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Toronto descobre os recém-chegados portugueses
Na década de 1960, Toronto era a cidade que mais crescia no continente norte-americano. Milhares de prédios antigos foram derrubados para dar lugar a modernos edifícios numa maratona desenfreada a que chamámos progresso. Ninguém queria ficar para trás nessa competição de mais e maior. Lembro-me de sentir que nessa corrida, os meus conterrâneos, os portugueses recém-chegados, vinham atrás do pelotão, mas toda a gente queria cortar a meta em primeiro, o que é sempre mais difícil para quem vem atrás. Eram eles como que uma espécie exótica, exposta para estudo e admiração dos canadianos. E durante muitos anos fomos mesmo peixes fora d’água.
Quem chega hoje a estas paragens não poderá compreender a dificuldade que foi a adaptação dos pioneiros ou a luta para sobreviver os primeiros anos no Canadá. E não foi somente em Toronto ou nas outras cidades. Nos meios pequenos, no isolamento do campo, as histórias que me contaram os pais e avós de tantos novos canadianos que hoje já nem falam a língua desses antepassados, continuarão a ecoar pelas montanhas rochosas e pradarias canadianas. Restam-nos as suas memórias contadas a jornalistas do tempo ou a académicos estudiosos.
Eu, simples estudante de sociologia nos anos 70, também fui um dos privilegiados a ouvir essas histórias, estando longe de imaginar quão enriquecedora viria a ser essa experiência pioneira. Recordamos aqui algumas dessas vozes e memórias.
Em abril de 1960, a revista semanal The Globe Magazine, publicada aos sábados no Globe and Mail, decidiu apresentar aos seus leitores espalhados pelo Canadá, o primeiro retrato dos imigrantes de Portugal. Essa tarefa coube a Kay Kritzwiser, uma jornalista oriunda de Saskachewan, que mais tarde ganharia fama por ter igualmente apresentado ao mundo o ícone canadiano Marshal McLuhan. of her face from Portugal’s sun had faded to a waxy yellow. It had been a long, alien winter for Mrs Claudio”. Não quis eu traduzir para não desfocar o retrato, nem posso continuar a citação pois estou a escrever para o leitor de língua portuguesa, mas os interessados podem saborear o resto do quadro em qualquer biblioteca municipal. Basta procurar, no arquivo do jornal, a edição de 30 de abril de 1960, com o título “Portugal adds its flavour to the city’s potpourri”. Fascinante rever aquelas fotos a preto e branco e ser transportado para a zona do Kensington Market onde tudo começou. A jornalista retrata a solidão de homens como Pedro, que vive sozinho há seis anos e lhe confidencia ter muitas saudades da família nos Açores. Mais à frente, ao descrever as crianças de olhos negros, confirma que os pais vieram para aqui por causa delas, para lhes dar o que nunca lhe poderia dar o seu país. E explica a história daquela “neighborhood” judaica, na Bellevue Square, sempre em transição, perguntando por fim: quantos anos mais até que estes venham dar lugar a novos imigrantes?
Kay começava assim o retrato: “On the first timid day of spring, Emélia Claudio wrapped a white woolen shawl about her head, put a kitchen chair in the doorway of her dark draughty hall that opens directly onto Dundas Street West, and sat there with her baby in the hesitant sunlight. The warm brown
Não durou muito tempo, como é sabido. E hoje há portugueses por todas as cidades do enorme território que é o Canadá. Mas a chegada desses novos desconhecidos e inusitados portugueses era