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Como sempre a culpa vai morrer solteira

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Caldo Verde

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Afinal, quem vai ser culpado pelos gastos escandalosos? Será que são assim tão escandalosos?

Sou católico e até não estou contra os gastos desde que sejam bem apresentados e justificados, mas, visto de outra forma, no que toca ao palco-altar, sim, também considero escandalosos. Foi a notícia da semana, o que para o Governo de António Costa deu imenso jeito, já que as várias notícias permitiram desviar as atenções de todas as trapalhadas governativas das últimas semanas. Tenho a certeza de que António Costa conseguiu dormir descansado nos últimos dias, com as atenções focadas no altar.

O centro de atenções esteve na notícia vinda a público quanto aos custos da organização da (JMJ), Jornada Mundial da Juventude. Tudo o que envolve a polémica, para além do altar. E isto quando o país organizador tem pessoas a viver na miséria e apresenta um projeto de 36 milhões. Mas os gastos não ficam por aqui, que no fundo tirando o custo do palco-altar não consigo ver nada de exagerado, até porque as justificações são bem apresentadas. O problema foi todas as atenções estarem focadas e deram vida à notícia.

Não se falava em mais nada senão nos gastos com a organização: é o palco-altar para o Papa Francisco, são torres multimédia (onde está previsto gastarem-se nove milhões), a recuperação do aterro sanitário (sete milhões), pontes sobre o rio Trancão (uma média estimada em mais de 5 milhões), casas de banho para o recinto com rede de esgotos incluída (3 milhões), iluminação, rede elétrica e abastecimento de água potável (está estimado acima dos 2 milhões), existem milhões previstos em gastos para obras no parque Tejo, mas há muitas mais despesas.

A justificação é muito bem feita, o investimento fica para o futuro, onde se vão organizar outros eventos.

Com a organização da JMJ, Portugal vai ter um retorno a médio prazo. A ser assim o investimento é bem feito, mas o que se coloca em causa e está no centro das atenções é o palco-altar, e tornou-se em polé- mica quando todos começaram a apontar o dedo, o que não devia de ter acontecido, numa situação destas e com investimentos que beneficiarão o futuro de Lisboa e do país. Em vez de diferentes grupos com papel na organização andarem a falar aos jornalistas deveriam de se sentar e colocar os problemas em cima da mesa e não expor publicamente sem que se tivesse uma decisão final e um acordo total. Foi preciso o bispo Américo Aguiar vir a público dizer que queria travar o passa culpas quando disse que o caderno de encargos foi de Lisboa, mas a responsabilidade era de todos.

No meu entender parece que somos um país que quer ser organizador, mas nunca pensa no investimento e depois cai-se na rede de maus gestores.

É habitual em Portugal quando se preparam grandes obras ou acontecimentos - e isso aconteceu aquando da organização do Euro 2004, criticar-se fortemente no início e depois apoiar-se fervorosamente. Se bem me lembro foi o que aconteceu também com a Expo 98, no final tudo bateu palmas e o país só ganhou com todas as organizações que tem organizado em escala mundial.

Quando se começam as obras é tudo excessivo e para quê tantos gastos. No final, toda a gente adora - é típico do português. Este evento vai ser o mesmo, mas vai tudo acabar bem.

De parabéns está Carlos Moedas, ao mandar fazer a revisão do projeto do altar e torná-lo mais modesto e mais económico. Segundo diz e bem, o que está previsto é exagero e as pessoas não gostam, e é também muito bem visto por Carlos Moedas quando diz que o Papa Francisco também não aprecia.

As pessoas, nos dias que vivemos, estão muito sensíveis aos gastos públicos, que engraçado seja, há 20 anos ninguém se preocupou com o exagero dos 10 estádios para o Euro 2004, e se olharmos hoje metade estão às moscas e em vias de serem demolidos porque não têm futuro. Mas infelizmente o português é assim, hoje pensa de uma forma e amanhã já vê as coisas diferentes.

Ou será mediante as cores partidárias? Os jornalistas têm de ter mais cuidado com a forma como colocam as notícias cá fora. Que Portugal fique sempre a ganhar. Bom fim de semana.

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