O
IMPAC TO
AMBIENTAL
DOS NA
SISTEMAS
DE
QUALIFICAÇÃO
CERTIFICAÇÃO ARQUITE TÓNICA
ANÁLISE DO MÉ TODO QUALITEL
M a r ia I nês de Ol iveira M a rques
Orientador: Professor Rui Fernandes Póvoas Dissertação de Mestrado Integrado Ano Letivo 2011/2012 Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
RESUMO
Apresenta-se neste documento a dissertação sobre o valor das certificações de qualidade ambiental na qualificação construtiva e arquitetónica, através de uma análise da teoria e da prática de uma das principais entidades certificadoras. Tem-se como base impulsionadora deste trabalho a consciência de que as preocupações ambientais estão cada vez mais presentes nas atividades humanas, desde a indústria e meios de transporte até às pequenas ações do quotidiano, logo, a arquitetura, sendo um dos setores que produz mais impactos no meio ambiente, consumindo grande parte dos recursos e da energia produzidos, é fulcral para o desejado desenvolvimento sustentável. Atualmente, existe um vasto número de regulamentos em relação a temas como o desempenho energético, a produção dos materiais, a poluição durante a obra e o conforto dos edifícios, contudo, há ainda muitos fatores que não são impostos por lei, mas que suscitam o interesse de vários intervenientes (construtores, arquitetos, utilizadores,...). Face à crescente importância desses fatores, surgem as entidades que emitem certificações para avaliar a qualidade ambiental, dando os instrumentos necessários a uma boa execução desde o início da concepção do projeto até à execução da obra e à sua utilização e manuntenção. Em França foi criada a Associação Qualitel, uma entidade precursora nesta área, que serviu como principal referência para o meu estudo. Este grupo, sem fins lucrativos, desenvolveu diversos tipos de certificação, para edifícios novos e para edifícios com necessidade de reabilitação, sempre ligados à tipologia residencial. Neste estudo, centrar-me-ei na primeira certificação Qualitel, que se destina a casas uni-familiares, complexos de habitação coletiva, residências de estudantes e lares para a terceira idade. Irei, então, explicar a sua metodologia, com base no manual técnico fornecido pela Qualitel, e analisar alguns dos edifícios certificados, com o objetivo de perceber as possíveis vantagens e desvantagens da utilização deste tipo de certificação. Sendo certo que este tema está cada vez mais presente na prática da construção, é relevante perceber se são efetivamente provadas melhorias a nível de desempenho do edifício e se isso implica, ou não, perdas ao nível da qualidade arquitetónica. Finalizando, este trabalho pretende, em primeiro lugar, dar uma visão elucidativa e clara do processo de certificação ambiental e, em segundo lugar, face às divergentes opiniões sobre o que é a sustentabilidade e sobre o que é a qualidade arquitetónica, impulsionar novas discussões sobre a união destes dois campos, dado que tal união, de forma mais ou menos voluntária, se vai tornando uma presença incontornável na atividade arquitetónica.
ABSTRACT
It is presented in this document the dissertation about the value of the certifications of environmental quality in the architectural and constructive qualification, through an analysis of the theory and the practice of one leading certification body. The base of this work is the awareness that the environmental concerns are increasingly present in the human activities, from the industry and transportation to small everyday actions. So the architecture, being a sector that produces a great environmental impact, consuming most of the resources and energy produced, it is central to the imperative sustainable development. Currently, there is a vast number of regulations on issues such as energy performance, materials production, pollution during construction works and buildings comfort. However, there are still many factors that are not enforced by the law, but which raise the interest of various actors (builders, architects, users,..). Given the growing importance of these factors there are entities that issue certificates to evaluate the environmental quality of the architecture, providing the necessary tools for a good execution, since the beginning of the project design to the its construction and to its use and maintenance. In France, it was created the Qualitel Association, a forerunner entity in this area, which was the main reference for my study. This nonprofit group developed different types of certification for new buildings and buildings in need of rehabilitation, always connected to the residential typology. In this study I will focus on the first Qualitel certification, intended to singlefamily and‑ multifamily dwellings, student residences and senior homes. It will be explain its methodology, based on the technical manual provided by Qualitel, and analyze some of the certified buildings, in order to investigate the potential advantages and disadvantages of using this type of certification. Since it is always more present in the practice of architecture, it is important to understand if it is effectively proven performance improvements in the building and if that involves or not, losses at the level of architectural quality. Finally, this paper aims, to give a clear and informative overview of the environmental certification process, and also, given the divergent opinions about what is sustainability and what is architectural quality, stimulate new discussions about the union of these two fields, since such union, more or less voluntary, will become an unavoidable presence in architectural activity.
AGRADECIMENTOS
Os meus sinceros agradecimentos ao Professor Rui Póvoas, pelo incentivo e orientação no desenvolvimento do trabalho. À Engenheira Ana Cunha, pela disponibilidade na cedência de informação sobre a Associação Qualitel. Aos arquitetos Emmanuel Combarel, Frédéric Maron, François Fontès e Hubert de Folmont, pelo tempo prestado à resposta do meu questionário. Aos meus amigos e família pelo seu constante apoio, em particular à Caroline Castro pela verificação das traduções entre francês e português, à Ana Neto pela revisão do texto e ao Pedro.
SUMÁRIO
Resumo
3
Abstract
5
Agradecimentos
7 11
Introdução
Capítulo I - Contextualização da Arquitetura Sustentável
1.1 Evolução da Consciência Ambiental
16
1.2 Arquitectura Sustentável
20
1.3 Requisitos Legais Ambientais na Construção
24
Capítulo II - Certificações de Qualidade Ambiental
2.1 Caracterização Geral das Certificações Ambientais
28
2.2 Associação Qualitel - França
29
2.21 Certificação Qualitel
33
2.2.2 Habitat & environment
34
2.2.3 NF Logement e opção HQE®
35
2.2.4 NF Maison individuelle e opção HQE®
36
2.2.5 Patrimoine Habitat e patrimoine Habitat & environment
38
2.3 BREEAM - Reino Unido
39
2.4 LEED - Estados Unidos
43
2.6 AQUA - Brasil
47
2.7 LiderA - Portugal
49
Capítulo III A Certificação Qualitel
3.1 Contexto
53
3.2 Etapas do processo de atribuição da certificação
56
3.3 Tópicos de Avaliação
57
2.3 Considerações
93
Capítulo IV Análise dos Casos de Estudo
4.1 Apresentação dos Casos de Estudo
1 Edifício Louis Blanc
97 98
2 Herold Habitação Social
100
3 La plaine Saint-Dennis
102
4 Arc-en-ciel
104
5 Clair de Terre
106
6 Le Hameau de Ketvilla
108
7 Zac de la Dhuys
110
8 Residência Lucie et Raymond Aubrac
112
9 Le Petit Parc Baillargues
114
10 Le Hameau de L’espérance
116
4.2 Inquérito aos moradores
118
4.3 Considerações
119
Conclusão
122
Bibliografia
126
Índice de Figuras
128
Anexos
131
INTRODUÇÃO
Considerações Iniciais A arquitetura é uma área que se desenvolve há milhares de anos, desde a necessidade do homem de criar um abrigo que o proteja das adversidades do exterior. Intimamente relacionada com as características do ser humano, à medida que ele evolui, a arquitetura evolui com ele, procurando continuamente novas espacialidades e potencialidades técnico-construtivas, para responder a novas realidades e aspirações da sociedade. Esse processo, embora seja, por um lado, natural e espontâneo, é também fundamentado e guiado por um conhecimento teórico. Geralmente, essa teoria é pouco consensual devido à subjetividade intrínseca à arquitetura. Pode existir, para um mesmo assunto, inúmeras abordagens com justificações válidas ainda que divergentes - como disse Fernando Távora, “em arquitetura o contrário também é verdade”. Um dos temas que nas últimas décadas tem sido recorrente, quando se fala de arquitetura, é o do papel destano ambiente. A construção consome cerca de metade da energia produzida no planeta, e produz uma série de impactos ambientais (o consumo dos recursos naturais, a poluição da água e do solo, a alteração de habitats naturais, etc.) que, durante muito tempo, foram pouco visíveis aos nossos olhos. Todavia, com o crescimento acelerado das cidades, principalmente após a Revolução Industrial, esses impactos tornaram-se cada vez mais evidentes. É verdade que o nosso planeta nos milhões de anos da sua existência tem sofrido metamorfoses, evoluindo e adaptando-se conforme o necessário, mas é óbvio que os problemas criados pela ação do homem são demasiado rápidos e abruptos para que a natureza consiga responder eficazmente. Face a isto, começam-se então a explorar alternativas para o modo de construir, e aparecem novas terminologias, como “arquitetura sustentável”, “arquitetura-verde” ou “arquitetura low-tech”. A questão é complexa e as opiniões divergem. Um grande número de casos que tentaram fazer parte da tal arquitetura sustentável foram pouco felizes do ponto de vista arquitetónico (alguns devido à utilização irrefletida de novos sistemas, outros pela vontade de criar à força uma imagem inovadora), o que levou a alguma relutância e até à negação da mesma. Também a repentina propagação de informação, nem sempre muito clara, e de publicidade de tudo o que era rotulado como sustentável, fez muitos arquitetos considerá-la uma moda e uma simples estratégia de marketing.
11
Apesar dessas contrariedades, não é realista nem responsável afirmar que a sustentabilidade não afeta o trabalho do arquiteto ou que ela surge espontaneamente se o desenho for de qualidade. São necessários incentivos tanto para que se continuem a procurar novos processos de diminuição de impactos ambientais, como para se desenvolverem os já existentes, e cabe ao arquiteto sabê-los adaptar corretamente ao seu projeto. Na verdade, esse campo de decisão do arquiteto é ainda muito vasto, apesar de existirem cada vez mais leis no setor da construção que obrigam ao cumprimento de certos requesitos técnicos relacionados com as questões ambientais. Revela-se então pertinente o debate sobre o caráter destes regulamentos legais e a forma como influenciam o resultado arquitetónico.
Motivação Face ao acima exposto, uma das motivações para a realização deste trabalho foi a vontade de compreender quais são realmente os impactos da arquitetura no ambiente que a rodeia e que ações têm sido tomadas para os gerir. No seguimento desta ideia inicial, foi-me proposta a reflexão sobre a certificação da qualidade ambiental, um tema que nos últimos anos tem ganho alguma importância. Destaca-se, neste campo, a associação francesa Qualitel, criada há mais de quarenta anos, e que apresenta já um número muito elevado de edifícios com a sua aprovação. O seu método, continuamente revisto e atualizado, tem influenciado outros sistemas de certificação, como o Aqua, do Brasil. Em Portugal, foi criado o LiderA, a partir de um trabalho de investigação realizado no departamento de Engenharia Civil e Arquitetura do Instituto Superior Técnico por Manuel Duarte Pinheiro, iniciado em 2000. Estas entidades conjugam nas suas avaliações os requisitos mínimos legais com outras exigências que conduzem a um melhor desempenho ambiental da obra. Estima-se que muitas dessas exigências, que são agora opcionais, venham também a tornar-se obrigatórias, daí que as certificações voluntárias constituam um campo de investigação importante, cujo papel deve ser bem estudado e compreendido.
12
A reflexão sobre esta temática suscitou, então, o meu interesse em descobrir as boas práticas, construtivas, sociais e económicas, que são aqui definidas por estas certificações, para conduzir o projeto em torno da ideia de desenvolvimento sustentável, podendo vir a extrair daí instrumentos e aprendizagens para a minha atividade profissional futura. Objetivos Para além desta compreensão dos métodos de baixo impacto ambiental, desejo também contribuir para a consciência do valor da certificação ambiental na arquitetura, expondo de forma clara o seu processo e os seus resultados, para se poder daí formular algumas considerações. Após a exposição do contexto e da metodologia da certificação, irei analisar vários edifícios submetidos a este processo. Isto exclui o caso português como centro do meu trabalho, dado ao número reduzido de exemplos, preferindo a certicação Qualitel, que representa um exemplo mais maturado e com maior campo de ação. Esta análise tem como objetivo mostrar as eventuais vantagens e desvantagens da aplicação deste tipo de certificação na qualidade arquitetónica, percebendo-se o quão rígida, ou não, é a avaliação e de que forma pode condicionar o desenho. Tendo-se sempre em conta que o resultado é influenciado por um grande número de fatores e condicionantes independentes da certificação, pretende-se analisar uma amostra variada desses resultados para se tentar encontrar alguns pontos em comum, ou para, de algum outro modo, se poder refletir sobre o melhor caminho a tomar em relação a este tema da avaliação da qualidade ambiental.
13
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Metodologia e organização O presente estudo teve como ponto de partida a investigação sobre as principais referências bibliográficas nas áreas da arquitetura sustentável e das certificações ambientais. Posteriormente, entrou-se em contacto com a representante internacional da principal entidade certificadora, a Qualitel, e com alguns arquitetos cujas obras foram certificadas por essa entidade, de modo a extrair algumas informações consideradas relevantes, e reuniram-se, ainda, os documentos conseguidos sobre as mesmas obras. A estrutura da dissertação é composta por quatro capítulos, descritos de seguida. O primeiro destina-se a dar um enquadramento geral sobre as questões ambientais e o papel da arquitetura neste campo. Abordam-se as medidas ambientalistas mais revelantes, como o relatório Brundtland ou o Tratado de Quioto, resume-se a evolução das reações na actividade arquitetónica sobre essa problemática e expõem-se alguns exemplos significativos de projetos de arquitetura ou de urbanismo que tentaram responder a este tema. O segundo capítulo introduz o tema das certificações de avaliação da qualidade ambiental arquitetónica e descreve suncintamente as principais entidades emissoras das mesmas: Qualitel, BREEAM, LEED AQUA e LiderA. No capítulo seguinte, descreve-se aprofundadamente a certificação da Qualitel, explicando-se a informação essencial do seu manual técnico. Pretende-se aqui compreender os fins deste processo, os seus destinatários e a sua filosofia. Por fim, o quarto capítulo analisa dez edifícios aos quais foi atribuída esta certificação, de um ponto de vista sobretudo qualitativo.
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C A P Í T U LO I Contextualização da Arquitetura Sustentável
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
1.1 Crescimento da Consciência Ambiental
A interação do homem com o ambiente foi, durante muitos séculos, pacífica, sendo por norma utilizados os recursos e energia locais em todas as atividades praticadas. A palavra sustentabilidade ainda não era comum, porém o conceito para que ela remete era já praticado, não por dever moral mas, simplesmente, porque era difícil viver de outro modo, sem a existência dos meios de transporte, tecnologias e recursos que hoje existem. Embora o percurso não seja assim tão linear, pode assinalar-se a Revolução Industrial como ponto de viragem no modo de vida e, consequentemente, no modo de interagir com o meio ambiente. A sua origem na Europa, deveu--se, entre outros motivos, à presença dos principais manufaturadores e comerciantes, à existência de um mercado em expansão dos seus produtos (incluindo a América, África e a Índia) e à grande quantidade de mão-de-obra disponível. Pioneiro no processo desta Revolução foi o Reino Unido, onde se praticava uma política económica liberal1, que favoreceu um grande desenvolvimento tecnológico, e consequente aumento da produtividade, e onde se encontravam grandes reservas de ferro e de carvão mineral, as principais matériasprimas deste período. A Revolução Industrial, expandiu-se no século XIX, substituindo a produção manufaturada pela produção em série e mecanizada, o que fez aumentar a produção de riqueza o poder económico de largas franjas da população. O estilo de vida mudou drasticamente: o número de habitantes das cidades aumentou, passou a haver mais igualdade no acesso ao consumo, ao transporte e à comunicação; as descobertas tecnológicas e as novas modas eram constantes. Assim, na edificação começou-se a utilizar novos materiais (como ferro e vidro), e novas técnicas que permitiram enormes mudanças: a construção em altura aumentou, levando a uma maior densidade populacional, alguns métodos, anteriormente considerados luxos, passaram a ser essenciais, como a água canalizada ou o aquecimento, deu-se um maior destaque para obras com importância do ponto de vista da engenharia, como as pontes, etc. Durante o século XX o crescimento prosseguiu, e deram-se outras inúmeras descobertas no sector da construção e marcantes transformações sociais, como o acesso livre à informação através da Internet. Infelizmente, esse crescimento produziu um enorme desgaste ambiental.
1- Doutrina económica que defendia a livre concorrência, a lei da oferta e da procura e a mínima interferência do Estado.
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Capítulo I
No livro Sustainable Architecture and Urbanism enumeram-se os principais fatores ligados a esse problema: o rápido crescimento populacional (a população mundial cresceu entre 1900 e 2000 de 1.5 mil milhões para 6 mil milhões); a extração em quantidades exageradas de recursos naturais; a perda da qualidade do ar, da água e do solo; o volume de resíduos.[Gauzin-Müller, 2002,p.15] Em 1962 foi lançado o livro de Rachel Carson, intitulado Silent Spring, que se tornou um marco do movimento ambientalista. A obra de Carson, criticava, em particular, o uso de pesticidas e o seu efeito no ambiente. A polémica gerada pelo livro facilitou a banição do pesticida DDT2 em 1972, nos Estados Unidos. Esta questão da degradação ambiental tornou-se realmente global a partir da década de 70 com a Conferência de Estocolmo. Foi organizada pela ONU3 com o nome de “Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente” e contou com a presença de 113 países. Neste encontro, defendeu-se a necessidade de diminuir e melhorar ambientalmente a produção industrial. Porém, essa proposta foi contestada pelos países subdesenvolvidos que afirmavam que se tomassem essas medidas a sua situação socioeconómica não melhoraria. Embora os resultados práticos não tenham sido muitos, a conferência foi importante para advertir sobre problemas como a poluição atmosférica, a intensa exploração dos recursos naturais ou o número de população global e sobre o valor de um crescimento mais sustentável. Uma das primeiras aplicações deste termo apareceu no relatório Brundtland, publicado em 1987, definindose desenvolvimento sustentável como “suprir as necessidades da geração presente sem afetar a capacidade das gerações futuras de suprirem as suas”. O relatório da iniciativa da ONU foi encabeçado pela primeiraministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland. Nele se enumeraram várias das medidas que os países deveriam cumprir, tais como, a limitação do crescimento populacional, a preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, a diminuição do consumo de energia e uso de fontes renováveis, a reciclagem de materiais, a restruturação da distribuição de zonas residenciais e industriais, o consumo racional de água e de alimentos e a redução do uso de produtos químicos na produção de alimentos.
2 - DDT: Sigla de Dicloro-Difenil-Tricloroetano. Foi o primeiro pesticida moderno, o seu preço era baixo e era eficiente no combate a mosquitos, porém tem efeitos prejudiciais à saúde humana e interfere com a vida animal 3- ONU: Organização das Nações Unidas, fundada em 1945 para substituir a Liga das Nações
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Vinte anos após a primeira conferência, teve lugar a Cimeira da Terra, também denominada ECO-92 ou Rio-92, entre 3 e 14 de Junho de 1992. O objetivo era o mesmo: alertar o público para as consequências do abuso do homem dos recursos naturais, para o perigo do aquecimento global e para a rápida destruição de ecossistemas. Os países tiveram desta vez mais consciência do seu papel para o desenvolvimento sustentável e as suas posições em relação ao apoio que deveriam dar melhorou. A principal diferença entre a primeira conferência foi a presença em peso de Chefes de Estado, indicando a importância que este tema teria na década de 90. Foram elaborados na Cimeira da Terra os seguintes documentos oficiais: a Carta da Terra; três convenções sobre biodiversidade, desertificação e mudanças climáticas; uma declaração de princípios sobre florestas; a Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimento; e ainda a Agenda 21. Este último contém os princípios da conferência que teve lugar no Rio de Janeiro e formula um plano de desenvolvimento para o século XXI, definindo a importância de todos os atores da sociedade em cooperar em torno de um objetivo global. O plano foi várias vezes revisto e melhorado: primeiro na conferência Rio+5, em 1997, posteriormente na sede da ONU, em Nova Iorque, em 2000, e na Cúpula de Johannesburgo dois anos depois. O documento está dividido em quatro capítulos4: 1 – Dimensões Social e Económica 2 – Conservação e Gestão de Recursos para o Desenvolvimento 3 – Fortalecer o Papel dos Grandes Grupos 4 – Meios de Implementação Depois do ênfase dado na conferência do Rio de Janeiro, o Protocolo de Quioto é estabelecido em 1996 para definir medidas mais concretas, implicando também alterações no planeamento urbano, no uso da terra e na construção. Em Maio de 2002 a União Europeia ratificou o Protocolo, que depois entrou em vigor em Fevereiro de 2005. Foi recusado por vários países, como os Estados Unidos da América e a Austrália. Este documento propõe um calendário de acordo o qual os países-membros devem reduzir a emissão de gases com efeito de estufa (GEE)5 em, pelo menos, 5,2% em relação aos níveis de 1990, no período entre 2008 e 2012. 4 - O documento está disponível na íntegra no website das Nações Unidas. http://www.un.org/esa/dsd/agenda21 5 - Gases do efeito de estufa são substâncias gasosas que absorsem parte da radiação infra-vermelha impedindo que esta passe para o espaço e consequentemente aquecendo a Terra.
18
Capítulo I
Para incentivar o cumprimento dos seus objetivos são definidos três mecanismos principais: •
A Implementação Conjunta, quando dois ou mais dos países desenvolvidos propõem projetos que reduzam a emissão de GEE;
•
O Comércio de Emissões, no caso de um país desenvolvido já ter passado a sua meta de redução de GEE Pode assim comercializar o excedente com outros países que ainda não o tenham conseguido;
•
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, que diz respeito ao grupo dos países em desenvolvimento e segundo o qual estes podem vender para países desenvolvidos os créditos de projetos que estejam a contribuir para a redução das emissões de carbono.
Em 2012, perto da data de expiração do Protocolo de Quioto, constata-se que, embora alguns países tenham cumprido as metas propostas, a um nível global as emissões apresentam números cada vez mais elevados. Face a isto, muitos críticos afirmam que o tratado é irrelevante na luta ao aquecimento global e que a sua abordagem deveria ser alterada, dando prioridade ao investimento em tecnologia “verde”. Um segundo período de ação encontra-se já previsto para Janeiro de 2012. Infelizmente, países com um forte sector industrial, como a Rússia e o Japão, decidiram não renovar o seu compromisso. São então trinta e quatro os países a aderir à segunda fase do tratado, representando cerca de 15% das emissões de GEE, enquanto que a primeira abrangia 33%. Divisão da Emissão de CO2 Mundial:
Gráfico 1 - Informação do Relatório de Estatísticas Ambientais fornecido pelo Ministério do Ambiente do Japão em 2011
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
1.2 Arquitetura Sustentável
Dentro da questão da prevenção dos danos ambientais, o sector da construção tem um lugar fundamental, consumindo cerca de 50% dos recursos naturais, 40% da energia e 16% da água utilizados pelo homem [Gauzin-Müller, 2002]. Portanto, gerir a forma como a construção é projetada e utilizada é um modo eficaz de combater esses problemas. A construção sustentável é aquela que tenta gerir conscientemente a utilização desses recursos, evitando danos desnecessários ao ambiente, ao mesmo tempo que deve ser económica e socialmente viável. Este termo foi introduzido por Charles Kibert, em 1994, que afirmou que “construção sustentável é aquela responsável pela criação e gestão de um ambiente construído saudável, baseado no uso eficiente dos recursos e nos princípios ecológicos”. A essência deste conceito não é nova, desde as sociedades mais primitivas existiram preocupações relacionadas com o aproveitamento da luz solar, a utilização de matérias-primas locais, a adaptação do edifício ao clima. Pode-se até encontrar alguns tipos de programas de conservação ambiental, como no Egito, entre c.4000 e c.2000 a.C., onde havia um grande entendimento do rio Nilo, e percebeu-se que a não ser que os seus interesses e ritmos sazonais fossem respeitados, toda a sociedade iria colapsar. No Oriente, o Taoismo6 defende a relação do homem com a natureza, o que se reflete na arquitetura - “ O melhor que os edifícios podem alcançar é abraçar a paisagem de um modo reverente. refletindo as características orgânicas e assimétricas de um paraíso percebido. Enquanto que as formas geométricas foram parte da arquitetura tradicional da China, estas estruturas eram o oposto filosófico do conceito de ordem Grego imposto no terreno.” [Wines, 2008, p.56 ] Atualmente, especialmente na sociedade Ocidental, os valores morais e religiosos foram ultrapassados pelos valores materialistas, centrando-se a vida no poder económico e no uso da máquina. Na arquitetura, com a facilidade de transporte, os materiais começaram a ser importados, surgiram meios artificiais de iluminação e aquecimento a custos relativamente baratos e toda a produção começou a ser industrializada, emitindo volumes elevados de gases poluentes e criando resíduos. Daí a importância de criar novas estratégias de sensibilização, descobrir novos meios tecnológicos de aproveitamento energético e novas formas de reutilizar a reciclar os materiais que são desperdiçados. 6 - Crença filosófica e religiosa originária da China, defende a vida em harmonia com o Tao (fonte e força por detrás de tudo o que existe) 7- READ: Renewbable Energias in Architecture and Design 8 - Citação retirada da entrevista de Paolo Soleri no talkshow de Jerry Brown “ We the People”, no dia 09/12/1995
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Capítulo I
Em particular a partir da década de 60, diversas experiências têm sido feitas com o objetivo de criar cidades ou edifícios mais sustentáveis, desde abordagens low-tech, que recusa a estética modernista, prefere de materiais naturais e promove o envolvimento dos utilizadores na fase projetual, até abordagens high-tech, defendida, por exemplo, pelo grupo READ7, caraterizada pelo uso de tecnologia avançada. Um desses projetos experimentais, que pode ser inserido no primeiro grupo, low-tech, é a cidade Arcosanti, localizada no deserto do Arizona, criada pelo arquiteto Paolo Soleri, estudante de Frank Lloyd Wright. A sua construção começou em 1970 e destinava-se a 5000 habitantes, número que nunca chegou a ser atingido. Soleri pretendia demonstrar como é possível criar uma cidade com qualidade de vida minimizando os impactos ambientais e oferecendo uma alternativa ao estilo de vida americano: “A não ser que nos moderemos, a não ser que reinventemos o sonho americano em termos da sua fisiologia, então não vai ser um sonho, vai chegar o dia do julgamento(...)”8 Soleri usava o conceito de Arcologia, uma combinação entre arquitetura e ecologia. A cidade é composta por vários sistemas que funcionam juntos, edifícios multifuncionais, circulação eficiente, estufas para uso público e privado de jardins e para o recolhimento de luz solar para o aquecimento no Inverno. A sua construção é feita com participantes voluntários que passam por um workshop de cinco semanas onde aprendem os princípios da Arcologia e dos seus métodos construtivos. Outro projeto idealista de uma cidade sustentável é a Auroville, na Índia. Aqui, embora também se procure construir de forma sustentável, o foco principal vai para valores sociais, como a união entre várias nacionalidades e crenças religiosas. O centro, físico e simbólico, da cidade é um santuário destinado à meditação. Enquadram-se também na tendência low-tech o trabalho de arquitetos como Peter Hübner, Lucien Kroll ou Joachim Eble. [Gauzin-Müller, 2002,p.16]
Figura 1 - Arcosanti, desenho do projeto inicial da Residência Macro-Cosanti Figura 2 - Auroville, maquete de 1968
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Com uma abordagem oposta a esta, aparecem os arquitetos high-tech, como Renzo Piano e Richard Rogers, que apostam no uso de novos materiais e de tecnologia de ponto. Um dos seus exemplos é a torre Commerzbank, em Frankfurt, que atinge os 60 metros de altura, desenhada pelo arquiteto Norman Foster. Apesar destes edifícios procurarem ser sustentáveis, nem sempre tal meta se atinge, visto que muitos necessitam, por exemplo, de controlo artificial da temperatura. Entre estes dois pontos de vista mais radicais, encontram-se obras que conciliam um meio termo, não assumindo a solução dos problemas ambientais meramente com o uso de tecnologia, mas também não a recusa. Têm sido tomadas medidas para que os arquitetos fiquem cada vez mais conscientes do peso do seu papel na preservação do ambiente, como a Declaração de Chicago, de 1993, escrita pela União Internacional dos Arquitetos. Também a ACE - Architect’s Council of Europe - contribuiu para a informação sobre este assunto, com a publicação do livro A Green Vitruvius, um género de manual sobre o processo de desenho e construção “verdes”, dividido em cinco capítulos: processo, problemas, estratégias, elementos e avaliação. O livro é influenciado por uma primeira publicação da ACE, de 1995, onde se pode ler uma definição da qualidade da arquitetura: “A qualidade da arquitetura, seja à escala do edifício seja à escala do pormenor, envolve: adequação ao uso, durabilidade no desempenho e prazer. A adequação ao uso envolve considerações ergonómicas, (...) bem como a seleção correta dos materiais, de acordo com as funções que irão desempenhar. A durabilidade no desempenho envolve uma duração apropriada, tendo em conta todos os custos ao longo do seu ciclo de vida, incluindo os ambientais. O prazer advém da elegância, do estilo e da contribuição que têm, para a arquitetura do edifício, mesmo os mais pequenos pormenores”. A questão da arquitetura sustentável tornou-se, no final do século XX e no início do século XXI, predominante, e vários concursos têm sido lançados para se encontrar novas soluções. Destaca-se o concurso sobre Habitação Autossuficiente, promovido pelo Instituto para Arquitetura Avançada da Catalunha (IaaC), que propunha a reflexão sobre esse tema: “enfrentamos o desafio de construir uma sustentável ou, até mesmo, autossuficiente habitação, agora um organismo vivo que interage com o ambiente, (...) como uma árvore num campo.”9 9 - Vicente Guallart, diretor do IaaC, Self-Sufficient Housing/ 1st Advanced Architecture Contest, 2006, p. 6
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Capítulo I
Muitos arquitetos têm tentado combater o estigma de que os métodos que tornam uma arquitetura sustentável interferem na qualidade da mesma ou até que o conceito de sustentabilidade é irrelevante. É possível conseguir um desenho simples e cuidado ao mesmo tempo que se integram preocupações ambientais. São exemplo disso edifícios como o Centro Pocono de Educação Ambiental10, do arquiteto Bohlin Cywinski Jackson, a casa em Franschhoek11, na África do Sul, do arquiteto Pietro Russo ou a casa no Gerês12, dos arquitetos Correia e Ragazzi. Pode-se, por fim, enumerar algumas linhas gerais para uma arquitetura sustentável: •
ter em atenção a ligação do edifício com o ambiente natural e construído;
•
conceber os edifícios de forma a que as trocas de materiais e energia entre interior e exterior do ambiente construído não excedam a capacidade de assimilação dos sistemas ecológicos;
•
melhorar as análises custo-benefício, fazendo previsões ao longo de todo o ciclo de vida do edifício;
•
reutilizar preferencialmente infra-estruturas e edifícios já existentes;
•
evitar ou recuperar os resíduos;
•
utilizar técnicas construtivas que impliquem o menor uso de recursos;
•
aplicar soluções sustentáveis em relação à aplicação de materiais, consumo de energia, água, etc.;
•
selecionar de materiais não tóxicos;
•
incentivar a participação dos utilizadores na fase projetual;
•
educar a sociedade em relação às implicações ambientais das suas escolhas.
Figura 3 - Centro Pocono, 2010
Figura 4 - Casa em Franschhoek, 2005
Figura 5 - Casa no Gerês, 2010
10 - Gragg Randy, “Pocono Environmental Education Center”, GreenSource - Magazine of Sustainable Design, Julho 2008 11 - Rosenberg , Andrew . “The Ecomo Home / Pietro Russo” , ArchDaily, Outubro 2010 12 - Saieh , Nico . “House in Gerês / Graça Correia y Roberto Ragazzi”, ArchDaily, Maio 2008
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
1.3 Requisitos Legais Ambientais na Construção
A regulamentação é um aspeto importante na organização do desenvolvimento sustentável, estabelecendo regras para as atividades humanas, indicando mecanismos e formas para o atingir. Este recurso legal é já encontrado na Idade Média, ainda que de forma pontual e esporádica, abordando questões de salubridade e de uso dos recursos naturais. A primeira diretiva comunitária sobre questões ambientais surge em 1967, tratando a classificação, embalagem e rotulagem de substâncias perigosas (Diretiva nº67/548/CEE). A partir daí, foram sendo desenvolvidos na União Europeia vários programas de políticas ambientais: O primeiro (1973-1976) começa a tomar medidas curativas e cooperativas. Englobava a declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Homem de Estocolmo de 1972, a Declaração dos Chefes de Estado e de Governo de Paris de 1973, e continha a seguinte afirmação “Deverá ser dada atenção especial aos valores e bens não materiais e à proteção do ambiente a fim de pôr o progresso ao serviço dos homens”. Tinha como principais objetivos melhorar o conhecimento dos efeitos da poluição, harmonizar os métodos e instrumentos de medida dos diversos poluentes e promover a troca de informação entre as redes de fiscalização e controlo da poluição. O segundo programa (1977-1981) introduz o conceito de prevenção, toma medidas de proteção das águas, controlo da poluição atmosférica e ruído, reforça as políticas preventivas e dá também atenção à proteção e gestão do espaço e dos recursos. O terceiro (1982-1986) avalia os impactos no ambiente, reenforça as políticas preventivas, atua no controlo da poluição do ar, das águas, do solo e ruído. “A melhoria da qualidade de vida e a utilização tão eficiente quanto possível dos recursos naturais e do ambiente são tarefas essenciais da Comunidade.” A partir do final dos anos 80, com a consciência e entendimento crescentes dos problemas ambientais, a legislação também evoluiu. O quarto programa (1987-1992), reforçava os anteriores e adicionou novas áreas de ação, como o controlo de radiações nucleares, a prevenção dos riscos da biotecnologia, a prevenção de acidentes industriais, o controlo de substâncias e preparações químicas, entre outras. O quinto (1993-2000) traça mais metas para determinadas áreas, indica instrumentos económicos e subsídios e aborda em particular os setores da indústria, energia, transporte, agricultura e turismo. Contem o processo de reforma económica de Cardiff, de 1998. Inclui o Tratado de Maastricht, assinado em 7 de
24
Capítulo I
Fevereiro de 1992, que veio introduzir a designação de União Europeia. No capítulo XIX do tratado são expressos os objetivos em relação ao ambiente: a preservação, proteção e melhoria da qualidade do ambiente, a proteção da saúde da população, a utilização cuidada dos recursos e a promoção de medidas para enfrentar os problemas ambientais a nível internacional. O sexto programa (2000-2010) dissocia as pressões ambientais do crescimento económico e desenvolve as medidas anteriormente propostas. Inclui o Tratado de Amesterdão, assinado a 2 de Outubro de 1997, que não apresenta grandes alterações em relação ao tratado anterior.
Com a discussão sobre os planos em favor de um desenvolvimento sustentável, que foram anteriormente referidos neste capítulo, os governos implementaram várias exigências legais direcionadas ao setor da construção, responsável por grande parte dos impactos ambientais. Na Europa, foi bastante marcante a diretiva 2002/91/CE, aprovada no Parlamento Europeu em 16 de Dezembro de 2002. Determina a aplicação de um sistema de certificação energética nos edifícios dos Estados Membros que estabelece requisitos sobre os seguintes campos: •
metodologia de cálculo do desempenho energético
•
aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético dos edifícios novos
•
aplicação de requisitos mínimos para o desempenho energético dos edifícios antigos
•
certificação energética nos edifícios
•
inspecção de caldeiras e sistemas de ar condicionado nos edifícios
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
A diretiva foi aplicada também em Portugal, englobando três diplomas que contemplam alterações legislativas que poderão ter implicações nas práticas arquitetónicas correntes: •
D.L. n.º 78/2006 – Criação do Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios;
•
D.L. n.º 79/2006 – Regulamento dos Sistemas Energéticos de Climatização dos Edifícios (RSECE) que se aplica a grandes edifícios de serviços ou a pequenos edifícios de serviços ou de habitação que disponham de sistemas de climatização;
•
D.L. n.º 80/2006 – Regulamento das Características do Comportamento Térmico de Edifícios (RCCTE) que se aplica a edifícios de habitação ou a pequenos edifícios de serviços sem sistemas de climatização.
A partir de 1 de Janeiro de 2009 os certificados energéticos são obrigatórios para qualquer imóvel ou objeto de transação, para arrendamento ou venda. Os únicos edifícios isentos de certificação são as infraestruturas militares e imóveis adstritos ao sistema de informação ou a forças de segurança sujeitos a regras de controlo e confidencialidade. A classificação varia de A+ (alta eficiência) até G (baixa eficiência). O certificado apresenta também o nível de emissões de CO2 e as medidas que poderão ser aplicadas para melhorar o desempenho do edifício, com o respectivo custo. Em Portugal é a ADENE - Agência para a Energia - a entidade gestora, que coordena a formação dos técnicos que emitirão os certificados, fiscalizando a implementação do Sistema Nacional de Certificação Energética e de Qualidade do Ar Interior nos Edifícios, e promovendo campanhas de informação.
Figura 6 - Classes Energéticas
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C A P Í T U LO I I Cer tificações Ambientais
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
2.1 Caracterização Geral das Certificações Ambientais
A crise petrolífera de 1973 teve um grande impacto nos países industrializados, conduzindo à produção de vários estudos direcionados para a pesquisa de novas alternativas energéticas. Desenvolveu-se, nessa altura, uma maior consciência ambiental, onde a arquitetura tinha um papel importante, o que levou à criação de instrumentos e processos de gestão e controlo, por parte dos governos, de que são exemplo os regulamentos para avaliação dos impactos ambientais das construções e das caraterísticas dos produtos e materiais comercializados. Dado que estes regulamentos não abrangem toda a esfera do projeto, foram instauradas certificações voluntárias, que ajudam o arquiteto e o construtor a tomar decisões que aumentam a qualidade ambiental do projeto. São também úteis para o comprador, que assim tem garantido que certas características intrínsecas do edifício, que podem não ser percetíveis à primeira vista, satisfazem padrões de qualidade previamente estabelecidos. É então um reforço da segurança no ato de compra, consubstanciado na assunção de um compromisso quanto ao desempenho da obra ao longo do seu ciclo de vida. Em 1974, foi criada em França a Associação Qualitel, uma organização sem fins lucrativos, para promover a qualidade dos edifícios e a aplicação de medidas sustentáveis. O Estado, vai deixando progressivamente de ser o elemento central no controlo da construção. Em 1985, surge a certificação Qualitel, para edifícios residenciais, cujo método é constituído pela observação do desempenho do edifício com base num conjunto de parâmetros de avaliação predefinidos, que tratam questões como a acústica ou a térmica. O processo de certificação da qualidade ambiental da arquitetura foi difundido em maior escala a partir dos anos 90, começando a surgirem mais instituições independentes de avaliação. Com o aumento da investigação e das aplicações práticas, este processo tem-se tornado mais detalhado e mais rigoroso. A sua evolução envolve constantes alterações, adaptando-se ao contínuo desenvolvimento tecnológico e à alteração das circunstâncias ambientais, económicas e sociais. Destacam-se as seguintes instituições de certificação, que seguidamente se definem com maior detalhe: •
Associação Qualitel, fundada em França, em 1985
•
BREEAM, fundada no Reino Unido, em 1990;
•
LEED, fundada nos Estados Unidos da América, em 1998;
•
LiderA, fundada em Portugal, em 2005;
•
AQUA, Brasil, desde 2010;
28
Capítulo II
2.2 Associação Qualitel, França
Entre os principais organismos de certificação destaca-se a Qualitel, uma associação independente sem fins lucrativos pioneira na promoção, desenvolvimento e demonstração da qualidade e implementação de medidas sustentáveis em habitações coletivas ou individuais, residências de estudantes e residências para a terceira idade. Foi fundada numa fase de viragem na construção residencial, com o fim da construção em quantidade e uma nova procura de melhorias na qualidade. Até hoje, já certificou mais de 1.000.000 de habitações em França. Segundo as estatísticas, 27% das novas habitações (unifamiliares e multifamiliares) fazem um pedido de certificação e quase metade são da região de Paris. Atualmente é presidida por Raphaël Slama, dirigida por Antoine Desbarrieres e integra na sua composição quatro principais grupos de intervenientes: associações de consumidores; atores do lado da oferta (federações dos construtores e projetistas, etc.); profissionais da construção (ordem dos arquitetos, associação da indústria dos materiais de construção, corpos de controlo e inspeção, etc.); autoridades públicas (ministérios da ecologia, energia, desenvolvimento sustentável e planeamento regional, o centro de investigação do CSTB - Centre Scientifique et Technique du Bâtiment, a certificação AFNOR - Association Française de Normalisation, etc.) O principais objetivos da Associação Qualitel são informar o grande público sobre a qualidade das habitações e estimular os construtores a apostarem e a inovarem em relação a métodos sustentáveis, sendo essa uma forma de se distinguirem entre o elevado número de oferta existente. A associação Qualitel emite os seguintes certificados: •
Qualitel
•
Habitat & Environment
•
NF Logement
•
NF Maison Individuelle
•
Patrimoine Habitat
•
Patrimoine Habitat & Environment
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Distribuição dos tipos de certificado de 2002 a 2011
200 000 175 000 150 000 125 000 100 000 75 000 50 000
NF Maison Individuelle
NF Logement
Patrimoine Habitat/ Patrimoine Habitat & Environnement
Habitat & Environnement
2011
2010
2009
2008
2007
2006
2005
2003
2002
0
2004
25 000
Qualitel
As certificações da Associação Qualitel têm tido um aumento gradual de pedidos, com um pico mais acentuado entre 2005 e 2006. No passado ano de 2011, o número de certificações atingiu quase os 200 000. A certificação mais requerida todos os anos foi a Qualitel, ultrapassando os 50 000 edifícios por ano, a partit de 2005. Segue-se a Habitat & Environnement, e as certificações para edifícios usados- Patrimoine Habitat e Patrimoine Habitat & Environnement - aplicadas a partit de 2006. Destinada a residências uni-familiares, a NF Maison Individuelle é a certificação com menos números de casos, conseguindo cerca de 10 000 por ano. Nota-se, também, em 2010 e 2011 um crescimento considerável da NF Logement, conseguindo no último ano cerca de 30 000 edifícios certificados.
30
Capítulo II
Nota 3
Nota 4
Consumos eléctricos
Informação aos
Durabilidade
Canalização
Escolha dos materiais
Economia de água
ventilação
Térmica de Inverno
Térmica de Verão
Acústica exterior
100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%
acústica interior
Distribuição das avaliações por rúbrica no ano de 2011
Nota 5
No ano de 2011, a maioria das operações certificadas obtiveram a nota mínima exigida em grande parte das rubricas. As exigêncis de acústica interior são as mais difíceis de atingir com bons resultados, sendo que quase a totalidade dos casos certificados se limita ao nível mínimo. Também a acústica exterior, canalização, escolha dos materiais e consumos elétricos são temas com classificações baixas, tecom mais de 90% de casos com o nível 3. Destaca-se a térmica de Verão, onde quase 60% dos casos teve o nível máximo, sendo a rúbrica com melhor resultados no ano em causa. Com os dados aqui apresentados, pode-se presumir que os empreendedores dos projetos submetidos à avaliação pretendem apenas atingir os requesitos mínimos para lhes ser aprovada a certificação, ou não conseguem os resultados máximos pois tal implica um maior investimento financeiro e um maior cuidado e detalhe na construção e nos sistemas utilizados.
31
Capítulo II
2.2.1 Qualitel
A certificação Qualitel foi criada em 1985 e abrange habitações unifamiliares, habitações multifamiliares, lares para a terceira idade e residências de estudantes. O seu objetivo é apresentar vantagens a vários intervenientes: •
Ao construtor fornece respostas práticas para as principais preocupações dos seus compradores (acústica, térmica, redução de custos, etc.), beneficia de estudos detalhados com o objetivo de melhorar as suas escolhas construtivas, demonstra a sua vontade em avaliar o seu projeto por um terceiro independente e ajuda-o a otimizar o custo-desempenho da obra.
•
Ao utilizador ou proprietário ajuda a escolher a habitação através de critérios certificados, é um indicativo de um investimento a longo prazo de qualidade e com custos de manuntenção mais reduzidos;
•
Para a comunidade e entidade governamental permite integrar as questões qualitativas nas políticas de habitação e planeamento urbano, fornece um indicador de qualidade e de economia para os cidadãos, demonstra a vontade de construir um sítio acessível a todos.
O processo de certificação está dividido em três passos principais: 1 - Análise de documentos técnicos em fase de estudo e de conceção. (A CERQUAL - sucursal da Qualitel - acompanha o cliente e a equipa projetista, apoiando-os no desenvolvimento da solução arquitetónica e construtiva); 2 - Certificação do projeto; 3 - Verificação da conformidade do projeto (Após a realização da obra, são feitos controlos de conformidade através de vistorias técnicas, assegurando a qualidade da construção); Com a certificação Qualitel consegue-se uma poupança de 5%, ou até, com a opção EC (economia de custos) ou TEC (grande economia de custos) de 10% a 14%, respetivamente. São controlados os custos e o ganho financeiro em obra de diferentes itens, como: fachadas exteriores, janelas e portas exteriores; cobertura e terraços e respetiva vedação; consumo de água fria; consumo para aquecimento e água quente; consumo de eletricidade comum; limpeza e manutenção de equipamentos (apenas para as habitações coletivas). É igualmente verificada a satisfação do critério de acessibilidade que diz respeito à facilidade de utilização dos edifícios por parte de pessoas com mobilidade condicionada. O edifício recebe a certificação se obtém uma pontuação de pelo menos 3 valores, num máximo de 5, em cada categoria.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
2.2.2 Habitat & Environment
Criada em 2003, a Habitat & Environnement (Habitat e Meio Ambiente) é uma adaptação da Qualitel, apenas para habitações unifamiliares ou multifamiliares, onde há uma cuidada preocupação pela preservação do ambiente ao longo de todo o ciclo de vida do edifício. Os passos do processo de avaliação são idênticos aos da Qualitel. Os sete temas principais focados pela Habitat & Environnement são: •
Gestão ambiental da construção
•
Obra limpa (gestão dos desperdícios, redução dos diversos ruídos,...)
•
Energia e redução do efeito estufa
•
Escolha de materiais
•
Água
•
Saúde e Conforto
•
Hábitos Verdes (entrega de um guia com a descrição de boas práticas afim de assegurar o bom desempenho ambiental)
A certificação Habitat & Environnement exige no mínimo o selo HPE - Haute performance énergétique (alto desempenho energético) com base na regulamentação RT 2005. Depois de 2007, a certificação propôs também outros selos com níveis de desempenho associados ainda mais exigentes: •
HPE EnR: desempenho energético alto + energias renováveis;
•
THPE: desempenho energético muito alto (obrigatório desde 2010);
•
THPE EnR: desempenho energético muito alto + energias renováveis;
•
BBC-Effinergie: edifícios de baixo consumo energético.
34
Capítulo II
2.2.3 NF Logement e opção HQE®
A certificação NF Logement (NF Habitação) foi criada em 2004 e destina-se não a um obra específica, mas ao conjunto de obras de um certo empreendedor imobiliário É aqui considerada a qualidade dos serviços dados aos compradore, a qualidade técnica das obras e a qualidade da organização da obra (baseada na marca Qualiprom que trata da organização do projeto e dos respetivos procedimentos internos) A NF Logement está divida em cinco etapas: •
pedido de admissão com um dossier completo sobre a empresa de construção;
•
audição;
•
verificação das obras realizadas;
•
apresentação do dossier de encargos e notificação do direito de uso da marca durante três anos;
•
declaração de atividade mensal à Cerqual.
NF Logement – Opção abordagem HQE® Surgiu em 2007 como extensão da NF Logement, com uma adicional preocupação pela qualidade ambiental. Devem ser cumpridos os 14 pontos da marca HQE - Haute Qualité Environnementale - cada um avaliado com um selo de nível de desempenho: Base (Baixo), Performant (Médio), Très performant (Alto). •
relação harmoniosa do edifício como a envolvente
•
local de obras com poucos impactos ambientais
•
gestão de energia
•
gestão de água
•
gestão dos desperdícios
•
gestão da manutenção
•
conforto visual
•
conforto olfativo
•
conforto higrotérmico
•
conforto acústico
•
qualidade sanitária dos espaços
•
qualidade sanitária do ar
•
qualidade sanitária da água
35
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
2.2.4 NF Maison Individuelle e opção HQE®
A certificação NF Maison Individuelle (NF Casa Individual) surge no ano de 2000 e tem a colaboraçaõ da CEQUAMI - Certification Qualité en Maisons Individuelles - é uma subsidiáriada Associação Qualitel e do Centro CSTB, habilitada pela AFNOR para atuar no campo da habitação unifamiliar. Uma vez que a obra obtém certificação NF Maison Individuelle, está sujeita a vistorias durante toda a duração do certificado (três anos renováveis). As exigências e verificações incluem: 1. organização e competências do construtor:
- estrutura, organização empresarial;
- controlo do sistema de qualidade;
- contrato, qualidade técnica, relação com o cliente;
- seleção e avaliação dos trabalhadores contratados;
- medição da satisfação.
2. respeito do contrato de construção, qualidade de conceção e construção da casa incluindo:
- adaptação à exposição solar;
- respeito da regulamentação técnica;
- estudo térmico sistemático;
- dimensionamento das instalações;
- escolha de materiais e de equipamentos certificados.
3. serviços fornecidos ao particular antes, durante e depois da execução da obra:
- clareza e transparência das informações na fase de comercialização;
´
- organização de uma reunião de reconhecimento do terreno;
- planificação de uma reunião de revisão do projeto antes de se iniciar a construção;
- uma visita ao terreno para preparar o início da construção;
- realização de uma vistoria de satisfação do cliente.
36
Capítulo II
Foi também definida, em adição, a abordagem HQE® que fortalece os requerimentos da anterior, em relação à qualidade da construção, dos serviços e dos atributos técnicos das casas, com particular atenção pela dimensão ambiental, definindo requerimentos como: •
a adoção, por parte do construtor, de comportamentos amigos do ambiente;
•
implementação dum sistema de gestão ambiental no projeto e durante as obras;
•
adaptação do projeto com a envolvente, análise do sítio e cumprimento dos 14 pontos da HQE;
•
redução dos impactos ambientais e aplicação de sistemas de alto desempenho na área da energia e da gestão de água;
•
aplicação de respostas eficientes relacionadas com o conforto, saúde e escolha de materiais, sistemas e métodos construtivos.
37
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
2.2.5 Patrimoine Habitat e Patrimoine Habitat & Environment
Distribuídos pela CERQUAL PATRIMOINE, sucursal da Qualitel, estes dois certificados foram criados em 2005. Correspondem a uma avaliação técnica e documental, juntamente com uma validação das melhorias realizadas pelos donos do projeto, imobiliárias ou construtores relativamente ao edifício reabilitado. São dirigidos a edifícios multifamiliares ou edifícios unifamiliares com mais de dez anos. A qualidade do edifício é avaliada a partir de uma comparação das situações antes e após a reabilitação, tendo como base um referencial de níveis de desempenho mínimos. A certificação Patrimoine Habitat (Património Habitat) impõe algumas metas de desempenho do edifício e objetivos ambientais. Engloba onze temas e vinte problemas técnicos, relacionados com aspectos como a segurança, qualidade sanitária, acessibilidade, conforto acústico, consumos energéticos, controlo dos resíduos e escolha de materiais. A certificação Patrimoine Habitat & Environment (Património Habitat & Ambiente) acrescenta uma preocupação pelo ambiente e desenvolvimento sustentável, integrando parâmetros relacionados com a gestão do projecto, limpeza do local de obras, hábitos verdes (com campanhas de informação para os residentes) e eficiência energética. O empreendedor imobiliário pode também escolher uma certificação mais exigente do ponto de vista ambiental – a Patrimoine Habitat & Environment. Em relação à Patrimoine Habitat são acrescentados dois temas: obra limpa e gestos verdes. Dos onze temas totais, pelo menos seis devem ser tratados, dos quais quatro são obrigatórios: gestão ambiental do processo, obra limpa, gestos verdes e desempenho energético das habitações. Organização e informação: Gestão da obra Obra limpa Gestos verdes
Segurança e saúde: Segurança dos moradores Qualidade sanitária das habitações (ar, água) Acessibilidade e qualidade de uso
Qualidade da construção e das partes comuns: Equipamentos e conforto das partes comuns Cobertura
Conforto e desempenho: Equipamentos técnicos das habitações Desempenho energético Conforto acústico
temas exclusivos à Habitat & Environment Quadro 1 - temas da avaliação da certificação Patrimoine Habitat e da Patrimoine Habitat & Environment
38
Capítulo II
2.3 BREEAM
A BREEAM - Building Research Establishment Environmental Assessment Method - foi criada em 1990 para classificar a sustentabilidade dos edifícios. Desde aí tem sofrido várias alterações, a mais marcante das quais teve lugar em Agosto de 2008. Até hoje já certificou positivamente mais de 115.000 edifícios em todo o mundo. A avaliação está dividida em dez categorias, enumeradas no quadro 3. Para cada uma são atribuídos um certo número de créditos, consoante o desempenho do edifício. No final, são considerados os resultados em cada categoria e o peso correspondente, para se calcular a pontuação final. Se esta pontuação for superior a 30% é considerado que o edifício tem uma qualidade ambiental suficiente para lhe ser atribuída a certificação BREEAM. O nível máximo na classificação é o de “outstanding”, para resultados acima dos 85% (ver quadro2). No gráfico 2, observam-se os pesos das dez categorias. Constata-se que o tema a que a BREEAM dá mais relevo é ao da energia, ocupando 19%, onde se tratam temas como as emissões de CO2 e a eficiência dos sistemas energéticos. Segue-se a saúde e bem-estar, com 15% de peso, englobando diversos temas, desde o conforto acústico e térmico até à iluminação. É de salientar o tópico bónus, que pretende incentivar a procura de práticas inovadoras que contribuam para a sustentabilidade do edifício, sejam elas relacionadas com métodos construtivos, tipo de design, aplicações tecnológicas, etc.
Níveis
Resultado (%)
Unclassified (não classificado)
<30
Pass (suficiente)
30
Good (bom)
45
Very Good (muito bom)
55
Excellent (excelente)
70
Outstanding (fantástico)
85
Quadro 2 - Exigência dos níveis de classificações
39
Gráfico 2 - Peso das várias categorias da avaliação BREEAM
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Gestão •
planeamento
•
impacto no sítio
•
segurança
Saúde e bem-estar •
iluminação natural
•
conforto térmico
•
conforto acústico
•
qualidade do ar e da água
•
iluminação artificial
Energia
Resíduos •
resíduos de obra
•
facilidades de reciclagem
Poluição •
uso de refrigeração
•
emissões de NO2
•
poluição dos cursos de água
•
iluminação externa e poluição sonora
Uso do solo e ecologia
•
emissões de CO2
•
tecnologias de carbono zero
•
escolha do sítio
•
sistemas energéticos eficientes
•
proteção dos valores ecológicos
•
medição energética
Transporte
Materiais •
consideração do impacto do ciclo de vida
•
rede de transportes públicos
•
re-utilização de materiais
•
facilidades para pedestres e ciclistas
•
escolha responsável
•
durabilidade
Água
Inovação
•
consumo de água
•
níveis de desempenho exemplares
•
deteção de fugas
•
uso de profissionais acreditados pela BREEAM
•
re-utilização de água
•
novas tecnologias e métodos construtivos
Quadro 3 - Categorias e principais temas (dados retirados do manual BREEAM Edifícios multiresidênciais, atualizado pela última vez a 25/05/2012)
40
Capítulo II
As certificações da BREEAM estão divididas nas seguintes tipologias, cada uma com um manual correspondente, com exigências e critérios particulares. •
Tribunais;
•
Data centers;
•
Educação;
•
Saúde;
•
Industrial;
•
Habitação unifamiliar;
•
Habitação multifamiliar;
•
Escritórios;
•
Prisões;
•
Comércio;
•
Outros;
•
Reabilitação de edifícios domésticos;
•
Reabilitação de edifícios não-domésticos.
Todos os anos A BREEAM atribui um prémio para o melhor edifício em cada sector (educação, indústria, saúde, escritórios, etc.). Em 2012, o melhor edifício internacional foi considerado o Tour Majunga em Paris, uma torre de escritórios desenhada pelo arquiteto Jean-Paul Viguier, que obteve uma classificação de 77,43%. Na categoria multi-residencial, foi galardoada a residência de estudantes The Green, da Universidade de Bradford, com uma classificção de 94.11%.
Figura 6 - Tour Majunga, Paris
41
Figura 7 - The Green, Bradford
Capítulo II
2.4 LEED
A LEED - Leadership in Energy and Environmental Design - é uma certificação concebida pela organização não governamental americana USGBC - U.S. Green Building Council - lançada em Agosto de 1998. De acordo com as normas da LEED 2009, a atribuição de pontos, para edifícios novos, é distribuída nas seguintes sete categorias: Tópico
Pontos
Sítio sustentável
26 pontos possíveis
Optimização do consumo de água
10 pontos possíveis
Energia e atmosfera
35 pontos possíveis
Materiais e recursos
14 pontos possíveis
Qualidade do ambiente interior
15 pontos possíveis
Conceção e Inovação
6 pontos possíveis
Pontos de bónus
Bónus regional
4 pontos possíveis
Pontos de bónus
Total do projeto
110 pontos possíveis
10 pontos de bónus
Gráfico 3 - Peso das várias categorias da avaliação LEED
43
Bónus
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
O sistema da LEED tem sido continuamente desenvolvido, e atualmente está dividido nas seguintes tipologias: •
Construções novas - edifícios de escritórios, de habitação multi-familiar, governamentais, instalações recreativas fábricas e laboratórios;
•
Edifícios existentes: reabilitação e manutenção - inclui problemas de manutenção, reabilitação, manutenção da fachada e melhorias dos sistemas. Pode ser aplicada a edifícios que tiveram anteriormente a certificação para novas construções.
•
Estruturas e fachadas - abrange elementos base dos edifícios como a estrutura, fachada e o sistema de AVAC;
•
Escolas - desde jardins de infância até ao ensino secundário;
•
Comércio - compreende dois sistemas diferentes, o LEED 2009 para Comércio: Novas Construções & Renovações Gerais e o LEED 2009 para Comércio: Interiores Comerciais. Destinado a projetos de retail,como bancos, restaurantes, vestuário, eletrónica, etc;
•
Saúde - esta certificação auxilia o desenho e construção de edifícios novos e renovações de edifícios existentes, podendo ser aplicada a gabinetes médicos, instalações de cuidados de longa duração, centros de educação e investigação médica;
•
Habitação unifamiliar - uma casa certificada pela LEED é projetada e construída de acordo com um sistema rigoroso que promove o seu desempenho sustentável;
•
Planeamento urbano - sistema que integra os princípios de crescimento inteligente e arquitetura e urbanismo sustentáveis, em colaboração com USGBC - United States Green Building Council, Congress for the New Urbanism e Natural Resources Defence Council.
44
Capítulo II
Existem quatro tipos de certificações que são estabelecidas em função das pontuações alcançadas: Classificação
Pontuação
Certificado
40-49
Prata
50-59
Ouro
60-79
Platina
80-110
A LEED certificou já edifícios bastante relevantes no panorama arquitetónico, como a Sede da Alberici Corporate, em Missouri, concluída em 2004, projetada pelo arquiteto Mackey Mitchell. Foram aqui colocados uma turbina de vento e um sistema de aquecimento de água solar que produzem 20% da energia utilizada. Outra obra que recebeu a certificação da Leed foi a Biblioteca Presidencial de Clinton, em Arkansas, de 2004. O projeto foi encomendado ao arquiteto James Polshek, que respondeu à exigência de Clinton de criar um edifício ecologicamente consciente. Das suas características destacam-se a cobertura verde e o uso da energia proveniente dos seus 306 painéis solares. É de salientar também a Torre do Bank of America, em Manhattan, Nova Iorque, dos arquitetos Cook+Fox. A construção foi terminada em 2009 e tem uma altura de 366m. Apresenta vários métodos para melhorar o seu desempenho, tais como sistemas de conservação de água, de que são exemplo urinóis sem água utlizados no edifício, que poupam em média 30,000,000l por ano e reduzem as emissões de dióxido de carbono em 65,000 kg por ano.
Figura 6 - Sede da Alberici
45
Figura 7 - Biblitoteca Presidencial Clinton
Figura 8 - Bank of Ameri-
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
46
Capítulo II
2.5 AQUA
No Brasil, uma medida importante para a construção sustentável foi, em 2002, a Resolução nº 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Contempla a implantação de diretrizes para a redução dos impactos ambientais provocados pelos resíduos com origem na construção civil, como a atribuição de responsabilidades pela sua produção e a sua reciclagem ou correta localização. Outra iniciativa foi o Procolo Ambiental da Construção Civil Sustentável, que propunha um conjunto de ações para a consolidação do processo de desenvolvimento sustentável neste setor. A certificação AQUA - Alta Qualidade Ambiental - foi desenvolvida pela Fundação Vanzolini, instituição privada sem fins lucrativos, em parceria com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, sendo lançada em Fevereiro de 2010. A sua metodologia tem como referência a certificação francesa HQE adaptada à situação do Brasil, considerando as particularidades de cada região, como clima, vegetação, comunidade local, entre outras. São avaliados três tipologias: edifícios escolares, hotéis e edifícios habitacionais. A classificação é dada em três níveis: “Bom”, que corresponde às práticas correntes e regulamentadas; “Superior”, para práticas boas e “Excelente”. Para o seu cálculo são avaliadas catorze categorias, agrupadas em quatro temas: o ambiente externo, o ambiente interno, gestão e saúde. As auditorias são feitas presencialmente, seguidas por análises técnicas, durante as várias fases (projeto, conceção e realização). O manual técnico da AQUA está dividido em dois instrumentos distintos, o referencial do SGE - Sistema de Gestão do Empreendimento - para avaliar o sistema de gestão ambiental, e o referencial da QAE -Qualidade Ambiental do Edifício - para avaliar o desempenho arquitetónico e técnico da construção.
Organização do SGE: Figura 9 - mínimos exigidos para a atribuição do certificado AQUA
47
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
1 - comprometimento do empreendedor - descrição dos elementos de análise solicitados para a definição do perfil ambiental; 2 - implementação e funcionamento - descrição das exigências em termos de organização; 3 - gestão do empreendimento - descrição das exigências em termos de monitoramento e análises críticas dos processos, de avaliação da QAE e de ações corretivas; 4 - aprendizagem - descrição das exigências em termos de aprendizagem da experiência e de balanço da construção Estrutura do QAE: (cada sub-temas é classificado com um dos três níveis: bom, superior e excelente.) Tema
Sub-tema Relação do edifício com a envolvente
Ambiente externo (sítio e construção)
Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos Canteiro de obras com baixo impacto ambiental Gestão de energia
Gestão
Gestão de água Gestão de resíduos de uso e construção do edifício Manutenção – permanência do desempenho ambiental Conforto higrotérmico
Ambiente interno (conforto)
Conforto acústico Conforto visual Conforto olfativo Qualidade sanitária dos ambientes
Saúde
Qualidade sanitária do ar Qualidade sanitária da água
48
Capítulo II
2.6 LiderA
A LiderA surgiu em Portugal com base na investigação iniciada em 2000 por Manuel Duarte Pinheiro, no Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura do Instituto Superior Técnico, apoiada pela IPA (Inovação e Projetos em Ambiente, Lda.) Em 2005 surgiu a primeira versão da certificação, destinando-se principalmente para o edificado e respetiva envolvente. Foi depois desenvolvida a versão 2.0 que aplica o sistema também à escala urbana. A certificação pode ser aplicada ao plano, projeto e gestão do ciclo de vida. O sistema define um conjunto de orientações para a escolha de soluções, pretendendo melhorar o desempenho do edifício. Para isso, são avaliadas seis vertentes, cada uma dividida em várias áreas específicas. São ainda especificados critérios mínimos para cada área, como requisitos legais. Após a avaliação de todas as áreas é comparado o resultado com o que se considera a prática usual na construção e se a obra em questão apresentar características que a levem a ser mais eficiente, ser-lhe-á então atribuída uma certificação da LiderA, podendo o nível variar, sendo mais alto o nível A++, onde se considera uma melhoria em 90% face à prática usual. No desenvolvimento do sistema foram avaliados cinco casos piloto para testar e aferir as versões residencial e turística. Um dos casos avaliados foi o edifício Torre Verde, localizado em Lisboa, no Parque das Nações, projetado pela arquiteta Livia Tirone e pelo Eng. Ken Nunes. A torre de 12 pisos, concluída em 1998, destaca-se pelos seus aspetos bioclimáticos, como a orientação de todos os apartamentos a Sul, a proporção correta das áreas envidraçadas, os elementos de ensombramento e a seleção de materiais. Previu-se um consumo energético de 6 kWh/m2 ano, o que corresponde a uma redução de 80% no Inverno e de 85% no Verão em relação aos valores regulamentares (Decreto-Lei N.º 40/90, de 6 Fevereiro de 1990).
Classe
Ganhos face à prática usual
A++
90%
A+
75%
A
50%
B
37,5%
C
25%
49
Figura 10 - Torre Verde, Lisboa
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Vertentes
Integração Local
Recursos
Cargas Ambientais
Conforto Ambiental
Vivências sócio-económicas
Gestão ambiental e Inovação
Áreas
Percentagem
Solo
7%
Ecossistemas Naturais
5%
Paisagem e Património
2%
Energia
17%
Água
8%
Materiais
5%
Alimentares
2%
Efluentes
3%
Emissões atmosféricas
2%
Resíduos
3%
Ruído exterior
3%
Poluição ilumino-térmica
1%
Qualidade do ar
5%
Conforto térmico
5%
Iluminação e acústica
5%
Acesso para todos
5%
Custos no ciclo de vida
2%
Diversidade económica local
4%
Amenidades e interacção social
4%
Participação e controlo
4%
Gestão ambiental
6%
Inovação
2%
A edificação em França corresponde a 43% do consumo energético e a 20% das emissões de gases do efeito com
50
C A P Í T U LO I I I A Cer tificação Qualitel
Capítulo III
3.1 Contexto
estufa, um número menor que a média de 36% da União Europeia ou os 40% dos Estados Unidos. A França tem tido um papel importante na investigação sobre sustentabilidade, participando em vários programas europeus. Destacam-se as aplicações para analisar o ciclo de vida dos produtos de construção, do projeto Brit-Euram, as ferramentas de avaliação ambiental (REGENER), indicadores (CRISP), projetos relacionados com estratégias económicas e sociais, sistemas de previsão a longo-prazo, entre outras contribuições para projetos como o SUREURO, TISSUE, SHE e ECO-CAMPS. Em 2004 a França lançou um plano ambiental, com objetivos como a divisão em quatro das emissões de gases poluentes até 2050. No ano seguinte, foi lançada a lei POPE - Programa de Orientações Políticas Energéticas, definindo mais metas, como a redução em 30% dos consumos de energia até 2020.
Gráfico 4 - divisão do consumo de energia em França, segundo o livro Labels d’efficacité énergétique de Pascle Maes
53
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Em Maio de 2007, o Presidente Nicolas Sarkozy criou, em França, o grupo de debate Grenelle Environnement, para se atingir uma renovação e aperfeiçoamento das medidas ambientais. Integramno representantes do governo, das autoridades locais, de sindicatos e de empresas para procurar definir planos de ação concretos para resolver os problemas ambientais. Foram definidos seis grupos de trabalho à volta dos temas: lutar contra as mudanças climáticas e energia; preservar a biodiversidade e os recursos naturais; instaurar um desenvolvimento favorável à saúde; adotar modos de produção e consumo sustentáveis; construir uma democracia ecológica e promover modos de desenvolvimento ecológico favoráveis ao emprego e à competitividade. A Grenelle estabeleceu como objetivos maiores reduzir em 75% as emissões de gases com efeito de estufa entre 1990 e 2050 e fazer com que a França seja a economia de baixo carbono* mais eficiente da União Europeia em 2020. Instaurou também o selo BBC - Bâtiment Basse Consommation (edifício de baixo consumo) - para edifícios com consumos menores a 50kWh/m2/ano, que será obrigatório em todos os edifícios novos a partir do final de 2012, e nos edifícios públicos e terciários desde o final de 2010. Tem como objetivo, impôr o selo BEPOS - Bàtiment à Énergie Positive (edifício de energia positiva), para os edifícios que consomem menos energia do que a que produzem a partir de fontes renováveis. Para incentivar boas práticas ambientais na construção, foram acordadas várias medidas como a redução dos impostos, por exemplo, em edifícios com altos desempenhos energéticos. o que em levado vários investidores a adotarem o conceito de arquitetura sustentável, como é o caso da Caisse des Dépôts et des Consignations, uma das maiores empresas investidoras francesas, responsável pelo financiamento da habitação social do país. Em França, as marcas de qualidade são atribuídas por terceiros e entidades independentes e, geralmente, submetidas ao COFRAC - Comité Francês de Acreditação - respeitando os critérios de um referencial europeu (EN 45011), para autorização final. As certificações seguem as condições estipuladas na lei No. 94-442 de 3 de Junho de 1994 e no Código do Consumidor relativo à certificação de produtos industriais e serviços.
54
Capítulo III
Para responder a estas novas exigências, em 1996, a HQE iniciou uma das primeiras ações de investigação sobre a qualidade ambiental dos edifícios. Os seus principais objetivos eram criar um referencial e um método de avaliação dos edifícios. Mandatada pela HQE, a Associação Qualitel e as suas filiais desenvolveram vários tipos de certificações, tendo como referência o método HQE, destinadas ao sector da habitação. Para edifícios de serviços e comércio o CSTB - Centre Scientifique et Technique du Bâtiment - juntamente com a CertiVéA, desenvolveu outro tipo de certificação. As certificações da Qualitel são exploradas por três filiais: •
CERQUAL – para a certificação da construção nova (edificios colectivos e moradias agrupadas);
•
CERQUAL PATRIMOINE – para a certificação de edificios em reabilitação;
•
CEQUAMI – para a certificação da construção de moradia unifamiliar.
A Qualitel pretende incentivar a adoção de novos sistemas sustentáveis por parte de arquitetos e construtores e assegurar aos clientes a qualidade da habitação que estão a comprar, informando-os sobre as características da construção. Segundo Ana Cunha, a sua representante internacional, “Há uma grande diferença entre o empreendedor dizer que o seu edifício é sustentável e provar efetivamente que ele é. O valor da certificação é que ela ‘prova’ por meio de auditoria, e depois com um documento, que o empreendedor seguiu as exigências de desempenho com base num conjunto de procedimentos, ou referencial”. 13 A certificação dá assim uma garantia ao comprador e eluciada-o sobre as potencialidades construtivas do edifício em termos de práticas ambientais. Para o construtor, a certificação diferencia-o em relação à concorrência por ter tomado em consideração uma séria de preocupações ambientais, que são notórias desde a fase de obra até aos resultados finais da construção. Auxilia-o também a tomar decisões que irão satisfazer com mais qualidade as necessidades do utilizador. Irei, de seguida, expor os dezanove tópicos de avaliação da HQE, nove dos quais são referentes à certificação Qualitel. Toda a informação foi retirada do manual da Qualitel, atualizado em 2012, onde é expressa detalhadamente toda a metodologia da certificação.
13 - Encontro Internacional da Fundação Vanzolini - “ A Construção Habitacional Sustentável Certificada na França, no Brasil e no Mundo”, São Paulo, 8 de Abril de 2010
55
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
3.2 Etapas do processo de atribuição da certificação Qualitel
1- Definição do objetivo da operação: materialização do pedido de certificação, assina-se um contrato definindo a natureza da intervenção. 2 - Relatório do estudo prévio: este relatório determina os pontos principais a considerar para os níveis de qualidade desejados. A CERQUAL realiza a análise técnica do projeto – planos, especificações, cálculos – que definem a futura construção. 3- Relatório de avaliação do projecto: o examinador estabelece a avaliçaão provisória para que o construtor possa completar ou alterar certos aspetos da obra. O estudo é realizado o mais rapidamente possível (até três semanas) após a entrega de todos os elementos. 4 – Relatório final de avaliação: o examinador realiza o relatório final tendo em conta todas as alterações que o construtor fez para cumprir os objectivos de qualidade, dependendo do tipo de certificação. É também concluído no prazo de três semanas após a entrega de todos os elementos. 5- Entrega da certificação Qualitel: a emissão do certificado obriga o construtor a manter os objetivos de qualidade. No certificado estão descritas as diversas características do projeto e a natureza do certificado obtido, as ferramentas de informação e promoção, e permite o uso da marca Qualitel apenas para essa construção e de uma maneira clara e transparente. Com a sua atribuição o construtor aceita que a CERQUAL realize constrolos de conformidade durante a obra. 6 – Controlos de conformidade: a emissão do certificado exige a conclusão da obra em conformidade com o projeto. Para garantir o seu cumprimento são efetuadas verificações de conformidade durante a fase de realização.
56
Capítulo III
3.3 Tópicos de Avaliação
H&E Perfil A
H&E Perfil B
Temas da certificação
Tópicos
Qualitel
Organização
Tópicos de auditoria
T1:Gestão ambiental da obra
Gestão Ambiental da Obra
•
•
-
T2. Obra limpa
Obra limpa
•
-
-
Matriz dos consumos eléctricos
•
•
-
Desempenho Energético
•
•
•
Escolha dos Materiais
•
•
-
T4: Escolha dos materiais
Durabilidade da fachada e cobertura
•
•
•
T5: Água
Gestão da água
•
•
•
Acústica Exterior
•
•
•
Acústica Interior
•
•
•
Conforto Visual
•
•
-
Espaços dos locais comuns
•
•
-
Qualidade do ar interior
•
•
-
Térmica de Verão
•
•
•
Informação aos habitantes
•
-
•
Acessibilidade e habitabilidade
•
•
•
Custo Global
•
•
-
Economia de custos
•
•
•
Indicadores
•
•
-
Opção Desempenho
•
-
-
Técnico T3: Energia
T6: Conforto e saúde
Informação Gestos Verdes Opções
Informação do Manual: Qualitel et Habitat & Environnement, edifícios novos, 2012
57
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Gestão Ambiental da Obra
Esta rubrica define as disposições que se adequam à gestão ambiental, considerando-se as características do sítio, as necessidades dos habitantes e de outros utilizadores afetados a par dos objetivos do emprenteiro. São aqui expressas as prioridades e requisitos ambientais da obra e definem-se aspetos organizativos da mesma que permitam alcançar os níveis de desempenho desejados. Aplica-se em todas as fases do projeto, desde os estudos de viabilidade, aos projetos de engenharia até à realização e futura gestão da obra. Temas tratados nesta rúbrica: 1 - Compromisso do emprenteiro: definição, por escrito, dos seus objetivos ambientais, expressando as suas prioridades e exigências. 2 - Análise do sítio: análise dos pontos fortes e fracos do local (planimetria, consistência do solo e do subsolo, requisitos do planeamento urbano, o clima e ecossistemas, poluição,etc.). 3 - Necessidades e aspirações: solicitações do Estado ou coletividades locais, exigiências financeiras, experiência das operações ja realizadas, expetativas dos futuros utilizadores, etc. 4 - Programa da operação: natureza e situação da operação; síntese da análise do sítio; síntese das necessidades e aspirações, nome, natureza e tipologia dos espaços, exigências arquitetónicas e técnicas, objetivos ambientais por tema, orçamento previsto, calendarização. 5 - Estudo de viabilidade e custo global: este ponto não se mantem caso a rúbrica Custo Global não seja requerida. O cliente deve ter elementos que lhe permitam escolher os materiais, sistemas construtivos e equipamentos adequados. 6 - Planificação da operação: responsabilidades e atores correspondentes; etapas e atividades, meios necessários e documentos utilizados, registos a manter peloemprenteiro, intervenções do organismo certificador. 7 - Qualidade dos intervenientes: o emprenteiro pode pedir um assistente para a a criação e implementação dos objetivos ambientais, se considerar que não tem conhecimentos suficientes na área.
58
Capítulo III
8 - Revisão da gestão: os elementos escritos devem ser revistos, pelo menos, antes do pedido de licensiamento e antes das compras. É também recomendada a revisão durante a execução da obra. 9 - Balanço da operação: deve-se registar eventuais reclamações durante as várias fases do projeto.
59
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Obra Limpa
São aqui traçados, num caderno de encargos, os objetivos ambientais para o local da obra, abrangendo temas como redução do ruído, poeiras e sujidade, poluição da água ou do solo, tipo de veículos e máquinas de construção utilizadas, gestão e redução de resíduos, etc. É obrigatória a entrega dos dois seguintes documentos: 1- Plano provisório Deve incluir: o limite da construção; as instalações de serviço (casas de banho, cantina,...) a chegada de energia, entrada e saída de veículos; áreas de armazenamento de materiais e resíduos; área de tratamento de potenciais contaminantes; área de operação de máquinas; área de estacionamento de veículos; elementos de protecção. 2- Planeamento após a oferta Inclui uma nota de recomendações e informações escritas pelo construtor apoiando-se na análise do terreno. Tratará a análise do ambiente (escolas, hospitais,...) próximo em caso de poluição sonora e atmosférica; o impacto sobre os equipamentos públicos ( trânsito, limpeza das ruas, estacionamento,...); outras situações que possam ser afectadas pela actividade da construção.
Demolição Em caso de demolição deverá ser definido um programa com: •
Calendário provisório de demolição com as diferentes etapas;
•
Meios para limitar a poeira e reduzir o ruído;
•
Métodos de triagem de resíduos;
•
Fluxo de remoção de resíduos.
60
Capítulo III
Matriz dos Consumos Eléctricos
Este tópico determina o consumo médio de energia gasto em aquecimento, ventilação, refrigeração, produção de água quente e iluminação, medido por edifício, grupo de habitações ou por habitação. Todas as disposições destinam-se a gerar uma economia de electricidade e garantir a segurança dos moradores. Deve ter-se em conta: a promoção da iluminação natural, dimensionar e posicionar correctamente os pontos de iluminação; limitar a duração da iluminação artificial; 1.1 Hall de entrada •
Presença de luz natural através de uma área de vidro de cerca de 2 a 3m
•
O nível de iluminância deve ser entre 100 e 150 lux. (Unidade de emissão de iluminação, medindo o fluxo luminoso por área)
Nota 3
•
A eficácia das lâmpadas deve ser maior ou igual a 60 lm/W (Unidades de lumens por watt);
•
Em caso de presença de lâmpadas fluorescentes, utilizam-se reatores de eficiência energética classe A1 ou A2.
•
Presença de um dispositivo automático para a extinção de fontes de luz exteriores, com exepção da iluminação de segurança,
Nota 5
• •
O circuito de iluminação do hall deve ser independente dos outros; A eficácia das lâmpadas deve ser maior ou igual a 65lm/W;
•
Em caso de presença de lâmpadas fluorescentes, utilizam-se reatores de eficiência energética classe A1.
Este tipo de exigências é descrito também para a circulação horizontal, escadas, passagens e escadas exteriores, parque de estacionamento, circulação do parque de estacionamento e outros locais, locais diversos e circulação exterior e elevadores. Avaliação da Rúbrica Nota 1
•
um dos critérios analisados não teve pelo menos nota 3
Nota 3
•
todos os critérios analisados tiveram pelo menos nota 3
Nota 4
•
70% dos critérios analisados teve nota 3 e 30% nota 5
Nota 5
•
todos os critérios analisados tiveram nota 5
61
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
DESEMPENHO ENERGÉTICO
Esta rúbrica dedica-se à previsão dos consumos médios de energia do edifício (necessários ao aquecimento, ventilação, iluminação,etc.) estimando um estilo de vida convencional e um correto uso dos equipamentos e materiais. É atribuída uma classificação de 3 a 5 consoante os resultados apresentados e o preenchimento de todos os cálculos requeridos. Para além desta nota, é aqui definido o selo de desempenho energético do edifício. São fornecidas fichas detalhadas com o processo de cálculo e os valores exigidos em cada selo. Esses cálculos são efectuados, resumidamente, comparando os valores de consumo de energia do edifício com os valores máximos aceitáveis tendo em conta todas as características construtivas, orientação solar, e zona climática onde a obra se insere.
Fornecimento por parte do construtor de: •
uma ficha de cálculo pormenorizada dos coeficientes de energia primária anual;
•
uma ficha de cálculo do dimensionamento dos emissores de calor das habitações;
•
uma ficha de cálculo do dimensionamento da instalação VMC (ventilação mecânica controlada) com: - plantas e medidas da obra;
Notas 3, 4 e 5
- categoria dos locais; - hipóteses e resultados dos cálculos do desempenho de cada edifício; - valores de desempenho térmico de cada um dos componentes em relação aos requisitos legais; - coeficientes do revestimento, pontes térmicas, entradas de ar, tendo em conta as perdas de calor de cada peça; •
um resumo do estudo térmico;
A nova regulamentação térmica RT2012 vem substituir a RT2005, e embora seja obrigatória apenas a partir de 2012, pode ser aplicada desde 2010. As principais diferenças são a obrigatoriedade de definição de um
62
Capítulo III
valor absoluto de energia consumida e o cálculo da necessidade de energia bioclimática. O desenho da forma e orientação do edifício tem um papel extrememente importante para o desempenho energético, e este cálculo pretende constituir um incentivo para que seja devidamente tido em atenção pelos projetistas. 2. Avaliação dos níveis de desempenho energético Cep≤ Cepmáximo
RT2012
Bbio ≤ Bbiomáximo Cep ≤ Cepmáximo-15%
Nível RT2012-15%
Bbio ≤ Bbiomáximo -20% +regras técnicas até 31 de Janeiro de 2013: Cep≤ 45 x Mctype (Mcgéo + Mcalt + Mcsurf + McGES)
Effinergie +
+regras técnicas da Effinergie + a partir de 1 de Janeiro de 2014: Cep≤ 40 x Mctype (Mcgéo + Mcalt + Mcsurf + McGES)
Coeficiente Cep: consumo de energia convencional para
o
aquecimento,
ventilação,
refrigeração,
aquecimento de água sanitária e iluminação do edifício, expresso em kWh / sq.m. de energia primária. Coeficiente Bbio: necessidade de energia bioclimática convencional de um edifício para aquecimento, refregiração e iluminação artificial, é expresso em pontos. Os coeficientes de Cep e Bbio máximo são dados consoante a zona climática onde o edifício se insere Mcgéo, Mcalt, Mcsurf, McGES: Valores dados, para habitações coletivas, consoante, respetivamente, a zona climática, a altitude, o solo.
Figura 11 - zonas climáticas de França 63
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Avaliação da Rúbrica
Operações ainda referentes à regulamentação térmica RT2005:
Nota 3
Nota 4
Nota 5
Estudo térmico satisfaz os requisitos da Pode ser atribuída a certificação Qualitel marca THPE Estudo térmico satisfaz os requisitos da marca BBC Effinergie Estudo térmico satisfaz os requisitos de Cep ≤ 40 X (a+b)
THPE Podem ser atribuídas as certificações Qualitel BBC Effinergie ou Habitat & Environnement Podem ser atribúidas as certificações Qualitel nível 40 X (a+b) ou Habitat & Environnment nível 40 X (a+b)
Operações apresentadas à nova regulamentação térmica RT2012:
Nota 4
Nota 5.1
Nota 5.2
Estudo térmico satisfaz os requisitos da Podem ser atribuídas as certificações Qualitel marca RT2012 Estudo térmico satisfaz os requisitos da marca RT2012-15% Estudo térmico satisfaz os requisitos da marca EFFINERGIE+
ou Habitat & Environnement Podem ser atribuídas as
certificações
Qualitel nível RT2012-15% ou Habitat & Environnement nível RT2012-15% Podem ser atribuídas as certificações Qualitel Effinergie+ ou Habitat & Environnement Effinergie+
64
Capítulo III
Escolha dos Materiais
1 - Impacto ambiental dos materiais Utilizam-se para este tema FDES - Fichas de declaração ambiental e sanitária - para a avaliação poder ser feita através de softwares específicos ( como o ELODIE, o Team Building,...). O INIES é a base de dados pública do FDES, que fornece informação sobre as características ambientais e sanitárias dos materiais de construção. Para os produtos relacionados com electrónica e climatização os dados podem ser obtidos através das fichas PEP - Perfil do Produto Ambiental, no site www.pep-ecopassport.org. •
É declarado no contracto que as empresas devem poder fornecer ao construtor produtos que tenham FDES, conforme a norma NF P01-010 ou PEP, conforme as normas ISO 14025 e ISO 14040.
•
10 produtos com uma FDES e de preferência pelo menos um produto de cada família da base INIES, devem ser selecionados pelo construtor para: Estrutura/ Alvenaria/ Alicerces/ Carpintaria; Fachadas; Cobertura/
Nota 3
Impermeabilização; Marcenaria Interna e Externa / Encerramentos; Isolamento; Particionamento / tectos falsos; Revestimentos de pisos e de paredes / Pintura / Produtos decorativos; Produtos de preparação e implementação; Equipamentos sanitários;
Nota 5
•
Pelo menos dois equipamentos de tipo electrico ou dois equipamentos de climatização,
•
que tenham um PEP devem ser selecionados pelo construtor O construtor faz um cálculo de PEB - Desempenho Ambiental do Edifício a partir dum protótipo de um software INIES, Team Building,...
2 - Materais Renováveis 2.1 - Volume de madeira utilizado Estão actualmente definidos como materiais ecológicos os de origem biológica como a madeira, linho, lã de ovelha, palha,etc. Porém, na certificação está estudado particularmente o uso da madeira, de acordo com o decreto de 2005 que obriga a um uso mínimo deste material. O decreto de 13 de Setembro de 2010 fornece o método para o cálculo do volume de madeira.
65
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
2.2 - Gestão Florestal Sustentável Gestão florestal sustentável significa que a exploração da floresta é feita de modo a preservar a sua biodiversividade, a sua produtividade, a sua capacidade de regeneração, a sua capacidade de satisfazer agora e no futuro, as funções ecológicas, económicas e sociais pertinentes. •
Deve ser especificado que toda a madeira usada deverá ser de florestas tropicais14 certificadas ecologicamente (Florestas certificadas ecologicamente: a certificação ecológica das florestas oferece a garantia aos consumidores que a madeira utilizada vem
Nota 4
de florestas geridas sustentavelmente. Esta preocupação resultou na criação do “Pan European Forest Certification Council” (Conselho Europeu de Certificação Florestal)
Nota 5
•
que emite o rótulo PEFC.) ou de florestas temperadas15 Deve ser especificado que toda a madeira utilizada vem de florestas certificadas ecologicamente
2.3 - Transporte dos Materiais
Nota 5
•
O construtor fornecerá à CERQUAL um plano das medidas tomadas para estimar e optimizar o transporte.
14 - Florestas tropicais: encontram-se em regiões com temperaturas altas: África, América Central, América do Sul, Ásia e regiões da Oceania. Os índices pluviométricos são elevados, com médias de 130cm. A sua fauna e flora é bastante mais diversificada que a das florestas temperadas. 15 - Florestas temperadas: encontram-se nas regiões situadas entre os pólos e os trópicos, característica das zonas temperadas húmidas e abrange o oeste e centro da Europa, leste da Ásia e o leste dos Estados Unidos. As temperaturas médias anuais são moderadas e as quatro estações do ano encontram-se bem definidas. Os índices pluviométricos atingem médias entre 75 a 100cm.
66
Capítulo III
2.4 - Tratamento e preservação da madeira Deve ser especificado: Nota 3
Nota 5
•
A durabilidade da madeira (conforme as normas NF EN 350-2 e EN 351-1)
•
No caso de tratamento, deve ser feito por um produto biocida de acordo com a directiva
•
98/8/CE No caso de tratamento, não se utilizam substâncias activas ou a madeira é tratada com o rótulo CTB B+ ou CTB P+
Avaliação Parte 2 Nota 3 Nota 4 Nota 5
•
todos os critérios analisados tiveram pelo menos nota 3
•
todos os critérios obtiveram pelo menos nota 3 e dois critérios obtiveram nota 4 ou 5, sendo o ponto 2.2 obrigatório
•
todos os critérios analisados tiveram nota 5
Avaliação da Rúbrica Nota 3
•
As duas partes obtiveram pelo menos nota 3
Nota 4
•
A primeira parte obteve nota 3 e a segunda obteve pelo menos nota 4
Nota 5
•
As duas partes obtiveram nota 5
67
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
DURABILIDADE DA FACHADA E COBERTURA
Esta rúbrica avalia a durabilidade do invólucro do edifício de acordo com a sua vida média, a frequência da manutenção e o custo de reparação e substituição. O invólucro compreende todas as partes exteriores do edifício, como o reboco, isolamento, revestimento, elementos de sombreamento, portas de garagem, vedação e cobertura. Para se obter a previsão destes três pontos é necessário calcular as características de cada material utilizado no exterior da obra em relação ao tema desejado, fazer o somatório dos resultados de todos os materiais e fazer a sua média. 1 - Durabilidade (DV) O cálculo é feito através da média aritemética: Durabilidade média= i Si x DVi /
i Si
2 - Frequência da manuntenção O cálculo é feito através da média aritemética: Frequência média = i Si x Fri / i Si
Si: superfície de um elemento DVi: Durabilidade de um elemento Fri: frequência de manuntenção de um elemento Ci: coeficiente de ponderação
3 - Custo de manuntenção e substituição
Ni: coeficiente dos custos actualizados de manutenção e substituição de cada elemento
O cálculo é feito através da média aritemética:
Nthi: coeficiente do custo médio actual de
Custo teórico = i Ci x Si x Nthi manuntenção e substituição de produtos que tenham sido indicados, para cada família de produtos Custo do projecto = i Ci x Si x Ni
68
Capítulo III
Avaliação da Rúbrica
Nível III: DV médio ≥ 35 anos Fr médio ≥ 10 anos Nível II: Ou DV médio ≥ 35 anos e Fr médio < 10 anos ou DV médio < 35 anos e Fr médio ≥ 10 anos; Nível I: DV médio < 35 anos Fr médio < 10 anos
frequência média
10 anos
durabilidade média
I
II
III
Custo projecto > Custo teórico
Nota 1
Nota 1
Nota 3
Custo projecto < Custo teórico
Nota 1
Nota 4
Nota 5
69
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
GESTÃO DA ÁGUA
Esta rúbrica diz respeito à gestão das águas pluviais, da água potável e da água quente sanitária e está dividida em oito partes. São feitas, em cada parte, diversas exigências que têm como fim economizar o máximo possível de água.
1- Águas pluviais Pretende-se incentivar o uso da água pluvial em casos que não se necessite de água potável. Nota 3 Nota 4
•
Estudo de viablidade técnico-económica da instalação de um sistema de recuperação de
•
águas pluviais. Existência de um sistema de recuperação de águas pluviais e reutilização das mesmas nas casas-de-banho (será colocada uma sinalética que distinga esta água da potável)
Nota 5
ou •
Existência de um sistema de recuperação de águas pluviais e instalação de uma entrada da mesma perto do local do lava-louças (será colocada uma sinalética que distinga esta água da potável).
2 - Economia de água 2.1 - Contagem •
Um contador de água principal é instalado em cada edifício.
•
Em caso de presença de um purificador da água, é necessário prever um contador par-
Nota 3
Nota 5
ticular. •
Em caso de presença de rega automática, é instalado um contador separado para o cir-
•
cuito de rega. Cumprimento dos requisitos anteriores.
•
Para cada contador será instalado um sistema de leitura à distância.
70
Capítulo III
2.2 Descarga de água • Nota 3
Reservatório de instalação sanitária com um mecanismo 3/6L “dual” (reduz o gasto de água em mais de 18%)
•
Todos os mecanismos (reservatório, torneiras, etc.) devem ter um certificado NF Aparelhos sanitários
2.3 Sistema de rega colectiva Nota 3
•
Sistema centralizado de gestão de rega
ou • Nota 5
Sistema de rega com programação, dividindo o terreno em zonas distintas, consoante as
necessidades de água dos vários tipos de vegetação; ou •
Sistema de rega com programação, equipado com detectores de chuva ou de humidade
ou •
Sistema de rega com dispositivo de recuperação de águas pluviais
3 - Rede de água 3.1 - Pressão da rede
Nota 3
71
•
Deve ser especificado nas peças escritas o respeito das exigências da DTU 60.1 e a instalação de redutores de pressão NF
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
3.2 Protecção da rede
Nota 3 Nota 5
•
Presença de uma válvula de retenção NF tipo EA (EN 13959) em cada torneira de re-
•
tenção de cada apartamento de fornecimento de água fria e água quente Cumprimento da nota 3
•
Presença de equipamentos sanitários conforme a norma EN 1717
3.3 Torneiras de retenção Nota 3
•
Existe uma torneira (ou válvula de retenção) NF acessível que permite isolar a habitação
Nota 5
•
Existem torneiras NF acessíveis que permitem isolar cada peça húmida
As torneiras de retenção permitem cortar a alimentação de uma só habitação em caso de fugas, danos das águas, intervenção ou reparação da rede de uma habitação.
3.4 Controlo das fugas Nota 3
•
Nota 5
Instalação de um sistema de deteção de fugas de água por edifício
ou •
Uma deteção de fugas é efetuada todos os anos por um profissional
3.5 Qualidade da água • Nota 3
Deve ser especificado no caderno de encargos que a análise da água feita antes da obra será transmitida ao construtor e que será também efectuada uma análise depois das obras.
72
Capítulo III
4 - Produção de água quente sanitária 4.1 - Instalações individuais de produção de água quente Esta secção diz respeito à geração de água quente por combustíveis para as redes quentes individuais e aquecimento individual centralizado. Nota 3 Conjunto de aparelhos sanitários compreende um lava-louça, um lavatório, uma banheira e um chuveiro Conjunto de aparelhos sanitários compreende pelo menos um lava-louça, um lavatório, uma banheira e um chuveiro Conjunto de aparelhos sanitários compreende pelo menos um lava-louça, um lavatório, e duas banheiras (ou uma banheira e dois chuveiros).
D ≥ 12L/min D ≥ 12L/min D ≥ 16L/min
Nota 5 D ≥ 16L/ min D ≥ 20L/ min D ≥ 22L/ min
D: fluxo de água quente sanitária declarada pelo fabricante, expresso em litros por minuto
4.2 Instalações de produção de água quente sanitária (AQS) Instalação coletiva de água quente sanitária
Nota 3
Nota 5
•
Em caso de utilização de um gerador elétrico, este tem a marca NF Eletricidade.
•
Os critérios da tabela “Desempenho dos sistemas de produção de AQS” são respeitados
•
P >Pmin.
Ou •
Existe um cálculo de dimensionamento da instalação de produção de AQS que com-
•
prova a cobertura das necessidades da operação. Em caso de utilização de um gerador elétrico, este tem a marca NF Eletricidade
•
Os critérios da tabela a “Desempenho dos sistemas de produção de AQS” são respeitados
•
P > Pmin x (1.05x (N - 5) /(1000) + 1.1)
P: Performance (desempenho) dos sistemas de produção definido nos documentos de apoio
Aquecimento de água termo-solar com captador não vidrado
73
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
•
O captador (vertical ou horizontal) tem uma assessoria técnica
•
Deve ser fornecido um estudo técnico detalhado da instalação, que realiza o
Nota 3
dimensionamento da produção colectiva de água quente sanitária •
Deve ser feito um estudo térmico segundo a regulamentação
•
Contagem de energia separada
Sistema Separado
Sistema Integrado
Figura 12 - Água Quente Solar Individua
74
Capítulo III
5 Instalações solares de produção de água quente sanitária Os captadores solares devem cumprir um conjunto de pré-requisitos, em relação aos seus selos de qualidade, ao seu posicionamento, etc. Nota 3 Painéis Planos 1,5 m² ≤ Se ≤ 7,5 m² 80 l /m² ≤ Vs /Se ≤110 l/m²
Nota 5 Painéis com tubo de vácuo
Painéis Planos
Painéis com tubo de vácuo 1,5 m² ≤ Se ≤ 7,5
1,5 m² ≤ Se ≤ 7,5 m²
1,5 m² ≤ Se ≤ 7,5 m²
100 l /m²≤ Vs /
45 l / m² ≤ Vs /Se<80 l /
m² 60 l / m²≤ Vs /
Se≤150 l/m²
m²
Se<100 l /m²
Os painéis solares têm a marca NF CESI, Ô Solar, ou equivalente. Quando uma empresa de consultoria responsável pelo projeto do sistema solar está presente, esta deve possuir a certificação OPQIBI n º 2010 O instalador do sistema de produção de água quente solar tem a designação Qualisol, tem a certificação Qualibat 8211, ou equivalente.
Painel Plano: A cobertura em vidro absorve a radiação solar, A temperatura da placa aumenta e transfere-se energia sob a forma de calor para os tubos com o fluido que se encontra por baixo, até haver um equilíbrio térmico entre o metal e o fluido no interior dos tubos de cobre. Ao passar no seu interior, o fluido aquece a água no interior do depósito com a água da rede. Painel com tubo de vácuo: o sistema consiste num tubo de vidro de parede dupla com vácuo entre elas, um tubo de cobre e um duto de calor dentro do tubo de vidro. O cobre conduz o calor até à câmara de irridiação, ligada ao cabeçote, onde circula até a água ser aquecida. Estes paineis são mais caros mas também mais eficientes, especialmente em países com temperaturas baixas.
75
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Back-up eléctrico Para os sistemas de aquecimento de água individuais electro-solares, a capacidade mínima exprime-se pelo Ves40 (volume de água quente a 40ºC de máxima produzido apenas com o suporte eléctrico.) em função da tipologia da habitação: Nota 3 Tipologia
Estúdio
T2
T3
T4
T5 ou sup.
Ves40
150
225
300
375
450
Figura 13 - Sistema Solar Combinado
76
Capítulo III
Sistema Solar combinado (SSC) Associa o aquecimento da habitação ao aquecimento da água. É constituído por paineis solares térmicos e uma reserva de água quente. Existe um gerador de apoio em caso de fraca luz solar. Prérequisitos em relação aos painéis •
O SSC tem a marca Ô Solaire;
•
O departamento de estudos da conceção da instalação solar tem a certificação OPQIBI nº2010, Certificação Qualibat 8212, ou equivalente;
•
O instalador do sistema de produção solar de água quente tem a marca Qualicombi, certicação Qualibat 8212, ou equivalente;
• Nota 3
O sistema de back-up deve ser dimensionado de maneira a assegurar todas as necessidades em caso de falha do sistema solar;
•
É feita uma nota de dimensionamento da instalação do SSC para o dossier “Mercado”, contendo, entre outros, os seguintes elementos: - a descrição dos equipamentos de produção e distribuição de água quente sanitária; - a descrição da implantação dos equipamentos solares; - a nota do dimensionamento da instalação com base num cálculo tipo SOLO, SIMSOL,
Nota 5
•
TRANSOL ou equivalente. Cumprimento dos requisitos anteriores, mais:
•
Presença de sistemas SSC compactos pré-fabricados
Aquecimento solar de água colectivo Figura 14 - Água Quente Solar Coletiva
77
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Pré-requisitos sobre os painéis solares •
É feita uma nota de dimensionamento da instalação do SSC para o dossier “Mercado”, contendo, entre outros, os seguintes elementos: a descrição dos equipamentos de produção e distribuição de água quente sanitária; a descrição da implantação dos equipamentos solares; a nota do dimensionamento da instalação com base num cálculo tipo SOLO, SIMSOL,
Nota 3
TRASOL ou equivalente. •
O gabinete de estudos encarregado da concepção da instalação solar deve ter a certificação OPQIBI nº2010 ou equivalente.
•
O instalador do sistema de produção de água quente deve ter a certificação Qualibat 8213 ou equivalente
•
A contagem de energia é separada por back-up e solar.
6 - Distribuição de água quente •
A rede deverá ser mantida com um isolante de pelo menos classe 2 segundo a regulamentação térmica de 2005.
Nota 3
•
A distância entre o ponto de produção de água quente e cada equipamento sanitário alimentado pela mesma deve ser inferior ou igual a 10 metros
•
Este valor aumenta 3 metros se o equipamento sanitário está situado a um nível
•
diferente do posto de produção Cumprimento dos requisitos da nota 3,mais:
•
Apresentação do cálculo de dimensionamento da distribuição colectiva de águ quente, com o diâmetro das canalizações em função do fluxo, as velocidades de
Nota 5
circulação, etc. •
A distância entre o ponto de produção de água quente e cada equipamento sanitário alimentado pela mesma deve ser inferior ou igual a 6 metros.
78
Capítulo III
7 - Nível do equipamento
Nota 3
Nota 4
Nota 5
Equipamentos de base Estúdio ou T2
Equipamentos de base*
Espaço para a posterior instalação de
Equipamento de conforto
equipamentos de conforto. Equipamentos de base T3
Equipamentos de base
Equipamentos de base
Espaço para a posterior instalação Equipamento de conforto de equipamentos de conforto. Equipamentos de base
Espaço para a posterior Espaço para a posterior instalação T4
T5
instalação de
de
equipamentos de
equipamentos de conforto.
conforto.
Um dispositivo adicional.
Equipamento de
Equipamento de conforto
conforto**
Um dispositivo adicional.
Equipamento de T6 e
conforto
superior Uma segunda casa-debanho mínima
Um dispositivo adicional.
Equipamento de conforto Um dispositivo adicional. Uma segunda casa-de-banho mínima ou casa-de-banho completa
Equipamento de conforto Um dispositivo adicional.
Equipamento de conforto Um dispositivo adicional. Uma segunda casa-de-banho Equipamento de conforto Um dispositivo adicional. Uma segunda casa-de-banho mínima Uma segunda casa-de-banho completa
*equipamentos de base: lavatório de cozinha, máquina de lavar a louça, máquina de lavar a roupa, chuveiro, lavatório, sanita. **equipamento conforto: banheira
São também aplicados requerimentos específicos para as residências de estudantes, para as dimensões dos equipamentos sanitários e para os revestimentos especiais.
79
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Avaliação da rúbrica
Nota 3
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 3
Nota 4
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 3 , e quatro deles tiveram nota 5
Nota 5
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 3 , e seis deles tiveram nota 5
80
Capítulo III
ACÚSTICA EXTERIOR
Esta secção tem como objetivo avaliar os isolamentos dos elementos do invólucro do edifício - fachadas, coberturas, varandas e terraços - e cozinhas de cada apartamento. É calculado o nível de isolamento, através das espessuras, áreas e caraterísticas dos materiais usados e são depois comparados os resultados com os níveis exigidos por lei e pela Qualitel. No referencial da Qualitel são explicados os procedimentos para se efetuar os cálculos, identificando os vários tipos de trasmissão e os coeficientes de cada material e são também fornecidos exemplos de boas práticas de isolamento, para auxiliar o projetista. 1- Determinação dos isolamentos necessários DnT, A, tr
Nota 3 e 5
O empreendedor deve justificar os valores de isolamento acústico mínimos das salas principais e cozinhas contra o ruído das infra-estruturas vizinhas.
2 - Comparação dos isolamentos calculados com os isolamentos requeridos 30 ≤ DnT,A,trrequerido ≤ 40 dB
41 ≤ DnT,A,trrequerido ≤ 45 dB
Nota 3
DnT,A,trcalculado ≥ DnT,A,trrequerido
DnT,A,trcalculado ≥ DnT,A,trrequerido
Nota 5
DnT,A,trcalculado ≥ DnT,A,trrequerido+ 5 dB
-
DnT, A, tr: Representa o isolamento global de um local em relação à caractéristica do exterior para uma duração de reverberação igual a 0,5s em todas as frequências.
Avaliação da rúbrica Nota 3
Os critérios dos pontos 1 e 2 tiveram nota 3
Nota 5
Os critérios dos pontos 1 e 2 tiveram nota 5
81
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
ACÚSTICA INTERIOR
Esta rúbrica avalia os níveis de ruído dos equipamentos de cada apartamento. Divide-se em seis partes, avaliando-se desde o isolamento até à produção de ruído, através de métodos de cálculo fornecidos no referencial da Qualitel. São aqui respeitados os regulamentos do decreto de 30 de Junho de 1999 que define as caraterísticas acústicas mínimas dos edifícios de habitação, para construção nova.
1 - Ruído aéreo de um apartamento proveniente de outros locais do edifício A avaliação é feita calculando o nível de DnT,A (isolamento do local em relação ao exterior por um tempo de reverberação igual a 0.5s em todas as frequências) consoante a natureza do local de emissão (apartamento, circulação comum, garagem, etc.) e o local de recepção.
2 - Ruído de impacto A avaliação é feita calculando o nível de L’nT, w (nível de pressão do ruído expresso em dB, para uma duração de reverberação de 0,5s em todas as frequências) nos principais espaços do apartamento, consoante a natureza do local de emissão.
3 - Ruído dos equipamentos individuais de aquecimento e climatização do próprio apartamento A avaliação é feita relacionando o nível de LnAT (nível de pressão acústica normalizada para uma duração de reverberação de 0,5s em todas as frequências), com a natureza do equipamento que emite o ruído e a natureza do local de recepção do apartamento em causa.
82
Capítulo III
4 - Ruído dos equipamentos individuais e colectivos Trata-se do ruído provocado por equipamentos individuais e coletivos como canalizações, elevadores, transformadores elétricos, portas automáticas, aparelhos de ar condicionado, entre outros. A avaliação relaciona o LnAT com a natureza do equipamento e o local de recepção.
5 - Tratamento acústico das partes comuns Este ponto avalia a qualidade acústica das circulações comuns, não sendo portanto aplicável a habitações unifamiliares. É calculada a soma das áreas de absorção do ruído em comparação com a área total.
6 - Exigências complementares dos produtos Esta sub-rúbrica trata de exigências complementares aos diversos produtos que cujo desempenho foi avaliado nas anteriores. 6.1 - relatório de exigências acústicas 6.2 - exigências sobre pavimentos flutuantes 6.3 - exigências sobre pavimentos cerâmicos 6.4 - escadas de madeira 6.5 - equipamentos sanitários
Avaliação da Rúbrica Nota 3
Nota 3 ou superior em cada uma das sub-rúbricas
Nota 5
Nota 5 em cada uma das sub-rúbricas
83
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Conforto Visual
O conforto visual diz respeito à entrada de luz natural no apartamento e à qualidade da iluminação artificial. Depende de factores arquitectónicos e técnicos, tais como: • A relação visual entre interior e exterior; • A implantação do edifício e a orientação das fachadas; • A posição e proporção das aberturas; • As perspetivas de pontos de vista para o exterior tendo em conta as particularidades do ambiente (clima, recursos naturais, à luz do local, latitude, etc.); • O nível de iluminação; • A temperatura da cor; • A luminosidade; •A luz solar; • A cor das paredes
Temas de avaliação: 1 Luz natural e relações visuais 2 Iluminação artificial
Avaliação da Rúbrica Nota 3
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 3
Nota 4
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 4
Nota 5
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 5
84
Capítulo III
Espaços Comuns
Esta secção aborda problemas como o armazenamento de lixo colectivo, facilidades para bicicletas e veículos eléctricos ou híbridos recarregáveis, etc. Temas de avaliação: 1 Classificação dos resíduos domésticos 2 Bicicletas 3 Veículos elétricos
Avaliação da Rúbrica Nota 3
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 3
Nota 4
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 4
Nota 5
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 5
85
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Qualidade do Ar Interior
A qualidade do ar da habitação é afetada por: • Poluentes biológicos (como alérgenos e microorganismos) • Contaminantes físicos naturais (como o radônio) • Os compostos orgânicos voláteis • Poluentes resultantes de actividades humanas Temas de avaliação: 1 - Exigências sobre as emissões de poluentes 2 - Ventilação
Avaliação da Rúbrica 2 - Ventilação
1 - Emissões
Nota 3
Nota 4
Nota 5
Nota 3
Nota 3
Nota 3
Nota 4
Nota 4
Nota 4
Nota 4
Nota 4
Nota 5
Nota 4
Nota 5
Nota 5
86
Capítulo III
TÉRMICA DE VERÃO
Esta secção tem como objetivo avaliar a capacidade do edifício para conservar uma temperatura de conforto durante os período sde temperatura alta no exterior. O estudo apoia-se na lei de 24 de Maio de 2006 e nas regras Th-S para o cálculo dos factores solares e nas regras Th-I para o cálculo da inércia. No refencial Qualitel encontram-se tabelas para se calcular a inércia térmica do edifício, os valores solares das janelas e são definidos as categorias CE1 e CE2, as classes de exposição das janelas, as zonas climáticas e as altitudes, entre outras definições.
1 - Avaliação do Conforto Térmico de Verão Nota 3
Apresentação do estudo térmico com as características do edifício, dos vãos, cálculo da inércia do edifício e demostração que Tic ≤ Ticréf Em locais de dormir e de estar de categoria CE1, respeita-se que Sw ≤SW nota 3 Para os apartamentos de categoria CE2 não sujeitos às exigências de conforto de Verão da lei, é necessário verificar nas partes principais que Sw < 0,21 com a presença de proteções solares
Nota 5
exteriores, em qualquer orientação. Respeito da nota 3 Em locais de dormir e de estar de categoria CE1, respeita-se que w ≤ SQ nota 5
* As categorias dizem respeito à zona climática onde o edifício se insere
Avaliação da Rúbrica Nota 3
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 3
Nota 5
Todas os critérios avaliados tiveram pelo menos nota 5
87
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
INFORMAÇÃO AOS HABITANTES - Opcional
Pretende-se aqui informar os utilizadores do edifício sobre as características de sustentabilidade em comparação com um edifício comum e as vantagens que isso acarreta, informar sobre boas práticas ambientais em função do tipo de construção e informar sobre boas práticas do dia-a-dia não relacionadas com o tipo de construção. Características ambientais do edifício •
Água - sistemas de contagem, de recuperação de águas pluviais, de rega, de proteção da água potável,etc.
•
Energias renováveis - painéis solares, biomassa, geotérmica, etc. para aquecimento de água e produção de energia elétrica
•
Eletricidade - sistemas de economia de consumos
•
Ar - sistemas de ventilação adaptados a cada tipo de espaço
•
Poluição eletromagnética - dispositivos de diminuição dos campos eletromagnéticos
•
Lixo - dispositivos adaptados à triagem dos resíduos domésticos
Boas práticas dos moradores •
Ar - não obstruir e limpar as peças acessíveis das saídas de ar, mudar o filtro de ar nos prazos aconselhados, evitar fumar dentro da habitação;
•
Aquecimento e ar condicionado - fornecimento das fichas descritivas dos equipamentos
•
Energia - uso de lâmpadas de baixo consumo, enfatizar a contribuição da luz natural, verificar a classificação energética dos equipamentos antes da sua compra, etc.
•
Ruído - redução do ruído dentro dos apartamentos.
•
Água - controlar os consumos de água, reparar imediatamente o aparelho quando se verifica uma pequena
fuga, evitar deixar água a correr desnecessariamente nas tarefas diárias, sistema de
autoclismo dual; •
Poluição eletromagnética - evitar o uso de lâmpadas fluorescentes, desligar os aparelhos elétricos quando não estão em uso, previligiar os aparelhos que geram o mínimo campo magnético possível;
•
Lixo - fazer a separação de todo o lixo produzido, preferir a compra de produtos certificados ambientais, ter em atenção o depósito de produtos particularmente tóxicos como pilhas, carregadores, etc.
88
Capítulo III
ACESSIBILIDADE - Opcional
Esta rúbrica avalia a capacidade do edifício de se adaptar a possíveis dificuldades motoras dos utilizadores, tratando desde a entrada do edifício até pormenores de mobiliário. 1 - Acessibilidade do edifício 1.1 - Partes comuns exteriores: medidas mínimas das rampas, das escadas e dos corredores. 1.2 - Partes comuns interiores: medidas mínimas das rampas, das escadas e dos corredores. 1.3 - Estacionamento: número de lugares para utilizadores com mobilidade condicionada. 2 - Acessibilidade aos apartamentos: as cozinhas não têm equipamento fixo debaixo das janelas, casa-debanho com equipamento adaptado a utilizadores com mobilidade condicionada, a porta da casa-de-banho devem abrir para o exterior da mesma. 3 - Habitabilidade dos espaços colectivos e privados: São atribuídos pontos, para os vários sub-temas, quando são cumpridas certas exigências, tais como: 3.1 - Equipamentos coletivos: deve existir um espaço com pelo menos 1,50m em frente às caixas de correio, as portas das garagens devem ser de abertura automática, as entradas dos edifícios devem ser iluminadas. 3.1 - Equipamentos privados 3.1.1- Aquecimento e canalização: nível de ergonomia dos equipamentos (sanita,banheira,chuveiro e lavatório), banheira e chuveiro equipado com controles termostáticos NF; 3.1.2 - Carpintaria interior: disposições para posterior fixação de corrimões de apoio, medidas mínimas para os armários; 3.1.3 - Equipamentos elétricos: os interruptores são equipados com um dispositivo que lhes permite ser visíveis à noite, presença de detetores de fumo; 3.1.4 - Casa-de-banho: base de chuveiro ou banheira com antiderrapante, barra de suporte e assento com altura regulável; 3.1.5 - Carpintaria exterior: as janelas estão 0,60m acima do solo, as janelas são certificadas, persianas com controlo elétrico; 3.1.6 - Diversos: ausência de brilho na pintura das paredes, etc.
89
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Custo Global - Opcional
O custo global de um edifício inclui os custos de projecto, custos de construção, custos de utilização e custos na demolição. Esta secção permite comparar os resultados económicos de soluções diversas, facilitando as escolhas do construtor. 1 - Metodologia de análise do custo global Por cada tema devem ser comparadas, pelo menos, duas alternativas, utilizando-se para todas os mesmos critérios. Toma-se aqui o exemplo de dois tipos de revestimentos, alcatifa e cerâmica. Tempo de Custo
retorno sobre o
Saúde
Conforto
investimento
Produção de
Decisão do
resíduos
construtor
Alcatifa
79 € / k
-
0
1
3 m3 => 0
Cerâmica
65 € / k
5 anos
1
0
1,5 m => 1
Cerâmica
2 - Processo de auditoria A CERQUAL controla o processo dos estudos do custo global. Existem duas visitas obrigatórias onde se controla progressivamente: os estudos iniciais, o resumo dos estudos avançados, os estudos avançados detalhados e os estudos de projecto
90
Capítulo III
ECONOMIA DE CUSTOS - Opcional
O estudo da economia de custos baseia-se na avaliação das características da construção, considerando-se um estilo de vida padrão, em termos de consumos de água e eletricidade, gestão das partes comuns e manutenção dos equipamentos.
1.1 - Requisitos mínimos em relação a: aquecimento da água quente, água fria, consumo de eletricidade das partes comuns, manuntenção dos elevadores, sistema de ventilação, limpeza. 1.2 - Requisitos suplementares em relação a: consumo de eletricidade das partes comusn e limpeza 1.3 - Cálculo: aplicação do método de cálculo da CERQUAL e identificação dos equipamentos com custos de manuntenção específicos.
Valor da E.C.
91
Nota 1
Nota 3
Nota 4
Nota 5
EC<5%
5% ≤ EC < 10%
10% ≤ EC ≤ 14%
14% ≤ EC
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Indicadores - Opcional
Esta secção opcional assegura a coerência dos cálculos dos indicadores de desempenho ambiental do edifício. O objectivo é familizar o construtor com estes indicadores (provavelmente obrigatórios a curto prazo), permitindo recolher dados para prever a futura etiqueta ambiental. Existem quatro indicadores principais que são estudados durante a globalidade do ciclo de vida do edifício: •
Energia primária não renovável (kWh)
•
Mudanças climáticas
•
Água
•
Lixo
Desempenho - Opcional A opção de desempenho é atribuída a uma operação que vai além dos requisitos mínimos para a certificação na maioria dos campos. Reflete a procura de um desempenho térmico optimizado, um maior conforto e uma cuidada atenção pelo meio ambiente.
92
Capítulo III
CONSIDERAÇÕES
Após a observação do manual técnico da Associação Qualitel referente às certificações H&Q - Habitat & Environnment e Qualitel, podem-se retirar algumas conclusões sobre a sua metodologia. A avaliação é feita por uma empresa filial da Qualitel, a CERQUAL, composta por especialistas de várias áreas que analisam os dados fornecidos no caderno de encargos e que realizam, no mínimo, duas vistorias à obra. As exigências englobam três vertentes diferentes: as regulamentações legais existentes, garantindo o seu cumprimento, outros certificados voluntários, como por exemplo as garantias de qualidade dos materiais construtivos ou dos equipamentos, e as exigências adicionais da Qualitel, que abragem vários detalhes que contribuem para um projeto mais sustentável. Quando se pretende submeter um edifício a esta avaliação é vantajoso para o arquiteto/ construtor que isso aconteça desde o início da fase projetual, para melhor se adaptarem as soluções técnicas à forma arquitetónica, apesar de existir flexibilidade para possíveis (e bastante prováveis) modificações ao longo do processo de conceção. A certificação não se limita a avaliar o resultado final do edifício, mas é um instrumento prático e pedagógico nos momentos de tomadas de decisões, e essa é certamente uma das suas características mais interessantes. No caso da certificação H&E, são atribuídos também pontos pela baixa poluição durante a fase de construção da obra, o que reforça a sua presença antes do edifício concluído. Na atribuição das notas verifica-se um grau elevado de exigência, já que uma nota baixa leva automaticamente a que a nota global da secção baixe e, pelo contrário, para se dar a nota máxima todos os critérios dessa secção têm de ter nota máxima. Como consequência, observa-se na tabela de distribuição das notas das várias categorias nos últimos dez anos, que a nota mínima é atribuída na maioria dos casos. O resultado final é apresentado com as diferentes notas de cada secção, (ao contrário da maioria dos sistemas de certificação que atribuem uma nota para todo o projeto), apoiando a filosofia de que a informação clara e consistente aos utilizadores é essencial para um desenvolvimento sustentável. São incluídos na avaliação os três campos da arquitectura sustentável: social, económico e ambiental. O primeiro está presente desde a escolha e análise do local de implantação do edificio, onde se tem em conta as condicionantes da zona e as necessidades e aspirações dos seus habitantes, até questões essenciais na arquitectura como o conforto e a facilidade de uso da construção para todo o tipo de utilizadores.
93
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
O factor ambiental é, obviamente, tema central na certificação e, dada a amplitude do conceito, está contido em grande parte dos pontos do manual, desde a fase de concepção do projeto, ao tipo de materiais e processos tecnológicos escolhidos, até à tentativa de criação de certos hábitos nos habitantes, como o uso de veículos “verdes”. O campo económico é tido em conta na escolha dos materiais e métodos constructivos, embora não seja um fator decisivo. É, por outro lado, considerado aprofundadamente nos gastos de utilização do edifício, sendo certo que a sua eficiência em termos de consumos e necessidade de manuntenção compensará, a médio prazo, o dinheiro investido inicialmente e aumentará a satisfação dos habitantes do edifício. Como refere o arquiteto Hubert de Folmont no nosso questionário, existe ainda alguma falta de flexibilidade da certificação em adaptar-se a soluções que divergem dos sistemas que foram estudados. Deveria, por exemplo, ser criada uma tabela de ponderação para um qualquer novo método ou sistema com base nos gastos da sua produção (poluição, gasto energético,..), implementação no projeto (custo financeiro, transporte, tempo e energia gastos na instalação,..) e benefícios a médio e longo prazo (qualidade efectiva, redução de emissões de gases poluentes, reduçaõ dos gastos de utilizaçaõ, redução dos gastos de manutenção,..). Concluindo, a certificação da Associação Qualitel abrange um grande conjunto de elementos das várias fases do projeto arquitetónico, fornecendo a informação relevante sobre as várias opções favoráveis ao seu bom desempenho, para, seguidamente, avaliar, de forma exigente, as escolhas tomadas e os seus resultados. Peca ainda por alguma falta de actualização ou adaptação a novas soluções sustentáveis, que são atualmente desenvolvidas de forma extremamente rápida.
94
C A P ร T U LO I V Anรกlise dos Casos de Estudo
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
96
Capítulo IV
4.1 Apresentação dos Casos de Estudo
Após a exposição e reflexão sobre o teor do manual técnico das certificações Qualitel e Habitat & Environment, é pertinente analisar os seus resultados práticos, onde a sua eficácia foi testada. Irei, de seguida, apresentar dez exemplos de edifícios de habitação novos que foram aos quais foi atribuído a certificação da Associação Qualitel. Trata-se de uma amostra reduzida, num universo de quase 200.000 edifícios certificados por ano, mas que pretende ilustrar a diversidade de soluções, abragendo diversos tipos de arquitetos, de locazalição, de dimensão e de orçamento de projeto. É descrito em cada edifício o programa, a integração no contexto, a composição das fachadas, a organização interior e as medidas de sustentabilidade que foram aplicadas. Pretende-se extrair ilações sobre os efeitos destas certificações sobre o desenho arquitetónica, procurando responder-se às questões relacionadas com o cumprimentos dos seus requisitos ambientais: se conduzem a uma arquitetura estandardizada, se limitam o campo de ação do arquiteto e se é possível criar uma arquitetura interessante e eficaz independentemente da certificação. Tem-se como principal objetivo descobrir em que medida estes sistemas de avalição ambiental são úteis para o resultado final (do ponto de vista da utilização, da arquitetura, da sustentabilidade, etc.) e eventualmente sugerir possíveis melhorias e complementações para a sua metodologia ou para a forma do arquiteto a praticar.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 14 planta do piso tipo
Figura 15 corte longitudinal
Figura 16 corte transversal Figura 17 detalhe construtivo
Figura 18 vista fotográfica da fachada principal
Figura 19 vista fotográfica da fachada secundária
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Capítulo IV
Caso de estudo 1 - Edifício Louis Blanc
Arquiteto: Emmanuel Combarel, Dominique Marrec Programa: 17 apartamentos Localização: Rua Louis Blanc, 45, Paris Data: 2004-2006 Tipo de certificação: Qualitel HPE 2000 e Habitat & Environnement
Este edifício de habitação social, construído na rua Louis Blanc, em Paris, surge no seguimento das políticas estabelecidas em 1998 para o mercado imobiliário da cidade. No terreno de 550m2, o pequeno volume que lá se encontrava, em ruínas, é substituído por um edifício composto por 17 apartamentos. No interior, o edifício trabalha bastante com medidas mínimas, que se tornam pouco funcionais em alguns pontos, sendo esse um dos aspetos mais negativos desta obra. Há, ainda assim, a vontade de criar alguma flexibilidade nos apartamentos. São oferecidas várias tipologias, desde T1 a T4, com variações dentro da mesma. Por exemplo, existem apartamentos com um espaço indefinido, que pode ter o uso que o morador deseje (escritório, quarto de dormir, ou outro). A relação entre cozinha e sala de estar também varia, sendo nalguns casos completamente aberta. A fachada principal respeita o alinhamento existente, porém cria um contraste com os edifícios vizinhos pela disposição irregular das janelas e pelo revestimento de painéis brancos translúcidos. Uma das suas principais características é o estacionamento no piso térreo, aberto para a rua através duma fachada envidraçada, mostrando os seus pilares inclinados pintados de verde, como se dum jardim se tratasse. A preferência por esta solução, em vez do tradicional estacionamento subterrâneo, é justificada por motivos económicos e ambientais: a construção à superfície tem um custo e um tempo de execução muito menores, ao mesmo tempo que se reduz a ventilação e iluminação artificial e se ganha espaço útil com a supressão da rampa de acesso. O projeto apresenta várias preocupações em reduzir o seu impacto ambiental, como a aplicação de um sistema higro-regulável de ventilação e isolamento exterior reforçado.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 20 planta do piso tipo
Figura 21 corte transversal
Figura 22 corte longitudinal
Figura 23 vista do exterior
Figura 24 vista do interior
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Capítulo IV
Caso de estudo 2 - Herold Social Housing
Arquiteto: Jakob + Macfarlane Programa: Habitação e comércio Localização: Paris Data: Concurso 2003/ Licenciamento 2008 Tipo de certificação: Habitat & Environnement, perfil C
O atelier Jakob+Macfarlane, projetou este conjunto de três edifícios de habitação e comércio, em Paris, no local do antigo hospital Herold. A área total é de 6.600 m2. O piso térreo destina-se a lojas e apartamentos adaptados a deficientes motores, enquanto que em cima se elevam cinco pisos com 100 apartamentos. Os edifícios apresentam uma forma irregular, dando um caráter dinâmico e orgânico às fachadas. Os três volumes são interligados por espaços públicos exteriores e vários percursos sinuosos. Esta abordagem formal é justificada pelo facto de certas áreas do terreno serem protegidas, não se podendo construir nelas nem eliminar a vegetação existente. São abrangidas diversas tipologias (T0, T1, T2 e T4) e modos de distribuição dos espaços interiores, sendo que a diversidade provocada pelo desenho fragmentado do edifício que, por vezes, é interessante, noutros pontos, cria espaços de dificil utilização. O desenho teve em conta uma série de preocupações de sustentabilidade, como o uso de painéis solares que produzem cerca de 65% da água quente, e varandas profundas (pelo menos 2m de largura) que controlam a entrada de luz solar em todos os apartamentos e que podem ser utilizadas como jardins de inverno. Considera-se que o projeto é eficaz na forma como relaciona a necessidade de densidade habitacional da cidade com a preservação das caraterísticas da paisagem natural e na forma como tira partido, quer de técnicas e materiais, como, simplesmente, do próprio desenho para ser uma obra sustentável.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 25 planta tipo dos lofts com pátio
Figura 26 planta tipo do piso 1 dos lofts duplex
Figura 27 planta tipo do piso 2 dos lofts duplex
Figura 28 vista fotográfica do pátio
Figura 29 vista fotográfica da rua
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Capítulo IV
Caso de estudo 3 - La Plaine Saint-Dennis
Arquitetos: Simoneau & Hennig Programa: lote 1: 42 apartamentos + 14 lofts; lote 2: 17 apartamentos + 4 moradias Localização:Avenue du Président Wilson, Saint-Denis, Paris Data: 2007; 2008 Tipo de certificação: Habitat & Environnement O projeto situa-se em Paris, entre a avenida Président Saint-Denis e a linha de comboio, em dois lotes onde foram demolidos um armazém e um pequeno prédio de habitação social. A avenida Saint-Denis foi dividida ao meio em 1960, com o atravessamento da autoestrada A1, prejudicando a vida neste território, dedicado às atividades industriais. Em 1998, o paisagista Michel Corajoud propõe suterrar a autoestrada e cobri-la com uma longa zona pedonal ajardinada, com trinta e oito metros de largura, a obra é aprovada e realizada rapidamente. Os arquitetos Jean-Yves Simoneau e Piotr Hennig transportaram o caráter industrial desta zona para a imagem do seu projeto de habitação, adaptando uma estrutura metálica tipo Styltech, e tendo como materiais visíveis na fachada tijolo, aço e vidro. Este projeto está dividido em dois lotes, o primeiro, com 4500m², engloba quarenta e dois apartamentos e catorze lofts e o segundo, com 1800m², contém dezassete apartamentos e quatro moradias. Os apartamentos são duplexes, e abrem-se para um pátio privado ou para um terraço, nos pisos superiores. Na segunda parcela, os pisos superiores são destinados a habitações tipo estúdio. A organização das habitações é bastante funcional, apesar do constrangimento de algumas áreas reduzidas, derivadas da filosofia de economização de custos desta construção. A estética pós-industrial e a inserção de tipologias diversas do apartamento convencional tem como objetivo atrair um público mais jovem e urbano, mas, por outro lado, os espaços exteriores privados e os apartamentos com maior número de quartos (t4,t5) adaptam-se, também, a famílias tradicionais.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 30 planta do piso tipo
Figura 31 planta da implantação
Figura 32 corte transversal
Figura 33 vista fotográfica do exterior
Figura 34 vista fotográfica do interior
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Capítulo IV
Caso de estudo 4 - Arc-en-Ciel
Arquiteto: Bernard Buhler Programa: 40 apartamentos e escritórios Localização: Avenida Emile Counord, Bordéus, França Data: 2010 Tipo de certificação: Qualitel, RT 2005
Projetado por Bernard Buhler, este edifício foi intitulado de Arc-en-Ciel devido à paleta de cores dos painéis verticais que revestem os cinco pisos supeiores. Implanta-se numa zona com uma grande diversidade tipológica e formal, com elementos urbanos como uma linha de comboio, um parque e um centro comercial. No piso térreo, de revestimento metálico, encontram-se os vinte e nove lugares de estacionamento, não havendo, portanto, um contacto muito direto do edifício com a rua e os seus transeuntes. O segundo piso, com fachada completamente envidraçada, acolhe escritórios, numa área de 772m2. Finalmente, o restante do edifício destina-se aos quarenta apartamentos, que somam 3.658m2. A distribuição é feita através de uma galeria exterior, virada a Norte, simétrica à linha de varandas e revestida por painéis de vidro colorido STADIP (vidro composto por duas ou mais chapas de vidro, juntas por um filme plástico transparente). Estes painéis, para além de filtrarem a luz solar, dão um aspeto extremamente gráfico ao edifício, e são, sem dúvida, o que lhe dão um carácter forte e facilmente reconhecivel. Porém, ficam algumas dúvidas em relação ao seu efeito no interior, impondo uma luz colorida aos apartamentos que pode ser saturante. O piso tipo oferece cinco tipologias diferentes, através do jogo de um desenho modular, onde certos elementos mudam de posição de apartamento para apartamento. Há o acesso a uma espaçosa varanda individual, com excepção dos apartamentos que formam o gaveto, onde essa varanda tem uma dimensão mínima. Em 2010, foi-lhe atribuído o primeiro prémio na Agora, bienal de arquitetura, urbanismo e design de Bordéus, na categoria de habitação coletiva.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 35 planta do piso tipo
Figura 36 vista fotográfica sudoeste
Figura 37 vista fotográfica da fachada
Figura 38vista fotográfica da fachada sul
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Capítulo IV
Caso de estudo 5 - Clair de Terre
Arquiteto: R. Ragot, Atelier Arche Programa: 34 apartamentos Localização: Avenida Jean Jaurès, Decines-Charpieu, França Data: 2010 Tipo de certificação: Qualitel BBC effinergie, Habitat & Environnement BBC effinergie
Inserido na pequena cidade de Decines-Charpieu, o projeto Clair de Terre é um edifício de habitação coletiva, dividido em dois blocos de cinco pisos. Numa superfície total de 2.531m2, são inseridos oito T2, doze T3, dez T4 e quatro T5. A fachada é composta por betão armado, perfis de aço e painéis de vidro colorido que tentam atenuar o tom cinzento e o aspeto industrial dos outros materiais. A construção conta com um isolamento exterior de 16 cm de lã de vidro, iluminação natural nos halls de entrada e escadas, detetores de luz para os espaços exteriores e espaços de circulação, sistemas de economia de água, proximidade a transportes públicos, aquecimento de 45% da água solar (através de 61 m² de captadores solares, que reduzem a emissão de CO2 em seis toneladas por ano), proteções solares exteriores e vegetação nas fachadas Sul e Este para um bom conforto de Verão, etc.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 39 esboço do alçado e da planta de implantação
Figura 40 planta tipo do piso térreo
Figura 41 planta tipo do piso superior
Figura 42 ilustração da vista da rua
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Capítulo IV
Caso de estudo 6 - Le Hameau de l’Espérance
Arquiteto: Hubert de Folmont Programa: 10 habitações sociais individuais agrupadas Localização: Avenida Chales de Gaulle, La Brède, França Data: 2010 Tipo de certificação: Qualitel BBC effinergie, RT 2005
Esta obra foi entregue ao arquiteto Hubert de Folmont, cuja filosofia de trabalho é compreender as necessidades humanas e ambientais de cada projeto: “O homem está no coração do seu ambiente, a questão ambiental é então necessária ao coração do projeto.” Trata-se aqui da construção de dez moradias de 87m2 úteis, tipo duplex, com garagem, com a fachada principal orientada a Sul. Para além da certificação Qualitel BBC effinergie e RT 2005, este projeto foi sujeito à operação Aliénor - construção de edifícios sustentáveis - organizada para a região Aquitaine e para a ADEME, em 2007. O desempenho energético é bastante eficiente, e estima-se que leva a uma redução de 250euros anuais em cada habitação. Foi aplicado um isolamento bastante cuidado (12cm de poliestereno expandido nas paredes exteriores, 6cm de lã de vidro nas paredes divisórias). Cada apartamento tem 4m2 de captadores solares e uma reserva de água quente de 300litros. Estimativa de Desempenho em fase de concepção: Critérios
Aliénor
Projeto
≤ 45
28,76
Emissões de gases do Efeito de Estufa [kgCO2/(m2.ano)]
≤ 10
5,9
Conforto visual (para 80% da superfície dos apartamentos)
FLJ 1,5%
3,5%
Tic ≤ 28ºC
25,69
Taxa de inconforto ≤ 8 %
0,7
índice de consumo de aquecimento, água quente e ventilação [kWep/(m2.ano)]
Conforto térmico de Verão (ºC) Conforto térmico anual (zona brager) em %
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 43 planta do piso tipo
Figura 44 vista tridimensional
Figura 46 vista fotográfica do revestimento exterior
Figura 45vista fotográfica da fachada Norte
Figura 47 vista fotográfica do interior
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Capítulo IV
Caso de estudo 7 - ZAC de la Dhuys
Arquiteto: Atelier Tarabusi Programa: Habitação Localização: Clichy-Sous-Bois, França Data: 2011 Tipo de certificação: Qualitel e Habitat & Environnement BBC Effinergie
Este projeto integra-se no plano de requalificação urbana do Plateau de Clichy-Montfermeil, situando-se entre a floresta regional de Bondy e outros complexos de habitação. O atelier de Paolo Tarabusi, C. Thiret e M. del Gaudio, criou aqui três volumes com 4.750 m2 que apresentam várias medidas para melhorar a qualidade ambiental, tais como: instalação de painéis solares nas coberturas, que produz cerca de 40% da água quente, isolamento reforçado, cobertura parcialmente ajardinada, dupla orientação de todos os apartamentos, etc. Uma das principais preocupações dos projetistas foi aproveitar tanto a vista privilegiada para a floresta, como, captar ao máximo a luz solar, para responder às exigências do selo BBC. Assim, no lado sul encontram-se varandas que, na época quente, servem para reduzir o aquecimento do apartamento, e na época fria, podem ser utilizadas como jardins de Inverno. Esta parte caracteriza-se pela simplicidade das linhas construtivas e da rebocagem branca, sem mais nenhum tipo de revestimento, enquadrando-se harmoniosamente com o desenho simples dos edifícios da envolvente. A área de aberturas nas outras fachadas é mais reduzida, evitando grandes mudanças térmicas. Os tons da floresta refletem-se nos painéis deslizantes de alumínio que permitem, quando necessário, o ensombramento total das fachadas Norte e Poente. Como se observa na planta ao lado, os apartamentos representados a azul carecem de uma boa exposição solar, estando a cozinha e a sala de estar orientados a Norte. A organização interior destes apartamentos pode ser também desfavorável pelo facto do acesso à cozinha ser feito apenas através do atravessamento da sala de estar. Os apartamentos T4, representados a verde claro, carecem de, pelo menos, mais uma instalação sanitária, visto que possuem apenas uma casa-de-banho completa. Já os apartamentos T2 e T1 parecem funcionar sem problemas de distribuição.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 48 planta do piso tipo
Figura 49 vista fotográfica das galerias de circulação
Figura 50 vista fotográfica da rua
Figura 51 vista fotográfica do interior
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Capítulo IV
Caso de estudo 8 - Residência Lucie et Raymond Aubrac
Arquiteto: Gemaile Rechak Programa: 32 apartamentos Localização: Rue Robert Branchard, Bezons, França Data: 2011 Tipo de certificação: Qualitel e Habitat & Environnement, Perfil A, THPE
As margens do rio Sena têm sido alvo de vários programas de requalificação, conduzidos pela Agência Nacional de Reabilitação Urbana Francesa (ANRU). Neste contexto, é encomenda a construção de um edifício de habitação social, próxima da futura estação de comboio, ao arquiteto Gemaile Rechak. A obra de 2.550 m2, engloba 32 apartamentos, ligados através de galerias abertas, que criam diversas relações visuais dentro do edifício e para o exterior, e são pontuadas por elementos diversos que lhe conferem mais dinamismo. O arquiteto Rechak teve em conta as preocupações ambientais do cliente, utilizando materiais sustentáveis, um sistema de aquecimento coletivo a gás, suplementado por energia solar para produzir a água quente, uma iluminação artificial de baixo comsumo energético, coberturas verdes, dupla exposição solar de todos os apartamentos e vegetação nos espaços abertos.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 52 planta da implantação
Figura 53 vista fotográfica do exterior
Figura 54 vista fotográfica da fachada
Figura 55 vista fotográfica da rua
Figura 56 vista fotográfica da fachada
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Capítulo IV
Caso de estudo 9 - Le Petit Parc Baillargues
Arquiteto: François Fontes Programa: Habitação Localização: Baillargues Data: 2011 Tipo de certificação: Qualitel BBC effinergie, Habitat & Environnement BBC effinergie
O edifício Petit Parc localiza-se em Baillargues, cidade vizinha de Montpellier, e foi projetado por François Fontes, arquiteto que já trabalhou com Jean Nouvel. É constituído por 51 apartamentos T2, T3 e T4. Apresenta várias características ambientais como coberturas verdes, aquecimento solar da água quente e facilidades de transportes públicos e bicicletas. Houve também a preocupação em adoptar uma orientação que favorecesse a iluminação e a ventilação naturais. No espaço exterior foram plantados vários tipos de árvores, pinheiros mansos, eucaliptos, palmeiras, carvalhos, entre outros, que são regados através de um sistema que recupera as águas fluviais. Para assegurar uma correta gestão da água foram também instalados no interior dos apartamentos sistemas de economização nas casas-de-banho. Embora a fachada revestida por um laminado de madeira acentue a vontade do arquiteto em criar um desenho amigável e em harmonia com a envolvente, há alguma falta de delicadeza no desenho, independentemente das preocupações ambientais, sentida no peso excessivo do volume e na composição pouco equilibrada dos vãos.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Figura 57 planta de cobertura
Figura 58 planta do piso térreo
Figura 59 corte longitudinal
Figura 60 vista fotográfica da estrutura de madeira
Figura 61 vista fotográfica da fachada sul
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Capítulo IV
Caso de estudo 10 - Le Hameau de Ketvilla
Arquiteto: Antoine Fournier Programa: 4 casas uni-familiares Localização: Rue de l’Eglise, Quettreville-sur-Sienne, França Data: 2011 Tipo de certificação: Qualitel BBC effinergie, Habitat & Environnement BBC effinergie
Trata-se do primeiro projeto de moradias sociais com o selo BBC na região da Normandia. Ganhou o primeiro prémio na categoria de habitação individual do Prix Bois 2011. Destaca-se o uso de madeira certificada pela PEFC - Programme de reconnaissance des certifications forestières A intervenção é composta por quatro volumes com coberturas de duas águas e um desenho de fachada bastante simplificado. Três das habitações são da tipologia T3 e contam com um espaço útil de 65m2, enquanto que a outra, de tipologia T4, abrange 80m2 úteis. O interior é composto por espaços com dimensões mínimas, mas bastante bem organizados e que favorecem relações entre si, como a continuidade entre a cozinha e a sala de jantar, e a ligação visual entre o piso superior em mezanine e o piso térreo. O arquiteto Antoine Fournier defende a importância da integração urbana do projeto e afirma que “uma abordagem BBC não gera uma arquitetura estandardizada. (...) Deve-se pensar de forma global, e não apenas do ponto de vista térmico.”
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
4.2 Inquérito aos moradores
Os dados aqui apresentados foram retirados do inquérito realizado pela Qualitel e pela Cerqual de 8 a 20 de Outubro de 2010, aos moradores de edifícios certificados pela marca. À questão se está satisfeito com a qualidade da sua habitação 95% das pessoas interrogadas responderam afirmativamente. De seguida, questionou-se os moradores sobre quais eram os temas com que estão mais satisfeitos na sua habitação. As respostas mais frequentes foram a exposiçaõ solar/ luminosidade e o isolamento térmico, o que coincide com as principais exigências da certificação.
Principais temas de satisfação:
Exposição/ luminosidade Isolamento térmico Situação geográfica A calma A superfície Isolamento acústico A disposição As peças que compõem o edifício Presença de varandas, terraços, jardins A modernidade A qualidade da vizinhança A qualidade de construção O aquecimento A vista sobre o exterior A higiene As partes comuns A estética O aspeto financeiro A segurança O piso Tudo
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Capítulo IV
4.3 Considerações
Após o estudo da metodologia da Associação Qualitel, através da examinação do seu manual técnico, procedi à análise de alguns edifícios certificados pela mesma. A seleção centrou-se em edifícios residenciais multifamiliares, apresentando-se nove casos dessa tipologia, porém, a que se acrescentou ainda um projeto de várias residências unifamiliares. Os edifícios localizam-se em várias regiões de França. Em quase todos os edifícios se reconhece uma preocupação com o aproveitamento da iluminaçaõ e ventilação naturais, através da orientação do edifício e dos elementos que compõem as fachadas. É frequente o uso de painéis de sombreamento para controlar a entrada de luz solar (casos de estudo 3, 4, 7, 8, 9). É de notar que no inquérito aos moradores de edifícios Qualitel, o fator da exposição/ iluminação é o que apresenta um maior grau de satisfação. A escolha dos materiais que revestem exteriormente os edifícios é bastante diversa, o que leva a expressões bastantes distintas, desde a simplicidade do reboco branco (caso de estudo 7), ao caráter industrial dos elementos metálicos (casos de estudo 3 e 5) até ao naturalismo das placas de madeira (casos de estudo 6 e 9) Os sistemas relacionados com o aproveitamento energético não se apresentam como elementos condicionadores do desenho e estão, na maioria dos casos, integrados discretamente na construção. Os painéis solares são muitas vezes utilizados, porém, como são colocados na cobertura a sua presença não é notória, com excepção dos edifícios com menos altura, como é o caso da residência unifamiliar do arquiteto Antoine Fournier (caso de estudo 10). Ainda assim, nesse caso, a opção por uma cobertura de cor cinzento escuro integra bem a presença dos painéis solares. É de salientar a importância que a interação entre os vários intervenientes do projeto (arquiteto, engenheiros, construtores, etc.) tem para se conseguir produzir um edifício ambientalmente correto e arquitetonicamente coerente e interessante.
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CO N C LU S Ã O
CONCLUSÃO
No início deste trabalho foram apresentados os motivos e a evolução das preocupações ambientais, em particular na construção, setor que consome quase metade da energia e dos materiais que são produzidos mundialmente. Constatou-se que, principalmente a partir da década de setenta do século XX, várias medidas foram tomadas, por parte de entidades internacionais e locais, estabelecendo requisitos a ser cumpridos com o fim de reduzir-se o impacto no meio ambiente. A consciência ambiental da população e os requerimentos impostos pelo Governo levaram a uma investigação de fontes de energia alternativas, a uma contenção e reutilização dos resíduos produzidos e à procura de novos materiais menos poluentes que, entre outros fatores, tornaram frequente o uso do termo “arquitetura sustentável”. Embora a prática desta “corrente” arquitetónica tenha crescido consideravelmente, há ainda alguma falta de conhecimento sobre ela por parte dos arquitetos, dos empreendedores imobiliários, dos construtores e dos utilizadores. Como tal, para apoiar a concepção e avaliar o resultado final das obras que tentam aplicar medidas sustentáveis, surgiram certificações da qualidade ambiental na arquitetura. Após o levantamento de várias entidades que emitem estas certificações, foram escolhidas cinco que se consideraram revelantes para o presente estudo. A Qualitel, tendo sido escolhida como aquela que seria estudada mais detalhademente, visto ser das primeiras a ser fundada, contendo uma metodologia já bastante desenvolvida; a BREEAM, fundada no Reino Unido e a LEED dos Estados Unidos por atuarem em diversos países do mundo e contarem já com um número bastante elevado de edifícios certificados, alguns dos quais de arquitetos de renome; a AQUA, por ter como base a certificação Qualitel adaptada a uma localização geográfica e contexto social e económico completamente distintos ; e, por fim, a LiderA, sendo o caso português mais relevante até ao momento. Observou-se que os temas centrais abordados por estas entidades são semelhantes em todas as certificações, com pequenas diferenças do peso respetivo na avaliação final. Por exemplo, a questão da água tem na BREEAM 6%, na LEED 10% e na LiderA 8%. Em relação à metodologia, a Qualitel parece ter uma relação mais próxima e presente durante as várias fases do projeto, incluindo a de concepção, do que as outras. O campo de ação das várias entidades certificadoras é também diverso, já que enquanto a Qualitel é bastante específica, destinando-se apenas a edifícios de habitação, a BREEAM, a LEED e a LiderA tratam quase todo o tipo de tipologias arquitetónicas e a AQUA trata edifícios escolares, hotéis e habitação.
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Seguidamente, realizou-se uma síntese do processo técnico contido na integra no manual técnico da Qualitel e Habitat & Environment, as duas certificações para edifícios novos da Associação Qualitel. O seu método tem em conta a proteção ambiental e a qualidade da construção, fornecendo bases de dados que informam os intervenientes da construção sobre essas temáticas. O trabalho dos projetistas e do promotor imobiliário é, então, acompanhado desde a fase de concepção, permitindo uma análise prévia do desempenho do edifício e eventuais melhorias antes da construção da obra. O método Qualitel aborda, assim, temas tecnológico-construtivos como o conforto acústico, o conforto térmico e o desempenho energético e temas de gestão de projeto e de controlo económico, escolhendo deixar por tratar alguns matérias da construção e da arquitetura, como por exemplo, a funcionalidade dos espaços, e temas que já são regulados de forma eficaz por legislação, tais como a segurança estrutural. Na avaliação final são expressas as classificações, que variam de 1 a 5 pontos, dadas a cada rúbrica, o que permite ao utilizador um conhecimento completo da habitação que vai comprar, podendo, assim, basear a sua escolha com base na qualidade dos aspetos que mais valoriza. A certificação carece ainda, como foi referido no capítulo III, de uma maior capacidade de adaptação a soluções novas, de modo a facilitar a sua avaliação quando tais soluções estão presentes no projeto, e também a promover a sua procura por parte dos promotores imobiliários e dos projetistas. Por último, foram analisados alguns edifícios aos quais foi atribuída a certificação Qualitel ou a certificação Habitat & Environment, entre 2006 e 2011, tendo como objetivo avaliação do seu impacto no resultado arquitetónico. Não foram encontradas provas de que o uso do método da Qualitel cria constrangimentos diretos à arquitetura. O projetista tem, à partida, a capacidade e a obrigação de adaptar os requisitos técnicoconstrutuvos da certificação ao desenho do edifício. A qualidade estética e funcional do projeto apresenta-se, muitas vezes, semelhante à da restante obra do arquiteto encarregue do mesmo. Como tal, não se confirma a ideia de que os edifícios que cumprem uma boa prática ambiental apresentam uma imagem padronizada e sem grande relevância arquitetónica, podendo esta ser, como foi demonstrado, bastante diversificada e com vários pontos de interesse.
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Dada a cada vez maior exigência de qualidade ambiental das construções por parte das entidades governamentais e por parte dos compradores, considera-se que esta área apresenta potencial para o desenvolvimento de trabalho futuro, enumerando-se aqui alguns possíveis temas a explorar: •
aperfeiçoamento de certas rúbricas de avaliação existentes no método Qualitel que estão ainda
pouco aprofundadas e cuja avaliação pode ser mais justa e rigorosa com a adição de novos critérios; •
criação de novas rúbricas de avaliação, como por exemplo, a qualidade da organização dos espaços
ou a integração de novos sistemas e práticas que contribuem para a sustentabilidade do edifício; •
adaptação deste método à situação legislativa, geográfica, social e económica Portuguesa, tendo-se
já como ponto de partida o caso do grupo LiderA. Tal adaptação foi já efetuada no Brasil, pela fundação Vanzolini, com resultados aparentemente positivos; •
simplicação e esclarecimento do processo para eventuais interessados na habitação, de modo a
tornar a informação fornecida mais completa e de fácil compreensão para quem não tem conhecimentos sobre esta área; •
continuação da investigação sobre os resultados práticos das certificações ambientais , através da
análise de novos casos de estudo ou de outras ferramentas.
Finalizando, considera-se que este trabalho atingiui as suas metas no contributo para a compreensão do contexto, da metodologia e dos efeitos das certificações ambientais na construção. Espera-se, ainda, que possa abrirr caminho a novos debates e temas de investigação.
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BIBLIOGRAFIA
CHAUVEAU, Philippe, Construire et Habiter Basse Consommation, Editions PC, 2011 CHAUVEAU, Philippe, Nouvelle Environnement Pour l’Architecture del’Habitat, Editions PC, 2009 COSTA, J.; SOUZA, H.; CUNHA, A.; MAGALHÃES, P.; GUIMARÃES, N. Modelo Integrado de Qualificação de Edifícios, LNEC, 2006 COSTA, J.; Souza, H.; Cunha, A.; Magalhães, P.; Guimarães, N. A Qualificação de Edifícios: Experiências e Metodologias, LNEC, 2006 GAUZIN-MÜLLER, Dominique; FAVET, Nicolas, co-aut. Sustainabe Architecture and Urbanism: Concepts, Technologies, Examples, 2002 GUALLART, Vicente. Self-Sufficient Housing - 1st Advanced Architecture Contest, 2006 Laboratório nacional de engenharia civil. Sustentabilidade ambiental da habitação, LNEC, 2010 FUENTES, Manuel, THOMAS, Stephanie. Ecohouse: a casa ambientalmente sustentável. Porto Alegre: Bookman, 2006 PASCALES, Maes, Labels d’Efficacité Énergétique, Editions Eyrolles, 2009 PINHEIRO, Manuel Duarte, Ambiente e Construção Sustentável. 1 ed. Portugual: Instituto do Ambiente, 2006 RODRIGUES, J. S., O impacto da certificação ISO 9000 na satisfação dos clientes, Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Mestre em Gestão de Empresas, Universidade do Porto, 2000 TÁVORA, Fernando, Da organização do espaço. Porto: FAUP Publicações, 1962 WINES James. Green Architecture. Taschen, 2008
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SÍTIOS
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Arquitetura: Arcosanti. http://www.arcosanti.org/ (acedido pela última vez em Junho de 2012) Auroville. http://www.auroville.org/ (acedido pela última vez em Junho de 2012) Agenda21. http://www.un.org/esa/dsd/agenda21/ (acedido pela última vez em Junho de 2012) Tratado de Quioto. http://unfccc.int/resource/docs/convkp/kpeng.html (acedido pela última vez em Junho de 2012) Medidas da União Europeia. http://ec.europa.eu/policies/environment_consumers_health_pt.htm (acedido pela última vez em Junho de 2012)
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ABREVIATURAS/ ACRÓNIMOS
Abreviatura/ Acrónimo Significado AFNOR
Association Française de Normalisation
Aqua
Alta Qualidade Ambiental
AQS
Água Quente Sanitária
BBC
Bâtiment basse consommation
BEPOS
Bàtiment à Énergie Positive
BREEAM
Building Research Establishment Environmental Assessment Method
CEE
CEE
CEQUAMI
Certification Qualité en Maisons Individuelles
CO2
Dióxido de Carbono
COFRAC
Comité français d’accréditation
CSTB
Centre Scientifique et Technique du Bâtiment
EC
Économe en Charges
EnR
Énergie Renouvelable
GEE
Gases do Efeito de Estufa
HPE
Haute Performance Energétique
HQE
Haute Qualité Environnementale
LEED
Leadership in Energy and Environmental Design
LiderA
Liderar pelo Ambiente
ONU
Organização das Nações Unidas
OPQIBI
Organisme Professionnel de Qualification de l’Ingénierie Bâtiment Industrie
POPE
Programa de Orientações Políticas Energéticas
READ
Renewbable Energias in Architecture and Design
RT
Réglementation thermique
SHE
Safety, Health and Environment
SUREURO
Sustainable Refurbishment Europe
SSC
Sistema Solar Combinado
TEC
Très Économe en Charges
THPE
Très Haute performance énergétique
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ÍNDICE DE IMAGENS
Figura 1 Fonte: Arcology: City in the Image of Man, 1969, p.121 Figura 2 Fonte: maquete apresentada na exposição Babel to Dubai: Urban Utopias Imagem disponível no sítio: http://www.mheu.org/en/timeline/auroville.aspx Figura 3 Fonte: Fotógrafo Nick Leoux Imagem disponível no sítio: http://www.bcj.com/public/projects/project/88.html Figura 4 Fonte: Pietro Russo Imagem disponível no sítio: http://www.archdaily.com/82774/the-ecomo-home-pietro-russo Figura 5 Imagem disponível no sítio: http://www.correiaragazzi.com Figura 6 Fonte: Debbie Frank Imagem disponível no sítio: http://projets-architecte-urbanisme.fr/tour-la-defense-jean-paul-viguier-majunga-coeur-defense Figura 7 Imagem disponível no sítio: http://inhabitat.com/clinton-library-goes-leed-platinum Figura 8 Fonte: Ashley D. Cristal Imagem disponível no sítio: http://www.flickr.com/photos/adcristal/4627815081 Figura 9 Imagem disponível no sítio: http://www.lidera.info/?p=MenuContPage&MenuId=19&ContId=25
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Figura 10 Fonte: Cerqual, Les Tendances Constructives dans les Opérations BBC Effinergie, 2012, p5 Figura 11 adaptado do Manual: Qualitel et Habitat & Environnement, edifícios novos, 2012 , p. 236 Figura 12 adaptado de Manual: Qualitel et Habitat & Environnement, edifícios novos, 2012 , p.237 Figura 13 adaptado de Manual: Qualitel et Habitat & Environnement, edifícios novos, 2012, p.238 Figura 14 Fonte: Emmanuel Combarel Dominique Marrec Architectes, 2006 Imagem disponível no sítio: http://ecdm.eu/?p=177 Figura 15 Fonte: Emmanuel Combarel Dominique Marrec Architectes, 2006 Imagem disponível no sítio: http://ecdm.eu/?p=177 Figura 16 Fonte: Emmanuel Combarel Dominique Marrec Architectes, 2006 Imagem disponível no sítio: http://ecdm.eu/?p=177 Figura 17 Fonte: Emmanuel Combarel Dominique Marrec Architectes, 2006 Imagem disponível no sítio: http://ecdm.eu/?p=177 Figura 18 Fonte: Fotografo Benoit Fougeirol Imagem disponível no sítio: http://www.archdaily.com/17568/louis-blanc-social-housing-ecdm
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Figura 19 Fonte: Fotógrafo Benoit Fougeirol Imagem disponível no sítio: http://www.archdaily.com/17568/louis-blanc-social-housing-ecdm Figura 20 Fonte: Jakob + macfarlane arquitetos Imagem disponível no sítio: http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13303/jakob-macfarlane-herold-social-housing.html Figura 21 Fonte: Jakob + macfarlane arquitetos Imagem disponível no sítio: http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13303/jakob-macfarlane-herold-social-housing.html Figura 22 Fonte: Jakob + macfarlane arquitetos Imagem disponível no sítio: http://www.designboom.com/weblog/cat/9/view/13303/jakob-macfarlane-herold-social-housing.html Figura 23 Fonte: Fotógrafo james Ewing Imagem disponível no sítio: http://www.jakobmacfarlane.com Figura 24 Fonte: Fotógrafo Nicolas Borel Imagem disponível no sítio: http://www.jakobmacfarlane.com Figura 25 Fonte: Simoneau & Hennig Imagem disponível no sítio: http://www.simoneau-hennig.com/projets/logements/la-plaine-saint-denis.html
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Figura 26 Fonte: Simoneau & Hennig Imagem disponível no sítio: http://www.simoneau-hennig.com/projets/logements/la-plaine-saint-denis.html Figura 27 Fonte: Fiche Technique Aliernor 2007: Construction de Logements sociaux perfomants en Aquitaine, 2009 Figura 28 Fonte: Mesolia Habitat, Construire et Habiter Basse Consommation, 2011, p.26 Figura 29 Fonte: Mesolia Habitat, Construire et Habiter Basse Consommation, 2011, p.26 Figura 30 Fonte: Bernard Buhler Arquitetos Imagem disponível no sítio: http://www.bernard-buhler.com/Projets/index.html Figura 31 Fonte: Bernard Buhler Arquitetos Imagem disponível no sítio: http://www.bernard-buhler.com/Projets/index.html Figura 32 Fonte: Bernard Buhler Arquitetos Imagem disponível no sítio: http://www.bernard-buhler.com/Projets/index.html Figura 33 Fonte: Fotógrafo KDC Imagem disponível no sítio: http://architizer.tumblr.com/post/4210084178/arc-en-ciel-by-bernard-buhler Figura 34 Fonte: Bernard Buhler Arquitetos Imagem disponível no sítio: http://www.bernard-buhler.com/Projets/index.html
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Figura 35 Fonte: Atelier Arche, Construire et Habiter Basse Consommation, 2011, p.52 Figura 36 Fonte: Le Clair de Terre à Décines, 34 logements BBC. Livraison 2010, p.1 Figura 37 Fonte: Fotógrafo Brice Robert, Construire et Habiter Basse Consommation, 2011, p.49 Figura 38 Fonte: Fotógrafo Gilles Aymard, Construire et Habiter Basse Consommation, 2011, p.52 Figura 43 Fonte: Atelier Paolo Tarabusi Imagem disponível no sítio: http://tarabusi.net Figura 44 Fonte: Atelier Paolo Tarabusi Imagem disponível no sítio: http://tarabusi.net Figura 45 Fonte: Atelier Paolo Tarabusi Imagem disponível no sítio: http://tarabusi.net Figura 46 Fonte: Atelier Paolo Tarabusi Imagem disponível no sítio: http://tarabusi.net Figura 47 Fonte: Atelier Paolo Tarabusi Imagem disponível no sítio: http://tarabusi.net
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Figura 48 Fonte: Gemaile Rechak Arquiteto Imagem disponível no sítio: http://www.archdaily.com/195335/lucie-residence-gemaile-rechak-architect Figura 49 Fonte: Fotógrafo Pierre-Yves Brunaud Imagem disponível no sítio: http://www.archdaily.com/195335/lucie-residence-gemaile-rechak-architect Figura 50 Fonte: Fotógrafo Pierre-Yves Brunaud Imagem disponível no sítio: http://www.archdaily.com/195335/lucie-residence-gemaile-rechak-architect Figura 51 Fonte: Fotógrafo Pierre-Yves Brunaud Imagem disponível no sítio: http://www.archdaily.com/195335/lucie-residence-gemaile-rechak-architect Figura 52 Fonte: Arquiteto Fontès, Construire et Habiter Basse Consommation, 2011, p.21 Figura 53 Fonte: Fotógrafo François Renault Imagem disponível no sítio: http://francoisrenault.photoshelter.com/gallery/RA-sidence-Le-Petit-Parc-ABaillargues-34/G0000yIVmAg_Fg5M Figura 54 Fonte: Fotógrafo François Renault Imagem disponível no sítio: http://francoisrenault.photoshelter.com/gallery/RA-sidence-Le-Petit-Parc-ABaillargues-34/G0000yIVmAg_Fg5M Figura 55 Fonte: Arquiteto Antoine Fontes, Construire et Habiter Basse Consommation, 2011, p. 82 Figura 56 Fonte: Fotógrafo François Renault Imagem disponível no sítio: http://francoisrenault.photoshelter.com/gallery/RA-sidence-Le-Petit-Parc-ABaillargues-34/G0000yIVmAg_Fg5M
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Figura 57 Fonte: Construiction de 4 Logements labélisés habitat et environnement Bâtiment Basse Consommation à Quettreville-sur-Sienne, p.8 Figura 58 Fonte: Construiction de 4 Logements labélisés habitat et environnement Bâtiment Basse Consommation à Quettreville-sur-Sienne, p.8 Figura 59 Fonte: Construiction de 4 Logements labélisés habitat et environnement Bâtiment Basse Consommation à Quettreville-sur-Sienne, p.10 Figura 60 Fonte: Construiction de 4 Logements labélisés habitat et environnement Bâtiment Basse Consommation à Quettreville-sur-Sienne, p20 Figura 61 Fonte: Construiction de 4 Logements labélisés habitat et environnement Bâtiment Basse Consommation à Quettreville-sur-Sienne, p20
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A N E XO S
Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
François Fontès, 7 de Junho de 2012
4.6 - Le Petit Parc Baillargues
1 - As questões ambientais são sempre importantes nos seus projetos? 1 - Les questions environnementales sont toujours importantes dans vos projets? Sim. Oui 2 - O Petit Parc em Baillargues obteve a certificação Qualitel. Considera que estas especificações sobre a qualidade e sustentabilidade condicionam o desenho arquitetónico? 2 - Le Petit Parc à Baillargues a obtenu le certification Qualitel. Pensez-vous que ses spécifications sur la qualité et durabilité limitent le dessin architectural? Não. Non 3-Na sua opinião, estas certificações são realmente úteis para o arquiteto e / ou para o usuário, ou são apenas uma estratégia de marketing? 3-A votre avis, ces certifications sont vraiment utiles pour l’architecte et/ou pour l’utilisateur ou est-ce juste un coup de marketing? Para mim, é essencialmente um problema de marketing que promove o uso de materiais de grandes fabricantes (Lafarge - Saint Gobain). Mesmo que,no fim de contas isso melhore a qualidade da habitação e dos desempenhos térmicos. Pour moi il s’agit essentiellement d’un problème de marketing qui favorise l’utilisation des matériaux issus des grands fabricants (Lafarge - St Gobain). Même si en fin de compte cela améliore la qualité du logement et des performances thermiques.
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Anexos
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Hubert de Folmont, 10 de Setembro de 2012
4.10 - Le Hameau de l’Espérance
1 - As questões ambientais são sempre importantes nos seus projetos? 1 - Les questions environnementales sont toujours importantes dans vos projets? A essa questão nós respondemos: sim, O projeto é sempre abordado como uma resposta a uma problemática humana. O homem está no coração do seu ambiente, a questão ambiental é então necessária ao coração do projeto. A verdadeira questão é a de saber como podemos reduzir o impacto da existência humana no resto do planeta. As respostas encontram-se numa única expressão: minimizar o desperdício. No caso do hameau de l’espérance, nós limitámos o desperdício de espaço natural através da promoção de uma certa continuidade de densidade de tecido urbano envolvente. Esta densidade reduz os custos de instalação e manutenção de redes públicas (transportes públicos, viagens, saneamento básico, iluminação pública, coleta de lixo,...). Limitámos o desperdício, racionalizando os volumes de ar a ser tratado (diferentes pés-direitos, dependendo da distribuição das salas). Limitámos os resíduos preferindo montagens industriais (incluindo a utilização de janelas em bloco com estores incorporados. Tivemos em atenção o fornecimento de materiais, usando sempre que possível industrias locais. Para além disso, tivemos em atenção a vegetação utilizada nos nossos projetos, preferindo as espécies locais e pouco alérgenas. A cette question nous répondons : oui, Le projet est toujours abordé comme étant la réponse à une problématique humaine. L’homme étant au cœur de son environnement, la question environnementale est donc par nécessité au cœur du projet. La vraie question est de savoir comment pouvons nous limiter l’impact de l’existence des hommes sur le reste de la planète. Les réponses se trouvent dans une seule expression : limiter le gaspillage. En l’occurrence sur le hameau de l’espérance, nous avons limité le gaspillage d’espace naturel en favorisant une certaine densité en continuité du tissu urbain avoisinant. Cette densité permet de réduire les coûts d’installation et d’entretien des réseaux publics (transports en communs, déplacements, tout à l’égout, éclairage public, ramassage des ordures ménagères…). Nous avons limité le gaspillage en rationalisant les volumes d’air à traiter (différentes hauteurs sous plafonds en fonction de l’affectation des pièces). Nous avons limité le gaspillage en favorisant des assemblages industrialisés (notamment avec l’utilisation de « bloc baies »). Nous faisons attentions à l’approvisionnement des matériaux et retenons si possible des filières locales. De plus nous faisons attention à la végétation utilisée pour nos projets en choisissant de préférence des essences locales et peu allergènes
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Anexos
2 - O Hameau de l’Espérance obteve a certificação Qualitel. Considera que estas especificações sobre a qualidade e sustentabilidade condicionam o desenho arquitetónico? 2 - L’Hameau de l’Espérance a obtenu la certification Qualitel BBC effinergie. Pensez-vous que ses spécifications sur la qualité et durabilité limitent le dessin architectural? Parece que há uma grande dificuldade para a certificadora em aceitar desempenhos novos, com a garantia de uma boa durabilidade. O problema é que a certificadora precisa de experiência para poder certificar e , como os projetos BBC apelam a novas tecnologias, existem dificuldades em encontrar um equilíbrio entre experiência e técnicas comprovadas. Deste modo compreende-se que esta complexidade que consiste em fazer com que todos concordem num compromisso seja prejudicial no tempo gasto no desenvolvimento do projeto arquitetónico. Il semble qu’il y ait une grande difficulté pour le certificateur à accepter des performances nouvelles tout en garantissant une bonne durabilité. Le problème est que le certificateur à besoin d’expérience pour pouvoir certifier et, comme les projets BBC font appel à des technologies nouvelles, il y a des difficultés à trouver un compromis entre expérience et techniques éprouvées. Alors il est certain que cette complexité qui consiste à mettre tout le monde d’accord sur un compromis est préjudiciable au temps passé sur la mise au point du dessin architectural.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
3-Na sua opinião, estas certificações são realmente úteis para o arquiteto e / ou para o usuário, ou são apenas uma estratégia de marketing? 3-A votre avis, ces certifications sont vraiment utiles pour l’architecte et/ou pour l’utilisateur ou est-ce juste un coup de marketing? Estas certificações são bastante operacionais para controlar uma produção em grande quantidade de habitação e os arquitetos que estão presentes em tais operações não têm nada a temer dos requisitos específicos já comprovados. Acontece que, quando o gestor do projetoimpede que o arquitecto esteja no local da obra confiando a direcção da obra a um gabinete de estudos qualquer, os organismos certificadores ficam geralmente como os únicos responsáveis/mestres da qualidade da obra. O seu papel neste caso é importante para a qualidade das obras, mas é evidente que é prejudicial para o arquiteto porque este não acompanha a implementação da sua concepção. Em projetos que se querem inovadores, parece-me que a intervenção dos organismos de certificação não são pertinentes. Penso que eles são prejudiciais para o trabalho do arquiteto pois nada é feito pelo organismo de controlo que o arquiteto não possa fazê-lo sozinho. Os escritórios de certificações, que não têm responsabilidade alguma para a realização e sobretudo não têm meios para fazer evoluir um projecto de arquitectura, limitam os campos de investigação do arquitecto e, deste modo, fazem perder a confiança que um mestre-de-obras deve ter no seu arquiteto. Na realidade, verifica-se que as certificadoras têm uma experiência “livresca” limitada, enquanto que o conhecimento do arquiteto é baseado na experiência de campo. Não falarei de marketing (para facilitar uma eventual comercialização), mas sim de negócio dado que é de fato roubar ao arquitecto os seus honorários afim de obter subsídios. Ces certifications sont très opérationnelles pour contrôler une production en grande quantité de logements et les architectes qui sont présents sur ces opérations n’ont rien à redouter de prescriptions spécifiques déjà éprouvées. Il s’avère que lorsque la maîtrise d’ouvrage prive l’architecte de chantier en confiant la direction du chantier à un bureau d’étude quelconque, les organismes certificateurs restent bien souvent les seuls maîtres de la qualité de l’ouvrage. Leur rôle est dans ce cas important pour la qualité des ouvrages mais bien évidement il est préjudiciable à l’architecte puisque celui-ci ne suit pas la mise en œuvre de sa conception. Sur des projets qui se veulent innovants, il me semble que les interventions des organismes certificateurs ne sont pas pertinentes. Je pense qu’elles sont préjudiciables au travail de l’architecte car rien n’est fait par cet organisme de contrôle que l’architecte ne peut faire lui-même. Les bureaux de certifications, qui n’ont
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Anexos
aucune responsabilité sur la réalisation et surtout qui n’ont aucun moyen de faire évoluer une architecture limitent les champs d’investigation de l’architecte et même de ce faite, font perdre la confiance qu’un maître d’ouvrage doit avoir avec son architecte. Dans la réalité, il s’avère que les certificateurs ont une expérience «livresque» limitée alors que l’architecte a un savoir responsable fondé sur une expérience de terrain. Je ne parlerai pas de marketing (afin de faciliter une éventuelle commercialisation) mais plutôt de business car il s’agit bien de subtiliser aux architectes des honoraires de maîtrise d’œuvre afin d’octroyer des subventions.
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Avaliação do impacto dos sistemas de certificação ambiental na arquitetura
Frédéric Maron, 8 de Junho de 2012
dénominateurs communs le plus souvent quantifiable quand il s’agirait de mettre en œuvre des valeurs immatériels pour des projets spécifiques, singulier, mettant l’homme au cœur du processus. Actuellement le HQE se polarise sur la consommation énergétique en prenant comme présupposé que nous avons tous besoin de 20° avec le même renouvellement d’air, la même hygrométrie. On peu aimé avoir trop chaud ou trop froid, c’est dans le trop que l’existence est révélé, c’est pourquoi on vat à la montagne quand il fait froid et sur la cote quand il fait chaud. 1 - As questões ambientais são sempre importantes nos seus projetos?
1 - Les questions environnementales sont toujours importantes dans vos projets? A consideração das questões ambientais é cada vez mais importante.Até há bem pouco tempo não as questões ambientais não eram consideradas. A evolução da sociedade em geral, mas também os mestres de obra alimentam a nossa reflexão sobre estas questões. Isto ainda é muito mais complexo a integrar nos nossos grandes projetos de construção de edifícios de escritórios ou de instalações coletivas do que numa simples casa.
La prise en compte des questions environnementales est de plus en plus importante. Cela n’était pas toujours le cas jusqu’il n’y a pas si longtemps. L’évolution de la société en générale, mais aussi celles des maitres de l’ouvrage alimente notre réflexion à ce sujet. Cela reste toutefois beaucoup plus complexe à intégrer dans nos grands projet d’immeuble de bureaux ou d’installation collective que dans la construction d’une simple maison. 2 - APôle Star obteve a certificação HQE. Considera que estas especificações sobre a qualidade e sustentabilidade condicionam o desenho arquitetónico?
2 - La Pôle Star a obtenu le certification HQE. Pensez-vous que ses spécifications sur la qualité et durabilité limitent le dessin architectural? Sim e não. As exigências da certificação HQE, mas também as da BREEAM, tiveram uma influência sobre as escolhas técnicas mais do que na arquitetura, e isso, entre outras coisas, porque o projeto estava já concluído e a licença de construção obtida. Acontece que as ideias básicas de edifício já respondiam bem aos critérios das certificações. Oui et non. Les exigences de la certification HQE, mais aussi celles du BREEAM, ont eu une influence sur les choix techniques plus encore que sur l’architecture, et ceci entre autre parce que le projet était déjà abouti et le permis de construire obtenu. Il se fait que les idées de base du bâtiment répondaient déjà très bien aux critères de certifications.
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Anexos
3-Na sua opinião, estas certificações são realmente úteis para o arquiteto e / ou para o usuário, ou são apenas uma estratégia de marketing?
3-A votre avis, ces certifications sont vraiment utiles pour l’architecte et/ou pour l’utilisateur ou est-ce juste un coup de marketing? As certificações em si não são estritamente necessárias. Com ou sem elas, um projeto não é melhor nem pior se as boas escolhas arquitetónicas e técnicas forem feitas pelos autores do projeto.Elas são pelo contrário, na ausência de legislação (nacional ou da Europa) ferramentas de comparação que permitem situar o projeto em relação a outros edifícios similares. Também participam na imagem de “marketing” que quer dar o proprietário ou ao ocupante.
Les certifications en tant que telles ne sont pas strictement nécessaire. Avec ou sans elles, un projet n’est pas meilleur ou pire si les bons choix architecturaux et techniques ont été faits par les auteurs du projet. Elles sont par contre, en l’absence de législation (du pays ou de l’Europe)des outils de comparaison qui permettent de situer le projet par rapport à d’autres immeubles similaires. Elles participent aussi de l’image“marketing” que veut donner le maître de l’ouvrage ou l’occupant.
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Emmanuel Combarel, 24 de Julho de 2012
4.1 Edifício Louis Blanc
1 - As questões ambientais são sempre importantes nos seus projetos? 1 - Les questions environnementales sont toujours importantes dans vos projets? Fazer arquitetura, é participar na produção de protótipos, de realizações singulares, específicas, de cada vez pensadas e repensadas em termos de um contexto e de um ambiente particulares. A arquitetura é por essência contextual; ela inventa-se constantemente para responder a novas expetativas, novos usos, novos desejos, em paisagens em permanente evolução, em movimento constante. A legitimidade da arquitetura e do desenvolvimento sustentável encontra-se em certas exigências de especificidade, na sua adaptabilidade a contextos e expetativas singulares. Uma arquitetura para uma sociedade sustentável não é uma expectativa própria à nossa época mas uma constante que atravessou os séculos. Desde sempre, a arquitetura jogou com os ciclos e as estações, uma arquitetura atenta, consciente e específica. Faire de l’architecture, c’est participer à la production de prototypes, de réalisations singulières, spécifiques, à chaque fois pensés et repensés au regard d’un contexte et d’un environnement particuliers. L’architecture est par essence contextuelle ; elle s’invente en permanence pour répondre à de nouvelles attentes, de nouveaux usages, de nouvelles envies, dans des paysages en permanente évolution, en mouvement constant. La légitimité de l’architecture et du développement durable est à trouver dans cette exigence de spécificité, dans leur capacité d’adaptabilité à des contextes et attentes singulières. Une architecture pour une société durable n’est pas une attente propre à notre époque mais une constance qui a traversé les siècles. De tout temps, il y a eu de l’architecture jouant avec les cycles et les saisons, une architecture attentive, consciente et spécifique.
.2 - A residência em Paris Louis Blanc obteve a certificação Qualitel HQE2000 e Habitat&Environnement. Considera que estas especificações sobre a qualidade e sustentabilidade condicionam o desenho arquitetónico? 2 - La résidence à Paris Louis Blanc a obtenu le certification Qualitel HQE 2000 et Habitat & Environnement. Pensez-vous que ses spécifications sur la qualité et durabilité limitent le dessin architectural? A questão ambiental não tem autonomia como tal no processo conceptual, não pode ser dissociada da abordagem arquitetónica geral. Notando que as problemáticas são únicas de cada vez, precisamos de identificar, avaliar e hierarquizar os constrangimentos estruturais de maneira específica para cada projeto, a qualidade arquitectónica é em parte o resultado da coerência dessas tomadas de decisões. Além das questões ambientais, somos produtores de quadros de vida com problemáticas sobretudo culturais, conscientes que, depois de aparecerem os desejos, se seguem as técnicas.
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Anexos
A finalidade do nosso trabalho é de propôr locais para viver. O indivíduo está em consequência no centro das nossas preocupações, e a técnica e a intuição ao serviço da definição de um quadro de vida. La question environnementale n’a pas d’autonomie en tant que telle dans le processus conceptuel ; elle ne peut être dissociée de la démarche architecturale globale. Partant du constat que les problématiques sont chaque fois singulières, nous avons à identifier, évaluer et hiérarchiser les contraintes structurantes de manière spécifique pour chaque projet, la qualité architecturale étant pour partie le résultat de la cohérence de ces prises de décisions. Par-delà la question environnementale, nous sommes producteurs de cadres de vie avec des problématiques avant tout culturelles, conscients que, dès lors qu’apparaissent des envies, les techniques suivent. La finalité de notre travail est de proposer des lieux de vie. L’individu est en conséquence au centre de nos préoccupations, et la technique et l’intuition au service de la définition d’un cadre de vie.
3-Na sua opinião, estas certificações são realmente úteis para o arquiteto e / ou para o usuário, ou são apenas uma estratégia de marketing? 3-A votre avis, ces certifications sont vraiment utiles pour l’architecte et/ou pour l’utilisateur ou est-ce juste un coup de marketing? A certificação tem um problema, ela impõe um quadro geral quando as questões ambientais deveriam ser específicas, hiper-contextuais. O quadro administrativo proposto é global e negligência a pertinência do singular, do micro. A HQE é o genérico do sustentável, o QCM ambiental, a solar aplicada ao gavinete de controle. Os rótulos são terrivelmente contra produtivos em termos de qualidade ambiental, exigem denominadores comuns na maioria das vezes quantificáveis quando seria implementar os valores intangíveis para projetos específicos, singulares, colocando as pessoas no centro do processo. Atualmente HQE polariza -se no consumo de energia tendo como premissa que todos nós precisamos de 20 ° com a mesma ventilação, a mesma humidade. Poder gostar ter muito calor ou muito frio, é no muito que é revelada a existência, é por isso que se vai à montanha quando faz frio e à costa quando faz calor. La labellisation en tant que tel pose problème, elle impose un cadre générale quand les problématiques environnementales devraient êtres spécifiques, hyper-contextuelles. Le cadrage administratif proposé est global il néglige la pertinence du singulier, du micro. Le HQE c’est le générique du durable, le QCM de l’environnemental, le solaire appliqué au bureau de contrôle. Les labels sont terriblement contre productif en matière de qualité environnemental, il exige des
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