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FECHAMENTO AUTORIZADO PODE SER ABERTO PELA ECT

JORNAL DA DIOCESE DE GUAXUPÉ

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ANO XXXII - 331

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JUNHO DE 2017


editorial “Ser homem significa ter a coragem de construir um mundo de fraternidade, de enfrentar os problemas que se colocam dia a dia tanto a nível pessoal como a nível social; finalmente, significa desempenhar a tarefa pela qual Deus nos pôs neste mundo, ser homem é construir e não destruir” [Beato Oscar Romero]

expediente Diretor geral

DOM JOSÉ LANZA NETO Editor

SÉRGIO BERNARDES | MTB - MG 14.808 Equipe de produção

Douglas Ribeiro Jane Martins Revisão

JANE MARTINS

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a 3ª Conferência do Episcopado Latino-Americano em Puebla, em 1979, são João Paulo II atribui um título nobre ao continente americano, “Continente da Esperança”. Com forte presença cristã em todos os países, inclusive no Brasil, país mais católico do mundo, urge aos americanos um engajamento mais profundo, uma conversão autêntica que transforme as diversas realidades. A experiência de fé deve ser a bússola que rege as atitudes, os discursos e as ações dos discípulos do Mestre de Nazaré. Só assim, seremos capazes de fazer ressoar uma sociedade mais fraterna e comprometida com o bem de todos. Nesta edição, fazemos memória da fundamental contribuição da 5ª Conferência

do Episcopado Latino-Americano, realizado em Aparecida há 10 anos. Quais seriam as perspectivas e as metas que não conseguimos alcançar como comunidade cristã? E de que modo a proposta de Aparecida frutificou na evangelização com a escolha do cardeal Bergoglio para a missão de Sumo Pontífice? Há dois mil anos, a comunidade cristã se esforça em fazer ressoar no mundo as palavras e os ensinamentos de Jesus. Mas, quais seriam as semelhanças existentes entre os discípulos de ontem e de hoje? Avançamos ou retrocedemos em nossa conduta? Esse desafio pode ser vencido por um itinerário de vida cristã que privilegie a autenticidade e a coragem de assumir a fé. A Catequese que conhecemos

hoje poderia tornar-se neste processo de construção de verdadeiros discípulos-missionários? Neste mês, celebramos o Meio Ambiente, por isso buscamos uma apresentação sucinta da reflexão dos papas e da Igreja universal sobre a questão ecológica que exige um urgente esforço comunitário e pessoal de preservação e valorização dos recursos naturais. Isso não acontecerá somente pela ação do Espírito, que constante e profeticamente nos impulsiona a transformar nossa atitude e a sermos mais responsáveis pelos impactos que produzimos, assim, é fundamental que cada cristão assuma o encargo em conservar o dom gratuito e comum a todos: a Criação abundante de Deus.

Jornalista responsável

ALEXANDRE A. OLIVEIRA | MTB: MG 14.265

Projeto gráfico e editoração

BANANA, CANELA bananacanela.com.br | 35 3713.6160

Impressão

GRÁFICA SÃO SEBASTIÃO Tiragem

3.950 EXEMPLARES

voz do pastor

Dom José Lanza Neto, Bispo da Diocese de Guaxupé

Redação

55ª ASSEMBLEIA GERAL DOS BISPOS DO BRASIL

Telefone

Evento anual reúne o episcopado para debates e decisões sobre a evangelização no Brasil

Rua Francisco Ribeiro do Vale, 242 Centro - CEP: 37.800-000 | Guaxupé (MG) 35 3551.1013

E-mail

jornal.comunhao.guaxupe@gmail.com Os Artigos assinados não representam necessariamente a opinião do Jornal. Uma Publicação da Diocese de Guaxupé www.guaxupe.org.br

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empre se espera muito de uma Assembleia Geral, principalmente quando se fala da CNBB. A grande expectativa está em relação a notas, declarações, mensagens, entrevistas e conclusões em torno do tema central e temas prioritários, discutidos em assembleia. A agenda é sempre intensa e o desejo é que tudo chegue ao bom termo até o final. Faço destaque para alguns momentos que marcaram esta 55ª Assembleia Geral: • A análise de conjuntura ficou marcada pelo projeto Pensando o Brasil, com enfoque na Pastoral da Educação; • a dimensão eclesial enfocou os 10 anos passados desde a 5ª Conferência do Conselho Episcopal Latino-Americano, em Aparecida; • o tema central foi a Iniciação à Vida Cristã – itinerário para a formação do discípulo – missionário; • trabalhou-se fortemente sobre a Cele-

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bração da Palavra de Deus nas comunidades e a importância dos Ministros da Palavra; • foi expressivo um belo trabalho sobre a exortação apostólica Amoris Laetitia, do Papa Francisco, feito por dom Pedro Cipolini e outros assessores, A acolhida de Amoris Laetitia na Igreja do Brasil; • o retiro espiritual de temática mariana, conduzido pelo monge trapista dom Bernardo Bonowitz, deve-se ao fato de estarmos vivenciando os 300 anos do encontro da imagem da Senhora Aparecida e os 100 anos da aparição de Nossa Senhora de Fátima a três crianças em Portugal. Fizemos nossa peregrinação até o Santuário Nacional e, em caminhada aos pés da Mãe querida, concluímos com o momento de oração. Merecem destaque a fraternidade, a

comunhão e a colegialidade entre nós, bispos, assessores e toda equipe comprometida com os trabalhos. O respeito, a admiração, a alegria e o compromisso são marcas registradas de uma Igreja que se compõe para evangelizar numa realidade tão diversa e complexa. Fizemos comunhão com outras Igrejas cristãs também comprometidas com a causa da vida e da Casa Comum. Com essas poucas palavras e informações, vale recordar o quanto precisamos caminhar à Luz do Concílio Vaticano II e como a 5ª Conferência, realizada em Aparecida em 2007, está presente e continua marcando nossa caminhada missionária e evangelizadora no Brasil e na América Latina e no Caribe. Deus seja louvado por conquistas tão importantes. Que a Mãe Aparecida continue derramando bênçãos e graças sobre cada um de nós e sobre o Povo Brasileiro.


opinião

Por padre José Augusto da Silva, pároco em Poços de Caldas e professor especialista na Faculdade Católica de Pouso Alegre

APARECIDA E OS NOVOS RUMOS DA EVANGELIZAÇÃO

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ma década se passou e as conclusões da Quinta Conferência dos Bispos Latino-americanos e do Caribe ainda são ressonantes e atuais quanto ao modo de se fazer pastoral, em nossa reflexão e debate teológico. Ao reler o documento, tem-se a impressão de que se está diante de diagnóstico inusitado e um prognóstico efetivamente viável. As duas expressões marcantes - discípulos missionários e conversão pastoral – emolduram o conteúdo do precioso documento que ilumina a Evangelização no Brasil, na América Latina e no Caribe e, inclusive, no restante do mundo. No Brasil, na América Latina e no Caribe, sim; afinal, a Conferência foi realizada aqui, com a participação de representantes do episcopado latino-americano e com a presença afável de Bento XVI. Mas, não seria um exagero afirmar que Aparecida inspira a Evangelização no resto do planeta? No que se baseia tal premissa? O fato é que a Providência Divina quis que, além do comparecimento de Bento XVI, aqui estivesse também o cardeal Bergoglio, naquela ocasião, arcebispo de Buenos Aires e, conforme sabemos, tornou-se, em 2013, o Francisco de Roma. Bergoglio teve a tarefa de ser o responsável pela redação final do Documento. Ora, não será necessário hercúleo aprofundamento para dar-se conta de que os documentos e orientações do atual Pon-

tífice exalam o bom odor de Aparecida. Basta relermos a emblemática Exortação Apostólica Alegria do Evangelho, publicada em 30/11/2013. Aparecida é conhecida como terra das Graças e dos presentes de Deus. O documento lá exarado o comprova. Às vésperas da Conferência, havia um notório desânimo por parte dos teólogos, dos pastoralistas e mesmo por parte de alguns bispos, que não viam espaço e atmosfera favoráveis para o empreendimento de alguma mudança de maior monta no tocante à Pastoral. Mas, o fato, historicamente comprovado, é que o entusiasmo venceu o desânimo, a coragem superou o medo e a alegria ultrapassou a decepção. Passados dez anos, precisamos reexaminar a dádiva de Aparecida. Afinal, vivemos nas ondas pós-modernas que, entre outras mazelas, nos levam às águas do esquecimento. Mais que reexaminarmos e enfatizarmos os aspectos nucleares – discípulos missionários e conversão pastoral - é imperativo que se perceba a sua continuidade nos posicionamentos de nossos bispos, nos discursos e atitudes do Papa Francisco. Constato, com alegria e entusiasmo, o esforço empreendido por nossa Diocese em se aggionar ao espírito de Aparecida, sobretudo no projeto, já em fase de acabamento, da grande campanha missionária através das SMPs. Todos sabemos que se

trata de uma campanha. Enquanto tal, o Projeto logra sucesso. Os depoimentos das comunidades, as discussões e a tomada de consciência da índole missionária da Igreja ilustram tal fato. Contudo, é importante lembrar, as campanhas são efêmeras. O que delas se espera são os efeitos, especialmente o revigoramento na faina eclesial. Para tanto, será necessário aguardar, sempre com otimismo, os acenos da história. Mas, destaco, de modo enfático, as duas exortações pós-sinodais do Papa Francisco. Na Alegria do Evangelho, as expressões “Igreja em saída” e “Igreja, hospital de campanha” estão em profunda sintonia com Aparecida. Eis o texto: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49). Numa entrevista concedida aos jesuítas, diz Francisco: “Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. É inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar alto. Devem curar-se as suas feridas. Depois podemos falar de tudo o resto. Curar as feridas, curar as feridas... E é necessário começar de baixo”. Na Exortação Apostólica Alegria do

Amor, o Papa continua a atualizar Aparecida. O olhar misericordioso sobre aquelas situações complexas da realidade familiar, especialmente expressas no capítulo oitavo - acompanhar, discernir e integrar a fragilidade - sinaliza a ótica da Conferência. Veja o que diz Francisco no número 305 da exortação apostólica: “Por isso, um pastor não pode sentir-se satisfeito apenas aplicando leis morais àqueles que vivem em situações ‘irregulares’, como se fossem pedras que se atiram contra a vida das pessoas. É o caso dos corações fechados, que muitas vezes se escondem até por detrás dos ensinamentos da Igreja ‘para se sentar na cátedra de Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos difíceis e as famílias feridas’. Na mesma linha se pronunciou a Comissão Teológica Internacional: ‘A lei natural não pode ser apresentada como um conjunto já constituído de regras que se impõem a priori ao sujeito moral, mas é uma fonte de inspiração objetiva para o seu processo, eminentemente pessoal, de tomada de decisão’. Por causa dos condicionalismos ou dos fatores atenuantes, é possível que uma pessoa, no meio duma situação objetiva de pecado – mas subjetivamente não seja culpável ou não o seja plenamente –, possa viver em graça de Deus, possa amar e possa também crescer na vida de graça e de caridade, recebendo para isso a ajuda da Igreja. O discernimento deve ajudar a encontrar os caminhos possíveis de resposta a Deus e de crescimento no meio dos limites. Por pensar que tudo seja branco ou preto, às vezes fechamos o caminho da graça e do crescimento e desencorajamos percursos de santificação que dão glória a Deus. Lembremo-nos de que ‘um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades’. A pastoral concreta dos ministros e das comunidades não pode deixar de incorporar esta realidade”. É bem verdade que tal ousadia pontifícia tenha lucrado incompreensões e duras críticas por parte de alguns Bispos “mais católicos que o papa”. Contudo, essa coragem nos coloca para além de Aparecida. Tamanho discernimento e maturidade pística nos remetem ao fogo do Espírito Santo de Deus, que quer fazer novas todas as coisas. Aparecida é um documento catalizador. Sigamos em frente haurindo deste manancial os tesouros ali consignados da nossa Tradição. Renovemos nossa convicção em uma Igreja toda missionária e toda ministerial. Cada um a seu tempo e a seu modo, irmanemo-nos na tarefa que nos é comum: compartilhar as alegrias e as esperanças da experiência pessoal e intransferível com o Senhor Jesus.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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notícias Diocese acolhe três novos padres Texto: Luiz Fernando Gomes/Douglas Ribeiro

Padre Paulo | Foto: Daniel Fotografias

O primeiro a receber o segundo grau do Sacramento da Ordem foi o diácono Paulo Rogério Sobral, no dia 22 de abril, em uma celebração presidida pelo bispo diocesano na Matriz Nossa Senhora do Carmo em Campestre. Em seu depoimento após a ordenação e a primeira missa, padre Paulo revelou a emoção em participar do ministério presbiteral: “Ainda estou vivendo a emoção daquele momento. Uma entrega

Padre Dione | Foto: Marcos G Marcondes

que se renova a cada instante. Contudo, tenho consciência da minha humanidade e sei que a ordenação não é ponto final de uma caminhada, mas ponto de partida no seguimento de Jesus Cristo no serviço aos irmãos e irmãs”. Com o lema: “Não tenhas medo” (cf. Lc 5,10), o diácono Dione Piza foi ordenado presbítero na Igreja Matriz de São José em Muzambinho, no dia 06 de maio. “Fiz a

Padre Michel| Foto: Sara Fideles

experiência de um encontro com Cristo, a ponto de abandonar os sonhos e perspectivas de meus pais, deixar os meus, sair do meu mundo e fazer-me ao lago, para águas mais profundas, em um processo de conversão diária”, afirmou o ordenando. No dia 13 de maio, foi ordenado presbítero o diácono Michel Pires em Itamogi. O lema escolhido para a ordenação foi “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito:

alegrai-vos!” (Fl 4,4). Em sua homilia, o bispo destacou algumas qualidades do ordenando: “nunca deixe morrer essa alegria e disposição que são naturais na sua pessoa, sirva sempre ao Senhor, dando o seu sim todos os dias”. No fim da Celebração, no seu discurso de agradecimento, padre Michel rendeu graças a Deus por todas as pessoas que o ajudaram no seu processo formativo.

CNBB cria comissão especial para Papa Francisco visita cuidar dos patrimônios culturais Santuário de Fátima no centenário das aparições Texto: Assessoria de Comunicação - CNBB | Foto: Sylvia Braga/Iphan

Texto: Rádio Vaticano | Foto: Divulgação

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) criou a Comissão Episcopal Especial para os Bens Culturais que terá o papel de fomentar o cuidado com o patrimônio material e imaterial da Igreja no Brasil, em diálogo com os órgãos governamentais e eclesiais especializados. Esse é um dos projetos da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB. A Comissão nomeada tem como presidente dom João Justino de Medeiros, arcebispo coadjutor de Montes Claros (MG), que também preside a Comissão Episcopal para Cultura e Educação. Também compõem a comissão o arcebispo de Maceió, dom Antônio Muniz e o bispo de Petrópolis (RJ), dom Gregório Paixão. “O patrimônio histórico-artístico pertencente à Igreja nos coloca diante de um privilegiado potencial evangelizador e de um qualificado instrumento para o diálogo com a cultura. Muitas dioceses no Brasil já organizaram comissões locais e têm dispensa-

do esforços de trabalho para a preservação dos seus bens histórico-artísticos. São visíveis os resultados dessas comissões. Também alguns Regionais da CNBB fizeram o mesmo. O objetivo da comissão será o de estimular a atuação da Igreja no Brasil a fim de que se efetive o cuidado, a preservação e o uso desse enorme patrimônio que nos foi legado pelas gerações passadas como uma expressão de fé”, destacou dom João Justino. O Brasil possui relevante acervo e contribuição, no âmbito dos bens culturais, no cenário internacional. Padre Danilo faz um panorama dessas influências, “Retrato disto é a mistura da belle epoche paraense com traços amazônicos, o barroco baiano e mineiro de influência lusitana com matrizes afro, imprimidos pelo Cabra, na Bahia, e por Aleijadinho, nas Gerais, o neogótico nas regiões sulistas de colonização alemã e italiana, e o moderno concreto em curva de Niemeyer, no Distrito Federal”.

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O Papa Francisco realizou nos dias 12 e 13 de maio uma breve peregrinação ao Santuário mariano de Fátima, em Portugal, por ocasião do primeiro Centenário das aparições de Nossa Senhora na Cova da Iria a 3 crianças. Duas delas foram canonizadas no dia 13, Francisco e Jacinta, e a terceira, Lúcia, está em processo de beatificação. Pouco mais de 23 horas em terras portuguesas, 4 discursos, sete presentes, dois encontros privados, um almoço com os bispos portugueses, a oração do Terço diante da imagem de Nossa Senhora e a Santa Missa com a presença de milhares de fiéis e peregrinos. Poucas horas, mas intensas. A paz e a esperança foram o lema da peregrinação ao santuário que tem na paz a sua melhor mensagem. Francisco foi a Fátima como peregrino da esperança e da paz, acolhen-

do o convite do Presidente da República e dos bispos portugueses. Foram momentos vividos com grande alegria pelos portugueses porque, neste centenário, através da presença do Santo Padre, a Igreja portuguesa esteve unida a toda a Igreja do mundo. Como o próprio Francisco disse aos cerca de 70 jornalistas presentes no avião papal, esta foi uma “viagem um pouco especial, uma viagem de oração, um encontro com o Senhor e com a Santa Mãe de Deus”. Na grande vigília de oração na sexta-feira, Francisco rezou diante da imagem de Nossa Senhora. Ali, aos pés da imagem, colocou flores e uma Rosa de Ouro, pediu paz e concórdia para o mundo e para os povos. Recordou os pastorzinhos e que podemos também ser peregrinos de todos os caminhos, derrubando muros e fronteiras.

Centenário das aparições foi oportuno para canonização de 2 pastorzinhos


em pauta

Da Redação | Com informações da Assessoria de Comunicação – CNBB Imagem: Assessoria de Comunicação – CNBB

EVANGELIZAÇÃO E REALIDADE SOCIAL SÃO TEMAS DE DEBATE NA ASSEMBLEIA DOS BISPOS

Motivados pela Palavra de Deus e pela Conferência de Aparecida, nós somos chamados a ser uma Igreja de discípulos missionários, que vivem do encontro com o ressuscitado, que vivem fraternalmente em comunidade, mas que se levantam para sair ao encontro de quem está necessitado de corações e braços abertos para se levantar, para sair ao encontro de quem não consegue ver, mas deseja e necessita caminhar na luz e responder: quem és tu, Senhor”. Esse foi um trecho marcante da homilia do cardeal Sérgio da Rocha, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, no encerramento da 55ª Assembleia Geral do episcopado brasileiro. O encontro foi realizado em Aparecida (SP), entre os dias 26 de abril e 5 de maio. A temática central do evento neste ano foi a Iniciação Cristã, mas a assembleia se dedicou a discutir outros temas de relevância não somente eclesial, mas de interesse para toda a população brasileira: ministério da Palavra, educação, proteção dos povos indígenas, política e relações de trabalho.

INICIAÇÃO CRISTÃ O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico-Catequética, dom José Antônio Peruzzo, explica que a iniciação à vida cristã é a mais urgente das demandas evangelizadoras da Igreja, mas defende que este não é um tema novo. A adequação e o aprofundamento do processo catequético, já apontados desde o Concílio Vaticano II e reforçados pelo Ritual de Iniciação Cristã, fazem parte das urgências evangelizadoras da Igreja no Brasil. A proposta é que, neste tempo de preparação para a vivência dos sacramentos, o cristão tenha a oportunidade de se aprofundar em conteúdos associados a noções de Bíblia, Liturgia, Espiritualidade, Credo e Sacramentos. E na fase de conclusão do processo catequético, a da Recepção dos Sacramentos, o candidato é admitido na fé da Igreja. MINISTÉRIO DA PALAVRA Atualmente, cerca de 70% das comunidades da Igreja do Brasil não têm o mi-

nistro ordenado para presidir a Eucaristia. Pensando na relevância da Celebração da Palavra na vida comunitária de tantos cristãos, os bispos elaboraram um documento sobre o Ministério da Palavra. “Descobrimos que Cristo se torna presente de uma maneira forte e única em sua Palavra. Ao anunciar a Palavra, é Cristo que continua anunciando aos homens e mulheres do nosso tempo”, destacou dom Armando Bucciol, bispo de Livramento de Nossa Senhora (BA). A intenção do episcopado brasileiro é preparar os leigos para assumirem mais os ministérios e fecundar as comunidades cristãs. “Não é um sonho, mas uma realidade a ser potenciada, pois o documento trará uma atualização necessária ao reafirmar e incentivar este ministério”, afirmou dom Armando. O documento, que será lançado em breve, insiste no investimento na formação, devido à necessidade do grande número de comunidades que são atendidas por leigos e leigas. SITUAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL Nos últimos dias da assembleia, os bispos do Brasil divulgaram uma nota oficial em que apresentam a visão da Igreja sobre o profundo descrédito das instituições civis, motivado pelos casos de corrupção e pelo profundo desrespeito à população. Leia um trecho da nota: “O que está acontecendo com o Bra-

sil? Um País perplexo diante de agentes públicos e privados que ignoram a ética e abrem mão dos princípios morais, base indispensável de uma nação que se queira justa e fraterna. O desprezo da ética leva a uma relação promíscua entre interesses públicos e privados, razão primeira dos escândalos da corrupção. Urge, portanto, retomar o caminho da ética como condição indispensável para que o Brasil reconstrua seu tecido social. Só assim a sociedade terá condições de lutar contra seus males mais evidentes”. POPULAÇÕES INDÍGENAS A perda dos direitos indígenas e de suas terras, além do crescimento da violação de seus direitos humanos no país, foi a motivação para a divulgação de uma carta de dom Roque Paloschi, presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), durante a assembleia. “O ataque sistemático e violento aos seus direitos e às suas vidas faz com que se mobilizem em todas as regiões do país. Nas aldeias, nas estradas, nas retomadas, nas autodemarcações, nas incidências e mobilizações, no Brasil e em instâncias multilaterais, continuam fazendo as denúncias contra os projetos de morte do agronegócio e anunciando, em alto e bom som, que estão vivos e que darão suas vidas pelo direito à vida e ao futuro de suas gerações em seus territórios demarcados e protegidos”, denunciou o bispo em discurso.

MENSAGEM AOS TRABALHADORES No dia 1º de maio, a CNBB emitiu uma mensagem aos trabalhadores, às trabalhadoras, incentivando a defesa dos direitos fundamentais que garantam sua sobrevivência e dignidade. A mensagem se recorda dos atuais 13 milhões de desempregados e condena alguns projetos de lei em tramitação (Lei das Terceirizações e Reforma Trabalhista), e também a Proposta de Emenda à Constituição para a Reforma da Previdência. “Ao longo da nossa história, as lutas dos trabalhadores e trabalhadoras pela conquista de direitos contribuíram para a construção de uma nação com ideais republicanos e democráticos. (...) É inaceitável que decisões de tamanha incidência na vida das pessoas e que retiram direitos já conquistados sejam aprovadas no Congresso Nacional, sem um amplo diálogo com a sociedade”. EDUCAÇÃO Outro assunto aprofundado pelos bispos foi o Projeto Pensando o Brasil: Educação. O projeto apresenta o cenário da educação no Brasil, em seus aspectos quantitativos (acesso e permanência) e qualitativos (a melhoria da aprendizagem), e propõe caminhos para superar os principais desafios que levanta: políticas públicas, orçamento para educação, gestão escolar e educação como compromisso de todos.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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liturgia

Por Gustavo Henrique, seminarista – Teologia

PENTECOSTES: O DESPERTAR MISSIONÁRIO DA IGREJA

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portas fechadas por medo dos judeus (cf. Jo 20,19), trancados em si mesmos, agora não há o que temer. Aqui nasce a missão da Igreja, a missão de todo cristão, discípulo missionário: anunciar a Boa Nova, movidos e repletos do Espírito Santo. “A partir de Pentecostes, a Igreja experimenta de imediato fecundas irrupções do Espírito, vitalidade divina que se expressa em diversos dons e carismas (cf. 1 Cor 12, 1-11) e variados ofícios que edificam a Igreja e servem à evangelização (cf. 1 Cor 12, 28-29). (...) A Igreja, enquanto marcada e selada ‘com o Espírito Santo e o fogo’ (Mt 3,11), continua a obra do Messias, abrindo para o crente as portas da salvação. (cf. 1 Cor 6,11)” (DAp 150 - 151).

... o amor de Deus foi derramado em nossos corações, pelo Espírito que nos foi dado

patrimônio espiritual SERMÃO DE PENTECOSTES*

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a realidade, depois do Senhor ter convivido com seus discípulos, após sua ressurreição, durante quarenta dias, subiu ao céu, e, no dia quinquagésimo, que hoje celebramos, enviou o Espírito Santo, conforme está escrito: De repente, um ruído do céu, como um vento forte, ressoou em toda a casa; apareceram umas línguas de fogo, que se repartiram, pousando sobre cada um deles. E começaram a falar em línguas estrangeiras, cada um na língua que o Espírito lhe sugeria. Aquele vento purificava os corações da palha carnal; aquele fogo consumia o feno da antiga concupiscência; aquelas línguas

Essa missão da Igreja, de continuar a obra salvífica de Cristo abrindo a todos os povos as portas da salvação, que o Documento nos afirma, vem reiterar o que o Concílio Vaticano II havia falado, dando um grande destaque à liturgia: “a obra da salvação continuada pela Igreja realiza-se na liturgia”. Desde Pentecostes “a Igreja jamais deixou de reunir-se para celebrar o mistério (cf. Rm 5, 5) pascal”. Toda ação litúrgica que realizamos acontece “por virtude do Espírito Santo” (SC 6). Do mesmo modo que o Espírito Santo agiu em toda ação litúrgica dos apóstolos, ele continua agindo todas as vezes que a comunidade se reúne, fazendo memória, ouvindo a Palavra e repartindo o pão. Em toda liturgia sacra-

o decorrer do ano litúrgico, em cada tempo específico, a Igreja, em sua sabedoria e movida pela ação do Espírito Santo, convida seus fiéis a mergulharem suas vidas no Mistério Pascal de Cristo. Poucos dias atrás celebrávamos o grande evento central de nossa fé: a Páscoa do Senhor. “Por que procurais dentre os mortos aquele que está vivo?” (cf. Lc 24, 5). Verdadeiramente o Senhor Ressuscitou! Aleluia! Passados 50 dias, concluímos este período litúrgico com a festa de Pentecostes. O evangelista João mostra claramente em seu Evangelho que o Pai jamais deixará a humanidade órfã. Promete a todos os seus filhos e filhas o seu Espírito: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. Então eu pedirei ao Pai, e ele dará a vocês outro Advogado, para que permaneça com vocês para sempre. (...) Eu não deixarei vocês órfãos mas voltarei para vocês” (cf. Jo 14, 1518). Nessas palavras pode-se sentir o quanto Deus ama e não deixa a humanidade sozinha, perdida. Envia aos apóstolos um Defensor, o Advogado, o Consolador: “Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (cf. At 2, 1-4). O amor de Deus é derramado em toda face da terra, infundido no coração dos seus discípulos e os impulsiona à missão. Se antes estavam perdidos, desanimados, com as

Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja (séc. V)

*Sermão 271. (PL 38, 1.245-1.246)

em que falavam os que estavam plenos do Espírito Santo prefiguravam a futura Igreja, mediante as línguas de todos os povos. Pois assim como depois do dilúvio a soberba impiedade dos homens edificou uma grandiosa torre contra o Senhor, ocasião na qual o gênero humano mereceu ser dividido pela diversidade de línguas, de modo que cada nação falasse sua própria língua para não ser entendida pelas demais; assim a humilde piedade dos fiéis reduziu essa diversidade de línguas à unidade da Igreja; de maneira que aquilo que a discórdia tinha dispersado, o reunisse a caridade; e, assim, os membros dispersos do gênero humano, qual membros de um mesmo cor-

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mental, seja nos elementos verbais, gestos e, sobretudo, no silêncio orante há rastros deste dom do Pai e do Filho doado a todos nós. Como fala o apóstolo Paulo, “pois o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus” (cf. 1Cor 2, 10). A Igreja particular de Guaxupé, com as Santas Missões Populares, tem procurado, cada vez mais, ser uma Igreja missionária, em estado permanente de missão, como vem falando o Papa Francisco, mas isso só acontecerá, realmente, se o Espírito for o condutor de todas as ações humanas. São João Paulo II, em sua encíclica Redemptoris Missio (21), afirma que: “Verdadeiramente o Espírito Santo é o protagonista de toda a missão eclesial (...) o Espírito Santo age através dos Apóstolos, mas, ao mesmo tempo, opera nos ouvintes”. Não haverá missão profícua se não deixarmos que o Espírito Santo atue, ele oferece a cada discípulo missionário “luz e forças que lhe permitem corresponder à sua altíssima vocação” (GS n. 10). Nesse sentido, deve-se assumir a vocação de batizado. Buscando fazer acontecer, cada vez mais, nas comunidades, um novo Pentecostes. Mas é preciso ter cuidado, “aquela Igreja, impelida para fora do cenáculo, é sempre tentada a voltar, e novamente fechar-se lá dentro” (Raniero Cantalamessa). Infelizmente, isso é um grande risco que se corre nas comunidades. O Espírito Santo, dom de Deus, vem para enviar em missão, uma missão que leva às periferias existenciais, aos lugares mais necessitados da presença de Deus. Que Maria, aquela que esteve junto aos apóstolos no cenáculo, ajude a todos a serem homens e mulheres repletos do Espírito Santo.

po, fossem reintegrados à unidade de uma única cabeça, que é Cristo, e fundidos na unidade do corpo santo mediante o fogo do amor. Entretanto, deste dom do Espírito Santo estão totalmente excluídos os que odeiam a graça da paz e os que não mantêm a harmonia da unidade. E ainda que também eles se reúnam hoje solenemente, ainda que escutem estas leituras nas quais o Espírito Santo é prometido e enviado, as escutam para sua condenação, não para sua recompensa. De fato, de que lhes aproveita ouvir com os ouvidos o que rejeitam com o coração? De que lhes serve celebrar a festa daquele, cuja luz odeiam?

Em vez disso, vós, meus irmãos, membros do corpo de Cristo, germens da unidade, filhos da paz, festejai este dia com alegria, celebrem-no com satisfação. Em vós se realiza o que se preanunciava nos dias da vinda do Espírito Santo. Assim como naquela ocasião os que recebiam o Espírito Santo, mesmo sendo um só homem, falava todas as línguas, assim também agora por todas as nações e em todas as línguas fala essa mesma unidade, radicados na qual possuís o Espírito Santo, mas com a condição de que não estejais separados por cisma algum da Igreja de Cristo, que fala todas as línguas.


catequese

Por Heber Crispim, escrivão e leigo em Botelhos

CATEQUESE CATECUMENAL: ITINERÁRIO ESPIRITUAL DO MISTÉRIO CRISTÃO

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Documento que os Bispos da América Latina e Caribe redigiram ao final da Conferência em Aparecida no ano de 2007, ao tratar da catequese faz os seguintes questionamentos: “Hoje temos um grande desafio: uma grande quantidade de cristãos que não praticam sua fé. Como aproximar deles? De que maneira? Por quais métodos? Como fazê-los descobrir o imenso valor da vivência da fé, na recepção dos sacramentos e vivência de comunidade? Muitos dos nossos católicos estão assim!” Esse fato tão triste nos faz pensar: como estamos educando na fé nossos cristãos, e os não-cristãos que se aproximam da Igreja com o desejo de sê-lo? Como estamos alimentando sua vivência cristã? O Rito de Iniciação Cristã de Adultos pretende ser uma resposta adequada a esses desafios. A Igreja possui uma maneira diferente de ensinar aos adultos a fé cristã. Esse Rito “é destinado a adultos que, iluminados pelo Espírito Santo, ouviram o anúncio do mistério de Cristo e, conscientes e livres, procuram o Deus vivo e encetam o caminho da fé e da conversão” (RICA, 1). É um conjunto de cerimônias, de atos e de eventos que se adaptam ao itinerário espiritual dos adultos, e que variam segundo a multiforme graça de Deus, a livre cooperação de quem deles participa, a ação da Igreja e as circunstâncias de tempo e lugar. A formação cristã consiste na instrução doutrinal unida intimamente com a experiência litúrgica, na qual o Mistério de Jesus Cristo se faz mais presente. Não é o bastante conhecer os dogmas e os preceitos: é preciso vivenciar o Mistério da salvação do qual desejam participar plenamente, o que é facilitado pela vinculação dos conteúdos da fé com o ano litúrgico e com uma maior valorização das celebrações da Palavra. Nesse processo, a catequese (entendida como o momento da instrução) está intimamente articulada com a liturgia.

Aos adultos, iniciados no caminho de crescimento na fé da Igreja Católica, dá-se o nome de catecúmenos. E a este tempo de instrução e iniciação dá-se o nome de catecumenato. Um elemento importante no catecumenato é o itinerário espiritual realizado por etapas. Nesse caminho espiritual existem os passos pelos quais o catecúmeno, ao caminhar, como que atravessa portas, ou sobe degraus. Vejamos brevemente cada um deles. Inicia-se a primeira etapa quando, aproximando-se de uma conversão inicial, a pessoa quer tornar-se cristão. A essa etapa coincide num primeiro tempo consagrado à evangelização e ao “pré-catecumenato”, encerrando-se com o ingresso na ordem dos catecúmenos. A segunda etapa começa quando, já introduzido na fé e estando a terminar o catecumenato, a pessoa é admitida a uma preparação mais intensiva para os

sacramentos. Este é um segundo tempo, dedicado à catequese e aos ritos anexos, terminando no dia da eleição do catecúmeno, quando encerra-se o catecumenato propriamente dito. Por fim, a terceira etapa é iniciada quando, concluída a preparação espiritual, o catecúmeno recebe os sacramentos de iniciação cristã. É o terceiro tempo, assinalado pela purificação e pela iluminação. Coincide com a preparação quaresmal para as solenidades pascais e para os sacramentos. Há nessa etapa um último tempo, que perdura todo o período pascal, e é consagrado à mistagogia, isto é, à condução dos iniciantes, passo-a-passo nos mistérios da fé e da Igreja, tendo em vista uma caminhada cristã; aprofunda-se a consciência e a experiência do mistério da Páscoa de Cristo, atualizados na celebração da liturgia. Pela recepção do Sacramento do Ba-

tismo, da Crisma e da Eucaristia o novo cristão é incorporado à Igreja, e como Igreja, é incluído no próprio agir de Cristo, de modo que se torna o “próprio Cristo” (Santo Agostinho). Essa é a nova vida do fiel, a sua nova existência; ele é feito pessoa nova: outro Cristo. O Rito de Iniciação Cristã de adultos parte sempre do pressuposto que a verdadeira missão da Igreja, e por conseguinte, das comunidades cristãs, é levar Jesus, seu Evangelho, e sua vida divina a todos, “suscitando a fé viva e favorecendo uma existência verdadeiramente cristã”, gerando autênticos discípulos missionários. Através de seu itinerário, o Rito de Iniciação tem a finalidade de fazer com que Cristo cresça na vida dos catecúmenos, de fortalecê-los na Igreja, e de dar-lhes em Cristo, vida plena: a vida de Jesus Cristo e a vida em Jesus Cristo. A Igreja propõe uma Presença a ser seguida e amada: e exatamente aqui começa-se a ser cristão, quando se encontra aquela Pessoa que corresponde ao grande desejo do coração humano. Na obediência à Verdade que a Igreja ensina, o catecúmeno encontra a Salvação. É importante lembrar que para nós cristãos a Verdade é uma Pessoa Viva: Jesus de Nazaré. E viver enraizado, unido, conformado a Ele, é condição necessária para testemunhá-lo com coragem, “de pé e firme, com a cabeça erguida”, amando até o extremo. O Rito de Iniciação valoriza e resgata a totalidade da fé cristã que recebemos, sem a qual não crescemos até à adultez, e que nos coloca dentro de um fluxo vivo, por esta mesma fé gera verdadeiros cristãos, discípulos e missionários. O verdadeiro encontro com Jesus Cristo, proposto pelo catecumenato, forma discípulos apaixonados e entusiasmados, e testemunhas autênticas. Gera uma vida transformada: “O meu viver é Cristo” (Fl 1, 21). “Ser discípulo é dom destinado a crescer”: no conhecimento, no amor e no seguimento de Jesus, paulatina e gradualmente.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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bíblia

Por padre Francisco Albertin Ferreira, pároco em Campestre e mestre em Ciências da Religião

A BELEZA DO AMOR, DA FÉ E DA ESPERANÇA EM JESUS CRISTO

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fé que professamos, o amor que vivenciamos e a esperança que nos impulsiona rumo a um novo e eterno horizonte têm sua razão de ser e existir em Jesus Cristo. Todavia, esta fé não consiste apenas em crer, pois a fé se processa na vivência no amor a Deus e ao próximo, via boas obras, e fundamenta-se na esperança que não decepciona na construção do Reino de Deus no meio de nós. Neste sentido, buscando as origens das comunidades cristãs, podemos encontrar elementos importantes na vivência de nossa fé cristã nos dias de hoje. “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8). Ocorre que já está em nossa mente aquele retrato que Lucas, nos Atos dos Apóstolos (2,42-47) nos diz: que os cristãos eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apóstolos, na comunhão, na partilha do pão e nas orações. Que vendiam suas propriedades e bens, e os repartiam entre todos, conforme a necessidade de cada um. Lindo retrato! Mas era mesmo assim? Em um de meus livros, Explicando as cartas de São Paulo, coloco, de propósito: Primeiro retrato de uma comunidade cristã. Mas, afinal, foi Lucas, nos Atos dos Apóstolos, ou Paulo, em suas cartas, que retrata o sentido verdadeiro das primeiras comunidades cristãs? O livro dos Atos dos Apóstolos foi escrito por volta dos anos 90 (uns colocam 85). Paulo esteve em Corinto por volta dos anos 50 e 51 e começou a escrever suas cartas nesta época. A primeira carta de São Paulo aos Tessalonicenses foi escrita por volta do ano 51, quase 40 anos antes. Há biblistas e estudiosos que dizem que Lucas descreve um retrato ideal das primeiras comunidades

dade, existem pessoas sábias? Qual sabedoria? 3. Leia 1 Cor 5-6. Em sua comunidade, como está o testemunho ou o contra-testemunho da fé? 4. Leia 1 Cor 7. Como está a vivência do sacramento do matrimônio? Que tempo e ações as pessoas dedicam na construção do Reino de Deus? 5. Leia 1 Cor 9,15-23. As pessoas anunciam com alegria e gratuidade o Evangelho? A missão de fato funciona? Há missionários e missionárias ao serviço do Reino de Deus? 6. Leia 1 Cor 11,17-34. Como as pessoas participam da missa? E em suas vidas revelam ação de graças e partilha no dia a dia? 7. Leia 1 Cor 12—13. Será que de fato colocamos os nossos dons e carismas, presentes de Deus a cada um de nós, a serviço da comunidade e para o bem comum? Acima de tudo, vivenciamos o dom maior do Amor? Se tiver ainda alguma dúvida, leia Mateus 25,31-46.

cristãs e que Paulo descreve um retrato real destas. Convidaria você leitor e leitora a fazer um exercício bíblico, pedindo o dom da sabedoria do Espírito Santo, para discernir verdadeiramente o que estas primeiras comunidades cristãs têm a nos ensinar hoje. Na vivência dos ensinamentos dei-

leitura A

1. Leia 1 Cor 1,10-16. Em sua comunidade cristã, existem divisões, fofocas e intrigas? 2. Leia 1 Cor 1,17-2,16. Em sua comuni-

Texto/Foto: Assessoria de Comunicação

A ESCOLA DA LIBERDADE s reflexões do jesuíta João Batista Libanio, falecido em 2014, são apresentadas nesta obra que leva o leitor a entender a liberdade não como dependência, nem como acatamento de outra vontade ou como rebeldia arbitrária. O título do livro responde a ótica geral do livro. Os temas seguem a ordem do livro dos Exercícios Espirituais, que organiza os assuntos em semanas. Estas correspondem a etapas de um processo existencial da busca da vontade de Deus sob a forma de eleição da vida. O escopo do livro é ajudar as pessoas no processo espiritual da busca

xados por Jesus Cristo ontem e hoje, vamos pegar apenas a 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios.

Acima de tudo, medite em seu coração o Hino ao Amor (1 Cor 13). Neste, você poderá encontrar a palavra caridade. Todavia, de acordo com o original em grego, a palavra é ágape, ou seja, Amor. Para existir uma comunidade cristã verdadeira de acordo com o ensinamento de Jesus Cristo e para se construir o tão sonhado Reino de Deus, tanto as primeiras comunidades como as comunidades de hoje, o Dom maior é o Amor. Finalizando: a herança de nossa fé e a razão de nossa esperança se fundamentam na vivência do Amor.

da vontade de Deus no contexto existencial, pessoal, social e eclesial pela via do discernimento. O livro anima a esperança que nasce do mistério de Jesus vivido até o extremo da entrega na cruz, seguida da ressurreição. Na introdução do livro, Libanio indica a urgência em se refletir sobre o valor profundo da liberdade como recurso fundamental para a humanização. “Enfraquecemos a beleza da liberdade por duas vias opostas. Silenciamo-la, remetendo-a ao esquecimento. Se ninguém fala nem ouve nada a respeito dela, desaparece no horizonte”.

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missão

Por Laís Jardim, idealizadora do projeto Aviva Jovem, em Poços de Caldas

SER JOVEM NA PÓS-MODERNIDADE

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tema, inicialmente proposto para este artigo, ser jovem na modernidade, parece instigante, mas o tempo não para de avançar e a fase já está além, o mundo já se encontra na pós-modernidade, onde o foco já não é mais ser independente e revolucionário em busca de ideais, marca do período moderno, mas ser o que quiser ser, independente do que isso possa significar. É nesse contexto de enorme liquidez que se encontra a humanidade e especialmente o jovem, na fase de construir uma ideia do que ele é, ou do que deseja ser. E em meio a tantas tendências, fica uma pergunta: O jovem realmente sabe o que deseja ser? A fase da juventude é uma fase de descobertas e de buscas. É uma fase onde não se pode ser criança, mas não se é adulto, onde você precisa ter maturidade para escolhas, mas não há experiência suficiente para isso. Nessa encruzilhada o jovem faz morada, e quando se depara com a necessidade de decidir sobre o que deseja ser ele se perde nessa proposta do mundo contemporâneo, de que você pode ser o que quiser ser. Não porque ele não possa fazer suas escolhas, sonhar alto e lutar para ser o que quiser, mas porque, hoje, o que se vê é uma grande crise de valores morais e humanos, uma perda gradativa de referência real de vida, agravada com a ascensão imediatista e virtual no meio deles [os jovens]. Sabe-se que os seguidores de Cristo têm n’Ele o maior exemplo, e Ele de fato o é. Mas, infelizmente, o jovem, hoje, tem tentado conseguir encontrar um espelho humano atual. É necessário ficar atento

para não ser ingênuo a ponto de não reconhecer que, principalmente os jovens, até os mais cristãos, carecem também de referências humanas atuais, aquelas que geram credibilidade e viabilizam sentidos reais de vida, referências que não se entreguem a tantas oportunidades que não podem ser perdidas, e deixem de lado o que se faz moralmente necessário. A liquidez atual e a falta da referência moral e humana têm progra-

mado esta geração para acreditar que nunca foi tão fácil se realizar no hoje e ser o que se quer ser. Mas isso leva à dura realidade que a falta de experiência implica ao jovem, que é não saber lidar com as frustrações quando elas aparecem, principalmen-

testemunho missionário

te por ele ter sido programado para trazer resultado para todas as expectativas lançadas sobre ele. Neste momento, ele é facilmente conduzido à alienação ou à impessoalidade do mundo virtual, como o jogo Baleia Azul, por exemplo, que tem investido fortemente na juventude e dado atenção a ela. É urgente romper com esses falsos laços de atenção e redescobrir as alegrias de ser jovem. O vigor que não se sustenta apenas com realizações imediatas, mas precisa de sonhos que verdadeiramente dão sentido à vida. Sempre buscando a referência em Jesus, e ainda mais quando não for possível encontrar referenciais atuais ao redor. Papa Francisco, ao se dirigir aos jovens na carta que anuncia o tema para o Sínodo dos Bispos a ser realizado em outubro de 2018, Os jovens, a fé, e o discernimento vocacional, lembra recomendações de São Bento que, muitas vezes, é exatamente ao mais jovem que o Senhor revela a melhor solução. Isso encoraja a juventude, a possibilidade de ser autêntica nas atitudes sob a luz do Senhor. O jovem quer ser feliz, mas a felicidade foge de quem a busca a todo custo, é necessário caminhar. Existe um caminho de felicidade que é capaz de humanizar e valorizar a vida pelo o que ela é e não pelo o que se conquista, e o jovem pode descobrir-se referência neste caminho. Não é preciso impor a missão de salvar o mundo para descobrir a si mesmo, a coragem só precisa despertá-lo para o caminhar, o caminho é o mais importante, a verdadeira felicidade se encontra no caminho que se percorre, no amor que se desencadeia.

Natalina Vecchi Modesto, missionária da Paróquia Sagrada Família e Santos Reis, em Guaxupé

“NOSSA PARÓQUIA ESTÁ LEVEDANDO...”

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ude perceber na Semana Missionária o frutificar da evangelização iniciada há 2 anos. Começamos bem poucos, tímidos e amedrontados, mas pude ver, agora, que aumentou o número de missionários e também a melhor acolhida nas casas que visitamos, mais casas abriram suas portas. É como fermento na massa. Nossa paróquia está levedando... Batemos em uma casa e fomos atendidos por um jovem de aproximadamente 15 anos. Passamos a mensagem de Jesus, o jovem

ficou emocionado. Ao terminar a visita, ele nos disse: “Como gostaria que meus pais estivessem aqui para ouvir estas palavras”. Fomos nós que ficamos emocionados. O filho preocupado com a salvação de seus pais. O que acontece na maioria das vezes são os pais pedindo-nos orações para a conversão de seus filhos. Nestas situações vemos o quanto as famílias precisam de orações e como temos que fazer missões, precisamos evangelizar. Mas o que mais me tocam nestas missões

são os encontros. Jesus andava muito e encontrava com as pessoas. As pessoas vinham até Ele e Ele ia até as pessoas. São encontros: dos missionários nos pontos de encontro; nas visitas com as famílias; nas missas, nos terços, na via-sacra, nas confraternizações; no comércio local com os missionários e o padre; com padres e diácono de outras paróquias; e com o bispo, dom José Lanza. E encontrar a comunidade na missa de encerramento da Semana Missionária é muito gratificante, e deixo um recado: A Missão continua. COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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atualidade

Da Redação

ECOLOGIA: O PENSAMENTO PROFÉTICO E A COOPERAÇÃO HUMANA NA CRIAÇÃO

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auta constante e ampla nos meios de comunicação na atualidade, a questão ecológica e os impactos da exploração dos recursos naturais cada vez mais têm atraído a atenção dos governos, instituições sociais e pensadores sobre o futuro do planeta. A gravidade do desequilíbrio ambiental provocado pela ação danosa do homem, de acordo com alguns ambientalistas, já pode ser constatada em desastres naturais de grande intensidade e na modificação acelerada de alguns habitats e regiões importantes para a manutenção do clima global e a consequente manutenção da vida no planeta. Para se ter uma ideia da degradação de áreas verdes naturais para aproveitamento econômico na América Latina e no Caribe, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) apresentou um dado alarmante: 37% do solo é utilizado para atividades agropecuárias e isso corresponde a 14% da degradação do solo em todo o mundo, somada à exploração de recursos minerais e gás. Em relação aos rios do continente latino-americano e Caribe, os dados também são alarmantes: 1 em cada 4 cursos fluviais está comprometido pela poluição causada pelo esgoto e pela produção agrícola e industrial. Essa situação gera risco à população da região, 100 milhões de pessoas vivem em regiões de risco devido à poluição do ar. Impactada pelas consequências que a degradação ambiental gera à humanidade, a Igreja Católica, desde o Concílio Vaticano II, se propõe a denunciar profeticamente

os riscos da exaustão de recursos naturais devido à exploração econômica. Um dos pontos fundamentais ressaltados é a destinação universal dos bens, princípio que será constantemente indicado como bússola para a manutenção e uso consciente dos bens naturais. “Deus destinou a terra, com tudo que ela contém, para o uso de todos os homens e povos, de tal modo que os bens criados devem bastar a todos, com equidade, sob as regras da justiça, inseparável da caridade” (GS 69). A economia deve pautar-se não somente nos interesses financeiros, sobretudo numa atitude capaz de “prever o futuro, estabelecendo justo equilíbrio entre as necessidades atuais de consumo, individual e coletivo, e as exigências de inversão de bens para as gerações futuras” (GS 70). O desenvolvimento sustentável foi, desde então, temática da reflexão eclesial e também dos textos papais. Paulo VI, são João Paulo II e Bento XVI exploraram o tema em documentos, discursos e correspondências. Já em 1970, ao participar de um evento das Nações Unidas, Paulo VI faz referência à conservação ecológica e adverte quanto aos riscos da irracionalidade na exploração dos recursos naturais. “O ritmo acelerado, a realização concreta destas possibilidades técnicas não se verifica sem causar nocivas repercussões no

equilíbrio do nosso ambiente natural, e a deterioração progressiva daquilo que convencionalmente se chama ‘meio ambiente’, sob o efeito dos contragolpes da civilização industrial, corre o risco de acabar numa verdadeira catástrofe ecológica”. A responsabilidade do cristão em relação à conservação da obra do Criador é lembrada pelo papa são João Paulo II na exortação Christi Fidelis Laici (1988). “[O homem] deve sentir-se responsável pelos dons que Deus lhe deu e continuamente lhe dá. O homem tem nas suas mãos um dom para transmitir — e, possivelmente, mesmo melhorado — às gerações futuras, também elas destinatárias dos dons do Senhor” (CFL 43). O papa Bento XVI, na encíclica Caritas in Veritate (2009), avança em sua reflexão ao perceber a utilização de tecnologias para a extinção da fome, mas coíbe a prática desenfreada e lucrativista que não se preocupa com a diversidade e conservação de áreas de preservação. Bento XVI indica uma preocupação relevante ao integrar a humanidade e seus desafios à questão ecológica. “[A Igreja] não tem apenas [a responsabilidade] de defender a terra, a água e o ar como dons da criação que pertencem a todos, mas deve sobretudo proteger o homem da destruição de si mesmo. Requer-se uma espécie de ecologia do homem, entendida no justo sentido. De fato, a

degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana” (CV 51). Na encíclica Laudato Si’, papa Francisco se esforçará em refletir sobre a Ecologia Integral que não dissocia a sociedade contemporânea da questão ambiental, reduzindo esta somente à reflexão de ambientalistas, mas deve ser uma inquietação de todos os homens e mulheres, especialmente os cristãos que possuem um papel de cooperação na obra criadora de Deus. “É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise sócio-ambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza” (LS 139). Na mesma encíclica, Francisco traz o comprometimento dos cristãos na busca de soluções criativas e eficazes para a questão ambiental, não limitando-se a uma fé intimista e enclausurada nos redutos religiosos. “O crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres. Além disso, a conversão ecológica, fazendo crescer as peculiares capacidades que Deus deu a cada crente, leva-o a desenvolver a sua criatividade e entusiasmo para resolver os dramas do mundo, oferecendo-se a Deus «como sacrifício vivo, santo e agradável» (Rm12, 1)” (LS 220).

oração ORAÇÃO CRISTÃ COM A CRIAÇÃO

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ós Vos louvamos, Pai, com todas as vossas criaturas, que saíram da vossa mão poderosa. São vossas e estão repletas da vossa presença e da vossa ternura. Louvado sejais! Filho de Deus, Jesus, por Vós foram criadas todas as coisas. Fostes formado no seio materno de Maria, fizestes-Vos parte desta terra, e contemplastes este mundo com olhos humanos. Hoje estais

vivo em cada criatura com a vossa glória de ressuscitado. Louvado sejais! Espírito Santo, que, com a vossa luz, guiais este mundo para o amor do Pai e acompanhais o gemido da criação, Vós viveis também nos nossos corações a fim de nos impelir para o bem. Louvado sejais! Senhor Deus, Uno e Trino, comunidade estupenda de amor infinito, ensinai-nos a contemplar-Vos na beleza do

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universo, onde tudo nos fala de Vós. Despertai o nosso louvor e a nossa gratidão por cada ser que criastes. Dai-nos a graça de nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe. Deus de amor, mostrai-nos o nosso lugar neste mundo como instrumentos do vosso carinho por todos os seres desta terra, porque nem um deles sequer é esquecido por Vós. Iluminai os donos do poder e do dinheiro para que

não caiam no pecado da indiferença, amem o bem comum, promovam os fracos, e cuidem deste mundo que habitamos. Os pobres e a terra estão bradando: Senhor, tomai-nos sob o vosso poder e a vossa luz, para proteger cada vida, para preparar um futuro melhor, para que venha o vosso Reino de justiça, paz, amor e beleza. Louvado sejais!


direito canônico

Por padre Francisco Clóvis Nery, pároco em Monte Santo de Minas e mestre em Direito Canônico

NULIDADE MATRIMONIAL: O QUE DEUS NÃO UNIU

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Matrimônio, como Sacramento, é indissolúvel, se realizado com o livre consentimento dos noivos e segundo as normas da Igreja, é legítimo. Pode, em certos casos, ocorrer um falso matrimônio, o que significa que não foi válido, ou melhor, nunca existiu de fato. Com frequência, encontramos em nossas paróquias e no cotidiano da vida quem nos afirma que determinada pessoa teve seu casamento anulado ou quer anular o casamento na Igreja. Ora, tal termo é completamente errôneo, afirmar que a Igreja anulou ou pode anular um casamento. Na Igreja não existe anulação. O ato de anular é cancelar. A Igreja não cancela um casamento, quem cancela é o civil. O fato de cancelar é reconhecer que houve um casamento e a pessoa teve seu casamento anulado. É o mesmo que dizer que ela está divorciada. Na Igreja não existe divórcio. O Sacramento do Matrimônio traz consigo o vínculo: “Não separe, pois, o homem o que Deus uniu” (Mc 10, 9). A Igreja, a partir de elementos concretos, pode declarar nulo um casamento, reconhecer que determinado casamento nunca existiu, portanto foi inválido, nulo. Os matrimônios nulos são os casamentos que nunca deveriam ter acontecido, já iniciaram errado e, portanto, assim fracassaram. Ora, um casamento pode ter sido fracassado e nem por isso ser nulo, mas para ser nulo, necessariamente, deve ter fracassado. Talvez alguns leitores pensem que é tudo a mesma coisa, apenas termos trocados ou sinônimos, mas não é bem assim! Não são termos e, sim, a essência e a legitimidade do matrimônio. Os ministros do matrimônio são os próprios nubentes, o presbítero ou o diácono assiste ao casamento como testemunha qualificada em nome da Igreja. Não importa o tempo que o casal permaneceu junto, se tiveram filhos ou não, uma vez que filho é sempre filho, é Direito Natural. Matrimônio, por sua vez, é Direito Divino, também se trata de um contrato e, por vezes, falhas neste contrato dão sua invalidez. Muitos casais carregam o drama e os sofrimentos na vivência pessoal, social e eclesial, pelo erro de um ato que nunca deveria ter acontecido: o casamento. Certamente a saída para que não aconteçam tantas separações é evitar que muitos ca-

minadas situações, que não houve Sacramento, por isso mesmo pode declarar nulo o ato em si. Após minucioso processo, tendo chegado à conclusão de que não houve Sacramento, assim o declara nulo. Canonicamente, existem alguns elementos que, se faltarem ao casamento católico, tornam o ato nulo. Comumente, nos Tribunais Civis, uma parte entra com um processo contra outra parte. No Tribunal Eclesiástico (Canônico), as pessoas não são julgadas, mas o ato em si, a validade ou a nulidade do Sacramento. Assim sendo, o Tribunal permite até que as partes possam entrar juntas com o pedido de nulidade, ressalvados os trâmites legais. Não basta querer entrar com um processo visando à declaração da nulidade de um casamento em um Tribunal Eclesiástico. É preciso que haja elementos que o permitam. Ressalte-se mais uma vez que o Tribunal Eclesiástico pode declarar nulo um casamento, se for o caso, mas jamais anular um casamento. Em todos os setores pastorais de nossa Diocese temos padres responsáveis para orientar os fiéis que carregam o drama de casamentos fracassados e que apresentem indícios para um possível processo de nulidade matrimonial. DOCUMENTOS

Senhor Jesus, manso juiz

samentos precoces, arrumados, apenas atos sociais, dentre tantos fatores, aconteçam, que os casais e as famílias não queiram fazer do casamento um teatro ou um ato social, sem a compreensão verdadeira da Graça de Deus contida no Sacramento, com seus direitos e deveres. Para analisar, ouvir as partes, testemunhas e julgar um Processo de Nulidade Matrimonial, se determinado casamento fra-

cassado foi nulo ou não, existem, na Igreja, os Tribunais Eclesiásticos, que julgam as causas que lhe são pertinentes. Esses julgamentos são fundamentados no Código de Direito Canônico, Livro de Leis que rege a nossa Igreja. Existindo o Sacramento, a Igreja não tem o direito de declarar nulo um casamento. Embora não admita o divórcio como as Leis Civis, a mesma reconhece, em deter-

Lançada em agosto de 2015 pelo papa Francisco, a carta apostólica Mitis Iudex Dominus Iesus buscou favorecer a constatação da nulidade dos matrimônios, com maior rapidez dos processos: simplificando e evitando que, por causa de atrasos no julgamento, o coração dos fiéis que aguardam o esclarecimento sobre seu estado “não seja longamente oprimido pelas trevas da dúvida”. A reforma foi elaborada com base em alguns critérios: a possibilidade de sentença em única instância; a autoridade judicial outorgada ao próprio Bispo ou juiz de sua confiança; agilidade nos processos de definição evidente; e outras disposições. Para se aprofundar neste assunto, basta acessar o portal de informações do Vaticano (vatican.va). Lá, você encontrará o documento na íntegra e se inteirar sobre essa definição da Igreja.

COMUNIDADES EM MISSÃO - IGREJA VIVA

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comunicações aniversários junho Natalício 14 Padre Sidney da Silva Carvalho Padre Adivaldo Antônio Ferreira 19 Padre Wellington Cristian Tavares 22 Padre Donizete Miranda Mendes 29 Padre Pedro Alcides Sousa

Ordenação 19 Padre Clayton Bueno Mendonça 19 Padre Juliano Borges Lima 25 Padre Eder Carlos de Oliveira 26 Padre Bruce Éder Nascimento 30 Padre Luiz Caetano de Castro

agenda pastoral 2-4 3 4 5 – 8 9 – 11 10 11

Cursilho Misto de Jovens – Poços de Caldas Reunião do Conselho Diocesano de Pastoral - Guaxupé Solenidade de Pentecostes Assembleia CONSER e Encontro Regional dos Coordenadores Diocesanos de Pastoral – Belo Horizonte Encontro Vocacional no Seminário São José – Guaxupé Reunião do Setor Juventude - Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana da equipe do TLC - Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana dos MECEs - Guaxupé Reunião Diocesana da Pastoral da Criança - Poços de Caldas Reunião do Conselho Diocesano do ECC - Pratápolis Encontro Setorial da Mãe Rainha – Areado

poesia

Por padre Gilvair Messias

SOBRE PEDRAS E CRENÇAS Eu me poupo feito pedra que reserva a si mesma Nas tantas idades que golpeiam a carne até cristalizar a ferida ou que se escorregam para as superfícies dos rios Sustento em mim todos os acontecimentos que os ventos me trazem Solidifico a alma de cada um E mundos sem fim Imagens como memórias eternas que viram poemas, cenas, ideias consumadas.

Se mereço a ruína e a morte, quem saberá Quem me amará? Calcam-me os pés cansados E as casas dos fortes e dos fracos Talvez não seja minha sorte Mas eu vejo Vejo tudo quanto é ou que ilude ser Existir é um ato da imaginação Quem muito pensa, pedra fica Assim me prefiro, petrificado quem sabe Pois em minhas veias corre um rio imenso Um sangue vermelho de lampião em noites sombrias.

Rigidamente sofro as demoras e as passagens do tempo Mas permaneço incólume Instalado e inscrito como a um mandamento profundo no ventre do verbo crer O que foi feito para ser, será! Ter fé é muito rígido e há de se ter memória sólida para sustentá-la Se digo creio, um universo é solidificado Não palavreio obrigado este vulto frio para uma pedra viva Agradeço e amo como a um amém O que crê eterniza.

Sobre pedras e crenças, O menino dança e cria ritmos Como se fosse o dedo maciço de Deus a quebrar as vidraças das catedrais Não tenho medo de ser homem Temo é me esquecer de sê-lo O que sou, ficará para sempre em algum lugar Podem até me tornar areia Mas vaguearei o mundo Como um escravo alforriado e sem rumo Mas pedra, para crer o que creio, Pedra sempre serei!

12 | JORNAL COMUNHÃO - DIOCESE DE GUAXUPÉ

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Reunião da Pastoral Presbiteral – Guaxupé Solenidade de Corpus Christi Reunião dos Conselhos de Pastoral dos Setores Encontro Diocesano para Coordenadores Paroquiais de Catequese – Guaxupé Encontro do Clero para Dia de Oração pela Santificação do Clero Solenidade do Sagrado Coração de Jesus Encontro Diocesano de Coordenadores de Grupos de Jovens – Guaxupé Reunião da Coordenação Diocesana de CEBs – Guaxupé Reunião Diocesana do Serviço de Animação Litúrgica – Guaxupé Encontro Setorial da Mãe Rainha Encontro com os Presbíteros até 5 anos de ministério Reunião do Conselho de Formação Presbiteral – Guaxupé

convite


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