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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ

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ANO XXXII - 350

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JANEIRO DE 2019


editorial expediente Diretor geral

DOM JOSÉ LANZA NETO Editor

PE. SÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808 Equipe de produção

LUIZ FERNANDO GOMES JANE MARTINS Revisão

JANE MARTINS Jornalista responsável

ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265

Projeto gráfico e editoração

BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160

Impressão

“Na convivência, o tempo não importa. Se for um minuto, uma hora, uma vida. O que importa é o que ficou deste minuto, desta hora, desta vida… Lembra que o que importa … é tudo que semeares colherás. Por isso, marca a tua passagem, deixa algo de ti,… do teu minuto, da tua hora, do teu dia, da tua vida.” [O tempo não importa de Mário Quintana]

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star em contínua transformação é mais do que uma proposta de vida, mas uma necessidade real que nos coloca diante dessa experiência extraordinária de estar vivo. A opção entre ir ou ficar se impõe sobre nossa humilde decisão. Não adianta, a vida sempre continuará seu ciclo, não é possível emperrar o tempo, ele seguirá seu próprio fluxo e seu ritmo contínuo. A vida é movimento e se tentarmos fixar os pés no passado, o futuro vem de surpresa e nos leva embora. Assim, talvez, seja melhor aproveitarmos a jornada não como reféns do tempo, mas como amigos que partilham uma viagem agradável e surpreendente. Lutar para manter as coisas (e, muitas vezes, as pessoas) em redomas não as farão tão apaixonantes e instigantes, fazer isso é condená-las a uma vida sem atropelos e, ao mesmo tempo, sem o pul-

sar revigorante da liberdade. Nesta edição, no início de 2019, queremos levar você a refletir sobre o tempo, mas de modo algum perdê-lo, trazemos reflexões e inspirações com o objetivo de jogar conversa dentro. Pensemos sobre nós, sobre a existência, mas não deixemos de viver aquele tempo que realmente nos faz mais felizes e mais realizados: estar junto de nossa família e nossos amigos. Como resultado da Assembleia Diocesana de Pastoral, trouxemos alguns depoimentos de participantes sobre os frutos produzidos por esse período sinodal de nossa Igreja diocesana. Que em 2019, consigamos concretizar os sonhos planejados no ano passado, sem nos esquecer que nossa missão é incansavelmente anunciar o Reino de Deus. O jornal traz também uma grande en-

trevista com o padre Heraldo de Freitas Lamim, já há 6 meses em missão no extremo norte do país, na Diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM). Ele conta os detalhes da vida na região e suas impressões e ideias sobre o Sínodo da Amazônia que acontece neste ano. Padre José Luiz Gonzaga do Prado nos ensina sobre o Evangelho de São Lucas, a ser aprofundado neste ano litúrgico, com pistas de reflexão para nossas comunidades. Publicamos uma mensagem do papa Francisco sobre os Direitos Humanos. Em dezembro, a Declaração Universal dos Direitos Humanos celebrou 70 anos de existência. Nunca nos cansemos de lutar pela vida e pela dignidade de toda a humanidade. A condição para assumirmos o caminho cristão é nos lembrarmos justamente da nossa fraternidade irrenunciável.

GRÁFICA SÃO SEBASTIÃO Tiragem

3.950 EXEMPLARES Redação

Rua Francisco Ribeiro do Vale, 242 Centro - CEP: 37.800-000 | Guaxupé (MG) Telefone

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voz do pastor

Dom José Lanza Neto, Bispo da Diocese de Guaxupé

O TEMPO QUE SE CHAMA HOJE!

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tempo é algo precioso. Às vezes, chega a ser até remédio. No dizer do povo, “só o tempo resolverá isso”. O tempo passa e passa muito rápido, é só observarmos o andamento de tudo. O tempo parece curto, às vezes, necessário, infindável no momento de dor e dificuldade. Tudo acontece ao seu tempo, nada por acaso, é preciso nos agarrarmos ao tempo presente que se chama hoje! A ciência procura entender o tempo e sua finalidade, assim cronometrando e dando sentido a tudo. Mesmo as escrituras sagradas nos ensinam que há tempo para tudo. Vivemos no tempo e no espaço, não é possível pensarmos diferente. O tempo se impõe. Num olhar de fé, o tempo acolhe a graça de Deus e mesmo Deus respeitou e respeita o tempo. A graça de Deus é sempre manifesta num tempo, seja ele favorável ou não.

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Quantas vezes gostaríamos que o tempo passasse bem rápido ou então que ele não passasse. Aprendamos a valorizar o tempo que está sempre a nosso favor e descobrirmos que a graça de Deus manifesta-se nele. O tempo passa a ser momento de construção, nada adianta só esperarmos, nos lamentando. Construir a vida, a história, a justiça e a paz, um mundo e um tempo novo. O empenho tem que ser de todas as pessoas, as sociedades, gerações e, até mesmo, as nações. Não vale a pena viver o tempo pelo tempo, pois tudo passa e chega a seu fim. O tempo da graça é superior e nos projeta para o infinito e nos lança para a eternidade. A eternidade já começa com o bom olhar e entendimento que temos do tempo. São Paulo Apóstolo nos ensina que somos passageiros e que aqui não é nossa morada definitiva, vivemos como se fôsse-

mos deste mundo (tempo) porque somos cidadãos do céu. Tudo é graça, se assim quisermos entender, pois fomos feitos, sustentados e marcados para sempre com a graça de Deus. O tempo que se chama hoje e o tempo da graça são dons que recebemos do Autor de nossas vidas. Desperdiçar o tempo é perder a graça e perder a graça é desperdiçar o tempo. Viver intensamente, estar por inteiro nas situações e nas realidades significa abraçar o tempo e a graça que nos move rumo às nossas realizações. Neste ano que se inicia, seremos mais uma vez agraciados pelo tempo e pela graça. Façamos valer tão precioso presente e o Senhor estará nos abençoando. Bom ano, repleto de bons frutos e conquistas!


opinião

Por padre Sérgio Bernardes, assessor de Comunicação – Diocese de Guaxupé

A TRANSFORMAÇÃO DO TEMPO COM A PRESENÇA DO ETERNO

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tempo sempre foi objeto de reflexão para a humanidade, isso desde o período pré-histórico, quando o homem passou a representar e formular seus símbolos em cavernas. A própria compreensão do sagrado e da criação do mundo, em diversas tradições religiosas, se junta à busca humana por um entendimento do que é o tempo e sua força irreversível. A sucessão de ciclos diários, lunares e estacionais sempre provocou na espécie uma profunda inquietação. Questões fundamentais que sempre tornam a emergir da experiência de se estar vivo e ter uma consciência. Desde quando nascemos, uma contagem contínua se inicia e acompanha nossos batimentos cardíacos e respiração até o derradeiro suspiro ou batida do coração. Sem licença, o tempo age em nós com sua intervenção homeopática, mas de uma continuidade ritmada, que nos conduz pelo itinerário de nossa existência. Para Santo Agostinho (354-430), “nós mesmos somos tempo”. Imersos na temporalidade e no espaço físico, a vida humana não pode ser compreendida fora desse espaço-tempo. Para o filósofo Immanuel Kant (17241804), o tempo não existe fora de nós, mas

é um meio utilizado pela criatividade humana para descrever a realidade que nos cerca. “O tempo nada mais é que a forma da nossa intuição interna. Se a condição particular da nossa sensibilidade lhe for suprimida, desaparece também o conceito do tempo, que não adere aos próprios objetos, mas apenas ao sujeito que os intui” (Crítica da razão pura). Qual seria o caminho razoável para se compreender como o tempo pode tornar-se um processo de construção e desenvolvimento, sem nos tornar escravos dessa força? Desde Platão (428-347 a.C.), tem-se uma definição do conceito do tempo cronológico (cronos) como um período de passagem, de mudança impermanente, onde tudo é consumido vorazmente. Fundamentando essa mentalidade está profundamente arraigada a ideia de mundo como realidade imperfeita em contrapartida a uma realidade eterna, perfeita e onde não há o tempo. Contrapondo-se ao tempo cronológico, o conceito de tempo como kairós identifica-se em sua etimologia como momento oportuno, o instante privilegiado para a ação e para a deliberação, atributo da razão e característica do mundo inteligível que sobrevalece sobre a realidade sensível. Essa dissociação

entre o mundo das ideias e o mundo da matéria irá influenciar sobremaneira o pensamento cristão, especialmente a teologia de São Paulo, “cuidai das coisas do alto, não do que é da terra” (Cl 3, 2). Porém, quando se trata da construção do pensamento cristão não se pode renunciar à ideia de tempo linear, na qual a história humana vai se desenrolando e se desenvolvendo progressivamente. Esse pensamento característico no pensamento judaico compreendia sua permanência no mundo como bênção divina e a história como avanço em vista de um momento glorioso: o surgimento do Messias. Compreendido como anseio central da fé e da história judaicas, o envio de um Salvador seria a confirmação do Povo Eleito. No início do evangelho de São João, o evangelista une as duas perspectivas na figura do Filho de Deus, o Verbo, que existia na Eternidade e atua na Criação, mas que agora assume a carne humana na história. “E o Verbo se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1, 14). Ao ingressar na realidade concreta, Jesus de Nazaré, o Filho unigênito do Pai, a santifica, a transforma e a glorifica. A divisão entre os tempos, cronos e kairós, é ressigni-

ficada pois o que existia em condição divina agora se insere na história, o mundo sensível passa a ter novo valor. Assim, se com a visão filosófica desenvolvida pelos gregos deveríamos desvalorizar o tempo cronológico devido à sua inconstância, com a encarnação de Cristo o tempo passa a ter marcas kairológicas, ao vivenciarmos atitudes e sentimentos que nos aproximam da Eternidade e que evidenciam a ação da graça de Deus no mundo. E, realmente, há, em nossas vidas, momentos que nos abrem a algo maior do que nós, em diversas situações transcendemos o tempo e a existência quando não nos limitamos aos instintos, mas agimos sob inspiração do Paráclito. Como marca da criação divina em cada ser humano existe uma centelha que o diferencia do restante da criação, assim vivemos dentro de um tempo cronológico, mas não somos reféns dele. Somos os únicos seres vivos que podem experimentar frações do eterno mesmo dentro da condição espaço-temporal. Daí surge a urgência de não desperdiçarmos o precioso passar das horas com aquilo que não nos constrói como humanos. Dentro da provisoriedade concreta, busquemos uma vida direcionada à eternidade.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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notícias Fraternidade e Políticas Públicas: diocese promove formação sobre CF 2019 Texto: Assessoria de Comunicação| Imagens: Lázara Assunção

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stimular a participação em políticas públicas, à luz da Palavra de Deus e da Doutrina Social da Igreja, para fortalecer a cidadania e o bem comum, sinais de fraternidade”. Esse é o objetivo principal da Campanha da Fraternidade (CF) 2019 que traz como tema Fraternidade e Políticas Públicas. Visando a capacitação dos agentes pastorais para a concretização da campanha, a coordenação diocesana de pastoral promoveu, no dia 17 de novembro, um encontro de apresentação da CF 2019 para 100 lideranças pastorais, entre leigos, religiosos e padres. A formação foi realizada pelo padre Patriky Samuel Batista, coordenador de pastoral da Diocese de Luz (MG). Com uma fala objetiva, o assessor destacou os principais pilares da CF 2019, indicando aplicações práticas da proposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

Numa de suas falas, padre Patriky qualificou a importância do envolvimento da Igreja no Brasil com as pautas sociais, lembrando a existência de 26 pastorais sociais que necessitam de um revigoramento para continuar no exercício eficaz de sua missão. “As pastorais sociais são as grandes propulsoras da proposta de políticas públicas. Valorizar e retomar o trabalho das pastorais já são o início de um caminho. É preciso compreender as Pastorais Sociais como a marca da evangelização no Brasil”, concluiu. Entre as principais ações propostas pela CF 2019 para todas as paróquias no Brasil, é possível destacar: o conhecimento das Políticas Públicas, a exigência da ética como pressuposto básico, o despertar das consciências para o espírito de cidadania, a proposição de alternativas para o bem comum, a promoção da formação crítica dos fiéis e a inserção de católicos na política.

RCC reúne centenas de Comissão trabalha em pessoas em Cenáculo Diocesano atualização das Diretrizes Gerais da evangelização no Brasil

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Texto e imagem: Priciana Bernardes Sampaio, coordenadora do Ministério de Comunicação Social

uruaia recebeu, no dia 11 de novembro, cerca de 1600 carismáticos vindos de todos os setores, para mais uma edição do Cenáculo Diocesano, promovido pela Renovação Carismática Católica (RCC) da Diocese de Guaxupé. O evento foi realizado no Centro de Exposições da cidade. Anualmente a RCC realiza esse evento com o objetivo de celebrar a unidade estre os membros e também encerrar as atividades realizadas pelos Grupos de Oração durante o ano. Neste ano, as pregações foram ministradas por membros do núcleo diocesano da RCC. Elba Góis, coordenadora da RCC no Setor Alfenas, e Viviane Magalhães, presidente do Conselho Diocesano da RCC Guaxupé, foram as pregadoras do encontro. A música e a animação do Cenáculo Diocesano ficaram por conta do Ministério Moriá, de Poços de Caldas. ‘Eis que estou à porta e bato’, temática que regeu os trabalhos da RCC BRASIL ao longo deste ano, foi o tema da primeira pregação do evento. Elba Góis enfatizou em sua colocação que “não podemos nos esquecer que tudo é graça de Deus, nada é mérito nosso”.

Um dos momentos de maior alegria foi a visita de dom José Lanza Neto que nos fez um convite de estarmos mais atuantes nas atividades missionárias nas paróquias. O bispo diocesano desejou um encontro de muita oração e espiritualidade aos presentes. A segunda pregação do dia, com o tema ‘Batismo no Espírito e suas consequências’, foi conduzida por Viviane Magalhães, que ressaltou a importância de sermos cheios do Espírito Santo. “A partir desse transbordar do Espírito, os dons se manifestarão e teremos uma sociedade mais santa e missionária”. A Santa Missa foi presidida por padre Dione Piza, administrador da Paróquia São Sebastião, em Juruaia. Em sua homilia, falou sobre a radicalidade e a coragem de ofertar a Deus aquilo que temos. “Nesta diocese, ou somos católicos missionários ou nós não vivemos a beleza do Evangelho” ressaltou. Paralelamente ao evento, foi realizado o Cenáculo Kids, que recebeu cerca de 50 crianças que também foram evangelizadas através de atividades preparadas pelo Ministério para as Crianças e Adolescentes da diocese.

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Texto e imagem: Assessoria de Comunicação - CNBB

Comissão Especial sobre a atualização das Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) 2019/2023 se reuniu nos dias 13 e 14 de dezembro, na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com a missão de avançar na redação final do “Texto Mártir” a ser enviado ainda em dezembro deste ano ao episcopado brasileiro, a pessoas interessadas, aos organismos e pastorais da Igreja no Brasil. O chamado “Texto Mártir” será objeto de estudos e acréscimos até a próxima reunião da Comissão marcada para fevereiro de 2019, ocasião na qual produzirá uma versão final do texto que será levado à 57ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil que acontece em Aparecida (SP), de 1º a 10 de maio de 2019. O arcebispo de São Luiz (MA) e presidente do Regional Nordeste 5, dom José Belisário da Silva, coordenador dos trabalhos desta comissão, lembra que a atuação da Igreja no mundo urbano, conforme já amadurecido pelos bispos do Brasil, será o foco do documento. “O texto reforça que vivemos uma cultura urbana, com predominância no país das grandes cidades”, acentua. Estrutura do documento – A versão inicial do texto está estruturada em 4 partes. A primeira, que inclui uma introdução e o 1º capítulo, busca apontar para qual direção a Igreja no Brasil quer

caminhar nos próximos quatro anos. “Fundamentalmente, a nossa pergunta é: como que a nossa Igreja no Brasil agora se coloca diante deste novo momento da realidade brasileira?”, questiona dom Belisário. Nesta parte, inspirado no livro do Apocalipse, o texto afirma que “Deus mora na cidade”. O 2º capítulo será composto pelo olhar que a Igreja faz sobre a cidade, destacando quais são os pontos determinantes na vida urbana. Na sequência, o 3º capitulo propõe a reflexão e o julgar a partir do magistério da Igreja. O 4º, e último capítulo, constitui-se de indicadores que apontam sobre de que maneira a Igreja no Brasil pode estar presente da melhor maneira possível neste novo mundo urbano. A atualização do texto das DGAE 2019/2023 teve início ainda na 56ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil de 2018 quando os bispos apontaram as primeiras sugestões ao texto. A atualização das diretrizes também foi tema de discussão em duas reuniões do Conselho Permanente da CNBB em 2018, em junho e novembro. A comissão, especialmente montada para esta tarefa, se reuniu dia 14 de agosto deste ano para avançar no texto. Esta é a segunda reunião da equipe. “A comissão foi escolhida um pouco tardiamente, mas mesmo assim nosso trabalho está indo muito bem”, concluiu dom Belisário.


painel

Da redação

O QUE VOCÊ FAZ COM O SEU TEMPO?

Perguntamos para algumas pessoas qual a visão que cada uma delas tem do tempo. As repostas são surpreendentes e inspiradoras. Vasculhamos, também, o pensamento de alguns poetas, escritores e cientistas e escolhemos algumas ideias sobre a misteriosa força que nos acompanha constantemente. DIÁCONO HUDSON IVAN TEIXEIRA, CARMO DO RIO CLARO “Aproveite-nos, ó Deus, a participação nos vossos mistérios. Fazei que eles nos ajudem a amar desde agora o que é do céu e, caminhando entre as coisas que passam, abraçar as que não passam. Por Cristo, nosso Senhor”. Gosto muito dessa oração, rezada no tempo do Advento, porque de fato nossa vida é feita de momentos que nunca mais voltarão. Somos constantemente convidados a vivermos bem o tempo presente, o que nos dias de hoje se torna muito difícil. A tentação do ser humano é viver no passado, remoendo coisas que já foram, perdas, rancores e lembranças ruins ou, então, no futuro, com coisas que ainda não aconteceram. Se estamos na segunda-feira já pensamos na sexta-feira. Se vamos apresentar um trabalho no final do mês, sofremos com antecedência antes mesmo do momento necessário. Diante desse mau hábito, corremos o risco de não perceber o presente que escorre entre os dedos. Neste mundo onde o produzir é tão necessário, somos convidados a viver bem o tempo que temos, sejam eles o passado, sempre revisitando e aprendendo nele o que a vida nos deixou, mas sem nos prendermos lá; o presente, com cada momento que a vida nos proporciona a viver; e o futuro, com planejamentos e projetos, mas nunca querendo viver antecipadamente. Para nós que cremos e estamos neste mundo de passagem, somos cada vez mais instigados a aproveitar a nossa vida com bastante zelo, nos apegando ao que de fato vale a pena diante dos valores e preceitos cristãos e das verdades eternas, nos desprendendo dos penduricalhos que vamos adquirindo durante a caminhada terrena e que devem ser deixados para trás. Diante da vida que escolhi, tento dividir meu tempo entre a oração, que nos mantém firmes na fé e no contato íntimo com Deus, e o serviço pela Igreja e pelo próximo, além de reservar um tempo para descansar e revigorar as energias com convivências saudáveis e edificantes que nos ensinam e mostram que sozinhos não chegamos a lugar algum. Essa caminhada exige de nós uma verdadeira vigilância evangélica, pois todos corremos o risco de pararmos em alguma instância do tempo e não viver, mas, somente sobreviver.

MARISA MORAES DE OLIVEIRA, POÇOS DE CALDAS Diz a canção: “compositor de destinos, tambor de todos os ritmos”, o tempo, às vezes, é amigo, outras, forte adversário. Independente da idade, a impressão é de que ele passa rápido, afinal vivemos a era do fast. Equilibrá-lo entre compromissos de trabalho, de família e tantos outros assumidos diariamente, me desafia a estabelecer com ele - o tempo - uma convivência pacífica. Usando novamente a canção, digo: “és um senhor tão bonito, tempo, tempo...”, capaz de deixar marcas indeléveis de vida em nosso ser. DANIEL MACHADO, BELO HORIZONTE

Poemas aos Homens do nosso Tempo (XVI) de Hilda Hilst, escritora (1930-2004) Enquanto faço o verso, tu decerto vives. Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue. Dirás que sangue é o não teres teu ouro E o poeta te diz: compra o teu tempo. Contempla o teu viver que corre, escuta O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo. Enquanto faço o verso, tu que não me lês Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala. O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas: “Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”. Irmão do meu momento: quando eu morrer Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo: Morre o amor de um poeta. E isso é tanto, que o teu ouro não compra, E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto Não cabe no meu canto.

MAYARA VICTORIA, GUAXUPÉ Tempo é todo espaço de minutos, horas, dias, e por aí vai. Tempo é toda a vida, é todo nascer, morrer e viver, é amigo daqueles que sabem usá-lo de maneira útil a seu favor e inimigo daqueles que não sabem o que fazer com o tempo (vida) que têm. Gasto meu tempo vivendo, dormindo, comendo, lendo, andando, falando e executando todas as ações que uma pessoa pode fazer em sua vida. Estou aprendendo com o próprio tempo que todas as minhas ações podem interferir no mundo à minha volta, o modo como eu gasto meu tempo interfere na sociedade, o modo como eu lido com ele vai influenciar meu presente e meu futuro. O tempo é algo que não consigo pausar e nem adiantar, acontece sem que possamos controlar. Tempo é, também, aquilo que chamamos de Deus, que executa tudo à nossa volta. Ao decorrer do tempo que vivo eu aprendo com ele que cada coisa tem seu determinado momento para acontecer e que eu não o controlo e está tudo bem. Que eu seja amiga do tempo já que ele é “um dos deuses mais lindos”

Certa vez disse: Não quero ter rotinas! Depois disso, comecei a viver intensamente cada dia de uma forma, muito trabalho, estudo, organização da vida pessoal, ufa! Vi que isso me cansou muito. Logo, veio a ansiedade, o sono ficou prejudicado e não me desligava. Passei então a pensar que posso ter hábitos saudáveis dentro de uma rotina: acordar bem, tomar um copo d’água com limão em jejum, alimentar-me com mais gorduras boas do que carboidratos e açúcares, não digo em quantidades, mas na qualidade do que consumimos, ter um tempo para me exercitar, o corpo precisa se mexer, estar em movimento, e não ficar o dia todo ligado à tecnologia, principalmente nas redes sociais, é preciso um detox digital. Hoje estou neste processo, buscando equilibrar tudo, e tenho percebido que o silêncio ajuda muito, a meditação, aproveitar para ouvir os sons ao redor e não me dispersar da companhia mais importante do dia: eu mesmo. O livro ainda fica na cabeceira, o tênis sempre próximo da cama e as frutas e as verduras à mostra na cozinha. A noção de tempo parece ter mudado, quando nos deslocamos rápido, quando vivemos noites parecendo dia devido ao surgimento da luz elétrica. Antes a vela tinha um fim e se apagava, ou mesmo quando a rapidez da internet nos leva onde queremos ir, foi o trem, o carro, o jato, o trem bala... O grande desafio é entender o tempo da natureza, do qual fazemos parte, compreender que nossa mente tem que se expandir e também descansar. Precisamos desses gatilhos. Lembrar todos os dias que o tempo somos nós que o controlamos, quando estamos acelerados ou ansiosos, ele é quem domina tudo. Nada de viver de excesso de futuro e nem de um passado que já se foi, precisamos ressignificar diariamente os sonhos da criança que vive em nosso interior. E quando essa criança sorrir para o homem que somos, nosso presente fica mais leve, alegre e somos capazes de aproveitarmos cada minuto para agradecer e viver. Por isso: Carpe Diem!

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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em pauta IGREJA MISSIONÁRIA, DESTEMIDA, ALEGRE E SERVIDORA

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m novo horizonte se abre à Igreja Particular de Guaxupé. A 5ª Assembleia Diocesana de Pastoral (ADP), celebrada em novembro do último ano, apresentou, debateu e aprovou um itinerário esperançoso para as comunidades trilharem. É mister que todos os envolvidos na ação pastoral, missionária e social da diocese conheçam bem estes novos rumos. É um empreendimento sinodal, realizado em comunhão, com o olhar fixo na meta: ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5, 13). Uma Igreja missionária, destemida, alegre e servidora, cada vez mais presente na vida de seu povo, manifestando a fraternidade, a misericórdia e a profecia. O cenário atual é complexo e desafiador. É, pois, preponderante nortear as diversas realidades que carecem de cuidado, através das três atitudes preditas pelo papa Francisco na Amoris Laetitia: “acompanhar, discernir e integrar”. As comunidades, à luz do Evangelho, precisam estar cada vez mais preparadas para amparar famílias, crianças, jovens, adultos e idosos que a elas recorrem. Construir pontes, criar vínculos, estabelecer comunhão são as palavras de ordem para uma igreja participativa. Os projetos da 5ª Assembleia Diocesana de Pastoral pretendem impulsionar a ação evangelizadora em toda a diocese, fortalecer a vida comunitária e despertar o protagonismo dos cristãos leigos enquanto sujeitos eclesiais, afinal, “existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos” (1 Cor 12, 4-6). Assim, a igreja composta por seus diversos membros agirá em prol da vida plena para todos. Isso acontecerá através de formação, preparação e conscientização de cada cristão batizado disposto a desempenhar sua missão. 1. Projeto Missão Permanente “Uma Igreja que não é missionária, não é a Igreja d’Ele”, esta frase do saudoso bispo dom José Mauro inspira esse plano que tem a intenção de avigorar a identidade missionária da Igreja, despertando no discípulo-missionário a necessidade do anúncio da pessoa de Jesus Cristo, com palavras, gestos e, sobretudo, com o testemunho de vida. Para isso, é necessário fazer da missão o coração de toda a ação pastoral e evangelizadora. Intensificando os trabalhos realizados nos setores de cada paróquia, criando pequenas comunidades que se integrem cada vez mais. Luiz Sarto é um cristão leigo engajado há treze anos na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, da cidade de Alfenas. Desde 2014 se dedica aos trabalhos missionários e representou sua comunidade na 5ª ADP. “Fiquei encantado com o Projeto da Diocese. Percebi que o desejo do Papa

Francisco, de uma ‘Igreja em saída’ é também o desejo de nossa diocese. Por isso, é necessário conhecer Jesus, o ‘Deus Conosco’, entender sua mensagem e através de gestos concretos ir ao encontro do mesmo Jesus, agora presente naqueles que são destinatários da missão que nos foi confiada. Sinto que o nosso grande desafio é ter a coragem, deixar-se capacitar por Ele e ir...”, afirmou.

2. Projeto Famílias O diácono Luciano Nascimento realizou um estudo a respeito da Exortação Apostólica Amoris Laetitia no ano de 2017, colaborando em mini-cursos e palestras sobre os desafios e as esperanças que atingem as famílias do século 21. Sobre a fundamentação do projeto, pontuou: “Na tangente familiar, o projeto está elaborado de forma que atinja um anúncio encarnado entre fé e vida. Pautados pelo magistério do papa Francisco, sem desconsiderar outros pronunciamentos do magistério sobre o tema, nossa diocese compreendeu que no contexto multifacetado, e, por vezes, de desconstrução, urge a necessidade de “redescoberta e a promoção da família, primeira comunidade que realiza uma junção social plena” para promoção da vida comunitária em todos os nossos setores”. Ao apresentar sua análise sobre o 4º projeto, disse: “Considero o PROJETO FAMÍLIAS como uma ação madura e com clareza do árduo caminho a ser percorrido. Isto fica evidente quando, na redação do texto, na justificativa, são usados dois verbos muitos específicos: redescobrir e promover. Eles evidenciam a sensibilidade da caminhada pastoral para o contexto hodierno e, inserido nele, as pessoas que aguardam o anúncio do reinado que passa pelo Evangelho da Família”. E, ainda, “graças a esta sensibilidade, o projeto se estruturou de forma que contemplasse as famílias que estão por iniciar o caminho, por meio de uma catequese matrimonial. Para aquelas

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que já se encontram no caminho, mediante estudos populares que auxiliem o caminho. E, por fim, as que estão fragilizadas ou a quem o Evangelho da Família não chegou de forma plena, através do acompanhamento, discernimento e integração em nossa comunidade cristã”, comentou. 3. Projeto Juventudes “Sem o rosto jovem, a Igreja se apresentaria desfigurada” afirmou o papa emérito Bento XVI. Atenta a essa palavra, a 5ª ADP se propôs otimizar as atividades do Setor Juventudes, respondendo à diversidade de expressões nele existentes. O projeto pretende formar lideranças, conscientizar nos âmbitos religiosos, políticos e sociais, e tornar a Igreja ainda mais presente nas universidades e nos meios virtuais. Cássio Henrique Lima Machado é de Itaú de Minas, Paróquia Santa Terezinha do Menino Jesus, e trabalha com os jovens que servem ao altar como acólitos, dentre outros serviços que ele desempenha em sua comunidade. Cássio se empolgou com o novo ardor que as propostas da 5ª ADP trouxeram. Sobre os planos para a juventude, comentou: “Nos diz o papa emérito Bento XVI ‘A Igreja é jovem. Ela leva em si o

futuro do mundo e por isso mostra também a cada um de nós o caminho para o futuro’. E é nessa perspectiva que podemos contemplar o Projeto Juventudes que adentra as diversas realidades onde o jovem atua no mundo atual, visando torná-los protagonistas, tanto da ação evangelizadora, como eles mesmos se tornarem agentes atuantes de anúncio do Reino. Tal ação visa se adequar aos mais variados ambientes e espaços onde encontramos a presença de nossa juventude, de modo a atingir dire-


Texto: Filipe Zanetti- Luiz Fernando Gomes | Imagens: Henrique Vilas Boas

tamente seus corações com a mensagem salvadora de Jesus”. 4. Projeto Promoção Humana Integral Edson Durante, psicólogo atuante na área de assistência social e clínica, é leigo engajado e assíduo. Diante das propostas do projeto de Promoção Humana Integral, falou sobre o papel da Igreja na defesa da pessoa humana: “A Igreja deve ser promotora de ações que defendam a dignidade e o valor da vida e permitam ao homem que

tenha garantido o cuidado de si e daqueles que lhe são próximos. Tais ações devem promover o ser humano em sua totalidade: espiritual, física e socialmente”. Também comentou a necessidade de se trabalhar, nos conselhos municipais e em outras organizações, a defesa da vida: “A vida, dom gratuito oferecido por Deus, deve ser promovida e defendida em todo o seu curso natural: do seu início ao ocaso. Cada uma de suas fases possui desafios próprios que devem ser compreendidos e respeitados, para que a dignidade humana

seja sempre garantida”. Animado com este propósito da Igreja de Guaxupé, partilhou: “São muitos os problemas que, em nossa sociedade contemporânea, roubam a dignidade da vida humana: drogas, violências, explorações sociais, materiais e sexuais, dentre outras, e a igreja deve se fazer presente nestes lugares e ser força viva e atuante para que a dignidade humana seja respeitada e defendida”. 5. Projeto Liturgia e Catequese O coordenador diocesano de Catequese, Padre Luciano Campos Cabral, partilhou

suas considerações a respeito do projeto Catequese Liturgia: “Como respostas aos anseios da Igreja do Brasil, tivemos, como o 5º projeto desta Assembleia Diocesana, o projeto Liturgia e Catequese, evidenciando a necessidade de aproximar essas realidades tão fundamentais e essenciais da Igreja. Para colaborar na efetivação desta proposta, recentemente um profundo estudo realizado pela CNBB foi desenvolvido, o documento 107, sobre a Iniciação à Vida Cristã, apresentando um caminho a ser seguido. Com base nessa inspiração aos moldes das primeiras comunidades cristãs, temos um projeto em curso chamado “Viver em Cristo”, assumido pela província eclesiástica de Pouso Alegre. A esperança que este projeto desperta na vida da Igreja Particular de Guaxupé é a resposta que, aos poucos, vamos encontrando para os desafios que enfrentamos na modernidade, como a indiferença e o individualismo. O maior fruto que podemos esperar é uma Igreja viva, edificada na rocha da fé em Jesus Cristo, sendo capaz de suportar os desafios”, afirmou.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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bioética

Autor: Observatório de Bioética – CNBB Regional Sul 3

MODIFICAÇÃO GENÉTICA: OS LIMITES DA CIÊNCIA DIANTE DA VIDA HUMANA

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o dia 25 de novembro de 2018, o cientista chinês He Jiankui, da Universidade de Shenzhen, anunciou, através de um vídeo no YouTube, o nascimento de duas meninas chinesas gêmeas com DNA geneticamente editado. O anúncio ainda não foi publicado em nenhuma revista científica do mundo e a experiência teria utilizado a técnica denominada de CRISPR/Cas9, que é uma intervenção corretiva avançada capaz de modificar estruturalmente um ou mais genes de qualquer forma de célula viva. Na visão da bióloga italiana Anna Meldolesi, a técnica CRISPR “é o acrônimo de clustered regularly interspaced short palindromic repeats, uma expressão em inglês traduzível como ‘repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente interespaçadas’. [Já] Cas9 é, por seu lado, o nome da proteína associada a Criuspr: junto a outras proteínas similares faz parte de um sistema chamado Sistema Associado Crispr”. Segundo a descrição do próprio vídeo, a gravidez iniciou por meio de uma fertilização in vitroregular, porém com uma diferença: foi realizada uma cirurgia genética, cuja finalidade era proteger as meninas de infecção futura por HIV, uma vez que o pai das gêmeas é o portador do vírus HIV/ AIDS. A cirurgia genética tinha por finalidade reproduzir uma variação genética que confere forte resistência à infecção inicial por HIV/AIDS. Hoje em dia é sabido que algumas pessoas nascem com essa variação genética, chamada de CCR5, e, são resistentes ao vírus, pois não permite que o vírus penetre na célula. Julian Savulescu, diretor do Centro Uehiro de Ética Prática da Universidade de Oxford, em uma entrevista concedida ao jornal El País, afirmou que se esta experiência for verdadeira, trata-se de uma experiência monstruosa. Disse ainda que “os embriões eram saudáveis, sem doenças conhecidas. A edição genética em si é experimental e ainda está associada a mutações indesejadas, capazes de causar problemas genéticos em etapas iniciais e posteriores da vida, inclusive o desenvolvimento de câncer”. Savulescu ainda ressaltou que existem formas muito eficazes de prevenir a AIDS, e, mesmo que a síndrome seja contraída, existem atualmente tratamentos eficazes. “Esta experiência expõe crianças normais e saudáveis aos riscos da edição genética em troca de nenhum benefício necessário real”. Esta experiência vem na contramão de anos de estudo e consenso ético sobre a proteção dos participantes humanos em testes de pesquisa. Os bebês resultantes desses testes estão sendo usados como cobaias genéticas. No caso de ocorrerem mutações não programadas (off-target) nas

células do embrião, o indivíduo poderá vir a ter uma série de problemas de saúde que não teria, caso a edição genômica não tivesse sido realizada. Como não se tem ainda o domínio completo e seguro desta técnica, muitos males inesperados poderão surgir. A técnica CRISPR/Cas9 permite a edição genética de um modo rápido e a baixo custo em comparação com outras tecnologias. No entanto, ainda são necessárias muitas investigações para a edição genômica em embriões humanos. E isso se deve ao fato de que não há certeza se a alteração de um gene específico não alterará também, do modo aleatório, outros genes. Salvador Darío Bergel, em [um artigo intitulado] O impacto ético das novas tecnologias de edição genética, apresenta um argumento sobre a sacralidade do genoma humano. Tal argumento tem como base a Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, da UNESCO, que afirma em seu primeiro artigo que o genoma humano é “patrimônio da humanidade”. Assim, não deve ser permitida qualquer prática que seja contrária à dignidade humana, e, que todo ser humano deve ter acesso aos “benefícios dos avanços na bio-

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logia, na genética e na medicina, relacionados ao genoma humano”. O respeito à dignidade humana deve ser o limite no uso de tais tecnologias, porque o ser humano é portador de dignidade moral, com fim em si mesmo, e não como meio para outra coisa. Por isso, essa nova técnica “pode dar origem a licenças e patentes cujos donos poderão obter enormes somas de dinheiro”, alerta Anna Meldolesi, sobre as possíveis consequências da nova ferramenta inovadora nas áreas da medicina, biologia e tecnologia. Nessa perspectiva, o imperativo moral de Kant, “age de tal modo que considere a humanidade, tanto na tua pessoa, como na pessoa dos outros, sempre como fim e nunca como simples meio”, torna-se cada vez mais atual. O documento Dignitas Personae (2008) da Congregação para a Doutrina da Fé já expressava a visão do Magistério da Igreja sobre o assunto declarando sua iliceidade: “Qualquer modificação genética feita nas células germinais de um sujeito seria transmitida à sua eventual descendência. Porque os riscos ligados a qualquer manipulação genética são significativos e ainda pouco controláveis, no estado atual da

investigação não é moralmente admissível agir de modo que os potenciais danos derivantes se propaguem à descendência. Na hipótese da aplicação da terapia genética ao embrião, há ainda a acrescentar que a mesma precisa de ser realizada num contexto técnico de fecundação in vitro, indo, portanto, ao encontro de todas as objeções éticas relativas a tais práticas. Por estas razões, portanto, deve-se afirmar que, no estado atual, a terapia genética germinal, em todas as suas formas, é moralmente ilícita” (DP 26). Diante disso, se a natureza e a finalidade da ciência são a ousadia, a criatividade e a intuição, a bioética, por sua vez, que se fundamenta em teorias morais, se caracteriza pela prudência, pelo discernimento. Cabe à bioética, apontar os limites da intervenção científica e técnica na vida biológica, vegetal, animal e humana, bem como contribuir para que a humanidade consiga desenvolver-se de forma digna, sem colocar em risco o patrimônio genético e a vida planetária. Se ambas conseguem estabelecer um diálogo respeitoso, mesmo com interesses distintos, possivelmente alcançaremos mais benefícios do que malefícios.


bíblia

Por padre José Luiz Gonzaga do Prado, biblista e professor na Faculdade Católica de Pouso Alegre

LUCAS, O EVANGELHO DOS POBRES

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Janela preocupação com os pobres percorre todo o Evangelho de Lucas. Jesus não nasce num berço de ouro, seu berço é o cocho de um estábulo. Seu nascimento é anunciado aos pastores, gente pobre e temida, como os ciganos e os sem-terra de hoje. “Hoje nasceu para vós um salvador”. Salvador dos pobres, ele será reconhecido na pobreza do berço. Seu pro-grama (Lc 4,16-30) é a Boa Notícia para os pobres. As viúvas pobres estão presentes neste Evangelho bem mais do que nos outros. As parábolas próprias de Lucas falam do homem sem nome, roubado e caído à beira do caminho, falam dos pobres forçados a entrar para a festa do rei, falam do pobre Lázaro faminto, caído à porta do banquete diário do rico e do abismo que os separa aqui e na eternidade. As comunidades apostólicas As comunidades que nos deram este Evangelho, em sua maioria eram pobres, mas preocupadas com outras mais pobres. Quando se resolveu o problema com as comunidades da Judéia, foi combinado que as comunidades dos gentios não se esqueceriam dos judeus pobres (Gl 2,10). As comunidades da Macedônia (Filipos, Tessalônica), apesar de sua pro-funda pobreza participaram com entusiasmo de uma campanha em favor deles (2Cor 8,1-2). Em Corinto a grande maioria era de pobres, sem nome e sem estudo (1Cor 1,26), mas a mi-noria rica os humilhava até na celebração da Ceia do Senhor (1Cor 11,17-34).

ador e o pobre Lázaro. Um chefe - em Mateus seria um jovem - quer seguir Jesus, mas não é capaz, porque é muito rico (18,18-27).

As comunidades de hoje Quando as autoridades da Igreja pareciam ter esquecido dos pobres e da pobreza, permitindo que o poder e a riqueza as governasse, São Francisco inventou o presépio, para lembrar o nascimento de Jesus segundo Lucas. Ainda há lugar para o presépio? Há ainda um ser humano roubado e caído à beira da morte e do caminho. Como na parábola, pode acontecer que aqueles que estão mais ligados à religião e ao culto, o sacerdo-te e o levita, se esforcem por não vê-lo, enquanto o “inimigo”, o sem religião, o samaritano, se debruce sobre ele. Ainda há ricos que todos os dias dão esplêndidos banquetes, para os quais convidam os líderes da Igreja. Os pobres Lázaros continuam esperando migalhas e só encontram soli-darieda-

para ler M

E os ricos? O Evangelho de Lucas é o que mais fala de dinheiro, tanto que, segundo o Pe. Comblin, até parece reuniões de... Maria diz que Deus manda embora os ricos sem nada (1,53). João Batista, recomenda a partilha e diz aos publicanos e aos soldados que não se aproveitem da função para enriquecer (3,1114). Às bem-aventuranças dos pobres, Jesus acrescenta o “ai” dos ricos (6,24 e ss.). Recusa-se a entrar em disputa por herança e fala de um rico que pensava ter tudo (12,13-21). Disse a quem o convidou, que, ao dar uma festa, não convidasse os ricos (14,12). No capítulo 16 conta a parábola do rico banquete-

Texto/Imagem: Divulgação

PAULO – BIOGRAFIA CRÍTICA urphy-O’Connor faz um relato completamente novo e muito mais expressivo da vida de Paulo do que as tentativas anteriores. Da infância em Tarso e dos anos como estudante em Jerusalém aos sucessos e fracassos de seu ministério, esta biografia não tem similar em termos das reconstruções pormenorizadas dos movimentos e motivos paulinos. Tradicionalmente, os Atos dos Após-

de nos cães que se alimentam de seu sangue e com a saliva lhes aliviam as feridas.

Não se salvam? Zaqueu é o modelo do rico que se salva. Empresário de cobrança de impostos tercei-rizada, que enriqueceu cobrando a torto e a direito e acima da tabela, ele é odiado na cida-de, mas vê a salvação entrar na sua casa, devolvendo a riqueza ilegal e partilhando com os pobres o que lhe sobra (19,1-10). O Evangelho de Lucas traz, só ele, uma parábola difícil de se entender. É a do ad-ministrador esperto, mas desonesto, como está em algumas Bíblias. Um administrador foi denunciado a seu rico patrão de estar dilapidando suas propri-edades. Certo de que seria despedido, passou a agradar os devedores do patrão, alterando as notas e diminuindo suas dívidas. Pensava: quando eu for despedido do emprego terei pessoas que me acolham. E o senhor (Jesus ou o patrão?) elogiou a esperteza do administra-dor desonesto. E Jesus continua: Vocês também façam amigos com o dinheiro injusto para que quando ele acabar eles os recebam na moradia eterna. A parábola fala de Deus como um patrão diferente. Ele quer que seus administrado-res dilapidem em favor dos pobres a riqueza que pertence a ele e da qual os administradores não passam de administradores.

tolos forneceram a estrutura para as biografias de Paulo. Contudo, nos últimos anos, o valor histórico dos Atos tem sido questionado. Apesar da exatidão de muitos detalhes, eles refletem os interesses de Lucas, não a realidade objetiva. Para serem incluídos em uma biografia de Paulo, eles precisam passar por uma avaliação crítica. Os escritos do apóstolo devem ser a fonte primordial de uma reconstrução de sua vida. Progressos re-

centes no estudo das cartas, em especial a crítica retórica e epistolar, trouxeram à luz novas profundezas que facilitam sua análise com propósitos biográficos. A originalidade deste livro está na combinação dessas duas abordagens, reforçada pela atenção rigorosa aos aspectos sociais e culturais do ministério de Paulo revelado pela arqueologia e textos contemporâneos - e transforma em ser humano uma fonte de ideias teológicas. COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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entrevista SÍNODO DA AMAZÔNIA: “CHACOALHÃO EM TODA A EVANGELIZAÇÃO E NO CUIDADO COM O PULMÃO DO MUNDO”

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m missão na Diocese de São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte de Amazonas, padre Heraldo Freitas Lamin foi enviado no ano passado, juntamente com o padre Antônio Carlos Melo, a servir às comunidades, evangelizando e sendo presença da Igreja juntos aos povos amazônicos. Em entrevista concedida em outubro de 2018, padre Heraldo contou detalhes da vida e da ação pastoral que vive atualmente em Cucuí, comunidade situada próxima aos rios Negro e Xié.

faz parte da região amazônica, mas não tem muito a ver, já o estado do Amazonas tem características próprias do lugar quanto às questões de locomoção, água, mata e distância. É uma situação mais complicada, praticamente nós não utilizamos automóvel, os veículos que utilizamos são barcos, as voadeiras e as rabetas. Nesse sentido é bem diferente. Cucuí é um distrito de São Gabriel que fica a mais ou menos 200 km da cidade, próximo da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Venezuela. Ali se encontra um pelotão do exército que toma conta da fronteira, tem em torno de 300 a 400 pessoas ali residindo, em torno de 4 a 5 cinco pessoas em cada casa, com uma estrutura bem limitada, mas um povo feliz e satisfeito. Um povo que sabe viver com pouco e viver bem no que diz respeito à qualidade de vida. Dentro do estilo deles, eles vivem muito bem. Entre 90 e 95% são nativos, que estão lá vivendo e gostam de lá. Vão para a cidade somente em busca daquilo que eles precisam: alimentos que não têm no local, auxílios governamentais ou aposentadoria. Boa parte das famílias tem seu barco e quando vão (à cidade) cada um ajuda no combustível, pagando o valor relativo da passagem, ficam 2 ou 3 dias na cidade, depois voltam e assim eles levam a vida deles. Tem sido interessante, mas não tem sido fácil.

Em sua primeira experiência missionária no estado do Pará, entre os anos 2012 e 2015, quais foram as características e os aprendizados desse tempo? Foram quase 3 anos, lá fiquei ajudando numa paróquia periférica e atendendo as comunidades que pertenciam àquela paróquia. Foi uma experiência muito interessante. Primeiro, a cidade de Paragominas (PA) é uma cidade estruturada, desenvolvida. E isso ajudou bastante para que a gente ficasse lá. Onde nós ficávamos era uma área periférica com algumas dificuldades, mas um povo muito acolhedor, aberto e também participativo, dentro dos costumes deles. Em Paragominas, a questão indígena não é tão presente [quanto em Cucuí], é claro que existe a origem indígena, mas é mais distante. Isso ajudava a ter uma convivência gostosa com eles. A parte rural tinha uma parte com uma estrutura melhor com capelas e outras comunidades com estruturas bem simples, onde a gente tinha algumas dificuldades. Nós dávamos assistência mensalmente ou bimestralmente a 15 comunidades rurais, onde a gente celebrava, atendia confissões, fazia batizados e, eventualmente, casamentos, o que era muito raro. Essas regiões não têm muito o hábito do casamento, as pessoas geralmente têm união estável. Como é sua avaliação dessa missão na Diocese de Bragança do Pará? Esses anos que eu vivi lá foram muito gostosos, até porque eu tive a felicidade de trabalhar um mês conhecendo [a realidade local]. Quando eu fui, já sabia o que ia encontrar, isso facilitou para que eu fosse mais motivado e mais esperançoso quanto ao tempo previsto de estar lá. Nós estávamos numa paróquia com uma estrutura normal com as limitações próprias de uma periferia. Tínhamos o apoio do bispo e também de alguns padres do centro da cidade que nos auxiliavam em algumas coisas de que precisávamos. Quando falo nós, eu cito o padre Francisco Albertin e o padre José Benedito dos Santos, que estiveram comigo. Eu fiquei um tempo sozi-

Da realidade pastoral, o que o senhor gostaria de destacar?

nho, mas nós estávamos sempre em comunhão. Isso nos ajudava a nos sentir unidos e trabalhando de forma solidária no que dizia respeito à pastoral e ao andamento da paróquia. Como surgiu a possibilidade de ir em missão ao norte do país? E como foi sua chegada? Quando soube da realidade de São Gabriel da Cachoeira através de dom Edson Taschetto Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira, no retiro que ele pregou ao nosso clero em 2015, eu imaginava que a missão fosse desafiante, mas eu não me imaginava indo para lá. Nesse sentido, não estava muito nos meus planos, mas o desejo que eu estava de fazer missão ressurgiu com a carta enviada por dom Edson ao nosso bispo, no início de 2018, pedindo auxílio para sua diocese. Daí,eu pensei ‘ou me prontifico a ir agora e terei a oportunidade de fazer um trabalho missionário, mais uma vez fora da diocese, ou talvez

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não terei mais oportunidade’. Na carta, dom Edson dizia claramente que precisava de dois padres para Barcelos (AM). Fui pesquisar e a cidade ficava mais bem localizada na Amazônia, assim me prontifiquei para ir, mas não aconteceu do jeito que estava previsto. Um outro distrito de São Gabriel ficou sem padre, dom Edson me encaminhou para lá e o padre Antônio Carlos Melo ficou em Barcelos junto com um outro padre que havia acabado de chegar. Isso foi desafiante, mas acabei aceitando. Na segunda experiência missionária, iniciada em meados de 2018 em Cucuí (AM), quais são os impactos dessa realidade em seu ministério? Eu tive a oportunidade de ir para Bragança do Pará (PA), um desejo que eu sonhava muito de fazer esse trabalho, depois de ter trabalhado bastante aqui na diocese. Lá em São Gabriel da Cachoeira, onde eu estou agora, é uma realidade bem diferente porque se trata da Amazônia. O Pará

Eu cheguei lá, no princípio sem conhecer nada, um lugar pequeno sem muitas opções. Eu observei que havia uma missa no domingo à noite, tinham as missas que o padre celebrava nas famílias durante a semana. Eles valorizam muito a questão de comunidade, lá não existem pastorais nem movimentos. Temos a pastoral litúrgica e a pastoral catequética. A Pastoral da Criança não deu muito certo, mas há expectativa de voltar, mas ainda não foi ativada. O lugar é dividido em 4 setores, o que eles levam muito a sério. Eles colaboram na limpeza da igreja, nas novenas e nas reflexões que a gente faz. Eles têm muitos momentos devocionais. Quando cheguei lá, eles estavam com a Festa de São Pedro, eles fazem e sabem fazer muito bem do jeito deles, mas participam também dos eventos da Igreja e das missas, dentro da possibilidade de cada um. As comunidades ribeirinhas são muito presentes na região. Como acontece a interação com cada uma delas? De 2 em 2 meses, eu vou às comunidades rurais. É muito complicado, tem um rio ao longo do qual ficam as comunidades


Da Redação - Imagens: arquivo pessoal

ribeirinhas, a comunidade mais distante fica a aproximadamente 250 quilômetros de distância. Quando eu chego, eu visito as famílias, abençoo as casas. No horário da missa, toca-se o sino. Antes da missa, eu atendo algumas confissões e, se houver alguém para ser batizado, nós já o inscrevemos para receber o Sacramento do Batismo. Há sempre alguém da comunidade que indica quem será batizado. Após a missa, tem a celebração da partilha. No rio Xié e no rio Negro, eu tenho nove comunidades em cada um deles.

vel. Você depende do condutor do barco, de tempo, pois não tem como ir num dia e voltar no outro. Tem sido bom, mas tem sido desafiante, pois é um povo que tem um ritmo próprio, mais tranquilo que a nossa realidade [do Sul de Minas Gerais]. É um povo religioso, acolhedor, civilizado, educado, desde as crianças pequenininhas até os idosos, todos se tratam muito bem, com a gente [padre], nem se fala. É um pessoal que cultiva os valores que nós, infelizmente, estamos perdendo na nossa civilização desenvolvida.

A rotina pessoal e a realidade local interferem na vivência dessa experiência?

Estamos próximos do Sínodo da Amazônia que acontece em outubro deste ano. Como tem sido o processo de reflexão local sobre a realidade amazônica?

Durante o dia, a gente fica um pouco ocioso. Como não há muito o que se fazer, e nós somos responsáveis por tudo na casa paroquial, eu estou conseguindo assistir a algumas coisas na televisão, tem uma biblioteca muito boa com muito material, eu tenho conseguido ler bastante. Eu mesmo preparo minha alimentação, caso seja preciso lavar a roupa, também. Nós não temos funcionários na igreja. Nós temos que nos cuidar para não cairmos em depressão em virtude da solidão, eu até gosto de meditar a minha vida em sentido pessoal, mas é um lugar muito parado e muito quieto, onde não há opção para fazer um passeio num lugar turístico, uma ida e volta a cidade fica em torno de mil reais de combustí-

Chegou até nós o material preparatório para o Sínodo da Amazônia. Tem um conteúdo excelente, fala da região, explicando tudo o que está em jogo lá. A intenção é criar um texto onde haja preocupação em relação ao meio ambiente e, principalmente, quanto aos povos que têm sofrido muito na região, os povos amazônicos e indígenas, que possuem uma diferenciação: os amazônicos são os brancos que lá se instalaram e que, por um motivo ou outro, vivem lá, já os indígenas são os nativos da região. O papa está preocupado com essa situação e quer que trabalhemos a partir disso, especialmente a situação

de isolamento em que essas populações vivem. O papa quer que a Igreja marque um pouco mais de presença nesse meio, mais ainda a assistência religiosa. Os responsáveis pela elaboração do documento [instrumento de trabalho do sínodo], em comunhão com o papa, chegam a falar de coisas que, na minha opinião, são complicadas, dentre elas que a Igreja seja uma presença mais ativa, mais encarnada naquela realidade, procurando fazer com que as comunidades ribeirinhas mais periféricas tenham uma assistência religiosa da parte da Igreja, chegando ao ponto de propor a celebração eucarística dominical em todas as comunidades. Acho muito difícil disso acontecer pelo que vi e vivo lá. Como o documento está lançando algumas propostas, dentre elas o investimento na formação de lideranças indígenas, pode ser que surja alguma novidade nesse sentido. Qual seria o ponto central que deve conduzir as reflexões preliminares, não somente na Igreja amazônica, mas em todo o mundo? Quando o papa fala do Sínodo da Amazônia quer que o mundo todo tome conhecimento dessa realidade regional e do que acontece lá e, assim, haja um interesse de toda a Igreja Católica e de toda a sociedade pela Amazônia, porque aí está o pulmão do mundo. Com toda certeza, haverá,

da parte dos responsáveis, alguns convites para uma manifestação maior de todas as regiões do país, envolvendo, também, os outros países sobre o contexto da Amazônia e seus nove países que a compõem. O papa quer envolver esses países de uma maneira muito direta e quer que todos se juntem a essa causa. Isso será muito interessante e necessitará da colaboração de todos os lugares. Depois da conclusão do sínodo, haverá boas oportunidades para que o mundo todo se interesse pela Amazônia, naquilo que ela merece e naquilo que ela pode oferecer como estudo e investimento. Além disso, é fundamental uma presença maior, que dê uma condição de vida melhor para o povo, garantindo a preservação das matas, dos rios e também das cidades que vivem uma situação muito precária e precisam de investimentos e infraestrutura. Acredito que haverá um interesse e uma abertura para que isso aconteça, eu torço muito pela Amazônia estando naquele meio. A assistência que a Igreja está planejando em oferecer será um desafio enorme porque não será fácil, a não ser que se encontre um método ou uma forma de envolvimento maior dos indígenas, com mais participação de líderes da própria região, servindo seus próprios grupos e comunidades. O sínodo dará um chacoalhão em toda a evangelização e no cuidado com o pulmão do mundo.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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comunicações aniversários janeiro Natalício 5 Padre Gledson Antônio Domingues 10 Padre Alessandro Oliveira Faria 11 Padre José Luiz Gonzaga do Prado 12 Padre Dione Romualdo Ferreira Piza

20 Padre Donizete Antônio Garcia 22 Padre Marcelo Nascimento dos Santos 27 Padre Robervam Martins de Oliveira 31 Padre Luiz Tavares de Jesus

agenda pastoral 1 6 13

Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus – Dia Mundial da Paz Epifania do Senhor Batismo do Senhor

Ordenação 3 Padre Alexandre José Gonçalves 3 Padre Hiansen Vieira Franco 4 Padre Darci Donizetti da Silva 10 Dom José Geraldo Oliveira do Valle

(presbiteral) 13 Padre Homero Hélio de Oliveira 30 Padre Edimar Mendes Xavier 31 Padre José Neres Lara

14 - 20 Curso de Iniciação Teológica – Guaxupé 26 - 27 Encontro Diocesano de Lideranças da RCC – Petúnia

direitos humanos MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO AOS PARTICIPANTES DA CONFERÊNCIA INTERNACONAL “OS DIREITOS HUMANOS NO MUNDO CONTEMPORÂNEO: CONQUISTAS, OMISSÕES E NEGAÇÕES” O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes da Conferência Internacional sobre o tema “Os direitos humanos no mundo atual: conquistas, omissões e negações” que aconteceu nos dias 10 e 11 de dezembro, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral e essa instituição acadêmica. O encontro realizou-se por ocasião dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, celebrados no dia 10, e do 25º aniversário da Declaração e Programa de Ação de Viena para a tutela dos direitos humanos no mundo.

É

uma satisfação enviar uma saudação cordial a todos vós, representantes dos Estados perante a Santa Sé, das instituições das Nações Unidades, do Conselho da Europa, das Comissões Episcopais de Justiça e Paz e das pastorais sociais, do mundo acadêmico e das organizações da sociedade civil, reunidos em Roma para a Conferência Internacional sobre o tema “Os Direitos Humanos no Mundo Contemporâneo: Conquistas, Omissões e Negações”, organizada pelo Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral e pela Pontifícia Universidade Gregoriana, em comemoração do 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e do 25º aniversário da Declaração e do Programa de Ação de Viena. Através desses documentos, a família das Nações queria reconhecer a igual dignidade

de cada pessoa humana, da qual se origina direitos e liberdades fundamentais que, por estarem arraigados na natureza da pessoa humana – uma unidade inseparável de corpo e alma -, são universais, indivisíveis, interdependentes e interconectados. Ao mesmo tempo, na Declaração de 1948 se reconhece que “toda pessoa tem deveres em relação à comunidade, sendo que só nela pode desenvolver livre e plenamente sua identidade”. No ano em que se celebram aniversários significativos desses instrumentos jurídicos internacionais, resulta uma reflexão oportuna sobre os fundamentos e o respeito pelos direitos humanos no mundo contemporâneo, uma reflexão que espero ser premissa de um compromisso renovado em favor da defesa da dignidade humana, com uma atenção especial pelos membros mais vulneráveis da comunidade. Com efeito, observando com atenção nossas sociedades contemporâneas, encontramos numerosas contradições que nos levam a perguntar se verdadeiramente a igual dignidade de todos os seres humanos, proclamada solenemente há 70 anos, é reconhecida, respeitada, protegida e promovida em todas as circunstâncias. No mundo de hoje persistem numerosas formas de injustiça, alimentadas por visões antropológicas reducionistas e por um modelo econômico baseado no lucro, que não hesita em explorar, descartar e inclusive matar o homem. Enquanto uma parte da humanidade vive em abundância, outra parte vê sua própria dig-

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nidade desconhecida, depreciada ou pisoteada e seus direitos fundamentais ignorados ou violados. Penso, entre outras coisas, nos nascituros a quem é negado o direito de vir ao mundo; naqueles que não têm acesso aos meios indispensáveis para uma vida digna; naqueles que estão excluídos da educação adequada; em que está injustamente privado de trabalho ou é forçado a trabalhar como escravo; a quem está aprisionado em condições sub-humanas, a quem é exposto à tortura ou a quem se nega a oportunidade de se redimir, as vítimas desaparecidas e suas famílias. Meus pensamentos também se dirigem a todos aqueles que vivem num clima dominado pela suspeita e pelo desprezo, que são objeto de atos de intolerância, discriminação e violência devido a sua pertença racial, étnica, nacional ou religiosa. Finalmente, não posso deixar de me lembrar de quantas pessoas sofrem múltiplas violações de seus direitos fundamentais no contexto trágico dos conflitos armados, enquanto os mercadores da morte sem escrúpulos se enriquecem ao preço do sangue de seus irmãos e irmãs. Diante desses graves acontecimentos, todos somos questionados. De fato, quando se violam os direitos fundamentais ou quando se favorecem alguns em detrimento de outros, ou quando se garantem somente a certos grupos, se produzem graves injustiças, que por sua vez alimentam os conflitos com graves consequências tanto dentro dos

países como nas relações internacionais. Para tanto, cada um é chamado a contribuir com coragem e determinação, na especificidade de seu papel, respeitando os direitos fundamentais de cada pessoa, especialmente os invisíveis: dos muitos que têm fome e sede, que estão nus, doentes, são estrangeiros ou estão presos (cf. Mt 25, 35-36), que vivem às margens da sociedade ou são descartados. Essa necessidade de justiça e solidariedade tem um especial significado para nós, cristãos, porque o Evangelho mesmo nos convida a conduzir a atenção aos mais pequenos de nossos irmãos e irmãs, a nos mover por compaixão (cf. Mt 14,14) e a trabalhar arduamente para aliviar seus sofrimentos. Anseio, nesta ocasião, dirigir um convite sincero àqueles com responsabilidade institucional, pedindo-lhes que coloquem os direitos humanos no centro de todas as políticas, inclusive as de cooperação para o desenvolvimento, até mesmo quando isso significar ir contra a corrente. Com a esperança de que estes dias de reflexão possam despertar a consciência e inspirar iniciativas destinadas a proteger e promover a dignidade humana, confio a cada um de vocês, vossas famílias e vossos povos, à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz, e invoco sobre todos a abundância de bênçãos divinas. Vaticano, 10 de dezembro de 2018.


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