouve qualquer notícia até quase duasda tarde.

Mackestava terminandode vasculhar sua área quandoveioochamadopelo walkie-talkie.

Jeremy,que cobria a área maispertoda entrada,achouque encontrara algum indício.Foram todosaoseuencontro.Mackchegoupor últimoe viuEmile

Jeremy ouvindoatentamente um rapazdesconhecido.

Emildisse a Mackrapidamente oque ouvira e oapresentouaorapaz.Seunome era VirgilThomase ele estava acampadona área com algunscolegasdesde o iníciodoverão.

Osoutrosdormiam pesadamente quandoVirgilviuuma velha picape verde-oliva saindodocampinge descendona direçãode Joseph.

Maisoumenosa que horas? perguntouMack.

Foiantesdomeio-dia,masnãotenhocerteza,porque estava de ressaca. Mostrandoa fotode Missy para orapaz,Mackperguntoude modoáspero: Você acha que viuessa menina?

Quandoooutrocara me mostrouessa fotoantes,ela nãome pareceufamiliar respondeuVirgil,olhandode novo. Masentão,quandoele disse que ela estava usandoum vestidovermelho-vivo,lembreique a menininha na picape verde estava com um vestidodessa cor.Vique ela estava rindoouberrando,nãodava para saber.Eentãotive a impressãode que omotorista lhe deuum tapa oua empurroupara baixo,masachoque ele também podia estar sóbrincando.

Mackficouparalisado.Apesar de assustadora,infelizmente essa informaçãoera a única que até entãofazia sentido.Explicava por que nãohaviam encontrado nenhum traçode Missy.Mastudodentrodele nãoqueria que fosse verdade. Virou-se e começoua correr para oescritório,masfoicontidopela vozde Emil.

Mack,pára! Nósjá falamoscom oescritóriopelorádioe avisamosoxerife de Joseph.Elesvãomandar alguém para cá agora mesmoe estãoemitindoum boletim de busca para a picape.Nesse momentoduasradiopatrulhasentraram nocamping.A primeira foidiretopara o escritórioe a outra para a área onde oshomensse encontravam.Mackcorreuao encontrodopolicial,um rapazde cerca de 30anos,que se apresentoucomo Daltone começoua ouvir aspessoas.

Nashorasseguinteshouve um movimentocrescente de reaçãoao desaparecimentode Missy.

Expediram uma ordem de busca,bloquearam a auto-estrada e osguardas florestaisda área foram avisadospara ficarem atentos.

Isolaram oacampamentodosPhillipscom fitas,caracterizando-ocomouma cena de crime,e todosnasimediaçõesforam interrogados.Virgilforneceuo máximode detalhesque pôde sobre a picape e osocupantese a descriçãofoi enviada a todososórgãospoliciaismaisimportantes.

Osoficiaisde campodoFBI em Portland,Seattle e Denver foram alertados.Nan estava a caminho,trazida de carropor sua melhor amiga,Maryanne.Trouxeram cãesrastreadores,masaspistasde Missy terminavam noestacionamento próximo,aumentandoa probabilidade de que a história de Virgilfosse verdadeira.

Depoisque osperitosexaminaram minuciosamente oacampamentoopolicial Daltonpediuque Mackentrasse de novona área e observasse tudocom cuidado, em busca de algodiferente.

Macksentia-se tãodesesperadopara ajudar de alguma forma que,mesmo exausto,concentroua mente na tentativa de lembrarse de qualquer detalhe.Com cautela,refezseuspassos.O que nãodaria em troca para ter a chance de recomeçar odia desde oinício!

Mesmoqueimandoosdedose derrubandode novoa massa de panqueca!

Voltou-se novamente para a tarefa designada,masnada parecia diferente doque recordava.Nada havia mudado.Chegouà

mesa onde Missy estivera ocupada colorindo.O livroestava abertona mesma página,com uma imagem inacabada da princesa índia da triboMultnomah.Os lápisde cera também se encontravam lá,se bem que overmelho,a cor predileta de Missy,estivesse faltando.Mackcomeçoua procurar nochão,onde ele poderia ter caído.

Se está procurandoolápisde cera vermelho,nósoencontramosali,pertoda árvore disse Dalton,apontandopara oestacionamento. Ela provavelmente olargouenquantoestava lutandocom... Sua vozse perdeunoar.

Comovocê sabe que ela estava lutando?

O policialhesitou,masdepoisfalou,relutante:

Encontramosum dossapatosdela nosarbustos,para onde provavelmente foi chutado.Você nãoestava aquina hora,por issopedimosaoseufilhopara identificá-lo.

A imagem de sua filha lutandocom algum monstropervertidofoicomoum soco noestômago.Quase sucumbindoaonegrume súbitoque ameaçava esmagá-lo, Mackse apoiouna mesa para nãodesmaiar ouvomitar.Foientãoque notouum broche de joaninha cravadonolivrode colorir.Retornouà consciência comose alguém tivesse abertoum vidrode saissobseunariz.

De quem é isso? perguntoua Dalton,apontandopara obroche. De quem é oquê?

Esse broche de joaninha! Quem pôsissoaí?

Nósachamosque fosse de Missy.O broche nãoestava aí de manhã?

Tenhocerteza afirmouMack,enfático. Ela nãotem nada assim.Tenho absoluta certeza de que nãoestava aíde manhã!

O policialse comunicoupelorádioe em minutososperitosretornaram e levaram obroche.DaltonpuxouMackpara um cantoe explicou:

Se oque osenhor dizé correto,temosde presumir que oagressor de Missy deixouissoaíde propósito Fezuma pausa e acrescentou:

Sr.Phillips,issopode ser uma notícia boa oumá.

Nãoentendo.

O policialhesitou,tentandodecidir se deveria contar a Mackoque estava pensando.Procurouaspalavrascertas.

A boa notícia é que podemosconseguir alguma pista a partir dobroche.Éa única prova que temosaté agora de que havia alguém aqui.

Ea má notícia? Mackprendeuofôlego.

Bom,a má notícia,e nãoestoudizendoque este seja ocaso,é que quem deixa algoassim geralmente tem um objetivo,e issopode significar que já feza mesma coisa antes.

O quê? reagiuMackbruscamente. Issosignifica que esse cara é uma espécie de maníaco?Esse é algum tipode sinalque ele deixa para se identificar, comose estivesse marcandooterritóriooualgoassim?

A raiva de Mackfoicrescendo,mas,antesque explodisse,orádiode Dalton tocou,conectando-oaoescritóriode campodoFBI em Portland...ficouatentoe ouviua vozde uma mulher que se identificava comoagente especial.

Ela pediuque Daltondescrevesse obroche em detalhes.Mackacompanhouo policialaté olugar onde a equipe de polícia havia estabelecidosua base de operações.O broche estava dentrode um sacotransparente,e de pé,atrásdo grupo,ele ficouobservandoDaltondescrevê-lo.

Éum alfinete com uma joaninha que foicravadoatravessandoalgumas páginasde um livrode colorir.

Por favor,descreva ascorese onúmerode pontosna joaninha orientoua vozpelorádio.

Vejamos disse Dalton,com osolhosquase grudadosnosaco. A joaninha tem uma cabeça preta.Eocorpoé vermelho,com bordaspretas.Há doispontospretosnoladoesquerdodocorpo.Fazsentido?

Perfeitamente.Por favor,continue disse a vozcom paciência.

Doladodireitoda joaninha há trêspontos,de modoque sãocincoaotodo

Houve uma pausa.

Tem certeza de que sãocincopontos?

Sim,senhora,sãocincopontos.

Certo.Agora,policialDalton,poderia virar obroche e dizer oque há na parte de baixoda joaninha?

Daltonvirouosacoplásticoe olhoucom cuidado.

Há algogravadoembaixo,agente.Deixe-me ver.Parece uma espécie de númerode modelo.Humm...C...K...1-4-6,achoque é isso.Édifícilver através dosaquinho

Houve silênciodooutrolado.Macksussurroupara Dalton:

Pergunte a ela oque issosignifica.

O policialhesitoue depoisobedeceu.

Agente?Você está aí?

Sim,estou. De repente a vozpareceucansada e oca.

Ei,Dalton,há algum lugar isoladoonde você e eupossamosconversar?

Mackassentiucom ênfase e Daltoncaptoua mensagem

Espere um segundo. Pousouosacocom obroche e saiuda área, permitindoque Mackoseguisse.

Pronto,agora estousozinho.Pode me dizer oque é.

Estamostentandopegar esse cara há quase quatroanos,perseguindo-oem maisde nove estados.Recebeuoapelidode Matador de Meninas,masnunca repassamosodetalhe da joaninha para ninguém,portantomantenha issoem segredo.Acreditamosque ele seja responsávelpeloseqüestroe morte de pelo menosquatrocriançasaté agora,todasmeninas,todascom menosde 10anos.A cada vezele acrescenta um pontoà joaninha,de modoque esta seria a de númerocinco.Ele sempre deixa osbrochesem algum lugar da área do seqüestro,todostêm omesmonúmerode modelo,masnãoconseguimos descobrir de onde elesvieram originalmente nem encontrar ocorpode nenhuma dasquatromeninas,mastemosbonsmotivospara acreditar que nenhuma delas sobreviveu.Todososcrimesaconteceram em campingsoupróximode campings,pertode um parque estadualouuma reserva.O criminosoparece se mover com habilidade em florestase montanhas.Nãonosdeixou,em todosos casos,absolutamente nada além dobroche.

Eocarro?Temosuma descriçãobastante boa da picape verde em que ele fugiu.

Ah,vocêsprovavelmente vãoencontrá-la Se for onossocara,ele deve tê-la roubadohá um oudoisdias,repintado, enchidode equipamentopara caminhadas,e ela vaiestar totalmente limpa. Enquantoouvia a conversa de Daltoncom a agente especial,Macksentiuoresto de esperança se esvair.Sentou-se frouxonochãoe enterrouorostonasmãos. Pela primeira vezdesde odesaparecimentode Missy permitiu-se considerar o alcance daspossibilidadesmaishorrendas assim que issocomeçou,nãoparou mais:imagensde coisasboase terríveismisturadasnum desfile apavorante. Algumaseram instantâneosabomináveisde tortura e dor,de monstrose demôniosda escuridãomaisprofunda,com dedosde arame farpadoe toquesde navalha,de Missy gritandopelopaie ninguém respondendo.Misturadoscom

esseshorroreshavia lampejosde outraslembranças:a menina aprendendoa andar,com orostolambuzadode bolode chocolate,fazendocaretinhas engraçadas.Sobrepunha-se a todasa imagem tãorecente de Missy caindono sono,aninhada nocolodopai.Imagensimplacáveis.O que ele diria a Nan? Comoissopodia ter acontecido?Deus,comoissopodia ter acontecido?

Algumashorasdepois,Macke seusdoisfilhosforam de carropara ohotel,em Joseph.

Osproprietárioshaviam lhe oferecidoum quartoe,enquantoele arrumava sua bagagem,a exaustãoe odesesperocomeçaram a dominá-lo.O policialDalton levara seusfilhosa uma lanchonete.Agora,sentadona beira da cama,Mack dava vazãoa todooseusofrimento.Soluçose gemidosde rasgar a alma saíam doâmagode seuser,e foiassim que Nanoencontrou.Doisseresferidosque se abraçaram e choraram desconsoladamente.

Naquela noite,Mackdormiuaossobressaltos,poisasimagenscontinuavam a golpeá-locomoondasimplacáveiscontra um litoralrochoso.Poucoantesdo nascer dosol,por fim desistiu.Vivera em um sódia anosde emoçõese agora sentia-se entorpecido,à deriva num mundosubitamente sem significado.Depois de protestosconsideráveisde Nan,concordaram que seria melhor ela ir para casa com Joshe Kate.Mackficaria para ajudar comopudesse.Simplesmente nãoconseguiria ir embora,pensandoque Missy talvezestivesse por perto, precisandodele.A notícia se espalhara rapidamente e amigoscomeçaram a chegar para ajudá-lo.Criou-se uma forte rede de solidariedade,todosos conhecidosrezandopara que Missy fosse encontrada.Jesse e Sarah,Emile Vicky permaneceram otempotododesdobrando-se em cuidados.

Repórterescom seusfotógrafoscomeçaram a aparecer durante a manhã.Mack nãoqueria enfrentá-los,masacabourespondendoàsperguntasna esperança de que a divulgaçãopudesse ajudar na busca.

Quandoficouevidente que a necessidade de ajuda estava diminuindo,os Madisondesmontaram seuacampamentoe vieram despedir-se.

Choraram muito,abraçaram-se longamente e colocaram-se à disposiçãopara o que fosse necessário.Vicky Ducette também partiu,masEmilpermaneceupara dar apoioa Mack.Em meioa toda a tristeza,Kate manteve-se firme,enviandoe recebendoe-mailspara que se mantivessem em comunicaçãopermanente.

Aomeio-dia todasasfamíliasestavam na estrada.Maryanne levouNane as criançaspara casa,onde osparentesestariam esperando.Macke Emilforam com opolicialDalton,que passaram a chamar de Tommy,para Joseph,onde se

dirigiram à delegacia.

Agora vinha a parte maisdifícil:a espera.Macksentia que estava andandoem câmara lenta dentrodoolhode um furacãoO

grupodoFBI chegounomeioda tarde e logoficouclaroque a pessoa encarregada era a agente especialWikowsky,uma mulher pequena e magra cheia de energia,de quem Mackgostounomesmoinstante.Ela permitiuque ele participasse de todasasprovidênciase informes.

Depoisde estabelecer ocentrode comandonohotel,oFBI pediua Mackuma entrevista formal.A agente Wikowsky levantouse de trásda mesa onde estava trabalhandoe estendeua mão.QuandoMackia apertá-la,a agente envolveuas mãosdele com assuase sorriuafetuosamente.

Senhor Phillips,peçodesculpaspor nãolhe ter dadoaté

agora a atençãoque merece.Estamosvivendouma turbulência,estabelecendo comunicaçõescom todasasagênciaspoliciaisenvolvidasna tentativa de resgatar Missy.Lamentomuitoque tenhamosnosconhecidonessascircunstâncias. Macksuspiroufundo.

Por favor,me chame de Mack.

Bem,entãome chame de Sam,que é a forma abreviada de Samantha.Mack relaxouum poucona cadeira,vendo-a examinar rapidamente algumaspastas cheiasde papéis.

Mack,está dispostoa responder a algumasperguntas?

ela perguntousem levantar a cabeça.

Fareiomáximopossível ele afirmou,aliviadopela oportunidade de fazer alguma coisa.

Bom! Nãovouobrigá-loa repassar todososdetalhes Estoucom osrelatórios sobre tudooque você já contou,mastenhoumascoisasimportantespara examinarmosjuntos. Ela oolhounosolhos.

Qualquer coisa que eupossa fazer para ajudar concordouMack.Nomomentoestoume sentindobastante impotente.

Mack,entendocomovocê se sente,massua presença é importante.Acredite,todosaquiestãodispostosa fazer omáximopossívelpara resgatar Missy.

Obrigado foitudoque Mackconseguiudizer,olhandopara ochão.As emoçõespareciam à flor da pele e qualquer gestode gentileza abria as comportaspara aslágrimassaírem.

Mack ela continuou ,você notoualguma coisa estranha aoredor de sua família nestesúltimosdias?

Mackficousurpresoe se recostouna cadeira.

Quer dizer que ele estava nosrondando?

Não,ele parece escolher asvítimasaoacaso,mastodaseram maismenosda idade da sua filha,com cor de cabelosemelhante.Achamosque ele asdescobre um oudoisdiasantese espera,vigiandode pertoaté encontrar omomento oportuno.Você

viualguém estranhopróximodolago?Talvezjuntoaosbanheiros?

Mackse encolheuaopensar que seusfilhosestariam sendovigiados Esquadrinhoua mente,masnãodescobriunada.

Desculpe,nãoconsigolembrar...

Você parouem algum lugar enquantoia para ocampingounotoualguém estranhoquandoestava fazendocaminhadas?

Nósparamosna cachoeira Multnomah,vindopara cá,e estivemosem toda a regiãonosúltimostrêsdias,masnãome lembrode ter vistoninguém que parecesse estranho.Quem pensaria...

Exatamente,Mack,tenha paciência.Algopode voltar à sua mente maistarde. Mesmoque pareça pequenoouirrelevante,por favor,nosconte Ela olhou outropapelna mesa. Que taluma picape verde-oliva?Você notoualgoassim enquantoestava por aqui?

Mackreviroua memória.

Realmente nãome lembrode ter vistonada dotipo.A agente especial Wikowsky continuoua interrogar Mackdurante os15minutosseguintes,masnão

conseguiudespertar a memória dele osuficiente para descobrir algoútil.Por fim,fechouocadernoe se levantouestendendoa mão.

Mack,maisuma vez,lamentooque aconteceucom Missy.Se descobrirmos alguma coisa,euoinformareiimediatamente.Àscincoda tarde finalmente chegouoprimeiroinforme promissor e a agente Wikowsky colocouMack imediatamente a par.Doiscasaishaviam passadopor uma picape verde-oliva que correspondia à descriçãodoveículoque estavam procurando.Elesestavam em um trechoestreitoda estrada e tiveram que dar marcha a ré até um lugar maislargopara permitir a passagem da picape.Notaram que na carroceria havia váriaslatasde gasolina,além de uma boa quantidade de materialde acampamento.

Estranharam que omotorista tivesse se curvadona direçãodocarona,comose procurasse alguma coisa nochão,e estivesse usandoum casacopesadonum dia tãoquente.Acharam graça daquiloe seguiram em frente.

Quandoessa notícia chegou,a tensãoaumentouna delegacia.Tudohaviam descobertoaté agora se encaixava nomodode agir doMatador de Meninas,e Mackfoiinformado.Com a noite se aproximandorapidamente,iniciou-se uma discussãosobre a melhor alternativa:fazer uma perseguiçãoimediata ouesperar até a manhã seguinte logoaonascer dodia.Todospareciam profundamente afetadoscom a situação De pé nosfundosda sala,Mackouvia com impaciência a discussão,aflitopara que se tomasse logouma providência.Seudesejoera chamar Tommy e ir pessoalmente atrásdoassassino.Era comose cada minuto contasse Depoisde um tempoque pareceuexcessivamente longopara Mack, todosconcordaram em dar inícioà perseguição.Mackligourapidamente para falar com Nane partiucom Tommy.Agora sólhe restava rezar:

SantoDeus,por favor,por favor,por favor,cuide da minha Missy,proteja-a, nãodeixe que nada de mallhe aconteça.Lagrimasdesciam por seurostoe molhavam a camisa.

***

Por volta das7horas,ocomboiode radiopatrulhas,utilitáriosdopicapescom cãese algunsveículosda Guarda Florestalseguiupela auto-estrada até entrar na Reserva.

Mackficousatisfeitopor viajar com alguém que conhecia a área.Asestradas, com freqüentescurvasestreitasbeirandoprecipícios,ficavam ainda mais traiçoeirasna escuridãoda noite.A velocidade foidiminuindoaté parecer que

estavam se arrastando.

Por fim,passaram pelopontoonde a picape verde tinha sidovista pela última vez e um quilômetroe meiodepoischegaram a uma bifurcação.Ali,comofora planejadoa caravana se dividiuem duas,com um pequenogrupoindopara o norte com a agente especialWikowsky e osdemais,inclusive Mack,Emile Tommy,indona direçãosudeste.Algunsquilômetrosdifíceismaistarde esse grupose dividiuoutra vez,e nesse pontoosesforçosde busca ficaram ainda mais lentos.Agora osrastreadoresestavam a pé,apoiadospor luzesfortes,enquanto procuravam sinaisde atividade recente nasestradas.

Quase duashorasmaistarde,Tommy recebeuum chamadode Wikowsky.A cerca de 15quilômetrosda bifurcaçãoonde tinham se separado,uma estrada antiga e sem nome saía da principal.Era praticamente impossívelde se ver no escuroe cheia de buracos.

Elesa teriam ignoradose a luzde um dosrastreadoresnãotivesse se refletido numa calota de veículo.Debaixodopóda estrada havia manchasde tinta verde. A calota provavelmente fora perdida quandoa picape passoupor um dosmuitos buracosenormesdocaminho.

O grupode Tommy voltouimediatamente.O coraçãode Mackbatia aceleradamente com um começode esperança.Talvez,por algum milagre, Missy ainda estivesse viva.

Vinte minutosdepois,outra ligaçãode Wikowsky informava que haviam encontradoa picape debaixode uma engenhosa armaçãode galhose arbustos.

A equipe de Macklevouquase trêshoraspara alcançar a primeira equipe e, nesse ponto,tudoestava acabado.Oscãeshaviam descobertouma trilha de caça que descia por cerca de um quilômetroe meioaté um pequenovale oculto.Ali encontraram uma cabana em ruínasà beira de um lagolímpidoalimentadopor um riachocascateante.

Cerca de um séculoantesaquilofora provavelmente a casa de um colono,mas desde entãoprovavelmente servia sócomoabrigopara algum caçador ocasional

QuandoMacke seusamigoschegaram,océuestava começandoa clarear.Um acampamento-base fora montadoa certa distância da pequena cabana para preservar a cena docrime.Todosse reuniram e começaram a planejar a estratégia dodia.A agente especialSamantha Wikowsky estava sentada diante de uma mesa dobrávelexaminandomapasquandoMackapareceu.Seusolhos expressavam tristeza e ternura,massuaspalavrasforam totalmente profissionais.

Mack,nósencontramosuma coisa,masnãoé boa.

Ele procurouaspalavrascertas.

Encontraram Missy? Ele temia terrivelmente a resposta,masestava desesperadopara ouvi-la.

Não,nãoencontramos. Sam paroue começoua se levantar.Maspreciso que você identifique uma coisa que encontramosna cabana.Precisosaber se era... ela se conteve,masjá falara nopassado.Querodizer,se é dela.

Sentiuque sua represa interna estava prestesa arrebentar.Vamosver issoagora murmuroubaixinho. Queroresolver logo.

MacksentiuEmile Tommy segurandoseusbraçosenquantoseguiam a agente especialpelocurtocaminhoaté a cabana.Trêshomensadultosde braçosdados numa solidariedade especial,andandojuntosem direçãoaoseupior pesadelo.

Um membroda equipe de perícia abriua porta da cabana para deixá-losentrar.

Refletoresalimentadospor um gerador iluminavam cada parte da sala.Havia prateleirasnasparedes,uma mesa velha, cadeirase um sofá.Mackviuimediatamente oque viera identificar.Virando-se, desmoronounosbraçosdosdoisamigose começoua chorar incontrolavelmente. Nochão,pertoda lareira,estava ovestidode Missy,rasgadoe encharcadode sangue.

***

Para Mack,osdiase semanasseguintesse tornaram um borrãode vistasque entorpeciam asemoções.Por fim,um funeraldedicadocom um pequenocaixão vazioe um desfile interminávelde tristes,ninguém sabendooque dizer.Em algum momento,nasque se seguiram,Mackiniciouolentoe dolorosoreencontro da vida cotidiana.

Aparentemente oMatador de Meninasrecebera ocréditopela quinta vítima, Melissa Anne Phillips.Assim comonosoutrosquatrocasos,asautoridadesnão encontraram ocorpoda vítima,embora gruposde busca tivessem reviradoa floresta durante dias.Comoem todasasoutras,omatador nãodeixara nenhuma pista que pudesse ser seguida,sóobroche.Era comose estivessem lidandocom um fantasma.

Em algum pontodoprocesso,Mackprocurouemergir da dor e dosofrimento,

pelomenoscom sua família.Eleshaviam perdidouma irmã e uma filha e seria terríveltambém perderem um paie um marido.Ainda que todostivessem sidoprofundamente golpeadospela tragédia,Kate parecia a maisafetada,escondendo-se numa casca comouma tartaruga para se proteger de algopotencialmente perigoso.

Macke Nanpreocupavam-se cada vezmaiscom ela,masnãoconseguiam encontrar aspalavrasadequadaspara penetrar na fortaleza que a garota estava construindoaoredor de si.Astentativasde conversa se transformavam em monólogos,comose algotivesse morridodentrodela e agora a estivesse corroendolentamente por dentro,derramando-se àsvezesem palavrasamargas ounum silênciodeprimido.

Joshse comunicava freqüentemente com Amber,oque oajudava a extravasar a dor.Além disso,estava bastante ocupadopreparando-se para a formatura no ensinomédio.

A Grande Tristeza havia baixadocomouma nuvem e,em grausdiferentes, cobria todososque tinham conhecidoMissy.Macke Nanenfrentavam juntoso tormentoda perda,sentindo-se maispróximosdoque nunca.Nanrepetia seguidamente que nãoculpava Mackde modoalgum peloque acontecera.Mack, porém,levoumuitomaistempopara se livrar de todosos"se"que olevavam ao desespero Se ele tivesse decididonãolevar ascriançasnaquela viagem;se tivesse recusadoquandoelaspediram para usar a canoa;se tivesse idoembora na véspera;se,se,se.Nãoter podidoenterrar ocorpode Missy ampliava seu fracassocomopai.O fatode ela ainda estar em algum lugar,sozinha na floresta, assombrava-otodososdias.Agora,trêsanose meiodepois,Missy era considerada oficialmente vítima de assassinato.A vida nunca maisseria a mesma.A ausência de Missy criara um vazioabsurdo.

A tragédia também havia aumentadoa fenda norelacionamentode Mackcom Deus,masele nãose dava conta dessa separaçãocrescente Em vezdisso, tentava abraçar uma fé estóica e desprovida de sentimentosque lhe trazia algum confortoe paz,porém nãoeliminava ospesadelosem que se via com ospéspresosna lama e sem voz para dar osgritosque salvariam sua preciosa Missy.Aospoucosospesadelos foram se tornandomenosfreqüentese osmomentosde alegria começaram a despontar,fazendoMacksentir-se culpado.

Assim,receber obilhete assinadoPapai,dizendopara encontrá-lona cabana, causou-lhe um profundoimpacto.Será que Deusescreve bilhetes?Epor que na cabana oícone de sua dor maisprofunda?Certamente Deusteria lugares

melhoresonde se encontrar com ele.Um pensamentosombriochegoua atravessar sua mente:oassassinooestaria provocandoouatraindopara longe com a intençãode deixar sua família desprotegida.Talvezfosse somente uma brincadeira cruel.Maspor que estava assinado

"Papai"?

Por maisirracionalque parecesse,Macknãoconseguia deixar de pensar que talvezobilhete viesse mesmode Deus.Quantomaispensava.maisconfusoe irritadoia ficando.

Quem havia mandadoa porcaria dobilhete?Fosse quem fosse,Macktinha a sensaçãode que estavam brincandocom ele.E,de qualquer modo,de que adiantava?Mas,apesar da raiva e da depressão,Macksabia que precisava de respostas Percebeuque estava travadoe que asoraçõese oshinosdosdomingos nãoserviam mais,se é que já haviam servido.A espiritualidade doclaustronão parecia mudar nada na vida daspessoasque ele conhecia,a nãoser,talvez,na de Nan.Masela era especial.Mackestava fartode Deuse da religião,fartode todos ospequenosclubessociaisreligiososque nãopareciam fazer nenhuma diferença expressiva nem provocar qualquer mudança real.Mackcertamente desejava mais.

Porém nãosabia que estava a pontode conseguir muitomaisdoque havia pedido.

5.ADIVINHEQUEM VEM PARA JANTAR

Rotineiramente desqualificamostestemunhose exigimoscomprovação.Istoé,estamostão convencidosda justeza de nossojulgamentoque invalidamosprovasque nãose ajustem a ele.

Nada que mereça ser chamadode verdade pode ser alcançadopor essesmeios.

Marilynne Robinson,The Deathof Adam Há ocasiõesem que optamospor acreditar em algoque normalmente seria consideradoabsolutamente irracional.Issonãosignifica que seja mesmo irracional,mascertamente nãoé

racional.Talvezexista a supra-racionalidade:a razãoalém dasdefinições normaisdosfatosouda lógica baseada em dados.Algoque sófazsentidose você puder ver uma imagem maior da realidade.Talvezseja aíque a fé se encaixe.

Macknãotinha certeza de um monte de coisas,masem algum momentoem seu coraçãoe em sua mente,nosdiasque se seguiram à nevasca,ele se convenceu de que havia trêsexplicaçõesplausíveispara obilhete.Podia ser de Deus,por maisabsurdoque issoparecesse,podia ser uma piada crueloualgomaissinistro vindodoassassinode Missy.Independentemente de qualquer coisa,obilhete dominava seuspensamentosdia e noite.Secretamente começoua fazer planos para viajar até a cabana nofim de semana seguinte.A princípionãofaloucom ninguém,nem mesmocom Nan,achandoque uma conversa assim sótraria maisdor."Estoumantendosegredopor causa de Nan",dizia a simesmo.Além disso,falar dobilhete seria admitir que guardara segredos.Algumasvezesa honestidade pode ser incrivelmente complicada.

Decididoa empreender a viagem,Mackcomeçoua pensar em modosde afastar a família de casa durante ofim de semana sem levantar suspeitas.Felizmente foi a própria Nanquem ofereceua solução.Ela estivera pensandoem visitar a família da irmã nasilhasSanJuan,nolitoralde Washington.Seucunhadoera psicólogoinfantile Nanachava que poderia ser útilconversar com ele sobre o comportamentocada vezmaisfechadode Kate.Quandoela levantoua possibilidade da viagem,Mackreagiuquase ansiosodemais.

Claroque vocêsvão ele afirmouimediatamente.Nãoera a resposta que ela havia previstoe Nanlhe lançouum olhar interrogativo.

Querodizer consertouele,sem jeito ,é uma idéia fantástica.

Vousentir falta de vocês,claro,masachoque possosobreviver sozinhounsdois diase,de qualquer modo,tenhoum monte de coisaspara fazer.

Ela deude ombros,talvezgrata porque ocaminhopara a viagem tivesse se abertocom tanta facilidade.

Bastouum rápidotelefonema à irmã de Nane a viagem foiacertada Logoa casa virouum turbilhãode atividades.Joshe Kate ficaram deliciadoscom a perspectiva de visitar osprimose compraram fácila idéia.

Disfarçadamente,Macktelefonoupara seuamigoWillie pedindoseujipe emprestado. O pedidoestranho,comoera de se prever,provocouum tiroteiode perguntasque

Macktentouresponder domodomaisevasivopossível.Terminoudizendoque explicaria tudoquandoWillie aparecesse para trocar osveículos.

Nofim da tarde de quinta-feira,depoisde despedir-se de Nan,Kate e Josh,Mack começoua preparar-se para a longa viagem aoNordeste doOregon olocal de seuspesadelos.Sem dúvida havia a possibilidade de ter se transformadonum idiota completooude estar sendovítima de uma brincadeira de maugosto,mas nesse casoficaria livre para simplesmente ir embora.Uma batida na porta arrancou-ode sua concentraçãoe ele viuque era Willie.

Estouaquina cozinha gritou.

Um instante depoisWillie apontoua cabeça pela porta docorredor.

Bom,eutrouxe ojipe e otanque está cheio,massóvouentregar a chave quandovocê contar exatamente oque está acontecendo.

Mackcontinuouenfiandocoisasem doissacosde viagem.Sabia que não adiantava mentir para oamigo.

Vouvoltar à cabana,Willie.

Bom,eujá tinha imaginado.O que querosaber é por que você pretende voltar lá.Nãoseise omeuvelhojipe vaidar conta dorecado,mas,comogarantia, coloqueiumascorrentesatráspara ocasode precisarmos.

Sem olhar para ele,Mackfoiaté oescritório,tiroua tampa de uma lata pequena e pegouobilhete.Voltandoà cozinha,entregouoaoamigo.Willie desdobrouo papele leuem silêncio.

Nossa,que tipode malucoescreveria uma coisa assim?E

quem é esse talde Papai?

Bom,você sabe,Papaié onome que Nanusa para Deus Mackpegouo bilhete de volta e oenfiounobolsoda camisa.

Espera,você está achandomesmoque issoveiode Deus?

Willie,nãoseioque pensar disso.Quer dizer,a princípioacheique era apenas uma brincadeira de maugostoe fiqueicom raiva.Seique parece loucura,mas de algum modome sintoestranhamente tentadoa descobrir.Tenhode ir,Willie,

ouissovaime deixar malucopara sempre.

Já pensouna possibilidade de ser oassassino?Ese ele estiver atraindovocê para lá por algum motivo?

Claroque pensei.Parte de mim nãoficaria desapontada com isso.Tenho contasa acertar com ele disse sérioe fezuma pausa. Mastambém nãofaz muitosentido.Nãoachoque oassassinosaiba que "Papai"é um termousadoem nossa família.Willie ficouperplexoe Mackprosseguiu:

Enenhum amigonossomandaria um bilhete desses.Estoupensandoque só Deusfaria isso...talvez.

MasDeusnãofazcoisasassim.Pelomenosnunca ouvifalar que ele tivesse mandadoum bilhete a alguém.Epor que ele desejaria que você retornasse à cabana?Nãoconsigopensar num lugar pior...

Pairouum silêncioincômodoentre osdois.Mackfalou:

Nãosei,Willie.Achoque parte de mim gostaria de acreditar que Deusse importa osuficiente comigopara me mandar um bilhete.Continuomuito confuso,mesmodepoisde tantotempo.Simplesmente nãoseioque pensar,e a coisa nãomelhora.Sintoque estouperdendoKate e issome mata.Talvezoque aconteceucom Missy seja uma espécie de castigode Deuspeloque fizcom meupai.Realmente nãosei.

Mackolhouorostode seumelhor amigo,maisdoque um irmão.

Sóseique precisovoltar.

O silênciose prolongouentre osdoisaté que Willie falasse de novo.

Então,quandopartimos?

Mackficoutocadocom a disposiçãodoamigo.

Obrigado,meuchapa,masrealmente precisofazer issosozinho.

Imagineique você diria isso respondeuWillie,virando-se e saindodo cômodo.

Retornoualgunsinstantesdepoiscom uma pistola e uma caixa de balas

Acheique nãoconseguiria convencê-loa deixar de ir e penseique poderia precisar disso.Achoque você sabe usar.Mackolhoua arma.Sabia que Willie estava tentandoajudálo.

Willie,nãoposso.Faz30anosque toqueipela última veznuma arma e não pretendofazer issoagora.Se aprendiuma coisa na vida,foique usar a violência

para resolver um problema sempre cria um problema ainda maior.

Mase se for oassassinode Missy?Ese ele estiver esperandolá em cima?O que você vaifazer?

Mackdeude ombros.

Honestamente nãosei,Willie.Voucorrer orisco,acho.

Masvocê vaiestar indefeso.Nãodá para saber oque ele tem em mente. Leve,Mack.

Willie empurroua pistola e asbalasna direçãodele.

Você nãoprecisa usar.

Mackolhoua arma e depoisde pensar um poucoestendeulentamente a mão para ela e asbalas,colocando-ascom cuidadonobolso.

Certo,sópara garantir.

Em seguida pegouparte doequipamentoe,com osbraçoscarregados,saiuna direçãodojipe.Willie levoua grande sacola de lona que restava.

Nossa,Mack,se você acha que Deusvaiestar lá em cima,para que tudoisso?

Macklhe deuum sorrisocarregadode tristeza.

Sópenseiem cobrir asváriasopções.Você sabe,estar preparadopara oque acontecer...

Quandochegaram nojipe,Willie entregouaschavesa Mack.

Eoque é que Nanacha disso? perguntou.

Nane ascriançasforam visitar a irmã dela e...eunãocontei confessou Mack.

Willie ficouobviamente surpreso.

O quê!?Você nunca guarda segredosde sua mulher.Nãoacreditoque tenha mentidopara ela!

Mackignoroua explosãodoamigo,voltouà casa e entrounoescritório.Ali encontrouaschavesde reserva de seucarroe da casa e,hesitandoapenasum

instante,pegoua pequena lata.Willie foiatrásdele.

Comovocê acha que ele é? perguntourindo.

Quem?

Deus,claro Comovocê acha que ele é?

Mackpensouum instante.

Nãosei.Talvezele tenha uma luzmuitoforte ouapareça nomeiode uma sarça ardente.Sempre ovisualizeiassim comoum avô,com uma barba longa flutuando.

Deude ombros,entregouaschavesde seucarroa Willie e osdoistrocaram um abraçorápido.

Bom,se ele aparecer,dê lembrançasminhas disse Willie com um sorriso afetuoso. Estoupreocupadocom você,meuchapa.Gostaria de ir junto.Vou fazer uma ouduasoraçõespor você.

Obrigado,Willie.Você é um amigoe tanto.

AcenouenquantoWillie dava marcha a ré pela entrada de veículos.

Mack sabia que ele manteria a promessa.

Provavelmente ele iria precisar de todasasoraçõesque conseguisse.

Ficouolhandoaté Willie virar a esquina e sumir,depoistirouobilhete dobolsoda camisa,leumaisuma veze colocou-ona lata,que depositounobancodocarona em meioa outrosequipamentos.Trancandoasportasdojipe,voltoupara casa e para uma noite sem sonhos.

Bem antesdoamanhecer da sexta-feira,Mackjá estava fora da cidade.Nan havia telefonadona noite anterior dizendoque chegaram em segurança e que voltaria a ligar nodomingo.Até lá provavelmente ele já teria voltado. Refezomesmocaminhoque haviam tomadotrêsanose meioantes,maspassou pela cachoeira Multnomahsem olhar.Nolongotrechosubindoodesfiladeiro sentiuopânicose esgueirandoe invadindosua consciência.Tentara nãopensar noque estava fazendoe simplesmente ir colocandoum pé na frente dooutro, masossentimentose temoresrepresadoscomeçaram a surgir Seusolhos ficaram sombriose asmãosapertavam com força ovolante enquantoele lutava contra a tentaçãode voltar para casa.Sabia que estava indodiretopara ocentro de sua dor,ovórtice da Grande Tristeza que havia minadosua alegria de viver. Finalmente pegoua auto-estrada para Joseph.Pensouem procurar Tommy,mas decidiunãofazer isso.Quantomenospessoaspensassem que ele era um lunático desvairado,melhor.O trânsitoera tranqüiloe asestradasestavam notavelmente limpase secaspara essa época doano,masparecia que quantomaisavançava maislentamente viajava,comose de algum modoa cabana repelisse sua aproximação.O jipe atravessoua faixa de neve enquantoele subia osúltimos3 quilômetrosaté a trilha que iria descer para a cabana.Era apenasoinícioda tarde quandoMackfinalmente paroue estacionounocomeçoda trilha praticamente invisível.

Ficoualisentadopor cerca de cincominutos,repreendendose por ser tãoidiota. A cada quilômetropercorridodesde Josephaslembrançasvoltavam com uma clareza que oempurrava para trás.Masa compulsãointerna de prosseguir era irresistível.Levantou-se,olhouocaminhoe decidiudeixar tudonocarroe descer a pé otrechode cerca de um quilômetroe meioaté olago.Pelomenosnãoteria de carregar nada morroacima quandoretornasse para ir embora,oque esperava que acontecesse logo.Estava suficientemente friopara sua respiração pairar noar em volta dele,e parecia que ia nevar.A dor que estivera crescendo noestômagofinalmente oempurroupara opânico.Depoisde apenascinco passosele paroue teve ânsiasde vômitotãofortesque odeixaram de joelhos.

Por favor,me ajude! gemeu.Em seguida levantou-se com aspernas trêmulase virou-se.Abriua porta docarona e enfioua mão,remexendoaté sentir a pequena lata.

Abriua tampa e encontrouoque estava procurando:sua fotopredileta de Missy,

***

que tiroujuntocom obilhete.Recolocoua tampa e deixoua lata nobanco.Parou um momentoolhandooporta-luvas.Por fim abriu-oe pegoua arma de Willie, verificandoque estava carregada e com a trava de segurança acionada.De pé, fechoua porta,enfioua mãoembaixodocasacoe pôsa arma nocinto,àscostas. Virou-se e encarouocaminhode novo,olhandouma última veza fotode Missy antesde enfiá-la nobolsoda camisa juntocom obilhete.Se oencontrassem morto,pelomenossaberiam qualtinha sidoseuúltimopensamento.

A trilha era traiçoeira;aspedras,geladase escorregadias.Cada passoexigia concentraçãoenquantoele descia para a floresta cada vezmaisdensa.O silêncio era fantasmagórico.Osúnicossonsque podia ouvir eram osde seuspassos esmagandoa neve e oda sua respiraçãopesada.Mackcomeçoua sentir que estava sendoobservadoe uma vezchegoua girar rapidamente para ver se havia alguém ali.Por maisque quisesse dar a volta e correr para ojipe,seuspés pareciam ter vontade própria,determinadosa continuar pelocaminhoe entrar maisfundona floresta maliluminada e cada vezmaisfechada.

De repente algose mexeualiperto.Assustado,ele se imobilizouem silêncioe alerta.

Com ocoraçãomartelandonosouvidose a boca subitamente seca,levou devagar a mãoàscostase tiroua pistola docinto.Depoisde soltar a trava,olhou fixamente para omatobaixoe escuro,tentandover ououvir algoque pudesse explicar obarulhoe diminuir ojorrode adrenalina.Masoque quer que tivesse se mexidohavia paradoagora.Estaria esperandopor ele?Sópara garantir,ficou imóvelpor algunsminutosantesde começar de novoa descer lentamente a trilha,tentandoser omaissilenciosopossível.

A floresta parecia se fechar aoseuredor e ele começoua se perguntar seriamente se havia tomadoocaminhoerrado.Com ocanto do olho viu movimento outra vez

agachouinstantaneamente,espiandoentre osgalhosbaixosde uma árvore próxima.Algofantasmagórico,comouma sombra,entrounosarbustos.Ouseria imaginação?Esperoude novo,sem mexer um músculo.Seria Deus?Duvidava. Talvezum animal.Entãoopensamentoque estivera evitando:"Ese for algopior? Ese ele tivesse sidoatraídoaquipara cima?Maspara quê?"Levantando-se devagar doesconderijo,com a arma ainda na mão,deuum passoadiante,e foi quandode repente oarbustoatrásdele pareceuexplodir.Mackgirou,apavorado e prontopara lutar pela vida,mas,antesque pudesse apertar ogatilho, reconheceuum texugocorrendode volta pela trilha.Exalouaospoucosoar que estivera prendendo,baixoua arma e balançoua cabeça.Mack,ocorajoso, parecia um meninoapavoradona floresta.Depoisde travar a arma de novo, guardou-a."Alguém poderia se machucar",pensoucom um suspirode alívio. Respirandofundooutra veze soltandooar lentamente,acalmou-se.Decidiuque estava fartode sentir medoe continuoua descer ocaminho,tentandoparecer maisconfiante doque se sentia.Esperava nãoter vindotãolonge à toa.Se Deus realmente aparecesse,Mackestava maisdoque prontopara dizerlhe umastantas verdades.Algumasvoltasdepois,saiuda floresta para uma clareira.Dooutro lado,abaixoda encosta,viu-a de novo:a cabana.Ficouparadoolhando-a,com o estômagotransformadonuma bola em movimentoe tumulto.Na superfície nada parecia ter mudado,afora oinvernoter despidoasárvorese omantobrancode neve que cobria olugar.A cabana parecia morta e vazia,masde repente transformou-se num monstrode rostomaligno,retorcidonuma careta demoníaca,olhando-odiretamente e desafiando-oa se aproximar.Ignorandoo pânicocrescente,Mackdesceucom decisãoosúltimos100metrose subiuos degrausda varanda.Aslembrançase ohorror da última vezem que estivera ali voltaram num rompante e ele hesitouantesde empurrar a porta.

Olá? chamou,nãomuitoalto.Pigarreando,chamoude novo,dessa vez maisalto. Olá?Tem alguém aí? Sua vozecoounovazio.Sentindo-se mais seguro,entrouna sala e parou.Enquantoseusolhosse ajustavam à semiescuridão,começoua perceber osdetalhesda sala com a luzda tarde se filtrando pelasjanelasquebradas.Reconheceuascadeirasvelhase a mesa.Não conseguiuevitar que seusolhosfossem atraídospara oúnicolocalque não suportaria olhar.Mesmodepoisde algunsanos,a mancha de sangue desbotada ainda era claramente visívelna madeira pertoda lareira,onde haviam encontradoovestidode Missy.

Desculpe,querida. Lágrimascomeçaram a se juntar nosseusolhos.

e se

Efinalmente seucoraçãoexplodiucomouma tromba-d'água,soltandoa raiva contida e deixando-a jorrar peloscânionsrochososde suasemoções.Virandoos olhospara océu,começoua gritar suasperguntasangustiadas.

Por quê?Por que você deixouque issoacontecesse?Por que me trouxe aqui? Por que logoaqui?Nãobastoumatar minha filhinha?Tinha de zombar de mim também?

Numa fúria cega,Mackpegoua cadeira maispróxima e jogou-a contra a janela, despedaçando-a.Com uma daspernasda cadeira,começoua destruir tudoque podia.

Grunhidose gemidosde desesperoe fúria irrompiam de seuslábiosenquantoele soltava a fúria naquele lugar terrível. Odeiovocê! Num frenesi,liberoua raiva até ficar exaurido Desesperadoe derrotado,Mackse deixoucair nochão, pertoda mancha de sangue.

Tocou-a com cuidado.Era tudooque restava de sua Missy.Deitadojuntodela, osdedosacompanharam com ternura asbordasdescoloridase ele sussurrou baixinho:

Missy,desculpe.Desculpe se nãopude proteger você.Desculpe se nãopude encontrar você.

Mesmoem sua exaustão,a raiva fervilhoue de novoele apontoucontra oDeus indiferente que ele imaginava encontrar-se em algum lugar acima dotetoda cabana.

Deus,você nem deixouque a encontrássemose a enterrássemos.Seria pedir demais?

Enquantoa mistura de emoçõesia e vinha,com a raiva dandolugar à dor,uma nova onda de tristeza começoua se misturar com sua confusão.

Então,onde está você?Acheique queria se encontrar comigo.Bom,estou aqui,Deus.Evocê?Nãoestá em lugar nenhum! Nunca esteve quandoprecisei, nem quandoeuera pequeno,nem quandoperdiMissy.Nem agora! Tremendo "Papai"você é! cuspiuaspalavras.

Mackficoualisentadoem silêncio,com ovaziodolugar invadindosua alma. Todasasperguntassem resposta e asacusaçõesdolorosasse acomodaram no chãoaoladodele e lentamente se transformaram num poçode desolação.A Grande Tristeza se apertouaoredor e ele quase gostouda sensaçãoesmagadora.

Esta dor ele conhecia.Estava familiarizadocom ela,era quase uma amiga.

Mackpodia sentir a arma na cintura,um frioconvidativocontra a pele.Pegou-a, sem saber direitooque fazer.Ah,parar de se preocupar,parar de sentir a dor, nunca maissentir nada.Suicídio?Nomomentoa opçãoera quase atraente."Seria tãofácil",pensou.

"Chega de lágrimas,chega de dor..."Quase podia ver um abismopretoabrindose nochãoatrásda arma para a qualestava olhando,uma escuridãoque sugava osúltimosvestígiosde esperança docoração.Matar-se seria um modode contraatacar Deus,se Deusaomenosexistisse.

Asnuvensse abriram doladode fora e de repente um raiode solderramou-se na sala,rasgandoocentrode seudesespero.Mas...e Nan?EJosh,Kate,Tyler e Jon?Por maisque desejasse interromper a dor,sabia que nãopoderia aumentar osofrimentodeles.

Uma brisa fria passoupor seurostoe parte de Mackquissimplesmente se deitar e congelar até a morte,de tãoexausto.Encostou-se na parede e esfregouosolhos cansados.Deixou-osfecharem-se enquantomurmurava:

Eute amo,Missy.Sintosaudadesdemais. Logopenetrousem esforçonum sonopesado.

Provavelmente haviam se passadoapenasalgunsminutosquandoMack despertoucom um solavanco.Surpresopor ter cochilado,levantou-se depressa. Enfiandoa arma de volta na cintura e a raiva na parte maisfunda da alma,foi em direçãoà porta.

Issoé ridículo! Soutãoidiota! Epensar que euesperava que Deuspoderia se importar a pontode me mandar um bilhete!

Olhoupara oespaçoaberto.

Estoucheio,Deus sussurrou. Nãopossomais.Estoucansadode tentar encontrá-loem tudoisso. Esaiupela porta.Decidiuque esta era a última vez que procuraria Deus.Se Deusoquisesse,teria de vir encontrá-lo.

Enfioua mãonobolso,pegouobilhete que havia encontradona caixa de correio e picou-oem pedacinhos,deixando-osescorrer lentamente entre osdedospara serem levadospeloventofrioque havia aumentado.Com passospesadose o

coraçãomaispesadoainda,começoua caminhar de volta para ojipe.

***

Malhavia caminhadouns15metrospela trilha quandosentiuum jorrosúbitode ar quente alcançá-lopor trás.O cantode um pássarorompeuosilênciogelado.O caminhodiante dele perdeurapidamente overnizde geloe neve,comose alguém estivesse usandoum secador de cabelos.Mackparoue ficouolhando, enquantoaoredor a cobertura branca se dissolvia e era substituída por uma vegetaçãoradiante.Trêssemanasde primavera se desdobraram diante dele em 30segundos.Esfregouosolhose firmou-se naquele redemoinho.Até mesmoa neve fina que havia começadoa cair se transformara em minúsculasflores descendopreguiçosamente para ochão.

O que ele estava vendo,claro,nãoera possível.Osmontesde neve haviam desaparecidoe floressilvestresde verãocomeçaram a colorir asbordasda trilha e a surgir na floresta até onde a vista alcançava.Tordos,esquilose tâmias atravessavam de vezem quandoocaminho,algunsparandopara sentar-se e olhá-lopor um momentoantesde mergulhar de novonomatobaixo.Comose issonãobastasse,operfume dasflorescomeçoua encher oar,nãosomente o aroma fugazde floressilvestresda montanha,masa intensidade de rosas, orquídease outrasfragrânciasexóticasencontradasem climasmaistropicais.O terror dominouMack,comose ele tivesse abertoa Caixa de Pandora e fosse varridopara ocentroda loucura,perdendo-se para sempre.Inseguro,giroucom cuidado,tentandose agarrar a algum sentimentode sanidade.

Ficoupasmo.Tudomudara.A cabana dilapidada fora substituída por um chalé sólidoe lindamente construídocom troncosdescascadosà mão,cada um deles trabalhadopara um encaixe perfeito.

Em vezdosarbustosescurose agrestesde macegas,urzese espinheiros,tudoo que Mackvia agora era perfeitocomonum cartão-postal.A fumaça subia preguiçosa da chaminé para océudofim de tarde,sinalde atividade dentroda cabana.Um caminhofora construídoaoredor da varanda da frente,limitadopor uma pequena cerca de ripasbrancas.

O som de risosvinha de perto talvezde dentro,masnãodava para ter certeza. Talvezfosse assim a experiência de um surtopsicóticototal.

Estoupirandode vez sussurrouMack. Issonãopode estar acontecendo. Nãoé real.

Era um lugar que Macksópoderia ter imaginadoem seusmelhoressonhos,e isso tornava a coisa ainda maissuspeita.A visãoera maravilhosa,osperfumes inebriantes,e seuspés,comose tivessem vontade própria,levaram-node volta descendoocaminhoaté a varanda da frente.Floresbrotavam em toda parte e a mistura de fragrânciasfloraisprovocoulembrançasde infância,esquecidas havia muito.Ele sempre ouvira dizer que oolfatoera omelhor elocom o passado,osentidomaisforte para redescobrir históriasantigas.

Na varanda,paroude novo.Vozesvinham muitoclaramente de dentro.Mack rejeitouoimpulsosúbitode sair correndo,comose fosse algum garotoque tivesse jogadoa bola nojardim de um vizinho."Quem estaria lá dentro?"Fechou osolhose balançoua cabeça para ver se conseguia apagar a alucinaçãoe restaurar a realidade.Mas,quandoosabriu,tudocontinuava ali.Estendeua mão, hesitando,e tocouocorrimãode madeira.

Certamente parecia real.

Agora enfrentava outrodilema.O que você fazquandochega à porta de uma casa oude um chalé,neste caso onde Deuspode estar?Deve bater?

Certamente Deusdevia saber que Mackestava ali.Talvezele simplesmente devesse entrar e se apresentar,masissoparecia igualmente absurdo.Ecomose dirigir a Deus?

Deveria chamá-lode Pai,de Todo-Poderosooutalvezde Senhor Deus?Seria melhor ajoelhar-se e cair em adoração?

Enquantotentava estabelecer algum equilíbriointerno,a raiva voltoua emergir. Energizadopela ira,Mackfoiaté a porta.Decidiubater com força para ver oque acontecia,mas,nomomentoem que levantouopunho,a porta se escancaroue diante dele apareceuuma negra enorme e sorridente.

Mackpuloupara tráspor instinto,masfoilentodemais.Com uma velocidade surpreendente para oseutamanho,a mulher atravessoua distância entre osdois e oengolfounosbraços,levantando-odochãoe girando-ocomose ele fosse uma criança pequena Eotempotodogritava oseunome,Mackenzie Allen Phillips,com oardor de alguém que reencontrasse um parente amadohá muito perdido.Por fim colocou-ode volta nochãoe,com asmãosnosombrosdele, empurrou-opara trás,comose quisesse vê-lobem.

Mack,olha sópara você! ela praticamente explodiu.

Aíestá,e tãocrescido! Euestava ansiosa para vê-locara a cara.É

tãomaravilhosotê-loaquiconosco! Minha nossa,comoeuamovocê! E,ao dizer isso,oabraçoude novo.

Mackficousem fala.Em poucossegundosaquela mulher havia rompido praticamente todasasconvençõessociaisatrásdasquaisele se entrincheirava com tanta segurança.

Masalgonoseuolhar e na maneira comoela dizia oseunome odeixou deliciado,mesmonãotendoa menor idéia de quem se tratava.

De repente foidominadopeloperfume que exalava da mulher,e issoosacudiu. Era ocheirode flores,com sugestõesde gardênia e jasmim,inconfundivelmente operfume de sua mãe que ele mantivera guardadoem um vidrona latinha.O cheiroque jorrava e a lembrança que vinha juntoofizeram cambalear.Podia sentir ocalor daslágrimasem seusolhos,comose estivessem batendoà porta de seucoração.A mulher percebeu.

Tudobem,querido,pode deixar que elassaiam...Seique você foimagoadoe que está com raiva e confuso.Entãová em frente e ponha para fora.Ébom para a alma deixar que aságuasrolem de vezem quando,aságuasque curam.

Macknãopodia impedir que aslágrimasenchessem seusolhos,masnãoestava preparadopara soltá-las,ainda não,nãocom essa mulher.Reuniutodasasforças possíveispara evitar cair de volta noburaconegrodasemoções.Enquantoisso,a mulher ficoualicom osbraçosestendidos,comose fossem osda sua mãe.Ele sentiua presença doamor.Era quente,convidativo,derretia tudo.

Nãoestá pronto? reagiuela. Tudobem,vamosfazer ascoisasnoseu devidotempo.Venha comigo.Possopegar seucasaco?Eessa arma?Você não precisa mesmodela,certo?Nãoqueremosque alguém se machuque,nãoé?

Macknãosabia direitooque fazer oudizer.Quem era ela?

Enraizadonomesmolugar,lenta e mecanicamente tirouocasaco.A negra enorme pegouocasacoe ele lhe entregoua arma,que ela seguroucom a ponta de doisdedos,comose aquiloestivesse contaminado.Nomomentoem que ela se viroupara entrar nochalé,uma mulher pequena,claramente asiática,emergiu de trásda negra.

Aqui,deixe-me pegar isso cantarolouela.Obviamente nãoqueria falar do casaconem da arma e sim de outra coisa,e estava na frente dele num piscar de olhos.Mackse enrijeceuaosentir algopassar suavemente em sua face.Sem se

mexer,olhoupara baixoe viuque a mulher estava usandoum frágilfrascode cristale um pequenopincel,comoosque vira Nane Kate usar para maquiagem, e que gentilmente removia algode seurosto.Antesque ele pudesse perguntar, ela sorriue sussurrou: Mackenzie,todostemoscoisasque valorizamosa pontode colecionar,nãoé?

A pequena lata relampejouna mente dele. Eucolecionolágrimas. Enquantoa mulher recuava,Mackse pegoufranzindoosolhosna direçãodela, comose issolhe permitisse enxergar melhor.Mas,estranhamente,ainda tinha dificuldade para focalizá-la.Ela parecia quase tremeluzir na luze seucabelo voava em todasasdireções,apesar de nãohaver nenhuma brisa.Era quase mais fácilvê-la com ocantodoolhodoque fixando-a diretamente Entãoolhoupara além dela e notouque uma terceira pessoa havia saídodochalé.Desta vezera um homem.Parecia ser doOriente Médioe se vestia comoum operário,com cintode ferramentase luvas.Estava de pé,tranqüilamente encostadonoportale com osbraçoscruzados,usandojeanscobertosde serragem e uma camisa xadrezcom mangasenroladasacima doscotovelos,revelandoantebraços musculosos.Suasfeiçõeseram bastante agradáveis,masele nãoera particularmente bonito

nãose destacaria numa multidão.Masseusolhose osorrisoiluminavam o rostoe Mackachoudifícildesviar oolhar.Mackrecuoude novo,sentindo-se um tantoesmagado.

Há maisde vocês? perguntoumeiorouco. Ostrêsse entreolharam e riram.Macknãoconseguiuevitar um sorriso.

Não,Mackenzie riua negra. Somostudoque você tem e,acredite,é maisdoque obastante.

Macktentouolhar de novopara a mulher asiática.Peloque podia ver,ela talvez fosse doNorte da China,ouaté mesmode etnia mongólica.Era difícildizer, porque seusolhosprecisavam se esforçar para enxergá-la.Pelasroupas,Mack presumiuque fosse jardineira ouque cuidasse da horta.Tinha luvasdobradasno cinto,nãocomoasde courodohomem,masleves,de panoe borracha,comoas que opróprioMackusava para trabalhar noquintalde casa.Vestia jeanssimples com desenhosornamentaisnasbarras joelhoscobertosda terra onde estivera ajoelhada e uma blusa muitocolorida com manchasde amarelo,vermelhoe

azul.Macktinha uma impressãode tudoisso,porque ela parecia entrar e sair de seucampode visão.

Entãoohomem se aproximou,tocouoombrode Mack,beijou-onasfacese o abraçoucom força.Macksoube instantaneamente que gostava dele.Depoiso homem recuoue a mulher asiática aproximou-se de novo,segurandoseurosto com asduasmãos.Graduale intencionalmente,ela aproximouoseurostodo dele e olhounofundode seusolhos.

Mackachouque quase podia ver atravésdela.Entãoa mulher sorriue seu perfume pareceuenvolvê-loe tirar um pesoenorme de seusombros.

De repente Macksentiu-se maisleve doque oar,quase comose nãotocasse maisochão.Ela estava abraçando-osem abraçá-lo,ousem mesmotocá-lo.Só quandoela recuou,oque provavelmente aconteceuapenasalgunssegundos depois,ele percebeuque ainda estava de pé e que seuspéscontinuavam tocando opisoda varanda.

Ah,nãose incomode riua negra enorme. Ela causa esse efeitoem todo mundo.

Gostodisso ele murmuroue ostrêsirromperam em maisrisos.Agora Mackse pegourindocom eles,sem saber exatamente por que e nãose importandocom isso.

Quandofinalmente paroude rir,a mulher enorme passouobraçopor seus ombros,puxou-oe disse:

Nóssabemosquem você é,masachoque devemosnosapresentar.Eu ela balançouasmãoscom um floreio soua governanta e cozinheira.Pode me chamar de Elousia.

Elousia? perguntouMack,sem compreender.

Certo,você nãoprecisa me chamar de Elousia.Ésóum nome de que eugosto e que tem um significadoparticular para mim.Então ela cruzouosbraçose pôsa mãosoboqueixo,comose pensasse com intensidade especial pode me chamar domesmomodocomoNanme chama.

O quê?Você nãoquer dizer... Agora Mackficousurpresoe maisconfuso ainda.

Sem dúvida aquela nãoera oPapaique havia mandadoobilhete!

É...quer

É respondeuela e sorriu,esperandoque ele falasse,masMackficouquieto.

O homem,que parecia ter trinta e poucosanose era um poucomaisbaixodo que Mack,interrompeu:

Tentomanter ascoisasconsertadaspor aqui.Masgostode trabalhar com as mãos,se bem que,comoessasduasvãolhe dizer,sintoprazer em cozinhar e cuidar dojardim.

Você parece ser doOriente Médio,talvezseja árabe? perguntouMack.

Na verdade,souirmãode criaçãodaquela grande família.Souhebreu;para ser exato,da casa de Judá.

Então... De repente Mackficouabaladocom a própria percepção. Então você é...

Jesus?Sou.Epode me chamar assim,se quiser.Afinalde contas,esse se tornouomeunome comum.Minha mãe me chamava de Yeshua,mastambém possoser conhecidocomoJoshua ouaté mesmoJessé

Mackficouperplexoe mudo.O que ele estava vendoe ouvindoparecia completamente impossível! De repente sentiuque ia desmaiar.A emoçãoo varria,enquantosua mente tentava em desesperoacompanhar todasas informações.Nesse momentoa asiática chegoumaispertoe desviousua atenção.

EeusouSarayu disse ela inclinandoa cabeça numa ligeira reverência e sorrindo. Guardiã dosjardins,dentre outrascoisas.

Pensamentosse embolavam enquantoMacklutava para ter alguma clareza.Será que alguma daquelaspessoasera Deus?Ese fossem alucinações?Ouserá que Deusviria maistarde?Já que eram três,talvezaquilofosse uma espécie de Trindade.Masduasmulherese um homem?Enenhum delesera branco?Mas por que ele havia presumidoque Deusseria branco?Sabia que sua mente estava divagando,por issoconcentrou-se na pergunta que maisqueria ver respondida.

Entãoqualde vocêsé Deus?

Eu responderam ostrêsem uníssono.Mackolhoude um para ooutroe,

dizer,"Papai"?

entender nada,de algum modoacreditou.

6.AULA DEVÔO

...nãoimporta qualseja opoder de Deus,o primeiroaspectode Deusjamaisé odoSenhor absoluto,doTodo-Poderoso ÊodoDeusque se coloca nonossonívelhumanoe se limita.

JacquesEllul,Anarchy andChristianity

Mackenzie,nãofique aíparadode boca aberta disse a negra enorme enquantose virava e seguia pela varanda,falandootempotodo. Venha conversar comigoenquantopreparoa janta.Ou,se nãoquiser,faça oque desejar.Atrásdochalé,pertodoabrigode barcos,você vaiencontrar uma vara de pesca que pode usar para pegar umastrutas.Ela paroujuntoà porta para dar um beijoem Jesus.

Lembre apenas e virou-se para olhar Mack que você tem de limpar oque pegar. Depois,com um sorrisorápido,desapareceuno chalé,carregandoocasacode invernode Macke segurandoa arma pelosdois dedos,com obraçoestendido.Mackficouparado,de boca aberta e com uma expressãode perplexidade grudada norosto.

MalnotouquandoJesuspassouobraçopor seuombro.Sarayuparecia ter simplesmente evaporado.

Ela nãoé fantástica? exclamouJesus,rindopara Mack.Mackoencarou, balançandoa cabeça.

Estouficandomaluco?Devoacreditar que Deusé uma negra gorda com um sensode humor questionável?

Jesusriu.

Ela é uma piada! Adora surpresase tem uma noçãode temposempre perfeita.

Verdade? disse Mack,ainda balançandoa cabeça e sem saber se realmente acreditava. Entãooque devofazer agora?

mesmosem

Você nãodeve fazer nada.Está livre para oque quiser.

Jesusfezuma pausa e continuou,dandoalgumassugestões:

Estoutrabalhandonum projetoem madeira nobarracãoe Sarayuestá no jardim.Você pode ir pescar,andar de canoa ouentrar e conversar com Papai.

Bem,achoque me sintoobrigadoa entrar e falar com ele...istoé,com ela.

Ah! Agora Jesusestava sério. Nãose sinta obrigado.Vá se for issooque você quer fazer.

Mackpensouum momentoe decidiuque entrar nochalé era oque realmente desejava.Agradeceua Jesus,que,sorrindo,foipara a sua oficina.Mack atravessoua varanda e chegouà porta.Depoisde olhar rapidamente em volta, abriu-a.Enfioua cabeça para dentro,hesitoue decidiumergulhar.

Deus? chamoutimidamente,sentindo-se bastante idiota.

Estouna cozinha,Mackenzie.Basta seguir minha voz.Ele entroue examinoua sala.Será que este era omesmolugar?Estremeceudiante dosussurrodos pensamentossombriosà espreita e trancou-osde novo.Olhoupara a sala de estar procurandoolocalpertoda lareira,masnãoencontrounenhuma mancha.Notou que a sala era decorada com figurasque pareciam ter sidodesenhadasoufeitas por crianças.Imaginouse aquela mulher guardava com carinhocada uma daquelaspeças,comoqualquer paioumãe que ama osfilhos.

Talvezfosse assim que ela valorizava ascoisasque lhe eram dadasde coração, comoascriançasem geralfazem.Mackfoiem direçãoaocantarolar baixoe chegoua uma copa-cozinha onde havia uma mesa com quatrolugarese cadeiras de encostode vime.O interior dochalé era maisespaçosodoque ele havia imaginado Papaiestava trabalhandoem alguma coisa,de costaspara ele,com farinha voandoenquantose balançava aoritmoda música oudoque quer que estivesse escutando.A cançãoobviamente acabou,marcada por duasúltimas sacudidasde ombrose quadris.Virando-se para encará-lo,a negra tirouosfones de ouvido.

De repente Mackquisfazer milperguntasoudizer milcoisas,algumasterríveis. Tinha a certeza de que seurostotraía asemoçõesque ele lutava para controlar e entãoenfioutudode volta nocoraçãosofrido.Se ela conhecia seuconflito interno,nãodemonstrounada pela expressão ainda aberta,cheia de vida e convidativa.

Possoperguntar oque você está escutando?

Um baratoda Costa Oeste.Éum discoque ainda nem foilançado,chamado Viagensdocoração,tocadopor uma banda chamada Diatribe.Na verdade ela piscoupara Mack ,essesgarotosainda nem nasceram.

Émesmo? reagiuMackbastante incrédulo. Um baratoda Costa Oeste, hein?Nãoparece muitoreligioso.

Ah,acredite:nãoé.Émaistipofunke blueseurasiano,com uma mensagem fantástica. Ela veiobamboleandona direçãode Mack,comose estivesse dançando,e bateupalmas.Mackrecuou.

EntãoDeusouve funk? Macknunca ouvira a palavra "funk"em qualquer contextoreligioso. Acheique você estaria ouvindouma música maisde igreja.

Ora,veja bem,Mackenzie.Você nãoprecisa ficar me rotulando.Euouço tudoe nãosomente a música propriamente dita,masoscoraçõesque estãopor trásdela.Nãose lembra de suasaulasna escola dominical?Essesgarotosnão estãodizendonada que eujá nãotenha ouvidoantes.Simplesmente sãocheiosde vinagre e gás.Muita raiva,e,devodizer,com um bocadode razão.Sãoapenas algunsdosmeusmeninosse mostrandoe fazendobeicinho.Gostoespecialmente dessesgarotos.É,vouficar de olhoneles.

Macklutoupara encontrar algum sentidonoque acontecia.Nada doque estudara na escola dominicalda igreja estava ajudando.Sentia-se subitamente sem palavrase todasassuasperguntaspareciam tê-loabandonado.Por issodeclarou oóbvio:

Você deve saber que chamá-la de Papaié meiocomplicadopara mim.

Ah,verdade? Ela olhou-ofingindosurpresa. Claroque sei.Sempre sei. Ela deuum risinho. Masdiga,por que você acha que é difícil?Porque é uma palavra familiar demaisoutalvezporque estoume mostrandocomo mulher,mãe ou...

Tudoissoé complicado interrompeuMackcom um risinhosem jeito.

Outalvezpor causa dosfracassosdoseupai?

Ele
quissaber:

Mackofegouinvoluntariamente.Nãoestava acostumadoa ver seussegredos maisprofundosvirem à superfície de modotãorápidoe explícito.A culpa e a raiva cresceram instantaneamente,e ele quisreagir com uma resposta sarcástica.Sentia que estava penduradosobre um abismosem fundoe teve medo de que,se deixasse algodaquilosair,perderia ocontrole de tudo.Procurouuma base segura,masfinalmente sóconseguiuresponder com osdentestrincados:

Talvezporque nunca conhecininguém a quem pudesse realmente chamar de papai.

Diante disso,ela pousoua tigela que estava aninhada em seubraçoe,deixando dentroa colher de pau,virou-se para Mackcom olhosgentis.Nãoprecisava dizer coisa alguma.

Ele viuimediatamente que ela entendia oque lhe ia na alma e de algum modo soube que ela gostava maisdele doque de qualquer pessoa.

Se você deixar,Mack,sereiopaique você nunca teve.A oferta era ao mesmotempoconvidativa e repulsiva.Ele sempre quisera um paiem quem pudesse confiar,masnãosabia se iria encontrá-loali,logocom alguém que não pudera proteger sua Missy.Um longosilênciopairouentre eles.Macknãosabia direitooque dizer e ela parecia nãoter pressa.

Se você nãofoicapazde cuidar de Missy,comopossoconfiar que cuide de mim?

Pronto,havia feitoa pergunta que oatormentara em todososdiasda Grande Tristeza.

Macksentiuorostose encher de um vermelhode raiva,enquantoolhava para o que agora considerava uma caracterizaçãoestranha de Deus,e percebeuque fechara ospunhoscom força.

Mack,sintomuito. Lágrimascomeçaram a descer pelorostodela. Seio tamanhodoabismoque issoabriuentre nós.Seique você ainda nãoentende,mas gostoespecialmente de Missy e de você também.

Mackadorouomodocomoela disse onome de Missy,masodiououvi-loditopor ela.

A palavra rolava na língua da mulher comoovinhomaisdoce e,apesar de toda a fúria que ainda rugia em sua mente,de algum modoele acreditouna sinceridade dela.Mackdesejava acreditar,e lentamente parte da raiva começou

a diminuir.

Épor issoque você está aqui,Mack continuouela.

Querocurar a ferida que cresceudentrode você e entre nós.Para ganhar algum controle,ele voltouosolhospara ochão.Passou-se um minutointeiroantesque tivesse energia suficiente para sussurrar sem levantar a cabeça:

Achoque eugostaria disso admitiu ,masnãovejocomo.

Querido,nãoexiste resposta fácilpara a sua dor.Acredite,se eutivesse uma, usaria agora.Nãotenhovarinha mágica para fazer com que tudofique bem.A vida custa um bocadode tempoe um monte de relacionamentos.

Mackficousatisfeitoporque estavam se afastandode sua acusaçãomedonha. Ficara apavoradocom a intensidade da própria raiva.

Achoque seria maisfácilter esta conversa se você nãoestivesse usandoum vestido ele sugeriu,tentandosorrir debilmente.

Se fosse maisfácil,eunãoestaria assim ela disse com um risinho. Não estoutentandotornar issomaisdifícilpara nenhum de nósdois.Maseste é um bom lugar para começar.Achoque começar tirandodocaminhoasquestõesque vêm da cabeça fazcom que asdocoraçãofiquem maisfáceisde ser trabalhadas...quandovocê estiver pronto.

Ela pegoude novoa colher de pau,de onde pingava algum tipode massa.

Mackenzie,eunãosoumasculinonem feminina,ainda que osdoisgêneros derivem da minha natureza.Se euescolhoaparecer para você comohomem ou mulher,é porque oamo.Para mim,aparecer comomulher e sugerir que você me chame de Papaié simplesmente para ajudá-loa nãosucumbir tão facilmente aosseuscondicionamentosreligiosos.Ela se inclinou,comose quisesse compartilhar um segredo.

Se eume revelasse a você comouma figura muitogrande,branca e com aparência de avôcom uma barba comprida,simplesmente reforçaria seus estereótiposreligiosos.Éimportante você saber que oobjetivodeste fim de semana nãoé reforçar essesestereótipos.

Mackquase riualto,ironizando,mas,em vezdisso,concentrou-se noque ela acabara de dizer e recuperoua compostura.Acreditava,pelomenosnocoração, que Deusera um Espírito,nem masculinonem feminino,mas,apesar disso,

sentiase embaraçadoaoadmitir que todasassuasconcepçõesvisuaisde Deus eram muitobrancase muitomasculinas.

Ela paroude falar enquantoguardava algunscondimentosnuma prateleira de temperose depoisvirou-se para encará-lode novo.Olhoupara Mackcom intensidade.

Nãoé verdade que você sempre teve dificuldade para me ver comoum pai? Depoisdoque passou,nãofica nada fácillidar com um pai,nãoé?

Ele sabia que ela estava certa e percebeua gentileza e a compaixãode sua atitude.De algum modo,a maneira comoela havia se aproximadodele diminuíra sua resistência a receber oamor oferecido.Era estranho,dolorosoe talvezaté um tantomaravilhoso.

Masentão ele parou,esforçando-se para se manter racional por que tanta ênfase em você ser um pai?Querodizer,este parece omodocomovocê maisse revela.

Bem respondeuPapaidando-lhe ascostase ocupandose na cozinha ,há muitosmotivospara isso,e algunssãomuitoprofundos.Por enquanto,deixe-me dizer que,assim que a Criaçãose degradou,nóssoubemosque a verdadeira paternidade faria muitomaisfalta doque a maternidade.Nãome entenda mal, asduascoisassãonecessárias,masé essencialuma ênfase na paternidade por causa da enormidade dasconseqüênciasda ausência da funçãopaterna.

Mackse virou,meioperplexo,sentindoque aquilojá estava indolonge demais. Enquantorefletia,olhoupela janela para um jardim de aparência selvagem.

Você sabia que euviria,nãoé? disse finalmente,baixinho.

Claroque sabia. Ela estava ocupada de novo,de costaspara ele.

Entãoeunãoestava livre para deixar de vir?Eunãotinha opção?

Papaise viroude novopara encará-lo,agora com farinha e massa nasmãos.

Boa pergunta;até que profundidade você gostaria de ir?

Ela nãoesperouresposta,sabendoque Macknãotinha.Em vezdisso,perguntou: Você acredita que está livre para ir embora?

Achoque sim.Estou?

Claroque está! Nãogostode prisioneiros.Você está livre para sair por essa porta agora mesmoe voltar para a sua casa vazia.Maseuseique você é curioso demaispara ir.Será que issoreduzsua liberdade de partir?

Ela parouapenasbrevemente e depoisvoltoupara sua tarefa,falandocom ele por cima doombro.

Se você quiser ir sóum pouquinhomaisfundo,poderíamosfalar sobre a natureza da própria liberdade.Será que liberdade significa que você tem permissãopara fazer oque quer?

Oupoderíamosfalar sobre tudooque limita a sua liberdade.A herança genética de sua família,seuDNA específico,seumetabolismo,asquestõesquânticasque acontecem num nívelsubatômicoonde sóeusoua observadora sempre presente. Existem asdoençasde sua alma que oinibem e amarram,asinfluênciassociais externas,oshábitosque criaram elose caminhossinápticosnoseucérebro.Ehá osanúncios,aspropagandase osparadigmas.Diante dessa confluência de inibidoresmultifacetados ela suspirou ,oque é de fatoa liberdade?

Mackficoualiparado,sem saber oque dizer.

Sóeupossolibertá-lo,Mackenzie,masa liberdade jamaispode ser forçada.

Nãoentendo.Nãoestouentendendooque você acaba de dizer. Ela se viroue sorriu.

Eusei.Nãofaleipara que você entendesse agora.Faleipara maistarde.No pontoem que estamos,você ainda nãocompreende que a liberdade é um processode crescimento.Estendendogentilmente asmãossujasde farinha,ela segurouasde Macke,olhando-odiretonosolhos,continuou:

Mackenzie,a Verdade irá libertá-lo,e a Verdade tem nome.Neste momento ele está na carpintaria,cobertode serragem.Tudotem a ver com ele.Ea liberdade é um processoque acontece dentrode um relacionamentocom ele. Entãotodasessascoisasque você sente borbulhandopor dentrovãocomeçar a sair.

Comovocê pode realmente saber comome sinto?

perguntouMack,encarando-a de volta.

Papainãorespondeu,apenasolhoupara asmãosdosdois.O

olhar de Mackseguiuodela,e pela primeira vezele notouascicatrizesnos punhosda negra,comoasque agora presumia que Jesustambém tinha nosdele. Ela permitiuque ele tocasse com ternura ascicatrizes,marcasde furosfundos,e finalmente Mackergueuosolhospara osdela.

Lágrimasdesciam lentamente pelorostode Papai,pequenoscaminhosatravés da farinha que empoava suasfaces.

Jamaispense que oque meufilhooptoupor fazer nãonoscustoucaro.O amor sempre deixa uma marca significativa ela declarou,baixinhoe gentilmente. Nósestávamoslá,juntos.Mackficousurpreso.

Na cruz?Espere aí,eupenseique você otinha abandonado.Você sabe:"Meu Deus,meuDeus,por que me abandonastes?" Era uma citação das Escrituras que freqüentemente assombrava Mackna Grande Tristeza.

Você nãoentendeuomistérionaquilo.Independentemente doque ele sentiu nomomento,eununca odeixei.

Comopode dizer isso?Você oabandonou,exatamente comome abandonou! Mackenzie,eununca oabandoneie nunca deixeivocê.

Issonãofaznenhum sentido reagiuele rispidamente.

Seique não,pelomenospor enquanto.Maspense nisto:quandotudoque consegue ver é sua dor,talvezvocê perca a visãode mim,nãoé?

QuandoMacknãorespondeu,ela retornouaotrabalhona cozinha,comose quisesse lhe oferecer um poucode um necessárioespaço.Parecia estar preparandováriospratosaomesmotempo,acrescentandotemperose

ingredientes.Cantarolandouma musiquinha repetitiva,deuosúltimosretoquesna torta que estava fazendoe enfiou-a noforno.

Nãose esqueça,a história nãoterminounosentimentode abandonode Jesus. Ele encontroua saída para se colocar inteiramente nasminhasmãos.Ah,que momentofoiaquele!

Mackse encostouna bancada um tantoperplexo.Suasemoçõese pensamentos estavam todosmisturados.Parte dele queria acreditar em tudoque Papaidizia. Seria ótimo! Masoutra parte questionava ruidosamente:"Issonãopode ser verdade! "Papaipegouocronômetroda cozinha,girou-ode leve e colocou-ona mesa diante deles.

Nãosouquem você acha,Mackenzie. Aspalavrasdela nãoeram raivosas nem defensivas

Mackolhoupara ela,olhoupara ocronômetroe suspirou. Estoume sentindototalmente perdido.

Entãovejamosse podemosencontrá-lonomeiodessa confusão.

Quase comose tivesse recebidoa deixa,um pássaroazulpousounoparapeitoda janela e começoua pular para tráse para a frente.Papaienfioua mãonuma lata sobre a bancada e,abrindoa janela,ofereceuaopássarouma mistura de grãosque ela devia guardar exatamente para isso.Sem qualquer hesitaçãoe com aparente ar de humildade e gratidão,opássarofoidiretopara a mãodela e começoua comer.

Considere nossoamiguinhoaqui começouela. A maioria dospássaros foicriada para voar.Para eles,ficar nosoloé uma limitaçãode sua capacidade de voar,e nãoocontrário. Ela paroupara deixar que Mackpensasse nisso. Você,por outrolado,foicriadopara ser amado.

Assim,para você,viver comose nãofosse amadoé uma limitação,e nãoo contrário.

Mackassentiu,nãoporque concordasse completamente,massinalizandoque entendia e estava acompanhando.O que ela dizia era bastante simples.

Viver sem ser amadoé comocortar asasasde um pássaroe tirar sua capacidade de voar.Nãoé algoque euqueira para você.Aíé que estava.No

momentoele nãose sentia particularmente amado.

Mack,a dor tem a capacidade de cortar nossasasase nosimpedir de voar. Ela esperouum momento,permitindoque suaspalavrasse assentassem. E,se essa situaçãopersistir por muitotempo,você quase pode esquecer que foicriado originalmente para voar.

Mackficouquieto.Estranhamente,osilêncionãoera tãodesconfortávelassim.

Olhouopássaro.O pássaroolhoude volta para Mack.Ele imaginouse seria possívelospássarossorrirem.Pelomenosaquele parecia capaz.

Nãosoucomovocê,Mack.

Nãoera uma repreensão,e sim a simplesdeclaraçãode um fato.Maspara Mack foicomoum banhode água gelada.

SouDeus.Souquem sou.E,aocontráriode você,minhasasasnãopodem ser cortadas.

Bom,é maravilhosopara você,masonde,exatamente,issome deixa? reagiuMack,parecendomaisirritadodoque gostaria.Papaicomeçoua acariciar opássaro,aproximou-odorostoe disse:

Exatamente nocentrodomeuamor!

Estouachandoque esse pássaroprovavelmente entende issomelhor doque eu foiomáximoque Mackconseguiudizer.

Eusei,querido.Por issoestamosaqui.Por que você acha que eudisse que não soucomovocê?

Bom,realmente nãofaçoidéia.Quer dizer,você é Deuse eunãosou. Ele nãoconseguiuafastar osarcasmoda voz,masela oignoroucompletamente.

É,masnãoexatamente.Pelomenosnãodomodocomovocê está pensando. Mackenzie,eusouoque algunschamariam de "sagradoe totalmente diferente de você".O problema é que muitaspessoastentam entender um poucooque eusou pensandonomelhor que elaspodem ser,projetandoissoaoenésimograu, multiplicandopor toda a bondade que sãocapazesde perceber que freqüentemente nãoé muita ,e depoischamam oresultadode Deus.E, embora possa parecer um esforçonobre,a verdade é que fica lamentavelmente distante doque realmente sou.Soumuitomaisdoque isso,souacima e além de

tudooque você possa perguntar oupensar.

Lamento,maspara mim issonãopassa de palavras.Eelasnãofazem muito sentido. Mackdeude ombros.

Mesmoque você nãoconsiga finalmente me compreender,sabe de uma coisa?Ainda queroser conhecido.

Você está falandode Jesus,nãoé verdade?Está me lembrandoasaulasde catecismo:"Vamostentar entender a Trindade"?

Ela deuum risinho.

Maisoumenos,masaquinãoé a escola dominical.Éuma aula de vôo. Mackenzie,comovocê pode imaginar,há algumasvantagensem ser Deus.Por natureza,soucompletamente ilimitada,sem amarras.

Sempre conhecia plenitude.Minha condiçãonormalde existência é um estado de satisfaçãoperpétua disse ela,bastante satisfeita. Éapenasuma das vantagensde Euser Eu.IssofezMacksorrir.A mulher estava se divertindomuito com ela mesma e nãohavia um pingode arrogância para estragar aquilo.

Nóscriamosvocêspara compartilhar isso.MasentãoAdãooptoupor ficar sozinho,comosabíamosque iria acontecer,e tudose estragou.

Mas,em vezde varrer toda a Criação,arregaçamosasmangase entramosno meioda bagunça.Foioque fizemosem Jesus.

Mackestava parado,esforçando-se aomáximopara acompanhar ofiodos pensamentosdela.

Quandonóstrêspenetramosna existência humana soba forma doFilhode Deus,nostornamostotalmente humanos.Também optamospor abraçar todasas limitaçõesque issoimplicava.Mesmoque tenhamosestadosempre presentes nesse universocriado,entãonostornamoscarne e sangue.Seria comose este pássaro,cuja natureza é voar,optasse somente por andar e permanecer nochão. Ele nãodeixa de ser pássaro,masissoaltera significativamente sua experiência de vida.

Ela paroupara se certificar de que Mackainda estava acompanhandoseu raciocínio.

Embora houvesse uma dor nítida se formandoem seucérebro,ele fezum gesto, convidando-a a continuar.

Ainda que por natureza Jesusseja totalmente Deus,ele é totalmente humanoe vive comotal.Ainda que jamaistenha perdidosua capacidade inata de voar,ele opta,momentoa momento,por ficar nochão.Por issoseunome é Emanuel,Deusconosco,ouDeuscom vocês,para ser mais exata.

Mas...e todososmilagres?Ascuras?Ressuscitar osmortos?Issonãoprova que Jesusera Deus...você sabe,maisdoque humano?

Não,issoprova que Jesusé realmente humano.

O quê?

Mackenzie,eupossovoar,masoshumanos,não.Jesusé totalmente humano.Apesar de ele ser também totalmente Deus,nunca aproveitousua natureza divina para fazer nada.Apenasviveuseurelacionamento comigodomodocomoeudesejoque cada ser humanoviva.Ele foi simplesmente oprimeiroa levar issoaté asúltimasinstâncias:oprimeiroa colocar minha vida dentrodele,oprimeiroa acreditar nomeuamor e na minha bondade,sem considerar aparênciasouconseqüências.

Equandoele curava oscegos?

Fezissocomoum ser humanodependente e limitadoque confia na minha vida e nomeupoder de trabalhar com ele e atravésdele.Jesus,comoser humano,nãotinha poder para curar ninguém. Issofoium choque para ascrençasreligiosasde Mack.

Sóenquantoele repousava em seurelacionamentocomigoe em nossa comunhão,nossa comum-união,ele se tornava capazde expressar meucoração e minha vontade em qualquer circunstância determinada.Assim,quandovocê olha para Jesuse parece que ele está voando,na verdade ele está...voando.Mas oque você está realmente vendosoueu,minha vida nele.Éassim que ele vive e age comoum verdadeiroser humano,comocada humanoestá destinadoa viver: a partir da minha vida.Econtinuou:

Um pássaronãoé definidopor estar presoaochão,maspor sua capacidade de voar.Lembre-se disso:ossereshumanosnãosãodefinidospor suas

limitações,e sim pelasintençõesque tenhopara eles.

Nãopeloque parecem ser,maspor tudoque significa ser criadoà minha imagem.

Macksentiunecessidade de sentar-se.Percebeuque precisaria de um certo tempopara compreender todasaquelasinformações.

Papaicolocouopássarosobre a mesa,pertode Mack,virouse para abrir oforno e deuuma olhadinha na torta que estava assando.Satisfeita porque tudoia bem, puxouuma cadeira para perto.Mackolhouopássaroque,espantosamente, parecia contente em apenasficar alicom eles.O absurdodaquilofezMackdar um risinho.

Para começar,é bom que você nãoconsiga entender a maravilha da minha natureza.Quem quer adorar um Deusque pode ser totalmente compreendido, hein?Nãohá muitomistérionisso.

Masque diferença fazofatode haver trêsde vocêse que todossejam um só Deus?Éissomesmo?

É,sim. Ela riu. Mackenzie,faztoda a diferença domundo! Ela parecia estar gostandodaquilo. Nãosomostrêsdeusese nãoestamosfalando de um deuscom trêsatitudes,comoum homem que é marido,paie trabalhador. Souum sóDeuse soutrêspessoas,e cada uma dastrêsé totale inteiramente o um.O "hã"que Mackestivera retendoveiofinalmente à superfície com toda a força.

Nãoimporta continuoua mulher. O importante é oseguinte:se eufosse simplesmente Um Deuse Uma Pessoa,você iria se encontrar nesta Criaçãosem algomaravilhoso,sem algoque é essencial Eeuseria absolutamente diferente doque sou.

Enósestaríamossem...? Macknem sabia comoterminar a pergunta.

Amor e relacionamento.Todoamor e relacionamentosó sãopossíveispara vocêsporque já existem dentrode Mim,dentrodopróprio Deus.O amor nãoé a limitação.O amor é ovôo.Eusouoamor.

Comoque em resposta à declaraçãodela,opássaropartiuvoandopela janela. Olhá-lovoandocausouum intensodeleite.Mackvirou-se de volta para Papaie olhou-a maravilhado.Ela era muitolinda e espantosa e,apesar de estar se

sentindomeioperdidoe de a Grande Tristeza ainda oacompanhar,percebeu crescendodentrodele um poucode segurança por estar pertodela.

Entenda oseguinte continuouPapai. Para que eutenha um objetopara amar ou,maisexatamente,um alguém para amar,é precisoque exista esse relacionamentodentrode mim.Casocontrário,eunãoseria capazde amar.

Você teria um deusincapazde amar.Ou,talvezpior,você teria um deusque, quandoescolhesse amar,sópoderia fazê-locomouma limitaçãode sua natureza. Esse tipode deuspossívelmente poderia agir sem amor e seria um desastre.E issocertamente nãosoueu.

Papaise levantou,foiaté a porta doforno,tiroua torta recém-assada,colocou-a na bancada e,virando-se comose fosse se apresentar,disse:

O Deusque é,o"eusouquem eusou",nãopode agir fora doamor!

Macksoube que,por maisdifícilde entender que fosse,oque estava escutando era algoespantosoe incrível.Comose aspalavrasdela estivessem se enrolando nele,envolvendo-oe falandocom ele de maneirasque iam além doque ele poderia ouvir.Nãoque acreditasse de fatoem nada daquilo.Se aomenosfosse verdade! Sua experiência lhe dizia ocontrário.

Este fim de semana tem a ver com relacionamentoe amor.Bom,euseique você tem um monte de coisaspara me dizer,masneste momentoé melhor ir se lavar.Osoutrosdoisestãovindopara ojantar. Ela foiandando,masparoue virou-se.

Mackenzie,seique seucoraçãoestá cheiode dor,de raiva e de muita confusão.Nósdoisvamosfalar um poucodissoenquantovocê estiver aqui.Mas também queroque saiba que estãoacontecendomaiscoisasdoque você pode imaginar ouentender.Procure usar aomáximoa confiança que tiver em mim, mesmoque ela seja pequena,está bem?

Mackbaixara a cabeça e olhava para ochão."Ela sabe",pensou.Pequena? "Pequena"oupraticamente nada?Confirmandocom a cabeça,olhoupara cima e notounovamente ascicatrizesnospulsosdela

Papai? disse Mackmuitosem jeito.

O que é,querido?

Macklutoupara encontrar aspalavrasque expressassem oque lhe ia nocoração.

Lamentomuitoque você,que Jesustivesse de morrer.Ela rodeoua mesa e deuoutrogrande abraçoem Mack.

Seique lamenta e agradeço.Masvocê precisa saber que nósnãolamentamos nem um pouco.Valeua pena.Nãoé,filho?

Ela se viroupara fazer a pergunta a Jesus,que havia acabadode entrar nochalé.

Sem dúvida! Ele fezuma pausa e depoisolhoupara Mack. Eeuteria feitoaquilomesmoque fosse somente por você.Masnãofoi! disse com um sorrisoacolhedor.

Mackpediulicença e saiuem direçãoaobanheiro.Lavouasmãose orostoe tentourecuperar a compostura.

7.DEUSNOCAIS

Rezemospara que a raça humana jamaisescape da Terra para espalhar sua iniqüidade em outros lugares C.S.Lewis

Mackficouparadonobanheiroolhandooespelhoenquantoenxugava orosto com uma toalha.

Procurava algum sinalde insanidade naquelesolhosque oespiavam de volta. Aquiloseria real?

Claroque não,era impossível.Masentão...Estendeua mãoe tocoulentamente o espelho.

Talvezfosse uma alucinaçãotrazida por todooseusofrimentoe desespero. Talvezfosse um sonhoe ele estivesse dormindoem algum lugar,quem sabe na cabana,morrendocongelado.

Talvez...de repente um estrondoterrívelrompeuseudevaneio.Vinha da direção da cozinha e deixouMackparalisado.Por um momento

um silêncio mortal e

depois,inesperadamente,gargalhadasretumbantes.Curioso,saiudobanheiroe enfioua cabeça pela porta da cozinha.Mackficouchocadodiante da cena.Jesus deixara cair uma grande tigela com algum tipode massa oumolhonochão,e a coisa tinha se espalhadopor toda parte.A barra da saia de Papaie seuspés descalçosestavam cobertospela massa gosmenta.Sarayudisse alguma coisa sobre a falta de jeitodoshumanose ostrêscaíram na risada.Por fim,Jesus passoupor Macke voltoucom toalhase uma grande bacia de água.Sarayujá estava começandoa limpar a sujeira dochãoe dosarmários,masJesusfoi diretoaté Papaie,ajoelhando-se aospésdela,começoua limpar a frente de seu vestido.Gentilmente levantouum pé de cada veze colocouosdoisna bacia,onde oslimpoue massageou.

Uuuuuh,issoé tããããobom! exclamouPapai.

Encostadonoportal,Macknãoparava de pensar.EntãoDeusera assim no relacionamento?Muitolinda e atraente! Ele sabia que ninguém estava em busca doculpadopela sujeira dochão,pela tigela quebrada oupor um pratoque não seria compartilhado.Era óbvioque oque realmente importava era oamor que elessentiam unspelosoutrose a plenitude que esse amor lhestrazia.Balançoua cabeça.Comoissoera diferente da maneira comoele tratava seusentes queridos!

Embora simples,ojantar foium banquete.Algum tipode ave assada com uma espécie de molhode laranja,manga e alguma outra coisa,verdurasfrescas temperadascom sabe-se lá oquê,com gostode fruta e de gengibre,e arrozde uma qualidade que Mackjamaishavia provado.Por hábito,abaixoua cabeça para rezar.Levantou-a e viuostrêsrindopara ele.Meiosem jeito,disse: Ah,obrigadoa vocêstodos...Alguém pode me passar oarroz?

Claro.Nósíamoster um molhojaponêsincrível,masosem-jeitoali Papai acenouna direçãode Jesus decidiuver se a tigela quicava.

houve

Ah,qualé? respondeuJesusnum arremedode defesa.

Minhasmãosestavam escorregadias.

Papaipiscoupara Mackenquantolhe passava oarroz.

Nãose consegue bonsempregadospor aqui Todomundoriu.

A conversa parecia quase normal.Pediram que Mackfalasse de cada um dos filhos,menosde Missy,e ele contoudasváriaslutase conquistasdeles.Quando faloude suaspreocupaçõescom Kate,ostrêsapenasassentiram com uma expressãosolidária,masnãoofereceram nenhum conselho.Ele também respondeua perguntassobre osamigos,e Sarayupareceumaisinteressada em perguntar por Nan.Finalmente Mackconseguiudizer uma coisa que o incomodara durante toda a conversa.

Bom,estouaquifalandosobre meusfilhos,meusamigose sobre Nan,mas vocêsjá sabem tudooque voudizer,nãoé?Vocêsestãoagindocomose ouvissem pela primeira vez.

Sarayuestendeua mãopor cima da mesa e seguroua dele.

Mackenzie,lembra-se da nossa conversa anterior sobre limitação?

Nossa conversa? Ele olhoupara Papai,que assentiucomoquem sabe das coisas.

Você nãopode compartilhar com um de nóssem que compartilhe com todos disse Sarayue sorriu. Lembre-se dasmuitasvezesem que escolheusentar nochãopara facilitar um relacionamento,para honrá-lo.Mackenzie,você faz issofreqüentemente.Você nãobrinca com uma criança oucolore uma figura com ela para mostrar sua superioridade.Pelocontrário,você escolhe se limitar para facilitar e honrar orelacionamento.Você é até capazde perder uma competiçãocomoum atode amor.Issonãotem nada a ver com ganhar e perder,e sim com amor e respeito.

Entãooque acontece quandoestoufalandocom vocêssobre meusfilhos?

Nósnoslimitamospor respeitoa você.Nãoestamostrazendoà mente,por assim dizer,nossoconhecimentosobre seusfilhos.Ouvimoscomose fosse a primeira veze temosenorme prazer em conhecê-losatravésdosseusolhos.

Gostodisso refletiuMack,recostando-se na cadeira.Sarayuapertoua mão dele e pareceuse recostar.

Eutambém! Osrelacionamentosnãotêm nada a ver com poder.Nunca! E um modode evitar a vontade de exercer poder é

escolher se limitar e servir.Oshumanoscostumam fazer issoquandocuidam dos enfermos,quandoservem osidosos,quandose relacionam com ospobres, quandoamam osmuitovelhose osmuitonovos,ouaté mesmoquandose importam com aquelesque assumiram uma posiçãode poder sobre eles.

Bem falado,Sarayu disse Papai,com orostoluzindode orgulho. Eu cuidodospratosdepois.Masprimeirogostaria de ter um tempopara as devoções.

Mackteve de conter um risinhodiante da idéia de Deusfazendoorações. Imagensde devoçõesfamiliaresde sua infância vieram se derramar em seu pensamento.Enãoeram exatamente boaslembranças.

Com freqüência consistiam em um exercíciotediosode dar asrespostascertas, oumelhor,asmesmasvelhasrespostasàsmesmasvelhasperguntassobre históriasda Bíblia e depoistentar ficar acordadodurante asorações exaustivamente longasde seupai.E,quandoopaitinha bebido,asoraçõesda família sempre se tornavam um terrível campo minado, onde qualquer resposta errada ouum olhar distraídoprovocava uma explosão.Ficou esperandoque Jesuspegasse uma velha versãoda Bíblia.

Em vezdisso,Jesusestendeuasmãossobre a mesa e segurouasde Papai,com ascicatrizesagora claramente visíveis.Mackficousentado,em extremofascínio,

vendoJesusbeijar asmãosdoPai,depoisolhar fundonosseusolhose finalmente dizer:

Papai,adoreiver comohoje você se tornoucompletamente disponívelpara assumir a dor de Macke deixar que ele escolhesse seupróprioritmo.Você o honroue me honrou.Ouvir você sussurrar amor e calma nocoraçãodele foirealmente incrível.Que alegria imensa ver isso! Adoroser seufilho.

Embora Mackse sentisse um intruso,ninguém pareceuse preocupar e,de qualquer modo,ele nãotinha idéia de para onde ir.Presenciar a expressão de tamanho amor parecia deslocar qualquer entrave lógicoe,ainda que ele nãosoubesse exatamente oque sentia,era muitobom.

Estava testemunhandoalgosimples,caloroso,íntimoe verdadeiro.Issoera sagrado.A santidade sempre fora um conceitofrioe estérilpara Mack,masisso era diferente.Preocupadoem nãofazer qualquer gesto que perturbasse aquele momento, simplesmente fechouosolhose cruzouasmãos.Ouvindoatentamente de olhos

fechados,sentiuJesusmexer a cadeira.Houve uma pausa antesque ele falasse de novo:

Sarayu começouJesuscom suavidade e ternura ,você lava,euenxugo. Osolhosde Mackse abriram rapidamente,a tempode ver osdoissorrirem afetuosamente um para ooutro,pegarem ospratose desaparecerem na cozinha. Ficousentadoalgunsminutossem saber oque fazer.Papaitinha idoa algum lugar e osoutrosdoisestavam ocupadoscom ospratos.A decisãofoifácil.Pegou ostalherese oscopose levou-ospara a cozinha.Assim que entrou,Jesuslhe jogouum panoe,enquantoSarayulavava ospratos,osdoiscomeçaram a enxugar.

Sarayucomeçoua cantarolar uma música evocativa que ele havia escutado Papaicantar Maisuma veza melodia mexeunofundode Mack,despertando lembrançase emoções.Se pudesse permanecer ouvindoaquela canção, aceitaria ficar enxugandoospratospelorestoda vida.

Cerca de 10minutosdepoishaviam acabado.Jesusdeuum beijonorostode Sarayue ela desapareceunocorredor.Em seguida ele sorriupara Mack.

Vamosaocaisolhar asestrelas.

Eosoutros? perguntouMack.

Estouaqui respondeuJesus. Sempre estouaqui.Mackassentiu.Esse negócioda presença de Deus,embora difícilde entender,parecia estar penetrandoconstantemente em sua mente e em seucoração.Por issorelaxou.

Vamos disse Jesus,interrompendoseuspensamentos.

Seique você gosta de olhar asestrelas! Parecia uma criança cheia de ansiedade e expectativa.

É,achoque gosto respondeuMack,percebendoque a última vezem que fizera issofora na maldita viagem com ascrianças.Talveztivesse chegadoa hora de correr algunsriscos.SeguiuJesus,saindopela porta dosfundos.Nos momentosfinaisdocrepúsculo,Mackpodia ver a margem rochosa dolago,não cheia de matoaltocomoele recordava,maslindamente cuidada e perfeita como uma pintura.O riachoalipertoparecia cantarolar algum tipode música.

Projetando-se cerca de 15metrossobre olagohavia um caise Mackmal conseguiuvislumbrar trêscanoasamarradasnele.A noite ia caindodepressa e a escuridãodistante já estava cheia dossonsde grilose sapos.Jesuspegou-opelo

braçoe guiou-opelocaminhoenquantoseusolhosse ajustavam,masMackjá estava olhandopara uma noite sem luar,com oespantodasestrelasemergindo.

Chegaram aomeiodocaise se deitaram de costas,olhandopara cima.A altitude dolugar parecia ampliar océue Mackadorouver a imensidãodoespaçotão claramente estrelada.Jesussugeriuque fechassem osolhospor algunsminutos, permitindoque osúltimosclarõesdocrepúsculodesaparecessem.Mack obedeceue,quandofinalmente abriuosolhos,a visãofoitãopoderosa que por algunssegundosele experimentouuma espécie de vertigem.Era quase comose estivesse caindonoespaço,com asestrelascorrendoem sua direçãopara abraçá-lo.Levantouasmãosimaginandoque podia colher diamantes,um a um, de um céude veludonegro.

Uau! exclamou.

Incrível! sussurrouJesus,com a cabeça pertoda de Macknoescuro. Nunca me cansode ver isso. Mesmoque você tenha criado?

Eucrieiquandoera oVerbo,antesque oVerbose tornasse Carne.De modo que,mesmotendocriadotudoisso,agora vejocomohumano.Eacho impressionante!

Émesmo. Macknãosabia comodescrever oque sentia,masenquanto continuavam deitadosem silêncio,olhandooespetáculocelestialnum espanto reverente,observandoe ouvindo,soube em seucoraçãoque issotambém era sagrado.

Estrelascadentesocasionaischamejavam numa trilha breve cortandoonegrume da noite e fazendoum ououtroexclamar: Viuaquilo?Que maravilha!

Depoisde um silêncioparticularmente longo,Mackfalou:

Eume sintomaisconfortávelpertode você.Você parece muitodiferente delas.

Comoassim,diferente? a vozsuave de Jesusemergiuda escuridão.

Bom. Mackfezuma pausa enquantopensava. Maisrealoupalpável. Nãosei. Lutoucom aspalavrase Jesusficoudeitadoem silêncio,esperando. Écomose eusempre tivesse conhecidovocê.MasPapainãoé nem um

poucooque euesperava de Deuse Sarayué muitoestranha.

Jesusdeuum risinhonoescuro.

Comoeusouhumano,nóstemosmuitomaisem comum. Mas,mesmoassim,nãoentendo

Eusouomelhor modoque qualquer humanopode ter de se relacionar com Papaioucom Sarayu.Me ver é vê-las.E,acredite,Papaie Sarayusãotãoreais quantoeu,embora,comovocê viu,de maneirasmuitodiferentes.

Por falar em Sarayu,ela é oEspíritoSanto?

É.ÉCriatividade,é Ação,é oSoproda Vida.Eé muitomais.Ela é omeu Espírito.

Eonome dela,Sarayu?

Éum nome simplesde uma dasnossaslínguashumanas.Significa "Vento",na verdade um ventocomum.Ela adora esse nome.

Humm resmungouMack. Nãohá nada de muitocomum nela!

Issoé verdade. Eonome que Papaimencionou,El...Elo...

Elousia disse a vozreverentemente noescuro,aoladodele. Esse é um nome maravilhoso.Elé meunome comoDeusCriador,masousia é "ser",ou "aquiloque é verdadeiramente real",de modoque onome significa "oDeus Criador que é verdadeiramente reale a base de todooser".Issoé que é um nome bonito!

Houve silênciopor um minutoenquantoMackpensava noque Jesushavia dito. Entãoonde é que issonosdeixa?

Ele sentia comose estivesse fazendoa pergunta em nome de toda a raça humana.

Bem,onde vocêssempre se destinaram a estar.Noprópriocentrodonosso amor e donossopropósito.

De novouma pausa e depois:

Achoque possoviver com isso.

Jesusdeuum risinho.

Ficofelizem saber e osdoisriram.Ninguém faloupor um tempo.O silênciohavia baixadocomoum cobertor e tudode que Macktinha realmente consciência era dosom da água batendonocais.Novamente ele rompeuo silêncio.

Jesus?

O que é,Mackenzie?

Estousurpresocom uma coisa em você.

Verdade?O quê?

Achoque euesperava que você fosse mais... Cuidadoaí,Mack. Ah... bem,humanamente marcante.

Jesusriu.

Humanamente marcante?Quer dizer bonito? Agora ele estava gargalhando.

Bom,euestava tentandoevitar dizer assim,masé.De algum modoacheique você seria ohomem ideal,você sabe,atléticoe de uma beleza avassaladora.

Êomeunariz,nãoé?

Macknãosoube oque dizer.

Jesusriu

Eusoujudeu,você sabe.Meuavômaternotinha um narigão.Na verdade,a maioria doshomensdomeuladomaternotinha narizgrande.

Sópenseique você teria uma aparência melhor.

De acordocom que padrão?De qualquer modo,quandovocê me conhecer melhor,issonãovaiimportar.

Mesmoditascom gentileza,aspalavrasmachucaram.Machucaram oquê, exatamente?Mackficoudeitadopor algunssegundose percebeuque,por mais que pensasse que conhecia Jesus,talveznãoconhecesse...ouconhecesse mal.

Talvezoque conhecesse fosse um ícone,um ideal,uma imagem atravésda qual tentava captar um sentimentode espiritualidade,masnãouma pessoa real.

Por que isso? perguntoufinalmente. Você disse que,se euoconhecesse de verdade,sua aparência nãoimportaria...

Na verdade é bem simples.O ser sempre transcende a aparência.Assim que você começa a descobrir oser que há por trásde um rostomuitobonitooumuito feio,de acordocom seusconceitose preconceitos,asaparênciassuperficiais somem até simplesmente nãoimportarem mais.Por issoElousia é um nome tão maravilhoso.Deus,que é a base de todooser,mora dentro,em volta e através de todasascoisas,e emerge em última instância comooreal.Qualquer aparência que mascare essa verdade está destinada a cair.

Seguiu-se um silêncioenquantoMackrefletia sobre oque Jesushavia dito Desistiudepoisde apenasum oudoisminutose decidiufazer a pergunta mais arriscada.

Você disse que eunãooconheçode verdade.Seria muitomaisfácilse pudéssemossempre conversar assim.

Admito,Mack,que essa conversa é especial.Você estava realmente travadoe nósqueríamosajudá-loa se arrastar para fora da dor.Masnãofique achando que porque nãosouvisívelnossorelacionamentoprecise ser menosreal.Será diferente,talvezaté maisreal.

Comoassim?

Meupropósito,desde oinício,era viver em você e você viver em mim.

Espere,espere.Espere um minuto.Comoissopode acontecer?Se você ainda é totalmente humano,comopode estar dentrode mim?

Espantoso,nãoé?Éomilagre de Papai.Éopoder de Sarayu,meuEspírito,o Espíritode Deusque restaura a uniãoque foiperdida há tantotempo.Eu?A cada momentoeuescolhoviver totalmente humano.Soutotalmente Deus,massou humanoaté oâmago.Comoeudisse,é omilagre de Papai. Mackestava deitadonoescuroouvindocom atenção.

Você está falandode uma moradia reale nãosomente de uma questão teológica?

Claro respondeuJesuscom a vozforte e segura. O humano,formadoa partir da criaçãomateriale física,pode ser totalmente habitadopela vida espiritual,a minha vida.Issoexige a existência de uma união muitoreal,dinâmica e ativa.

Équase inacreditável! exclamouMackbaixinho. Eunãofazia idéia. Precisopensar maisnisso.Mastalvezeutenha outromonte de perguntas.

Etemostoda a sua vida para respondê-las riuJesus. Maspor enquantochega disso.Vamosnosperder de novona noite estrelada. Nosilêncioque se seguiu,Macksimplesmente ficouparado,permitindoque a enormidade doespaçoe da luminosidade esparsa o fizesse sentir-se pequeno, deixando suas percepções serem capturadaspela luzdasestrelase pela idéia de que tudotinha a ver com ele com a raça humana que toda aquela magnífica criaçãoera para a humanidade.Depoisdoque pareceuum longotempo,Jesusrompeuosilêncio.

Nunca voume cansar de olhar para isso.A maravilha de tudo,o esbanjamentoda Criação,comodisse um dosnossosirmãos.Tãoelegante,tão cheia de desejoe beleza,mesmoagora.

Sabe reagiuMack,novamente abaladopeloabsurdoda situação,pelolugar onde estava,pela pessoa aoseulado ,algumasvezesvocê parece tão...quero dizer,aquiestoueu,pertode DeusTodo-Poderoso,e na verdade você parece tão...

Humano? sugeriuJesus. Masfeio. Ecomeçoua rir,primeiro baixinhoe contido,depoisàsgargalhadas.Era contagiosoe Mackdeixou-se levar num risoque vinha de algum lugar bem nofundo.Nãoria a partir daquele lugar havia muitotempo.

Jesusestendeua mãoe oabraçou,sacudidopor seusprópriosespasmosde riso,e Mackse sentiumaislimpo,vivoe bem desde...bom,nãoconseguia se lembrar desde quando.Osdoisacabaram se aquietandoe osilêncioda noite se impôs maisuma vez.Mackficouparado,se dandoconta da culpa por estar se divertindo e rindo.Mesmonoescuro,sentiua Grande Tristeza chegar e encobri-lo.

Jesus? sussurroucom a vozembargada. Eume sintomuitoperdido. Uma mãose estendeue ficouapertandoa sua.

Eusei,Mack.Masnãoé verdade.Lamentose a sensaçãoé

essa,masouça com clareza:você nãoestá perdido.

Esperoque você esteja certo respondeuMack,com a tensãoafrouxada pelaspalavrasdoamigorecém-encontrado.

Venha disse Jesus,levantando-se e estendendoa mãopara Mack. Você tem um grande dia pela frente.Voulevá-lopara a cama.

Passouobraçopeloombrode Macke juntosandaram para ochalé.De repente,Macksentiu-se exausto.O dia fora longo.Talvezacordasse em casa,na sua cama,depoisde uma noite de sonhosvividos.Masem algum lugar dentrode siesperava estar errado.

8.UM CAFÉDA MANHÃ DECAMPEÕES

"Crescer significa mudar e mudar envolve riscos,uma passagem doconhecidopara o desconhecido."

Autor desconhecido

Quandochegounoquarto,Mackdescobriuque asroupasque havia deixadono carroestavam dobradasem cima da cômoda oupenduradasnoarmário.Achou engraçadoencontrar uma Bíblia na mesinha-de-cabeceira.Escancaroua janela para deixar que oar da noite entrasse livremente,algoque Nanjamaistolerava

em casa porque tinha medode aranhase de qualquer coisa rastejante.Aninhado comouma criança pequena debaixodogrossoedredom,havia lidoapenasdois versículosda Bíblia quandoolivrosaiude sua mão,a luzse apagou,alguém deulhe um beijonorostoe ele foilevantadosuavemente dochão,num sonhoem que voava.Quem nunca voouassim talveznãoacredite que seja possível,masno fundosente um poucode inveja.Havia anosque ele nãotinha esse tipode sonho, pelomenosdesde que a Grande Tristeza baixara,masnessa noite Mackvooualto na noite estrelada,atravésdoar límpidoe frio,sem qualquer desconforto. Sobrevooulagose rios,atravessouum litoraloceânicoe váriasilhotascercadas de recifes.

Por maisestranhoque pareça,Mackaprendera com seussonhosa voar erguendo-se dochãosem ser sustentadopor nada

sem asas,sem qualquer tipode aparelho,apenasele.Osvôosinicialmente o elevavam a algunscentímetrosdochão,por causa domedode cair.Aospoucos ele foiadquirindoconfiança e se alçandomaisalto,descobrindoque a queda não era dolorosa,apenasum pequenoricochete em câmara lenta.Com otempo, aprendeua ascender até asnuvens,cobrir vastasdistânciase pousar suavemente.

Enquantoplanava à vontade sobre montanhasescarpadase praiasde um branco cristalino,usufruía a maravilha dosonhode voar.Subitamente,algooagarrou pelotornozeloe opuxoupara baixo Em questãode segundosfoiarrastadodas alturase jogadoviolentamente,de cara,numa estrada lamacenta e muito esburacada.O trovãosacudia osoloe a chuva oencharcouinstantaneamente até osossos.Etudoveiode novo,raiosiluminandoorostode sua filha enquantoela gritava "Papai! "sem emitir nenhum som e se virava e corria para a escuridão,o vestidovermelhovisívelapenaspor algunsclarõesbrevese depoissumindo. Macklutoucom todasasforçaspara se soltar da lama e da água,masfoisendo sugadopara maisfundo.Nomomentoem que estava submergindo,acordou ofegando

Com ocoraçãodisparadoe a imaginaçãopresa àsimagensdopesadelo, demoroualgunsinstantespara perceber que fora somente um sonho.Mas, mesmoque osonhofosse sumindoda consciência,asemoçõespermaneceram. O sonhohavia provocadoa Grande Tristeza e,antesque ele pudesse sair da cama,estava de novoprocurandoum caminhoatravésdodesesperoque viera devorandomuitosdosseusdias.

Olhouaoredor doquarto,nocinza opacode antesdoamanhecer que chegava sorrateiramente dooutroladodospostigosda janela.Aquele nãoera seuquarto, nada parecia familiar.Onde estava?Pense,Mack,pense! Entãose lembrou.

Ainda estava na cabana com aquelastrêsfigurasinteressantese todasastrês achavam que eram Deus.

Issonãopode estar acontecendode verdade resmungou,enquantopunha os péspara fora da cama e se sentava na beira com a cabeça nasmãos.Pensouno dia anterior e de novosentiumedode estar enlouquecendo.Comonunca fora uma pessoa muitochegada a contatosfísicose a emoções,Papai ouquem quer que fosse odeixara nervoso,e ele nãofazia idéia doque pensar a respeitode Sarayu.Admitiuque gostava um bocadode Jesus,masele parecia o menosdivinodostrês. Soltouum suspirofundoe pesado.E,se Deusestava realmente ali,por que não havia afastadoseuspesadelos?

Ficar se debatendocom um dilema nãoiria ajudar Por issofoiaté obanheiro, onde,para sua perplexidade,tudode que precisava para tomar um banhode chuveirofora cuidadosamente arrumado.Demorouum temponocalor da água, depoisbarbeando-se e,de volta aoquarto,vestindo-se.

O aroma penetrante e sedutor docafé oatraiupara a xícara fumegante que o esperava na mesa juntoà porta.Tomandoum gole,abriuospostigose ficou olhandopela janela doquartopara olagoque apenasvislumbrara comouma sombra na noite anterior.Era perfeito,lisocomovidro,a nãoser pelosalto ocasionalde alguma truta,lançandocírculosde ondasem miniatura que se irradiavam pela superfície de um azulprofundoaté serem lentamente absorvidas de volta na superfície maior.Avaliouque a margem maisdistante estaria a uns 800metros.O orvalhobrilhava em toda parte comodiamantesrefletindooamor dosol.Astrêscanoasque repousavam tranqüilasaolongodocaispareciam convidativas,masMackafastouopensamento.Canoastraziam muitas lembrançasdolorosas.

O caisofezlembrar-se da noite anterior.Será que realmente havia se deitadoali com Aquele que fizera ouniverso?Mackbalançoua cabeça,perplexo.O que estava acontecendo?Quem eram elese oque queriam?O que quer que fosse, Mackestava certode que nãotinha nada para dar.

O cheirode ovose bacononduloupara dentrodoquarto,interrompendoseus pensamentos.Aoentrar na sala,ouviuosom de uma música conhecida,de Bruce Cockburn,vindoda cozinha,e uma vozaguda de mulher acompanhando bastante bem:"Ah,amor que incendeia osol,mantenha-me aceso."Papaisurgiu com pratoscheiosde panquecas,batatasfritase algum tipode verdura.Vestia uma roupa comprida e larga,de aparência africana,com uma faixa

multicolorida nocabelo.Parecia radiante quase reluzindo.

Sabe exclamouela ,adoroasmúsicasdessa criança! Gostoespecialmente doBruce,você sabe Ela olhoupara Mack,que estava se sentandoà mesa.

Mackassentiu,com oapetite aumentandoa cada segundo.

É continuouela ,e seique você também gosta dele.Macksorriu.Era verdade.Cockburnera ofavoritode toda a família havia anos.

Então,querido perguntouPapai,enquantose ocupava com alguma coisa. Comoforam seussonhosesta noite?

Algumasvezesossonhossãoimportantes,você sabe.Podem ser um modode abrir a janela e deixar que oar poluídosaia.Macksabia que issoera um convite para destrancar a porta de seusterrores,masnomomentonãoestava prontopara convidá-la a entrar naquele buracocom ele.

Dormibem,obrigado respondeue rapidamente mudoude assunto. Quer dizer que Bruce é seupredileto?

Ela paroue olhou-o. Mackenzie,eunãotenhoprediletos;apenasgostoespecialmente dele. Você parece gostar especialmente de um monte de pessoas observouMack. Ehá alguém de quem você nãogoste especialmente?

Ela ergueua cabeça e revirouosolhoscomose estivesse examinando mentalmente ocatálogode cada ser criado.

Não,nãoconsigoencontrar ninguém.Achoque souassim.Mackficou interessado.

Nunca fica furiosa com alguém?

Imagina! Que painãofica?Osfilhosse metem em váriasconfusõesque deixam a gente furiosa.Nãogostode muitasdasescolhasque elesfazem,mas essa minha raiva é uma expressãode amor.Euamoaquelesde quem estoucom

raiva tantoquantoaquelesde quem nãoestou.

Mas... Mackfezuma pausa. Ea sua ira?Parece que,se você pretende ser oDeusTodo-Poderoso,precisa ser muitomaisirado.

Émesmo?

Éoque euacho.Você nãovivia matandogente na Bíblia? Você nãoparece se encaixar naquele modelo.

Entendocomotudoissodeve deixar você desorientado,Mack.Masoúnico que está pretendendoser alguma coisa aquié você.Eusouoque sou.Nãoestoutentandome encaixar em modelonenhum.

Masestá pedindoque euacredite que você é Deus,e simplesmente nãovejo... Macknãosabia comoterminar a frase,por issodesistiu.

Nãoestoupedindoque acredite em nada,masvoulhe dizer que você vai achar este dia muitomaisfácilse simplesmente aceitá-locomoé,em vezde tentar encaixá-loem suasidéiaspreconcebidas.

MasoDeusque me ensinaram derramougrandesdosesde fúria,mandouo dilúvioe lançoupessoasnum lagode fogo.

Mackpodia sentir sua raiva profunda emergindode novo,fazendobrotar as perguntas,e se chateouum poucocom sua falta de controle.Masperguntou mesmoassim: Honestamente,você nãogosta de castigar aquelesque a desapontam?

Diante disso,Papaiinterrompeusuasocupaçõese virou-se para Mack.Ele pôde ver uma tristeza profunda nosolhosdela.

Nãosouquem você pensa,Mackenzie.Nãoprecisocastigar aspessoaspelos pecados.O pecadoé oprópriocastigo,poisdevora aspessoaspor dentro.Meu objetivonãoé castigar.Minha alegria é curar.

Nãoentendo...

Está certo.Nãoentende mesmo disse ela com um sorrisomeiotriste. Mas,afinalde contas,você ainda nãoterminou.

Nesse momento,Jesuse Sarayuentraram rindopela porta dosfundos,entretidos numa conversa.Jesuschegouvestidopraticamente comonodia anterior,com jeanse uma camisa azulclara que fazia seusolhoscastanhosse destacarem. Sarayu,por outrolado,vestia algotãofinoe rendadoque praticamente voava à maistênue brisa.Padrõesde arco-íristremeluziam e se alteravam a cada gesto dela.Mackse perguntouse em algum momentoela parava completamente de se mexer.Duvidou.

Papaiinclinou-se para ficar com osolhosna mesma altura dosde Mack.

Você fazalgumasperguntasinteressantes.Chegaremosa elas,prometo.Mas agora vamosaproveitar ocafé da manhã.Mackassentiude novoum poucosem graça enquantovoltava a atençãopara a comida.Estava de fatocom fome e havia muita coisa apetitosa

Obrigadopelocafé da manhã disse a Papai,enquantoJesuse Sarayu ocupavam seuslugares.

O quê? reagiuela num horror fingido. Você nãovaiabaixar a cabeça e fechar osolhos?

Ela começoua andar em direçãoà cozinha,fazendopequenosmuxoxosde reprovação. O que está acontecendocom este mundo?Meubem,nãohá de quê. Um instante depoisretornoutrazendooutra tigela com uma comida fumegante que desprendia um aroma maravilhosoe convidativo.

Passaram astigelasunspara osoutrose Mackficoufascinadoenquantoolhava e ouvia Papaiparticipar da conversa de Jesuse Sarayu.Estavam falandoalgo sobre conciliar uma família em crise,masnãofoioque elesfalavam que atraiu Macke sim como eles se relacionavam. Nunca vira três pessoas

compartilharem sentimentoscom tamanha simplicidade e beleza.Cada um parecia maisinteressadonosoutrosdoque em simesmo.

Entãooque acha,Mack? perguntouJesus,fazendoum gestoem sua direção.

Nãofaçoa mínima idéia doque vocêsestãofalando respondeuMackcom a boca cheia daquelasverdurassaborosas.

Masadoroomodocomofalam.

Uau! disse Papai,que vinha retornandoda cozinha com outroprato. Vá com calma nessasverduras,rapaz.Se nãotiver cuidado,elaspodem dar uma bela dor de barriga.

Certo,tentareime lembrar disse Mackservindo-se dopratoque ela lhe oferecia.Depois,virando-se de novopara Jesus,acrescentou: Adoroomodo comovocêsse tratam.Certamente eunãoesperaria que Deusfosse desse jeito.

Comoassim?

Bom,seique vocêssãoum sóe coisa e tal,e que sãotrês.Masvocêsse tratam de uma forma tãoamável! Um nãomanda maisdoque osoutrosdois? Ostrêsse entreolharam comose nunca tivessem pensadonisso.

Querodizer continuouMackrapidamente ,sempre penseiem Deus,o Pai,comouma espécie de chefe,e em Jesuscomooque seguia asordens,vocês sabem,sendoobediente.Nãoseiexatamente comooEspíritoSantose encaixa. Ele...querodizer,ela...ah... Macktentounãoolhar para Sarayuenquanto procurava aspalavras. Tantofaz,oEspíritosempre me pareceumeio...é...

Um Espíritolivre? sugeriuPapai.

Exatamente,um Espíritolivre,masainda assim soba orientaçãodoPai.Faz sentido?

Jesusolhoupara Papai,tentandocom alguma dificuldade manter uma aparência séria.

Fazsentidopara você,Abba?Francamente,nãotenhoa mínima idéia doque este homem está falando.

Papaifranziuorosto,comose estivesse se concentrando.

Não,euestava tentandoentender,massintomuito.Para mim issonãotem pé nem cabeça.

Vocêssabem doque estoufalando. Mackficoumeiofrustrado. Estou falandode quem está nocomando.Vocêsnãotêm uma cadeia de comando? Cadeia de comando?Issoparece medonho! disse Jesus.

Nomínimoopressivo acrescentouPapai,enquantoosoutrosdois começavam a rir.

Então,virando-se para Mack,cantou: "Mesmosendocorrentesde ouro,ainda sãocorrentes."

Ah,nãose incomode com essesdois interrompeuSarayu,estendendoa mãopara confortá-lo. Elessóestãobrincandocom você.Na verdade,este é um assuntoque nosinteressa.

Mackassentiu,aliviadoe meiochateadopor ter de novoperdidoocontrole.

Mackenzie,nãoexiste conceitode autoridade superior entre nós,apenasde unidade Estamosnum círculode relacionamentoe nãonuma cadeia de comando.O que você está vendoaquié um relacionamentosem qualquer camada de poder.Não precisamosexercer poder um sobre ooutroporque sempre estamosprocurando omelhor.A hierarquia nãofaria sentidoentre nós.Na verdade,issoé um problema de vocês,nãonosso.

Verdade?Comoassim?

Oshumanosestãotãoperdidose estragadosque para vocêsé quase incompreensívelque aspessoaspossam trabalhar ouviver juntassem que alguém esteja nocomando.

Masqualquer instituiçãohumana,desde aspolíticasaté asempresariais,até mesmoocasamento,é governada por esse tipode pensamento.Éa trama donossotecidosocial declarouMack.

Que desperdício! disse Papai,pegandoopratovazioe indopara a cozinha.

Esse é um dosmotivospelosquaisé tãodifícilpara vocêsexperimentar o verdadeirorelacionamento acrescentouJesus.

Assim que montam uma hierarquia,vocêsprecisam de regraspara protegê-la e administrá-la,e entãoprecisam de leise da aplicaçãodasleis,e acabam criando algum tipode cadeia de comandoque destróiorelacionamento,em vezde promovê-lo.Raramente vocêsvivem orelacionamentofora dopoder.A hierarquia impõe leise regrase vocêsacabam perdendoa maravilha do relacionamentoque nóspretendemospara vocês.

Bom disse Mackcom sarcasmo,recostando-se na cadeira. Certamente parece que nosadaptamosmuitobem a isso.

Sarayufoirápida em responder:

Nãoconfunda adaptaçãocom intenção,ouseduçãocom realidade.

Então...ah,por favor,poderia me passar maisum poucodessa verdura?... Entãonósfomosseduzidospor essa preocupaçãocom a autoridade?

De certomodo,sim! respondeuPapai,passandoopratode verduraspara Mackcom uma certa relutância. Sóestoucuidandode você,filho.

Sarayucontinuou: Quando vocês escolhem a independência nos relacionamentostornam-se perigososunspara osoutros.Aspessoas se tornam

objetos a serem manipulados ou administradospara a felicidade de alguém.A autoridade,comovocês geralmente pensam nela,é meramente a desculpa que oforte usa para fazer com que osoutrosse sujeitem aoque ele quer.

Ela nãoé útilpara impedir que aspessoaslutem interminavelmente ouse machuquem?

Àsvezes.Masnum mundoegoísta também é usada para infligir grandes danos.

Masvocêsnãoa usam para conter omal?

Nósrespeitamoscuidadosamente assuasescolhase por issotrabalhamos dentrodosseussistemas,aomesmotempoque procuramoslibertá-losdeles continuouPapai. A Criaçãofoilevada por um caminhomuitodiferente daquele que desejávamos.Em seumundo,ovalor doindivíduoé constantemente medidoem comparaçãocom a sobrevivência dosistema,seja ele político, econômico,socialoureligioso;na verdade,de qualquer sistema.Primeirouma pessoa,depoisumaspoucase finalmente muitassãofacilmente sacrificadaspelo bem e pela permanência dosistema.De uma forma oude outra,issoestá por trásde cada luta pelopoder,de cada preconceito,de cada guerra e de cada abusode relacionamento.A "vontade de poder e independência"se tornoutão disseminada que agora é considerada normal.

Enãoé?

Éoparadigma humano acrescentouPapai,apósretornar com mais comida. Écomoágua para ospeixes,tãonaturalque permanece sem ser vista e questionada.Éa matriz,uma trama diabólica em que vocêsestãopresossem esperança,mesmoque completamente inconscientesda sua existência.Jesus continuou:

Comoglória máxima da Criação,vocêsforam feitosà

nossa imagem.Se realmente tivessem aprendidoa considerar que as preocupaçõesdosoutrostêm tantovalor quantoassuas,nãohaveria necessidade de hierarquia.

Mackse recostouna cadeira,perplexocom asimplicaçõesdoque ouvia.

Entãovocêsestãome dizendoque sempre que nós,humanos,usamosopoder para nosproteger...

Estãocedendoà matrize nãoa nós terminouJesus:Eagora exclamou Sarayu completamosocírculo,voltandoa uma dasminhasdeclarações iniciais:vocês,humanos,estãotãoperdidose estragadosque nãoconseguem compreender um relacionamentosem hierarquia.Por issoacham que Deusse relaciona dentrode uma hierarquia,talcomovocês.Masnãosomosassim.

Ecomopodemosmudar isso?Se abrirmosmãodopoder e da hierarquia,as pessoassimplesmente vãonosusar.

Provavelmente sim.Masnãoestamospedindoque faça issocom osoutros, Mack.

Pedimosque faça conosco.Este é oúnicolugar onde issopode começar.Não vamosusar você.

Mack disse Papaicom uma intensidade que ofezescutar com muita atenção ,queremoscompartilhar com você oamor,a alegria,a liberdade e a luzque já conhecemosem nós.Criamosvocês,oshumanos,para estarem num relacionamentode igualpara igualconoscoe para se juntarem aonossocírculo de amor.Por maisdifícilque seja entender isso,tudoque aconteceuestá ocorrendoexatamente segundoesse propósito,sem violar qualquer escolha ou vontade.

Comovocê pode dizer issodiante de toda a dor deste mundo,de todasas guerrase desastresque destroem milhares?

A vozde Mackbaixouaté um sussurro. Equalé ovalor de uma menininha ser assassinada por um tarado? Aliestava de novoa pergunta que abria um buracoa fogoem sua alma. Vocêspodem nãocausar ascoisas,mas certamente nãoasimpedem.

Mackenzie

respondeu

Papai com ternura, aparentemente nãose ofendendocom a acusação ,há milhõesde motivos para permitir a dor,a mágoa e osofrimento,em vezde erradicá-los,masa maioria dessesmotivossópode ser entendida dentroda história de cada pessoa. Eunãosoumá.Vocêsé que abraçam omedo,a dor,opoder e osdireitosem seusrelacionamentos.Massuasescolhastambém nãosãomaisfortesdoque os meuspropósitos,e euusareicada escolha que vocêsfizerem para obem finale para oresultadomaisamoroso.Veja só interveioSarayu ,oshumanos feridoscentram sua vida aoredor .de coisasque parecem boaspara eles, procurandocompensação.Masissonãoirá preenchê-losnem libertá-los.Eles sãoviciadosem poder,ouna ilusãode segurança que opoder oferece.Quando acontece um desastre,essasmesmaspessoasvãose voltar contra osfalsos poderesnosquaisconfiavam.Em seudesapontamento,se suavizam com relação a mim ouse tornam maisousadosem sua independência.Se você aomenospudesse ver comotudoissoterminará e oque alcançaremossem violar qualquer vontade humana,entenderia.Um dia entenderá.

Masocusto! Mackestava aparvalhado. Vejam ocusto,toda a dor,todo osofrimento,tudoque é tãoterrívele mau.

Ele paroue olhoupara a mesa. Evejam oque custoupara vocês.Valeua pena?

Sim! foia resposta unânime e jubilosa dostrês.

Mascomopodem dizer isso?Desse jeitoparece que ofim justifica osmeios, que para obter oque querem vocêssãocapazesde qualquer coisa,mesmoque issocuste a vida de bilhõesde pessoas.

Mackenzie. Era a vozde Papaioutra vez,especialmente gentile terna. Você realmente ainda nãoentende.Tenta dar sentidoaomundoem que vive baseadonuma visãopequena e incompleta da realidade.Écomoolhar um desfile peloburacominúsculoda dor,da mágoa,doegocentrismoe dopoder e

acreditar que você está sozinhoe é insignificante.Tudoissocontém mentiras poderosas.Você vê a dor e a morte comomalesdefinitivos,e Deuscomoo traidor definitivo,outalvez,na melhor dashipóteses,comofundamentalmente indignode confiança.Você dita ostermos,julga meusatose me declara culpado.Parouum instante e depois prosseguiu:

A verdadeira falha implícita de sua vida,Mackenzie,é que você nãoacha que eusoubom.Se soubesse que eusoubom e que tudo osmeios,osfinse todos osprocessosdasvidasindividuais

é cobertopor minha bondade,mesmoque nem sempre entenda oque estou fazendo,confiaria em mim.Masnãoconfia.

Não? perguntouMack,masnãoera realmente uma pergunta.Era uma declaração,e ele sabia disso.Osoutrospareciam saber também e a mesa permaneceuem silêncio.Sarayudisse:

Mackenzie,você nãopode "produzir"confiança,assim comonãopode "fazer" humildade.Ela existe ounão.A confiança é frutode um relacionamentoem que você sabe que é amado.Comonãosabe que euoamo,nãopode confiar em mim.

De novose fezsilêncio.Por fim Mackolhoupara Papaie disse: Nãoseicomomudar isso.

Você nãopode mudar,pelomenossozinho,masjuntosvamosver essa mudança acontecer.Por enquantosóqueroque você esteja comigoe descubra que nossorelacionamentonãotem a ver com seudesempenhonem com qualquer obrigaçãode me agradar.Nãosouum valentãonem uma divindade egocêntrica e exigente que insiste que ascoisassejam feitasdojeitoque eu quero.Souboa e sódesejooque é melhor para você.Nãoé pela culpa,pela condenaçãooupela coerçãoque você vaiencontrar isso.Éapenaspraticando um relacionamentode amor.Eeuamovocê.

Sarayuse levantouda mesa e olhoudiretamente para Mack.

Mackenzie,se você quiser,eugostaria que viesse me ajudar nojardim.Há coisasque precisofazer lá antesda celebraçãode amanhã.Podemoscontinuar nossa conversa lá fora,por favor?

Claro respondeuMack,levantando-se. Um últimocomentário ele acrescentou. Simplesmente nãoconsigoimaginar um resultadofinalque justifique tudoisso.Mackenzie. Papaise levantouda cadeira e rodeoua mesa para lhe dar um abraço apertado. Nãoestamosjustificando.Estamos libertando.

9.HÁ MUITOTEMPO,NUM JARDIM MUITO,MUITO

DISTANTE

Mesmoque encontrássemosoutroÉden, nãoteríamoscondiçãode desfrutá-loperfeitamente nem de ficar lá para sempre.

Henry VanDyke

MackacompanhouSarayupela porta dosfundosdomelhor modoque pôde e seguiupelocaminho,passandopela aléia de pinheiros.Andar atrásde um ser daquelesera comoseguir um raiode sol.A luzparecia se irradiar dela e refletir sua presença numa infinidade de lugaresaomesmotempo.

Mackconcentrou-se nocaminho.Enquantorodeava asárvores,viupela primeira vezum magníficojardim e pomar,contidonum terrenoque nãoteria maisde 4 milmetrosquadrados.

Mackimaginara um jardim em estiloinglês,perfeitamente cuidadoe organizado. Nãoera assim!

Era um caosde cores.Jorrosofuscantesde floresse espalhavam em meioa legumes,verdurase ervasplantadosaleatoriamente,um tipode vegetaçãoque Macknunca vira.Era confuso,espantosoe incrivelmente lindo.

Para mim parece uma confusão murmurouMackbaixinho.

Sarayuparoue se viroupara Mack,com orostoglorioso.

Mack! Obrigada! Que elogiomaravilhoso! Ela olhouojardim aoredor. Éexatamente isso,uma confusão.

Sarayuse aproximoude uma erva,arrancoualgunsbrotose virou-se para Mack.

Papainãoestava brincandonocafé da manhã disse,a vozparecendomais

música doque qualquer outra coisa. É melhor você mastigar essa erva por algunsminutos.Vaise contrapor ao "movimento"naturaldaquelasverdurasque você comeudemais,se é que me entende.

Mackdeuum risinhoenquantoaceitava e,com algum cuidado,começoua mastigar.

É,masogostodaquelasverdurasera bom demais! Seuestômagohavia começadoa se revirar um pouco.O gostoda erva nãoera desagradável:uma sugestãode hortelã e algunsoutrostemperosque ele provavelmente já havia cheiradoantes,masque nãopodia identificar.Enquantoandavam,seuestômago foise aplacandoe ele relaxou.

Sem dizer uma palavra,tentouseguir Sarayude um lugar a outronojardim,mas acabouse distraindocom asincríveismisturasde cores.Era tudo maravilhosamente espantosoe inebriante.

Sarayuparecia muitoconcentrada numa tarefa específica.Oscilava comoum ventobrincalhãoe ele jamaissabia exatamente para onde ela estava soprando. Achava bastante difícil acompanhá-la.

Ela se movia pelojardim cortandováriasflorese ervase entregandopara Mack carregar.O buquê improvisadoficoubastante grande,uma linda massa aromática diferente de qualquer coisa que ele já havia cheiradoe tãoforte que quase dava para sentir ogosto.

Depositaram obuquê finaldentrode uma pequena oficina que Macknãohavia notadoantes,comose estivesse enterrada num adensamentode matoselvagem.

Uma tarefa terminada anunciouSarayu e outra pela frente.

Entregoua Mackuma pá,um ancinho,uma foice e um par de luvase flutuoupor uma trilha coberta de matoque parecia ir em direçãoà extremidade mais distante dojardim.Pelocaminho,àsvezesdiminuía a velocidade para tocar uma planta ouuma flor,sempre cantarolandoa música repetitiva que havia cativado Mackna tarde anterior.Ele seguia,obediente,levandoasferramentas.Quando Sarayuparou,Mackquase chocou-se com ela.De algum modoSarayuhavia mudado;agora vestia roupasde trabalho:jeanscom estampadosloucos,uma camisa de trabalhoe luvas.Estavam num localaberto,rodeadopor pereirase cerejeiras,nomeiodoqualhavia uma cascata de arbustoscom floresroxase amarelasde tirar ofôlego.

Mackenzie ela apontoudiretamente para oincríveltrechoflorido , gostaria que você me ajudasse a limpar todoesse terreno.Há uma coisa muito especialque queroplantar aquiamanhã,e temosde deixar tudopronto. Olhou para Macke estendeua mãopara a foice.

Você nãopode estar falandosério! Issoé tãomaravilhoso!

MasSarayupareceunãonotar.Sem maisexplicações,virouse e começoua destruir oespetáculoartísticodasflores.Fazia corteslimpos,aparentemente sem esforço.Mackdeude ombros,calçouasluvase começoua amontoar em pilhas oestragoque ela estava fazendo.Lutava para acompanhar oritmo.Para ela talveznãofosse um esforço,maspara ele era um trabalhoestafante.Vinte minutosdepois,todasasplantasestavam cortadasjuntoàsraízese oterreno parecia uma ferida nojardim.Osantebraçosde Mackestavam riscadoscom marcasde arranhõesdosgalhosque havia empilhado.Estava sem fôlegoe suando,felizpor terminar.Sarayuparou,examinandootrabalho.

Nãoé empolgante? perguntou.

Já me empolgueicom coisasmelhores retrucouMack,sarcástico.

Ah,Mackenzie,se você soubesse.Nãoé otrabalho,e sim opropósitoque o torna especial E ela sorriu é oúnicotipoque eufaço Mackse apoiounoancinho,olhouojardim aoredor e osvergõesvermelhosnos braços.

Sarayu,seique você é oCriador.Masvocê fezasplantasvenenosas,as urtigase osmosquitostambém?

Mackenzie respondeuSarayu,parecendose mover juntocom a brisa. Para fazer algodiferente,um ser criadotem que partir doque já existe.

Entãovocê está dizendoque...

...crieitudoque existe,inclusive ascoisasque você considera ruins completouSarayu. Mas,quandoascriei,elaseram boas, porque é assim que eusou. Ela pareceuquase se dobrar numa reverência antesde retomar sua tarefa.

Mas continuouMack,insatisfeito entãopor que tantascoisas"boas" ficaram "ruins"? Agora Sarayuparouantesde responder.

Vocês,humanos,sãoverdadeiramente cegosem relaçãoaoseulugar na Criação.Escolheram ocaminhodevastadoda independência e não compreendem que estãoarrastandotoda a Criaçãocom vocês.

Ela balançoua cabeça e oventosussurroupelasárvorespróximas.

Émuitotriste,masnãoserá assim para sempre.

Osdoisdesfrutaram algunsinstantesde silêncio,enquantoMackcontemplava as váriasplantasaoalcance de sua vista.

Entãoexistem plantasvenenosasneste jardim? perguntou.

Ah,sim exclamouSarayu. Sãoalgumasdasminhasprediletas.Há certasplantasperigosasaotoque,comoesta aqui.

Ela estendeua mãopara um arbustopróximoe arrancoualgoque parecia um gravetomortocom apenasalgumasfolhasminúsculasque brotavam da haste. Entregoua Mack,que levantouasduasmãosevitandotocá-lo.

Sarayuriu.

Euestouaqui,Mack.Há ocasiõesem que é segurotocar e ocasiõesem que é precisotomar precauções.Esta é a maravilha e a aventura da exploração,uma parte doque vocêschamam de ciência:discernir e descobrir oque nós escondemos.

Entãopor que esconderam?

Por que ascriançasadoram brincar de esconde-esconde?

Pergunte a qualquer pessoa que tenha paixãopor explorar,descobrir e criar. Escolhemosesconder tantasmaravilhasde vocêscomoum atode amor,um verdadeiropresente dentrodoprocessoda vida. Mackestendeua mãocautelosamente e pegouogalhovenenoso.

Se você nãotivesse me ditoque era segurotocar,ele teria me envenenado?

Claro! Mas,se euoder para você tocar,é diferente.

Entãopor que criar plantasvenenosas? perguntouMack,devolvendoo galho.

Sua pergunta parte doprincípiode que ovenenoé algoruim,uma coisa sem propósito.Muitasdassupostasplantasruins,comoesta,contêm propriedades incríveisde curar ousãonecessáriaspara criar maravilhasmagníficasquando combinadascom outroselementos.Oshumanosapressam-se em declarar que algoé bom ouruim sem saber de fato.

Sarayuestendeuuma pá pequena para Macke pegouoancinho

Para preparar este terreno,devemosarrancar asraízesde todasasplantas maravilhosasque estavam aqui.Étrabalhoduro,masvale a pena.Se asraízes estiverem aí,prejudicarãoassementesque iremosplantar.

Certo grunhiuMack,enquantoosdoisse ajoelhavam noterrenorecémlimpo.De algum modoSarayuconseguia enfiar asmãosmaisfundonochãoe encontrar aspontasdasraízes,trazendo-assem esforçoà superfície.Deixouas maiscurtaspara Mack,que usava a pazinha para arrancá-las.Depoisjogavam as raízesnuma daspilhasque Mackhavia juntadoantes.

Maistarde vouqueimar isso disse ela.

Antesvocê estava falandoque oshumanosdeclaram que ascoisassãoboas ouruinssem conhecer? perguntouMack,sacudindoa terra de uma raiz.

É.Estava falandoespecificamente da árvore doconhecimentodobem e do mal.

A árvore doconhecimentodobem e domal?

Exato! declarouela. Eagora,Mackenzie,você está começandoa entender por que comer ofrutomortaldaquela árvore foitão devastador para a sua raça.

Na verdade eununca havia pensadomuitonisso disse Mack,intrigado. Entãohouve um jardim de verdade?Quer dizer,oÉden?

Claro.Eulhe disse que tenhouma queda por jardins.

Issovaiincomodar algumaspessoas.Tenhoalgunsamigosque nãovãogostar disso observouMack,enquantolutava com uma raizteimosa.

Nãofazmal.Eugostomuitodeles.

Estousurpreso disse Mackcom um certosarcasmoe sorriupara ela. Cravoua pá na terra,pegandocom a mãoa raizque estava por cima. Então fale da árvore doconhecimentodobem e domal.

Édissoque estávamosfalandonocafé da manhã.Primeiroquerofazer uma pergunta a você.Quandoalgolhe acontece,comovocê determina se é uma coisa boa ouruim?

Mackpensouum momentoantesde responder

Bom,na verdade nunca penseinisso.Achoque eudiria que algoé bom quandoeugosto,quandofazcom que eume sinta bem oume dá um sentimento de segurança.Por outrolado,eudiria que uma coisa é ruim se me causa dor ou custa algoque euquero.

Entãoé bastante subjetivo?

Achoque sim.

Eaté que pontovocê confia em sua capacidade de discernir oque é bom ouo que é ruim para você?

Para ser honesto,achoque tenhorazãode ficar com raiva quandoalguém ameaça oque euconsidero"bom",oque euachoque mereço.Masnãosei realmente se existe algum fundamentológicopara decidir oque é bom ouruim, a nãoser omodocomoalgooualguém me afeta. Ele paroupara descansar e recuperar ofôlego. Tudoparece relacionadocomigoe com meusinteresses, acho.Eminha ficha também nãoé dasmelhores.Algumascoisasque eu inicialmente achava boasacabaram sendoterrivelmente destrutivas,e outrasque

euachava ruins,bem,acabaram sendo...

Ele hesitouantesde finalizar opensamento,masSarayuointerrompeu.

Entãoé você que determina oque é bom e oque é ruim.Você se torna ojuiz. E,para tornar ascoisasainda maisconfusas,aquiloque você determina que é bom acaba mudandocom otempoe ascircunstâncias.E,pior ainda,há bilhões de vocês,cada um determinandooque é bom e oque é ruim.Assim,quandoo seubom e oseuruim se chocam com osdovizinho,seguem-se brigas,discussões e até guerras.

Ascoresque se moviam dentrode Sarayuestavam escurecendoenquantoela falava,pretose cinzasse misturandoe sombreandoostonsde arco-íris.

E,se nãohá uma realidade dobem que seja absoluta,você perde qualquer base para avaliar.Éapenaslinguagem e podemosmuitobem trocar a palavra bem pela palavra mal.

Dá para perceber que issopode ser um problema concordouMack.

Um problema? disse Sarayu,quase com rispidez,enquantose levantava e o encarava.Ela estava perturbada,masMacksabia que issonãoera contra ele. De fato! A escolha de comer daquela árvore rasgououniverso,divorciandoo espiritualdofísico.Elesmorreram expelindonohálitode sua escolha opróprio hálitode Deus.Eudiria que issoé um problema!

Na intensidade de sua fala,Sarayuhavia se alçadolentamente dochão.Mas agora,enquantobaixava aosolo,sua vozchegoumaisnítida.

Aquele foium dia de grande tristeza.

Nenhum dosdoisfaloudurante quase 10minutosenquantotrabalhavam.À medida que continuava arrancandoraízese jogando-asna pilha,a mente de Macktrabalhava para entender asimplicaçõesdoque Sarayuhavia dito.Por fim ele rompeuosilêncio.

Agora possover confessou que gasteia maior parte domeutempoe da minha energia tentandoadquirir oque euachava que era bom,comoa segurança financeira,a saúde,a aposentadoria,ouseilá oquê.Egasteiuma quantidade gigantesca de energia e preocupaçãotemendooque determineique era mau.

Mackdeuum suspirofundo.

Quanta verdade há nisso! disse Sarayucom gentileza.

Lembre-se.Issopermite que vocêsbrinquem de Deusem sua independência. Por essa razão,uma parte de vocêsprefere nãome ver.Evocêsnãoprecisam de mim para criar sua lista doque é bom e ruim.Masprecisam de mim se tiverem qualquer desejode parar com essa ânsia tãoinsana de independência.

Entãohá algum modode consertar?

Você deve desistir de seudireitode decidir oque é bom e ruim e escolher viver apenasem mim.Éum comprimidodifícilde engolir.Para issovocê deve me conhecer obastante,a pontode confiar em mim e aprender a se entregar à minha bondade inerente.

Mackteve a impressãode que Sarayuse viroupara ele.

Mackenzie,omalé uma palavra que usamospara descrever a ausência de Deus,assim comousamosa palavra escuridãopara descrever a ausência de Luz, oumorte para descrever a ausência de Vida.Tantoomalquantoa escuridãosó podem ser entendidosem relaçãoà Luze aoBem.Elesnãotêm existência real. Eusoua Luze eusouoBem.SouAmor e nãohá escuridãoem mim.A Luze oBem existem realmente.Assim,afastar-se de mim irá mergulhar você na escuridão.Declarar independência resultará nomal, porque,separadode mim,você só pode contar consigomesmo.Issoé morte,porque você se separoude mim,que soua Vida.

Uau! exclamouMack,sentando-se por um momento.

Issorealmente ajuda.Mastambém possover que abrir mãodosmeusdireitos de independência nãoserá um processofácil.Poderia significar que...

Sarayuinterrompeua frase dele outra vez.

...que de alguma forma obem pode ser a presença docâncer oua perda de ganhosfinanceiros,oumesmode uma vida.

É,masdiga issoà pessoa com câncer ouaopaicuja filha morreu reagiu Mack,um poucomaissarcasticamente doque havia pretendido.

Ah,Mackenzie.Você acha que nósnãopensamosneles?

Cada um delesera ocentrode outra história que nãoé contada.

Mas Mackpodia sentir seucontrole se esvaindoenquantocravava a pá com força Missy nãotinha odireitode ser protegida?

Não,Mack.Uma criança é protegida porque é amada e nãoporque tem o direitode ser protegida

Issoofezparar.De algum modo,oque Sarayuacabara de dizer pareceuvirar o mundode cabeça para baixoe ele lutoupara encontrar um pontode apoio.Sem dúvida devia haver algunsdireitosaosquaisele poderia legitimamente se agarrar.

Mase...

Osdireitossãooque ossobreviventesprocuram para nãoterem de trabalhar osrelacionamentos interveioela.

Mas,se euabrir mão...

Entãocomeçará a entender a maravilha e a aventura de viver em mim interrompeuela de novo. Mackestava ficandofrustrado.Faloumaisalto: Maseunãotenhoodireitode...

De terminar uma frase sem ser interrompido?Não,nãotem.Na realidade, não.Mas,enquantovocê achar que tem,certamente ficará irritadoquando alguém ointerromper,mesmoque seja Deus.

Ele ficouperplexoe se levantou,encarando-a,sem saber se tinha um ataque de fúria ouse ria.Sarayusorriupara ele.

Mackenzie,Jesusnãose agarroua nenhum direito.Tornou-se um servopor livre vontade e vive seurelacionamentocom Papai.Abriumãode tudo,de modo que aolongode sua vida independente deixouuma porta aberta que permitiria a você viver suficientemente livre para abdicar de seusdireitos.Nesse momento, Papaidesceupelocaminhocarregandoduassacolasde papel.Sorria enquantose aproximava.

Bem,peloque vejo,vocêsdoisestãotendouma conversa.

Ela piscoupara Mack.

A melhor! exclamouSarayu. Eadivinhe só! Ele disse que nossojardim era uma confusão.Nãoé perfeito?

Asduasderam um largosorrisopara Mack,que ainda nãotinha certeza absoluta de que nãoestavam brincandocom ele.Sua raiva começoua diminuir,mas ainda podia sentir orostoardendo.Asduaspareceram nãonotar.

Sarayuestendeua mãoe deuum beijonorostode Papai.

Comosempre,sua noçãode tempoé perfeita.Tudoque euprecisava que Mackfizesse aquiestá terminado. Virou-se para ele. Mackenzie,você é um deleite! Obrigada por seutrabalhoduro.

Na verdade,nãofizgrande coisa ele respondeuem tom de desculpa.

Querodizer,olhe essa bagunça. Seuolhar passoupelojardim que osrodeava. Masé realmente lindoe plenode você,Sarayu.Mesmoque pareça que ainda resta um monte de trabalhoa ser feito,sinto-me estranhamente à vontade e tranqüiloaqui. Asduasse entreolharam e riram. Sarayufoina direçãodele até invadir seuespaçopessoal.

Enãoé de espantar,Mackenzie,porque este jardim é a sua alma.Esta confusãoé você! Juntos,você e euestivemostrabalhandocom um propósitono seucoração.Eele é selvagem,lindo e perfeitamente em evolução. Para você parece uma confusão,maseuvejoum padrãoperfeitoemergindo,crescente e vivo. O impactodaspalavrasde Sarayuquase fezdesmoronar todasasreservasde Mack.

Ele olhoude novoojardim dasduas seujardim ,e era mesmouma confusão,masaomesmotempoincrívele maravilhoso.E,além disso,Papai estava aquie Sarayuadorava a confusão.Era quase demaispara compreender e de novosuasemoçõescuidadosamente guardadasameaçaram se derramar. Mackenzie,Jesusgostaria de levá-lonum passeio,se você quiser ir.Prepareium lanche para ocasode ficarem com fome.Deixo-olivre até a hora dochá.

Enquantose virava para pegar assacolasdolanche,MacksentiuSarayupassar, beijandoseurosto,masnãoa viuir embora.Sentiuque podia vê-la avançar,

comose fosse ovento,asplantasse dobrando,uma de cada vez,parecendo cultuá-la.Quandose viroude volta,Papaitambém havia sumidoe por issofoina direçãoda carpintaria para ver se conseguia encontrar Jesus.Parecia que osdois tinham um compromisso.

10.ANDANDOSOBREA ÁGUA

Novomundo grande horizonte. Abra osolhose veja que é verdade. Novomundo dooutroladodasassustadoras ondasazuis.

DavidWilcox

Jesusterminoude lixar oúltimocantodoque parecia um pequenobaúque estava numa bancada da carpintaria.Passouosdedospela borda lisa,sorriusatisfeitoe pousoua lixa.Saiupela porta espanandoopódojeanse da camiseta enquanto Mackse aproximava.

Olá,Mack! Euestava dandoosúltimosretoquesnomeuprojetopara amanhã. Gostaria de dar uma volta?

Mackpensounotempoque haviam passadojuntosna véspera sobasestrelas.

Se você vai,eugostaria,sim respondeu. Por que vocêsvivem falando sobre amanhã?

Éum grande dia para você,um dosmotivospelosquaisestá aqui.Vamos.Há um lugar especialque querolhe mostrar,dooutroladodolago,e opanorama é indescritível.De lá se podem ver algunsdospicosmaisaltos.

Deve ser fantástico! respondeuMackentusiasmado.

Parece que você pegouolanche,entãopodemosir.

Em vezde se desviar para algum ladodolago,onde devia haver uma trilha,Jesus foidiretoaocais.O dia estava luminosoe lindo.O solesquentava a pele,masnão demais,e uma brisa fresca e perfumada acariciava orostodosdois,suave e amorosamente.Mackimaginouque pegariam uma dascanoaspresasàsestacas docaise ficousurpresoquandoJesusnãohesitouaopassar pela última,indo diretamente para ofim dopíer.Aochegar nofinal,ele se viroupara Macke riu.

Primeirovocê disse com um floreioe uma reverência.

Está brincando,nãoé? reagiuMack. Acheique íamosandar e não nadar.

Evamos.Sópenseique atravessandoolagolevaria menostempodoque rodeando.

Nãosouum nadador fantásticoe,além disso,a água parece muitofria reclamouMack.

Bom Jesuscruzouosbraços ,nósdoissabemosque você é um nadador muitocapaze que já foisalva-vidas.A água está fria e olagoé fundo.Masnão estoufalandoem nadar.Queroatravessar andandocom você.

Mackfinalmente se deuconta doque Jesusestava sugerindo.Tratava-se de andar sobre a água.Antecipandosua hesitação,Jesusafirmou: Vamos,Mack.Se Pedroconseguiu...

Mackriunervosamente.Para ter certeza,perguntoude novo:

Você quer que euande sobre a água até ooutrolado.É

issoque está dizendo,nãoé?

Você entende rápido,Mack.Tenhocerteza de que ninguém consegue enganálo.Venha,é divertido! Ele riu.

Mackfoiaté a borda docaise olhoupara baixo.A água batia suavemente apenas uns30centímetrosabaixode onde ele estava,masera comose fossem 30 metros.A distância parecia enorme.Mergulhar seria fácil,ele fizera issomil vezes,mascomose desce de um caispara a superfície da água?Olhoupara Jesus,que ainda estava rindo.

Pedroteve omesmoproblema:comosair dobarco?Écomodescer de um degraude escada.Nada de mais.

De novoMackolhoupara a água e de volta para Jesus.

Entãopor que é tãodifícilpara mim?

Diga doque você tem medo,Mack.

Bem,vejamos.Doque tenhomedo?Bem,tenhomedode parecer idiota.

Tenhomedode você estar se divertindoàsminhascustase de afundar como uma pedra.Imaginoque...

Exatamente interrompeuJesus. Você imagina.A imaginaçãoé uma capacidade poderosa! Éum poder que otorna muitoparecidoconosco.Mas,sem sabedoria,a imaginaçãoé uma professora cruel.Querolhe fazer uma pergunta: você acha que oshumanosforam criadospara viver nopresente,nopassadoou nofuturo?

Bom disse Mack,hesitando. Achoque a resposta maisóbvia é que fomoscriadospara viver nopresente.Estouerrado?

Jesusdeuum risinho.

Relaxe,Mack,issonãoé um teste,é uma conversa.Você está corretíssimo,por sinal.Masagora me diga onde você passa a maior parte do tempoem sua imaginação:nopresente,nopassadoounofuturo?

Mackpensouum momentoantesde responder.

Achoque eupassomuitopoucotemponopresente.Passogrande parte dele nopassado,masna maior parte dotempoestoutentandoadivinhar ofuturo.

Você nãoé diferente da maioria daspessoas.Quandoestoucom vocês,vivo nopresente.Nãonopassado,se bem que muita coisa pode ser lembrada e aprendida aose olhar para trás,massomente para uma visita,nãopara uma estada demorada.Ecertamente nãovivonofuturoque você visualiza ou imagina.Mack,você percebe que sua imaginaçãodofuturo,que é quase sempre ditada por algum tipode medo,raramente me coloca lá com você,se é que me coloca?

De novoMackparoue pensou.Era verdade.Ele passava um bocadode tempose aborrecendoe se preocupandocom ofuturo,e em sua imaginaçãoofuturo geralmente era muitosombrio,deprimente e mesmohorrível.EJesustambém estava corretoaodizer que,domodocomoMackimaginava ofuturo,Deus estava sempre ausente.

Por que façoisso? perguntouMack.

Ésua tentativa desesperada de conseguir algum controle sobre algoque você não pode controlar.Éimpossívelter poder sobre ofuturo,porque ele nãoé real,e jamaisserá.Você tenta brincar de Deusimaginandoque omalque teme pode se

tornar realidade e depoistenta fazer planospara evitar aquiloque teme.

Ébasicamente oque Sarayuesteve dizendo.Entãopor que tenhotantomedo da vida?

Porque nãoacredita.Nãosabe que nósoamamos.A pessoa que vive dominada pelosmedosnãoencontra liberdade nomeuamor.Nãoestoufalando de medosracionais,ligadosa perigosreais,e sim de medosimaginários,e especialmente da projeçãodessesmedosnofuturo.À medida que dá lugar a essesmedos,você nãoacredita que eusoubom,nem sabe,nofundodoseu coração,que euoamo.Você pode até falar disso,masnãosabe.Mackolhoude novopara a água e soltouum suspiroenorme,que saiudofundoda alma.

Há um longoespaçopara eupercorrer.

Sóuns30centímetros,é oque me parece riuJesus,pondoa mãonoombro de Mack.Ele sóprecisava dissopara descer docais.Para tentar ver a água como sólida e nãose atrapalhar com omovimentodela,olhoupara a margem distante e levantouossacosdolanche.

O pousofoimaissuave doque ele havia pensado.Seussapatosficaram molhados nomesmoinstante,masa água nãosubiunem mesmoaté ostornozelos.O lago ainda se movia aoseuredor e ele quase perdeuoequilíbriopor causa disso.Era estranho.

Olhandopara baixo,parecia que seuspésestavam sobre algosólido,mas invisível.

Virou-se e viuJesusaoseuladosegurandoossapatose asmeiasnuma dasmãos e sorrindo.

Nóssempre tiramosossapatose asmeiasantes disse ele rindo

Mackbalançoua cabeça rindotambém enquantose sentava de novona beira do cais.

Achoque voufazer isso. Tirouossapatos,espremeuasmeiase enrolouaspernasda calça.

Partiram levandooscalçadose assacolase caminharam para a margem oposta, a cerca de 800metrosde distância.A água era fresca e revigorante e fazia subir arrepiospela coluna.Caminhar sobre a água com Jesusparecia omodomais naturalde atravessar um lago,e Mackria de orelha a orelha sóde pensar noque

estava fazendo.

Issoé absolutamente ridículoe impossível,você sabe exclamoufinalmente.

Claro confirmouJesus,rindotambém

Chegaram rapidamente à outra margem e Mackparoupoucoantesde atingi-la. À esquerda viuuma linda cachoeira se derramandopela borda de um penhasco e caindoaté olago.Aoladoda cachoeira havia uma campina cheia de flores selvagensque se espalhavam aoacaso,semeadaspelovento.Tudoera espantoso e Mackficouum momentoabsorto.Uma imagem de Missy relampejouem sua mente,masnãose fixou.

Uma praia de pedrinhasesperava-ose,atrásdela,uma floresta densa e rica erguia-se até a base de uma montanha encimada pela brancura da neve recémcaída.Macksaiuda água para aspedraspequenas,indocautelosamente em direçãoa um troncotombado.Alisentou-se,torceuasmeiasde novoe colocouas aoladodossapatospara secar aosolde quase meio-dia.Sóentãoolhoupara o outroladodolago.A beleza era estonteante.Podia ver a cabana,com a fumaça subindopreguiçosamente da chaminé de tijolosvermelhosdelineada contra os verdesdopomar e da floresta.Fazendotudoparecer minúsculo,uma enorme cordilheira pairava acima e atrás,comosentinela montandoguarda.Mack sentou-se aoladode Jesuse impregnouse da sinfonia visual.

Você fazum grande trabalho! disse baixinho.

Obrigado,Mack,e você viumuitopouco.Por enquanto,a maior parte das coisasque existem nouniversosóserá vista e desfrutada por mim comotelas especiaisguardadasnosfundosdoateliê de um pintor.Masum dia...Evocê pode imaginar oque seria se a Terra nãoestivesse em guerra,lutandotantopara simplesmente sobreviver?

O que você quer dizer exatamente?

Nossa Terra é comouma criança que cresceusem pais,nãotendoninguém para guiá-la e orientá-la. EnquantoJesusfalava,sua vozse intensificava numa angústia contida. Algunstentaram ajudá-la,masa maioria procurou simplesmente usá-la.Ossereshumanos,que receberam a tarefa de guiar amorosamente omundo,em vezdissoosaquearam sem qualquer consideração.

E

pensaram pouconosprópriosfilhos,que vãoherdar sua falta de amor.Por isso usam e abusam da Terra e,quandoela estremece oureage,se ofendem e levantam ospunhoscontra Deus.

Você é ecologista? perguntouMack,com um certotom de acusação.

Esta imensa bola verde-azulada noespaçonegro,cheia de beleza mesmo agora,espancada,abusada e linda.

Conheçoesta música.Você deve se importar muitocom a Criação.

Bom,essa bola verde-azulada noespaçonegropertence a mim declarou Jesusenfaticamente.

Depoisde um momentoelesabriram assacolasdolanche.Papaiasenchera de sanduíchese guloseimase osdoiscomeram com grande apetite.

Entãopor que vocêsnãoconsertam? perguntouMack,mastigandoo sanduíche. Querodizer,a Terra.

Por que nósa demospara vocês.

Nãopodem pegá-la de volta?

Claroque poderíamos,masentãoa história acabaria antesde ser consumada. Mackdeuum olhar vaziopara Jesus.

Já notouque,mesmoque me chamem de Senhor e Rei,eurealmente nunca agidesse modocom vocês?Nunca assumiocontrole de suasescolhasnem os obrigueia fazer nada,mesmoquandooque estavam fazendoera destrutivopara vocêsmesmose para osoutros?

Mackolhoude volta para olagoantesde responder.

Eupreferiria que àsvezesvocê assumisse ocontrole.Teria economizadoum bocadode dor para mim e para aspessoasde quem eugosto.

Forçar minha vontade sobre a de vocêsé exatamente oque oamor nãofaz.Os relacionamentosverdadeirossãomarcadospela aceitação,mesmoquandosuas escolhasnãosãoúteisnem saudáveis.Esta é a beleza que você vê nomeu relacionamentocom Abba e Sarayu.Nóssomosde fatosubmetidosunsaos outros,sempre fomose sempre seremos.Papaié tãosubmetida a mim quantoeu a ela,ouSarayua mim,ouPapaia ela.

Submissãonãotem a ver com autoridade e nãoé obediência.Tem a ver com relacionamentosde amor e respeito.Na verdade somosigualmente submetidosa você. Mackficousurpreso.

Comopode ser?Por que oDeusdouniversoquereria se submeter a mim?

Porque queremosque você se junte a nósem nossocírculode relacionamento.Nãoqueroescravos,queroirmãose irmãsque compartilhem a vida comigo.

Eé assim que você quer que nósamemosunsaosoutros,nãoé?Querodizer, entre maridose esposas,paise filhos.Em qualquer relacionamento.

Exato! Quandosousua vida,a submissãoé a expressãomaisnaturaldomeu caráter e da minha natureza,e será a expressão mais natural de sua nova natureza dentro dosrelacionamentos

Eoque eumaisqueria era um Deusque simplesmente consertasse tudopara que ninguém se ferisse. Mackbalançoua cabeça aose dar conta disso. Mas nãosoubom nocampodosrelacionamentos,nãosoucomoNan.

Jesusterminoude comer osanduíche,fechouosacodolanche e colocou-oao lado,notronco.Limpoualgumasmigalhaspresasaobigode e à barba curta. Depois,pegandoum pedaçode paualiperto,começoua desenhar na areia, enquantocontinuava:

Issoé porque,comoa maioria dossereshumanos,você

procura realizar-se pelosseusfeitos,e Nan,comoa maioria dasmulheres, pelos relacionamentos. É maisnaturalmente a linguagem dela. Jesusparoupara contemplar uma águiapescadora mergulhar nolagoa menosde 20metrosdelese,a seguir,lentamente elevar-se com as garrassegurandouma grande truta que ainda lutava para escapar.

Issosignifica que eunãotenhosaída?Realmente querooque vocêstrês compartilham,masnãofaçoidéia de comochegar lá.

Há muita coisa obstruindooseucaminhoagora,Mack,masvocê nãoprecisa continuar vivendoassim.

Seique issoé maisverdadeiroagora que Missy se foi,masnunca foifácil para mim.

Você nãoestá simplesmente lidandocom oassassinatode Missy.Há uma reviravolta maior que torna difícilcompartilhar da nossa vida.O mundoestá partidoporque noÉdenvocêsabandonaram o relacionamento conosco para afirmar a própria independência.A maioria doshumanosexpressouissovoltando-se para o trabalhodasmãose para osuor dorostoem busca da identidade,dovalor e da segurança.Aooptar por definir oque é bom e oque é mau,vocêsbuscam determinar seuprópriodestino.Foiessa reviravolta que causoutanta dor.

Jesusse firmounopedaçode madeira para se levantar e parouenquantoMack terminava de comer osanduíche e se levantava também.Juntos,começaram a andar pela margem dolago.

Masissonãoé tudo.O desejoda mulher...na verdade a palavra é a "virada". Assim,a virada da mulher nãofoipara a obra de suasmãose sim para o homem,e a reaçãodele foi"dominá-la",assumir opoder sobre ela,tornar-se o governante.Antesdessa escolha,a mulher encontrava sua identidade,sua segurança e sua compreensãodobem e domalapenasem mim,da mesma forma que ohomem.

Nãoé de espantar que eume sinta um fracassotãogrande com Nan.Não consigoser issopara ela.

Você nãofoifeitopara ser E,aotentar,estará brincandode Deus Mackse abaixou,pegouuma pedra chata e atirou-a ricocheteandosobre olago.

Há alguma saída para isso?

Ésimplesdemais,masnunca é fácilpara vocês.A saída é voltar-se para mim.Abrir mãode seushábitosde poder e manipulaçãoe simplesmente voltar-se para mim. Jesusparecia estar implorando. As mulheres,em geral,acham difícildar ascostaspara um homem e parar de exigir que ele atenda àssuasnecessidades,que proporcione segurança e proteja a identidade delas.Acham difícilretornar para mim.Oshomens,por sua vez, acham muitodifícildar ascostaspara asobrasde suasmãos,para sua busca de poder,segurança e importância.Também acham difícilretornar para mim.

Sempre me pergunteipor que oshomensestãonocomando ponderou Mack Oshomensparecem ser a causa de muita dor nomundo Cometem a maior parte doscrimese muitossãocontra mulherese ele fezuma pausa crianças.

Asmulheres continuouJesusenquantopegava uma pedra e também a fazia ricochetear na água nosderam ascostasem busca de outro relacionamento,aopassoque oshomensviraram-se para elesmesmose para o chão.O mundo,em váriossentidos,seria um lugar muitomaistranqüiloe gentil se asmulheresgovernassem.Haveria muitomenoscriançassacrificadasaos deusesda cobiça e dopoder.

Entãoelasteriam realizadomelhor esse papel.

Melhor,talvez,masainda assim nãoseria suficiente.O poder nasmãosdossereshumanosindependentes,sejam homensoumulheres, corrompe.Mack,você nãovê que representar papéisé ocontráriodo relacionamento?Queremosque homense mulheressejam parceiros,iguaisface a face,cada qualúnicoe diferente,distintosem gêneromascomplementares,e cada um recebendoopoder unicamente de Sarayu,de quem se origina todoo poder e autoridade verdadeiros.Lembre-se,minha identidade nãose baseia em desempenhoe eunãoprecisome encaixar nasestruturasfeitaspeloshumanos. Eutenhoa ver com ser.À medida que você cresce norelacionamentocomigo,o que fizer simplesmente refletirá quem você realmente é.

Masvocê veiona forma de homem.Issonãosignifica alguma coisa?

Sim,masnãooque muitosimaginam Vim comohomem para completar a imagem maravilhosa de comofizemosvocês.Desde oprimeirodia escondemos a mulher nohomem,de modoque na hora certa pudéssemosretirá-la de dentro dele.Nãocriamosohomem para viver sozinho.A mulher foiprojetada desde o início.Aotirá-la de dentrodele,de certa forma ele a deuà luz.Criamosum círculode relacionamentocomoonosso,maspara oshumanos.Ela saindodele e agora todososhomens,inclusive eu,nascidosdela,e tudose originandoou nascendode Deus.

Ah,entendi exclamouMack,interrompendoogestode atirar outra pedra. Se a mulher fosse criada primeiro,nãohaveria um círculode relacionamento e nãose tornaria possívelum relacionamentototalmente igual,cara a cara,entre ohomem e a mulher.Certo?

Certíssimo,Mack. Jesusolhou-oe riu. Nossodesejofoicriar um ser que tivesse uma contrapartida totalmente iguale poderosa:ohomem e a mulher.Mas sua independência,com a busca de poder e de realização,na verdade destróio relacionamentoque seucoraçãodeseja.

Aíestá de novo disse Mack,procurandouma pedra maischata. A questãosempre volta aopoder e a comoele é opostoaorelacionamentoque vocêstêm entre si.Euadoraria experimentar issocom vocêse com Nan. Epor essa razãoestá aqui.

Gostaria que ela estivesse também.

Ah,oque poderia ter sido! meditouJesus.

Macknãoteve idéia doque ele queria dizer.O silênciose instaloupor alguns minutos,interrompidopelosom leve daspedrasricocheteandona água.

Jesusparouantesde jogar maisuma pedra.

Uma última coisa que euqueroque você lembre desta conversa,Mack,antes de você ir.

Ele jogoua pedra.Macklevantouosolhos,surpreso.

Antesde euir?

Jesusignoroua pergunta.

Mack,assim comooamor,a submissãonãoé algoque você pode praticar, especialmente sozinho.Fora de minha vida dentrode você,você nãopode se submeter a Nan,ouaosseusfilhos,oua maisninguém,inclusive Papai.

Quer dizer exclamouMack,um tantosarcástico que eunãoposso simplesmente perguntar:"O que Jesusfaria?"Jesusdeuum risinho.

Boasintenções,má idéia.Nãodeixe de me contar comoa coisa funciona para você,se escolher esse caminho. Paroue ficousério. Éverdade,minha vida nãose destinava a tornar-se um exemploa copiar Ser meuseguidor não significa tentar "ser comoJesus",significa matar sua independência.Euvim lhe dar vida,vida real,minha vida.Nósviveremosnossa vida dentrode você,de modoque você comece a ver com nossosolhos,ouvir com nossosouvidos,tocar com nossasmãose pensar comonós.Masnunca forçaremosessa união.Se você quiser fazer ascoisasdoseujeito,tudobem.O tempoestá a nossofavor.E,por falar em tempo Jesusvirou-se e apontoupara ocaminhoque levava até a floresta nofim da clareira ,você tem um compromisso.Siga aquele caminhoe entre onde ele acaba.Vouesperar aqui.Por maisque quisesse,Mack soube que nãoadiantaria tentar prosseguir na conversa.

Num silênciopensativo,calçouasmeiase ossapatos.Nãoestavam totalmente secos,masofereciam algum conforto.Levantou-se sem dizer maisnada,foina direçãodofim da praia,parouum minutopara olhar de novoa cachoeira,pulou por cima docórregoe entrouna floresta por um caminhobem cuidadoe nítido.

11.OLHA OJUIZAÍ,GENTE

Quem decidir se colocar comojuizda Verdade e do

naufragadopela gargalhada dosdeuses.

AlbertEinstein

Ah,minha alma,prepare-se para encontrar Aquele que sabe fazer perguntas.

T.S.Eliot

Mackseguiua trilha,que serpenteava,passandopela cachoeira,afastando-se do lago,e atravessouum densobosque de cedros.Demoroumenosde cincominutos para chegar a um impasse.O caminhoolevoudiretamente até a face de uma rocha onde havia a leve silhueta de uma porta praticamente invisível. Obviamente ele devia entrar,por issoestendeua mão,hesitando,e empurrou. Sua mãosimplesmente penetrouna parede e Mackcontinuoua se mover cautelosamente adiante até todooseucorpopassar peloque parecia osólidoexterior de pedra da montanha. Dentro,a escuridãoera tãoespessa que ele nada via Respirandofundoe com asmãosestendidasà frente docorpo,aventurou-se dandopequenospassosna escuridãototale parou.O medoodominoue ele respirava com dificuldade,sem saber se deveria prosseguir ounão.Enquantoseu estômagose apertava,sentiude novoa Grande Tristeza pousandopesadamente em seus ombros, quase o sufocando. Queria voltar desesperadamente para a luz,masacreditava que Jesusnãoiria mandá-lo

Conhecimentoé

para alisem um bom propósito.Foiem frente.Devagar,seusolhosse acostumaram com assombrasprofundase foipossívelperceber um corredor se curvandoà

esquerda.Enquantoseguia por ele,surgiuuma leve luminosidade que se refletia nasparedes,vinda de algum lugar à frente.A menosde 30metrosotúnelvirou abruptamente para a esquerda e Mackse viuna borda doque imaginouser uma caverna enorme.A ilusãoera ampliada pela única luzpresente,um leve fulgor que oenvolvia,masse dissipava a menosde 3

metrosem todasasdireções.Para além dissonãoconseguia ver nada,somente o negrume.O ar era pesadoe opressivo,com um friode tirar ofôlego.Olhoupara baixoe ficoualiviadoaovislumbrar oleve reflexode uma superfície nãoa terra e a rocha dotúnel,masum pisolisoe escurocomomica polida.Dando corajosamente um passoà frente,notouque ocírculode luzse movia com ele, iluminandoum poucomaisa área adiante.Sentindo-se maisconfiante,começou a andar lenta e deliberadamente na direçãopara a qualestivera virado, concentrando-se nochão.

Estava tãoligadonosprópriospésque trombounum objetoe quase caiu.

Era uma cadeira de madeira,de aparência confortável,nomeiode...nada.Mack decidiurapidamente sentar-se e esperar.Aofazer isso,a luzque ohavia ajudado continuoua se mover à frente comose ele ainda estivesse andando.Logoadiante pôde ver uma escrivaninha de ébano, de tamanho considerável, completamente vazia.Edeuum puloquandoa luzse concentrounum pontoe finalmente ele a viu.Atrásda mesa se encontrava uma mulher alta,linda,de pele morena,com feiçõeshispânicasbem marcadas,vestindoum mantolargo de coresescuras.Estava sentada ereta e regia comoum juizda suprema corte.

Sua beleza era estonteante.

"Ela é a beleza",pensouele."Tudoque a sensualidade luta para ser masfica

muitolonge de conseguir."À luzfraca era difícilver onde seurostocomeçava, comose ocabeloe omantoemoldurassem asfeiçõese se fundissem nelas.Os olhosbrilhavam e luziam comose fossem portaispara a vastidãodocéu estrelado,refletindoalguma fonte de luzdesconhecida dentroda mulher.Mack nãoousoufalar,com medode que sua vozfosse engolida pela intensidade doambiente. Pensou: "Sou o camundongo Mickey em vias de falar com Pavarotti."

O pensamentoofezsorrir.Comose de algum modootivesse ouvido,a mulher sorriude volta e olugar clareounitidamente.Foionecessáriopara Mack entender que era esperadoe bem-vindo.A mulher parecia estranhamente familiar,comose ele a tivesse conhecidoouvislumbradoem algum lugar no passado,apesar de saber que nunca a vira nem se encontrara com ela de verdade.

Será que possoperguntar...quem é você? disse Mackdesajeitado,a voz maldeixandouma impressãonosilêncioda sala,masdepoispermanecendo comoa sombra de um eco.Ela ignoroua pergunta.

Você sabe por que está aqui? Comouma brisa varrendoa poeira,a voz dela afastoua pergunta de Mackpara fora da sala.Ele quase podia sentir as palavraschovendosobre sua cabeça e se dissolvendona coluna vertebral, lançandoarrepiosdeliciosospara todososlados.Estremeceue decidiuque não queria falar.Só

desejava que ela falasse,com ele oucom qualquer um,desde que ele a ouvisse. Masa mulher esperou.

Você sabe disse ele baixinho,surpresocom a sonoridade da própria voze convictode que dizia a verdade. Eunãofaçoidéia acrescentou,voltandoo olhar para ochão. Ninguém me disse.

Bem,Mackenzie AllenPhillips ela riu,fazendo-olevantar osolhos rapidamente Estouaquipara ajudá-lo Se um arco-írisouuma flor desabrochandofizessem som,esse seria osom dorisodela.Era uma chuva de luz,um convite para falar,e Mackriucom ela,sem mesmosaber ouse importar por quê.

De novohouve silêncio,e orostoda mulher,embora permanecesse suave, assumiuuma intensidade feroz,comose ela pudesse olhar nofundodele,para além dosfingimentose fachadas,até oslugaresdosquaisraramente se fala,se é que se fala.

Hoje é um dia muitosério,com conseqüênciassérias.

Ela fezuma pausa,comopara dar pesoàssuaspalavrasnitidamente pesadas. Mackenzie,você está aquiem parte por causa de seusfilhos,mastambém está aquipor...

Meusfilhos? interrompeuMack. Comoassim,estouaquipor causa dos meusfilhos?

Mackenzie,você ama seusfilhosde um modoque seupaijamaisconseguiu amar você e suasirmãs.

Claroque amomeusfilhos.Todopaiama osfilhos.Maspor que issotem a ver com omotivode euestar aqui?

Em certosentido,todopaiama osfilhos respondeuela,ignorandoa segunda pergunta. Masalgunspaisestãomachucadosdemaispara amá-los bem,e outrosmalconseguem amá-los,você deveria saber disso.Masvocê ama seusfilhosbem,muitobem.

Aprendimuitodissocom Nan.

Sabemos.Masaprendeu,nãofoi?

Achoque sim.

Dentre osmistériosde uma humanidade ferida,este também é bastante notável:aprender,permitir a mudança. Ela era calma comoum mar sem vento. Então,Mackenzie,qualde seusfilhosvocê maisama?

Macksorriupor dentro.Era uma pergunta que ele se fizera muitasvezessem encontrar resposta.

Nãoamonenhum maisdoque osoutros.Amocada um de um modo diferente disse,escolhendoaspalavrascom cuidado.

Explique isso,Mackenzie pediuela com interesse.

Bom,cada um dosmeusfilhosé único,tem uma personalidade especial.E essa condiçãoúnica provoca uma reaçãoúnica em mim.

Mackse recostouna cadeira.

Lembro-me de quandoJon,oprimeiro,nasceu.Fiqueitãomaravilhadocom aquele ser tãopequenoe frágilque na verdade me preocupei,pensandose me restaria amor para um segundofilho.Mas,quandoTyler chegou,foicomose trouxesse com ele um presente maravilhosopara mim,toda uma nova capacidade de amá-loespecialmente.Pensandobem,é comoquandoPapaidiz que gosta de modoespecialde alguém.Quandopensoem cada um dos meus filhos individualmente, descubroque gosto especialmente de cada um.

Muitobem,Mackenzie! A apreciaçãodela era tangívele ela prosseguiu, inclinando-se um pouco,com otom ainda suave,porém sério. Mase quando

elesnãose comportam,ouquandofazem escolhasdiferentesdasque você gostaria que fizessem,ouquandosãoagressivose grosseiros?Equandoeleso embaraçam na frente dosoutros?Comoissoafeta seuamor por eles?

Mackrespondeulenta e decididamente:

Na verdade,nãoafeta. Ele sabia que estava sendosincero,mesmoque algumasvezesKatie nãoacreditasse.

Admitoque issome incomoda e algumasvezesficosem graça oucom raiva, mas,mesmoquandoelesagem mal,ainda sãomeusfilhose serãopara sempre. O que fazem pode afetar meuorgulho,masnãomeuamor.

Ela se recostou,rindode orelha a orelha.

Você é sábioem termosde amor verdadeiro,Mackenzie.Muitosacreditam que é oamor que cresce,masé oconhecimentoque cresce,e oamor simplesmente se expande para contê-lo.O amor é simplesmente a pele doconhecimento.Mackenzie,você ama seusfilhosque conhece tãobem com um amor maravilhosoe verdadeiro.

Meiosem graça com oelogio,Mackbaixouoolhar

Bem,obrigado,masnãosouassim com muitasoutraspessoas.Meuamor tende a ser bastante condicionalna maior parte dotempo.

Masissoé um começo,nãoé,Mackenzie?Evocê nãoultrapassousozinhoa incapacidade de seupai.Foram Deuse você,juntos,que causaram essa mudança,para que você pudesse amar desse modo.Eagora você ama seus filhospraticamente comooPaiama osdele.

Mackpercebeuseumaxilar se apertandoe sentiude novoa raiva começar a crescer.O que deveria ter sidoum elogiotranqüilizador parecia maisuma pílula amarga que agora ele se recusava a engolir.Tentourelaxar para encobrir as emoções,mas,pela expressãodela,soube que era inútil.

Hummm murmuroua mulher. Algoque eudisse incomodouvocê, Mackenzie? Dessa vezoolhar dela odeixoudesconfortável.

Macksentiu-se exposto.O silêncioque se seguiuà pergunta pairava noar.Mack lutoupara manter a compostura.Podia ouvir oconselhode sua mãe ressoando nosouvidos:"Se nãotiver nada de bom para dizer,nãodiga nada."

Ah...bem,não! Na verdade,não.

Mackenzie instigouela ,este nãoé um momentopara usar obom sensoda sua mãe.Éum momentode honestidade,de verdade.Você nãoacredita que o Paiame bem seusfilhos,nãoé?

Você nãoacredita realmente que Deusseja bom,nãoé?

Missy é filha dele? perguntouMackrispidamente.

Claro!

Então,não! respondeuele bruscamente,levantando-se.

Nãoacreditoque Deusame todososseusfilhosmuitobem!

Tinha dito,e agora a acusaçãoecoava nasparedesque poderiam existir na câmara.EnquantoMackestava aliparado,com raiva e prontopara explodir,a mulher permaneceucalma e sem alterar a postura.Lentamente,levantou-se da cadeira de encostoalto,passouem silênciopor trásdele e ochamou.

Por que nãose senta aqui?

Ele encarou-a com sarcasmo,masnãose mexeu.

Mackenzie. Ela permaneceude pé atrásda cadeira.

Antescomeceia dizer por que você está aquihoje.Nãosomente por causa dos seusfilhos.Está aquipara ojulgamento.Enquantoa palavra ecoava na câmara, opânicosubiupor dentrode Mackcomoum maremotoe lentamente ele se deixouafundar na cadeira.Lembrançasse derramavam da mente comoratos fugindoda enchente e nomesmoinstante ele se sentiuculpado.Segurouos braçosda cadeira,tentandoencontrar algum equilíbrio,inundadopor imagense emoções.Seusfracassoscomoser humanosubitamente se tornaram enormese nofundoda mente quase pôde ouvir uma vozentoandouma lista crescente e apavorante de pecados.

Nãotinha defesa.Sabia que estava perdido.

Mackenzie? começouela,masele a interrompeu.

Agora entendo.Estoumorto,nãoestou?Por issoconsigover Jesuse Papai, porque estoumorto. Ele se recostoue olhoupara a escuridão,sentindo-se nauseado. Nãoacredito! Nãosentinada. Olhoupara a mulher,que o

observava com paciência.

Há quantotempoestoumorto?

Mackenzie,lamentodesapontá-lo,masvocê ainda nãocaiunosononoseu mundo,e acreditoque se enga...

De novoMacka interrompeu: Nãoestoumorto? Incrédulo,levantou-se de novo. Quer dizer que tudoistoé reale ainda estou vivo?Masvocê disse que eutinha vindoaquipara ser julgado.

Disse,sim declarouela em tom casual,com uma expressãodivertida. MasMacken...

Julgamento?Enem estoumorto? Pela terceira vezele a interrompeu,com a raiva substituindoopânico. Nãoé justo!

Ele sabia que suasemoçõesnãoestavam ajudando. Issoacontece com outras pessoas?Querodizer,ser julgadoantesmesmode morrer?Ese eumudar?Ese eufor melhor pelorestoda vida?Ese me arrepender?Eaí?

Há alguma coisa da qualvocê queira se arrepender,Mackenzie? perguntou ela,sem se abalar com a explosão Macksentou-se de novo,lentamente Olhoua superfície lisa dochãoe balançoua cabeça antesde responder.

Eunãosaberia por onde começar murmurou. Souuma confusão,nãoé?

É,sim. Macklevantouosolhose ela sorriu. Você é uma confusãogloriosa e destrutiva,Mackenzie,masnãoestá aquipara se arrepender,pelomenosnãodomodocomoentende oarrependimento. Mackenzie,você nãoestá aquipara ser julgado.

Mas interrompeuele de novo. Acheique você disse que euvim... ...aquipara ojulgamento? Ela permaneceufresca e plácida comouma brisa de verãoenquantocompletava a pergunta dele. Disse.Masvocê nãoestá em julgamento.

Mackrespiroufundo,aliviadocom aspalavras.

Você será ojuiz.

percebeuoque ela dissera.Por fim baixouosolhospara a cadeira que oesperava.

O quê?Eu? Fezuma pausa. Nãotenhonenhuma capacidade de julgar.

Ah,nãoé verdade foia resposta rápida,agora tingida por um leve sarcasmo. Você já se mostroubastante capaz,mesmonopoucotempoque passamosjuntos.E,além disso,já julgoumuitaspessoasdurante a vida.Julgouosatose até mesmoasmotivações dosoutros,comose soubesse quaiseram.Julgoua cor da pele,a linguagem corporale oodor pessoal.Julgouhistóriase relacionamentos.Até julgouovalor da vida de uma pessoa segundoseuconceitode beleza.Em todosossentidos, você é bastante treinadonessa atividade.

Macksentiua vergonha avermelhandoseurosto.Tinha de admitir que já fizera um bocadode julgamentos.Masnãoera diferente de maisninguém,era?Quem nãojulga impulsivamente asaçõese intençõesdosoutros?Aolevantar osolhos, viu-a espiando-ocom atençãoe rapidamente voltoua olhar para baixo.

Diga pediuela ,se é que possoperguntar:qualé ocritériopeloqualvocê baseia seusjulgamentos?

Macktentouencará-la,masdescobriuque quandoa olhava diretamente seu pensamentooscilava.Teve de desviar osolhospara a escuridãodocantoa sala, esperandorecuperar ocontrole.

Nada que pareça fazer muitosentidoneste momento admitiufinalmente,com a vozembargada. Confessoque quandofizaqueles julgamentoseume sentia bastante justificado,masagora...

Claroque se sentia. Ela afirmoucomouma declaração,comoalgo rotineiro,sem registrar sequer por um momentoa evidente vergonha e perturbaçãodele. Julgar exige que você se considere superior a quem você julga.Bom,hoje você terá a oportunidade de colocar toda a sua capacidade em uso.Venha disse ela,dandoum tapinha noencostoda cadeira. Queroque se sente aqui. Agora.

Hesitando,ele foiobedientemente até ela e a cadeira que oesperava.A cada passoparecia ficar menor.Subiucom dificuldade na cadeira e sentiu-se infantil,

O nónoestômagoretornouquandoele

ospésmaltocandoochão.

Eexatamente oque voujulgar? perguntou,virando-se para olhá-la.

Nãooquê. Ela foipara oladoda mesa. Quem.

O desconfortode Mackcrescia aossaltose sentar-se numa cadeira solene e grande demaisnãoajudava.Que direitoele tinha de julgar alguém?Claro,de certa forma era culpadode julgar praticamente todomundoque conhecera e muitosdesconhecidos.Macksabia que era totalmente culpadode ser egocêntrico. Comoé que ele ousava julgar alguém?Todososseusjulgamentoshaviam sido superficiais,baseadosna aparência e nosatos,motivadospor preconceitos, estadosde espíritooupor sua necessidade de sentir-se melhor ousuperior.Estava começandoa entrar em pânico.

Sua imaginação ela interrompeuseuspensamentos nãovaiajudá-lomuitoneste momento.

"Nãobrinca,Sherlock!"ele pensouironicamente,mastudoque saiude sua boca foi: Nãopossofazer isso.

Sua capacidade de fazer issoounãoainda nãofoideterminada disse ela com um sorriso. Emeunome nãoé Sherlock. Macksentiu-se gratopela sala escura que escondia seuembaraço.O silêncioque se seguiupareceumantê-locativopor muitomaistempodoque ospoucos segundosnecessáriospara encontrar a voze finalmente fazer a pergunta:

Entãoquem devojulgar?

Deus ela fezuma pausa e a raça humana. Disse comose issonão tivesse importância especial.Aspalavrassimplesmente rolaram de sua língua,

como se fosse um acontecimentocotidiano Mackficouaparvalhado.

Você sópode estar brincando! exclamou.

Por que não?Sem dúvida há muitaspessoasnoseumundoque você acha que merecem julgamento.Deve haver pelomenosalgumasculpadaspor boa parte da dor e dosofrimento,nãoé?Que talosgananciososque exploram ospobresdo mundo?

Que talosque promovem asguerras?Que taloshomensque agridem as mulheres,Mackenzie?Que talospaisque batem nosfilhos sem qualquer motivo além de aplacar seu própriosofrimento?Elesnãomerecem julgamento,Mackenzie? Mackpercebia a profundidade de sua raiva nãoresolvida subir comoum jorrode fúria.Afundouna cadeira tentandomanter oequilíbrioabaladopor um tiroteiode imagens,maspodia sentir ocontrole se esvaindo.Seuestômagodeuum nó enquantoele fechava ospunhos,com a respiraçãocurta e rápida.

Eque talohomem que é um predador de menininhasinocentes?Que talele, Mackenzie?Esse homem é culpado?Ele deve ser julgado?

Deve! gritouMack. Deve ser mandadopara oinferno!

culpadoda sua perda?

É!

Eopaidele,ohomem que deformouofilhoaté que ele se transformasse num terror?Eele?

É,ele também!

Até onde devemosvoltar,Mackenzie?Esse legadode deformaçãoremonta até Adão.Eele?Maspor que pararmosaqui?

EDeus?Deuscomeçouessa coisa toda.Deusdeve ser culpado?

Mackestava tonto.Nãose sentia de modoalgum um juiz,e sim um réusendo julgado.

A mulher nãose aplacava.

Nãoé aíque você está travado,Mackenzie?Nãoé issoque alimenta a Grande Tristeza?O fatode nãopoder confiar em Deus?

Sem dúvida,um paicomovocê pode julgar oPai!

De novoa raiva dele subiucomouma chama gigantesca.Queria golpear alguma coisa,masela estava certa e nãohavia sentidoem negar.A mulher prosseguiu:

Sua reclamaçãonãoé justa,Mackenzie?O fatode Deuster fracassadocom você,ter fracassadocom Missy?O fatode,antesda Criação,Deussaber que um dia sua Missy seria brutalizada e mesmoassim a ter criado?Edepoispermitir que aquela alma deturpada a arrancasse de seusbraçosamorososquandotinha poder para impedir?Deusnãodeve ser culpado,Mackenzie?

Mackolhava para ochão,com uma avalanche de imagensempurrandoseus sentimentosem todasasdireções.Por fim falou,maisaltodoque pretendia,e apontouodedodiretamente para ela.

Sim! A culpa é de Deus! A acusaçãopairounoar enquantoomartelode juizbatia em seucoração.

Então disse ela em tom definitivo ,se você pode julgar Deuscom tanta facilidade,certamente pode julgar omundo.

Sua voznãoexpressava emoção. Você deve escolher doisde seusfilhospara

Ele é

passar à eternidade nonovoCéue na nova Terra de Deus,masapenasdois.

O quê? explodiuele,incrédulo.

Evocê deve escolher trêsfilhospara passar a eternidade noinferno. Macknãopodia acreditar noque estava ouvindoe começoua entrar em pânico Mackenzie. Agora a vozdela veiotãocalma e maravilhosa quantona primeira vezem que ele a havia escutado.

Sóestoulhe pedindopara fazer uma coisa que você acredita que Deusfaz.Ele conhece todasaspessoasjá concebidase muitomaisprofunda e claramente do que você jamaisconhecerá seusfilhos.Ele ama cada um segundooque conhece doser desse filhooudessa filha.Você acredita que ele irá condenar a maioria a uma eternidade de tormento,para longe de Sua presença e de Seuamor.Nãoé verdade?

Achoque sim.Simplesmente nunca penseina coisa desse modo. Ele tropeçava naspalavras,chocado. Simplesmente acheique,de algum modo, Deuspoderia fazer isso.Falar sobre oinfernoera uma espécie de conversa abstrata e nãosobre alguém de quem eurealmente... Mackhesitou ...e não sobre alguém de quem eurealmente gostasse.

Entãovocê acha que Deusfazissocom facilidade,masvocê não?Ande, Mackenzie.Quaisde seuscincofilhosvocê

condenará aoinferno?Katie é a que está em maior conflitocom você agora.Ela otrata male lhe disse coisasdolorosas.Talvezela seja a primeira escolha,a maislógica.Que talela?Você é ojuiz,Mackenzie,e deve escolher.

Nãoqueroser juiz disse ele,levantando-se.A mente de Mackdisparava. Issonãopodia ser real.ComoDeusseria capazde pedir que ele escolhesse entre osprópriosfilhos?

Era absolutamente impossívelcondenar Katie ouqualquer um dosoutrosa uma eternidade noinfernosimplesmente porque ela havia pecadocontra ele.Mesmo que Katie,Josh,JonouTyler cometessem algum crime hediondo,ele nãofaria isso.Nãopodia!

Para ele,issonãotinha relaçãocom odesempenhodosfilhos.Tinha a ver com seuamor por eles.

Nãopossofazer isso disse baixinho.

Você deve.

Nãopossofazer isso disse maisaltoe veemente.

Você deve repetiuela,com a vozmaissuave.

Eu não vou fazer isso! gritouMack,com osangue fervendopor dentro.

Você deve sussurrouela.

Nãoposso.Nãoposso.Nãovou! gritouele,e agora aspalavrase emoções saíram num jorro.A mulher simplesmente ficouparada,esperando.Por fim ele a encarou,implorandocom osolhos. Eunãopossoir nolugar deles?Se vocês precisam de alguém para torturar por toda a eternidade,euvounolugar deles. Pode ser?Eupoderia fazer isso? Caiuaospésdela,chorandoe implorando. Por favor,deixe-me ir nolugar dosmeusfilhos,por favor,euficaria felizem... Por favor,estouimplorando.Por favor...Por favor...

Mackenzie,Mackenzie sussurroua mulher,e suaspalavrasvieram como um jatode água fria num dia de calor brutal.Suasmãostocaram gentilmente o rostodele enquantoela opunha de pé.Olhando-a atravésde lágrimasturvas,ele pôde ver que osorrisoda mulher era radiante. Agora você está falandocomo Jesus.Você julgoubem,Mackenzie.Estouorgulhosa!

Maseunãojulgueinada disse Mack,confuso.

Ah,julgousim.Você julgouque elessãomerecedoresde amor,mesmoque issolhe custe tudo.Éassim que Jesusama.QuandoMackouviuaspalavras, pensouem seunovoamigoesperandojuntodolago.

Eagora você conhece ocoraçãode Papai

acrescentouela ,que ama todososfilhoscom perfeição.Nomesmoinstante a imagem de Missy chamejouem sua mente e ele ficoutenso.Sem pensar, sentou-se de novona cadeira.

O que aconteceu,Mackenzie? perguntouela. Ele viuque nãoadiantaria esconder.

Entendooamor de Jesus,masDeusé outra história.Nãoachoque osdois sejam iguais,de modonenhum.

Você nãogostoudotempoque passoucom Papai? perguntouela,surpresa.

Não,euamoPapai,quem quer que ela seja.Ela é incrível,masnãoé nem um poucocomooDeusque euconheço.

Talvezsua idéia de Deusesteja errada.

Talvez.Simplesmente nãovejocomoDeuspudesse amar Missy com perfeição.

Entãoojulgamentocontinua? disse ela com tristeza na voz. IssofezMackparar,masapenaspor um momento.

O que eudeveria pensar?Simplesmente nãoentendocomoDeuspoderia amar Missy e deixar que ela passasse por aquele horror.Era uma menininha inocente.Nãofeznada para merecer aquilo.

Eusei. Mackprosseguiu:

Deususou-a para me castigar peloque eufizcom omeupai?Issonãoé justo. Ela nãomerecia.Nannãomerecia. Lágrimasescorreram pelorostodele. Eupoderia merecer,maselas,não.

Éesse oseuDeus,Mackenzie?Nãoé de espantar que você esteja afogadona tristeza.Papainãoé assim,Mackenzie.Ele nãoestá castigando você,nem Missy,nem Nan Issonãofoifeitopor ele

Masele nãoimpediu.

Não,nãoimpediu.Ele nãoimpede um monte de coisasque lhe causam dor.O mundode vocêsestá seriamente deturpado.Vocêsexigiram a independência e agora têm raiva daquele que osamouobastante para lhesdar omundo.Nada é comodeveria ser,comoPapaideseja que seja e comoserá um dia.Neste momentoseumundoestá perdidona escuridãoe nocaos,e coisashorríveis acontecem com aquelesde quem ele gosta especialmente.

Entãopor que ele nãofazalgoa respeito?

Quer dizer,oque Jesusfez?

Você nãoviuosferimentosem Papaitambém?

Nãoentendiosferimentos Comoele pôde

Por amor.Ele escolheuocaminhoda cruz,onde a misericórdia triunfa sobre a justiça por causa doamor.Você preferiria que ele tivesse escolhidoa justiça para todomundo?

Você quer justiça,"MeritíssimoJuiz"? Ela sorriuaodizer isso.

Não,nãoquero ele respondeu,baixandoa cabeça. Nãopara mim e nãopara meusfilhos. Ela esperou. Masainda nãoentendopor que Missy teve de morrer.

Ela nãoteve,Mackenzie.Issonãofoinenhum planode Papai.Papainunca precisoudomalpara realizar seusbonspropósitos.Foram vocês,humanos,que abraçaram omal,e Papairespondeucom bondade.O que aconteceucom Missy foitrabalhodomale ninguém noseumundoestá imune a ele.

Masdóidemais.Deve haver um modomelhor.

Há.Você simplesmente nãoconsegue ver agora.Retorne de sua independência,Mackenzie.Desista de ser juizde Papaie conheça-ocomoele é. Então,nomeiode sua dor,você poderá

abraçar oamor dele,em vezde castigá-locom sua percepçãoegocêntrica de comovocê acha que ouniversodeveria ser.Papaise arrastoupara dentrode seu mundopara estar com vocês,para estar com Missy.

Mackse levantouda cadeira.

Nãoqueromaisser juiz.Realmente queroconfiar em Papai. Sem que Macknotasse,a sala se iluminoude novoenquantoele se movia aoredor da mesa em direçãoà cadeira simplesonde tudohavia começado. Masvou precisar de ajuda.Ela aproximou-se dele e oabraçou.

Ele já fez...

Agora issoparece oinícioda viagem para casa,Mackenzie.Parece mesmo.

O silêncioda caverna foisubitamente rompidopelosom de risosde crianças. Parecia vir de uma dasparedesque agora Mackpodia ver claramente à medida que a sala continuava a clarear.Enquantoolhava naquela direção,a superfície da pedra foificandocada vezmaistranslúcida e a luzdodia penetrouna caverna. Espantado,Mackolhoupela névoa e finalmente conseguiuvislumbrar asformas vagasde criançasbrincandoà distância.

O som parece ser dosmeusfilhos! exclamouperplexo.Enquantoia em direçãoà parede,a névoa se dividiu,comose alguém tivesse abertouma cortina, e ele estava inesperadamente olhandopara uma campina,na direçãodolago.Na sua frente estava opanode fundodasmontanhasnevadas,perfeitasem sua majestade,vestidascom florestasdensas.E,aninhada aopé,a cabana onde ele sabia que Papaie Sarayuestariam à sua espera.Um riacholargosurgia bem à sua frente e desaguava nolagojuntode camposde flores.Ossonsde pássaros estavam em toda parte e operfume doce doverãopairava intensonoar. TudoissoMackviu,ouviue cheirounum instante,masentãoseuolhar foiatraído para ogrupobrincandopertodolugar onde oriodesaguava nolago,a menosde 50metrosdali.Viuseusfilhos:Jon,Tyler,Joshe Kate.Masespere! Havia mais alguém!

Ofegante,tentoufocalizar melhor.Moveu-se na direçãodeles,masfoi pressionadocontra uma força que nãovia,comose a parede de pedra ainda estivesse alià sua frente,invisível.Entãoficouclaro.

Missy!

Lá estava ela,chutandoa água com ospésdescalços.Comose tivesse escutado, Missy se separoudogrupoe veiocorrendopela trilha que terminava diretamente diante dele.

Ah,meuDeus! Missy! gritouMacke tentouavançar atravésdovéuque os separava.Para sua consternação,bateucontra a força que nãolhe permitia chegar maisperto,comose algum magnetismoaumentasse em oposiçãoaoseu esforço,mandando-ode volta para a sala.

Ela nãopode ouvi-lo. Macknãose importava.

Missy! gritou.Ela estava tãoperto! A lembrança que estivera se

esforçandotantopara nãoperder,masque sentia lentamente se esvair agora, saltoude volta.Procuroualgum tipode maçaneta,comose pudesse abrir alguma coisa e encontrar um modode chegar à filha.Masnãohavia nada.

Enquantoisso,Missy havia chegadoe estava parada bem diante dele.O olhar dela se fixava em algonomeio,maior e obviamente visívelpara ela,masnão para ele.

Finalmente Mackparoude lutar contra ocampode força e virou-se para a mulher.

Ela pode me ver?Ela sabe que estouaqui? perguntoudesesperado.

Ela sabe que você está aqui,masnãopode vê-lo.Doladoonde se encontra, Missy está olhandopara a linda cachoeira e nada mais.Porém sabe que você está atrásdela.

Cachoeiras! exclamouMack,rindosozinho. Ela adora cachoeiras! Agora Mackse concentrouna filha,tentandomemorizar de novocada detalhe de sua expressão,docabeloe dasmãos.Enquantoele fazia isso,orostode Missy se abriunum sorrisoenorme,com ascovinhasse destacando.Em câmara lenta,ele pôde ver sua boca falandosem som:

Está tudobem,eu... e ela fezsinaisacompanhandoaspalavras ...te amo.

Era demaise Mackchoroude alegria.Mesmoassim nãoconseguia parar de olhá-la,observando-a atravésde sua cachoeira de lágrimas.Estar tãopertoassim era doloroso,vê-la ali,com aquele jeitotãocaracterísticode Missy.

Ela está realmente bem,nãoestá?

Maisdoque você imagina.Esta vida é apenasa ante-sala para uma realidade maior que virá.Ninguém realiza plenamente seuprópriopotencialnoseumundo. Éapenasum preparativoque Papaitinha em mente otempotodo.

Possoir até ela?Talvezsóum abraçoe um beijo? imploroubaixinho.

Não.Éassim que ela queria.

Ela queria assim? Mackficouconfuso.

É.A nossa Missy é uma criança muitosábia.Gostoespecialmente dela.

Tem certeza de que ela sabe que estouaqui?

Sim,tenhocerteza garantiua mulher. Ela estava muitoempolgada esperandoeste dia para brincar com osirmãose a irmã e estar pertode você. Ela gostaria que a mãe também estivesse aqui,masissoterá de esperar outra ocasião.Mackse viroupara a mulher.

Meusoutrosfilhosestãorealmente aqui?

Estãoe nãoestão.SóMissy está realmente aqui.Osoutrosestãosonhandoe cada um terá uma vaga lembrança,algunscom maisdetalhesdoque outros.Este é um momentomuitopacíficode sonopara cada um,menospara Kate.Este sonhonãoserá fácilpara ela.MasMissy está totalmente acordada. Mackficouolhandocada movimentofeitopor sua preciosa Missy.

Ela me perdoou? perguntou.

Perdoouoquê?

Eufalheicom ela sussurrouele.

Seria da natureza dela perdoar se houvesse algoa perdoar,masnãohá.

Maseunãoimpedique ele a levasse.Ele a levouenquantoeunãoestava prestandoatenção... sua vozficounoar.

Se você se lembra,você estava salvandoseufilho.Sóvocê,em todoo universo,acredita que tem alguma culpa.Missy nãoacredita nisso,nem Nan, nem Papai.Talvezseja hora de abandonar essa mentira.E,Mackenzie,mesmo que você fosse culpado,oamor dela é muitomaisforte doque a sua falha jamaispoderia ser.

Nesse momentoalguém chamouonome de Missy e Mackreconheceua voz.A menina gritoude prazer e começoua correr em direçãoaosoutros De repente paroue correude volta para opai.Fezogestode um grande abraçoe,com os olhosfechados,simulouum grande beijo.De trásda barreira ele a abraçou também.Por um instante ela ficoutotalmente imóvel,comose soubesse que estava lhe dandoum presente.Depoisacenou,virouse e correupara osoutros.E agora Mackpôde ouvir claramente a vozque havia chamadosua Missy.Era Jesusbrincandonomeiode seusfilhos.Sem hesitar,Missy pulounocolodele.

Ele girou-a noar duasvezesantesde colocá-la de volta nochão,depoistodo

mundoriue saíram procurandopedraslisaspara jogar ricocheteandona superfície dolago.Ossonsde exuberante alegria eram uma sinfonia nosouvidos de Macke suaslágrimascorreram livremente.De súbito,sem aviso,a água veio rugindode cima,bem à sua frente,e obliteroutoda a visãoe asvozesde seus filhos.Instintivamente ele saltoupara trás.Entãopercebeuque asparedesda caverna haviam se dissolvidoaoredor e ele estava numa gruta atrásda cachoeira.

Macksentiua mãoda mulher nosombros. Acabou? perguntouele.

Por enquanto respondeuela com ternura. Mackenzie,julgar nãoé destruir,masconsertar ascoisas.

Macksorriu. Nãoestoumaisme sentindotravado. Ela oguiougentilmente para a lateralda cachoeira,até que ele pôde ver de novo Jesusna margem do lagoainda jogandopedras.

Achoque alguém está esperandovocê. Asmãosdela apertaram seus ombroscom suavidade,depoisela osoltoue,sem olhar, Mack soube que ela fora embora. Ele passou cuidadosamente sobre pedrasescorregadiase rochasmolhadasaté encontrar um caminhopela borda da cachoeira. Atravessoua névoa revigorante da água que despencava e retornouà luzdodia. Exausto,masprofundamente realizado,Mackparoue fechouosolhospor um

momento,tentandogravar indelevelmente nopensamentoosdetalhesda presença de Missy,esperandoque nosdiasfuturospudesse trazer de volta cada momentocom ela,cada nuance e cada movimento.

Esubitamente sentiumuita,muita falta de Nan.

12.NA BARRIGA DASFERAS

Oshomensjamaisfazem omaltãocompletamente e com tanta alegria comoquandoofazem a partir de uma convicçãoreligiosa.

Blaise Pascal Assim que abolimosDeus,ogovernose torna Deus. G.K .Chesterton

Enquantoseguia pela trilha em direçãoaolago,Mackpercebeusubitamente que faltava alguma coisa.Sua companheira constante,a Grande Tristeza,havia sumido.Era comose tivesse sidolavada na névoa da cachoeira enquantoele emergia por baixoda cortina d'água.

A ausência era estranha, talvezaté desconfortável.Nosanosanterioresela havia definidopara ele oque era um estadonormal,masagora tinha desaparecidoinesperadamente."O normalé um mito",pensou.A Grande Tristeza nãofaria maisparte de sua identidade.Agora sabia que Missy nãose importaria se ele se recusasse a usála.Na verdade,sua filha nãoiria querer que opaise envolvesse naquela mortalha e certamente

sofreria se ele fizesse isso.Tentouimaginar quem ele passaria a ser,agora que estava se soltandode tudoaquilo começar cada dia sem a culpa e odesespero que haviam sugadode todoascoresda vida.

Enquantoentrava na clareira,viuJesusesperando,ainda jogandopedras.

Ei,achoque omáximoque conseguiforam 13ricochetes

disse ele rindoe vindoaoencontrode Mack. MasTyler conseguiutrêsa maisdoque eu,e Joshjogouuma pedra que ricocheteoupara tãolonge que a perdemosde vista. Enquantose abraçavam,Jesusacrescentou: Você tem filhosespeciais,Mack.Você e Nanosamaram muitobem.Kate está lutando, comovocê sabe,masainda nãoterminamos.

A tranqüilidade e a intimidade com que Jesusfalava de seusfilhostocou-o profundamente.

Entãoelesforam embora?

Jesusdesfezoabraçoe assentiu.

É,de volta para ossonhos,menosMissy,claro.

Ela ? começouMack

Ela ficoufelicíssima por estar tãopertode você e ficouempolgada em saber que você está melhor.

Macklutoupara manter a compostura.Jesusentendeue mudoude assunto. Comofoiotempoque você passoucom Sophia?

Sophia?Ah,entãoé ela! exclamouMack.Euma expressãoperplexa surgiu em seurosto. Masquer dizer que vocêssãoquatro?Ela é Deustambém?

Jesusriu. Não,Mack.Somosapenastrês.Sophia é uma personificaçãoda sabedoria de Papai.

Ah,comonosProvérbios,onde a Sabedoria é representada comouma mulher chamandonasruas,tentandoencontrar alguém que a escute?

Ela mesma.

Mas Mackparouenquantose abaixava para desamarrar oscadarçosdos sapatos ela pareceutãoreal!

Ah,ela é bastante real. Em seguida Jesusolhouaoredor,comose quisesse ver se alguém estava observando,e sussurrou: Ela é parte domistérioque cerca Sarayu.

AdoroSarayu exclamouMackenquantose levantava,meiosurpresocom sua própria transparência.

Eutambém! declarouJesuscom ênfase.Osdoisvoltaram à margem e ficaram olhandoem silênciopara ooutroladodolago.

Foiterrívele maravilhosootempoque passeicom Sophia. Mackfinalmente respondeuà pergunta que Jesushavia feito.Subitamente percebeuque osolainda estava altonocéu. Exatamente quantotempoestive lá?

Menosde 15minutos,de modoque nãofoimuito. Diante doolhar de perplexidade de Mack,Jesusacrescentou: O tempopassadocom Sophia nãoé comootemponormal.

Hã grunhiuMack. Duvidoque qualquer coisa com ela seja normal.

Na verdade Jesuscomeçoua falar masparoupara jogar uma última pedra ricocheteandona água ,com ela tudoé normale de uma simplicidade elegante.Comovocê está tãoperdidoe independente,acaba achandoque até a simplicidade dela é profunda.

Entãoeusoucomplexoe ela é simples.Uau! Meumundoestá mesmode cabeça para baixo. Mackjá se sentara num troncoe estava tirandoossapatos e asmeiaspara a caminhada.

Pode me dizer uma coisa?Estamosnomeiododia,e meusfilhosestiveram aquiem sonhos?Comoissofunciona?Alguma coisa dissotudoé real?Ousóestou sonhandotambém?

De novoJesusriu.

Nãopergunte comotudoissofunciona,Mack.Sãocoisasde Sarayu.O tempo, comovocê sabe,nãorepresenta fronteiraspara Aquele que ocriou.Você pode perguntar a ela,se quiser.

Não,achoque voudeixar issoesperando.Sófiqueicurioso.

Mackdeuum risinho.

Você perguntouse "alguma coisa dissotudoé real".Muitomaisdoque você pode imaginar. Jesusparouum momentopara captar toda a atençãode Mack. O melhor seria perguntar: "O que é real?"

Estoucomeçandoa pensar que nãofaçoidéia.

Tudoissoseria menos"real"se estivesse dentrode um sonho? Achoque euficaria desapontado.

Por quê?Mack,há muitomaiscoisasacontecendoaquidoque você tem condiçõesde perceber.Deixe-me garantir:tudoissoé

real,muitomaisrealdoque a vida que você conhece.Mackhesitou,masdepois decidiuse arriscar e perguntou:

Há uma coisa que ainda me incomoda com relaçãoa Missy.

Jesusveioe sentou-se notroncoaoladodele.Mackinclinouse e pôsoscotovelos nosjoelhos,olhandopara aspedrinhaspertodospés.Por fim,disse:

Euficopensandonela,sozinha naquela picape,tãoaterrorizada...

Jesuscolocoua mãosobre oombrode Macke oapertou.Falougentilmente:

Mack,ela jamaisesteve sozinha.Eununca a deixei.Nósnãoa deixamos sequer por um instante.Eunãopoderia abandoná-la,nem você,assim comonão poderia abandonar a mim mesmo.

Ela sabia que você estava lá?

Sim,Mack,sabia.Noprincípio,não.O medoera avassalador e ela estava em estadode choque.Demorouhoraspara chegar doacampamentoaté aqui.Mas, quandoSarayuse enrolouaoredor dela,Missy se acalmou.A viagem longa nos

deuchance de conversar.

Mackestava tentandoapreender tudoaquilo.Nãose sentia maiscapazde falar.

Missy podia ter apenas6anos,masnóssomosamigos.Nósconversamos.Ela nãotinha idéia doque iria acontecer.Na verdade,estava maispreocupada com você e com asoutrascrianças,sabendoque vocêsnãopoderiam encontrá-la.Ela rezoupor vocês,pela sua paz.

Mackchorou,lágrimasnovasrolandopelorosto.Dessa veznãose importou. Jesuspuxou-ogentilmente e oabraçou.

Mack,nãocreioque você queira saber todososdetalhes.Tenhocerteza de que elesnãovãoajudá-lo.Maspossodizer que nãohouve um momentoem que não estivéssemoscom ela.Missy conheceuminha paz,e você ficaria orgulhoso, porque ela foimuitocorajosa!

Aslágrimasescorriam soltas,masMacknotava que agora era diferente. Não estava mais sozinho Sem qualquer constrangimento,chorounoombrodaquele homem que ele aprendera a amar.A cada soluço,sua tensãoia se esvaindo,substituída por um profundosentimentode alívio.Por fim respiroufundoe soltouoar enquantolevantava a cabeça.

Então,sem dizer maisnenhuma palavra,levantou-se,pendurouossapatosno ombroe simplesmente entrouna água.Ficouum poucosurpresoquandoseu primeiropassoencontrouofundodolagoabaixodostornozelos,masnãose importou Parou,enrolouaspernasda calça acima dosjoelhose deumaisum passona água gelada.A água chegouaté omeiodascanelase,nopassoseguinte, logoabaixodosjoelhos.Olhoupara tráse viuJesusparadona margem com os braçoscruzadosdiante dopeito,olhando-o.

Mackvirou-se e olhoupara a margem oposta.Nãosabia por que dessa veznão tinha funcionado,masdecidiucontinuar tentando.Jesusestava ali,por issoele nãotinha com que se preocupar.A perspectiva de nadar por um espaçolongoe

geladonãoera nada empolgante,porém Macktinha certeza de que conseguiria atravessar se fosse necessário.

Felizmente,quandodeuopróximopasso,em vezde afundar maisainda,subiu um poucoe,a cada passoseguinte,subiumais,até estar de novoandandosobre a água.Jesusse reuniua ele e osdoiscontinuaram em direçãoà cabana.

Issosempre funciona melhor quandoa gente fazjunto,nãoacha? perguntouJesus,sorrindo.

Estouvendoque ainda tenhomaiscoisaspara aprender. Mackdevolveuosorriso.

Poucoimportava que tivesse de atravessar olagoa nadoouandar sobre a água, por maismaravilhosoque issofosse.O que importava era ter Jesusaoseulado. Talvezestivesse começandoa confiar nele.

Obrigadopor estar comigo,por falar comigosobre Missy.Na verdade,não tenhofaladosobre esse assuntocom ninguém.É

uma história apavorante demais.Agora já nãoestá com a mesma força.

A escuridãoesconde overdadeirotamanhodosmedos,dasmentirase dos arrependimentos explicouJesus. A verdade é que elessãomaissombra doque realidade,por issoparecem maioresnoescuro. Quandoa luzbrilha noslugaresonde elesvivem noseuinterior,você começa a ver oque sãorealmente.

Maspor que nósmantemostoda essa porcaria lá dentro?

Porque acreditamosque ela está maissegura ali.E algumasvezes,quandovocê é uma criança tentandosobreviver,ela fica realmente maissegura noseuinterior.Depoisvocê cresce por fora,maspor dentroainda é aquela criança na caverna escura,rodeada por monstros,e,como se habituou,continua aumentandosua coleção.Todoscolecionamoscoisasde valor,sabe?

IssofezMacksorrir.Sabia que Jesusestava se referindoa algoque Sarayuhavia ditosobre colecionar lágrimas.

Entãocomoé que issomuda para alguém que está perdidonoescurocomo

eu?

Na maioria dasvezes,muitodevagar.Lembre-se,você nãopode fazer isso sozinho.Algumaspessoastentam todotipode mecanismosde enfrentamentoe de jogosmentais.Masosmonstroscontinuam lá,sóesperandoa chance de sair.

O que façoagora,então?

O que já está fazendo,Mack:aprendendoa viver sendoamado.Nãoé um conceitofácilpara oshumanos.Você tinha dificuldade para compartilhar qualquer coisa. Deuum risinhoe continuou: Portanto,sim,oque desejamosé que você "re-torne"para nós.

Entãoiremosfazer nossa casa dentrode você e vamoscompartilhar.A amizade é reale nãomeramente imaginada.Nósfomosdestinadosa experimentar esta vida,a sua vida,juntos,num diálogo,compartilhandoa jornada.Você passa a compartilhar nossa sabedoria e aprender a amar com nossoamor,e nós... ouvimosvocê resmungar,se afligir,reclamar e...Mackriualtoe empurrouJesus de lado.

Pare! gritouJesuse se imobilizou.A princípioMackachouque poderia têloofendido,masJesusestava olhandoatentamente para a água. Você viu? Olhe,aívem de novo.

O quê? Mackchegoumaispertoe protegeuosolhosna tentativa de ver o que Jesusestava olhando.

Olhe! Olhe! falouJesus,meioque sussurrando. É uma beleza! Deve ter uns60centímetros! EentãoMackviuuma enorme truta dolagodeslizandoa apenasuns50ou60 centímetrosabaixoda superfície,sem notar a agitaçãoque estava provocando acima.

Estive tentandopegá-la durante semanase aíela vem,só para me provocar. Ele riu. Mackficouolhando,pasmo,enquantoJesuscomeçava a saltar para um ladoe para outro,tentandoacompanhar opeixe.Finalmente desistiue olhoupara Mack, empolgadocomoum menininho. Nãoé fantástica?Provavelmente nunca vou conseguir pegá-la.

Mackficouperplexocom aquela cena.

Jesus,por que simplesmente nãoordena que ela...nãosei...pule noseubarco oumorda seuanzol?Você nãoé oSenhor da Criação?

Claro disse Jesus,abaixando-se e passandoa mãosobre a água. Mas qualseria a diversão,hein? Ele ergueuosolhose riu.

Macknãosabia se ria ouchorava.Percebia oquantohavia passadoa amar aquele homem,aquele homem que também era Deus.

Jesusse levantoude novoe juntoscontinuaram andandopara ocais.Mackse aventuroude novo:

Se é que possoperguntar,por que você nãome falousobre Missy antes?Por exemplo,ontem à noite,ouhá um ano,ou...

Nãopense que nãotentamos.Você já notouque,em sua dor,presume sempre opior a meurespeito?Estive falandocom você durante longotempo, mashoje foia primeira vezque você

pôde ouvir.Nãopense que todasaquelasoutrasocasiõesforam um desperdício. Comopequenasrachadurasna parede,uma de cada vez,masentrelaçadas,elas oprepararam para hoje.Éprecisodemorar um tempopreparandoosolose quiser que ele acolha a semente.

Nãoseipor que resistimosa isso,por que resistimostantoa você.Agora parece meioidiota.

Tudotem a ver com omomentoda graça,Mack.Se houvesse apenasum ser humanonouniverso,osentidode temposeria bastante simples.Masacrescente apenasmaisum e,bem,você conhece a história.Cada escolha cria ondulações aolongodotempoe dosrelacionamentos,ricocheteandoem outrasescolhas.E,a partir doque parece uma confusãoenorme,Papaitece uma tapeçaria magnífica.SóPapaipode resolver tudoissoe ela ofazcom graça.

Entãoachoque tudoque possofazer é segui-la concluiuMack.

É,esse é oponto.Agora você está começandoa entender oque significa ser realmente humano.

Chegaram à extremidade docaise Jesussaltounele,virandose para ajudar Mack.Juntos,sentaram-se na beira e balançaram ospésdescalçosna água, olhandoosefeitosdoventona superfície dolago.Mackfoioprimeiroa romper o

silêncio.

Euestava vendoocéuquandoviMissy?Era muitoparecidocom issoaqui.

Bom,Mack,nossodestinofinalnãoé a imagem doCéuque você tem na cabeça.Você sabe,a imagem de portõesadornadose ruasde ouro.O Céué uma nova purificaçãodouniverso,de modoque vaise parecer bastante com issoaqui.

Entãoque história é essa de portõesadornadose ruasde ouro?

Esta,irmão começouJesus,deitando-se nocaise fechandoosolhospor causa docalor e da claridade dodia ,é uma imagem de mim e da mulher por quem souapaixonado.Mackolhoupara ver se ele estava brincando,masobviamente nãoestava.

Éuma imagem da minha noiva,a Igreja:indivíduosque juntosformam uma cidade espiritualcom um riovivofluindonomeioe nasduasmargens,árvores crescendocom frutosque curam asferidase ossofrimentosdasnações.Essa cidade está sempre aberta e cada portãoque dá acessoa ela é feitode uma única pérola... Ele abriuum olhoe olhoupara Mack. Issosoueu! Ele percebeua dúvida de Macke explicou: Pérolas,Mack.A única pedra preciosa feita de dor, sofrimentoe,finalmente,morte.

Entendi.Você é a entrada,mas... Mackparou,procurandoaspalavras certas. Você está falandoda Igreja comoessa mulher por quem está apaixonado.Tenhoquase certeza de que nãoconheçoessa Igreja. Ele se virou ligeiramente para ooutrolado. Nãoé certamente olugar aonde euvouaos domingos disse maispara simesmo,sem saber se era segurofalar em voz alta

Mack,issoé porque você sóestá vendoa instituição,que é um sistema feitopeloser humano.Nãofoiissoque euvim construir.O que vejo sãoaspessoase suasvidas,uma comunidade que vive e respira,feita de todos que me amam,e nãode prédios,regrase programas.

MackficoumeioabaladoouvindoJesusfalar de "igreja"desse modo,masisso nãochegoua surpreendê-lo.De fato,foium alívio.

Entãocomopossofazer parte dessa Igreja?Dessa mulher pela qualvocê parece estar tãoapaixonado?

Ésimples,Mack.Tudosótem a ver com osrelacionamentose com ofatode compartilhar a vida.Éexatamente oque estamosfazendoagora,simplesmente isso,sendoabertose disponíveisum para ooutro.Minha Igreja tem a ver com as pessoase a vida tem a ver com osrelacionamentos.Você pode construí-la.Éo meutrabalhoe,na verdade,soubastante bom nisso disse Jesuscom um risinho.

Para Mackessaspalavrasforam comoum soprode ar puro! Simples.Nãoum monte de rituaisexaustivose uma longa lista de exigências, nada de reuniões intermináveis com pessoas desconhecidas.Simplesmente compartilhar a vida.

Masespere... Macktinha um monte de perguntasaflorandoà sua mente. Talveztivesse entendidomal.Parecia simplesdemais.Por issopensouduasvezes antesde mexer com oque estava começandoa entender.Fazer seumonte confusode perguntasnesse momentoseria comojogar um bocadode lama num pequenolagode águaslímpidas. Nãofazmal foitudoque disse.

Mack,você nãoprecisa entender tudo.Simplesmente esteja comigo.

Depoisde um momentoele decidiuse juntar a Jesuse deitou-se de costasaolado dele,abrigandoosolhosdosolpara espiar asnuvensque passavam noinícioda tarde.

Bom,para ser honesto admitiu ,nãoestoudesapontado,porque nunca me sentiatraídopela "rua de ouro" Sempre acheimeiochato Maravilhoso mesmoé estar aquicom você.

Um silênciobaixouenquantoMackabsorvia omomento.Podia ouvir osussurro doventoacariciandoasárvorese orisodoriachoalipertoderramando-se no lago.O dia estava majestosoe ocenárioera incrível.

Realmente desejoentender.Quer dizer,achoque omodocomovocêssãoé

muitodiferente de todoonegócioreligiosoem que fuicriadoe com oqualme acostumei.

Por maisbem-intencionada que seja,você sabe que a máquina religiosa é capazde engolir aspessoas! disse Jesus,num tom meiocortante. Uma quantidade enorme dascoisasque sãofeitasem meunome nãotêm nada a ver comigo.E freqüentemente sãomuitocontráriasaosmeuspropósitos.

Você nãogosta muitode religiãoe de instituições? perguntouMack,sem saber se estava fazendouma pergunta ouuma afirmação.

Eunãocrioinstituições.Nunca criei,nunca criarei. Ea instituiçãodocasamento?

O casamentonãoé uma instituição.Éum relacionamento.

Jesusfezuma pausa e retomou,com a vozfirme e paciente:

Comoeudisse,nãocrioinstituições.Essa é uma ocupaçãodosque querem brincar de Deus.Portanto,não,nãogostomuitode religiõese também nãogosto de política nem de economia. A expressãode Jesusficounotavelmente sombria. Epor que deveria gostar?Éa trindade de terrorescriada peloser humanoque assola a Terra e engana aquelesde quem eugosto.Quantos tormentose ansiedadesrelacionadosa uma dessastrêscoisasaspessoas enfrentam!

Mackhesitou.Nãosabia oque dizer.Tudoparecia um poucoexcessivo.Notando que osolhosde Mackestavam ficandovidrados,Jesusbaixouotom.

Falandode modosimples,religião,política e economia sãoferramentas terríveisque muitosusam para sustentar suasilusõesde segurança e controle.As pessoastêm medoda incerteza,dofuturo.Essasinstituições,essasestruturase ideologiassãoum esforçoinútilde criar algum sentimentode certeza e segurança onde nada dissoexiste.Étudofalso! Ossistemasnãopodem oferecer segurança,sóeuposso.

Uau! Era tudoque Mackconseguia pensar.A paisagem que ele e praticamente todomundoque ele conhecia haviam buscadopara administrar e orientar a vida estava sendoreduzida a poucomaisdoque entulho. Então... Mackainda estava processandooque ouvira,sem conseguir grande coisa.

Transformoua palavra numa pergunta.

Euvim lhesdar a vida na totalidade.Minha vida. Mackainda estava se esforçandopara entender. A simplicidade e a pureza de desfrutar de uma amizade crescente.

Ah,entendi!

Se você tentar viver issosem mim,sem odiálogoconstante que estabelecemosaocompartilhar esta jornada juntos,será comotentar andar sobre a água sozinho.Você nãopode! Equandotenta,por maisbem-intencionadoque seja,vaiafundar. Apesar de saber a resposta,Jesusperguntou: Você já tentousalvar alguém que estivesse se afogando?

Osmúsculosde Mackse retesaram instantaneamente.Ele nãogostava de se lembrar de Joshe da canoa,e um sentimentode pânicosubitamente jorrouda lembrança.

Éextremamente difícilresgatar alguém,a nãoser que a pessoa esteja disposta a confiar em você.

É,sem dúvida.

Ésóissoque eulhe peço.Quandovocê começar a afundar,deixe-me resgatá-lo.

Parecia um pedidosimples,masMackestava acostumadoa ser osalva-vidase nãooafogado.

Jesus,nãoseibem como...

Deixe-me mostrar.Basta continuar me dandoopoucoque você tem e juntos vamosvê-locrescer.

Mackcomeçoua calçar asmeiase ossapatos

Sentadoaquicom você,neste momento,nãoparece tãodifícil.Masquando pensona minha vida normal,em casa,nãoseicomomanter oque você sugere. Estoupresona mesma necessidade de controle que todomundotem.Política, economia,sistemassociais,contas,família,compromissos...é bastante esmagador.Nãoseicomomudar tudoisso.

Então?

Ninguém está pedindoque mude! disse Jesuscom ternura. Esta é uma tarefa para Sarayue ela sabe comofazer sem agredir ninguém.O importante é saber que tudoé

um processoe nãoum acontecimento.Sóqueroque você confie em mim o poucoque puder e que cresça noamor pelaspessoasaoseuredor com omesmo amor que compartilhocom você.Nãocabe a você mudá-lasnem convencê-las. Você está livre para amar sem qualquer obrigação.

Éissoque queroaprender.

Émesmo. Jesuspiscou. Jesusse levantou,espreguiçou-se e Mackoimitou.

Quantasmentirasme contaram! admitiuele.Jesusolhoupara ele,puxou-o e oabraçou.

Eusei,Mack,a mim também.Simplesmente nãoacrediteinelas.Juntos, começaram a andar pelocais.Quandose aproximavam da margem voltaram a diminuir opasso.Jesuscolocoua mãonoombrode Macke virou-ogentilmente, até ficarem cara a cara.

Mack,osistema domundoé oque é.Asinstituições,asideologiase todosos esforçosvãose inúteisda humanidade estãoem toda parte e é impossíveldeixar de interagir com tudoisso.Maseupossolhe dar liberdade para superar qualquer sistema de poder em que você se encontre,seja ele religioso,econômico,social oupolítico.Você terá uma liberdade cada vezmaior de estar dentrooufora de todosostiposde sistemase de se mover livremente entre eles.Juntos,você e eu podemosestar dentrodosistema e nãofazer parte dele

Mastanta gente de quem eugostoparece fazer parte dosistema! Mack estava pensandonosamigos,naspessoasda igreja que haviam expressadoamor por ele e por sua família.Sabia que elasamavam Jesus,masque também eram totalmente vendidaspara a atividade religiosa e opatriotismo.

Mack,euasamo.Evocê comete um errojulgando-as.Devemosencontrar modosde amar e servir osque estãodentrodosistema,nãoacha?Lembre-se,as pessoasque me conhecem sãoaquelasque estãolivrespara viver e amar sem qualquer compromisso.

Éissoque significa ser cristão? Achou-se meioidiota aodizer isso,masera comose estivesse tentandoresumir tudona cabeça.

Quem disse alguma coisa sobre ser cristão?Eunãosoucristão. A idéia pareceuestranha e inesperada para Macke ele nãopôde evitar uma risada.

Não,achoque nãoé. Chegaram à porta da carpintaria.De novoJesusparou.

Osque me amam estãoem todosossistemasque existem.Sãobudistasou mórmons,batistasoumuçulmanos,democratas,republicanose muitosque não votam nem fazem parte de qualquer instituiçãoreligiosa.Tenhoseguidoresque foram assassinose muitosque eram hipócritas.Há banqueiros,jogadores, americanose iraquianos,judeuse palestinos.Nãotenhodesejode torná-los cristãos,masquerome juntar a elesem seuprocessopara se transformarem em filhose filhasdoPapai,em irmãose irmãs,em meusamados.

Issosignifica que todasasestradaslevam a você?

De jeitonenhum sorriuJesusenquantoestendia a mãopara a porta da oficina. A maioria dasestradasnãoleva a lugar nenhum.O que issosignifica é que euviajareipor qualquer estrada para encontrar vocês. Fezuma pausa. Mack,tenhoalgumascoisaspara terminar na carpintaria;encontrovocê mais tarde.

Certo.O que quer que eufaça?

O que quiser,Mack,a tarde é sua. Jesusdeu-lhe um tapa noombroe riu. Uma última coisa:lembra-se de antes,quandome agradeceupor tê-lodeixado ver Missy?Foiidéia de Papai. Depoisde dizer issoele se viroue acenoupor cima doombroenquantoentrava na oficina.

Macksoube instantaneamente oque queria fazer e foipara a cabana,em busca de Papai.

13.UM ENCONTRODECORAÇÕES

A falsidade tem uma infinidade de combinações, masa verdade sótem um modode ser.

Enquantose aproximava da cabana,Macksentiuum cheirodeliciosoque se desprendia de alguma coisa noforno.Talveztivesse se passadoapenasuma hora desde oalmoço,masera comose ele nãotivesse comidohavia horas.O aroma da comida oconduziuaté a cozinha.Masquandochegouà porta dosfundosficou surpresoe desapontadoaover que olocalestava vazio.

Tem alguém aí? chamou.

Estouna varanda,Mack a vozde Papaiveioatravésda janela aberta. Pegue alguma coisa para beber e venha para cá.Mackse serviude um poucode café e saiupara a varanda da frente.Papaiestava reclinada numa velha cadeira, de olhosfechados,absorvendoosol.

O que é isso?Deustem tempode pegar um solzinho?Nãotem nada melhor para fazer nesta tarde?

Você nãofazidéia doque estoufazendoneste momento.Mackse encaminhou para outra cadeira doladoopostoe,enquantoele se sentava,Papaiabriuum dos olhos.Sobre uma mesinha entre osdoishavia uma bandeja cheia de bolosde aparência maravilhosa,manteiga fresca e váriostiposde geléia.

Uau,ocheiroé fantástico! exclamouele.

Pode mergulhar de cabeça.Éuma receita que pegueida sua bisavó. Ela riu.

Mackmordeuum dosbolinhos.Ainda estava quente e praticamente derreteuna boca.

Uau! Issoé bom! Obrigado!

Bom,você terá de agradecer à sua bisavóquandoa vir.

Esperoque nãoseja muitoem breve disse Mackentre duasmordidas.

Você nãogostaria de saber? perguntouPapaicom uma piscadela brincalhona e voltandoa fechar osolhos.

Enquantocomia outrobolinho,Mackjuntoucoragem para abrir ocoração.

Papai? perguntoue,pela primeira vez,chamar Deusde Papainãopareceu estranho.

Jean-JacquesRousseau

Sim,Mack? respondeuela,abrindoosolhose sorrindocom prazer.

Eufuimuitodurocom você.

Humm,Sophia deve tê-loafetado.

Nem fale! Eunãofazia idéia de que estava julgandovocê Foiterrivelmente arrogante.

Porque você estava mesmo respondeuPapaicom um sorriso.

Sintomuito.Eurealmente nãofazia idéia... Mackbalançoua cabeça,triste.

Masagora issoestá nopassado,que é olugar onde deve estar.Nãoqueroque fique triste com isso,Mack.Sóqueroque possamoscrescer juntos.

Também quero disse Mackpegandooutrobolinho.

Nãovaicomer nenhum?

Não,vá em frente.Você sabe comoé,a gente vaiprovandouma coisa e outra e acaba usandotodooapetite.Aproveite.

Empurroua bandeja na direçãodele.

Mackpegoumaisum bolinhoe recostou-se para saboreá-lo.

Jesusdisse que foivocê quem me deuum tempocom Missy esta tarde.Não seicomoagradecer!

Ah,de nada,querido.Issotambém me deuuma grande alegria! Euestava tão ansiosa para colocar vocêsdoisjuntosque malconseguia esperar.

Gostaria tantoque Nanestivesse aqui!

Teria sidoperfeito! concordouPapai,empolgada.Ficaram em silênciopor algunsinstantes.

Missy nãoé especial? Ela balançoua cabeça sorrindo.

Minha nossa,gostoespecialmente daquela menina.

Eutambém! Mackdeuum sorrisolargoe pensouna sua princesa atrásda cachoeira.

Princesa?Cachoeira?Espere um minuto! Papaificouolhandoenquantoas peçasse encaixavam.

Obviamente você conhece ofascínioda minha filha por cachoeirase pela lenda da princesa Multnomah. Papaiassentiu.

Édissoque se trata?Ela teve de morrer para que você me mudasse?

Espere aí,Mack. Papaise inclinou. Nãoé assim que eufaçoascoisas.

Masela adorava tantoaquela história!

Claroque sim.Por issoela foicapazde entender oque Jesusfezpor ela e por toda a raça humana.Ashistóriassobre uma pessoa disposta a trocar sua vida pela de outra sãoum fiode ouroem seumundoe revelam tantosuasnecessidades quantoomeucoração.

Masse ela nãotivesse morridoeunãoestaria aquiagora...

Mack,eucrioum bem incrívela partir de tragédiasindescritíveis,masisso nãosignifica que asorquestre.Nunca pense que ofatode euusar algopara um bem maior significa que euoprovoqueiouque precisodele para realizar meus propósitos.Essa crença sóvailevá-loa idéiasfalsasa meurespeito.A graça não depende da existência dosofrimento,masonde há sofrimentovocê encontrará a graça de inúmerasmaneiras.

Na verdade,issoé um alívio.Eunãosuportaria pensar que minha dor poderia ter cortadoa vida dela.

Ela nãofoiseusacrifício,Mack.Ela é e sempre será sua alegria.Este é um propósitosuficiente para Missy.

Mackse recostoude novona cadeira,examinandoa vista da varanda.

Estoume sentindopreenchido!

Bom,você comeuquase todososbolinhos.

Nãoé isso ele riu ,e você sabe.O mundosimplesmente parece mil

vezesmaisluminosoe estoume sentindomilvezesmaisleve.

Eestá,Mack! Nãoé fácilser ojuizde todoomundo.O sorrisode Papai tranqüilizouMack,que se sentia pisandoem terrenoseguro.

Oujulgar você.Euestava numa tremenda confusão...pior doque pensava. Havia me enganadototalmente com relaçãoa quem você é na minha vida.

Nãototalmente,Mack.Nóstivemosalgunsmomentosmaravilhosostambém.

Massempre gosteimaisde Jesusdoque de você.Ele parecia tãobondosoe você tão...

Má?Étriste,nãoé?Jesusveiopara mostrar comoeusou,e a maioria só acredita nissocom relaçãoa ele.Ainda acham que fazemosogênero"policial bom/policialmau",especialmente aspessoasreligiosas.Quandoquerem que os outrosfaçam oque elasacham certo,precisam de um Deussevero.Quando precisam de perdão,correm para Jesus.

Éissomesmo concordouMack.

Masnósestávamosnele.Ele refletia exatamente omeucoração.Euamo vocêse osconvidoa me amarem.

Maspor que eu?Quer dizer,por que Mackenzie AllenPhillips?Por que você ama alguém tãoferrado?Depoisde todasascoisasque eusentiem relaçãoa você e de todasasacusaçõesque fiz,por que você se incomodaria em vir ao meuencontro?

Porque é issoque oamor faz respondeuPapai.

Lembre-se,Mackenzie,eunãoficopensandonasescolhasque você fará.Eujá sei.Vamosimaginar,por exemplo,que estoutentandoensinar você a nãose esconder dentrode mentiras ela piscou. Edigamosque euseique você vai ter que passar por 47 situaçõesantesde me ouvir com clareza suficiente para concordar comigoe mudar.Então,quandona primeira vezvocê nãome ouve,nãoficofrustrada nem desapontada,ficoempolgada.Sófaltam 46

vezes.Eessa primeira vezserá um tijolopara construir uma ponte de cura que um dia,que hoje,você atravessará.

Certo,agora estoume sentindoculpado admitiuele.

Sério,Mackenzie,issonãotem nada a ver com culpa.A culpa jamaisvai ajudá-loa encontrar a liberdade em mim.O

máximode que ela é capazé fazer você se esforçar maispara se ajustar a alguma ética exterior.Eume importocom ointerior.

Masoque você disse...Querodizer,sobre se esconder atrásde mentiras. Achoque fizisso,de um modooude outro,durante a maior parte da vida.

Querido,você é um sobrevivente.Nãohá vergonha nisso.Seupaimachucou você de um modoferoz.A vida machucouvocê.Asmentirassãoum doslugares maisfáceispara onde ossobreviventescorrem.Elasdãoum sentimentode segurança,um lugar onde você sóprecisa contar consigomesmo.Masé um lugar escuro,nãoé?

Demais murmurouMackbalançandoa cabeça.

Masvocê está dispostoa abrir mãodopoder e da segurança que esse lugar lhe promete?Esta é a questão.

Comoassim? perguntouMackolhando-a.

Asmentirassãouma pequena fortaleza onde você pode se sentir seguroe poderoso.

Dentrode sua pequena fortaleza de mentirasvocê tenta governar sua vida e manipular osoutros.Masa fortaleza precisa de muros,por issovocê constrói alguns.Osmurossãoasjustificativaspara suasmentiras.Você sabe,comose estivesse fazendoissopara proteger alguém que você ama oupara impedir que essa pessoa sinta dor.Qualquer coisa que funcione para que você se sinta bem com asmentiras.

Masomotivopeloqualnãoconteia Nansobre obilhete foiporque issoiria lhe causar muita dor.

Está vendo,Mackenzie,comovocê precisa se justificar?O

que você disse é uma mentira descarada,masvocê nãoconsegue ver. Ela se inclinoupara a frente. Quer que eulhe diga qualé a verdade?

Macksabia que Papaiestava indofundo,masainda assim sentiualívioe ficou tentadoa quase rir alto.Estava à vontade.

Na-ã-ão respondeulentamente e deuum risinhopara ela. Masvá em frente,de qualquer modo.

Ela sorriude volta,depoisficouséria.

A verdade,Mack,é que omotivorealpara você ter mentidoa Nannãofoi para evitar que ela sofresse.O verdadeiromotivofoique você estava com medo de enfrentar asemoçõesque poderiam surgir,tantoasdela quantoassuas.As emoçõesoamedrontam,Mack.Você mentiupara se proteger e nãopara protegê-la!

Ele se recostou.Papaiestava absolutamente certa.

E,além disso continuouela ,uma mentira dessasé desamor.Tendocomojustificativa ofatode se importar com Nan,sua mentira prejudicouseurelacionamentocom ela e orelacionamentodela comigo.Se você tivesse contado,talvezela estivesse conoscoaqui,agora.

Aspalavrasde Papaiacertaram Mackcomoum soconoestômago.

Você queria que ela viesse também?

Issoseria uma decisãosua e dela,se ela tivesse tidoa chance de tomá-la O ponto,Mack,é que você nãosabe oque teria acontecidoporque estava ocupado demaistentandoproteger a Nan.

De novoele estava afundandona culpa.

Entãooque façoagora?

Conte a ela,Mackenzie.Enfrente omedode sair doescuroe conte a ela,peça perdãoe deixe que operdãodela ocure.Peça que ela reze por você,Mack. Assuma osriscosda honestidade.Quandofizer outra besteira,peça perdãode novo.Éum processo,querido,e a vida é suficientemente realsem precisar ser obscurecida por mentiras.E,lembre-se,eusoumaior doque assuasmentiras. Possoagir para além delas.Masissonãoastorna certasnem impede odanoque elascausam oua dor que provocam nosoutros.

Ese ela nãome perdoar? Macksabia que esse era um medomuito profundocom oqualconvivia.Era maissegurocontinuar lançandonovas mentirasna pilha crescente dasvelhas.

Ah,esse é oriscoda fé,Mack.A fé nãocresce na casa da certeza.Nãoestou

aquipara lhe dizer que Nanvaiperdoá-lo.Talvezela nãoqueira ounãopossa, masminha vida dentrode você vaitomar conta doriscoe da incerteza para transformá-lo.Por meiode suas escolhas,você passará a ser um contador de verdadese esse será um milagre muitomaior doque ressuscitar osmortos.

Mackse recostoue deixouque aspalavrasdela assentassem.

Por favor,perdoe-me disse finalmente.

Já fizissohá muitotempo,Mack.Se nãoacredita,pergunte a Jesus.Ele estava lá.

Macktomouum gole de café,surpresoaodescobrir que a bebida continuava quente.

Maseume esforceitremendamente para trancar você doladode fora da minha vida.

Aspessoassãopersistentesquandose trata de garantir sua independência imaginária.Elasacumulam e guardam a doença comose fosse um bem precioso.Encontram sua identidade e seuvalor na mutilaçãoe osguardam com cada grama de força que possuem.Nãoé de espantar que a graça seja tãopouco atraente.Nesse sentidovocê tentoutrancar a porta doseucoraçãopor dentro.

Masnãoconsegui.

Porque meuamor é muitomaior doque sua estupidez

disse Papai,com uma piscadela. Euuseisuasescolhaspara atingir meus propósitos.Há muitaspessoascomovocê,Mackenzie,que terminam se trancandonum lugar muitopequenocom um monstroque acabará traindo-as, que nãoaspreencherá nem lhesdará oque elasimaginavam.Quandoficam prisioneirasde um terror desses,têm de novoa oportunidade de retornar para mim.O

tesouroem que elasconfiavam irá se tornar seudesastre.

Entãovocê usa a dor para forçar aspessoasa voltar?

Era óbvioque Macknãoaprovava isso.

Papaise inclinoue tocougentilmente a mãode Mack.

Querido,eutambém operdoeipor pensar que eupoderia ser assim.Entendo comoé difícilpara você começar a perceber,quantomaisimaginar,oque sãoo verdadeiroamor e a bondade.Porque você está tãoperdidoem suaspercepções da realidade e aomesmotempotãosegurode seusjulgamentos.O amor verdadeironunca força. Ela apertoua mãodele e se recostouna cadeira.

Mas,se euentendioque está dizendo,asconseqüênciasde nossoegoísmo fazem parte doprocessoque nosleva aofim de nossasilusõese nosajuda a encontrar você.Épor issoque você nãoimpede ascoisasruinsque nosacontecem?Por issonãome avisouque Missy estava correndoperigonem nosajudoua encontrá-la? O tom de acusaçãoestava ausente da vozde Mack.

Se aomenosfosse tãosimples,Mackenzie! Ninguém sabe de que horroreseu salveiomundo,porque aspessoasnãopodem ver ascoisasque jamais aconteceram.Todoomaldecorre da independência e a independência foia escolha que vocêsfizeram.Se fosse simplesanular todasasescolhasde independência,omundoque você conhece deixaria de existir e oamor nãoteria significado.O mundonãoé um playgroundonde eumantenhotodososmeus filhoslivresdomal.O malé ocaos,masnãoterá a palavra final.Agora ele toca todosque euamo,osque me seguem e osque nãome seguem.Se eueliminar as conseqüênciasdasescolhasdaspessoas,destruoa possibilidade doamor O amor forçadonãoé amor.

Mackpassouasmãospeloscabelose suspirou.

Ésimplesmente muitodifícilde entender.

Querido,deixe-me dizer um dosmotivospelosquaisissoé tãodifícilde entender.Éporque você tem uma visãomuitopequena doque significa ser humano.Você e a Criaçãosãoincríveis,quer você entenda ounão. Vocêssãoabsolutamente maravilhosos.Sóporque fazem escolhashorrendase destrutivas,issonãosignifica que mereçam menosrespeitopeloque sãopor essência:oauge da minha Criaçãoe ocentrodomeuafeto

Mas... começouMack.

Além disso interrompeuela ,nãose esqueça de que nomeiode toda a sua dor e da sua mágoa você está rodeadopor beleza,pela maravilha da Criação, pela arte,pela música,pela cultura,pelossonsde risoe amor,de esperanças sussurradase de celebrações,de vida nova e de transformações,de

reconciliaçãoe perdão.Essascoisastambém sãoresultadode suasescolhase toda escolha é importante,mesmoasocultas.Então,que escolhasnãodeveriam ter sidofeitas,Mackenzie?Será que eununca deveria ter criado?Será que Adão deveria ter sidoimpedidoantesde escolher a independência?Que tala escolha de ter outra filha,oua escolha de seupaide espancar ofilho?Você exige sua independência,masdepoisreclama por euamá-loobastante para responder ao seupedido. Macksorriu.

Já ouviissoantes. Papaisorriude volta e pegouum pedaçode bolo.

Eudisse que Sophia mexeucom você.Mackenzie,meuspropósitosnão existem para omeuconfortonem para oseu.Meuspropósitossãosempre e somente uma expressãode amor.Eume proponhoa trabalhar a vida a partir da morte,a trazer a liberdade de dentrodoque está partido,a transformar a escuridãoem luz.O

que você vê comocaos,euvejocomodesdobramento.Todasascoisasdevem se desdobrar,ainda que issoponha todososque euamonomeiode um mundode tragédiashorríveis,mesmoosque sãomaispróximosde mim.

Está falandode Jesus,nãoé? perguntouMackbaixinho.

É,euadoroaquele garoto. Papaiafastouoolhar e balançoua cabeça. Tudotem a ver com ele,você sabe.Um dia vocêsvãoentender doque ele abriu mão.Simplesmente nãoexistem palavras.

Mackpodia sentir asemoçõescrescendo.Algootocouprofundamente aoouvir Papaifalar dofilho Hesitouantesde perguntar,masfinalmente rompeuo silêncio:

Papai,pode me ajudar a entender uma coisa?O que exatamente Jesus realizouaomorrer?

Ela ainda estava olhandopara a floresta.

Ah e balançoua mão. Nãomuita coisa.Apenasa essência de tudoque o amor se propunha desde antesdosalicercesda Criação declarouPapaiem tom casual.Depoisse viroue sorriu.

Uau,issoé amplodemais.Pode diminuir sóum pouquinho? perguntou

Mack,achando-se ousadoassim que aspalavrassaíram de sua boca.

Em vezde ficar chateado,Papaisorriupara ele.

Nossa,você está ficandometidinho! A gente dá a mãoe eleslogoquerem o braço.

Mackdevolveuosorriso,masnãodisse nada.

Comofalei,tudotem a ver com ele.A Criaçãoe a história têm tudoa ver com Jesus.Ele é ocentrode nossopropósitoe nele agora somostotalmente humanos,de modoque onossopropósitoe odestinode vocêsestãoligadospara sempre.Nãoexiste qualquer outroplano.

Parece bem arriscado comentouMack.

Talvezpara vocês,masnãopara mim.Nunca houve dúvida de que conseguireioque eudesejava desde oinício. Papaise inclinoue cruzouos braçossobre a mesa. Querido,você

perguntouoque Jesusrealizouna cruz.Entãoagora me ouça com cuidado:a morte dele e sua ressurreiçãoforam a razãopela qualeuagora estoutotalmente reconciliadocom omundo.

Com omundointeiro?Quer dizer,com osque acreditam em você,nãoé?

Com omundointeiro,Mack.Estoudizendoque a reconciliaçãoé uma rua de mãodupla e eufiza minha parte,totalmente,completamente,definitivamente. Nãoé da natureza doamor forçar um relacionamento,masé da natureza do amor abrir ocaminho.

Apósdizer isso,Papailevantou-se e pegoualgunspratospara levar para a cozinha.

Mackbalançoua cabeça e ergueuosolhos.

Entãoeurealmente nãoentendooque é reconciliaçãoe realmente morrode medode emoções.Éisso?

Papainãorespondeuimediatamente,masbalançoua cabeça.Macka ouviu resmungar e murmurar,comose falasse com ela mesma:

Homens! Algumasvezessãotãoidiotas!

nãopodia acreditar.

OuviDeusme chamar de idiota? gritoupela porta de tela.Viu-a dar de ombrosantesde desaparecer na virada docorredor.

Depoisela gritouem sua direção:

Se a carapuça serve,querido.Sim senhor,se a carapuça serve... Mackriue se recostouna cadeira.Sentia-se exausto.O tanque docérebroestava maisdoque cheio,assim comooestômago.Levouo restodospratospara a cozinha,depositou-osna bancada,deuum beijonorosto de Papaie foipara a porta dosfundos.

14.VERBOSEOUTRASLIBERDADES

Deusé um Verbo. Buckminster Fuller Macksaiupara osoldomeioda tarde.Sentia uma mistura estranha,comose estivesse aomesmotempotorcidocomoum trapoe plenamente vivo.Que dia incríveltinha sidoaquele e ainda estavam nomeioda tarde! Por um momento ficouindeciso,antesde ir até olago.Quandoviuascanoasamarradasaocais, sentiuuma certa resistência,masa idéia de entrar numa e passear pelolagoo energizoupela primeira vezem anos.

Desamarrandoa última,na extremidade docais,entroucautelosamente e começoua remar para ooutrolado.Nasduashorasseguintescirculoupelolago, explorandorecantose fendas.Encontroudoisriose algunscórregosque,vindode cima,alimentavam olagoe a seguir oesvaziavam na direçãodasbacias inferiores.Descobriuum lugar perfeitopara ficar à deriva olhandoa cachoeira. Floresalpinasbrotavam em toda parte,acrescentandomanchasde cor à paisagem.Era osentimentode pazmaisintensoe consistente que Mack experimentava havia uma enormidade de tempo se é que jamaishavia experimentado.

Chegoua cantar algumasmúsicassóporque teve vontade.Cantar também era algoque nãofazia há muitotempo.Recuouaopassadoe começoua cantarolar a musiquinha ingênua que costumava cantar para Kate:"K-K-K-Katie...linda Katie,você é

Ele

a única que euadoro..."

Balançoua cabeça aopensar na filha,tãoforte e tãofrágil.Imaginouqualseria o modode alcançar ocoraçãodela.Nãose surpreendia maiscom a facilidade com que aslágrimaschegavam aosseusolhos.

Num determinadopontovirou-se para olhar osredemoinhosfeitospeloremoe quandose viroude novoSarayuestava sentada na proa,olhando-o.Aquela presença súbita ofezdar um pulo.

Nossa! exclamouele. Você me assustou.

Desculpe,Mackenzie,masojantar está quase prontoe é hora de voltar para a cabana.

Você estava comigootempotodo? perguntouMack,consciente dojorrode adrenalina.

Claro.Sempre estoucom você.

Entãopor que nãopercebi?Ultimamente consigosaber quandovocê está por perto.

O fatode você saber ounãosaber nãotem nada a ver com ofatode euestar aqui.Sempre estoucom você.Algumasvezesqueroque nãoperceba especialmente a minha presença.Mackassentiu,entendendo,e viroua canoa para a margem distante onde ficava a cabana.A presença dela provocava um arrepiona coluna.Osdoissorriram simultaneamente.

Sempre podereiver ououvir você comoagora,mesmoquandoestiver de volta em casa?

Sarayusorriu.

Mackenzie,você sempre pode falar comigoe eusempre estareicom você, quer sinta minha presença ounão

Agora seidisso,masvouescutar você?

Vaiaprender a ouvir meuspensamentosnosseus,Mackenzie ela garantiu.

Vaiser claro?Ese euconfundir você com outra voz?Ese euerrar?

Sarayuriue osom parecia ode água cascateando,comose fosse música.

Claroque você vaierrar.Todomundoerra,masvaicomeçar a reconhecer melhor minha vozà medida que nossorelacionamentofor crescendo.

Nãoqueroerrar resmungouMack.

Ah,Mackenzie,oserrosfazem parte da vida e Papaitrabalha seuspropósitos nelestambém.

Sarayuestava achandodivertidoe Macknãopôde evitar um sorriso.Dava para entender muitobem oque ela dizia.

Issoé muitodiferente de tudoque euconhecia,Sarayu.Nãome entenda mal, adorooque vocêsme deram neste fim de semana.Masnãofaçoidéia de como voltar à minha vida normal.Tenhoa sensaçãode que era maisfácilviver com Deusquandoeupensava Nele comoomestre exigente oumesmoquandoeu tinha que conviver com a solidãoda Grande Tristeza.

Você acha?De verdade?

Pelomenosdava a impressãode que ascoisasestavam sobcontrole.

Dava a impressãoé otermocerto O que você ganhoucom isso?A Grande Tristeza e uma dor insuportável,uma dor que se derramava até mesmosobre as pessoasde quem você maisgosta.

SegundoPapai,issoé porque eutenhomedode emoções.Sarayuriualto. Acheiaquela conversinha hilariante.

Eutenhomedode emoções admitiuMack,meioperturbadoporque ela parecia nãodar importância. Nãogostoda sensaçãoque elasproduzem. Magoeioutrospor causa dasminhasemoçõese nãoconsigoconfiar nelas.Vocês criaram todas,ousóasboas?

Mackenzie Sarayupareceuse erguer noar Ainda era difícilolhar diretamente para ela,mascom osoldofim da tarde se refletindona água ficava ainda pior. Asemoçõessãoascoresda alma.Sãoespetacularese incríveis. Quandovocê nãosente,omundofica opacoe sem cor.Pense em comoa Grande Tristeza reduziua gama de coresna sua vida para matizesmonótonos, cinza e pretos.

Entãome ajude a entendê-las implorouMack.

Na verdade,nãohá muitooque entender.Asemoçõessimplesmente são. Nem boasnem ruins,apenasexistem.Eisalgoque vaiajudá-loa entender melhor,Mackenzie.Osparadigmasdãoforça àspercepçõese aspercepçõesdão força àsemoções.Nãose assuste,vouexplicar.A maioria dasemoçõessão reaçõesàquiloque você percebe:oque acha verdadeironuma determinada situação.Se sua percepçãofor falsa,sua reaçãoemocionala ela também será falsa.Entãoverifique suaspercepçõese além dissoverifique a verdade de seus paradigmas,dosseuspadrões,daquiloem que você acredita.Sóporque você acredita firmemente numa coisa nãosignifica que ela seja verdadeira. Disponha-se a reexaminar aquiloem que acredita.Quantomaisvocê viver na verdade,maissuasemoçõesirãoajudá-loa ver com clareza.Mas,mesmo então,nãoconfie maisnelasdoque em mim.

Mackdeixouoremogirar nasmãos,permitindoque ele seguisse osmovimentos da água.

Tenhoa impressãode que viver a partir dorelacionamentocom você, confiandoe falandocom você,é bem maiscomplicadodoque simplesmente seguir asregras.

Que regrassãoessas,Mackenzie?

Você sabe,todasascoisasque asEscriturasdizem que devemosfazer.

Certo... disse ela com alguma hesitação. Equaissãoelas?

Você sabe respondeuele com um certosarcasmo.

Fazer obem e evitar omal,ser caridosocom ospobres,ler a Bíblia,rezar e ir à igreja.Coisasassim.

Sei Ecomoissofunciona para você?

Ele riu.

Bom,nunca fiznada dissomuitobem.Tenhomomentosmelhores,mas sempre há algocom que estoulutandooualgoque me fazsentir culpado.Acabei de pensar que precisava me esforçar mais,porém achodifícilmanter essa motivação.

Mackenzie! Seutom era de censura,aspalavrasvoandocom afeto. A Bíblia nãolhe dizpara seguir regras.Ela é uma imagem de Jesus.Ainda que as palavraspossam lhe dizer comoDeusé e oque Ele pode querer de você,é

impossívelfazer issosozinho.A vida está Nele e em maisninguém.Minha nossa, será

possívelque você se ache capazde viver a retidãode Deussozinho?

Bom,achoque sim,maisoumenos... disse ele sem graça. Masvocê tem de admitir que asregrase osprincípiossãomaissimplesdoque os relacionamentos.

Éverdade que osrelacionamentossãomuitomaiscomplicadosdoque as regras,masasregrasnunca vãolhe dar asrespostaspara asquestõesprofundas docoração.Enunca irãoamar você.

Mergulhandoa mãona água,ele brincou,vendoa repercussãode seus movimentos.

Estoupercebendocomotenhopoucasrespostas...para qualquer coisa.Você me viroude cabeça para baixoe peloavesso,ouseilá oquê. Mackenzie,a religiãotem a ver com respostascertase algumasdessas respostassãode fatocertas.Maseutenhoa ver com oprocessoque leva você à resposta viva,e sóele é capazde mudá-lopor dentro.Há muitaspessoas inteligentesque dizem um monte de coisascertasa partir docérebroporque aprenderam com alguém quaissãoasrespostascertas.Masessaspessoasnão me conhecem.Assim,na verdade,comoasrespostasdelaspodem ser certas, mesmoque estejam certas? Ela sorriu. Ficouconfuso?

Maspode ter certeza:mesmoque possam estar certas,elasestãoerradas.

Entendooque você está dizendo.Eufizissodurante anos,depoisda escola dominical.Tinha asrespostascertasalgumasvezes, mas não conhecia vocês. Este fim

de semana, compartilhandoa vida com vocês,foimuitomaisesclarecedor doque todas aquelasrespostas.

Continuaram a se mover preguiçosamente na água.

Entãovereivocê de novo? perguntouele,hesitando.

Claro.Você pode me ver numa obra de arte,na música,nosilêncio,nas pessoas,na Criação,mesmona sua alegria e na sua tristeza.Minha capacidade de me comunicar é ilimitada,vivendoe transformando,e tudoissosempre estará sintonizadocom a bondade e oamor de Papai.Evocê irá me ouvir e me ver na Bíblia de modosnovos.Simplesmente nãoprocure regrase princípios.Procure o relacionamento:um modode estar conosco.

Mesmoassim nãoserá omesmodoque ter você na proa domeubarco.

Não,masserá muitomelhor doque você pode imaginar,Mackenzie.E, quandovocê finalmente dormir neste mundo,teremosuma eternidade juntos, face a face. Eentãoela sumiu.Apesar de ele saber que nãohavia sumidode verdade.

Então,por favor,ajude-me a viver na verdade disse Mackem vozalta. "Talvezissoseja uma oração",pensou. *** Quandoentrounochalé,Mackviuque Jesuse Sarayujá estavam lá,sentadosem volta da mesa.Papaiestava ocupada como sempre, trazendo pratos de comidas com

cheirosmaravilhosos.Era evidente a ausência de qualquer verdura.Mackfoi para obanheirose lavar e quandoretornouosoutrostrêsjá haviam começadoa comer.Puxoua quarta cadeira e sentou-se.

Vocêsrealmente nãoprecisam comer,nãoé? perguntou,enquanto começava a colocar em sua tigela algoque parecia uma fina sopa de frutosdo mar,com lulas,peixese outrasiguariasindefinidas.

Nãoprecisamosfazer nada declarouPapaicom certa ênfase.

Entãopor que comem?

Para estar com você,querido.Você precisa comer.Então,que desculpa melhor para ficarmosjuntos?

De qualquer modo,todosnósgostamosde cozinhar

acrescentouJesus. Eeugostoum bocadode comida.Nada comouns deliciosospratossalgadospara deixar felizesaspapilasgustativas.Acompanhe issocom um pudim de carameloouum tiramisue chá quente.Humm! Nada pode ser melhor.Todosriram,depoisvoltaram a passar ospratose a se servir. Enquantocomia,Mackouvia a conversa animada entre ostrês.Falavam e riam comovelhosamigosque se gostavam e se conheciam maisintimamente doque qualquer outroser humano.Macksentia inveja da conversa despreocupada mas respeitosa e se perguntouoque seria necessáriopara compartilhar issocom Nan e talvezaté com algunsamigos.

De novoficoupasmocom a maravilha e opuroabsurdodomomento. Voltavam-lhe à mente asconversasincríveisque ohaviam envolvidonas24 horasanteriores.Uau! Sóestivera alipor um dia?Eoque deveria fazer com isso quandovoltasse para casa?

Sabia que contaria tudoa Nan.Ela podia nãoacreditar e Macknãoiria culpá-la, poisele provavelmente também nãoacreditaria.

À medida que sua mente ia acelerando,ele sentiuque se afastava dosoutrose fechouosolhos.Nada dissopodia ser real.De repente houve um silênciode morte.Abriudevagar um dosolhos,esperandoacordar de novoem casa.Em vez disso,Papai,Jesuse Sarayuoestavam encarandocom sorrisosnorosto.Ele nem tentouse explicar.Sabia que elessabiam.

Em vezdisso,apontoupara um dospratose perguntou:

Possoexperimentar um poucodisso?

Asinteraçõesforam retomadase dessa vezele escutou.Masde novosentiuque ia se afastando.Para reagir,decidiufazer uma pergunta.

Por que vocêsnosamam,oshumanos?Euacho...

Percebeuque nãohavia formuladobem a pergunta. Achoque oque euquero perguntar é:por que vocêsme amam,quandonãotenhonada para lhes oferecer?

Pense um pouconisso,Mack respondeuJesus. Você nãoexperimenta uma forte sensaçãode liberdade aosaber que nãopode nos oferecer nada,pelomenosnada capazde acrescentar oudiminuir oque somos? Issodeve trazer um grande alívio,porque elimina qualquer exigência de comportamento.

Evocê ama maisosseusfilhosquandoelesse comportam bem? acrescentouPapai.

Não.Estouentendendo. Mackfezuma pausa. Maseume sintomais realizadoporque elesestãona minha vida.Evocês?

Não respondeuPapai. Já somostotalmente realizadosem nósmesmos. Vocêsestãodestinadosa viver em comunhãotambém,já que sãofeitosà nossa imagem.Assim,sentir issopor seusfilhosoupor qualquer coisa que "acrescente" é perfeitamente naturale certo.Lembre-se,Mackenzie,que por natureza eunão souum ser humano,apesar de termosescolhidoestar com você neste fim de semana.Souverdadeiramente humanoem Jesus,massoualgo totalmente separadoem minha natureza.

Você sabe,claroque sabe disse Mackem tom de desculpa ,que eusó possoseguir essa linha de raciocínioaté um determinadopontoe depoisme percoe meucérebroparece derreter.

Entendo admitiuPapai. Éimpossívelcompreender com a mente algo que você nãopode experimentar.

Mackpensounissopor um momento.

Achoque sim...Poisé...Está vendo?Está derretendo.Quandoosoutros pararam de rir,Mackprosseguiu:

Vocêssabem comome sintogratopor tudo,masjogaram coisasdemaisno meucoloneste fim de semana.O que façoquandovoltar?Qualé sua expectativa com relaçãoa mim,agora?

Jesuse Papaise viraram para Sarayu,que estava com ogarfocheiode alguma coisa a caminhoda boca.Ela pousou-olentamente de volta nopratoe depois respondeuà expressãoconfusa de Mack.

Mack começouela ,você deve perdoar essesdois.Oshumanostêm uma tendência a estruturar a linguagem de acordocom sua independência e com sua necessidade de comportamento.Assim,quandoouçoa linguagem sofrer abusos em favor dasregrase nãoser usada para compartilhar a vida conosco,é difícil permanecer em silêncio.

Comodeve ser acrescentouPapai

Entãooque foiexatamente que eudisse? perguntouMack,agora bastante curioso.

Mack,vá em frente e termine de mastigar.Nóspodemosconversar enquanto você come.

Mackpercebeuque também estava com ogarfoa caminhoda boca.Mastigou agradecidoobocadoenquantoSarayucomeçava a falar.À medida que fazia isso,ela pareceuse alçar da cadeira e tremeluzir com uma dança de tons e cores sutis, enchendosuavemente a sala com uma variedade de aromas.

Deixe-me responder com uma pergunta.Por que você acha que nóscriamos osDezMandamentos?

De novoMackestava com ogarfoa meiocaminhoda boca,masmesmoassim mastigouobocadoenquantopensava na resposta.

Acho,pelomenosfoioque me ensinaram,que é um conjuntode regrasque vocêsesperavam que oshumanosobedecessem para viver com retidãoe em estadode graça perante vocês.

Se issofosse verdade,e nãoé respondeuSarayu ,quantosvocê acha que viveram com retidãosuficiente para entrar em nossasboasgraças?

Nãomuitos,se aspessoassãocomoeu.

Na verdade,sóum conseguiu:Jesus.Ele obedeceua letra da leie realizou completamente oespíritodela.Masentenda,Mackenzie:para fazer isso,ele teve de confiar totalmente em mim e depender totalmente de mim.

Entãopor que vocêsnosderam essesmandamentos?

Na verdade,queríamosque vocêsdesistissem de tentar ser justossozinhos. Era um espelhopara revelar comoorostofica imundoquandose vive com independência.

Mastenhocerteza de que vocêssabem que há muitosque acham que se tornam justosseguindoasregras.

Masé possívellimpar orostocom omesmoespelhoque mostra comovocê está sujo?Nãohá misericórdia nem graça nasregras,nem mesmopara um erro. Por issoJesusrealizoutodaselaspor vocês,para que elasnãotivessem mais poder sobre vocês.Agora ela estava com força total,asfeiçõescrescendoe movendo-se.

Mastenha em mente que,se você viver sua vida sozinhoe de forma independente,a promessa é vazia.Jesusafastoua exigência da lei.Ela nãotem maispoder de acusar oucomandar.Jesusé a promessa e ocumprimento.

Está dizendoque nãoprecisoseguir asregras? Agora Mackhavia parado completamente de comer e estava concentradona conversa.

Sim.Em Jesusvocê nãoestá sobnenhuma lei.Todasascoisassãolegítimas.

Nãopode estar falandosério! gemeuMack.

interrompeuPapai ,você ainda nãoouviunada.

Mackenzie continuouSarayu ,sótêm medoda liberdade osque não podem confiar que nósvivemosneles.Tentar manter a leié na verdade uma declaraçãode independência,um modode manter ocontrole.

Épor issoque gostamostantoda lei?Para nosdar algum controle? perguntouMack.

Émuitopior doque isso retomouSarayu. Ela dá opoder de julgar os outrose de se sentir superior a eles.Vocêsacreditam que estãovivendonum padrãomaiselevadodoque aquelesa quem vocêsjulgam.Aplicar regras, sobretudoem suasexpressõesmaissutis,comoresponsabilidade e expectativa,é uma tentativa inútilde criar a certeza a partir da incerteza.E,aocontráriodoque você possa pensar,eugostodemaisda incerteza.Asregrasnãopodem trazer a liberdade.Elassótêm opoder de acusar.

Uau! De repente Mackpercebeuoque Sarayuhavia dito. Está dizendo que a responsabilidade e a expectativa sãoapenasoutra forma de regras?Ouvi direito?

É exclamouPapaide novo. Agora chegamosaoponto:Sarayu,ele é todoseu!

Mackprocurouconcentrar-se em Sarayu,oque nãoera uma tarefa simples. Sarayusorriupara Papaie de novopara Mack.Começoua falar lenta e decididamente:

Mackenzie,eusempre prefiroum verboa um substantivo.Paroue esperou. Macknãotinha muita certeza de ter entendido.

Hein?

Eu ela abriuasmãospara incluir Jesuse Papai souum verbo.Souoque sou.Sereioque serei.Souum verbo! Souviva,dinâmica,sempre ativa e em movimento.Souum ser-verbo.Macktinha uma expressãovazia norosto. Entendia aspalavras,masainda nãoachava osentido.

E,comominha essência é um verbo continuouela ,soumaisligada a verbosdoque a substantivos.Verboscomoconfessar,arrepender-se,viver, amar,responder,crescer,colher,mudar,semear,correr,dançar,cantar e assim por diante.Oshumanos,por outrolado,gostam de pegar um verbovivoe cheio

Criança

de graça e transformá-lonum substantivoounum princípiomortoque fede a regras.Ossubstantivosexistem porque existe um universocriadoe uma realidade física,mas,se ouniversofor apenasuma massa de substantivos,ele está morto.A nãoser "eusou",nãoexistem verbose osverbossãooque torna o universovivo.

E... Mackainda estava lutando,maspareceuque um brilhode luz começava a iluminar seupensamento. Eissosignifica exatamente oquê? Sarayupareceunãose perturbar com sua falta de entendimento.

Para que alguma coisa se mova da morte para a vida,você precisa colocar algovivoe móvelna mistura.Passar de uma coisa que é apenas um substantivopara algodinâmicoe imprevisível,para algovivoe notempo presente um verbo ,é mover-se da leipara a graça.Possodar alguns exemplos?

Por favor.Soutodoouvidos.

Jesusdeuum risinhoe Mackpiscoupara ele antesde se voltar para Sarayu.A sombra levíssima de um sorrisoatravessouorostodela enquantoretomava:

Entãovamosusar suasduaspalavras:responsabilidade e expectativa.Antes que suaspalavrasse tornassem substantivos,eram nomesque continham movimentoe experiência:a capacidade de reagir e a prontidão.Minhaspalavras sãovivase dinâmicas,cheiasde vida e possibilidades.Assuassãomortas,cheias de leis,medoe julgamento.Por issovocê nãoencontrará a palavra responsabilidade nasEscrituras.

Minha nossa! Mackfranziua testa,começandoa perceber aonde issoia dar Por outrolado,nósa usamosum bocado

Ela continuou:

A religiãousa a leipara ganhar força e controlar aspessoasde que precisa para sobreviver.Eu,aocontrário,doua capacidade de reagir e sua reaçãoé estar livre para amar e servir em todasassituações.Por isso,cada momentoé diferente,únicoe maravilhoso.Comosousua capacidade de reagir livremente, tenhode estar presente em vocês.Se eusimplesmente lhesdesse uma responsabilidade,nãoteria de estar com vocês.A responsabilidade seria uma tarefa a realizar,uma obrigaçãoa cumprir,algopara vencer oufracassar.

Minha nossa,minha nossa disse Mackoutra vez,sem muitoentusiasmo.

Usemosoexemploda amizade e veremosque remover oelemento de vida de um substantivo pode alterar um relacionamento.Mack,se você e eusomosamigos,há uma prontidãodentrode nossorelacionamento.Quandonosvemosouquando estamosseparados,há a prontidãode estarmosjuntos,de rirmose falarmos.Essa prontidãonãotem definiçãoconcreta:é viva,dinâmica,e tudoque emerge do fatode estarmosjuntosé um dom únicoque nãoé compartilhadopor mais ninguém.Masoque acontece se eumudar "prontidão"por "expectativa",verbalizada ounão?Subitamente a leientra nonosso relacionamento.Agora você espera que euaja de um modoque atenda àssuas expectativas.Nossa amizade viva se deteriora rapidamente e se torna uma coisa morta,com regrase exigências.Nãotem maisa ver com nósdois,mascom o que osamigosdevem fazer oucom asresponsabilidadesde um bom amigo.

Ou observouMack com asresponsabilidadesde marido,de pai, empregadoouqualquer outra coisa.Entendi.Prefiroviver na prontidão.

Eutambém disse Sarayu.

Mas argumentouMack ,se nãotivéssemosexpectativase responsabilidades,tudonãoiria simplesmente desmoronar?

Sóse você fizer parte domundofora de mim,regidopela lei.As responsabilidadese asexpectativassãoa base para a culpa,a vergonha e o julgamento.Elasfornecem a estrutura que fazdocomportamentoa base para a identidade e ovalor de alguém.Você sabe muitobem comoé nãoatender às

expectativasde alguém.

Seimesmo! murmurouMack. Éuma idéia que me traztristes lembranças. Paroubrevemente,com um novopensamentorelampejando. Você está dizendoque nãotem expectativascom relaçãoa mim?

Agora Papaifalou:

Querido,eununca tive expectativascom relaçãoa você nem a ninguém.A idéia por trásdissoexige que alguém nãosaiba ofuturoouo resultadoe esteja tentandocontrolar ocomportamentodooutropara chegar ao resultadodesejado.Oshumanostentam esse controle principalmente por meio dasexpectativas.Euoconheçoe seitudosobre você.Por que teria uma expectativa diferente daquiloque já sei?Seria idiotice.E,além disso,comonãoa tenho,vocêsnunca me desapontam.

O quê?Você nunca ficoudesapontadocomigo? Mackestava se esforçando bastante para digerir isso.

Nunca! declarouPapaienfaticamente. O que tenhoé uma prontidãoconstante e viva nonossorelacionamentoe lhe doua capacidade de reagir a qualquer situaçãoe circunstância em que você se encontrar.Se passar a contar com expectativase responsabilidades,você nãome conhece nem confia em mim.

Epela mesma razão exclamouJesus você vive nomedo.

Mas... Macknãoestava convencido. Masvocê nãoquer que a gente estabeleça prioridades?Você sabe:Deusprimeiro,depoisseilá oquê,seguido por maisnãoseioquê?

O problema de viver segundoprioridades disse Sarayu

é que se vê tudocomouma hierarquia,uma pirâmide,e você e eujá falamos sobre isso.Se você puser Deusnotopo,oque issorealmente significa?Quanto tempovocê me dá antesde poder cuidar dorestodoseudia,da parte que lhe interessa muitíssimomais?

Papaiinterrompeude novo.

Veja bem,Mackenzie,eunãoquerosimplesmente um pedaçode você e da sua vida.Mesmoque você pudesse,e nãopode,me dar opedaçomaior,nãoé

issoque euquero.Querovocê

inteiroe todasaspartesde você e de seudia.

Agora Jesusfaloude novo.

Mack,nãoqueroser oprimeironuma lista de valores Queroestar nocentro de tudo.Quandovivoem você,podemosviver juntostudoque acontece com você.Em vezde uma pirâmide,queroser comoocentrode um móbile,onde tudoem sua vida seusamigos,sua família,seutrabalho,ospensamentos,asatividades esteja ligadoa mim,masse movimente aovento,para dentroe para fora,para tráse para a frente,numa incríveldança doser.

Eeu concluiuSarayu souovento. Ela deuum sorrisoenorme e fez uma reverência. Houve silêncioenquantoMackprocurava se controlar.Estivera segurandoa borda da mesa com asduasmãos,comose quisesse agarrar algotangíveldiante daquele tiroteiode idéiase imagens.

Bom,chega disso declarouPapai,levantando-se da cadeira. Éhora de diversão! Vocêsvãoem frente enquantoeutiroascoisasque podem estragar. Cuidodospratosmaistarde.

Easorações? perguntouMack.

Nada é um ritual,Mack disse Papai,pegandoalgunspratosde comida. Portanto,esta noite vamosfazer uma coisa diferente.Você vaigostar!

Enquantose levantava e se virava para acompanhar Jesusaté a porta dosfundos, Macksentiuuma mãonoombroe virou-se.Sarayuestava parada ali,olhando-o com intensidade.

Mackenzie,se você me permitir,gostaria de lhe dar um presente para esta noite.Possotocar seusolhose curá-lossópor esta noite?

Mackficousurpreso.

Euenxergobastante bem.

Na verdade disse Sarayuem tom de desculpa ,você vê

muitopouco,embora para um ser humanoenxergue bastante bem.Massópor esta noite euadoraria que você visse um poucodoque nósvemos.

Entãoestá bem concordouMack. Por favor,toque meusolhose até mais,se quiser.

EnquantoSarayuestendia asmãospara ele,Mackfechouosolhos.O toque dela era comogelo,inesperadoe empolgante.Um tremor deliciosooatravessoue Mackergueuasmãospara segurar asdela juntoaorosto.Nãohavia nada alie ele começoulentamente a abrir osolhos.

15.UM FESTIVALDEAMIGOS

"Você pode dizer adeusa sua família e a seus amigose afastar-se milhase milhase,aomesmo tempo,carregá-losem seucoração,em sua mente, em seuestômago,poisvocê nãoapenasvive no mundo,masomundovive em você " FrederickBuechner,TellingThe Truth

Quandoabriuosolhos,Mackteve de protegê-losimediatamente de uma luz muitointensa que oofuscou.Depoisouviualgo.

Você vaiachar muitodifícilolhar diretamente para mim disse a vozde Sarayu oupara Papai.Mas,à medida que sua mente se acostumar àsmudanças,será maisfácil.

Ele estava paradonomesmolugar onde fechara osolhos,masa cabana havia sumido,assim comoocaise a carpintaria.Estava aoar livre,notopode uma pequena colina,sobum céunoturnobrilhante massem lua.Podia ver asestrelas em movimento,tranqüilamente e com precisão,comose houvesse grandes condutorescelestiaiscoordenandoseusmovimentos.Ocasionalmente,comose recebendoum comando,cometase chuvasde meteorosrolavam por entre as estrelas,acrescentandovariaçãoà dança.EntãoMackviualgumasestrelas crescerem e mudarem de cor.Era comose otempotivesse se tornadodinâmico e volátil,juntando-se à imagem celestialaparentemente caótica,mas administrada com precisão.

Ele se viroupara Sarayu,que ainda estava aoseulado.Apesar de ser difícilolhar diretamente para ela,agora podia vislumbrar simetria e coresengastadasem padrões,comose minúsculosdiamantes,rubise safirastivessem sidocosturados numa roupa de luzque se movia primeiroem ondase depoisse espalhava em partículas.

Étudoincrivelmente lindo! sussurrouele.

Éverdade. A vozde Sarayuvinha da luz. Agora,Mackenzie,olhe ao redor.

Ele ficouboquiaberto.Mesmona escuridãoda noite,tudotinha clareza e brilhava com halosde luzem váriostonse cores.Embora a floresta estivesse incendiada de luze cor,cada árvore e cada folha eram distintamente visíveis.Pássaros criavam uma trilha de fogocoloridoaovoarem se perseguindo À distância,um exércitoda Criaçãoparecia estar a postos:cervos,ursos,cabritosmontesese alcesmajestososdesfilavam pertodasbordasda floresta,lontrase castoresno lago,cada um luzindocom coreschamejantes.

Miríadesde pequenascriaturassaltavam e voavam por toda parte,cada uma em sua própria glória.

Num jorrode chamas,uma águia-pescadora mergulhouem direçãoà superfície dolago,masmudouocursonoúltimoinstante e roçoua superfície,com fagulhas caindocomoneve naságuas.Atrásdela,uma grande truta vestida de arco-íris rompeua superfície e mergulhoude volta em meioa um borrifode cores.Mack sentiu-se maior doque a vida,comose pudesse estar presente em todasaspartes. Doisfilhotesde ursobrincavam aopé da mãe e,de onde estava,Mack,sem pensar,estendeuobraçopara tocá-los. Recolheu-ode volta,espantadoaoperceber que também chamejava.Olhouas mãosmaravilhosamente esculpidase claramente visíveisdentroda cascata de coresde luzque parecia cobri-lascomoluvas.Examinouorestodocorpoe descobriuque a luze a cor oenvolviam completamente.Uma veste de pureza que orevestia de liberdade e decência.

Também percebeuque nãosentia dor,nem mesmonasjuntasgeralmente doloridas.

Na verdade,nunca havia se sentidotãobem,tãointeiro.Sua cabeça estava límpida e ele respirava profundamente osperfumesda noite e dasflores.

Uma alegria delirante e deliciosa cresceupor dentro,e ele flutuoulentamente no

ar,retornandosuavemente aochão."É

comose euvoasse em um sonho",pensou.

EntãoMackviuasluzes.Pontosem movimentoemergiam da floresta, convergindopara a campina abaixoonde ele estava com Sarayu.Agora podia vê-losnoaltodasmontanhasaoredor,aparecendo e desaparecendo enquanto vinham em sua direçãoseguindocaminhose trilhasinvisíveis. Chegouà campina um exércitode crianças.Nãohavia velas elasprópriaseram luzes.E,dentrode sua própria luminosidade,cada uma vestia roupasdiferentesque Mackimaginouque correspondiam a tribosdiversas. Eram ascriançasda Terra,osfilhosde Papai.Acercaram-se com dignidade e graça silenciosa,rostoscheiosde contentamentoe paz,asmaioressegurandoas mãosdasmenores.

Por um momentoMackse perguntouse Missy estaria ali,maslogodesistiu. Achouque,se estivesse e quisesse ir aoseuencontro,correria para ele.Agora as criançashaviam formadoum círculoenorme na campina,deixandoum caminhoabertoa partir dasproximidadesde onde Mackestava,bem nocentro. Pequenosjorrosde fogoe luz,comoflashesfotográficos,espocavam lentamente,acendendo-se quandoascriançasriam ousussurravam.Embora Macknãofizesse idéia doque estava acontecendo,elasobviamente sabiam

Emergindona clareira atrásdelase formandooutrocírculode luzesmaiores, apareceram adultoscheiosde coresbrilhantes,masdiscretas.

De repente a atençãode Mackfoiatraída por um movimentoincomum.Parecia que um dosseresde luznocírculoexternoestava tendoalguma dificuldade. Clarõese lançasde cor violeta e marfim saltavam em forma de brevesarcosna

noite,sendosubstituídospor tonsde orquídea,ouroe vermelhoflamejante,jorros ardentese luminososde luzque explodiam indoaoencontroda escuridãoao redor.

Sarayudeuum risinho.

O que está acontecendo? sussurrouMack.

Há um homem com dificuldade para conter oque está sentindo.A pessoa que nãoconseguia se controlar agitava asque estavam próximas.O efeitode ondulaçãoera claramente visívelà medida que a luzflamejante se estendia até ocírculode crianças.Asmais próximasdoinstigador pareciam reagir conforme ascorese luzesfluíam delas para ele.Ascombinaçõesque emergiam eram únicas,diferentesda cor daquele que estava provocandoa agitação.

Ainda nãoentendo sussurrouMackde novo.

Mackenzie,opadrãode cor e luzé únicoem cada pessoa;nãohá doisiguais, nenhum padrãose repete.Aquipodemosver unsaosoutrosverdadeiramente porque cada personalidade e cada emoçãosãovisíveiscomocor e luz.

Issoé incrível! exclamouMackenzie. Entãopor que ascoresdas criançassãoprincipalmente brancas?

Se você se aproximar,verá que elastêm muitascoresindividuaisque se fundiram nobranco.À medida que elasamadurecerem e crescerem,ascores irãose tornar maisdistintase emergirãotonse matizesúnicos.

Incrível! foitudoque Mackconseguiudizer.Olhoucom maisatençãoe notouque por trásdocírculode adultoshaviam surgidooutros,igualmente espaçados,aoredor de todooperímetro.Eram chamasmaisaltas, aparentemente soprandocom ascorrentesde ar,e tinham coressemelhantes,de safira e azulágua,com pedacinhosúnicosde outrascoresengastadosem cada um.

Anjos respondeuSarayuantesque Mackpudesse perguntar. Servidores e guardiões.

Incrível! exclamouMackmaisuma vez.

Há mais,Mackenzie,e issovaiajudá-loa entender oproblema que aquele

indivíduoestá tendo. Ela apontouna direçãoda agitaçãoque continuava, lançandoluzese coressúbitase abruptasna direçãodeles.

Nãosomente conseguimosver a especificidade de cada pessoa em cor e luz comoreagimostambém usandocor e luz.Essa reaçãoé muitodifícilde controlar e geralmente nãodeve ser contida,comoesse homem está tentando.É maisnaturaldeixar que a reaçãosimplesmente se expresse.

Nãoentendo hesitouMack. Está dizendoque podemosreagir unsaos outrosem cores?

Sim Sarayuassentiu. Cada relacionamentoentre duaspessoasé absolutamente único.Por issovocê nãopode amar duaspessoasda mesma maneira.Simplesmente nãoé possível.Você ama cada pessoa de modo diferente por ela ser quem ela é e pela especificidade doque ela recebe de você Equantomaisvocêsse conhecem,maisricassãoascoresdesse relacionamento. Mackescutava aomesmotempoque olhava oque acontecia à volta.Sarayucontinuou:

Voudar um exemplopara você entender melhor.Suponha,Mack,que você está com um amigonuma lanchonete.Você está concentradonocompanheiroe,se tiver olhospara ver,perceberá que osdoisestãoenvolvidosnuma variedade de corese luzesque marcam não apenasoque cada um é especificamente,mastambém a especificidade do relacionamentoentre vocêse dasemoçõesque estãoexperimentando.

Mas... Mackcomeçoua perguntar e foiinterrompido.

Massuponha continuouSarayu que outra pessoa que você ama entre na lanchonete e,embora esteja envolvidopela conversa com oprimeiroamigo, você nota a entrada dooutro.De novo,se você tivesse olhospara ver a realidade maisampla,testemunharia que uma combinaçãoúnica de cor e luzsaltaria de você e se enrolaria noque acaboude chegar,representandovocê em outra forma de amá-loe recebê-lo.Maisuma coisa,Mackenzie:a especificidade nãoé somente visual,mastambém sensorial.Você pode sentir,cheirar e até mesmo sentir ogostodela.

Adoroisso! exclamouMack. Mas,a nãoser por aquele lá apontouna direçãodasluzesagitadasaoredor doadulto ,por que todosestãocalmos?Eu imaginaria que houvesse cor por todolado.Elesnãose conhecem?

A maioria se conhece muitobem,masestãoaquipara uma comemoração que nãotem nada a ver com elesnem com osrelacionamentosde unscom os outros,pelomenosnãodiretamente explicouSarayu. Elesestãoesperando.

O quê?

Você verá logo respondeuSarayue era óbvioque ela nãodiria maisnada sobre oassunto.

Entãopor que aquele está tendotanta dificuldade e por que ele parece concentradoem nós?

Mackenzie disse Sarayucom gentileza ,ele nãoestá concentradoem nós,está concentradoem você.

O quê? Mackficoupasmo.

Aquele que tem tanta dificuldade para se conter é oseupai. Uma onda de emoções,uma mistura de raiva e anseiovarreuMack.

Nesse momentoascoresde seupaiexplodiram da campina e oenvolveram.Ele ficouperdidonum jorrode rubie vermelhão,magenta e violeta,à medida que a luze a dor faziam um redemoinhoaoseuredor e ocobriam.Ede algum modo, nomeioda tempestade que explodia,ele se viucorrendopela campina para encontrar opai,correndopara a fonte de corese emoções.Era um menininho querendoopaie,pela primeira vez,nãoteve medo.Estava correndo,sem se importar com coisa alguma além doobjetododesejode seucoração,e o encontrou.Seupaiestava de joelhos,cobertode luz,lágrimasbrilhandocomo uma cachoeira de diamantese jóiasnasmãosque cobriam orosto.

Papai! gritouMacke jogou-se para ohomem que nem podia olhar ofilho.

Nouivode ventoe chamas,Macksegurouorostodopaicom asduasmãos, forçando-oa olhá-lopara que pudesse gaguejar aspalavrasque sempre quisera dizer:"Papai,desculpe! Papai,eute amo!"

A luzde suaspalavraspareceuexplodir,afastandoa escuridãodascoresdopai, transformando-asem vermelhosangue.Osdoistrocaram palavrassoluçantesde confissãoe perdão.Eum amor maior doque qualquer um dosdoisoscurou. Finalmente se levantaram juntos,opaiabraçandoofilhocomonunca pudera fazer antes.Foientãoque Macknotoua onda de uma cançãopassandosobre os dois,comose penetrasse nolugar sagradoonde ele estava com opai.Abraçados,

incapazesde falar em meioàslágrimas,elesouviram a cançãode reconciliação que iluminava océunoturno.Uma fonte de cor brilhante começoua jorrar em arcoentre ascrianças,sobretudoentre asque haviam sofridomais,e ondulouao passar de cada uma para a próxima,levada pelovento,até que todoocampo estivesse inundadode luze música.

De algum modoMacksoube que nãoera um momentopara conversar e que seu tempocom opaiestava passandorapidamente.Para ele,a nova leveza que sentia era eufórica.Beijandoopainoslábios,virou-se e voltoupara a pequena colina onde Sarayuoesperava.Enquantopassava pelasfileirasde crianças,pôde sentir otoque e ascoresdelasenvolvendo-orapidamente e ficandopara trás.De algum modoele já era conhecidoe amadoali. Quandochegoua Sarayu,ela oabraçoutambém e ele deixouque ela o segurasse enquantocontinuava a chorar.Quandorecuperouuma leve tranqüilidade,virou-se para olhar de novoa campina,olagoe océunoturno.Um silênciobaixou.A antecipaçãoera palpável.De repente,à direita,saindoda escuridão,surgiuJesuse opandemônioirrompeu.Ele vestia uma roupa branca e usava na cabeça uma coroa simplesde ouro,masera,em cada centímetrodo seuser,oreidouniverso.Seguiupelocaminhoque se abriuà sua frente até chegar aocentro ocentrode toda a Criação,ohomem que é Deuse oDeus que é homem.Luze cor dançavam e teciam uma tapeçaria de amor para ele pisar.Algunschoravam,dizendopalavrasde amor,enquantooutros simplesmente permaneciam de mãoslevantadas.Muitosdaquelescujascores eram asmaisricase profundasestavam deitadoscom orostonochão.Tudoque respirava cantava uma cançãode amor e agradecimentosem fim.Nessa noite o universoera comodevia ser.

Quandochegouaocentro,Jesusparoupara olhar em volta.Seusolhospousaram em Mack,que,paradona pequena colina,ouviuJesussussurrar em seuouvido: Mack,eugostoespecialmente de você. Foitudoque Mackconseguiu suportar enquantocaía nochãodissolvendo-se numa onda de lágrimasjubilosas. Nãopodia se mexer,presonoabraçode Jesus,feitode amor e ternura. EntãoouviuJesusdizer altoe claro,masde modomuitogentile convidativo: "Venham!"

Eelesforam,ascriançasprimeiro,depoisosadultos,cada um por sua vez,rindo, falando,abraçando-se e cantandocom seuJesus.O tempopareceuparar enquantoa dança celestialprosseguia.Eentãocada um foisaindoaté nãorestar

ninguém,a nãoser asardentessentinelasazuise osanimais.Jesuscaminhou entre eles,chamandocada um pelonome,e entãoosanimaise seusfilhotes voltaram para astocas,osninhose osleitosnaspastagens.

Por fim estavam novamente sozinhos.O gritoselvagem e assombrosode um mergulhãoecoandosobre olagopareceusinalizar ofim da celebração,e as sentinelasdesapareceram aomesmotempo.Osúnicossonsque restavam eram osdocorode grilose saposretomandosuascançõesde cultona margem da água e nascampinasaoredor.

Sem uma palavra,ostrêsse viraram e retornaram para a cabana,que de novose tornara visívelpara Mack.Comouma cortina sendopuxada sobre seusolhos,de repente a visãovoltouaonormal.Ele teve uma sensaçãode perda e de ansiedade e chegoua ficar um poucotriste,até que Jesusse aproximou,pegousua mãoe apertou-a para assegurar que tudoera comodevia ser.

16.MANHÃ DETRISTEZAS

Um Deusinfinitopode se dar inteiroa cada um de seusfilhos.

Ele nãose distribuide modoque cada um tenha uma parte, masa cada um ele se dá inteiro,tãointegralmente comose nãohouvesse outros.

A.W.Tozer

Mackteve a sensaçãode que acabara de entrar num sonoprofundo,sem sonhos, quandosentiuuma mãosacudindo-opara acordar.

Mack,acorde.Éhora de irmos. A vozera familiar,masprofunda,comode alguém que também tivesse acabadode acordar.

Hein? gemeuele Que horassão? murmurouenquantotentava descobrir onde estava e oque estava fazendo.

Éhora de ir! repetiuosussurro.

Macksaiuda cama resmungandoe procurouaté encontrar ointerruptor de luz.

Depoisda escuridãode breu,a claridade foiofuscante e ele demorouaté conseguir abrir osolhose se esforçar para ver ovisitante.

O homem paradojuntodele se parecia um poucocom Papai:digno,maisvelho, magroe maisaltodoque Mack.O cabelomuitobrancoestava presonum rabode-cavalo,e obigode e ocavanhaque eram grisalhos.Camisa xadrezcom mangasenroladas,jeanse botasde caminhada completavam a vestimenta de alguém prontopara pôr opé na trilha.

Papai? perguntouMack.

Sim,filho. Mackbalançoua cabeça. Ainda está brincandocomigo,nãoé?

Sempre disse ele com um sorriso.E,respondendoà pergunta seguinte de Mackantesque ela fosse feita: Nesta manhã você vai precisar de um pai.Vamosindo.Tem tudode que você precisa na cadeira e na mesa aopé da sua cama.Encontro-ona cozinha,onde você pode comer alguma coisa antesde sairmos.Mackassentiu.Nãose incomodouem perguntar aonde estaria indo.Se Papaidesejasse que ele soubesse,teria dito.Vestiurapidamente asroupasdotamanhoexato,semelhantesàsde Papai,e calçouum par de botas de caminhada.Parourapidamente nobanheiropara se lavar e entrouna cozinha.

Jesuse Papaiestavam pertoda bancada,parecendomuitomaisdescansadosdo que Mack.Ele já ia falar quandoSarayuentroupela porta dosfundoscom um grande embrulho.Parecia um longosacode dormir,amarradocom uma tira presa em cada ponta para ser carregadofacilmente.Entregou-oa Macke ele sentiuimediatamente um perfume maravilhosoque vinha doembrulho Era uma mistura de ervase floresaromáticasque ele pensoureconhecer.Pôde sentir cheirode canela e de hortelã juntocom saise frutas.

Issoé um presente para maistarde.Papaivailhe mostrar comousá-lo. Ela sorriue ele sentiuuma espécie de abraço.

Você pode carregar acrescentouPapai. Você colheuessasplantascom Sarayuontem.

Meupresente vaiesperar aquiaté sua volta sorriuJesuse também abraçou Mack.

Osdoissaíram pelosfundose Mackficousozinhocom Papai,que estava fritando ovoscom bacon.

Papai perguntouMack,surpresoaover comohavia ficadofácilchamá-lo assim. Nãovaicomer?

Nada é um ritual,Mackenzie.Você precisa disso,eunão.

Ele sorriu. Mastigue devagar.Você tem bastante tempoe comer depressa demaisnãoé bom para a digestão.

Mack comeu devagar e em silêncio, simplesmente desfrutandoa presença de Papai.

Num determinadomomento,Jesusapareceupara informar que havia postoas ferramentasde que precisariam doladode fora da porta.Papaiagradeceu,Jesus lhe deuum beijonoslábiose saiupela porta dosfundos.

Mackestava ajudandoa limpar ospoucospratosquandoperguntou:

Você realmente oama,nãoé?Querodizer,Jesus.

Seide quem você está falando respondeuPapai,rindo.Paroude lavar a frigideira. De todoocoração! Imaginoque haja algomuitoespecialnum filho unigênito. Papaipiscoupara Macke continuou: Issofazparte domodo únicopeloqualeuoconheço.

Quandoacabaram,MackacompanhouPapaipara fora.O

alvorecer se anunciava nospicosdasmontanhas,ascoresdonascer dosol invadindoocinza da noite.Mackpegouopresente de Sarayue opendurouno ombro.Papailhe entregouuma pequena picareta e pôsuma mochila àscostas.

Em seguida pegouuma pá

com uma dasmãos,uma bengala com a outra e,sem dizer uma palavra,passou pelojardim e pelopomar indona direçãodoladodireitodolago.

Quandochegaram aoinícioda trilha havia luzsuficiente para andar com facilidade.

AliPapaiparoue apontoua bengala para uma árvore fora docaminho.Mack pôde ver que alguém marcara a árvore com um pequenoarcovermelhoquase imperceptível.

Aquilonãosignificava nada para ele e Papainãodeuexplicação.Em vezdisso, virou-se e seguiupelocaminho,andandocom facilidade.

O presente de Sarayuera relativamente leve e Mackusouocaboda picareta comobengala.O caminholevou-osa atravessar um dosriachose a entrar mais fundona floresta.Mackpodia ouvir Papaitrauteandouma cantiga,masnãoa reconheceu.Enquantoandavam,Mackpensouna miríade de coisasque experimentara nosdiasanteriores.Asconversascom cada um dostrês,juntose separados,otempopassadocom Sophia,asoraçõesde que havia participado,a contemplaçãodocéuestreladocom Jesus,a caminhada pelolago.A comemoraçãoda noite anterior completara tudo,até mesmoa reconciliação com seupai

tanta cura com tãopoucaspalavras.Era difícilabsorver talquantidade de experiênciase informações.

Enquantopensava e avaliava oque havia aprendido,Mackpercebeuquantas perguntasainda tinha para fazer.Massentia que ainda nãoera hora.Sabia apenas que nunca maisseria omesmoe se perguntava oque significariam essas mudançaspara Nane seusfilhos,especialmente Kate.Mashavia uma coisa que oestava incomodando.Por fim rompeuosilêncio.

Papai? Sim,filho.

Sophia me ajudoua entender muita coisa sobre Missy ontem.Erealmente foi útilconversar com Papai.Ah,querodizer,com você. Mackestava confuso, masPapaiparoue sorriucomose entendesse.Mackprosseguiu: Éestranhoeu precisar falar sobre issocom você também.Querodizer,você é muitomaisdo que um pai,se é que issofazsentido.

Entendo,Mackenzie.Estamoscompletandoocírculo.Perdoar seupaiontem foiextremamente importante para você

poder me conhecer comopaihoje.Nãoprecisa explicar mais.De algum modo Macksabia que estavam chegandoaofim de uma jornada e que Papaiestava trabalhandopara ajudá-loa dar osúltimospassos.Papaiprosseguiu:

Nãohavia possibilidade de criar a liberdade sem um custo,comovocê sabe. Papaiolhoupara baixo,com ascicatrizesvisíveismarcadasindelevelmente nospulsos. Eusabia que minha Criaçãoiria se rebelar,que escolheria a independência e a morte,e sabia oque me custaria abrir um caminhopara a reconciliação.A independência doser humanoliberouoque parece a você um mundode caosaleatórioe apavorante.Eupoderia ter impedidooque aconteceu com Missy?A resposta é sim.

Mackolhoupara Papai,osolhosfazendoa pergunta que nãoprecisava ser verbalizada.Ele continuou:

Primeiro,se nãotivesse havidoa Criação,nãohaveria essasquestões.

Em segundolugar,eupoderia ter optadopor interferir ativamente noque aconteceucom ela.Jamaisconsidereia possibilidade de deixar de criar,e interferir nocasode Missy nãoera uma opção,por causa de propósitosque você nãopode entender agora.Nesse pontotudoque tenhoa lhe oferecer como resposta é omeuamor,minha bondade e meurelacionamentocom você.Eunão tive a intençãode fazer Missy morrer,masissonãosignifica que nãopossa usar a morte dela para obem.Mackbalançoua cabeça,triste.

Está certo.Nãoentendodireito.Por um segundoachoque voucompreender, masdepoistoda a dor da perda parece crescer e me dizer que oque eu compreendisimplesmente nãopode ser verdade.Masconfioem você...

De repente irrompeuesse novopensamento,surpreendente e maravilhoso.

Papai,euconfioem você!

Papaisorriude volta para ele. Eusei,filho,eusei.

Virou-se e voltoua caminhar pela trilha,seguidopor Mack,agora com ocoração maisleve e apaziguado.Logocomeçaram uma subida relativamente fácile o

ritmodiminuiu.Ocasionalmente Papaiparava e batia numa pedra ounuma árvore grande docaminho,indicandoem cada uma a presença dopequenoarco vermelho.Antesque Mackpudesse fazer a pergunta óbvia,Papaise virava e continuava pela trilha.

À medida que avançavam,asárvoresiam rareandoe Mackpôde vislumbrar camposrochososonde deslizamentosde terra haviam tiradotrechosda floresta algum tempoantesde a trilha ser aberta.Pararam uma vezpara um rápido descansoe Mackaproveitoupara beber um poucoda água fresca que Papai colocara noscantis.

Poucodepoisda parada,ocaminhoficoubem íngreme e oritmoda caminhada diminuiuainda mais.Mackachouque deviam ter andadopor quase duashoras quandosaíram domeiodasárvores.Para chegar à trilha delineada na encosta adiante teriam de passar por uma grande área de rochase pedregulhos.De novo papaiparou,pousousua mochila e enfioua mãodentro.

Estamosquase chegando,filho falou,entregandoum cantila Mack.

Estamos? perguntouMack,olhandopara osolitárioe desoladoterreno rochosoà frente.

Estamos! foisóoque Papairespondeu.

Papaiescolheuuma pequena pedra pertodocaminhoe,colocandoa mochila e a pá aolado,sentou-se.Parecia perturbado.

Queromostrar uma coisa que vaiser muitodolorosa para você.

Está bem. O estômagode Mackcomeçoua se revirar enquantoele se sentava e pousava a picareta e opresente de Sarayusobre osjoelhos.Osaromas, reforçadospelosolda manhã,preencheram seussentidoscom beleza e trouxeram alguma paz.

O que é?

Para ajudá-loa ver,querotirar maisuma coisa que obscurece seucoração. Macksoube imediatamente oque era e olhoupara ochãoentre seuspés.Papai falougentilmente,tranqüilizando-o.

Filho,issonãoé para envergonhar você.Nãousohumilhação,nem culpa, nem condenação.Elasnãoproduzem uma fagulha de plenitude oude justiça e por issoforam pregadasem Jesusna cruz.

Esperou,deixandoque esse pensamentopenetrasse em Macke lavasse parte do sentimentode vergonha que ele sentia.Depoiscontinuou:

Hoje estamosna trilha da cura para encerrar essa parte da sua jornada.Não sópara você,maspara outraspessoastambém.Hoje vamosjogar uma pedra grande nolagoe asondulaçõesvãochegar a lugaresque você nãoimagina. Você já sabe oque euquero,nãosabe?

Achoque sim murmurouMack,sentindoemoçõesque subiam aceleradas, saindode um cômodotrancadoem seucoração.

Filho,você precisa falar,precisa verbalizar isso.Agora nãohavia comose conter e,enquantolágrimasquentesjorravam de seusolhos,Mack,soluçando, começoua confessar.

Papai ele disse chorando ,comopossoperdoar aquele filhoda puta que matouminha Missy?Se ele estivesse aquihoje,nãoseioque eufaria.Seique nãoé certo,masqueroferi-locomoele me feriu...se eunãopuder ter justiça, ainda querovingança.Papaisimplesmente deixoua torrente sair de Mack, esperandoque a onda passasse.

Mack,perdoar esse homem é entregá-loa mim e permitir que euoredima.

Redimi-lo? De novoMacksentiuofogoda raiva e da dor. Nãoquero que você oredima! Queroque omachuque,castigue,mande para oinferno... Sua vozficounoar.Papaiesperoucom paciência que asemoçõespassassem.

Estoutravado,Papai.Simplesmente nãopossoesquecer oque ele fez,posso? implorouMack.

Perdoar nãosignifica esquecer,Mack.Significa soltar a garganta da outra pessoa

Maseuachava que você esquecia osnossospecados.

Mack,eusouDeus.Nãoesqueçonada.Seide tudo.Para mim,esquecer é optar por me limitar.Filho a vozde Papaificoubaixa e Mackolhou-o diretamente nosolhosprofundose castanhos ,por causa de Jesus,nãohá agora nenhuma leiexigindoque eutraga seuspecadosà mente.Elesse foram e não interferem nonossorelacionamento.

Masesse homem...

Ele também é meufilho.Queroredimi-lo.

Edepois?Você quer que eusimplesmente operdoe,que fique tudobem e que nósnostornemosamigos? disse Mackbaixinho,mascom sarcasmo.

Você nãotem relacionamentocom esse homem,pelomenos ainda não tem. O perdãonão estabelece um relacionamento.Em Jesuseuperdoeitodososhumanospor seuspecadoscontra mim,massóalgunsescolheram relacionar-se comigo.Mackenzie,você nãovê que operdãoé um poder incrível,um poder que você compartilha conosco,um poder que Jesusdá a todosem quem ele reside,para que a reconciliaçãopossa crescer?

QuandoJesusperdoouosque opregaram à cruz,elesdeixaram de dever qualquer coisa,tantoa ele quantoa Mim.Nomeurelacionamentocom aqueles homens,jamaisfalareidoque elesfizeram nem ireienvergonhá-losou constrangê-los.

Nãocreioque euseja capazde fazer isso respondeuMackbaixinho.

Queroque você faça.O perdãoexiste em primeirolugar para aquele que perdoa,para liberá-lode algoque vaidestruí-lo,que vaiacabar com sua alegria e capacidade de amar integrale abertamente.Você acha que esse homem se importa com a dor e otormentoque lhe causou?Nomínimoele se alimenta com seusofrimento Você nãoquer cortar isso?Aofazê-lo,irá libertar ohomem de um fardoque ele carrega,quer saiba ounão,quer reconheça ounão.Quando você opta por perdoar ooutro,você oama melhor.

Eunãooamo.

Hoje não,você nãooama.Maseuamo,Mack,nãopeloque ele se tornou, maspela criança mutilada e deformada pela dor.Queroajudá-loa assumir a

natureza que encontra maispoder noamor e noperdãodoque noódio.

Entãoissosignifica de novoMacksentia um poucode raiva pela direção que a conversa havia tomado que,se euperdoar esse homem,estarei deixandoque ele brinque com Kate oucom minha primeira neta?

Mackenzie Papaifoiforte e firme. Eujá lhe disse que operdãonãocria um relacionamento.A nãoser que aspessoasfalem a verdade sobre oque fizeram e mudem a mente e ocomportamento,nãoé possívelum relacionamentode confiança.Quandovocê perdoa alguém,certamente liberta essa pessoa dojulgamento,mas,se nãohouver uma verdadeira mudança,não pode ser estabelecidonenhum relacionamentoverdadeiro.

Entãooperdãonãoexige que eufinja que oque ele feznunca aconteceu?

Comoseria possível?Você perdoouseupaiontem à noite.Algum dia você vai esquecer oque ele lhe fez?

Achoque não.

Masagora você pode amá-lo,apesar disso.A mudança dele permite.O perdãonãoexige de modoalgum que você confie naquele a quem perdoou.Mas, casoessa pessoa finalmente confesse e se arrependa,você descobrirá em seu coraçãoum milagre que irá lhe permitir estender a mãoe começar a construir uma ponte de reconciliaçãoentre osdois.Algumasvezes,e issotalvezpareça incompreensívelpara você agora,essa estrada pode até mesmolevar aomilagre da confiança totalmente restaurada.Mackescorregoupara ochãoe se recostou na pedra onde estivera sentado.Examinoua terra sobseuspés.

Papai,achoque entendooque você está dizendo.Masparece que,se eu perdoar esse sujeito,ele vaificar livre.Comopossodesculpá-lopeloque fez?É justopara Missy deixar de ficar com raiva dele?

Mackenzie,operdãonãodesculpa nada.Acredite,esse homem pode ser qualquer coisa,menoslivre.Evocê nãotem odever de fazer justiça nesse caso. Eucuidareidisso.E,quantoa Missy,ela já operdoou.

Já? Macknem levantouosolhos. Comopôde?

Por causa de minha presença nela.Éoúnicomodopeloqualoverdadeiro perdãoé possível.

MacksentiuPapaisentar-se aoseulado,nochão,masnãoolhoupara cima.

Enquantoosbraçosde Papaioenvolviam,começoua chorar.

Deixe issotudosair ouviuosussurrode Papaie finalmente se entregou. Fechouosolhosenquantoaslágrimasjorravam.Aslembrançasde Missy inundaram de novosua mente:visõesde livrosde colorir,lápisde cor,vestido rasgadoe ensangüentado.Chorouaté ter derramadotoda a escuridão,todoo anseioe a perda,até nãorestar nada.

Com osolhosfechados,balançandopara tráse para a frente,implorou: Me ajude,Papai.Me ajude! O que eufaço?Comopossoperdoá-lo?

Diga a ele.

Macklevantouosolhos,comoque esperandover um homem que nunca havia encontrado.

Masnãohavia ninguém.

Como,Papai?

Sódiga em vozalta.Há poder noque meusfilhosdeclaram.

Mackcomeçoua sussurrar,primeirohesitante,depoiscom convicçãocrescente: Eute perdôo.Eute perdôo.Eute perdôo.

Papaioabraçoucom força.

Mackenzie,você é uma alegria enorme.

Quandoele finalmente se controlou,Papailhe entregouum lençoumedecido para limpar orosto DepoisMackse levantou,a princípiomeioinseguro

Uau! disse,rouco,tentandoencontrar uma palavra capazde descrever a jornada emocionalpor que havia passado.Sentia-se vivo.

Entregouolençode volta a Papaie perguntou: Então,tudobem se euainda sentir raiva?

Papaifoirápidoem responder:

Sem dúvida! O que ele fezfoiterrível.Ele causouuma dor tremenda a muitas pessoas.Issoé erradoe a raiva é a resposta certa para algotãoerrado.Masnão deixe que a raiva,a dor e a perda que você sente oimpeçam de perdoar e de

tirar asmãosdopescoçodele.

Papaipegousua mochila e a colocounoombro.

Filho,talvezvocê tenha de declarar seuperdãouma centena de vezesno primeiroe nosegundodia,masa cada dia serãomenosvezes,até que um dia você perceberá que perdooucompletamente.Evaichegar omomentoem que rezará pela plenitude dele e oentregará a mim,para que meuamor queime na vida dele qualquer vestígiode corrupção.Por maisincompreensívelque possa parecer nomomento,talvezum dia você conheça esse homem num contexto diferente.

Mackgemeu.Por maisque tudoque escutava lhe revirasse oestômago,no coraçãoele sabia que era verdade.Osdoisse levantaram e Mackse virouna trilha para voltar na direçãode onde tinham vindo

Mack,nósnãoterminamos. Mackparou. Verdade?Acheique era por issoque você me trouxe aqui.

Era,maseulhe disse que tinha uma coisa para mostrar,uma coisa que você me pediupara fazer.Estamosaquipara levar Missy para casa.

De repente tudofezsentido.Ele olhouopresente de Sarayue percebeupara que servia.Em algum lugar naquela paisagem desolada oassassinohavia escondidoo corpode Missy e elestinham vindorecuperá-lo.

Obrigado foitudoque pôde dizer enquantode novouma cascata de lágrimasrolava por seurosto,comose viesse de um reservatórioinfinito. Odeiotodasessaslágrimas,esse negóciode ficar chorandocomoum idiota ele gemeu.

Ah,filho disse Papaicom ternura. Jamaisdesconsidere a maravilha das suaslágrimas.Elaspodem ser águascurativase uma fonte de alegria.Algumas vezessãoasmelhorespalavrasque ocoraçãopode falar.

Mackparoue encarouPapai.Jamaishavia olhadopara um amor,uma delicadeza,uma esperança e uma alegria tãopuras.

Masvocê prometeuque um dia nãohaverá maislágrimas.Estouansiosopor isso.

Papaisorriu,encostouosdedosnorostode Macke gentilmente enxugouasfaces marcadaspelaslágrimas.

Mackenzie,este mundoestá cheiode lágrimas,mas,se você lembra,prometi que seria Euquem iria enxugá-lasde seusolhos.

Mackconseguiusorrir enquantosua alma continuava a se derreter e se curar no amor desse Pai.

Aqui disse Papaie lhe entregouum cantil. Tome um bom gole.Não querover você se encolhendocomouma ameixa seca antesde tudoissoacabar.

Macknãoconseguiuevitar uma gargalhada que a princípiopareceudeslocada, masque depois,pensandobem,soube que era perfeita.Era um risode esperança e de alegria restauradas...doprocessode encerramento.

Papaifoià frente.Antesde deixar ocaminhoprincipale seguir por uma trilha que penetrava na massa de pedrasespalhadas,paroue com sua bengala bateu numa pedra grande.Indicoupara Mackomesmoarcovermelho.EMack descobriuque ocaminhoque estavam seguindofora marcadopelohomem que levara sua filha.Enquantocaminhavam,Papaiexplicoua Mackque nenhum corpofora encontradoporque esse homem procurava lugarespara escondê-los mesesantesde seqüestrar asmeninas.Nomeioda área pedregosa,Papaisaiudo caminhoe entrounum labirintode pedrase paredõesda montanha,nãosem antesapontar novamente para a marca,agora familiar,numa face de rocha próxima.Mackpodia ver que,a nãoser que a pessoa soubesse oque estava procurando,asmarcaspassariam facilmente despercebidas.Dezminutosdepois Papaiparoudiante de uma fenda onde doisafloramentosde pedra se encontravam.Havia uma pequena pilha de pedregulhosna base,um delescom o símbolodoassassino.

Pode me ajudar? pediua Macke começoua retirar aspedrasmaiores. Issoesconde a entrada de uma caverna.Assim que a entrada ficoulivre,eles tiraram com a picareta e a pá a terra endurecida e ocascalhoque bloqueavam a passagem.De repente orestode entulhocedeue apareceua entrada de uma pequena caverna que provavelmente já fora a toca de algum animaldurante a hibernação.Um odor rançosode podridãosaiu,deixandoMackengasgado.

Papaienfioua mãona extremidade dorolodadopor Sarayue tirouum pedaço de panodotamanhode um lençode cabeça.Amarrou-oem volta da boca e do narizde Macke imediatamente um cheirodoce cortouofedor da caverna.

Sóhavia espaçosuficiente para entrarem se arrastando.Tirandouma poderosa

lanterna da mochila,Papaise enfiouprimeironoburaco,com Macklogoatrás, ainda levandoopresente de Sarayu.

Sódemoraram algunsminutospara encontrar otesouroagridoce.Num pequeno afloramentode rocha,Mackviuocorpoque ele presumiuser ode Missy,de rostopara cima,cobertopor um panosujoe apodrecido.Nomesmoinstante soube que a verdadeira Missy nãoestava ali.

Papaidesembrulhouoque Sarayulhesdera e nomesmoinstante a toca se encheude maravilhososperfumesvivos.O panopor baixodocorpode Missy era frágil,masMackconseguiulevantá-la e colocá-la nomeiode todasasflorese especiarias.EntãoPapaia enroloucom ternura e levou-a até a entrada.Mack saiuprimeiroe Papailhe passouotesouro.Nenhuma palavra fora dita,a nãoser asde Mack,que murmurava baixinho:

Eute perdôo...eute perdôo...

Antesde deixarem olocal,Papaipegoua rocha com oarcovermelhoe colocoua sobre a entrada.Macknãoprestoumuita atenção,poisestava absorvidopelos própriospensamentos,enquantosegurava com ternura ocorpoda filha juntoao coração.

17.ESCOLHASDOCORAÇÃO

Nãohá sofrimentona Terra que oCéunãopossa curar.

Autor desconhecido

Chegaram de volta aochalé em poucotempo.Jesuse Sarayuesperavam perto da porta dosfundos.JesusaliviouMackgentilmente dofardoe juntosforam à carpintaria onde ele estivera trabalhando.Macknãoentrava alidesde que chegara e ficousurpresocom a simplicidade dolugar.A luz,atravessando grandesjanelas,captava e refletia opóde madeira que ainda pairava noar.As paredese asbancadas,cobertascom todotipode ferramentas,estavam dispostas para facilitar asatividadesda carpintaria.Este era claramente osantuáriode um mestre artesão.À frente delesestava otrabalhoque Jesusestivera fazendo,uma obra de arte para guardar osrestosde Missy.Aoexaminar a caixa,Mack reconheceuimediatamente osrelevosna madeira.Detalhesda vida de Missy estavam nela esculpidos.Havia um relevode Missy com seugato,Judas,e outro com Macksentadonuma cadeira lendouma história para ela.Toda a família aparecia em cenastrabalhadasna laterale em cima:Nane Missy fazendo

bolinhos,a viagem aolagoWallowa com oteleféricosubindoa montanha e até Missy colorindoolivrona mesa doacampamento,com uma representação caprichada dobroche de joaninha que oassassinodeixara.Havia também um relevoexatode Missy de pé sorrindoe olhandopara a cachoeira,ciente de que seupaiestava dooutrolado. Entremeadoscom ascenasestavam asflorese animaisprediletosde Missy.

MackabraçouJesuse este lhe sussurrouaoouvido: FoiMissy quem ajudoua escolher ascenas.

O abraçode Mackficoumaisforte e demorado.

Temosolugar perfeitopreparadopara ocorpodela disse Sarayu,que se aproximara. Mackenzie,é nonossojardim.Com grande cuidadopuseram os restosde Missy na caixa,colocando-a num leitode grama e musgomacios,e depoisencheram com asflorese especiariasdoembrulhode Sarayu.Fecharam a tampa,Jesuse Mackpegaram asextremidadese levaram ocaixãopara fora, seguindoSarayuaté olocaldopomar que Mackajudara a limpar.Ali,entre cerejeirase pessegueiros,rodeadopor orquídease lírios,fora abertoum buraco nolugar onde Mackhavia desenraizadoosarbustosfloridosna véspera.Papai esperava-os.Assim que a caixa enfeitada foiposta gentilmente nochão,ele deu um grande abraçoem Mack,que retribuiucom a mesma intensidade.

Sarayuse adiantoue disse com um floreioe uma reverência:

Sinto-me honrada em cantar a cançãoque Missy compôsexata mente para esta ocasião.

Ecomeçoua cantar com uma vozque parecia ventode outono:um som de folhasbalançandoe florestasadormecendolentamente,tonsda noite chegandoe uma promessa de novosdias.Era a cantiga insistente que ele ouvira Sarayue Papaicantarolarem antes.

Agora Mackescutava aspalavrasde sua filha:

Respire em mim...fundo, Para que eurespire...e viva. Eme abrace apertadopara eudormir

Suavemente segura por tudoque você dá.

Venha me beijar,vento,e tire meufôlego

Até que você e eusejamosum só,

Edançaremosentre ostúmulos

Até que toda a morte se vá Eninguém sabe que existimos Nosbraçosum dooutro, A nãoser Aquele que soprouohálito

Que me esconde livre domal

Venha me beijar,vento,e tire meufôlego

Até que você e eusejamosum só, Edançaremosentre ostúmulos

Até que toda a morte se vá.

Quandoela terminouhouve silêncio,e depoisDeus,todosostrês,disseram simultaneamente: Amém.

Mackecoouoamém,pegouuma daspáse,com a ajuda de Jesus,começoua encher oburaco,cobrindoocaixãoonde descansava ocorpode Missy.

Quandoa tarefa terminou,Sarayuenfioua mãodentroda roupa e pegouseu frascopequenoe frágil.Derramoualgumasgotasda preciosa coleçãona mãoe começoua espalhar aslágrimasde Macknosoloricoe pretosoboqualdormia o corpode Missy.Asgotascaíram comodiamantese rubis,e onde pousavam brotavam floresinstantaneamente,abrindo-se aosolluminoso.EntãoSarayu parouum momento,olhandocom intensidade uma pérola que repousava em sua mão,uma lágrima especial,e depoisdeixou-a cair nocentrodoterreno. Imediatamente uma pequena árvore rompeua terra e começoua se desdobrar, jovem,luxuriante e espantosa,crescendoe amadurecendoaté se abrir em brotos e flores.EntãoSarayu,noseumodode brisa sussurrante,virou-se e sorriupara Mack,que estivera olhandohipnotizado.

Éuma árvore da vida,Mack,crescendonojardim doseucoração.

Papaichegoupertoe pôsobraçoem seuombro.

Missy é incrível,você sabe.Ela oama muitíssimo.

Sintouma falta terríveldela ainda dóidemais

Eusei,Mackenzie.Eusei. ***

Era poucomaisde meio-dia quandoosquatroretornaram dojardim e entraram de novonochalé.Nãohavia nada preparadona cozinha nem qualquer comida sobre a mesa de jantar.Papailevouospara a sala de estar,onde sobre a mesinha de centrohavia uma taça de vinhoe um pãorecém-assado.Sentaram-se todos, menosPapai,que permaneceude pé.Ele dirigiusuaspalavrasa Mack.

Mackenzie,temosuma coisa para você refletir.Enquantoesteve conosco, você foicuradoe aprendeumuito.

Achoque issoé um eufemismo riuMack

Papaisorriu.

Você sabe oquantonósgostamosde você.Masagora há uma escolha a ser feita.Você pode permanecer conoscoe continuar a crescer e aprender oupode retornar à sua outra casa,a Nan,seusfilhose amigos.

De qualquer modo,prometoque sempre estareicom você.Mackse recostoue pensou.

EMissy? perguntou.

Bom,se você optar por ficar,irá vê-la esta tarde.Ela virá também.Mas,se escolher deixar este lugar,também estará escolhendodeixar Missy para trás.

Essa nãoé uma escolha fácil Macksuspirou.

A sala ficouem silênciodurante váriosminutosenquantoPapaidava a Mack espaçopara lutar com seusprópriospensamentose desejos.Por fim,ele

perguntou:

O que Missy iria querer?

Embora adorasse ficar com você hoje,ela vive onde nãohá impaciência Ela nãose incomoda em esperar

Euadoraria ficar com ela. Macksorriudiante dopensamento. Masseria muitoduropara Nane meusoutrosfilhos.Deixe-me perguntar uma coisa.O que eufaçolá em casa é importante?Euapenastrabalhoe cuidode minha família e dosamigos...

Sarayuointerrompeu:

Mack,se alguma coisa importa,tudoimporta.Comovocê é importante,tudoque fazé importante.Todasasvezesque você perdoa,ouniversomuda;cada vezque estende a mãoe toca um coraçãoouuma vida,omundose transforma;a cada gentileza e serviço,vistoounãovisto,meus propósitossãorealizadose nada jamaisserá igual.

Certo disse Mackem tom decidido. Entãovouvoltar.Nãocreioque ninguém vá acreditar na minha história,mas,se euvoltar,seique possofazer alguma diferença,mesmoque seja pequena.Há algumascoisasque eupreciso... é...que querofazer de qualquer modo. Ele paroue olhoupara cada um. Vocêssabem... Todosriram.

Erealmente acreditoque vocêsnunca vãome deixar nem me abandonar,por issonãoestoucom medode voltar.Bom,talvezum pouquinho.

Éuma escolha muitoboa disse Papai.Em seguida deuum sorrisoluminoso e sentou-se aoladodele.

Sarayuparoudiante de Macke falou:

Mackenzie,agora que você vaivoltar,tenhomaisum presente para você levar.

O que é? perguntouMack,curioso.

Épara Kate.

Kate? exclamouMack,percebendoque ainda a levava comoum fardono coração. Por favor,diga.

Kate acredita que é culpada pela morte de Missy.

Mackficoupasmo.O que Sarayuacabava de dizer era óbviodemais.Fazia sentidoque Kate se culpasse.Ela havia erguidooremoque provocara a seqüência de acontecimentos,permitindoque Missy fosse seqüestrada.Ele não podia acreditar que esse pensamentonunca lhe tivesse passadopela cabeça. Num instante aspalavrasde Sarayuabriram uma nova perspectiva na luta de Kate.

Muitoobrigado! disse,com ocoraçãocheiode gratidão.Agora tinha certeza de que precisava voltar,nem que fosse somente por Kate.Sarayu concordoue sorriu.Por fim Jesusse levantou,foiaté uma dasprateleirase apanhoua latinha de Mack.

Mack,acheique você iria querer... Macka pegoue a manteve nasmãospor um momento.

Na verdade,achoque nãovouprecisar maisdisso.Pode guardar para mim? Todososmeusmelhorestesourosestãoescondidosem você,de qualquer modo. Queroque você seja a minha vida.

Eusou disse a clara e verdadeira vozda confirmação.

***

Sem qualquer ritualnem cerimônia,elessaborearam opãoquente, compartilharam ovinhoe riram lembrandoosmomentosmaisestranhosdofim de semana.Macksabia que otempohavia acabado,que era hora de voltar e pensar num modode contar tudoa Nan.

Nãotinha nada para guardar na bagagem.Seuspoucospertences presumivelmente estavam de volta nocarro.Tiroua roupa de caminhada e vestiuaquelascom asquaistinha vindo,recém-lavadase muitobem dobradas. Quandoterminoude se vestir,pegouocasacoe deuuma última olhada em seu quartoantesde sair.

Deus,oservidor ele riu,masdepoissentiualgocrescendopor dentrode

novo,enquantoopensamentoofazia parar. Émaisverdadeiramente Deus, meuservidor.QuandoMackretornouà sala,ostrêshaviam sumido.Uma xícara de café fumegante oesperava pertoda lareira.Ele nãotivera chance de dizer adeus,mas,aopensar nisso,achouque se despedir de Deusparecia meioidiota. Sentadonochão,de costaspara a lareira e tomandoum gole de café,sorriu.Era maravilhosoe ele pôde sentir ocalor descendopelopeito.De repente estava exaustocom a infinidade de emoções.Comose tivessem vontade própria,seus olhosse fecharam e Mackescorregousuavemente para um sonoreconfortante.

A sensaçãoseguinte foide frio,dedosendurecidosse enfiandopela roupa e gelandoa pele.Acordoude um saltoe levantou-se desajeitadamente,com os músculosdoloridose rígidospor ter ficadodeitadonochão.Olhandoaoredor,viu rapidamente que tudoestava igualaoque era doisdiasantes,até a mancha de sangue pertoda lareira onde estivera dormindo.

Pulou,correupela porta quebrada e saiupara a varanda em ruínas.De novoa cabana era velha e feia,com portase janelasenferrujadase quebradas.O invernocobria a floresta e a trilha que levava aojipe de Willie.Malse via olago atravésda vegetaçãode urzese espinheirosque orodeavam.A maior parte do caisestava afundada e apenasalgumasdaspilastrasmaiorescontinuavam de pé. Estava de volta aomundoreal.Entãosorriu.Era maiscomose estivesse de volta aomundoirreal.Apertouocasacocontra ocorpoe retornouaocarro,seguindo suasprópriaspegadasainda visíveisna neve.Foitranqüila a volta até Joseph, onde chegounoescurode um fim de tarde de inverno.Encheuotanque,comeu comida de gostonormale tentouligar para Nan,sem sucesso.Ela provavelmente estava na estrada,disse a simesmo,e a cobertura docelular podia ser precária. Resolveupassar pela delegacia para falar com Tommy,masdepoisque um rápidoexame nãorevelouqualquer atividade lá dentrodecidiunãoentrar.

Nocruzamentoseguinte osinalficouvermelhoe ele parou.Estava cansado,mas em paze estranhamente empolgado Nãoachava que teria qualquer problema para ficar acordadona longa viagem para casa.Sentia-se ansiosopara encontrar sua família,especialmente Kate.

Perdidoem pensamentos,simplesmente passoupelocruzamentoquandoosinal ficouverde.Nãoviuooutromotorista avançandoosinalvermelhoda transversal.Houve apenasum clarãoluminosoe depoisnada,a nãoser silêncioe escuridão.Numa fraçãode segundoojipe vermelhode Willie foidestruído,em minutoschegaram oresgate dosbombeirose a polícia e em horasocorpoferido e inconsciente de Mackfoientregue peloresgate aéreonoHospitalEmmanuel em Portland,Oregon.

A fé nunca sabe aonde está sendolevada,Mas conhece e ama Aquele que a está levando. OswaldChambers

Efinalmente,comose viesse de muitolonge,ele escutouuma vozfamiliar gritando: Ele apertoumeudedo! Eusenti! Juro!

Macknãopodia abrir osolhospara ver,massabia que Joshestava segurandosua mão.

Tentouapertar de novo,masa escuridãoodominoue ele apagou.Demorouum dia inteiropara recuperar a consciência outra vez.Malpodia mover outro músculodocorpo.Até mesmooesforçopara levantar uma única pálpebra parecia avassalador,masomovimentofoirecompensadopor gritose risos.Uma apósoutra,um desfile de pessoasveioaté seuúnicoolhoentreaberto,comose estivessem olhandopara dentrode um buracofundoe escuroque continha algum tesouroincrível.Aquiloque viam parecia agradá-lastremendamente e elas foram espalhar a notícia.AlgunsrostosMackreconhecia,e osque não reconhecia,ele logoficousabendo,eram osde seusmédicose dasenfermeiras. Dormia com freqüência,masparecia que cada vezque abria osolhosisso causava uma grande empolgação."Esperem sóaté eupoder esticar a língua", pensava,"aí,sim,todomundovaificar realmente impressionado."

Tudoparecia doer Todoocorporeclamava quandoum enfermeiroovirava para a fisioterapia e para impedir asescaras.Aparentemente esse era um tratamentode rotina para pessoasque haviam ficadoinconscientespor maisde um oudoisdias,massaber dissonãotornava a coisa maissuportável.

Noprincípio,Macknãofazia idéia de onde estava nem de comohavia chegado àquela situação.Malconseguia perceber quem era.Sentia-se gratopela morfina que tirava oexcessode dor.Nosdoisdiasseguintessua mente foiclareando devagar e ele começoua recuperar a voz.Num entra-e-saiconstante,familiares e amigosvieram desejar uma recuperaçãorápida ouconseguir alguma informaçãoque ninguém sabia dar.Joshe Kate estavam sempre ali,ocupandose com odever de casa,enquantoMackcochilava ourespondia àsperguntasque nosprimeirosdiasele se fazia repetidamente.

18.ONDULAÇÕESSEESPALHANDO

Num determinadoponto,Mackpor fim entendeuque ficara inconsciente durante quase quatrodiasdepoisdoacidente terrívelem Joseph.Nandeixouclaroque ele tinha de dar muitasexplicações,maspor enquantoestava maisconcentrada em sua recuperaçãodoque na necessidade de respostas.De qualquer forma,sua memória estava envolta numa névoa e,mesmoque ele pudesse recordar alguns pedaços,nãoconseguia juntá-losde modoa fazer sentido.

Lembrava-se vagamente de ter idoà cabana,masdepoisdissoascoisasficavam turvas.Nossonhos,asimagensde Papai,Jesus,Missy brincandojuntoaolago, Sophia na caverna e a luze ascoresdofestivalna campina voltavam como cacosde um espelhoquebrado.Cada uma era acompanhada por ondasde deleite e alegria,masele nãosabia se eram reaisouuma alucinaçãoprovocada por colisõesentre neurôniosdanificadose osremédiosque percorriam suasveias.

Na terceira tarde depoisde ter recuperadoa consciência acordoue encontrou Willie encarando-o,parecendomeiosem jeito.

Seuidiota! resmungouWillie.

Éum prazer vê-lotambém,Willie bocejouMack.

Onde foique você aprendeua dirigir? interpelouWillie.

Ah,já sei,é um garotocriadoem fazenda que nãose acostumoucom cruzamentos.Mack,peloque ouvidizer,você deveria ter sentidoobafodooutro cara a um quilômetrode distância.Mackficoudeitado,olhandooamigofalar sem parar,tentandoouvir e compreender cada palavra,sem conseguir.Eagora continuouWillie Nanestá furiosa e nãoquer falar comigo.Ela me culpa por ter emprestadoojipe e deixadovocê ir à cabana.

Entãopor que eufuià cabana? perguntouMack,lutandopara juntar os pensamentos. Tudoestá confuso.Willie gemeusuplicando.

Você tem de contar a ela que eutenteiconvencê-loa nãoir.

Você tentou?

Nãofaça issocomigo,Mack.Eutenteiconvencer...Macksorria enquanto ouvia Willie reclamar.Se asoutraslembrançaseram confusas,recordava-se com nitidezde quantoesse sujeitogostava dele e apreciava tê-lopor perto.De repente Mackse espantouaoperceber que Willie havia se inclinadoe sussurrava.

Sério,ele estava lá? Willie olhourapidamente aoredor para se certificar de que nãohavia ninguém escutando.

Quem? sussurrouMack. Epor que estamosfalandobaixo?

Você sabe,Deus insistiuWillie. Ele estava na cabana? Mackachoudivertido.

Willie ele respondeu ,nãoé segredo.Deusestá em toda parte.Entãoeu estive na cabana.

Seidisso,gênio reagiuWillie impetuosamente. Nãose lembra de nada? Quer dizer,nem se lembra dobilhete?Você sabe:oque recebeudoPapaie que estava na sua caixa de correioquandovocê escorregounogeloe bateucom a cabeça.Foientãoque a história desconjuntada começoua se cristalizar na mente de Mack.

Subitamente tudofezsentidoquandosua mente começoua ligar ospontose preencher osdetalhes:obilhete,ojipe,a viagem à cabana e cada acontecimentodaquele gloriosofim de semana.Asimagense as lembrançascomeçaram a jorrar de volta tãopoderosamente que ele sentiuque elasseriam capazesde arrancáloda cama e levá-lopara fora deste mundo. Enquantose lembrava,começoua chorar.

Mack,desculpe. Agora Willie estava implorando. O que foique eudisse? Mackestendeua mãoe tocouorostodoamigo.

Nada,Willie...agora me lembrode tudo.Dobilhete,da cabana,de Missy,de Papai.Eume lembrode tudo.

Willie ficouimóvel,sem saber oque pensar oudizer,com medode ter forçadoo amigoalém dolimite Por fim,perguntou:

Quer dizer que ele estava lá?Deusestava lá? Eagora Mackria e chorava.

Willie,ele estava lá! Ah,ele estava lá! Espere até que eulhe conte.Você nunca vaiacreditar.Cara,nem euseise acredito.Mackparou,perdidonas

lembrançaspor um momento.

Ah,é faloufinalmente. Ele me mandoulhe dizer uma coisa.

O quê?A mim? Mackficouolhandoenquantoa preocupaçãoe a dúvida se estampavam norostode Willie.

Então,oque ele disse? Mackparou,procurandoaspalavras.

Ele falou:diga aoWillie que gostoespecialmente dele.Mackviuorostoe o maxilar doamigoficarem tensose poçasde lágrimasencherem seusolhos.Os lábiose oqueixode Willie tremeram e Macksoube que oamigoestava se esforçandopara manter ocontrole.

Precisoir sussurrouWillie,rouco. Você terá de me contar issomais tarde.

Virou-se e saiudoquarto,deixandoMackàsvoltascom seuspensamentose lembranças.

QuandoNanchegou,encontrouMacksentadoe rindo.Comoele nãosabia por onde começar,deixouque a mulher falasse primeiro Ela ocolocoua par de algunsdetalhesdoacidente.Ele quase fora mortopor um motorista bêbadoe havia passadopor cirurgiasde emergência para reparar váriosossosquebradose ferimentosinternos.Seuestadoera grave e,por isso,oseudespertar aliviara a preocupação.

Enquantoela falava,Mackpensouque era realmente estranhosofrer um acidente logodepoisde passar um fim de semana com Deus.O aparente caos aleatórioda vida.Nãoera assim que Papaitinha dito?

EntãoouviuNandizer que oacidente havia acontecidona noite de sexta-feira. Nãofoinodomingo? perguntou.

Claroque não! Foina noite de sexta-feira que trouxeram você para cá de helicóptero.

Aspalavrasdela oconfundiram e por um momentoele se perguntouse os acontecimentosna cabana teriam sidoapenasum sonho."Talvezfosse um daquelesdeslocamentostemporaisde Sarayu",pensou.

QuandoNanterminoude narrar osacontecimentos,Mackcomeçoua contar tudo oque lhe havia acontecido.Masprimeiropediuperdão,confessandocomoe por que mentira.Perplexa,Nanpensouque se tratava dosefeitosdotrauma e da morfina.Toda a história de seufim de semana oudodia,comoNanrepetia se desdobroulentamente em váriasnarrativas.Algumasvezesosremédioso dominavam e ele caía num sonosem sonhos,nomeiode uma frase. Inicialmente Nanouviucom paciência e atenção,tentandosuspender aomáximo ojulgamento,pensandoque a narrativa dele pudesse ser conseqüência de algum danoneurológico.Masa nitideze a profundidade daslembrançasa tocaram e lentamente foram sola pandosua dúvida.Era intensamente vivooque Mack estava contandoe ela entendeurapidamente que oque quer que tivesse acontecidocausara um enorme impactoe transformara seumarido.

O ceticismode Nanfoicedendoe finalmente ela concordouem terem uma conversa com Kate.Macknãoquisdizer omotivo,oque a deixounervosa,mas decidiuconfiar nele.Chamaram a filha e mandaram Joshse ocupar com alguma coisa,deixandoostrêssozinhos.

Mackestendeua mãoe Kate segurou-a.

Kate ele começou,com a vozainda um poucofraca e áspera. Quero que você saiba que eua amode todoocoração.

Euamovocê também,papai.

Vê-lonaquele estadoa havia suavizadoum pouco.

Ele sorriu,depoisficousériode novo,ainda segurandoa mãoda filha. Quero falar com você sobre Missy.

Kate deuum repelãopara trás,comose tivesse sidopicada por uma abelha,e seurostoficousombrio.Instintivamente tentoupuxar a mão,masMacka segurou,oque exigiuum esforçoconsiderável.Ela olhouaoredor.Nanse aproximoue a envolveucom obraço.Kate tremia.

Por quê? perguntounum sussurro.

Katie,nãofoisua culpa.

Agora ela hesitou,quase comose tivesse sidoapanhada num segredo.

O que nãofoiminha culpa?

De novoele precisouesforçar-se para falar,masela ouviucom clareza.

TermosperdidoMissy.

Lágrimasrolaram pelorostode Mackenquantoele lutava com essaspalavras simples.

De novoKate se encolheu,dando-lhe ascostas.

Querida,ninguém culpa você peloque aconteceu.

O silênciodela durouapenasalgunssegundosmais,antesque a represa transbordasse.

Masse eunãofosse descuidada na canoa você nãoteria que... sua vozsaiu pesada de acusações.

Macka interrompeu,pondoa mãoem seubraço.

Éissoque estoutentandodizer,querida.Nãofoisua culpa.

Kate soluçouenquantoaspalavrasdopaipenetravam em seucoraçãodevastado.

Maseusempre acheique fosse minha culpa.Eachava que você e mamãe me culpavam,e eunãoqueria...

Nenhum de nósqueria que issoacontecesse,Kate.Simplesmente aconteceu,e vamosaprender a conviver com isso.Masvamosfazer issojuntos.Está bem?

Kate nãotinha idéia de comoreagir.Dominada pela emoçãoe soluçando,soltouse da mãodopaie saiucorrendodoquarto.Nan,com lágrimasdescendopelo rosto,deuum olhar desamparadomasencorajador para Macke saiu rapidamente atrásda filha.

Na vezseguinte em que Mackdespertou,Kate estava dormindoaoseuladona cama,aninhada e segura.Era evidente que Nanpudera ajudá-la a superar parte da dor.QuandoNanpercebeuque Mackabrira osolhos,aproximou-se em silênciopara nãoacordar a filha e beijou-o.

Acreditoem você sussurroue ele sorriu,surpresoaose dar conta de como era importante ouvir isso."Provavelmente eram osremédiosque oestavam deixandoassim tãoemotivo",ele pensou.

*** Mackmelhorourapidamente nassemanasseguintes.Menosde um mêsdepoisde

receber alta dohospital,ele e Nanligaram para orecém-nomeadosubxerife de Joseph,Tommy Dalton,para falar sobre a possibilidade de fazerem uma caminhada outra vezna área atrásda cabana.Comotudohavia revertidoà desolaçãooriginal,Mackcomeçara a se perguntar se ocorpode Missy ainda estaria na caverna.Seria difícilexplicar à polícia comosabia onde ocorpoda filha estava escondido,masMackachava que oamigolhe daria obenefícioda dúvida e oajudaria.

Tommy foirealmente solícito.Mesmodepoisde ouvir a história dofim de semana de Mack,que ele interpretoucomosendoossonhose pesadelosde um paisofredor,concordouem voltar à cabana.Queria ver Mack,de qualquer modo.Itenspessoaishaviam sidosalvosdosdestroçosdojipe de Willie e devolvê-losera uma boa desculpa para passarem algum tempojuntos.Assim, numa manhã límpida de sábado,noiníciode novembro,Willie acompanhou Macke Nanaté Joseph.Lá

encontraram Tommy e osquatrose dirigiram para a Reserva.Tommy ficou surpresoaover Mackpassar diretopela cabana e ir até uma árvore pertodo iníciode uma trilha.Talcomoexplicara aosoutrosna vinda,Mackencontrouum arcovermelhona base da árvore.Ainda mancandoligeiramente,guiou-osnuma caminhada de duashoraspeloterrenoermo.Nanficouem absolutosilêncio,mas seurostorevelava claramente a intensidade das emoções com as quais batalhava. No caminho

continuaram encontrandoomesmoarcovermelhomarcadoem árvorese pedras.Quandochegaram a uma vasta área de pedregulhos,sem hesitar Mack entroudiretamente nolabirintode paredesrochosas.

Provavelmente nunca teriam encontradoolugar exatose nãofosse por Papai. Notopode uma pilha de rochasdiante da caverna estava a pedra com a marca

vermelha voltada para fora.A percepçãode que aquiloera obra de Papailevou Macka quase rir alto.

Masencontraram e,quandoficouconvencidodoque estavam abrindo,Tommy fezcom que parassem.Mackentendeua importância doprocedimentoe, embora um tantode má vontade,concordouque deveriam lacrar de novoa caverna para protegê-la.Retornariam a Joseph,onde Tommy poderia notificar osperitoslegistase asagênciaspoliciaisadequadas.

Durante a descida,Tommy ouviunovamente a história de Mack,dessa vezcom uma nova percepção.Também aproveitoupara orientar oamigosobre omelhor modode enfrentar osinterrogatórios que logoviriam.

Nodia seguinte osperitosrecuperaram osrestosde Missy e guardaram opano juntocom tudooque puderam encontrar Depoisdissoforam necessáriasapenas algumassemanasaté

obterem provaspara rastrear e prender oMatador de Meninas.A partir daspistas que ohomem deixara para poder encontrar a caverna de Missy,asautoridades localizaram e recuperaram oscorposdasoutrasmeninasassassinadas.

POSFÁCIO

Bom,aíestá.Pelomenoscomome foicontado.Tenhocerteza de que algumas pessoasse perguntarãose a história de Mackaconteceude verdade ouse o acidente e a morfina simplesmente odeixaram meioconfuso.Mackcontinua levandosua vida normale produtiva e teima em garantir que cada palavra da história é verdadeira.Todasasmudançasem sua vida,segundoele,sãoprovassuficientes. A Grande Tristeza se foie ele passa a maior parte dosdiascom um profundo sentimentode alegria.Assim,a questãoque eume colocoenquantoredijoeste textoé:comoterminar uma história destas?Talvezeupossa fazer issofalando um poucodastransformaçõesque ela causouem mim.Comodeclareino prefácio,a história de Mackme mudou.Nãocreioque haja um aspectoda minha vida,sobretudode meusrelacionamentos,que nãotenha sido profundamente tocadoe alteradode modoimportante.Se euachoque é verdade?

Queroque tudoseja verdade.Talvezalguma parte nãoseja verdadeira num determinadosentido,masainda assim é verdade.Você sabe oque querodizer. Achoque Sarayuvaiajudá-loa entender.

EMack?Bom,ele é um ser humanoque continua passandopor um processode mudança,comotodosnós.Sóque ele aceita bem asmudanças,enquantoque eu muitasvezesresistoa elas.Notoque ele ama maise melhor doque a maioria das pessoas,é rápidoem perdoar e ainda maisrápidoem pedir perdão.As transformaçõesque ele sofreuprovocaram na família e nosamigosefeitosque nem sempre foram fáceisde entender.Masdevolhe dizer que nunca conheci outroadultoque leve a vida com tanta simplicidade e alegria.De algum modo, ele viroucriança de novo.Ou,para explicar melhor,ele viroua criança que nunca teve permissãode ser.Uma pessoa confiante e cheia de entusiasmo.Ele consegue acolher até mesmoostonsmaisescurosda vida,vendo-oscomoparte de uma tapeçaria incrivelmente rica e profunda,tecida magistralmente por invisíveismãosde amor.Enquantoescrevoisto,Mackestá sendotestemunha no julgamentodoMatador de Meninas.

Ele quer fazer uma visita aoacusado,masainda nãoteve permissão.Porém está determinadoa vê-lo,mesmoque issosó aconteça depoisdoveredicto.

Se você tiver chance de passar um tempocom Mack,logovaiperceber que ele está esperandouma nova revolução,uma revoluçãode amor e gentileza uma revoluçãoprovocada por Jesus,peloque ele fezpor nóse continua a fazer em um mundoque tem fome de reconciliaçãoe de um localque possa chamar de lar.Nãoé uma revoluçãoque pretenda derrubar nada,ou,se derrubar,fará isso de um modoque jamaispoderemosimaginar antecipadamente.Serãoos poderessilenciosose cotidianosde morrer,servir,amar e rir,de ternura simples e gentileza gratuita,porque,se alguma coisa importa,todasascoisasimportam.E um dia,quandotudofor revelado,cada um de nósficará de joelhose confessará, por obra e graça de Sarayu,que Jesusé oSenhor de toda a Criação,para a glória de Papai.

Ah,uma última coisa.Estouconvencidode que Macke Nanainda vãolá algumasvezes,à cabana,sópara ficarem a sós.Nãome surpreenderia se soubesse que ele anda até ovelhocais,tira ossapatose asmeiase,você sabe, põe ospésna água sópara ver se...bem,você sabe...

Willie ***

A Terra repleta de céu,

incendiadocom
Ecada arbustocomum

Deus,

Massóaquele que vê tira ossapatos; Osoutrosse sentam ao redor e colhem amoras

ElizabethBarrettBrowning

***

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Wes@AmbassadorSpeakers.com

***

AGRADECIMENTOS

Leveiuma pedra para trêsamigos.Era um pedaçode pedregulhoque euhavia escavadonascavernasda minha experiência.

três, Wayne Jacobsen, Brad Cummings e

Bobby Downes,com gentileza enorme e cuidadosa,me ajudaram a lascar essa pedra até que pudéssemosver uma maravilha por baixoda superfície.

Wayne foioprimeiroa ler esta história e se esforçouaomáximopara que eua publicasse.Seuentusiasmolevouosoutrosa refinar a narrativa e prepará-la para ser compartilhada com uma platéia maisampla,tantoem livroquanto, esperamos,em filme.Ele e Bradme ajudaram na edição,acrescentandosuas idéiassobre osmodospelosquaisDeusatua.A qualidade dotrabalhoque você tem nasmãosdeve-se,em grande parte,aostalentosdeles.Bobby trouxe sua contribuiçãoúnica em cinema para ajustar ofluxoe reforçar odrama

Muitosse ligaram a este projeto,deixandoum pedaçode sua vida dentroda história e de comoela se desdobrou.Dentre essesestãoMarisa Ghiglieri,Dave Aldrich,Kate Lapine Julie Williams.Váriosamigosme ajudaram a mexer no texto,especialmente nasprimeirasrevisões.Dentre essesestãoAustrália Sue, Jim Hawley e Dale Bruneski.

Há uma quantidade de gente cujasidéias,perspectivas,companheirismoe encorajamentoforam importantes.Obrigadoa Larry Gillis,DanPolk,MaryKay e RickLarson,Micheale Renee Harris,Julie e Tom Rushtone à família Gunderson,além dopessoalda DCS,meugrande amigoDave Sargent,às pessoase famílias da comunidade NE Portland, e

Esses

Closner/Foster/Weston/Dunbar em Estacada.

O estímulocriativoincluiuma quantidade de velhosamigosfalecidos,como JacquesEllul,George McDonald,Tozer,Lewis,Gibran,osInklingse Soren Kierkegaard.Mastambém agradeçoa escritorese oradorescomoRavi Zacherias,Anne Lamott,Wayne Jacobsen,Marilynne Robinson,DonaldMiller e Maya Angelou,para citar apenasalguns.

Obrigado,Anna Rice,por amar esta história e penetrar nela com seudom musical.

Você (me) nosdeuum presente incrível.

A maioria de nóstem suasprópriastristezas,sonhospartidose coraçõesferidos, cada um viveuperdasúnicas,nossa própria "cabana".Rezopara que você encontre a mesma graça que eurecebilá e que a presença constante de Papai,Jesuse Sarayupreencha seuvaziointerior com alegria indizível.

Se você se sentiutocadopeloassombrodeste livroe quer ajudar a torná-lo disponívela outrosnum nívelmaisamplo,nósoconvidamosa participar do...

ProjetoMissy Nós,um grupode leitoresque se sentiutocadopor A cabana, estamosconvencidosde que este livromerece ser lidopelomaior númerode pessoaspossível.Nãoé somente uma história envolvente e inspiradora,mastem uma qualidade literária que fazdela um presente especial.

Oferece uma dasvisõesmaispungentesde Deuse de comoele se relaciona com a humanidade.

Nãosomente irá encorajar osque já oconhecem,mastambém atrairá quem ainda nãoreconheceua presença doCriador em sua vida.

Produtoresde cinema já expressaram interesse em transformar esta história em filme e farãoissodepoisque um númeroconsiderávelde livrosestiver em circulação.A divulgaçãoboca a boca ainda é a ferramenta maiseficazpara que um livrocomoeste possa causar transformações.

Se você,comonós,foitocadopela mensagem deste livro,talvezjá tenha algumasidéiasde comofazer que outrosoconheçam.Oferecemosalgumas sugestõespara ajudá-loa compartilhar A cabana com outraspessoas.

aos

Dê olivrode presente a amigose até mesmoa estranhos.Elesestarãorecebendo nãoapenasuma história empolgante,mastambém um vislumbre magnífico sobre a natureza de Deusde uma forma raramente apresentada em nossa cultura.

Se você tem um site ouum blogna internet,fale um poucosobre olivroe como ele tocousua vida.Nãorevele oenredo,masrecomende entusiasticamente que aspessoasoleiam.

Escreva uma resenha para um jornalde sua cidade,uma revista de sua predileçãoouum site que você freqüente.Se você tem uma loja,exponha olivrocom a maior visibilidade possível.Se for donode uma empresa,considere a possibilidade de presentear com olivroseusclientes preferenciais

Doe olivropara abrigosfemininos,prisões,laresde reabilitação,casasde repousoe outroslugaresonde aspessoaspossam ser encorajadaspela história e pela mensagem.Em reuniõese encontros,fale dolivroe conte doimpactoque ele causouem sua vida. Você estará prestandoum grande favor aosque oescutarem.Para mais informaçõese idéiasde comovocê pode ajudar,conheça oProjetoMissy (The Missy Project) em nossosite em inglês: www.theshackbook.com

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