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Música Litúrgica: elementos teológicos/ litúrgicos basilares "Cantai ao Senhor um cântico novo, porque ele operou maravilhas” (Sl 97, 1).
1. O canto como forma de louvor a Deus Segundo Santo Agostinho, “cantar é próprio de quem ama”. Nesse sentido, a Música ocupa um lugar importante na Liturgia, que é a forma ritual/simbólica da relação entre o homem e Deus. Desde o surgimento do cristianismo, já nas primeiras comunidades, o apóstolo Paulo instruía os fiéis a entoar cantos, salmos e hinos em ação de graças a Deus (cf. Cl 3, 16), pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf. At 2, 46)1. Desse modo, o canto também é um fenômeno religioso, como afirma Frei Alberto Beckhäuser:
Todos os povos, em todos os tempos, expressam estes sentimentos religiosos através da música e do canto. Temos, então, a música religiosa, fazendo uso dos mais diversos instrumentos: de sopro, de corta e de percussão, como a flauta, a harpa, o atabaque. 1
Instrução Geral do Missal Romano, 2008, p. 45-46.
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Usando a palavra para se relacionar com a divindade, surge o canto religioso, o canto como a linguagem religiosa, como comunicação com o divino. O ser humano usa a música e o canto para expressar sua religiosidade, isto é, sua relação com Deus, tanto individual como comunitariamente (2004, p.14).
Até mesmo em situações difíceis, o canto se torna um meio de aliviar o sofrimento, se transformando em oração, como no relato bíblico dos jovens Misael, Ananias e Azarias:
Então os três jovens elevaram suas vozes juntos para louvar, glorificar e bendizer a Deus dentro da fornalha, neste cântico: Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais, digno de louvor e de eterna glória! Que seja bendito o vosso santo nome glorioso, digno do mais alto louvor e de eterna exaltação! Sede bendito no templo de vossa glória santa, digno do mais alto louvor e de eterna glória! Sede bendito por penetrardes com o olhar os abismos, e por estardes sentado sobre os querubins, digno do mais alto louvor e de eterna exaltação! (...). Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente! Céus, bendizei o Senhor,
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louvai-o e exaltai-o eternamente! Anjos do Senhor, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente! (...) (Dan 3, 51ss). De todos os modos, como diz o ditado: “quem canta, reza duas vezes”. Por isso, é uma missão grandiosa sustentar o canto em uma Liturgia, sendo a referência que conecta o rito e a participação ativa da assembleia.
2. O que a Igreja diz sobre o Canto Litúrgico 2.1 Concílio Vaticano II- Sacrossanctum Concilium VI: -A tradição musical da Igreja é um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte, sobretudo porque o canto sagrado, intimamente unido com o texto, constitui parte necessária ou integrante da Liturgia solene. Não cessam de a enaltecer, quer a Sagrada Escritura, quer os Santos Padres e os Romanos Pontífices, que ainda recentemente, a começar em S. Pio X, afirmaram com mais insistência a função ministerial da música sacra no culto divino. A música sacra será, por isso, tanto mais santa quanto mais intimamente unida estiver à ação litúrgica, quer como expressão delicada da oração, quer como fator de comunhão, quer como elemento de maior solenidade nas funções sagradas. A Igreja aprova e aceita no
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culto divino todas as formas autênticas de arte, desde que dotadas das qualidades requeridas (N. 112). -A ação litúrgica reveste-se de maior nobreza quando é celebrada de modo solene com canto, com a presença dos ministros sagrados e a participação ativa do povo (N. 113). -Promova-se muito o canto popular religioso, para que os fiéis possam cantar tanto nos exercícios piedosos e sagrados como nas próprias ações litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam (N. 118). 2.2 Carta de João Paulo II, com o título “Música Litúrgica” em 23 de novembro de 2003:
-Ao falar sobre a qualidade da música para ser tocada em uma Liturgia, João Paulo II afirma: Todavia, esta qualidade por si só não é suficiente. A música litúrgica deve, de fato, responder aos seus requisitos específicos: a plena adesão aos textos que apresenta, a consonância com o tempo e o momento litúrgico para o qual é destinada, a adequada correspondência aos gestos que o rito propõe. Os vários momentos litúrgicos exigem, de fato, uma expressão musical própria, sempre apta a fazer emergir a natureza própria de um determinado rito, ora proclamando as maravilhas de Deus, ora manifestando sentimentos de louvor, de súplica ou ainda de melancolia pela experiência da dor humana, uma experiência, porém, que a fé abre à perspectiva da esperança cristã. (N. 05).
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3. Canto litúrgico: forma de prestar culto a Deus
O que é o canto litúrgico? O canto é litúrgico quando está conectado à liturgia, isto é, contempla suas principais características, dentro de um rito: a. Memorial: Faz memória dos mistérios de Cristo, recorda a ação de Jesus e sua missão, tornando-a atual; b. Orante: É uma oração comunicativa com Deus. A música não é intervalo entre as partes da Missa, mas é uma oração. Assim, não se trata de apenas pedir algo a Deus ou dizer algo que sinto a ele, mas sim de comunicar-se com ele relembrando sua ação na história da humanidade. c. Contemplativo: O canto é contemplativo quando ajuda a assembleia a rever através de suas letras o obra da Salvação e a presença da Trindade no mundo. d. Trinitário: Como toda liturgia, o canto também uma ação que visa as três pessoas da trindade: “Louva Deus Pai pelas maravilhas realizadas na história da salvação pelo Filho. Comemora o Filho e Invoca o Espírito Santo. Trata-se, portanto, de um canto de louvor ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo” (BECKHÄUSER, 2004, p. 36). e. Cristológico e Pascal: O canto deve estar centrado em Jesus, no Mistério Pascal – morte e ressurreição. Canta a vitória de Cristo sobre a morte e seus ensinamentos.
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f. Eclesial: A música litúrgica está na Igreja e para Igreja, quer dizer, é da comunidade e para comunidade, sendo assim, deve conter um caráter comunitário. O canto é eclesial em dois sentidos: 1º) precisa falar da comunidade e para comunidade. 2º) precisa ser a oração da comunidade e para comunidade, ou seja, mesmo que seja apenas uma pessoa que esteja cantando, nunca está cantando sozinha, mas com a comunidade, daí a importância das escolhas da música. g. Ação de graças: O canto é uma ação de graças. Um louvor. Essas são apenas algumas características do canto litúrgico, levando a seguinte conclusão:
[No canto litúrgico] não há lugar para um mero sentimentalismo religioso ou show artístico ou de exibição.
Não
será
mera
catequese,
embora
catequético, nem doutrinação, nem ideologia. Será celebração do Mistério Pascal de Cristo, será oração, comunicação com Deus, comunicação com o Pai, por Cristo, no Espírito Santo (BECKHÄUSER, 2004, p. 39).
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3. Cantar na Missa ou cantar a Missa: fundamento da participação ativa da Música na Liturgia
Para que uma celebração eucarística produza frutos nos fiéis é necessária uma participação ativa no culto. Isso significa dizer que, em todos os momentos, cada cristão que está na assembleia deve estar conectado a tudo que está acontecendo a sua volta. A Liturgia forma uma única coisa, em última instância: um grande louvor a Deus, por meio do Mistério Pascal de Jesus (morte e ressurreição). Sendo assim, não há divisões dentro da missa, como: agora é o momento da Palavra, ou só o momento da música. Ambos os momentos estão conjugados num mesmo ideal: celebrar e louvar a Deus. Por isso, não se canta na Missa, mas se canta a Missa. “Não tem sentido, portanto, transformar a Liturgia, particularmente a Missa, em show paralelo que nada tem a ver com a Liturgia, com a celebração eucarística. [Então], nada de cantar qualquer coisa em qualquer lugar da celebração”. Todos os cantos devem estar intimamente ligados ao momento, tempo e dia litúrgico (BECKHÄUSER, 2004, p. 40).
4. Liturgia: fundamentos básicos
Liturgia é uma ação carregada de símbolos. Todos os ritos que são celebrados na Igreja são carregados de cargas simbólicas, nas quais
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a fé cristã é expressada e rezada.
Papa Bento XVI, em seu livro
Introdução ao Espírito da Liturgia, compara a liturgia a uma espécie de jogo, em que existem regras, momentos, símbolos, leis, em vista de um objetivo final (RATZINGER, 2013, p. 9-18). Trecho
da
Constituição
sobre
a
Sagrada
Liturgia
(Sacrosanctum Concilium): “A Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros. Disto se segue que toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia nenhuma outra ação da Igreja iguala, sob o mesmo título e grau” (N.7).
Ampliando a compreensão, a Liturgia é a vida rezada. Como Frei Betto certa vez contou: um casal que estava na noite de núpcias em seu quarto prontos para consumar sua união ouvem a porta bater. O noivo inconformado vai até a porta pensando ser uma espécie de brincadeira de seus amigos. Quando atende a visita inesperada, se depara com Deus. Sem saber o que fazer, pede a opinião de sua esposa
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que pede para que deixe Deus entrar. A partir desse momento, o que poderia ser apenas uma orgia, se torna uma Liturgia: uma ação carregada de símbolo, de sentido. Com isso, conclui-se que a Liturgia é todo movimento e organização dispostos para realização de um culto. Cantos, leituras, orações, o padres, coroinhas, acólitos, proclamadores, espaço litúrgico: tudo está perfeitamente conjugado no mesmo objetivo, rezar a vida, proclamar a vitória de Jesus na Cruz, sua ressurreição e a chegada do Reino de Deus. 4.1. Ano Litúrgico2
O Ano Litúrgico é a organização do tempo da Igreja. Como no ano civil temos as datas justapostas com os meses e os dias, na Igreja temos uma organização própria que visa a vivência da fé em seu todo.
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Material retirado de: http://ffb.org.br/o-ano-liturgico.html, acesso em 08/08/2018, às 14h04min.
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A) Tempo Pascal (cor: branca) – Os 50 dias entre o domingo da Ressurreição e o domingo de Pentecostes. É o tempo da alegria e da exultação, um só dia de festa, “um grande domingo” (cf. NALC 22). São dias de Páscoa e não após a Páscoa. “Os oito primeiros dias do tempo pascal formam a oitava da Páscoa e são celebrados como solenidades do Senhor” (NALC 24). B) Tempo da Quaresma (cor: roxa) – Da 4ª-feira de Cinzas até a Missa da Ceia do Senhor. É o tempo para preparar a celebração da Páscoa. “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica esclareça-se melhor a dupla índole do tempo quaresmal que, principalmente pela lembrança ou preparação do Batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do mistério pascal” (SC 109). C) Tempo do Natal (cor: branca) – Das primeiras vésperas (tarde do dia 24) do Natal do Senhor até a festa do Batismo do Senhor. É a comemoração do nascimento do Senhor, em que celebramos a “troca de dons entre o céu e a terra”, pedindo que possamos “participar da divindade daquele que uniu ao Pai a nossa humanidade”. Na Epifania, celebramos a manifestação de Jesus Cristo, Filho de Deus, “luz para iluminar todos os povos no caminho da salvação”.
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D) Tempo do Advento (cor: roxa) – Das primeiras vésperas do domingo que cai no dia 30 de novembro ou no domingo que lhe fica mais próximo, até antes das primeiras vésperas ( até a tarde do dia 24) do Natal do Senhor. “O tempo do Advento possui dupla característica: sendo um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens, é também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa” (NALC 39). E) Tempo Comum (cor: verde) – Começa no dia seguinte à celebração da festa do Batismo do Senhor e se estende até a terça-feira antes da Quaresma, inclusive. Recomeça na segunda-feira depois do domingo de Pentecostes e termina antes das Primeiras Vésperas do 1° domingo do Advento (cf. NALC 44). A marca dos 33 (ou 34) domingos é dada pela leitura contínua do Evangelho. Cada texto do Evangelho proclamado nos coloca no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito dos fins dos tempos. Neste tempo, temos também as festas do Senhor e a comemoração das testemunhas do mistério pascal (Maria, Apóstolos e Evangelistas, demais Santos e Santas).
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5. Partes do canto na Missa3 5.1. Cantos Processionais
Estes cantos são chamados processionais porque são cantados em momentos caracterizados como pequenas procissões. São eles: a) o canto de entrada, que nada mais é do que a conclusão daquela procissão que se inicia ainda quando as pessoas saem de casa com o espírito e o coração alegres, porque vão à casa do Senhor. Dessa forma, a procissão de entrada é a ritualização, ou seja, a concretização e a conclusão dessa disposição de nos congregarmos e irmos ao encontro do Senhor. b) canto de apresentação e preparação das oferendas, onde “em procissão vão o pão e o vinho, acompanhados de nossa devoção, pois simbolizam aquilo que ofertamos: nossa vida e o nosso coração”. c) canto de comunhão, quando os fiéis, remidos pelo sangue do cordeiro se aproximam da mesa sagrada para se alimentarem de seu corpo e sangue, comungando de seu ideal, de sua vontade e unindo-se plenamente uns aos outros formando o corpo do qual a cabeça é o próprio Senhor.
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Texto gentilmente concedido por Adriano Geraldo, coordenador de Música Liturgia da Arquidiocese de Pouso Alegre- MG.
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5.1.1 Canto de Entrada
O canto de abertura, ou de entrada, cumpre antes de tudo o papel de criar comunhão. Esta comunhão se refere tanto a Deus quanto à assembleia reunida. Seu mérito é convocar a assembleia e, pela fusão das vozes, juntar os corações no encontro com o ressuscitado, na certeza de que “onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles” (Mt 18,20). Por natureza, este canto tem de deixar a assembleia num estado de ânimo apropriado para a escuta da Palavra. Daí os cantos de entrada serem predominantemente em tons maiores, que dão um caráter de alegria à música, no entanto, quando prevalece a escala menor, a harmonia e o ritmo devem evocar necessariamente à solenidade, sendo majestoso e resplandecendo a dignidade da celebração.
5.1.2 Canto de Apresentação e Preparação das Oferendas Este canto, que acompanha o “gesto de colocar os bens em comum, para as necessidades da comunidade” (Rm 12,1-2), juntamente do gesto de entregar o pão e o vinho, serve de introdução à Liturgia Eucarística, à refeição memorial do Senhor. A forma completa da apresentação e preparação das oferendas é a seguinte: a) procissão das oferendas (pão e vinho); b) apresentação dos dons (ambas acompanhadas por um canto apropriado); c) oração seguida da
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aclamação Bendito seja Deus para sempre! O canto de oferendas não precisa, necessariamente, falar de ofertório, de pão ou vinho.
5.1.3 Canto de Comunhão
O canto de comunhão visa, necessariamente, a fomentar o sentido de unidade. Então parece que cantos de cunho muito individualistas não cabem neste momento. Cuidado também para não se cantar os famosos hinos eucarísticos de adoração, este momento é o momento de gozo pela unidade do corpo de Cristo que se concretiza plenamente na unidade dos membros deste corpo, isto é, da Igreja. É bom que seja um canto que evoque o gesto de recolhimento e de interiorização, a fim de que o gesto de comungar não se torne rotineiro e nem automático. Portanto, é muito diferente do canto de entrada, por exemplo. Seria muito bom se o canto de comunhão estivesse relacionado com o Evangelho do dia, a fim de evocar a união e a igualdade da mesa da Palavra e da Eucaristia. E bom que haja um refrão breve, com o intuito prático de evitar que assembleia tenha de carregar livros ou folhas, ou então tenha de fixar o olhar em alguma projeção, evitando assim acidentes. Seria muito bom se entre o refrão e os versos, houvesse um interlúdio, a fim de tornar o canto menos maçante e mais orante.
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5.2 Partes Fixas
São chamadas de partes fixas porque as letras destes cantos não alteram, são sempre as mesmas, estando já previstas no missal romano. É o que caracteriza a unidade da liturgia em qualquer lugar do mundo. Fazem parte do próprio rito da missa. Vale lembrar que o rito da missa somente a Igreja pode mudar, isto é, estando os bispos unidos ao sucessor de Pedro em comum acordo entre si e em comunhão entre os fiéis do mundo todo para que haja alterações. Dessa forma, não podemos mudar o rito a nosso bel prazer. Estas partes são intocáveis, podemos fazer a ligação com a vida da comunidade e da Igreja, com o evangelho nos demais cantos, estes caracterizam a unidade da liturgia da Igreja. são eles: a) o ato penitencial: grito no qual a assembleia extasiada reconhece Jesus como o Senhor e imploram a sua misericórdia. b) Glória: hino de louvor que se inicia com a citação bíblica atribuída aos anjos na noite de natal e seguida pela aclamação cristológica, isto é, voltada para Jesus Cristo. Não é uma aclamação trinitária (glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo...), mas um hino cristológico e cristocêntrico. c) Santo: aclamação bíblica, onde proclama-se a santidade de Deus que se revelou a nós na história da salvação e que continua a atualizar esses mesmos mistérios na celebração eucarística.
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d) Cordeiro: canto em que nos extasiamos pelo Cristo que se reparte e pedimos a sua misericórdia para, ao recebermos o seu corpo e sangue, possamos ser como ele, disponíveis para a doação e a partilha.
5.2.1 Ato Penitencial Este canto vem ao encontro daqueles que, ao defrontar-se com a divina presença se sentem acuados, como Simão Pedro após a pesca milagrosa: Senhor, afaste-se de mim, porque eu sou pecador! O canto deste momento deve propiciar o encontro com o Pai das misericórdias e Deus de toda consolação (2Cor 1,3) que nos liberta de toda culpa e nos restitui a paz pelo sangue de Cristo derramado na cruz. -O Missal nos dá três opções: a) ou reza ou canta o "Confesso a Deus todo-poderoso..."; b) ou reza ou canta o "Tende compaixão..."; c) ou reza ou canta o "Senhor, que viestes salvar... tende piedade de nós" (ou suas fórmulas apropriadas para cada tempo).
5.2.2 Glória
Hino antiqüíssimo iniciando-se com o louvor dos anjos na noite de natal. Desenvolveu-se no oriente como homenagem a Jesus Cristo, por isso não é uma aclamação trinitária. Não seja jamais substituído por
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algum hino de louvor que se diferencie deste. Deve ser cantado, é um hino! E não apenas rezado.
-Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens por Ele amados. Senhor Deus, Rei dos Céus, Deus Pai Todo-Poderoso, nós Vos louvamos, nós Vos bendizemos, nós Vos adoramos, nós Vos glorificamos, nós Vos damos graças, por Vossa imensa glória. Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito, Senhor Deus, Cordeiro de Deus, Filho de Deus Pai: Vós que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós; Vós que tirais o pecado do mundo, acolhei a nossa súplica; Vós que estais à direita do Pai, tende piedade de nós. Só Vós sois o Santo; só Vós, o Senhor; só Vós, o Altíssimo, Jesus Cristo; com o Espírito Santo, na glória de Deus Pai. Amém!
5.2.3 Santo
Para concluir o Prefácio, o povo todo aclama, unido a uma só voz com os anjos e santos o mesmo canto que Isaías ouviu os serafins cantarem no templo, em sua visão (Is 6,3 e Mt 21,9).
- Santo, Santo, Santo, Senhor Deus do Universo. O céu e a terra proclamam a vossa glória. Hossana nas alturas. Bendito O que vem em nome do Senhor. Hossana nas alturas.
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5.2.4 Cordeiro
Este canto litânico acompanha a fração do pão, antes de proceder à sua distribuição. Deve ser cantado, se possível não se cante o abraço da paz ou deixe-o para outro momento. É importante privilegiar este momento. Não trata-se de um intervalo. O primeiro verso (cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós) deve ser repetido até o fim da fração do pão, e só depois canta-se o “...dai-nos a paz”.
-Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós. Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, dai-nos a paz.
5.3 Aclamações
As aclamações são cantos rápidos, porém com um intuito forte de promover a participação da assembleia. São eles: a) aclamação ao Evangelho; b) amém.
5.3.1 Aclamação do Evangelho
O Aleluia tem sua origem na liturgia judaica, ocupa lugar de destaque na liturgia cristã. É prevalentemente pascal. É a expressão de
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acolhimento solene de Cristo, que vem a nós por sua palavra viva, sendo assim manifestação de fé nesta presença atuante do Senhor. O aleluia não é dito na quaresma, porém, na quaresma a forma de aclamação é “louvor e glória...” “honra, glória, poder...” etc.
5.3.2 Amém
Mediante esta aclamação os fiéis, concordando com toda a oração Eucarística, proclamada por quem preside, assumem-na solene e enfaticamente como sua. Trata-se do canto mais importante da missa, portanto, seja cantado de forma solene e vigorosa.
6. Conclusão
Todos os cantos devem estar acompanhando o Tempo Litúrgico (quaresma, páscoa, tempo comum, advento – ainda, festas e solenidades). Além de possuir algo relacionado à própria liturgia da palavra do dia (por isso é importante procurar saber quais são as leituras). Algumas partes, como: o Ato Penitencial, Glória, Santo e Cordeiro são fixas, não mudam. Mas isso não significa que possuem uma só melodia. Existem inúmeras melodias, construções de respostas e arranjos possíveis. A dica é simples: sempre compare a letra da música ao texto original do missal.
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Finalmente, cantar a Missa é um dom dado por Deus. Não se trata de um show, um serviço isolado de animação. Pelo contrário, é parte constituinte da Liturgia, fundamento de uma celebração bem vivida e rezada. O esforço por sempre oferecer o melhor na música é fruto da consciência de que esse serviço é um culto prestado a Deus, que merece sempre nossa dedicação e doação.
Referências:
BECKHÄUSER, F.A. Cantar a Liturgia. 4 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. Documentos sobre a Música Litúrgica, São Paulo: Paulus, 2005. RATZINGER, J. Introdução ao Espírito da Liturgia. São Paulo: Loyola, 2013. CNBB. Introdução Geral ao Missal Romano. Brasília: Ed. CNBB, 2008.