Sumário Editorial . .......................................................................................................................... 3 I – Santa Sé Mensagens 1. Liberdade religiosa, caminho para a paz................................................................ 5 2. Mensagem para Campanha da Fraternidade 2011 ............................................ 21 3. Mensagem para Quaresma..................................................................................... 23 4. Vaticano se solidariza com as vítimas da chacina em Realengo....................... 31 5. Mensagem Pascal..................................................................................................... 33 Discursos 6. Discurso na plenária da Congregação para a Educação Católica..................... 37 7. Novas tecnologias em comunicação...................................................................... 41 8. Palavras de Bento XVI no final da Via-Sacra no Coliseu.................................... 47 Homilias 9. O rosto de Deus é a via que conduz à paz........................................................... 49 10. Quaresma, itinerário rumo à Páscoa do Senhor ............................................... 55 11. Páscoa implica compromisso na melhoria das condições sociais .................. 59 II – CNBB Notas 1. Nota de pesar pelo falecimento de Dom Manoel Pestana................................. 65 2. Solidariedade e campanha às vítimas das chuvas.............................................. 67 3. CNBB divulga nota sobre ética e programas de TV........................................... 69 4. Nota de pesar pelo falecimento de Dom Agostinho Januszewicz.................... 73 5. Em defesa da Lei Maria da Penha......................................................................... 75 6. Nota pelo falecimento de José Alencar................................................................. 79 Artigos 7. Liberdade religiosa e paz ....................................................................................... 81 8. Decisão judicial, segurança jurídica e a lei da ficha limpa................................ 85 9. Campanha da Fraternidade e produção . ............................................................ 87 10. Cristo sacerdote institui o sacramento do amor................................................ 91 11. Um gigante de Deus.............................................................................................. 95 Notícias 12. Dom João Braz é nomeado prefeito de congregação........................................ 99 13. João Paulo II é o padroeiro da Jornada Mundial da Juventude.................... 101 14. Carta Pastoral ressalta identidade missionária do sacerdote........................ 103 15. Dom Waldemar é nomeado administrador apostólico de Brasília............... 105 16. Núncio apostólico lança livro sobre diplomacia pontifícia........................... 107 17. Número de católicos no mundo......................................................................... 109 18. Coordenador de Direitos Humanos é morto no Tocantins............................ 111 19. Declaração das Nações Unidas para o Dia Mundial da Água...................... 113 20. Movimento de Educação de Base celebra 50 anos.......................................... 115 21. CNBB divulga texto sobre beatificação de João Paulo II................................ 117 22. CNBB vai à Câmara por PEC do Trabalho Escravo........................................ 121
23. Eleições e Diretrizes dão o tom da 49ª Assembleia da CNBB........................ 123 III – CNBB Regional Notícias 1. Anápolis manifesta pesar pelo falecimento do seu bispo emérito.................. 125 Eventos 2. Regional Centro-Oeste realiza formação para a Quaresma . .......................... 127 3. Seminário Nacional de Novas Comunidades.................................................... 129 IV – Arquidiocese Homilias 1. Solenidade da Santa Mãe de Deus...................................................................... 131 2. Exéquias de Dom Manoel Pestana Filho............................................................ 135 3. Aniversário da Vila São Cottolengo.................................................................... 139 4. Aniversário do monsenhor José Pereira de Maria............................................. 145 5. Dedicação da Igreja Matriz do Divino Pai Eterno............................................. 149 Artigos 6. Mudar é preciso...................................................................................................... 153 7. O caminho do bem................................................................................................. 157 Notícias 8. Pastoral Carcerária entrega sugestões à Susepe................................................ 159 9. Dom Washington recebe Comenda do TRT....................................................... 161 10. Batinas Futebol Clube goleia vereadores em 1ª partida................................. 163 11. Dom Washington abre a Campanha da Fraternidade.................................... 165 12. Sessão na Assembleia lembra Campanha da Fraternidade........................... 167 13. Padre Zezinho participa de evento da Pastoral da Moradia......................... 169 14. Arquidiocese integra comitê de combate à dengue........................................ 173 15. PRF e Arquidiocese juntas pela paz no trânsito.............................................. 175 Reuniões mensais 16. CF 2011: o planeta pede socorro (fevereiro)....................................................... 177 17. Carta Pastoral é apresentada na reunião mensal de pastoral (março).......... 183 18. Caridade é novamente discutida em reunião (abril)....................................... 185
Editorial O primeiro quadrimestre de 2011 foi um tempo bastante fértil para nossa Igreja Particular. Reunimos neste volume apenas os símbolos documentais de uma caminhada feita com muita dedicação pelas paróquias e comunidades em profunda comunhão com a Igreja no Brasil e no mundo. Por trás de cada documento, há uma experiência real e signifi cativa envolvendo a todos no aprofundamento da vida cristã sempre tão cheia de surpresas e conduzida pelo Espírito Santo que esclarece o evangelho de Jesus e mostra a vontade do Pai Eterno. No meio de todo esse painel de acontecimentos, discursos e artigos, destaca-se uma belíssima expressão da atenção dos céus para com nossa arquidiocese de Goiânia: a presença do bispo auxiliar na formação das lideranças da comunidade e seu reconhecido serviço com o administrador apostólico da Arquidiocese de Brasília. Chamado pelo Santo Padre a dar essa contribuição a uma Igreja, o trabalho de Dom Waldemar Passini como administrador só
se encerra quase na reta fi nal do segundo quadrimestre, mais precisamente dia 6 de agosto quando Dom Sérgio da Rocha toma posse como quarto arcebispo da capital da República. O destaque a esse fato tem um propósito eclesial: realçar a colegialidade dos bispos e o espírito de solidariedade testemunhado por Dom Washington Cruz quando concordou e favoreceu a ida de Dom Waldemar para Brasília. Nem sempre são numerosas as ocasiões para se refl etir sobre esse aspecto da vida da Igreja e esse período em que o bispo auxiliar se divide entre o governo provisório de Brasília e o auxílio em Goiânia materializa uma situação merecedora de registro, de atenção e de aprofundamento. Não houve um cessar do serviço dele aqui, apenas uma redução nas tarefas. Esse gesto é, sem dúvida, uma demonstração de grande bondade tanto pessoal, quanto eclesial. É o símbolo da ajuda real que uma Igreja Particular pode oferecer a uma coirmã em situações especiais. E o testemunho dado por Revista da Arquidiocese
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Dom Waldemar nestes meses confi rmou que esse tipo de colaboração pode ser oferecida com profunda serenidade e com enriquecimento para as duas arquidioceses. Dom Waldemar, justamente neste período em que serve aqui e em Brasília, manifestou grande compromisso com a caminhada sinodal que se dá explicitamente nestes últimos três anos com o processo de preparação para assembleias que serão realizadas no primeiro semestre de 2012. Ele ajudou a Rede de Animadores do Sínodo em diversas ocasiões e ofereceu a toda arquidiocese reunida por meio de seus representantes na reunião pastoral mensal de março uma refl exão especial sobre as raízes bíblicas da caridade. Seguindo a linha de aprofundamento defi nida pela Carta Pastoral O amor vence tudo de Dom Washington Cruz, o bispo auxiliar apresentou alguns elementos de fundamental importância para a refl exão do tema da caridade neste último ano de
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preparação para o Sínodo. Além da contribuição de Dom Waldemar, neste começo de ano, as paróquias e comunidades tiveram oportunidade de iniciar as reuniões das comissões que foram compostas para refl etir o tema da Caridade. Outros signifi cativos fatos ocorreram neste tempo. A Campanha da Fraternidade, por exemplo, desde a o lançamento até a sua conclusão ocorrida na festa da Páscoa, teve uma enorme aceitação e possibilitou a renovação dos compromissos de todo cristão com os cuidados a serem tomados com o planeta. O tema foi bem assimilado e seu caráter urgente despertou muitas iniciativas nas comunidades de modo que o registro dessa experiência feito aqui na Revista da Arquidiocese torna-se uma verdadeira expressão dos frutos do bem colhidos neste quadrimestre. O leitor ainda poderá se dar conta da abundante bondade do Pai Eterno manifestada em tantos outros passos dados e trazidos para o seu conhecimento. Boa leitura!
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Liberdade religiosa, caminho para a paz MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI PARA O 44º DIA MUNDIAL DA PAZ, CELEBRADO NO DIA 1º DE JANEIRO Vaticano, 8 de dezembro de 2010 O tema da liberdade religiosa quer recordar que em várias partes do mundo tal conceito é limitado ou negado. A liberdade está arraigada na dignidade do ser humano. Ela é autêntica quando corresponde à busca da verdade e à verdade do ser humano. É uma liberdade em favor da dignidade e pela vida do ser humano. O não reconhecimento da liberdade religiosa causa discriminação, exclusão e provoca a perseguição violenta contra as minorias.
Leia a mensagem a seguir: 1. No início de um Ano Novo, desejo fazer chegar a todos e cada um os meus votos: votos de serenidade e prosperidade, mas sobretudo votos de paz. Infelizmente também o ano que encerra as portas esteve marcado pela perseguição, pela discriminação, por terríveis atos de violência e de intolerância religiosa. Penso, em particular, na amada Revista da Arquidiocese
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terra do Iraque, que, no seu caminho para a desejada estabilidade e reconciliação, continua a ser cenário de violências e atentados. Recordo as recentes tribulações da comunidade cristã, e de modo especial o vil ataque contra a catedral siro-católica de “Nossa Senhora do Perpétuo Socorro” em Bagdá, onde, no passado dia 31 de outubro, foram assassinados dois sacerdotes e mais de cinquenta fiéis, quando se encontravam reunidos para a celebração da Santa Missa. A este ataque seguiram-se outros nos dias sucessivos, inclusive contra casas privadas, gerando medo na comunidade cristã e o desejo, por parte de muitos dos seus membros, de emigrar à procura de melhores condições de vida. Manifesto-lhes a minha solidariedade e a da Igreja inteira, sentimento que ainda recentemente teve uma concreta expressão na Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos, a qual encorajou as comunidades católicas no Iraque e em todo o Médio Oriente a viverem a comunhão e continuarem a oferecer um decidido testemunho de fé naquelas terras. Agradeço vivamente aos governos que se esforçam por aliviar os Revista da Arquidiocese
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sofrimentos destes irmãos em humanidade e convido os católicos a orarem pelos seus irmãos na fé que padecem violências e intolerâncias e a serem solidários com eles. Neste contexto, achei particularmente oportuno partilhar com todos vós algumas reflexões sobre a liberdade religiosa, caminho para a paz. De fato, é doloroso constatar que, em algumas regiões do mundo, não é possível professar e exprimir livremente a própria religião sem pôr em risco a vida e a liberdade pessoal. Noutras regiões, há formas mais silenciosas e sofisticadas de preconceito e oposição contra os crentes e os símbolos religiosos. Os cristãos são, atualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé. Muitos suportam diariamente ofensas e vivem frequentemente em sobressalto por causa da sua procura da verdade, da sua fé em Jesus Cristo e do seu apelo sincero para que seja reconhecida a liberdade religiosa. Não se pode aceitar nada disto, porque constitui uma ofensa a Deus e à dignidade humana; além disso, é uma ameaça à segurança e à paz e impede a realização de um desenvolvimento humano autêntico e integral. [1]
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De fato, na liberdade religiosa exprime-se a especificidade da pessoa humana, que, por ela, pode orientar a própria vida pessoal e social para Deus, a cuja luz se compreendem plenamente a identidade, o sentido e o fim da pessoa. Negar ou limitar arbitrariamente esta liberdade significa cultivar uma visão redutiva da pessoa humana; obscurecer a função pública da religião significa gerar uma sociedade injusta, porque esta seria desproporcionada à verdadeira natureza da pessoa; isto significa tornar impossível a afirmação de uma paz autêntica e duradoura para toda a família humana. Por isso, exorto os homens e mulheres de boa vontade a renovarem o seu compromisso pela construção de um mundo onde todos sejam livres para professar a sua própria religião ou a sua fé e viver o seu amor a Deus com todo o coração, toda a alma e toda a mente (cf. Mt 22, 37). Este é o sentimento que inspira e guia a Mensagem para o XLIV Dia Mundial da Paz, dedicada ao tema: Liberdade religiosa, caminho para a paz. Direito sagrado à vida e a uma vida espiritual 2. O direito à liberdade religiosa está
radicado na própria dignidade da pessoa humana [2], cuja natureza transcendente não deve ser ignorada ou negligenciada. Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e semelhança (cf. Gn 1, 27). Por isso, toda a pessoa é titular do direito sagrado a uma vida íntegra, mesmo do ponto de vista espiritual. Sem o reconhecimento do próprio ser espiritual, sem a abertura ao transcendente, a pessoa humana retrai-se sobre si mesma, não consegue encontrar resposta para as perguntas do seu coração sobre o sentido da vida e dotar-se de valores e princípios éticos duradouros, nem consegue sequer experimentar uma liberdade autêntica e desenvolver uma sociedade justa. [3] A Sagrada Escritura, em sintonia com a nossa própria experiência, revela o valor profundo da dignidade humana: “Quando contemplo os céus, obra das vossas mãos, a lua e as estrelas que lá colocastes, que é o homem para que Vos lembreis dele, o filho do homem para dele Vos ocupardes? Fizestes dele quase um ser divino, de honra e glória o coroastes; destes-lhe poder sobre a obra das vossas mãos, tudo submetestes a seus pés” (Sl 8, 4-7). Perante a sublime realidade da Revista da Arquidiocese
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natureza humana, podemos experimentar a mesma admiração expressa pelo salmista. Esta se manifesta como abertura ao Mistério, como capacidade de interrogar-se profundamente sobre si mesmo e sobre a origem do universo, como íntima ressonância do Amor supremo de Deus, princípio e fim de todas as coisas, de cada pessoa e dos povos. [4] A dignidade transcendente da pessoa é um valor essencial da sabedoria judaico-cristã, mas, graças à razão, pode ser reconhecida por todos. Esta dignidade, entendida como capacidade de transcender a própria materialidade e buscar a verdade, há de ser reconhecida como um bem universal, indispensável na construção duma sociedade orientada para a realização e a plenitude do homem. O respeito de elementos essenciais da dignidade do homem, tais como o direito à vida e o direito à liberdade religiosa, é uma condição da legitimidade moral de toda a norma social e jurídica. Liberdade religiosa e respeito recíproco 3. A liberdade religiosa está na origem da liberdade moral. Com efeito, a abertura à verdade e ao bem, a abertura a Deus, radicada Revista da Arquidiocese
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na natureza humana, confere plena dignidade a cada um dos seres humanos e é garante do respeito pleno e recíproco entre as pessoas. Por conseguinte, a liberdade religiosa deve ser entendida não só como imunidade da coação mas também, e antes ainda, como capacidade de organizar as próprias opções segundo a verdade. Existe uma ligação indivisível entre liberdade e respeito; de fato, “cada homem e cada grupo social estão moralmente obrigados, no exercício dos próprios direitos, a ter em conta os direitos alheios e os seus próprios deveres para com os outros e o bem comum”. [5] Uma liberdade hostil ou indiferente a Deus acaba por se negar a si mesma e não garante o pleno respeito do outro. Uma vontade, que se crê radicalmente incapaz de procurar a verdade e o bem, não tem outras razões objetivas nem outros motivos para agir senão os impostos pelos seus interesses momentâneos e contingentes, não tem uma “identidade” a preservar e construir através de opções verdadeiramente livres e conscientes. Mas assim não pode reclamar o respeito por parte de outras “vontades”, também estas desligadas do
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próprio ser mais profundo e capazes, por conseguinte, de fazer valer outras “razões” ou mesmo nenhuma “razão”. A ilusão de encontrar no relativismo moral a chave para uma pacífica convivência é, na realidade, a origem da divisão e da negação da dignidade dos seres humanos. Por isso se compreende a necessidade de reconhecer uma dupla dimensão na unidade da pessoa humana: a religiosa e a social. A este respeito, é inconcebível que os crentes “tenham de suprimir uma parte de si mesmos – a sua fé – para serem cidadãos ativos; nunca deveria ser necessário renegar a Deus, para se poder gozar dos próprios direitos”. [6] A família, escola de liberdade e de paz 4. Se a liberdade religiosa é caminho para a paz, a educação religiosa é estrada privilegiada para habilitar as novas gerações a reconhecerem no outro o seu próprio irmão e a sua própria irmã, com quem caminhar juntos e colaborar para que todos se sintam membros vivos de uma mesma família humana, da qual ninguém deve ser excluído. A família fundada sobre o matrimônio, expressão de união íntima
e de complementaridade entre um homem e uma mulher, insere-se neste contexto como a primeira escola de formação e de crescimento social, cultural, moral e espiritual dos filhos, que deveriam encontrar sempre no pai e na mãe as primeiras testemunhas de uma vida orientada para a busca da verdade e para o amor de Deus. Os próprios pais deveriam ser sempre livres para transmitir, sem constrições e responsavelmente, o próprio patrimônio de fé, de valores e de cultura aos filhos. A família, primeira célula da sociedade humana, permanece o âmbito primário de formação para relações harmoniosas a todos os níveis de convivência humana, nacional e internacional. Esta é a estrada que se há de sapientemente percorrer para a construção de um tecido social robusto e solidário, para preparar os jovens à assunção das próprias responsabilidades na vida, numa sociedade livre, num espírito de compreensão e de paz. Um patrimônio comum 5. Poder-se-ia dizer que, entre os direitos e as liberdades fundamentais radicados na dignidade da pessoa, a liberdade religiosa goza de um estatuto especial. Quando Revista da Arquidiocese
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se reconhece a liberdade religiosa, a dignidade da pessoa humana é respeitada na sua raiz e reforça-se a índole e as instituições dos povos. Pelo contrário, quando a liberdade religiosa é negada, quando se tenta impedir de professar a própria religião ou a própria fé e de viver de acordo com elas, ofende-se a dignidade humana e, simultaneamente, acabam ameaçadas a justiça e a paz, que se apoiam sobre a reta ordem social construída à luz da Suma Verdade e do Sumo Bem. Neste sentido, a liberdade religiosa é também uma aquisição de civilização política e jurídica. Trata-se de um bem essencial: toda a pessoa deve poder exercer livremente o direito de professar e manifestar, individual ou comunitariamente, a própria religião ou a própria fé, tanto em público como privadamente, no ensino, nos costumes, nas publicações, no culto e na observância dos ritos. Não deveria encontrar obstáculos, se quisesse eventualmente aderir a outra religião ou não professar religião alguma. Neste âmbito, revela-se emblemático e é uma referência essencial para os Estados o ordenamento internacional, enquanto não consente alguma derrogação da liberdade religiosa, salvo Revista da Arquidiocese
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a legítima exigência da justa ordem pública. [7] Deste modo, o ordenamento internacional reconhece aos direitos de natureza religiosa o mesmo status do direito à vida e à liberdade pessoal, comprovando a sua pertença ao núcleo essencial dos direitos do homem, àqueles direitos universais e naturais que a lei humana não pode jamais negar. A liberdade religiosa não é patrimônio exclusivo dos crentes, mas da família inteira dos povos da terra. É elemento imprescindível de um Estado de direito; não pode ser negada, sem ao mesmo tempo minar todos os direitos e as liberdades fundamentais, pois é a sua síntese e ápice. É “o papel de tornassol para verificar o respeito de todos os outros direitos humanos”.[8] Ao mesmo tempo que favorece o exercício das faculdades humanas mais específicas, cria as premissas necessárias para a realização de um desenvolvimento integral, que diz respeito unitariamente à totalidade da pessoa em cada uma das suas dimensões. [9] A dimensão pública da religião 6. Embora movendo-se a partir da esfera pessoal, a liberdade religiosa – como qualquer outra liberdade – realiza-se na relação com os
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outros. Uma liberdade sem relação não é liberdade perfeita. Também a liberdade religiosa não se esgota na dimensão individual, mas realizase na própria comunidade e na sociedade, coerentemente com o ser relacional da pessoa e com a natureza pública da religião. O relacionamento é uma componente decisiva da liberdade religiosa, que impele as comunidades dos crentes a praticarem a solidariedade em prol do bem comum. Cada pessoa permanece única e irrepetível e, ao mesmo tempo, completase e realiza-se plenamente nesta dimensão comunitária. Inegável é a contribuição que as religiões prestam à sociedade. São numerosas as instituições caritativas e culturais que atestam o papel construtivo dos crentes na vida social. Ainda mais importante é a contribuição ética da religião no âmbito político. Tal contribuição não deveria ser marginalizada ou proibida, mas vista como válida ajuda para a promoção do bem comum. Nesta perspectiva, é preciso mencionar a dimensão religiosa da cultura, tecida através dos séculos graças às contribuições sociais e sobretudo éticas da religião. Tal dimensão não constitui de modo
algum uma discriminação daqueles que não partilham a sua crença, mas antes reforça a coesão social, a integração e a solidariedade. Liberdade religiosa, força de liberdade e de civilização: os perigos da sua instrumentalização 7. A instrumentalização da liberdade religiosa para mascarar interesses ocultos, como por exemplo a subversão da ordem constituída, a apropriação de recursos ou a manutenção do poder por parte de um grupo, pode provocar danos enormes às sociedades. O fanatismo, o fundamentalismo, as práticas contrárias à dignidade humana não se podem jamais justificar, e menos ainda o podem ser se realizadas em nome da religião. A profissão de uma religião não pode ser instrumentalizada, nem imposta pela força. Por isso, é necessário que os Estados e as várias comunidades humanas nunca se esqueçam que a liberdade religiosa é condição para a busca da verdade e que a verdade não se impõe pela violência mas pela “força da própria verdade”. [10] Neste sentido, a religião é uma força positiva e propulsora na construção da sociedade civil e política. Como se pode negar a contribuição Revista da Arquidiocese
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das grandes religiões do mundo para o desenvolvimento da civilização? A busca sincera de Deus levou a um respeito maior da dignidade do homem. As comunidades cristãs, com o seu patrimônio de valores e princípios, contribuíram imenso para a tomada de consciência das pessoas e dos povos a respeito da sua própria identidade e dignidade, bem como para a conquista de instituições democráticas e para a afirmação dos direitos do homem e seus correlativos deveres. Também hoje, numa sociedade cada vez mais globalizada, os cristãos são chamados – não só através de um responsável empenhamento civil, econômico e político, mas também com o testemunho da própria caridade e fé – a oferecer a sua preciosa contribuição para o árduo e exaltante compromisso em prol da justiça, do desenvolvimento humano integral e do reto ordenamento das realidades humanas. A exclusão da religião da vida pública subtrai a esta um espaço vital que abre para a transcendência. Sem esta experiência primária, revela-se uma tarefa árdua orientar as sociedades para princípios éticos universais e torna-se difícil estabelecer ordenamentos nacionais e Revista da Arquidiocese
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internacionais nos quais os direitos e as liberdades fundamentais possam ser plenamente reconhecidos e realizados, como se propõem os objetivos – infelizmente ainda menosprezados ou contestados – da Declaração Universal dos direitos do homem de 1948. Uma questão de justiça e de civilização: o fundamentalismo e a hostilidade contra os crentes prejudicam a laicidade positiva dos Estados 8. A mesma determinação, com que são condenadas todas as formas de fanatismo e de fundamentalismo religioso, deve animar também a oposição a todas as formas de hostilidade contra a religião, que limitam o papel público dos crentes na vida civil e política. Não se pode esquecer que o fundamentalismo religioso e o laicismo são formas reverberadas e extremas de rejeição do legítimo pluralismo e do princípio de laicidade. De fato, ambas absolutizam uma visão redutiva e parcial da pessoa humana, favorecendo formas, no primeiro caso, de integralismo religioso e, no segundo, de racionalismo. A sociedade, que quer impor ou, ao contrário, negar a religião por meio da
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violência, é injusta para com a pessoa e para com Deus, mas também para consigo mesma. Deus chama a Si a humanidade através de um desígnio de amor, o qual, ao mesmo tempo que implica a pessoa inteira na sua dimensão natural e espiritual, exige que lhe corresponda em termos de liberdade e de responsabilidade, com todo o coração e com todo o próprio ser, individual e comunitário. Sendo assim, também a sociedade, enquanto expressão da pessoa e do conjunto das suas dimensões constitutivas, deve viver e organizar-se de modo a favorecer a sua abertura à transcendência. Por isso mesmo, as leis e as instituições duma sociedade não podem ser configuradas ignorando a dimensão religiosa dos cidadãos ou de modo que prescindam completamente da mesma; mas devem ser comensuradas – através da obra democrática de cidadãos conscientes da sua alta vocação – ao ser da pessoa, para o poderem favorecer na sua dimensão religiosa. Não sendo esta uma criação do Estado, não pode ser manipulada, antes deve contar com o seu reconhecimento e respeito. O ordenamento jurídico a todos os níveis, nacional e internacional,
quando consente ou tolera o fanatismo religioso ou antirreligioso, falta à sua própria missão, que consiste em tutelar e promover a justiça e o direito de cada um. Tais realidades não podem ser deixadas à mercê do arbítrio do legislador ou da maioria, porque, como já ensinava Cícero, a justiça consiste em algo mais do que um mero ato produtivo da lei e da sua aplicação. A justiça implica reconhecer a cada um a sua dignidade, [11] a qual, sem liberdade religiosa garantida e vivida na sua essência, fica mutilada e ofendida, exposta ao risco de cair sob o predomínio dos ídolos, de bens relativos transformados em absolutos. Tudo isto expõe a sociedade ao risco de totalitarismos políticos e ideológicos, que enfatizam o poder público, ao mesmo tempo que são mortificadas e coarctadas, como se lhe fizessem concorrência, as liberdades de consciência, de pensamento e de religião. Diálogo entre instituições civis e religiosas 9. O patrimônio de princípios e valores expressos por uma religiosidade autêntica é uma riqueza para os povos e respectivas índoles: fala diretamente à consciência e à razão Revista da Arquidiocese
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dos homens e mulheres, lembra o imperativo da conversão moral, motiva para aperfeiçoar a prática das virtudes e aproximar-se amistosamente um do outro sob o signo da fraternidade, como membros da grande família humana. [12] No respeito da laicidade positiva das instituições estatais, a dimensão pública da religião deve ser sempre reconhecida. Para isso, um diálogo sadio entre as instituições civis e as religiosas é fundamental para o desenvolvimento integral da pessoa humana e da harmonia da sociedade. Viver no amor e na verdade 10. No mundo globalizado, caracterizado por sociedades sempre mais multiétnicas e pluriconfessionais, as grandes religiões podem constituir um fator importante de unidade e paz para a família humana. Com base nas suas próprias convicções religiosas e na busca racional do bem comum, os seus membros são chamados a viver responsavelmente o próprio compromisso num contexto de liberdade religiosa. Nas variadas culturas religiosas, enquanto há que rejeitar tudo aquilo que é contra a dignidade do homem e da mulher, é preRevista da Arquidiocese
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ciso, ao contrário, valer-se daquilo que resulta positivo para a convivência civil. O espaço público, que a comunidade internacional torna disponível para as religiões e para a sua proposta de “vida boa”, favorece o aparecimento de uma medida compartilhável de verdade e de bem e ainda de um consenso moral, que são fundamentais para uma convivência justa e pacífica. Os líderes das grandes religiões, pela sua função, influência e autoridade nas respectivas comunidades, são os primeiros a ser chamados ao respeito recíproco e ao diálogo. Os cristãos, por sua vez, são solicitados pela sua própria fé em Deus, Pai do Senhor Jesus Cristo, a viver como irmãos que se encontram na Igreja e colaboram para a edificação de um mundo, onde as pessoas e os povos “não mais praticarão o mal nem a destruição (...), porque o conhecimento do Senhor encherá a terra, como as águas enchem o leito do mar” (Is 11, 9). Diálogo como busca em comum 11. Para a Igreja, o diálogo entre os membros de diversas religiões constitui um instrumento importante para colaborar com todas as comuni-
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dades religiosas para o bem comum. A própria Igreja nada rejeita do que nessas religiões existe de verdadeiro e santo. “Olha com sincero respeito esses modos de agir e viver, esses preceitos e doutrinas que, embora se afastem em muitos pontos daqueles que ela própria segue e propõe, todavia refletem não raramente um raio da verdade que ilumina todos os homens”. [13] A estrada indicada não é a do relativismo nem do sincretismo religioso. De fato, a Igreja “anuncia, e tem mesmo a obrigação de anunciar incessantemente Cristo, ‘caminho, verdade e vida’ (Jo 14, 6), em quem os homens encontram a plenitude da vida religiosa e no qual Deus reconciliou consigo mesmo todas as coisas”. [14] Todavia isto não exclui o diálogo e a busca comum da verdade em diversos âmbitos vitais, porque, como diz uma expressão usada frequentemente por São Tomás de Aquino, “toda a verdade, independentemente de quem a diga, provém do Espírito Santo”. [15] Em 2011, tem lugar o 25º aniversário da Jornada Mundial de Oração pela Paz, que o Venerável Papa João Paulo II convocou em Assis em 1986. Naquela ocasião, os líde-
res das grandes religiões do mundo deram testemunho da religião como sendo um fator de união e paz, e não de divisão e conflito. A recordação daquela experiência é motivo de esperança para um futuro onde todos os crentes se sintam e se tornem autenticamente obreiros de justiça e de paz. Verdade moral na política e na diplomacia 12. A política e a diplomacia deveriam olhar para o patrimônio moral e espiritual oferecido pelas grandes religiões do mundo, para reconhecer e afirmar verdades, princípios e valores universais que não podem ser negados sem, com os mesmos, negar-se a dignidade da pessoa humana. Mas, em termos práticos, que significa promover a verdade moral no mundo da política e da diplomacia? Quer dizer agir de maneira responsável com base no conhecimento objetivo e integral dos fatos; quer dizer desmantelar ideologias políticas que acabam por suplantar a verdade e a dignidade humana e pretendem promover pseudovalores com o pretexto da paz, do desenvolvimento e dos direitos humanos; quer dizer favorecer um empenho constante de Revista da Arquidiocese
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fundar a lei positiva sobre os princípios da lei natural. [16] Tudo isto é necessário e coerente com o respeito da dignidade e do valor da pessoa humana, sancionado pelos povos da terra na Carta da Organização das Nações Unidas de 1945, que apresenta valores e princípios morais universais de referência para as normas, as instituições, os sistemas de convivência a nível nacional e internacional. Para além do ódio e do preconceito 13. Não obstante os ensinamentos da história e o compromisso dos Estados, das organizações internacionais a nível mundial e local, das organizações não governamentais e de todos os homens e mulheres de boa vontade que cada dia se empenham pela tutela dos direitos e das liberdades fundamentais, ainda hoje no mundo se registram perseguições, descriminações, atos de violência e de intolerância baseados na religião. De modo particular na Ásia e na África, as principais vítimas são os membros das minorias religiosas, a quem é impedido de professar livremente a própria religião ou mudar para outra, através da intimidação e da violação dos direitos, das liberdades fundamenRevista da Arquidiocese
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tais e dos bens essenciais, chegando até à privação da liberdade pessoal ou da própria vida. Temos depois, como já disse, formas mais sofisticadas de hostilidade contra a religião, que nos países ocidentais se exprimem por vezes com a renegação da própria história e dos símbolos religiosos nos quais se refletem a identidade e a cultura da maioria dos cidadãos. Frequentemente tais formas fomentam o ódio e o preconceito e não são coerentes com uma visão serena e equilibrada do pluralismo e da laicidade das instituições, sem contar que as novas gerações correm o risco de não entrar em contacto com o precioso patrimônio espiritual dos seus países. A defesa da religião passa pela defesa dos direitos e liberdades das comunidades religiosas. Assim, os líderes das grandes religiões do mundo e os responsáveis das nações renovem o compromisso pela promoção e a tutela da liberdade religiosa, em particular pela defesa das minorias religiosas; estas não constituem uma ameaça contra a identidade da maioria, antes, pelo contrário, são uma oportunidade para o diálogo e o mútuo enriquecimento cultural. A sua defesa re-
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presenta a maneira ideal para consolidar o espírito de benevolência, abertura e reciprocidade com que se há de tutelar os direitos e as liberdades fundamentais em todas as áreas e regiões do mundo. Liberdade religiosa no mundo 14. Dirijo-me, por fim, às comunidades cristãs que sofrem perseguições, discriminações, atos de violência e intolerância, particularmente na Ásia, na África, no Médio Oriente e de modo especial na Terra Santa, lugar escolhido e abençoado por Deus. Ao mesmo tempo que lhes renovo a expressão do meu afeto paterno e asseguro a minha oração, peço a todos os responsáveis que intervenham prontamente para pôr fim a toda a violência contra os cristãos que habitam naquelas regiões. Que os discípulos de Cristo não desanimem com as presentes adversidades, porque o testemunho do Evangelho é e será sempre sinal de contradição. Meditemos no nosso coração as palavras do Senhor Jesus: “Felizes os que choram, porque hão de ser consolados. (...) Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. (...) Felizes sereis quando, por minha causa, vos
insultarem, vos perseguirem e, mentido, vos acusarem de toda a espécie de mal. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos Céus a vossa recompensa” (Mt 5, 4-12). Por isso, renovemos “o compromisso por nós assumido no sentido da indulgência e do perdão – que invocamos de Deus para nós, no ‘Pai Nosso’ – por havermos posto, nós próprios, a condição e a medida da desejada misericórdia: ‘perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido’ (Mt 6, 12)”. [17] A violência não se vence com a violência. O nosso grito de dor seja sempre acompanhado pela fé, pela esperança e pelo testemunho do amor de Deus. Faço votos também de que cessem no Ocidente, especialmente na Europa, a hostilidade e os preconceitos contra os cristãos pelo fato de estes pretenderem orientar a própria vida de modo coerente com os valores e os princípios expressos no Evangelho. Mais ainda, que a Europa saiba reconciliar-se com as próprias raízes cristãs, que são fundamentais para compreender o papel que teve, tem e pretende ter na história; saberá assim experimentar justiça, concórdia e paz, cultivanRevista da Arquidiocese
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do um diálogo sincero com todos os povos. Liberdade religiosa, caminho para a paz 15. O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífica a nível nacional e internacional. A paz é um dom de Deus e, ao mesmo tempo, um projeto a realizar, nunca totalmente cumprido. Uma sociedade reconciliada com Deus está mais perto da paz, que não é simples ausência de guerra, nem mero fruto do predomínio militar ou econômico, e menos ainda de astúcias enganadoras ou de hábeis manipulações. Pelo contrário, a paz é o resultado de um processo de purificação e elevação cultural, moral e espiritual de cada pessoa e povo, no qual a dignidade humana é plenamente respeitada. Convido todos aqueles que desejam tornar-se obreiros de paz e sobretudo os jovens a prestarem ouvidos à própria voz interior, para encontrar em Deus a referência estável para a conquisRevista da Arquidiocese
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ta de uma liberdade autêntica, a força inesgotável para orientar o mundo com um espírito novo, capaz de não repetir os erros do passado. Como ensina o Servo de Deus Papa Paulo VI, a cuja sabedoria e clarividência se deve a instituição do Dia Mundial da Paz, “é preciso, antes de mais nada, proporcionar à Paz outras armas, que não aquelas que se destinam a matar e a exterminar a humanidade. São necessárias sobretudo as armas morais, que dão força e prestígio ao direito internacional; aquela arma, em primeiro lugar, da observância dos pactos”. [18] A liberdade religiosa é uma autêntica arma da paz, com uma missão histórica e profética. De fato, ela valoriza e faz frutificar as qualidades e potencialidades mais profundas da pessoa humana, capazes de mudar e tornar melhor o mundo; consente alimentar a esperança num futuro de justiça e de paz, mesmo diante das graves injustiças e das misérias materiais e morais. Que todos os homens e as sociedades aos diversos níveis e nos vários ângulos da terra possam brevemente experimentar a liberdade religiosa, caminho para a paz!
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[1] Cf. BENTO XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 29.55-57. [2] Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decl. sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae, 2. [3] Cf. BENTO XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 78. [4] Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decl. sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs Nostra aetate, 1. [5] CONC. ECUM. VAT. II, Decl. sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae, 7. [6] BENTO XVI, Discurso à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (18 de Abril de 2008): AAS 100 (2008), 337. [7] Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decl. sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae, 2. [8] JOÃO PAULO II, Discurso aos participantes na Assembleia Parlamentar da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) (10 de outubro de 2003), 1: AAS 96 (2004), 111. [9] Cf. BENTO XVI, Carta enc. Caritas in veritate, 11. [10] Cf. CONC. ECUM. VAT. II, Decl. sobre a liberdade religiosa Dignitatis humanae, 1. [11] Cf. CÍCERO, De inventione, II, 160. [12] Cf. BENTO XVI, Discurso aos Representantes de outras Religiões do Reino Unido (17 de setembro de 2010): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 25/IX/2010), 6-7. [13] CONC. ECUM. VAT. II, Decl. sobre as relações da Igreja com as religiões não-cristãs Nostra aetate, 2. [14] Ibid., 2. [15] Super evangelium Joannis, I, 3. [16]Cf. BENTO XVI, Discurso às Autoridades civis e ao Corpo Diplomático em Chipre (5 de Junho de 2010): L’Osservatore Romano (ed. portuguesa de 12/VI/2010), 4; COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, À procura de uma ética universal: um olhar sobre a lei natural (Cidade do Vaticano 2009). [17] PAULO VI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 1976: AAS 67 (1975), 671. [18] Ibid.: o.c., 668.
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Papa saúda Igreja no Brasil pela Campanha da Fraternidade 2011 MENSAGEM DE BENTO XVI AOS FIÉIS BRASILEIROS PELA CF 2011 Vaticano, 16 de fevereiro de 2011 Reforçando o tema proposta pela CF deste ano – Fraternidade e vida no Planeta –, o Santo Padre pede uma "mudança de mentalidade e atitudes para a salvaguarda da criação". Bento XVI destaca que o primeiro passo para uma "reta relação com o mundo" é o reconhecimento, por parte do homem, "da sua condição de criatura". Por fim, Bento XVI destaca que o dever de cuidar do meio ambiente é um "imperativo que nasce da consciência de que Deus confia a Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um filho cuida da herança de seu pai e uma grande herança Deus confiou aos brasileiros". Leia abaixo a carta na íntegra: É com viva satisfação que venho unir-me, uma vez mais, a toda Igre-
ja no Brasil que se propõe percorrer o itinerário penitencial da quaresma, em preparação para a Páscoa do Senhor Jesus, no qual se insere a Campanha da Fraternidade cujo tema neste ano é: “Fraternidade e vida no Planeta”, pedindo a mudança de mentalidade e atitudes para a salvaguarda da criação. Pensando no lema da referida Campanha, “a criação geme em dores de parto”, que faz eco às palavras de São Paulo na sua Carta aos Romanos (8,22), podemos incluir entre os motivos de tais gemidos o dano provocado na criação pelo egoísmo humano. Contudo, é igualmente verdadeiro que a “criação espera ansiosamente a revelação dos fi lhos de Deus” (Rm 8,19). Assim como o pecado destrói a criação, esta é também restaurada Revista da Arquidiocese
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quando se fazem presentes “os fi lhos de Deus”, cuidando do mundo para que Deus seja tudo em todos (cf. 1Cor 15,28). O primeiro passo para uma reta relação com o mundo que nos circunda é justamente o reconhecimento, da parte do homem, da sua condição de criatura: o homem não é Deus, mas Sua imagem; por isso, ele deve procurar tornar-se mais sensível à presença de Deus naquilo que está ao seu redor: em todas as criaturas e, especialmente, na pessoa humana há uma certa Epifania de Deus. “Quem sabe reconhecer no cosmos os refl exos do rosto invisível do Criador, é levado a ter maior amor pelas criaturas” (Bento XVI, Homilia na Solenidade da Santíssima Mãe de Deus, 1/1/2010). O homem só será capaz de respeitar as criaturas na medida em que tiver no seu espírito um sentido pleno da vida; caso contrário, será levado a desprezar-se a si mesmo e aquilo que o circunda, a não ter respeito pelo ambiente em que vive, pela
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criação. Por isso, a primeira ecologia a ser defendida é a “ecologia humana” (cf. Bento XVI, Encíclica Caritas in Veritate, 51). Ou seja, sem uma clara defesa da vida humana, desde sua concepção até a morte natural; sem uma defesa da família baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher; sem uma verdadeira defesa daqueles que são excluídos e marginalizados pela sociedade, sem esquecer, neste contexto, daqueles que perdem tudo, vítimas de desastres naturais, nunca se poderá falar de uma autêntica defesa do meio-ambiente. Recordando que o dever de cuidar do meio-ambiente é um imperativo que nasce da consciência de que Deus confi a Sua criação ao homem não para que este exerça sobre ela um domínio arbitrário, mas que a conserve e cuide como um fi lho cuida da herança de seu pai, e uma grande herança Deus confi ou aos brasileiros, de bom grado envio-lhes uma propiciadora bênção apostólica.
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Quaresma: encontro intenso com o Senhor MENSAGEM DE BENTO XVI PARA O TEMPO DA QUARESMA INICIADO EM 10 DE MARÇO Vaticano, 4 de novembro de 2010 Na mensagem, o papa cita a importância do Batismo na vida do cristão e a Quaresma, como ocasião para essa reflexão. “Um vínculo particular liga o Batismo à Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva”, diz Bento XVI, num dos trechos da mensagem. O papa ressalta a relevância do Batismo como sendo uma atual fonte de conversão: “O Batismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro
com Cristo que informa toda a existência do batizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo”. Leia o texto: “Sepultados com Ele no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (cf. Cl 2, 12) A Quaresma, que nos conduz à Revista da Arquidiocese
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celebração da Santa Páscoa, é para a Igreja um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específi ca para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro defi nitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifi ca o seu caminho de purifi cação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma). 1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Batismo, quando, “tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo” iniciou para nós “a aventura jubilosa e exaltante do discípulo” (Homilia na Festa do Batismo do Senhor, 10 de janeiro de 2010). São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O fato que na maioria dos casos o Batismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria Revista da Arquidiocese
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existência “os mesmos sentimentos de Jesus Cristo” (Fl 2, 5), é comunicada gratuitamente ao homem. O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa “conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, confi gurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos” (Fl 3, 1011). O Batismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do batizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo. Um vínculo particular liga o Batismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar “mais abundantemente os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal” (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De fato, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Batismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande
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mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8, 11). Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Batismo como um ato decisivo para toda a sua existência. 2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é batizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento
de Cristo e na doação total a Ele. O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição do homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta “contra os dominadores deste mundo tenebroso” (Ef 6, 12), no qual o diabo é ativo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal. O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, “em particular, a um alto monte” (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como Revista da Arquidiocese
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filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: “Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O” (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitirnos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor. O pedido de Jesus à Samaritana: “Dá-Me de beber” (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da “água a jorrar para a vida eterna” (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos “verdadeiros adoradores” capazes de rezar ao Pai “em espírito e verdade” (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, “enquanto não repousar em Deus”, segundo as célebres palavras de Santo Agostinho. O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um Revista da Arquidiocese
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de nós: “Tu crês no Filho do Homem?”. “Creio, Senhor” (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como “filho da luz”. Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: “Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?” (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: “Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (v. 27). A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos e a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a
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dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos “da água e do Espírito Santo”, e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à ação da Graça para sermos seus discípulos. 3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Batismo, estimulanos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a “terra”, que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1 Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a “palavra da Cruz” manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1 Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf.
Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso “eu”, para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31). No nosso caminho encontramonos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. Revista da Arquidiocese
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A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, enganao, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida. Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projetos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: “Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...”. “Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...” (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia. Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciamos no dia do Batismo. A oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de fato, sem a perspectiRevista da Arquidiocese
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va da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que “as suas palavras não passarão” (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele “que ninguém nos poderá tirar” (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna. Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é “fazer-se conformes com a morte de Cristo” (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela acção do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo. Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Re-
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dentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Batismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas ações. Tudo o que o Sacramento
signifi ca e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confi emo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.
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Vaticano se solidariza com as vítimas da chacina em Realengo MENSAGEM DO VATICANO SOBRE A TRAGÉDIA OCORRIDA EM ESCOLA DE REALENGO, BAIRRO CARIOCA Sexta-feira, 8 de abril de 2011 Dom Lorenzo Baldisseri, núncio apostólico no Brasil, encaminhou telegrama do cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, ao arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani João Tempesta, no qual se solidariza com as vítimas da chacina de crianças em Realengo, bairro carioca, ocorrida em 7 de abril. Leia a íntegra da mensagem abaixo:
Profundamente consternado pelo dramático atentado realizado contra crianças indefesas em um colégio municipal no bairro do Realengo, o Sumo Pontífi ce deseja assegurar através de Vossa Excelência Revma. sua solidariedade e conforto espiritual às famílias que perderam seus fi lhos e toda a comunidade escolar, com votos de pronta recuperação Excelência Reverendíssima dos feridos. O Santo Padre convida todos os Cumpro o dever de transmitir cariocas, diante desta tragédia, a a Vossa Excelência, o telegrama de dizer não à violência que constitui Sua Eminência o cardeal Tarcisio caminho sem futuro, procurando Bertone, Secretário de Estado: construir uma sociedade fundada sobre a justiça e o respeito pelas Exmo. Revmo. Dom Orani João pessoas, sobretudo os mais fracos e Tempesta, indefesos. Arcebispo de São Sebastião do Rio Em nome de Deus, para que a de Janeiro esperança não esmoreça nesta hora Revista da Arquidiocese
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de prova e faça prevalecer o perdão e o amor sobre o ódio e a vingança, Sua Santidade Papa Bento XVI concede-lhes uma confortadora bênção apostólica. Cardeal Tarcísio Bertone Secretário de Estado de Sua Santidade Uno às palavras do Cardeal,
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minha fervente oração a Deus Todo poderoso e rico em misericórdia, nesta circunstância tão dolorosa na sua Arquidiocese. Aproveito o ensejo para expressar meus sentimentos de alta estima. Dom Lorenzo Baldisseri Núncio Apostólico
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Ressurreição de Cristo: fato, não especulação, diz Bento XVI MENSAGEM URBI ET ORBI DE BENTO XVI PELA PÁSCOA Vaticano, 24 de abril de 2011
Em sua mensagem de Páscoa, Bento XVI quis sublinhar que “a ressurreição de Cristo não é fruto de uma especulação, de uma experiência mística”, mas um fato. Apresentamos a mensagem de Páscoa que Bento XVI dirigiu do balcão central da Basílica de São Pedro ao meio-dia do Domingo da Ressurreição:
ras mulheres que viram o sepulcro vazio, a fé de Pedro e dos outros Apóstolos. Até hoje – mesmo na nossa era de comunicações supertecnológicas – a fé dos cristãos assenta naquele anúncio, no testemunho daquelas irmãs e daqueles irmãos que viram, primeiro, a pedra removida e o túmulo vazio e, depois, os misterio“In resurrectione tua, Christe, coeli sos mensageiros que atestavam que et terra laetentur” Jesus, o Crucifi cado, ressuscitara; em seguida, o Mestre e Senhor em A manhã de Páscoa trouxe-nos pessoa, vivo e palpável, apareceu a este anúncio antigo e sempre novo: Maria de Magdala, aos dois discíCristo ressuscitou! O eco deste acon- pulos de Emaús e, fi nalmente, aos tecimento, que partiu de Jerusalém onze, reunidos no Cenáculo (cf. Mc há vinte séculos, continua a ressoar 16, 9-14). na Igreja, que traz viva no coração A ressurreição de Cristo não é frua fé vibrante de Maria, a Mãe de Je- to de uma especulação, de uma expesus, a fé de Madalena e das primei- riência mística: é um acontecimento, Revista da Arquidiocese
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que ultrapassa certamente a história, mas verifica-se num momento concreto da história e deixa nela uma marca indelével. A luz, que encandeou os guardas de sentinela ao sepulcro de Jesus, atravessou o tempo e o espaço. É uma luz diferente, divina, que fendeu as trevas da morte e trouxe ao mundo o esplendor de Deus, o esplendor da Verdade e do Bem. Tal como os raios do sol, na primavera, fazem brotar e desabrochar os rebentos nos ramos das árvores, assim também a irradiação que dimana da Ressurreição de Cristo dá força e significado a cada esperança humana, a cada expectativa, desejo, projeto. Por isso, hoje, o universo inteiro se alegra, implicado na primavera da humanidade, que se faz intérprete do tácito hino de louvor da criação. O aleluia pascal, que ressoa na Igreja peregrina no mundo, exprime a exultação silenciosa do universo e sobretudo o anseio de cada alma humana aberta sinceramente a Deus, mais ainda, agradecida pela sua infinita bondade, beleza e verdade. “Na vossa ressurreição, ó Cristo, alegrem-se os céus e a terra”. A este convite ao louvor, que hoje se eleva do coração da Igreja, os “céus” respondem plenamente: as multidões dos anjos, dos santos e dos beatos Revista da Arquidiocese
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unem-se unânimes à nossa exultação. No Céu, tudo é paz e alegria. Mas, infelizmente, não é assim sobre a terra! Aqui, neste nosso mundo, o aleluia pascal contrasta ainda com os lamentos e gritos que provêm de tantas situações dolorosas: miséria, fome, doenças, guerras, violências. E, todavia foi por isto mesmo que Cristo morreu e ressuscitou! Ele morreu também por causa dos nossos pecados de hoje, e também para a redenção da nossa história de hoje Ele ressuscitou. Por isso, esta minha mensagem quer chegar a todos e, como anúncio profético, sobretudo aos povos e às comunidades que estão a sofrer uma hora de paixão, para que Cristo Ressuscitado lhes abra o caminho da liberdade, da justiça e da paz. Possa alegrar-se aquela Terra que, primeiro, foi inundada pela luz do Ressuscitado. O fulgor de Cristo chegue também aos povos do Médio Oriente para que a luz da paz e da dignidade humana vença as trevas da divisão, do ódio e das violências. Na Líbia, que as armas cedam o lugar à diplomacia e ao diálogo e se favoreça, na situação atual de conflito, o acesso das ajudas humanitárias a quantos sofrem as consequências da luta. Nos países da África do Norte e do Médio Oriente, que todos os
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cidadãos – e de modo particular os jovens – se esforcem por promover o bem comum e construir um sociedade, onde a pobreza seja vencida e cada decisão política seja inspirada pelo respeito da pessoa humana. A tantos prófugos e aos refugiados, que provêm de diversos países africanos e se veem forçados a deixar os afetos dos seus entes mais queridos, chegue a solidariedade de todos; os homens de boa vontade sintam-se inspirados a abrir o coração ao acolhimento, para se torne possível, de maneira solidária e concorde, acudir às necessidades prementes de tantos irmãos; a quantos se prodigalizam com generosos esforços e dão exemplares testemunhos nesta linha chegue o nosso conforto e apreço. Possa recompor-se a convivência civil entre as populações da Costa do Marfi m, onde é urgente empreender um caminho de reconciliação e perdão, para curar as feridas profundas causadas pelas recentes violências. Possa encontrar consolação e esperança a terra do Japão, enquanto enfrenta as dra-
máticas consequências do recente terremoto, e demais países que, nos meses passados, foram provados por calamidades naturais que semearam sofrimento e angústia. Alegrem-se os céus e a terra pelo testemunho de quantos sofrem contrariedades ou mesmo perseguições pela sua fé no Senhor Jesus. O anúncio da sua ressurreição vitoriosa neles infunda coragem e confi ança. Queridos irmãos e irmãs! Cristo ressuscitado caminha à nossa frente para os novos céus e a nova terra (cf. Ap 21, 1), onde fi nalmente viveremos todos como uma única família, fi lhos do mesmo Pai. Ele está conosco até ao fi m dos tempos. Sigamos as suas pegadas, neste mundo ferido, cantando o aleluia. No nosso coração, há alegria e sofrimento; na nossa face, sorrisos e lágrimas. A nossa realidade terrena é assim. Mas Cristo ressuscitou, está vivo e caminha conosco. Por isso, cantamos e caminhamos, fi éis ao nosso compromisso neste mundo, com o olhar voltado para o Céu. Boa Páscoa a todos!
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Educação e formação, desafi os urgentes da Igreja DISCURSO DO PAPA BENTO XVI NA REUNIÃO PLENÁRIA DA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA Sala do Consistório, 7 de fevereiro de 2011 A reunião tratou de vários temas, sendo os principais deles sobre a formação integral dos seminaristas, sobretudo destacando que o seminário deve ser uma verdadeira comunidade de discípulos de Jesus, onde se forma o espírito e a mente para a missão. Segundo as orientações e a palavra explícita do Sucessor de Pedro, Bento XVI, o seminário deve ser um tempo forte onde os futuros pastores encontrem um ambiente propício para estarem individual e comunitariamente com o Senhor, ouvindo-o no silêncio e dialogando com Ele na oração até mesmo quando estudam. A necessidade de haver professores que ensinem não só com o que sabem, mas muito mais com o que são e o que vivem a partir da sua fé e de seu amor a Deus, é irrenunciável. Um dos assuntos práticos estudados foi o uso da inter-
net nos seminários, verificando seus aspectos de grande significação para a obra da evangelização, pelo emprego das técnicas modernas, marcadas pela velocidade na comunicação, quanto dos perigos a serem evitados. Veja o conteúdo da mensagem na íntegra: Dirij o a cada um de vós a minha cordial saudação nesta visita por ocasião da reunião plenária da Congregação para a Educação Católica. Saúdo o Cardeal Zenon Grocholewski, Prefeito do Dicastério, agradecendo as suas gentis palavras, assim como o Secretário, o Subsecretário, os Ofi ciais e os Colaboradores. As temáticas que enfrentais nestes dias têm como denominador comum a educação e a formação, Revista da Arquidiocese
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que constituem hoje um dos desafios mais urgentes que a Igreja e as suas instituições são chamadas a enfrentar. Parece que a obra educativa se tornou cada vez mais árdua, pois, numa cultura que com demasiada frequência faz do relativismo o próprio credo, falta a luz da verdade, aliás, é considerado perigoso falar da verdade, insinuando assim a dúvida sobre os valores básicos da existência pessoal e comunitária. Por isso, é importante o serviço que prestam no mundo numerosas instituições formativas que se inspiram na visão cristã do homem e da realidade: educar é um ato de amor, exercício da “caridade intelectual”, que requer responsabilidade, dedicação e coerência de vida. O trabalho da vossa Congregação e as escolhas que fareis nestes dias de reflexão e de estudo certamente contribuirão para responder à atual “emergência educativa”. A vossa Congregação, criada em 1915 por Bento XV, há quase cem anos realiza a sua obra preciosa ao serviço das várias Instituições católicas de formação. Entre estas, sem dúvida, o seminário é uma das mais importantes para a vida da Igreja e, por conseguinte, exige um projeto formativo que tenha em consideraRevista da Arquidiocese
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ção o contexto antes mencionado. Várias vezes realcei o modo como o seminário representa uma etapa preciosa da vida, no qual o candidato ao sacerdócio faz a experiência de ser “discípulo de Jesus”. Para este tempo destinado à formação, é exigido um determinado destaque, certo “deserto”, porque o Senhor fala ao coração como uma voz que só se ouve se houver silêncio (cf. 1 Rs 19, 12); mas é exigida também a disponibilidade para viver juntos, amar a “vida de família” e a dimensão comunitári, que antecipam aquela “fraternidade sacramental” que deve caracterizar cada presbítero diocesano (cf. Presbyterorum ordinis, 8) e que eu quis evocar inclusive na minha recente Carta aos seminaristas: “Uma pessoa não se torna sacerdote sozinha. É necessária a ‘comunidade dos discípulos’, o conjunto daqueles que querem servir a Igreja de todos”. Nestes dias estais a estudar também o esboço do documento sobre a Internet e a formação nos seminários. A internet, pela sua capacidade de superar as distâncias e de colocar as pessoas em contato recíproco, apresenta grandes possibilidades para a Igreja e a sua missão. Com o necessário discernimento para um uso inteligente e prudente, é um instrumento
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que pode servir não só para os estudos, mas também para a ação pastoral dos futuros presbíteros nos vários campos eclesiais, como a evangelização, a ação missionária, a catequese, os projetos educativos e a gestão das instituições. Também neste campo é de extrema importância poder contar com formadores adequadamente preparados para que sejam guias fiéis e sempre atualizados, a fim de orientar os candidatos ao sacerdócio no uso correto e positivo dos meios informáticos. Depois, este ano celebra-se o LXX aniversário da Pontifícia Obra para as Vocações Sacerdotais, instituída pelo Venerável Pio XII a fim de favorecer a colaboração entre a Santa Sé e as Igrejas locais no precioso trabalho de promoção das vocações ao ministério ordenado. Tal evento poderá ser uma ocasião para conhecer e valorizar as iniciativas vocacionais mais significativas, promovidas nas Igrejas locais. É preciso que a pastoral vocacional, além de realçar o valor da chamada universal a seguir Jesus, insista mais claramente sobre o perfil do sacerdócio ministerial, caracterizado pela sua configuração específica com Cristo, que o distingue essencialmente dos outros fiéis e se põe ao serviço deles.
Além disso, iniciastes uma revisão de quanto prescreve a Constituição apostólica Sapientia christiana sobre os estudos eclesiásticos, relativos ao direito canônico, aos Institutos Superiores de Ciências Religiosas e, recentemente, à filosofia. A teologia é um setor sobre o qual se deve refletir particularmente. É importante tornar cada vez mais sólido o vínculo entre a teologia e o estudo da Sagrada Escritura, de modo que esta seja realmente a sua alma e coração (cf. Verbum Domini, 31). Contudo, o teólogo não deve esquecer de ser também aquele que fala a Deus. Portanto, é indispensável manter estreitamente unidas a teologia e a oração pessoal e comunitária, especialmente litúrgica. A teologia é scientia fidei e a oração alimenta a fé. Na união com Deus, de qualquer modo, o mistério é saboreado, faz-se próximo, e esta proximidade é luz para a inteligência. Gostaria de realçar também a conexão da teologia com as outras disciplinas, considerando que ela é ensinada nas Universidades católicas e, em muitos casos, nas civis. O beato John Henry Newman falava de “círculo do saber”, circle of knowledge, para indicar que existe uma interdependência entre Revista da Arquidiocese
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os vários ramos do saber; mas Deus e só Ele tem relação com a totalidade do real; consequentemente, eliminar Deus signifi ca interromper o círculo do saber. Nesta perspectiva as Universidades católicas, com as suas bem delineadas identidade e abertura à “totalidade” do ser humano, podem desenvolver uma obra preciosa para promover a unidade do saber, orientando estudantes e professores para a Luz do mundo, a “luz verdadeira que a todo o homem ilumina” (Jo 1, 9). São considerações válidas também para as escolas católicas. Antes de tudo, é preciso ter coragem para anunciar o valor “amplo” da educação, para formar pessoas sólidas, capazes de colaborar com os outros e dar sentido à própria vida. Hoje fala-se de educação intercultural, objeto de estudo inclusive na vossa Plenária. Neste âmbito, requer-se uma fi delidade corajosa e inovativa, que saiba conjugar consciência clara da própria identidade e abertura à alteridade, pelas exigências do viver juntos nas sociedades multiculturais. Também para este
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fi m, emerge o papel educativo do ensino da Religião católica como disciplina escolar em diálogo interdisciplinar com as outras. De fato, ele contribui largamente não só para o desenvolvimento integral do estudante, mas inclusive para o conhecimento do outro, para a compreensão e o respeito recíproco. Para que tais objetivos sejam alcançados deve-se prestar particular atenção à formação dos dirigentes e formadores, não só sob o ponto de vista profi ssional, mas também religioso e espiritual, a fi m de que, com a coerência da própria vida e o envolvimento pessoal, a presença do educador cristão se torne expressão de amor e testemunho da verdade. Queridos irmãos e irmãs, agradeço-vos quanto fazeis com o vosso trabalho competente ao serviço das instituições educativas. Mantende sempre o olhar fi xo em Cristo, o único Mestre, para que com o seu Espírito torne efi caz o vosso trabalho. Confi o-vos à materna proteção de Maria Santíssima, Sedes Sapientiae, e de coração concedo a todos a Bênção Apostólica.
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Vaticano faz refl exão sobre as novas tecnologias em comunicação BENTO XVI AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS Sala Clementina, 28 de fevereiro de 2011 Durante os trabalhos foram discutidas, em especial, as contribuições oferecidas pelo papa Bento XVI na sua mensagem para o 45º Dia Mundial dedicado aos meios de comunicação social, intitulado “Verdade, anúncio e autenticidade de vida na era digital”. O Papa salientou que está debaixo dos olhos de todos os perigos que se correm com as linguagens desenvolvidas pelas novas tecnologias: a perda da inte-
rioridade, a superficialidade na vivencia das relações, o prevalecimento da opinião mais convincente em relação ao desejo de verdade. Leia a seguir o discurso do papa: Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano, convidei a meditar sobre o fato de que as novas tecnologias não mudam só o modo de comunicar, mas Revista da Arquidiocese
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levam a cabo uma vasta transformação cultural. Desenvolve-se um novo modo de aprender e de pensar, com oportunidades inéditas de estabelecer relações e construir a comunhão. Agora, gostaria de meditar sobre o fato de que o pensamento e as relações se verificam sempre segundo a modalidade da linguagem, entendida naturalmente em sentido lato, e não apenas verbal. A linguagem não é um simples revestimento intercambiável e provisório de conceitos, mas o contexto vivo e vibrante em que os pensamentos, as inquietações e os programas dos homens nascem na consciência e são plasmados mediante gestos, símbolos e palavras. Por conseguinte, o homem não só utiliza, mas, num certo sentido, “habita” na linguagem. Em particular hoje, aquelas que o Concílio Vaticano II definiu “maravilhosas invenções técnicas” (Inter mirifica, 1) continaum a transformar o ambiente cultural, e isto exige uma atenção específica às linguagens que nele se desenvolvem. As novas tecnologias “têm a capacidade de influenciar não só as modalidades, mas também os conteúdos do pensamento” (Aetatis novae, 4). As novas linguagens que se desenvolvem na comunicação digital Revista da Arquidiocese
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determinam, entre outras coisas, uma capacidade mais intuitiva e emotiva do que analítica, orientam para uma diferente organização lógica do pensamento e da relação com a realidade, privilegiam muitas vezes a imagem e as ligações hipertextuais. Além disso, a clara distinção tradicional entre linguagem escrita e oral parece diluir-se a favor de uma comunicação escrita que adquire a forma e a imediação da oralidade. As dinâmicas próprias das “redes participativas” exigem, de resto, que a pessoa se comprometa naquilo que comunica. Quando as pessoas trocam informações entre si, já se compartilham a si mesmas e a sua visão do mundo: tornam-se “testemunhas” daquilo que dá sentido à sua existência. Sem dúvida, os riscos que se correm saltam aos olhos de todos: a perda da interioridade, a superficialidade na vivência dos relacionamentos, a fuga da emotividade, a predominância da opinião mais convincente em relação ao desejo da verdade. E, no entanto, eles constituem a consequência de uma incapacidade de viver plena e autenticamente o sentido das inovações. Eis por que motivo é urgente a reflexão sobre as linguagens desenvolvidas pelas novas tecnolo-
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gias. O ponto de partida é a própria Revelação, que nos dá testemunho do modo como Deus comunicou as suas maravilhas precisamente mediante a linguagem e a experiência real dos homens, “segundo a cultura própria de cada época” (Gaudium et spes, 58), até à plena manifestação de si no Filho encarnado. A fé sempre penetra, enriquece, exalta e vivifica a cultura, e esta, por sua vez, faz-se veículo da fé, à qual oferece a linguagem para pensar e para se expressar. Portanto, é necessário que nos tornemos ouvintes atentos das linguagens dos homens do nosso tempo, para prestarmos atenção à obra de Deus no mundo. Neste contexto, é importante o trabalho desempenhado pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais, ao aprofundar a “cultura digital”, estimulando e encorajando a reflexão para uma maior consciência a respeito dos desafios que se apresentam à comunidade eclesial e civil. Não se trata apenas de comunicar a mensagem evangélica na linguagem contemporânea, mas é preciso ter a coragem de pensar de modo mais profundo, como ocorreu noutras épocas, a relação entre a fé, a vida da Igreja e as transformações que o homem vive.
Trata-se do compromisso de ajudar quantos desempenham funções de responsabilidade na Igreja, a ser capazes de compreender, interpretar e falar a “nova linguagem” dos mass media em função pastoral (cf. Aetatis novae, 2), em diálogo com o mundo contemporâneo, perguntando-se: quais são os desafios que o chamado “pensamento digital” apresenta à fé e à teologia? Quais são as interrogações e as exigências? O mundo da comunicação interessa todo o universo cultural, social e espiritual da pessoa humana. Se as novas linguagens têm um impato sobre o modo de pensar e de viver, isto diz respeito de alguma maneira também ao mundo da fé, da sua inteligência e expressão. Segundo uma definição clássica, a teologia é inteligência da fé, e sabemos bem que a inteligência, entendida como conhecimento ponderado e crítico, não é alheia às mudanças culturais em curso. A cultura digital apresenta novos desafios à nossa capacidade de falar e de ouvir uma linguagem simbólica que fale da transcendência. O próprio Jesus, no anúncio do Reino, soube utilizar elementos da cultura e do ambiente do seu tempo: o rebanho, os campos, o banquete, as sementes, e assim por Revista da Arquidiocese
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diante. Hoje somos chamados a descobrir, também na cultura digital, símbolos e metáforas significativos para as pessoas, que possam servir de ajuda ao falar do Reino de Deus ao homem contemporâneo. Além disso, é preciso considerar que a comunicação na época dos “novos meios de comunicação” comporta uma relação cada vez mais estreita e ordinária entre o homem e as máquinas, dos computadores aos telemóveis, citando apenas os mais comuns. Quais serão os efeitos desta relação constante? Já o Papa Paulo VI, referindo-se aos primeiros programas de automatização da análise linguística do texto bíblico, indicava uma pista de reflexão, quando se interrogava: “Não é porventura este esforço de infundir mediante instrumentos mecânicos, o reflexo de funções espirituais, que é enobrecido e elevado a um serviço, que alcança o sagrado? É o espírito que se torna prisioneiro da matéria, ou não é por acaso a matéria já domada e obrigada a executar leis do espírito, que oferece ao próprio espírito um obséquio sublime?” (Discurso no Centro de Automatização do “Aloysianum” de Gallarate, 19 de Junho de 1964). Intui-se nestas palavras o vínculo profundo com o espírito, ao qual a Revista da Arquidiocese
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tecnologia é chamada por vocação (cf. Encíclica Caritas in veritate, 69). É precisamente o apelo aos valores espirituais que permitirá promover uma comunicação verdadeiramente humana: para além de todo o fácil entusiasmo ou cepticismo, sabemos que ela é uma resposta à chamada, gravada na nossa natureza de seres criados à imagem e semelhança do Deus da comunhão. Por isso, a comunicação bíblica segundo a vontade de Deus está sempre vinculada ao diálogo e à responsabilidade como testemunham, por exemplo, as figuras de Abraão, Moisés, Job e os Profetas, e jamais à sedução linguística, como ao contrário é o caso da serpente, ou de incomunicabilidade e de violência, como no caso de Caim. Então, a contribuição dos fiéis poderá servir de ajuda para o próprio mundo dos mass media, abrindo horizontes de sentido e de valor que, sozinha, a cultura digital sozinha não é capaz de divisar nem de representar. Concluindo, apraz-me recordar, juntamente com muitas outras figuras de comunicadores, a do sacerdote Matteo Ricci, protagonista do anúncio do Evangelho na China na era moderna, do qual celebramos o IV centenário da morte. Na sua obra
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de difusão da mensagem de Cristo, ele considerou sempre a pessoa, o seu contexto cultural e fi losófi co, os seus valores e a sua linguagem, aproveitando tudo o que se encontrava de positivo na sua tradição, e oferecendo-se para o animar e
enaltecer mediante a sabedoria e a verdade de Cristo. Caros amigos, agradeço-vos o serviço que prestais; confi o-o à salvaguarda da Virgem Maria e, ao assegurar-vos a minha oração, concedo-vos a Bênção Apostólica.
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Papa pede renovação da fé no amor misericordioso de Deus PALAVRAS DE BENTO XVI NO FINAL DA VIA-SACRA NO COLISEU tino, 22 de abril de 2011 “Na morte do Filho de Deus na cruz, há o gérmen de uma nova esperança”. O Papa Bento XVI presidiu na Sexta-Feira Santa, no Coliseu de Roma, a tradicional Via Sacra, que lembra o calvário de Cristo até sua crucificação, e que este ano foi dedicada à crise do homem moderno. As meditações foram inspiradas no pensamento de Santo Agostinho (354-430). Abaixo, as palavras do pontífice: Esta noite, na fé, acompanhamos Jesus, que percorre o último trecho do seu caminho terreno, o trecho mais doloroso: o do Calvário. Ouvimos o alarido da multidão, as palavras da condenação, o ludíbrio dos soldados, o pranto da Virgem Maria e das outras mulheres. Agora mergulhamos no silêncio desta noite, no silêncio da cruz, no silêncio da mor-
te. É um silêncio que guarda em si o peso do sofrimento do homem rejeitado, oprimido, esmagado, o peso do pecado que desfi gura o seu rosto, o peso do mal. Esta noite, no íntimo do nosso coração, revivemos o drama de Jesus, carregado com o sofrimento, o mal, o pecado do homem. E agora, que resta diante dos nossos olhos? Resta um Crucifi cado; uma Cruz levantada no Gólgota, uma Cruz que parece determinar a derrota defi nitiva d’Aquele que trouxera a luz a quem estava mergulhado na escuridão, d’Aquele que falara da força do perdão e da misericórdia, que convidara a acreditar no amor infi nito de Deus por cada pessoa humana. Desprezado e repelido pelos homens, está diante de nós o “homem de dores, afeito ao Revista da Arquidiocese
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sofrimento, como aquele a quem se volta a cara” (Is 53, 3). Mas fi xemos bem aquele homem crucifi cado entre a terra e o céu, contemplemo-lo com um olhar mais profundo, e descobriremos que a Cruz não é o sinal da vitória da morte, do pecado, do mal, mas o sinal luminoso do amor, mais ainda, da imensidão do amor de Deus, daquilo que não teríamos jamais podido pedir, imaginar ou esperar: Deus debruçou-Se sobre nós, abaixou-Se até chegar ao ângulo mais escuro da nossa vida, para nos estender a mão e atrair-nos a Si, levar-nos até Ele. A Cruz fala-nos do amor supremo de Deus e convida-nos a renovar, hoje, a nossa fé na força deste amor, a crer que em cada situação da nossa vida, da história, do mundo, Deus é capaz de vencer a morte, o pecado, o mal, e dar-nos uma vida nova, ressuscitada. Na morte do Filho de Deus na cruz, há o gérmen de uma nova esperança de vida, como o grão de trigo que morre no seio da terra. Nesta noite carregada de silêncio, carregada de esperança, ressoa o
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convite que Deus nos dirige através das palavras de Santo Agostinho: “Tende fé! Vireis a Mim e haveis de saborear os bens da minha mesa, como é verdade que Eu não recusei saborear os males da vossa mesa... Prometi-vos a minha vida... Como antecipação, franqueei-vos a minha morte, como que para vos dizer: Convido-vos a participar na minha vida... É uma vida onde ninguém morre, uma vida verdadeiramente feliz, que oferece um alimento incorruptível, um alimento que restabelece e nunca acaba. A meta a que vos convido... é a amizade como o Pai e o Espírito Santo, é a ceia eterna, é a comunhão comigo ... é participar na minha vida” (cf. Discurso 231, 5). Fixemos o nosso olhar em Jesus Crucifi cado e peçamos, rezando: Iluminai, Senhor, o nosso coração, para Vos podermos seguir pelo caminho da Cruz; fazei morrer em nós o “homem velho”, ligado ao egoísmo, ao mal, ao pecado, e tornai-nos “homens novos”, mulheres e homens santos, transformados e animados pelo vosso amor.
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O rosto de Deus é a via que conduz à paz HOMILIA DE BENTO XVI NA SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS Vaticano, 1° de janeiro de 2011 Em sua reflexão, Papa afirma que a paz verdadeira, pela qual todos buscam ardentemente, não deve ser vista simplesmente como fruto de uma conquista do homem, mas como dom divino e ao mesmo tempo compromisso que se deve levar em frente, sobretudo observando as Escrituras. Mas esta paz também tem um nome e uma forma humana: Jesus Cristo, Verbo eterno de Deus que faz-se um de nós, entra no mundo e transforma a nossa realidade. Jesus é o Deus da Paz, Filho de Maria; logo, Maria é a mãe da Paz. A mulher e mãe da paz! Abaixo a íntegra da homilia: Ainda envolvidos pelo clima espiritual do Natal, no qual contemplamos o mistério do nascimento de Cristo, hoje celebramos com os mesmos sentimentos a Virgem Maria, que a Igreja venera como Mãe de
Deus, enquanto concebeu na carne o Filho do Pai eterno. As leituras bíblicas desta solenidade ressaltam principalmente o Filho de Deus que se fez homem e o “nome” do Senhor. A primeira leitura apresenta-nos a solene bênção que os sacerdotes pronunciavam sobre os Israelitas nas grandes festas religiosas: ela é marcada precisamente pelo nome do Senhor, repetido três vezes, como que para exprimir a plenitude e a força que deriva desta invocação. Este texto de bênção litúrgica, de fato, evoca a riqueza de graça e de paz que Deus concede ao homem, como uma disposição benevolente em relação a Ele, e que se manifesta com o “resplandecer” do rosto divino e o “dirigi-lo” para nós. A Igreja ouve de novo hoje estas palavras, enquanto pede ao Senhor Revista da Arquidiocese
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que abençoe o novo ano a pouco iniciado, na consciência de que, diante dos trágicos acontecimentos que marcam a história, perante as lógicas de guerra que infelizmente ainda não estão totalmente superadas, só Deus pode tocar o fundo do coração humano e garantir esperança e paz à humanidade. De fato, já está consolidada a tradição de que no primeiro dia do ano a Igreja, espalhada por todo o mundo, eleve uma oração coral para invocar a paz. É bom iniciar um novo trecho de caminho pondo-se com decisão na via da paz. Hoje, queremos ouvir o brado de tantos homens e mulheres, crianças e idosos vítimas da guerra, que é o rosto mais horrendo e violento da história. Hoje nós rezamos a fim de que a paz, que os anjos anunciaram aos pastores na noite de Natal, possa chegar a toda a parte: “Super terram pax in hominibus bonae voluntatis” (Lc 2, 14). Por isso, sobretudo com a nossa oração, queremos ajudar todos os homens e povos, sobretudo quantos têm responsabilidades de governo, a caminhar de modo cada vez mais decidido pela senda da paz. Na segunda leitura, São Paulo resume na adoção filial a obra de salvação realizada por Cristo, na qual está como que encastoada a Revista da Arquidiocese
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figura de Maria. Graças a ela o Filho de Deus, “nascido de mulher” (Gl 4, 4), pôde vir ao mundo como verdadeiro homem, na plenitude dos tempos. Este cumprimento, esta plenitude, refere-se ao passado e às expectativas messiânicas, que se realizam, mas, ao mesmo tempo, refere-se também à plenitude em sentido absoluto: no verbo feito homem, Deus deu a sua Palavra última e definitiva. No limiar de um novo ano, ressoa assim o convite a caminhar com alegria rumo à luz do “sol que surge do alto” (Lc 1, 78), porque na perspectiva cristã, todo o tempo é habitado por Deus, não há futuro que não seja em direção a Cristo e não existe plenitude fora de Cristo. O trecho do evangelho de hoje termina com a imposição do nome de Jesus, enquanto Maria participa em silêncio, meditando no coração, o mistério deste seu Filho, que de modo totalmente singular é dom de Deus. Mas a perícope evangélica que ouvimos põe em particular evidência os pastores, que se vão embora “glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto” (Lc 2, 20). O cordeiro tinha-lhes anunciado que na cidade de David, isto é, em Belém, tinha nascido o Salvador e que teriam
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encontrado o sinal: um menino envolto em panos numa manjedoura (cf. Lc 2, 11-12). Tendo partido às pressas, eles encontraram Maria, José e o Menino. Observemos como o Evangelista fala da maternidade de Maria a partir do Filho, daquele “menino envolto em panos”, porque é Ele — o Verbo de Deus (cf. Jo 1, 14) — o ponto de referência, o centro do acontecimento que se está a cumprir e é Ele quem faz com que a maternidade de Maria seja qualificada como “divina”. Esta atenção prevalecente que as leituras de hoje dedicam ao “Filho”, a Jesus, não diminui o papel da Mãe, aliás, coloca-a na justa perspectiva: de fato, Maria é a verdadeira Mãe de Deus precisamente em virtude da sua total relação com Cristo. Portanto, glorificando o Filho honra-se a Mãe e honrando a Mãe glorifica-se o Filho. O título de “Mãe de Deus”, a que hoje a liturgia dá relevo, ressalta a missão única da Virgem Santa na história da salvação: missão que está na base do culto e da devoção que o povo cristão lhe reserva. De fato, Maria não recebeu o dom de Deus só para si mesma, mas para o levar ao mundo: na sua virgindade fecunda, Deus concedeu aos homens os bens da salvação eterna (cf. Colecta).
E Maria oferece continuamente a sua mediação ao Povo de Deus peregrinante na história rumo à eternidade, como outrora a oferecera aos pastores de Belém. Ela, que deu a vida terrena ao Filho de Deus, continua a oferecer aos homens a vida divina, que é o próprio Jesus e o seu Espírito Santo. Por isso é considerada mãe de todos os homens que nascem para a Graça e ao mesmo tempo é invocada como Mãe da Igreja. É no nome de Maria, Mãe de Deus e dos homens, que desde o dia 1º de janeiro de 1968 se celebra em todo o mundo o Dia Mundial da Paz. A paz é dom de Deus, como ouvimos na primeira leitura: “O Senhor... te conceda a paz” (Nm 6, 26). Ela é o dom messiânico por excelência, o primeiro fruto da caridade que Jesus nos doou, é a nossa reconciliação e pacificação com Deus. A paz é também um valor humano que se deve realizar a nível social e político, mas afunda as suas raízes no mistério de Cristo (cf. Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 77-90). Nesta solene celebração, por ocasião do quadragésimo quarto Dia Mundial da Paz, sinto-me feliz por dirigir a minha deferente saudação aos ilustres Senhores Embaixadores junto da Santa Sé, com os melhores votos Revista da Arquidiocese
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para a sua missão. Dirij o depois uma saudação cordial e fraterna ao meu Secretário de Estado e aos outros Responsáveis dos Dicastérios da Cúria Romana, com um pensamento especial ao Presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz e aos seus colaboradores. Desejo manifestar-lhes profundo reconhecimento pelo empenho quotidiano a favor de uma convivência pacífi ca entre os povos e da formação cada vez mais sólida de uma consciência de paz na Igreja e no mundo. Nesta perspectiva, a comunidade eclesial está cada vez mais empenhada a trabalhar, segundo as indicações do Magistério, para oferecer um fi rme patrimônio espiritual de valores e de princípios na busca contínua da paz. Quis recordá-lo na minha Mensagem para a celebração do dia de hoje, com o título “Liberdade religiosa, caminho para a paz”: “O mundo tem necessidade de Deus; tem necessidade de valores éticos e espirituais, universais e compartilhados, e a religião pode oferecer uma contribuição preciosa na sua busca, para a construção de uma ordem social justa e pacífi ca a nível nacional e internacional” (n. 15). Por conseguinte, ressaltei que “a liberRevista da Arquidiocese
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dade religiosa... é elemento imprescindível de um Estado de direito; não pode ser negada nem ao mesmo tempo minar todos os direitos e as liberdades fundamentais, pois é a sua síntese e ápice” (n. 5). A humanidade não pode mostrar-se resignada à força negativa do egoísmo e da violência; não se deve habituar a confl itos que causam vítimas e põem em perigo o futuro dos povos. Face às tensões ameaçadoras do momento, e sobretudo diante das discriminações, dos abusos e das intolerâncias religiosas, que hoje atingem de modo particular os cristãos (cf. ibid., n. 1), dirij o mais uma vez o urgente convite a não ceder ao desânimo e à resignação. Exorto todos a rezar a fi m de que tenham bom êxito os esforços empreendidos por várias partes para promover e construir a paz no mundo. Para esta difícil tarefa não são sufi cientes palavras, é preciso o compromisso concreto e constante dos responsáveis das nações, mas é necessário sobretudo que cada pessoa seja animada pelo autêntico espírito de paz, que se deve implorar sempre de novo na oração e viver nas relações quotidianas, em todos os ambientes. Nesta celebração eucarística temos diante dos olhos, para a nos-
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sa veneração, a imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração de Viggiano, tão amada pela população da Basilicata. A Virgem Maria dá-nos o seu Filho, mostra-nos o rosto do seu Filho, Príncipe da Paz: que ela nos ajude a permanecer na luz deste rosto, que brilha sobre nós (cf. Nm 6, 25), para redescobrir toda a ternura de Deus Pai; que
ela nos ampare ao invocar o Espírito Santo, para que renove a face da terra e transforme os corações, desfazendo a sua dureza perante a bondade desarmante do Menino, que nasceu para nós. A Mãe de Deus nos acompanhe neste novo ano; obtenha para nós e para o mundo inteiro o almejado dom da paz. Amém.
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Quaresma, itinerário rumo à Páscoa do Senhor HOMILIA DE BENTO XVI NA QUARTA-FEIRA DE CINZAS Basílica de Santa Sabina, 9 de março de 2011 Pontífice recorda o compromisso de conversão de todos os cristãos no tempo quaresmal e pede para que todos experimentem o amor misericordioso de Deus. Veja o texto proferido pelo papa:
“Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração” (Jo l 2, 12). Na primeira Leitura, tirada do livro do profeta Joel, ouvimos estas palavras com as quais Deus convida o povo judaico a um arrependimenIniciamos hoje o tempo litúrgico to sincero e não aparente. Não se da Quaresma com o rito sugestivo trata de uma conversão superfi cial da imposição das cinzas, através e transitória, mas de um percurso do qual queremos assumir o com- espiritual que diz respeito em propromisso de converter o nosso co- fundidade às atitudes da consciênração para os horizontes da Graça. cia e supõe uma intenção sincera Em geral, na opinião comum, este de correção. O profeta inspira-se tempo corre o risco de ser cono- na praga da invasão dos gafanhotado pela tristeza, pela desolação tos que atingiu o povo destruindo da vida. Ao contrário, ela é dom as colheitas, para convidar a uma precioso de Deus, é tempo forte e penitência interior, a dilacerar o codenso de signifi cados no caminho ração e não as vestes (cf. 2, 13). Isto da Igreja, é o itinerário rumo à Pás- é, trata-se de tomar uma atitude de coa do Senhor. As leituras bíblicas conversão autêntica a Deus — volda celebração de hoje oferecem-nos tar para Ele — reconhecendo a sua indicações para viver em plenitude santidade, o seu poder, a sua maesta experiência espiritual. jestade. E esta conversão é possível Revista da Arquidiocese
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porque Deus é rico de misericórdia e grande no amor. A sua misericórdia é regeneradora, gera em nós um coração puro, renova no íntimo um espírito firme, restituindo-nos à alegria da salvação (cf. Sl 50, 14). De fato, Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (cf. Ez 33, 11). Assim o profeta Joel ordena, em nome do Senhor, que se crie um ambiente penitencial propício: é preciso tocar a trombeta, dar o alarme, despertar as consciências. O período quaresmal propõe-nos este âmbito litúrgico e penitencial: um caminho de quarenta dias durante os quais experimentar de modo eficaz o amor misericordioso de Deus. Hoje ressoa para nós o apelo: “Convertei-vos a Mim de todo o vosso coração”; hoje quem é chamado a converter o coração a Deus somos nós, sempre conscientes de não poder realizar a nossa conversão sozinhos, unicamente com as nossas forças, porque é Deus quem nos converte. Ele ainda nos oferece o seu perdão, convidandonos a voltar para Ele para que nos dê um coração novo, purificado do mal que o oprime, para fazer com que participemos da sua glória. O nosso mundo precisa de ser convertido por Deus, tem necessidade Revista da Arquidiocese
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do seu perdão, do seu amor, precisa de um coração novo. “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20). Na segunda Leitura, são Paulo oferece-nos outro elemento no caminho da conversão. O Apóstolo convida a desviar o olhar dele e a dedicar atenção a quem o convidou e ao conteúdo da mensagem que traz: “Somos, por conseguinte, embaixadores de Cristo, e é Deus que vos exorta por nosso intermédio. Suplicamos-vos, pois, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus” (Ibid.). Um embaixador repete o que ouviu pronunciar pelo seu Senhor e fala com a autoridade e dentro dos limites que recebeu. Quem desempenha a função de embaixador não deve chamar a atenção para si mesmo, mas pôr-se ao serviço da mensagem que deve transmitir e de quem o enviou. Assim se comporta São Paulo no desempenho do seu ministério de pregador da Palavra de Deus e de Apóstolo de Jesus Cristo. Ele não se retira perante a tarefa que recebeu, mas cumprea com total dedicação, convidando a abrir-se à Graça, a deixar que Deus nos converta: “Sendo Seus colaboradores — escreve — exortamos-vos a que não recebais em vão a graça de Deus” (2Cor 6, 1). “O apelo de
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Cristo à conversão — diz-nos o Catecismo da Igreja Católica — continua a ressoar na vida dos cristãos. [...] é um compromisso contínuo para toda a Igreja que ‘tem no seu seio os pecadores’ e que, ‘ao mesmo tempo santa mas sempre necessitada de purificação, se dedica sem cessar à penitência e à sua renovação’. Este esforço de conversão não é apenas uma obra humana. É o dinamismo do ‘coração constrangido’ (Sl 51, 19), atraído e movido pela graça a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro” (n. 1428). São Paulo fala aos cristãos de Corinto, mas através deles pretende dirigir-se a todos os homens. De fato, todos precisam da graça de Deus, que ilumine a mente e o coração. E o Apóstolo insiste: “Este é o tempo favorável; este é o dia da salvação” (2Cor 6, 2). Todos se podem abrir à ação de Deus, ao seu amor; com o nosso testemunho evangélico, nós cristãos devemos ser uma mensagem viva, aliás, em muitos casos somos o único Evangelho que os homens de hoje ainda leem. Eis a nossa responsabilidade nas pegadas de São Paulo, eis um motivo a mais para viver bem a Quaresma: oferecer o testemunho da fé viva a um mundo em dificuldade que
precisa de voltar para Deus, que tem necessidade de conversão. “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles” (Mt 6, 1). Jesus, no Evangelho de hoje, relê as três obras fundamentais de piedade previstas pela lei mosaica. A esmola, a oração e o jejum caracterizam o judeu que respeita a lei. No decorrer do tempo, estas prescrições tinham sido corroídas pela ferrugem do fundamentalismo exterior, ou até se tinham transformado num sinal de superioridade. Jesus põe em evidência nestas três obras de piedade uma tentação comum. Quando realizamos algo de bom, quase instintivamente surge o desejo de sermos estimados e admirados pelas ações boas, isto é, de ter uma satisfação. E isto, por um lado, leva a um fechamento em nós mesmos, por outro, conduz para fora de nós próprios, porque vivemos projetados para aquilo que os outros pensam de nós e admiram em nós. Ao repropor estas prescrições, o Senhor Jesus não exige um respeito formal por uma lei alheia ao homem, imposta por um legislador severo como um fardo pesado, mas convida a redescobrir estas três obras de piedade vivendoas de modo mais profundo, não por Revista da Arquidiocese
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amor próprio, mas por amor a Deus, como meios no caminho de conversão a Ele. Esmola, oração e jejum: é o percurso da pedagogia divina que nos acompanha, não só na Quaresma, rumo ao encontro com o Senhor Ressuscitado: um percurso que se deve percorrer sem ostentação, na certeza de que o Pai celeste sabe ler e ver também no segredo do nosso coração. Queridos irmãos e irmãs, iniciemos confi antes e rejubilantes o itinerário quaresmal. Quarenta dias nos separam da Páscoa. Este tempo “forte” do ano litúrgico é um tempo propício que nos é doado para corresponder, com maior empenho, à nossa conversão, para intensifi car a
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escuta da Palavra de Deus, a oração e a penitência, abrindo o coração à aceitação dócil da vontade divina, para uma prática mais generosa da mortifi cação, graças à qual ir mais amplamente em ajuda do próximo necessitado: um itinerário espiritual que nos prepara para reviver o Mistério pascal. Maria, nossa guia no caminho quaresmal, nos conduza a um conhecimento cada vez mais profundo de Cristo, morto e ressuscitado, nos ajude no combate espiritual contra o pecado, nos ampare ao invocar com vigor: “Converte nos, Deus salutaris noster” — Convertei-nos a Vós, ó Deus, nossa salvação”. Amém!
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Páscoa implica compromisso na melhoria das condições sociais HOMILIA DO PAPA BENTO XVI NA VIGÍLIA PASCAL Vaticano, Sábado Santo, 23 de abril de 2011
Na homilia proferida na Praça de São Pedro, o papa disse que a Páscoa implica atenção dos cristãos aos mais necessitados e empenho na melhoria das condições sociais. “Cada cristão, assim como cada comunidade, se vive a experiência desta passagem da ressurreição, não pode não ser fermento novo no mundo, dando-se sem reserva pelas causas mais urgentes e mais justas”, afirmou Bento XVI. Leia a homilia do papa:
estrela da manhã eternamente sem ocaso, fala-nos do Ressuscitado em quem a luz venceu as trevas. O segundo sinal é a água. Esta recorda, por um lado, as águas do Mar Vermelho, o afundamento e a morte, o mistério da Cruz; mas, por outro, aparece-nos como água nascente, como elemento que dá vida na aridez. Torna-se assim imagem do sacramento do Batismo, que nos faz participantes da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Dois grandes sinais caracteriMas não são apenas estes granzam a celebração litúrgica da Vigília des sinais da criação, a luz e a água, Pascal. Temos antes de mais nada o que fazem parte da liturgia da Vifogo que se torna luz. A luz do cí- gília Pascal; outra característica rio pascal que, na procissão através verdadeiramente essencial da Vida igreja encoberta na escuridão da gília é o fato de nos proporcionar noite, se torna uma onda de luzes, um vasto encontro com a palavra fala-nos de Cristo como verdadeira da Sagrada Escritura. Antes da Revista da Arquidiocese
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reforma litúrgica, havia doze leituras do Antigo Testamento e duas do Novo. As do Novo Testamento permaneceram; entretanto o número das leituras do Antigo Testamento acabou fixado em sete, que, atendendo às situações locais, se podem reduzir a três leituras. A Igreja quer, através de uma ampla visão panorâmica, conduzir-nos ao longo do caminho da história da salvação, desde a criação passando pela eleição e a libertação de Israel até aos testemunhos proféticos, pelos quais toda esta história se orienta cada vez mais claramente para Jesus Cristo. Na tradição litúrgica, todas estas leituras se chamavam profecias: mesmo quando não são diretamente vaticínios de acontecimentos futuros, elas têm um caráter profético, mostram-nos o fundamento íntimo e a direção da história; fazem com que a criação e a história se tornem transparentes no essencial. Deste modo tomam-nos pela mão e conduzemnos para Cristo, mostram-nos a verdadeira luz. Na Vigília Pascal, o percurso ao longo dos caminhos da Sagrada Escritura começa pelo relato da criação. Desta forma, a liturgia quer-nos dizer que também o relato da criação é uma profecia. Não Revista da Arquidiocese
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se trata de uma informação sobre a realização exterior da transformação do universo e do homem. Bem cientes disto estavam os Padres da Igreja, que entenderam este relato não como narração real das origens das coisas, mas como apelo ao essencial, ao verdadeiro princípio e ao fim do nosso ser. Ora, podemo-nos interrogar: mas, na Vigília Pascal, é verdadeiramente importante falar também da criação? Não se poderia começar pelos acontecimentos em que Deus chama o homem, forma para Si um povo e cria a sua história com os homens na terra? A resposta deve ser: não! Omitir a criação significaria equivocar-se sobre a história de Deus com os homens, diminuíla, deixar de ver a sua verdadeira ordem de grandeza. O arco da história que Deus fundou chega até às origens, até à criação. A nossa profissão de fé inicia com as palavras: “Creio em Deus, Pai todo-poderoso, Criador do Céu e da Terra”. Se omitimos este início do Credo, a história global da salvação torna-se demasiado restrita, demasiado pequena. A Igreja não é uma associação qualquer que se ocupa das necessidades religiosas dos homens e cujo objetivo se limitaria precisamente ao de uma tal associação. Não, a Igreja leva
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o homem ao contacto com Deus e, consequentemente, com o princípio de tudo. Por isso, Deus tem a ver conosco como Criador, e por isso possuímos uma responsabilidade pela criação. A nossa responsabilidade inclui a criação, porque esta provém do Criador. Deus pode dar-nos vida e guiar a nossa vida, só porque Ele criou o todo. A vida na fé da Igreja não abrange somente o âmbito de sensações e sentimentos e porventura de obrigações morais; mas abrange o homem na sua integralidade, desde as suas origens e na perspectiva da eternidade. Só porque a criação pertence a Deus, podemos depositar n’Ele completamente a nossa confiança. E só porque Ele é Criador, é que nos pode dar a vida por toda a eternidade. A alegria e gratidão pela criação e a responsabilidade por ela andam juntas uma com a outra. Podemos determinar ainda mais concretamente a mensagem central do relato da criação. Nas primeiras palavras do seu Evangelho, São João resumiu o significado essencial do referido relato com uma única frase: “No princípio, era o Verbo”. Com efeito, o relato da criação, que ouvimos anteriormente, caracterizase pela frase que aparece com regularidade: “Disse Deus…”. O mun-
do é uma produção da Palavra, do Logos, como se exprime João com um termo central da língua grega. “Logos” significa “razão”, “sentido”, “palavra”. Não é apenas razão, mas Razão criadora que fala e comunica a Si mesma. Trata-se de Razão que é sentido, e que cria, Ela mesma, sentido. Por isso, o relato da criação diz-nos que o mundo é uma produção da Razão criadora. E deste modo diz-nos que, na origem de todas as coisas, não está o que é sem razão, sem liberdade; pelo contrário, o princípio de todas as coisas é a Razão criadora, é o amor, é a liberdade. Encontramo-nos aqui perante a alternativa última que está em jogo na disputa entre fé e incredulidade: o princípio de tudo é a irracionalidade, a ausência de liberdade e o acaso, ou então o princípio do ser é razão, liberdade, amor? O primado pertence à irracionalidade ou à razão? Tal é a questão de que, em última análise, se trata. Como crentes, respondemos com o relato da criação e com São João: na origem, está a razão. Na origem, está a liberdade. Por isso, é bom ser uma pessoa humana. Assim o que sucedera no universo em expansão não foi que por fim, num angulozinho qualquer do cosmos, ter-se-ia formado por Revista da Arquidiocese
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acaso também uma espécie como qualquer outra de ser vivente, capaz de raciocinar e de tentar encontrar na criação uma razão ou de lha conferir. Se o homem fosse apenas um tal produto casual da evolução num lugar marginal qualquer do universo, então a sua vida seria sem sentido ou mesmo um azar da natureza. Mas não! No início, está a Razão, a Razão criadora, divina. E, dado que é Razão, ela criou também a liberdade; e, uma vez que se pode fazer uso indevido da liberdade, existe também o que é contrário à criação. Por isso se estende, por assim dizer, uma densa linha escura através da estrutura do universo e através da natureza do homem. Mas, apesar desta contradição, a criação como tal permanece boa, a vida permanece boa, porque na sua origem está a Razão boa, o amor criador de Deus. Por isso, o mundo pode ser salvo. Por isso podemos e devemos colocar-nos da parte da razão, da liberdade e do amor, da parte de Deus que nos ama de tal maneira que Ele sofreu por nós, para que, da sua morte, pudesse surgir uma vida nova, definitiva, restaurada. O relato veterotestamentário da criação, que escutamos, indica claramente esta ordem das coisas. Revista da Arquidiocese
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Mas faz-nos dar um passo mais em frente. O processo da criação aparece estruturado no quadro de uma semana que se orienta para o Sábado, encontrando neste a sua perfeição. Para Israel, o Sábado era o dia em que todos podiam participar no repouso de Deus, em que homem e animal, senhor e escravo, grandes e pequenos estavam unidos na liberdade de Deus. Assim o Sábado era expressão da aliança entre Deus, o homem e a criação. Deste modo, a comunhão entre Deus e o homem não aparece como um acréscimo, algo instaurado posteriormente num mundo cuja criação estava já concluída. A aliança, a comunhão entre Deus e o homem, está prevista no mais íntimo da criação. Sim, a aliança é a razão intrínseca da criação, tal como esta é o pressuposto exterior da aliança. Deus fez o mundo, para haver um lugar no qual Ele pudesse comunicar o seu amor e a partir do qual a resposta de amor retornasse a Ele. Diante de Deus, o coração do homem que Lhe responde é maior e mais importante do que todo o imenso universo material que, certamente, já nos deixa vislumbrar algo da grandeza de Deus. Entretanto, na Páscoa e a partir da experiência pascal dos cristãos,
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devemos ainda dar mais um passo. O Sábado é o sétimo dia da semana. Depois de seis dias em que o homem, de certa forma, participa no trabalho criador de Deus, o Sábado é o dia do repouso. Mas, na Igreja nascente, sucedeu algo de inaudito: no lugar do Sábado, do sétimo dia, entra o primeiro dia. Este, enquanto dia da assembleia litúrgica, é o dia do encontro com Deus por meio de Jesus Cristo, que no primeiro dia, o Domingo, encontrou como Ressuscitado os seus, depois que estes encontraram vazio o sepulcro. Agora inverte-se a estrutura da semana: já não está orientada para o sétimo dia, em que se participa no repouso de Deus; a semana inicia com o primeiro dia como dia do encontro com o Ressuscitado. Este encontro não cessa jamais de verificar-se na celebração da Eucaristia, durante a qual o Senhor entra de novo no meio dos seus e dá-Se a eles, deixa-Se por assim dizer tocar por eles, põe-Se à mesa com eles. Esta mudança é um fato extraordinário, quando se considera que o Sábado – o sétimo dia – está profundamente radicado no Antigo Testamento como o dia do encontro com Deus. Quando se pensa como a passagem do trabalho ao dia do
repouso corresponde também a uma lógica natural, torna-se ainda mais evidente o alcance impressionante de tal alteração. Este processo inovador, que se deu logo ao início do desenvolvimento da Igreja, só se pode explicar com o fato de ter sucedido algo de inaudito em tal dia. O primeiro dia da semana era o terceiro depois da morte de Jesus; era o dia em que Ele Se manifestou aos seus como o Ressuscitado. De fato, este encontro continha nele algo de impressionante. O mundo tinha mudado. Aquele que estivera morto goza agora de uma vida que já não está ameaçada por morte alguma. Fora inaugurada uma nova forma de vida, uma nova dimensão da criação. O primeiro dia, segundo o relato do Gênesis, é aquele em que teve início a criação. Agora tornara-se, de uma forma nova, o dia da criação, tornara-se o dia da nova criação. Nós celebramos o primeiro dia. Deste modo celebramos Deus, o Criador, e a sua criação. Sim, creio em Deus, Criador do Céu e da Terra. E celebramos o Deus que Se fez homem, padeceu, morreu, foi sepultado e ressuscitou. Celebramos a vitória definitiva do Criador e da sua criação. Celebramos este dia como origem e simultaneamente Revista da Arquidiocese
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como meta da nossa vida. Celebramo-lo porque agora, graças ao Ressuscitado, vale de modo defi nitivo que a razão é mais forte do que a irracionalidade, a verdade mais forte do que a mentira, o amor mais forte do que a morte. Celebramos o primeiro dia, porque sabemos que
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a linha escura que atravessa a criação não permanece para sempre. Celebramo-lo, porque sabemos que agora vale defi nitivamente o que se diz no fi m do relato da criação: “Deus viu que tudo o que tinha feito; era tudo muito bom” (Gn 1, 31). Amém.
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Notas
Nota de pesar pelo falecimento de Dom Manoel Pestana A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) publicou nota de pesar, pelo falecimento do bispo emérito de Anápolis (GO), Dom Manoel Pestana Filho, ocorrido dia 8. Veja a nota na íntegra:
8, em Santos (SP), sua cidade natal. Manifestamos, pois, nosso pesar e nossa solidariedade aos familiares de Dom Manoel, bem como à Diocese de Anápolis e a seu bispo diocesano, dom João Wilk. Durante 25 anos, de 1979 a 2004, “Se o grão de trigo que cai na ter- Dom Manoel exerceu um fecundo ra não morre, fi ca só. Mas, se mor- ministério pastoral à frente da Diore, produz muito fruto” (Jo 12,24). cese de Anápolis, marcado por um Causou-nos profunda tristeza a inquebrantável compromisso de fi notícia da morte do bispo eméri- delidade a Jesus Cristo e à sua Igreto de Anápolis-GO, Dom Manoel ja, na permanente defesa e promoPestana Filho, ocorrida ontem, dia ção da fé, da vida e da dignidade da Revista da Arquidiocese
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CNBB Notas
pessoa humana. que vive e crê em mim, não morreAlenta-nos, neste momento de rá jamais” (Jo 11,25-26). dor e lágrimas, a palavra do Evangelho, que assegura a verdadeira Brasília, 9 de janeiro de 2011 vida para o que crê em Jesus Cristo: “Eu sou a ressurreição e a vida. Dom Dimas Lara Barbosa Quem crê em mim, ainda que teBispo Auxiliar do Rio de Janeiro nha morrido, viverá. E todo aquele Secretário Geral da CNBB
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Notas
Solidariedade e campanha às vítimas das chuvas A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou uma nota lamentando as tragédias causadas pelas chuvas, especialmente na Região Sudeste do País. Segundo dados do dia 11 de janeiro, só na região serrana do Rio de Janeiro morreram ao menos 700 pessoas devido às chuvas. As mortes ocorreram em Teresópolis, Nova Friburgo, Petrópolis, Sumidouro e São José do Vale do Rio Preto. Em todo o Sudeste, de acordo com a Defesa Civil, mais de 1 milhão de pessoas foram afetadas pelos temporais.
Juntamente com a Cáritas Brasileira, a CNBB lança a campanha SOS Sudeste, com o objetivo de arrecadar dinheiro que será doado às regiões atingidas pelas chuvas. O presidente da Cáritas, Dom Demétrio Valentini, sugeriu que, no dia 30 de janeiro, todas as dioceses realizassem uma coleta em favor das vítimas das chuvas. Leia, abaixo, a íntegra da nota da CNBB: “Somos afl igidos de todos os lados, mas não vencidos pela angústia; postos em apuros, mas não Revista da Arquidiocese
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desesperançados; derrubados, mas não aniquilados” (2Cor 4,8-9). O Brasil acompanha com dor, mais uma vez, as tragédias causadas pelas chuvas em vários estados do país, neste início de ano, de maneira especial, na região serrana do estado do Rio de Janeiro, Sul de Minas, Espírito Santo e São Paulo. Causa-nos tristeza profunda o crescente número de mortos, bem como dos desabrigados que perderam seus entes queridos e assistiram à destruição inclemente de suas casas e de seus bens. Às vítimas desta dramática situação a CNBB vem manifestar sua solidariedade, ao mesmo tempo em que conclama a sociedade brasileira a intensifi car suas doações, a fi m de aliviar a dor e reavivar a esperança na certeza da superação de tamanha tragédia. Este gesto será facilitado com a campanha SOS Sudeste, que a CNBB, juntamente com a Cáritas Brasileira, acaba de lançar apresentando a Conta 1490-8, Agência 1041 - OP. 003 – Caixa Econômica Federal e também a Conta 32.000-5, Agência 3475-4, Banco do Brasil, para doações. Muitas destas tragédias poderiam ser evitadas ou, pelo menos, minimizadas se ações preventivas fossem tomadas, considerando o histórico de
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regiões que, ano após ano, vivem o mesmo drama. A CNBB confi a, portanto, que as autoridades competentes se comprometam efi cazmente na busca de solução para que catástrofes como estas a que assistimos não se repitam, vitimando milhares de pessoas. Elevamos a Deus nossas preces pelos que morreram e por todos que sofrem com esta tragédia. Que Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, venha em socorro de seus fi lhos e fi lhas. Brasília, 13 de janeiro de 2011 Dom Geraldo Lyrio Rocha Arcebispo de Mariana Presidente da CNBB Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus Vice-presidente da CNBB Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário Geral da CNBB Arcebispo de Manaus Vice-presidente da CNBB Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário Geral da CNBB
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Notas
CNBB divulga nota sobre ética e programas de TV O Conselho Episcopal Pastoral da CNBB (Consep) divulgou uma nota dia 16 de fevereiro, manifestando-se sobre o “baixo nível moral que se verifica em alguns programas das emissoras de televisão”. Os bispos citam especialmente os reality shows “que têm o lucro como seu principal objetivo”. Após destacar a importância da TV para a sociedade brasileira, reconhecida pelo prêmio Clara de Assis de Televisão dado pela CNBB anualmente, os bispos lamentam que “serviços prestados com apurada qualidade técnica e inegável va-
lor cultural e moral” sejam “ofuscados” por programas como os reality show. O texto se dirige tanto às TVs quanto ao Ministério Público, aos pais, mães, educadores, anunciantes e publicitários, conclamando cada um desses atores a refletir sobre sua responsabilidade em relação à qualidade dos programas na televisão. Veja a nota na íntegra: Têm chegado à CNBB diversos pedidos de uma manifestação a respeito do baixo nível moral que Revista da Arquidiocese
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se verifica em alguns programas das emissoras de televisão, particularmente naqueles denominados reality shows, que têm o lucro como seu principal objetivo. Nós, bispos do Conselho Episcopal Pastoral (Consep), reunidos em Brasília, de 15 a 17 de fevereiro de 2011, compreendendo a gravidade do problema e em atenção a esses pedidos, acolhendo o clamor de pessoas, famílias e organizações, vimos nos manifestar a respeito. Destacamos primeiramente o papel desempenhado pela TV em nosso País e os importantes serviços por ela prestados à Sociedade. Nesse sentido, muitos programas têm sido objeto de reconhecimento explícito por parte da Igreja com a concessão do Prêmio Clara de Assis para a Televisão, atribuído anualmente. Lamentamos, entretanto, que esses serviços, prestados com apurada qualidade técnica e inegável valor cultural e moral, sejam ofuscados por alguns programas, entre os quais os chamados reality shows, que atentam contra a dignidade de pessoa humana, tanto de seus participantes, fascinados por um prêmio em dinheiro ou por fugaz celebridade, quanto do público receptor que é a família brasileira. Revista da Arquidiocese
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Cônscios de nossa missão e responsabilidade evangelizadoras, exortamos a todos no sentido de se buscar um esforço comum pela superação desse mal na sociedade, sempre no respeito à legítima liberdade de expressão, que não assegura a ninguém o direito de agressão impune aos valores morais que sustentam a Sociedade. Dirigimo-nos, antes de tudo, às emissoras de televisão, sugerindolhes uma reflexão mais profunda sobre seu papel e seus limites, na vida social, tendo por parâmetro o sentido da concessão que lhes é dada pelo Estado. Ao Ministério Público pedimos uma atenção mais acurada no acompanhamento e adequadas providências em relação à programação televisiva, identificando os evidentes malefícios que ela traz em desrespeito aos princípios basilares da Constituição Federal (Art. 1º, II e III). Aos pais, mães e educadores, atentos a sua responsabilidade na formação moral dos filhos e alunos, sugerimos que busquem através do diálogo formar neles o senso crítico indispensável e capaz de protegêlos contra essa exploração abusiva e imoral.
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Por fi m, dirigimo-nos também aos anunciantes e agentes publicitários, alertando-os sobre o signifi cado da associação de suas marcas a esse processo de degradação dos valores da sociedade. Rogamos a Deus, pela intercessão de Nossa Senhora Aparecida, luz e proteção a todos os profi ssionais e empresários da comunicação, para que, usando esses maravilhosos meios, possamos juntos construir uma sociedade mais justa e humana.
Brasília, 17 de fevereiro de 2011 Dom Geraldo Lyrio Rocha Arcebispo de Mariana Presidente da CNBB Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus Vice-Presidente da CNBB Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário Geral da CNBB
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Nota de pesar pelo falecimento de Dom Agostinho Januszewicz A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamentou a morte do bispo emérito de Luziânia (GO), Dom Agostinho Stefan Januszewicz. Em nota publicada no dia 21, assinada pelo secretário geral Dom Dimas Lara Barbosa, a CNBB elevou uma prece por este “servo bom e fiel, chamado agora a participar da glória da Ressurreição”. Dom Agostinho faleceu na manhã do dia 20, em Juruá (AM), aos 80 anos, devido a um câncer. Franciscano conventual, ele foi o primeiro bispo de Luziânia e fundador da Província São Maximiliano Kolbe dos Frades Menores Conventuais, em Brasília. Leia a nota na íntegra:
ço, em Juruá, Estado do Amazonas, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB eleva a Deus uma prece em favor deste servo “bom e fi el”, chamado agora a participar da glória da Ressurreição. Desde que chegou ao Brasil, em 1974, vindo da Polônia, Dom Agostinho deu exemplar testemunho de discípulo-missionário, consumindo-se inteiramente no serviço ao Reino de Deus. Nomeado o primeiro bispo de Luziânia, em 1989, conduziu com zelo de pastor e amor de pai, durante 15 anos, esta porção do Povo de Deus, que soube lhe retribuir o carinho e o cuidado recebidos. Ao manifestar seu pesar pela Neste momento de tristeza e de morte de Dom Agostinho Stefan Ja- dor, mas também de esperança, fanuszewicz, OFMConv, bispo emé- zemos chegar nossa solidariedade rito de Luziânia-GO, ocorrida na à Província São Maximiliano Mamanhã deste domingo, 20 de mar- ria Kolbe, da Ordem dos Frades Revista da Arquidiocese
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Menores Conventuais, à diocese de Luziânia e aos familiares e amigos de Dom Agostinho, que pranteiam sua morte. Anime-nos a todos a palavra do Evangelho: “Se o grão de trigo que cai na terra e não morre, fi ca só. Mas, se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24).
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Brasília, 21 de março de 2011 SG. nº 0221/11 Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário Geral da CNBB
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Notas
Em defesa da Lei Maria da Penha “Deus os criou homem e mulher” (Gn 1,27).
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu uma nota oficial de apoio à mobilização nacional em defesa da Lei Maria da Penha. O texto foi divulgado no início da noite do dia, 22, pelos Bispos do Conselho Episcopal de Pastoral (CPP), reunidos em Brasília entre segunda e terça-feira desta semana. Os bispos expressam sua preocupação no tocante às “interpretações restritivas e tentativas de revisão dos artigos 16 e 41 da lei que diminuem
sua eficácia e representam um significativo retrocesso na sua implementação e aplicabilidade. Tais restrições acarretam menor punição aos agressores, aumento do arquivamento dos processos, o desestímulo das mulheres em denunciar e exigir prosseguimento das investigações". O texto conclui indicando que a Igreja sempre está comprometida na defesa dos Direitos Humanos. Leia a nota na íntegra. Revista da Arquidiocese
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Nós, Bispos do Conselho Episcopal de Pastoral, reunidos em Brasília, nos dias 21 e 22 de março de 2011, manifestamos apoio à mobilização nacional em defesa da Lei Maria da Penha, sancionada pelo Presidente da República no dia 07 de agosto de 2006. Após cinco anos de vigência, a lei recebeu grande apoio da sociedade e merece ampliar seu alcance, assegurando todos os mecanismos e instrumentos nela previstos de modo que todas as mulheres vítimas de violência tenham seus direitos e sua cidadania garantidos. A Lei representa uma grande conquista para as mulheres brasileiras, pois incorporou o avanço legislativo internacional e se transformou no principal instrumento legal no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher no Brasil, inclusive com reconhecimento da Organização das Nações Unidas (ONU), como uma das melhores legislações do mundo. As estatísticas, no entanto, revelam que o país ocupa a 12ª posição no ranking mundial de homicídios femininos (Mapa da violência - 2010, Datasus). No período de 1997 a 2007, 10 mulheres foram assassinadas por dia no Brasil. Isso merece Revista da Arquidiocese
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nosso repúdio e indignação. São, portanto, motivo de preocupação as interpretações restritivas e as tentativas de revisão dos artigos 16 e 41 da lei que diminuem sua eficácia e representam um significativo retrocesso na sua implementação e aplicabilidade. Tais restrições acarretam menor punição aos agressores, aumento do arquivamento dos processos, o desestímulo das mulheres em denunciar e exigir prosseguimento das investigações. A Lei Maria da Penha é instrumento que levou a sociedade a realizar ações positivas no enfrentamento dos atos de violência contra a mulher. Cabe aos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo cuidar pela sua manutenção tal como aprovada, não permitindo nenhum tipo de retrocesso ou omissão. A Igreja, comprometida na defesa dos Direitos Humanos, manifesta-se, mais uma vez, a favor do respeito à dignidade da mulher, incentiva os esforços de instituições e da sociedade na luta pela superação de todo e qualquer tipo de violência, possibilitando a construção de uma cultura de paz no ambiente familiar e social.
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Brasília, 22 de março de 2011. Dom Geraldo Lyrio Rocha Arcebispo de Mariana Presidente da CNBB Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus Vice-presidente da CNBB Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário Geral da CNBB
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Nota pelo falecimento de José Alencar Brasília, 29 de março de 2011
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota pela morte do ex-vice-presidente da República, José Alencar. "Após um longo tempo de luta contra o câncer, José Alencar parte desta vida deixando para todos os brasileiros o testemunho de amor à pátria e à vida", declara a Conferência. Leia a nota abaixo:
ex-vice-presidente da República, José Alencar Gomes da Silva, ocorrida na tarde desta terça-feira, 29 de março. Após um longo tempo de luta contra o câncer, José Alencar parte desta vida deixando para todos os brasileiros o testemunho de amor à pátria e à vida. Em sua vida pública e militância política, José Alencar será lembrado, A Conferência Nacional dos Bis- especialmente, por sua coerência, copos do Brasil-CNBB expressa seu ragem e discrição. Mas, sem dúvida, profundo pesar pela morte do ele será lembrado muito mais pela Revista da Arquidiocese
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bravura com que enfrentou a doen- de nossa fé na ressurreição de Crisça que insistia em levá-lo antes do to, pedimos a Deus que o acolha no tempo. Na memória de todos fi carão seu reino. suas palavras quando disse não ter Brasília, 29 de março de 2011 medo da morte e que Deus é que o levaria e não o câncer. Nisso acreditou Dom Dimas Lara Barbosa e assim viveu até o último momento. Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Firmados na esperança, que vem Secretário Geral da CNBB
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Liberdade religiosa e paz CARDEAL DOM ODILO P. SCHERER, Arcebispo de São Paulo Na sua recente mensagem para o Dia Mundial da Paz, comemorado cada ano pela Igreja Católica no dia 1° de janeiro, o papa Bento XVI abordou um tema de grande atualidade: “liberdade religiosa como caminho para a paz”. A perseguição religiosa e o cerceamento à livre manifestação da fé são fatos constantes na história da humanidade; e não faltam na atualidade ataques e incêndios a templos, vexações a grupos religiosos e até
massacres por causa da identidade religiosa, como aconteceu no Natal, na África, na Ásia e, um pouco antes, na catedral siro-católica de Bagdá. No próprio dia 1º de janeiro aconteceu outro atentado a cristãos coptas numa igreja de Alexandria, com mortos e feridos. Não faltam países onde pes soas que professam determinada religião são discriminadas, têm seus direitos civis negados ou sofrem o desprezo público; ainda há Revista da Arquidiocese
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prisões e assassinatos em repressão à fé professada. Mas há também formas sutis de preconceito religioso, como a atribuição fácil de todos os males à religião; sem esquecer da pretensão, bastante em voga, de excluir dos espaços públicos os símbolos religiosos, fruto de preconceito ou intolerância; tais atitudes, por vezes, aparecem envoltas em argumentações nada convincentes sobre a laicidade do Estado. O desrespeito à liberdade religiosa coloca em risco a paz no convívio social e mesmo entre os povos. O Pontífice recorda que a liberdade religiosa é a fina expressão da dignidade e da liberdade do ser humano; na busca religiosa, e até na angustiosa negação da transcendência, o homem mostra que não se reduz à sua dimensão corpórea e material, mas neces sita transceder e é capaz de indagar sobre o sentido da vida, a verdade e os valores que devem orientar a existência; ele revela, assim, sua altíssima dignidade e a abertura ao sobrenatural e para o diálogo com Deus. Negar ou, de alguma forma, cercear a liberdade religiosa seria cultivar uma visão redutiva e Revista da Arquidiocese
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depauperada da pessoa humana; desprezar a função pública da religião seria privar o convívio social e a cultura de princípios orientadores basilares. “O respeito a elementos essenciais da dignidade do homem, como o direito à vida e à liberdade religiosa, é condição de legitimidade moral para toda norma social e jurídica”, afirma Bento XVI (n. 2). De fato, esse requisito básico da dignidade e dos direitos humanos, reconhecido também pela Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948), é garantia de pleno respeito entre as pessoas. Há uma relação estreita entre liberdade e respeito; cada pessoa ou grupo, no exercício dos próprios direitos, não pode deixar de levar em conta iguais direitos nos outros e seus próprios deveres em relação aos demais. Bento XVI acena para uma questão que lhe é cara e que aparece com frequência em suas reflexões: “Uma liberdade hostil ou indiferente a Deus acaba por negar a si mesma e não garante o pleno respeito ao outro” (n. 3). Ilusão seria buscar no indiferentismo religioso e no relativismo moral a chave para uma convivência pacífica; essas, ao contrário, seriam base
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para a negação da dignidade do ser humano e para a divisão entre as pessoas. São inerentes à pessoa a dimensão social e a religiosa. Por isso, como afirmou o mesmo Papa perante a Assembleia das Nações Unidas (18.04.2008), “é inconcebível que os crentes tenham que suprimir uma parte de si mesmos – a sua fé -, para serem aceitos como cidadãos: nunca deveria ser necessário renegar a Deus para ter os próprios direitos reconhecidos”. Porém, entendamos bem: o Papa não reivindica privilégios para esta ou aquela religião, nem que os Estados tenham uma religião oficial. Pelo contrário, os Estados não devem impor a religião, nem discriminar cidadãos por causa dela, mas assegurar-lhes plena liberdade religiosa; também àqueles que não têm fé. A Igreja Católica, embora estimule a todos na procura corajosa da verdade e na abertura para Deus, ensina que a consciência da pessoa deve ser sempre respeitada; a fé e a religião não devem ser impostas a ninguém. Menos ainda, pelo Estado. Fanatismo e fundamentalismo não combinam com o pleno respeito à liberdade religiosa; ambos instrumentalizam a religião em
função de interesses ocultos, como poderiam ser a subversão da ordem constituída, a manutenção do poder sobre outros ou a exploração econômica da fé e da credulidade das pessoas. A religião, transformada em ideologia política ou estratégia econômica, torna-se um problema e pode causar enormes danos à sociedade. São práticas contrárias à dignidade humana, jamais são justificáveis em nome de Deus ou da religião. A garantia da liberdade religiosa é condição para a busca da verdade, que não se impõe pela violência, mas pela força da própria verdade (n. 7). Aprende-se o respeito à liberdade religiosa através da educação já na infância, assim como o preconceito e a discriminação religiosa; os pais podem formar os filhos para a valorizarem as próprias convicções religiosas, mas também para o respeito às convicções alheias. Também educadores e formadores de opinião têm muito a contribuir para uma cultura respeitosa e tolerante em relação às convicções religiosas e à contribuição positiva das religiões para a civilização, a cultura. A liberdade religiosa pode ajudar muito para a paz, pois valoriza e faz frutificar as qualidades Revista da Arquidiocese
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mais profundas da pessoa, capazes de tornar o mundo melhor e de ali-
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mentar a esperanรงa num futuro de justiรงa e de paz.
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Decisão judicial, segurança jurídica e a lei da fi cha limpa DOM DIMAS LARA BARBOSA Bispo auxiliar do Rio de Janeiro Secretário geral da CNBB Depois da coleta de mais de um milhão de assinaturas de cidadãos, depois da aprovação amplamente majoritária na Câmara Federal, depois da aprovação unânime no Senado da República, depois da sanção sem retardamento nem vetos pelo Poder Executivo, depois da aplicação generalizada pelos Tribunais Regionais Eleitorais, depois de confi rmada pelo Tribunal Superior Eleitoral, depois de aplicada por decisão do Supremo Tribunal Fe-
deral e, o que é mais signifi cativo, depois da aprovação generalizada em todos os níveis e segmentos da opinião pública nacional, a lei da fi cha limpa vai ser submetida a mais um desafi o. A apreciação de mais um recurso na Corte Constitucional, agora funcionando com sua composição integral de onze ministros – anteriormente eram dez- abre a possibilidade para que possa ocorrer, seja a confi rmação da decisão Revista da Arquidiocese
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anterior, aplicando-se a lei da fi cha limpa às eleições do ano passado, seja sua modifi cação, deixando-se para aplicá-la apenas nas eleições de 2012. Neste caso, resultará que aqueles que foram considerados inelegíveis nas eleições do ano passado, se transformarão em candidatos elegíveis e poderão ser considerados eleitos. Esta última alternativa induvidosamente representará uma contramarcha na luta pela lisura eleitoral. A consciência ética brasileira, através de seus organismos mais signifi cativos, aqui incluída a CNBB, saudou a mencionada lei como um valioso instrumento de aperfeiçoamento das instituições e da credibilidade dos representantes da soberania popular. Uma primeira apreciação na Corte Constitucional apresentou um empate. Houve enorme apreensão sobre o futuro da lei. Venceu, po-
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rém, a certeza de que ela era instrumento legítimo a ser aplicado às eleições de 2010. O que se espera, agora, quando circunstâncias aleatórias podem afetar a decisão que se formou, é que seja preservado o princípio da segurança jurídica, pedra angular de um Estado Democrático de Direito como se costuma qualifi car a nossa formação histórica, política e social. A estabilidade das relações jurídicas é elemento essencial à estabilidade democrática. As regras da convivência social devem ser aceitas e respeitadas. Com a aprovação, em todas as instâncias a que foi submetida, a lei da fi cha limpa já é hoje um patrimônio ético da soberania popular e da sociedade brasileira. Precisa ser defendida e preservada como símbolo de um corpo social onde reine a justiça e a paz.
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Campanha da Fraternidade e produção DOM ALDO PAGOTTO Arcebispo metropolitano da Paraíba 28 de março de 2011 No período da Quaresma, há 46 anos, a CNBB promove a “Campanha da Fraternidade”. No presente ano a Campanha aponta os efeitos destrutivos do aquecimento global que comprometem a qualidade de vida dos seres humanos. A vida do planeta enfrenta situações deletérias inexoráveis que interferem de forma negativa nos relacionamentos entre as pessoas, povos e nações, atingindo, portanto, tanto a esfera local quanto a universal.
A inspiração da Palavra de Deus oferece intuições fundamentais à campanha em defesa da vida das pessoas e no planeta. A tentativa da CNBB é de colaborar com todos os que se importam com a vida dos seres humanos e com a recuperação de bens naturais comprometidos ou já destruídos. A qualidade de vida que incide nos relacionamentos humanos ocupa a nossa atenção e nossas práticas, contanto que sejam razoavelmente exequíveis. Revista da Arquidiocese
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Na tentativa de reverter os males que continuam a destruir a vida dos seres humanos e a vida no planeta, perguntamos quais seriam as eventuais soluções encontráveis, de caráter científico, tecnológico e financeiro. Quais encaminhamentos práticos seriam viáveis pela defesa da vida? Qual é a colaboração efetiva que incumbe a todos e a cada um de nós, além das tarefas inadiáveis que cabem às instâncias nacionais e internacionais? Cito um exemplo comportando no direito à segurança nutricional. Há uma crescente demanda mundial pela produção e pelo acesso aos alimentos nutrientes. A equação entre a produção de alimentos e a sustentabilidade produtiva importa na qualificação de mão de obra. Tanto é preciso plantar quanto conseguir o acesso aos alimentos. Essa é a missão da agricultura familiar moderna, agregando valores através das redes produtivas e dos sistemas cooperativistas. Garantir a produção sustentável equilibrando a agricultura familiar e o agronegócio é o caminho da atualidade. Ambos geram desenvolvimento e divisas, garantindo trabalho e renda para milhares de famílias. Ambos, agricultura Revista da Arquidiocese
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familiar e agronegócio, exigem infraestrutura certa para a sua sustentabilidade. É preciso investir pesado na capacitação para uma produção de qualidade com assistência técnica e financeira. Produção sustentável gera inclusão social. Nesse sentido, as obras de transposição da águas do Rio São Francisco atenderão aos Estados da Paraíba, Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte – o Nordeste setentrional, gerando segurança hídrica, com uma racional distribuição de água para as nossas bacias hidrográficas. As obras incluem o saneamento básico, de fundamental importância para garantir a vida saudável da população. Teremos água para uso humano, animal e para a irrigação planejada em vilas rurais produtivas (no início preveem-se 15 mil hectares). Tratase de uma obra estrutural, envolvendo a população rural e urbana no uso racional de energia e de água, possibilitando a contraproposta de nichos produtivos, multiplicando mão de obra para pequenas e médias indústrias. Os parâmetros da ecologia defendem e promovem a vida, integram as pessoas e famílias, articulam o homem ao seu meio-ambiente.
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Não são obstáculos à produção e ao desenvolvimento sustentável. Antes, as razões ambientais constituem-se num poderoso auxiliar para orientar a construção da vida e da história nas suas dimensões sociais, políticas, econômicas, culturais. Chegam melhores oportunidades para qualifi car
a vida de milhares de nordestinos! Não se gera emprego e renda para milhares de empobrecidos combatendo quem produz e distribui riqueza. É preciso investir em projetos estruturais, sem exaurir a natureza, desmatar reservas fl orestais, invadir e depredar plantações e maquinarias.
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Cristo sacerdote institui o sacramento do amor DOM ORANI JOÃO TEMPESTA Arcebispo do Rio de Janeiro 21 de abril de 2011 A instituição da Eucaristia como memorial da “nova e eterna aliança” é, certamente, o aspecto mais evidente da celebração desta quinta-feira santa. Todavia, o missal romano nos convida a meditar, também, sobre dois aspectos diretamente ligados a ela: a instituição do sacerdócio ministerial e o serviço fraterno da caridade. Isso porque, na verdade, o sacerdócio e a caridade estão intimamente vinculados ao sacramento da Eucaristia, pois criam a comunhão fraterna e nos apontam para o caminho que a Igreja deve percorrer: o dom de si e o serviço. Quando João se refere às últimas horas de Jesus com os seus discípulos e, nos “discursos da úl-
tima ceia”, recolhe os temas fundamentais do seu evangelho, não menciona os gestos rituais sobre o pão e o vinho como o fazem os outros evangelistas. Convém destacar que tais gestos eram um dado antiquíssimo da tradição e já aparecem de modo bem defi nido em 1Cor 11, 23-26. João, porém, prefere nos chamar a atenção para o gesto de Jesus que lava os pés dos seus discípulos e deixa a eles um último pedido, como uma espécie de testamento: entre os irmãos é preciso fazer a mesma coisa. Notem que Jesus não ordena simplesmente que repitam um rito, mas, sobretudo, que façam como ele, isto é, que em todas as épocas, em todos os lugares e em cada comunidade deve Revista da Arquidiocese
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sempre haver gestos de serviço como expressão concreta de amor. Por meio de tais gestos se manifesta o amor de Jesus pelos seus (os amou até o fim). Desta forma, cada gesto de serviço, como expressão de amor, torna-se, assim, “sacramento, sinal”, isto é, uma manifestação visível e simbólica de uma única e mesma realidade: o amor do Pai em Cristo e o amor de Cristo por nós. Na Quinta-feira Santa a liturgia nos apresenta como centro da memória eclesial o sinal do amor gratuito, total e definitivo: Jesus é o Cordeiro Pascal; aquele que leva até o fim o seu projeto de libertação iniciado pelo primeiro êxodo (cf. Ex 12, 1-8. 11-14). O seu doar-se, entregando-se à morte, é o início de uma presença nova e permanente. O seu corpo por nós imolado é nosso alimento e nos dá força; o seu sangue por nós derramado é a bebida que nos redime de toda culpa (Prefácio da SSma. Eucaristia I). Participar conscientemente da Eucaristia, memorial do mistério pascal de Cristo, “implica ter pelo corpo eclesial de Cristo (a Igreja) o mesmo respeito que temos para com o seu corpo eucarístico”. A presença real do Senhor morto e ressuscitado no pão e no vinho sobre os quais pronunciamos a ação de Revista da Arquidiocese
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graças se estende, embora de outra maneira, à pessoa de cada um de nossos irmãos, particularmente os mais pobres (ver o contexto da segunda leitura – 1Cor 11). “Quem, portanto, faz discriminações, despreza os outros, promove ou mantém divisões na comunidade, não reconheceu o corpo do Senhor. A sua não é mais a ceia do Senhor, mas um rito vazio, uma vez que o seu significado não dá forma à sua vida concreta.” Em cada comunidade cristã as relações que nela se estabelecem devem, portanto, ser construídas a partir da ótica do serviço e não do poder. A maior expressão disso é a ação eucarística. Quem preside a comunidade e por ela é o responsável maior, embora não único, preside, também, a Eucaristia. O Concílio Vaticano II, ao se referir especialmente aos presbíteros, afirma: “Os presbíteros... são consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote (Heb 5, 1-10; 7,24; 9, 11-28), para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culto divino, como verdadeiros sacerdotes do Novo Testamento. Participantes, segundo o grau do seu ministério, da função de Cristo mediador único (1 Tim 2,5), anunciam
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a todos a palavra de Deus. Mas é no culto ou celebração eucarística que exercem principalmente o seu múnus sagrado; nela, atuando em nome de Cristo e proclamando o Seu mistério, unem as preces dos fi éis ao sacrifício da cabeça e, no sacrifício da missa, representam e aplicam, até a vinda do Senhor (cfr. 1 Cor 11,26), o único sacrifício do Novo Testamento, ou seja, Cristo oferecendo-se, uma vez por todos, ao Pai, como hóstia imaculada (cf. Heb 9, 11-28)” – cf. LG 28. A Igreja não faz outra coisa a não ser tornar presente e atual este mistério de salvação mediante a Palavra, o Sacrifício, os Sacramentos,
enquanto recebe em si mesma, pela ação do Espírito Santo, a vida do seu Senhor do qual deve ser testemunha. Desta sacramentalidade da Igreja deriva o signifi cado essencial da consagração-missão de todos aqueles que são chamados a pregar o Evangelho, a presidir as ações de culto e a guiar do povo de Deus. Nesta Quinta-feira Santa, peçamos, então, ao Senhor que ao participarmos de cada celebração eucarística, nunca nos esqueçamos do testemunho que somos chamados a dar, cada um segundo a sua condição, mediante uma vida de serviço aos nossos irmãos, particularmente aos mais necessitados.
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Um gigante de Deus DOM PEDRO CARLOS CIPOLINI Bispo de Amparo (SP) 27 de abril de 2011 O papa João Paulo II será beatifi cado neste mês de maio, mês dedicado a Maria, que ele tanto amou, mês também do seu nascimento. Este papa se empenhou em muitas frentes para anunciar o Evangelho numa época confl itiva. O “breve século vinte” de fato foi um século de confl itos e mudanças substanciais. Seriam várias as virtudes e dons que poderíamos ressaltar na personalidade e atuação de João Paulo II. Eu ressalto aqui o que me pareceu uma marca sólida de sua personalidade: a busca da santidade. O papa João Paulo II resgatou para a Igreja e o Mundo a busca da santidade como vocação dos fi éis cristãos. Em torno desta busca pela santidade ele pautou sua visão de Igreja: escola de comunhão dos santos; sua doutrina social: santidade como
justiça. A partir do conceito de santidade ele defendeu os direitos de Deus e os direitos dos homens. Vislumbrou a santidade como meta teológica e antropológica, como realização plena do ser humano e consequentemente da criação. Por isso não se pode estranhar que se clamasse durante seu funeral: santo súbito! Nunca talvez, tanta gente teve tanta oportunidade de entrar em contato com um papa como se teve com João Paulo II. Sua primeira viagem ao Brasil (1980) foi pontilhada de emoção. Pode-se ouvir então, o papa dizer abertamente tantas palavras que gostaríamos de dizer, mas a ditadura militar vigente não permitia. Visitou os presos da Papuda em Brasília, a Favela do Vidigal no Rio e em São Paulo Revista da Arquidiocese
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encontrou os trabalhadores. Hoje parece fácil clamar pela justiça e o direito em nome da dignidade humana maltratada por uma sociedade rica, porém injusta. Mas nos anos de chumbo da ditadura não era. João Paulo II venceu o protocolo, as conveniências e tudo o mais, para exercer sua missão de anunciar o evangelho da paz, fruto da justiça. Teve coragem! Aliás, uma de suas características sempre foi a fé com coragem, que fez dele um profeta do conturbado século XX. Viveu no século de duas guerras terríveis e da queda do totalitarismo comunista que ele ajudou a derrubar. Teve coragem também ao protestar contra a guerra movida pelo império norte-americano contra o Iraque. Em nome de Deus ele levantou sua voz também contra o neoliberalismo, o qual promove uma globalização sem solidariedade e uma multidão incontável de excluídos. Talvez pareça exagerada a comoção quando de seu desaparecimento. Como se costuma dizer: morreu o rei, viva o rei ou rei morto, rei posto. Isto não fez sentido em relação a este papa. Ninguém é insubstituível, mas ninguém é igual. E ele fazia bem ao mundo com a sua Revista da Arquidiocese
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proposta de santidade, defesa dos direitos de Deus e dos homens, do clamor pela preservação da vida, pela paz. Ele se fazia ouvir até mesmo pelos que não gostavam dele e por isso tentaram assassiná-lo. Foi uma liderança sólida em um mundo carente de líderes verdadeiros. Não podemos esquecer também, a nível interno da Igreja, que ela é apostólica. A Tradição nos ensina que a missão apostólica precede a comunidade e a constitui. A apostolicidade fundamenta a existência da comunidade, porque os primeiros missionários com mandato direto de Jesus foram os apóstolos. Entre eles Pedro é o principal. E João Paulo II foi sucessor de Pedro na Sé de Roma, a qual preside na caridade e confirma na fé. Neste espírito de fé e caridade ele foi pranteado à luz do círio pascal. E hoje, no tempo pascal, a Igreja se alegra, proclamando a sua ressurreição ao beatificá-lo: “quem com Cristo sofre com Ele será glorificado”. Quando alguém morre nossos julgamentos se tornam mais coerentes e corretos sobre o morto. Isto porque em vida vemos atos isolados. Mas na morte de alguém vemos o conjunto de sua vida. Deixamos de examinar o varejo para examinar
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o atacado. À medida que o tempo passa a grandeza vai aparecendo com mais força. Com João Paulo II foi assim. A história já lhe rende homenagens justas e merecidas. Quem poderá esquecer a grandeza deste papa que ousou pedir perdão pelos erros do passado da Igreja, no que foi um dos pontos altos das comemorações do jubileu do ano 2000? Ele provou que a humildade é a virtude dos fortes e dos que têm uma mente sadia, capaz de promover a reconciliação e a paz, através do perdão. Sem perdão, a justiça será sempre uma maneira de vingança em todas as circunstâncias. Em uma sociedade moderna ou pós-moderna, mas desencantada, porque percebe, que a morte de Deus tão propalada, acarreta, de certa forma, a morte da pessoa
humana, a fortaleza e a alegria de viver de João Paulo II deixaram saudade. Ele era um semeador de esperança. Na Igreja dos primeiros séculos se dizia que o bispo, sucessor dos apóstolos exerce seu serviço em nome de Jesus, porque recebe o ofício de embaixador que vem da parte de Deus (cf. S. João Crisóstomo in Com. Ad Col. 3,5). Nas vezes que pude encontrá-lo e falar com ele, me impressionou a profundidade de seu olhar, parecia ver com os olhos de Deus. Mais que nenhum outro bispo João Paulo II foi embaixador de Deus no fi nal do século passado e no início deste novo milênio. Por isso não o esquecemos e a Igreja confi rma o dom que Deus lhe deu: a santidade da qual o mundo sempre teve fome.
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Dom João Braz é nomeado prefeito de congregação ARCEBISPO DE BRASÍLIA VAI GERIR A CONGREGAÇÃO PARA OS INSTITUTOS DE VIDA CONSAGRADA E SOCIEDADES DE VIDA APOSTÓLICA 4 de janeiro de 2011 O arcebispo de Brasília foi nomeado pelo papa Bento XVI como novo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. O anúncio foi realizado na manhã do dia 4, pelo Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé. Dom João Braz de Aviz sucederá o cardeal francês Franc Rodé, 76, que pediu renúncia da função por limite de idade (75 anos), conforme prevê o cânon 401 § 1º do Código
de Direito Canônico. O arcebispo de Brasília nasceu em Mafra (SC), em 24 de abril de 1947. Após frequentar os estudos fi losófi cos no Seminário Maior Rainha dos Apóstolos, de Curitiba, e na Faculdade de Palmas (PR), completou os estudos teológicos em Roma, junto à Pontifícia Universidade Gregoriana, e foi laureado em Teologia Dogmática junto à Pontifícia Universidade Lateranense, em 1992. Foi ordenado padre da diocese Revista da Arquidiocese
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de Apucarana (PR) em novembro de 1972. Foi reitor do Seminário Maior de Apucarana e de Londrina e professor de Teologia Dogmática junto ao Instituto Paulo VI, em Londrina (PR). Foi também membro do Conselho presbiteral e do Colégio dos Consultores, bem como coordenador geral da pastoral diocesana de Apucarana.
Em 6 de abril de 1994, foi nomeado bispo auxiliar da arquidiocese de Vitória (ES). Foi também bispo de Ponta Grossa (PR) e arcebispo de Maringá (PR). Em 28 de janeiro de 2004, foi nomeado arcebispo de Brasília. Em maio do ano passado, organizou o 16º Congresso Eucarístico Nacional, que aconteceu paralelo ao 50º aniversário da Capital Federal.
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João Paulo II é o padroeiro da Jornada Mundial da Juventude APÓS SUA BEATIFICAÇÃO, DIA 1º DE MAIO, O PAPA POLONÊS GANHARÁ TÍTULO LIGADO AO EVENTO QUE AJUDOU A POPULARIZAR 17 de janeiro de 2011 O presidente do Pontifício Conselho para Leigos, cardeal Stanislaw Rylko anunciou nesta sexta-feira, 14 que o papa João Paulo II, após a beatifi cação no dia 1º de maio, será o novo padroeiro da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O anúncio foi feito em Madri, Espanha, onde acontecerá a Jornada Mundial da Juventude entre os dias 16 e 21 de agosto deste ano. “Estamos felizes de termos en-
tre os nossos padroeiros também João Paulo II”, disse dom Rylko. A escolha do novo padroeiro foi anunciada após a segunda reunião preparatória com a participação de delegados de 84 países e 44 movimentos e associações de todo o mundo. Jornada Mundial da Juventude A Jornada Mundial da Juventude foi criada pelo papa João Paulo II Revista da Arquidiocese
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em 1985 e aconteceu pela primeira vez em 1986, em Roma. Desde então, vem sendo feita, em média, a cada dois anos em diversos países e com temas propostos pelos papas, que marcam presença no evento. “A esperança de um mundo melhor está numa juventude sadia, com valores, responsável e, acima de tudo, voltada para Deus e para o próximo", disse o papa João Paulo II em carta ao Cardeal Eduardo Francisco
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Pironio, na ocasião do Seminário sobre as Jornadas Mundiais da Juventude organizado na Polônia. Durante a JMJ, jovens do mundo inteiro participam de shows, catequese, adoração, missas e palestras. Tudo isso em diversas línguas. Na última edição, que aconteceu em 2008, na Austrália, o evento reuniu mais de 1 milhão de jovens. Apesar de ser proposta pela Igreja Católica, é um convite à juventude mundial.
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Carta Pastoral ressalta identidade missionária do sacerdote CARTA PUBLICADA PELA CONGREGAÇÃO PARA O CLERO VISA FORTALECER O CUIDADO APOSTÓLICO POR PARTE DOS PRESBÍTEROS 25 de janeiro de 2011 “Fortalecer o zelo apostólico e missionário dos sacerdotes.” Este é o objetivo da carta pastoral publicada, na segunda-feira, 24, pela Congregação para o Clero intitulada: “A identidade missionária do presbítero na Igreja como dimensão intrínseca do exercício do tríplice múnus”. “A carta retoma e relança o tema da última Assembleia Plenária do organismo vaticano, realizada em março de 2009, e aprofunda as questões atuais importantes para a vida da Igreja”, destacou o prefeito da Congregação para o Clero, cardeal Mauro Piacenza, no jornal L’Osservatore Romano.
“A Igreja peregrina é por sua natureza missionária”, ressalta Dom Mauro, lembrando que o Concílio Vaticano II, seguindo a tradição, reitera a missionariedade da Igreja. A carta frisa ainda a necessidade universal de um renovado compromisso missionário. “A missão se realiza e é efi caz lá onde vive, reza, sofre e trabalha um autêntico discípulo de Cristo. Espero que essa carta possa enriquecer o cotidiano compromisso missionário dos sacerdotes, na consciência de que tal compromisso depende do acolhimento na oração da obra do Espírito Santo em suas vidas”, concluiu o cardeal Piacenza.
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Dom Waldemar é nomeado administrador apostólico de Brasília BISPO AUXILIAR DE GOIÂNIA VOLTA À CAPITAL FEDERAL, ONDE FEZ SEUS ESTUDOS, PARA SUBSTITUIR TEMPORARIAMENTE DOM JOÃO BRAZ DE AVIZ 17 de fevereiro de 2011 O bispo auxiliar da arquidiocese de Goiânia, Dom Waldemar Passini Dalbello, foi nomeado administrador apostólico da arquidiocese de Brasília. A informação foi dada na tarde desta quinta-feira, 17, pela assessoria de comunicação da arquidiocese de Goiânia. Segundo a arquidiocese, a nomeação foi feita pela Congregação para os Bispos. Dom Waldemar vai conduzir a arquidiocese de Brasília até ser
indicado o sucessor de Dom João Braz de Aviz, que deixou a arquidiocese ao ser nomeado prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Dom João se despediu da arquidiocese no domingo, 13. Antes de ser ordenado bispo em março do ano passado, Dom Waldemar pertencia ao clero de Brasília em cujo seminário fez seus Revista da Arquidiocese
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estudos de fi losofi a e teologia. Ele feito no Pontifício Instituto Bíblico, tem mestrado em Ciências Bíblicas em Roma.
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Núncio apostólico lança livro sobre diplomacia pontifícia DOM LORENZO BALDISSERI ESCREVEU OBRA QUE TRAZ NOÇÕES SOBRE O TRABALHO QUE EXERCE HÁ OITO ANOS NO BRASIL 17 de fevereiro de 2011 O núncio apostólico no Brasil, Dom Lorenzo Baldisseri, lançou nesta quarta-feira, 16, seu mais novo livro: Diplomacia Pontifícia – Acordo Brasil – Santa Sé – Intervenções. A cerimônia aconteceu no Espaço Cultural do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. “Um momento para trazer ao público conhecimento sobre meus oito anos no exercício da função de núncio apostólico no Brasil”. Foi com esta frase que o núncio defi niu a obra durante o lançamento. O livro traz noções conceituais sobre a diplomacia pontifícia e relatos sobre a negociação do acordo entre a República Federativa do Brasil e a Santa Sé, relativo ao estatuto jurídico da Igreja Católica no Brasil, cele-
brado no Vaticano em 2008 e promulgado no Brasil em fevereiro de 2010. O livro também está recheado de refl exões culturais do núncio sobre diversos temas de interesse jurídico. Em seu pronunciamento o núncio chamou a atenção para o fato de que a presença da Santa Sé na comunidade internacional nem sempre é conhecida pela sociedade. “No entanto, é uma das mais apreciadas do mundo, com destacada participação nos principais organismos internacionais”, ressaltou. Por fi m, afi rmou ter o desejo de que a obra seja de “benefício para a sociedade”. Ao saudar o autor, o presidente do STJ, o ministro Ari Pargendler, Revista da Arquidiocese
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recordou as ocasiões em que Dom Lorenzo esteve presente no Tribunal, como religioso e diplomata. “E hoje, está aqui no STJ como jurista”, lembrou. Para o ministro, o livro será de grande utilidade a todos os leitores. “Quero, em nome do STJ, agradecer a Dom Lorenzo por nos ter dado essa oportunidade”, afi rmou, ao referir-se à deferência prestada pelo núncio em escolher o STJ para receber o lançamento de seu livro.
apresentados trechos de participações do núncio em fóruns, seminários e debates jurídicos e acadêmicos, em intervenções nos campos cultural, jurídico e fi losófi co.
Presenças Várias autoridades participaram da cerimônia, entre eles o ministro Pargendler e de sua esposa, Lia Pargendler, os ministros do STJ Hamilton Carvalhido, Nancy Andrighi, Teori Albino Zavascki, Castro Meira. Também compareConteúdo ceram ao evento o presidente do O livro apresenta o que é a di- Tribunal Superior Eleitoral, Ricarplomacia pontifícia, que vem a ser do Lewandowski, o presidente da a atuação da Santa Sé no plano in- Conferência Nacional dos Bispos ternacional. A segunda parte abor- do Brasil (CNBB), Dom Geraldo da o Tratado Internacional entre Lyrio Rocha, o secretário-geral da Brasil e a Santa Sé, fazendo um re- CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, lato sobre que aconteceu quando as o arcebispo do Ordinariado Militar duas partes signatárias iniciaram do Brasil, Dom Osvino Both, o arceas tratativas para a sua celebração. bispo emérito de Brasília, Dom José Na terceira e última parte, por sua Freire Falcão, e o arcebispo de Belo vez, - Intervenções, o autor dedica- Horizonte, Dom Walmor Oliveira se a analisar como a Santa Sé entra de Azevedo, além de outras autorino campo acadêmico-jurídico. São dades eclesiásticas e diplomáticas.
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Número de católicos no mundo ANUÁRIO PONTIFÍCIO APONTA AVANÇO NO NÚMERO DE FIÉIS ENTRE 2008 E 2009, PRINCIPALMENTE NA ÁFRICA E NA ÁSIA 21 de fevereiro de 2011 A edição 2011 do Anuário Pontifício, foi apresentada ao papa Bento XVI, na manhã de sábado, no Vaticano, pelo secretário de Estado, cardeal Tarcísio Bertone e pelo substituto para assuntos gerais do Vaticano, Dom Fernando Filoni. A edição 2011 revela que o número de católicos no mundo aumentou 1,7% entre 2008 e 2009, com mais 15 milhões de batizados, principalmente na África e na Ásia. Os dados do Anuário Pontifício mostram que há 1,18 bilhões de católicos no mundo e quase metade, 49,4%, vive no continente americano. Na Europa, a população católica corresponde a 24%, praticamente metade do número de fi eis presentes nas Américas.
Os bispos também aumentaram. Dos 5.002 em 2008 passou para 5.056 em 2009, um aumento de 1,3 %. O número de padres também aumentou, de 405.178 em 2000 para 410.593 em 2009. O anuário mostra também que o número de diáconos permanentes teve um crescimento de 2,5 por cento, passando de ser 37.203 em 2008 para 38.155 em 2009. Quantos às religiosas, o seu número diminuiu, de 739 mil para 729 mil, em apenas num ano. Apesar disto as vocações aumentam na África e Ásia. Os seminaristas aumentaram em 0,82%, passando de ser 117.978 em 2009. Grande parte do aumento também se deve à África e Ásia, com um ritmo de crescimento de em média de 2,2% a 2,39%, Revista da Arquidiocese
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respectivamente. No mesmo período a Europa e América di-
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minuíram suas porcentagens em 1,64 e 0,17%, respectivamente.
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Coordenador de Direitos Humanos é morto no Tocantins SECRETÁRIO DO REGIONAL CENTRO-OESTE DO MNDH, SEBASTIÃO BEZERRA FOI ASSASSINADO EM GURUPI APÓS RELATAR QUE SOFRIA AMEAÇAS 28 de fevereiro de 2011 Foi assassinado no dia 27 de fevereiro, em Gurupi (TO), o coordenador do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia (TO) e secretário do Regional Centro-Oeste do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH), Sebastião Bezerra da Silva, de 40 anos. As primeiras informações indicam que Sebastião Bezerra da Silva foi torturado antes de ser morto. O secretário do Regional Centro-Oeste do MNDH foi sepultado no município de Araguaçu, onde moram seus familiares. Um coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) informou ao jornal que Silva lhe relatou que sofria ameaças. O coordenador da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, frei José Fernandes Alves, divulgou uma
nota de indignação. Nela, o frei descreve os últimos momentos de vida de Sebastião Bezerra. Leia a nota do frei José Fernandes. Tomamos conhecimento, ontem à noite, do assassinato de nosso irmão e companheiro de luta, Sebastião Bezerra Silva, residente na cidade de Paraíso (TO), casado com Iolanda, pai de duas fi lhas, promotor e defensor dos Direitos Humanos, Secretário Executivo do Movimento Nacional de Direitos Humanos – Regional Centro Oeste e do Centro de Direitos Humanos de Cristalândia. Sebastião integrou a 1ª Turma do Curso de Especialização em Direitos Humanos, promovido pela Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil Revista da Arquidiocese
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e estava entre os missionários inscritos ao Mutirão Dominicano junto às comunidades da Diocese de Conceição do Araguaia. O que podemos afi rmar, até o momento, é que ele foi visto pela última vez com vida na madrugada de sábado e, fi nalmente, seu corpo foi identifi cado ontem à tarde, no IML de Gurupi. De acordo com o advogado Sávio Barbalho, Sebastião estava retornando de Goiânia na madrugada do sábado. Sávio, contatado pela família, procurou a PM e foi informado que um corpo foi achado semi-enterrado, em Dueré, na Fazenda Caridade, a 40 km de Gurupi, e que estava sem identifi cação no IML. Ainda conforme o advogado, “Sebastião foi torturado e assassinado com requinte de crueldade. Em torno do pescoço dele foi encontrada uma corda. Ele foi asfi xiado”. Estou em viagem e é da estrada deste imenso país cheio de contradições, que escrevo esta Nota.
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Algumas pessoas de nossa Comissão, que moram no Estado do Tocantins participarão, hoje no fi nal da tarde, da celebração pascal e plantio de Sebastião no campo santo da cidade de Araguaçu, TO. A dor é grande, a esperança é maior. Esperança de uma sociedade alicerçada na Justiça e na Paz, gerando mulheres, homens, famílias e sociedade não violentas. (...) Indignados pela crescente violência e, na certeza que o grão de trigo que morre, ao ser plantado na terra, produz frutos (cf. Jo 12, 24) e solidários com a família de Sebastião e com a família nacional dos/as defensores/as dos Direitos Humanos, enviamos o nosso fraterno abraço, no silêncio da dor. Araguaína, TO, 28 de fevereiro de 2011 Frei José Fernandes Alves Coordenador da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil
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Declaração das Nações Unidas para o Dia Mundial da Água ALTO COMISSARIADO DA ONU DIVULGA TEXTO EM QUE RESSALTA O ACESSO À ÁGUA E AO SANEAMENTO COMO DIREITO UNIVERSAL 18 de março de 2011 Por ocasião do Dia Mundial da Água, celebrado no dia 22, o alto comissariado das Nações Unidas divulgou uma declaração na qual ressalta o direito à água e o melhoramento das condições higiênicas como um direito humano universal. O documento foi elaborado pela especialista em água e saneamento, Catarina de Albuquerque; pela especialista em extrema pobreza, Magdalena Sepúlveda; e
pela relatora para a habitação, Raquel Rolnik. No documento está escrito que “com o aumento constante do número de pessoas vivendo em centros urbanos, a falta de acesso seguro à água potável e a sistemas de saneamento básico nas cidades é um fator de preocupação permanente”. O documento evidencia que quem não tem acesso a esses elementos, são os mesmos que Revista da Arquidiocese
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vivem marginalizados, excluídos e discriminados, explicando o fenômeno como resultado de decisões políticas que deslegitimam as suas existências e perpetuam o estado de pobreza. “Por ocasião do Dia Internacional da Água deste ano, os especialistas das Nações Unidas convocam os Estados a tomarem medidas imediatas para cessar as violações dos direitos humanos e para garantir que o acesso à água potável e ao saneamento básico sejam usufruídos por todos”, destaca o documento da ONU. Ainda segundo a ONU, “o mundo está se tornando cada vez mais urbano, já existem mais pessoas vivendo em cidades que nas zonas rurais. 40% desse crescimento é feito a partir da formação de favelas, incluídas aí aquelas já estruturadas e as de estruturação recente.
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Ambas são consideradas ilegais, e por isso, os Governos recusam-se a estender água encanada e saneamento básico aos seus moradores”. Contestando tal postura, a declaração afi rma que “água e saneamento básico são direitos humanos, os quais devem ser, portanto, garantidos a todos, sem discriminação. Traz ainda o dado de que as pessoas que vivem na pobreza pagam mais por sistemas básicos que os cidadãos médios. O exemplo foi o de que uma pessoa que vive em um assentamento informal em Nairóbi (África) paga de cinco a sete vezes mais por um litro de água que um norte-americano de classe média. Além disso, são obrigados a comprar água de vendedores informais, que oferecem a água de qualidade não comprovada, armazenando-as de maneira imprópria.
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Movimento de Educação de Base celebra 50 anos MEIO SÉCULO DO ORGANISMO, VINCULADO À CNBB, FOI COMEMORADO DIA 21 DE MARÇO 21 de março de 2011 O Movimento de Educação de Base (MEB) organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) comemorou no dia 21 de março, 50 anos de criação. A comemoração, aconteceu no dia 24, na sede da CNBB, em Brasília. O evento contou com a presença de várias autoridades eclesiásticas, inclusive a presidência da CNBB, autoridades do Governo Federal e do estado de Minas Gerais e Maranhão, estados em cuja educação contou com o trabalho do Meb. De acordo com a assessora pedagógica do Meb, Marielli Rezio Cortes, a cerimônia teve por objetivo divulgar o trabalho desenvolvido pela entidade ao longo dos últimos 50 anos. “Queremos com a cerimônia divulgar a ação do Meb e chamar
mais pessoas para esta missão e tocar autoridades para a causa da alfabetização de jovens e adultos que é uma causa de geração de cidadania”, disse a assessora. Durante a cerimônia, o presidente do Meb, dom Augusto Alves da Rocha, bispo emérito de FlorianoPI, falou sobre a ação do Meb no Brasil; também falou sobre a data o presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha e o secretário executivo do Meb, padre Virgílio Leite Uchôa; ainda se pronunciaram algumas autoridades presentes no evento. Atuação Entre 2003 e 2009 o Meb desenvolveu o “Programa Cidadão Nota Dez”, em Minas Gerais com 416.684 alfabetizandos. Os educadores Revista da Arquidiocese
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populares eram 25.087. Nos estados do Piauí, Maranhão, Ceará, Amazonas, Roraima e Distrito Federal, o projeto “Saber Viver e Lutar” alfabetizou 88.910 pessoas com 9.672 educadores populares. O estado do Maranhão foi ainda contemplado com mais dois projetos do Meb entre 2007 e 2008, com a implementação de projetos de desenvolvimento sustentável de comunidades em situação de risco social (Fundo de Solidariedade da CNBB/Cáritas) e Programa de Alfabetização Educadora Maranhão (Paema) entre 2008 e 2010. Os projetos alfabetizaram juntos 33.022 pessoas. O Piauí, por sua vez, contou com o Programa “Nova Abolição” de 2007 a 2010. Neste projeto foram contempladas 46.792 pessoas com a presença de 4.052 educadores populares. Os dados quantitativos do Meb dão conta de que entre 2003 e 2010, foram alfabetizadas 586.966 pessoas com os trabalhos desenvolvidos por 40.853 educadores populares. 50 anos a serviço da cidadania A história do Meb teve início em março de 1961. A entidade foi precursora da educação a distância, por meio das escolas radiofônicas, nascidas na arquidiocese do Rio Grande do Norte por iniciativa do Revista da Arquidiocese
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então padre Eugênio Sales (Cardeal Sales, arcebispo emérito do Rio de Janeiro). Nas décadas seguintes, além da alfabetização, implantou cursos de capacitação destinados às comunidades tais como cooperativismo e associativismo. O Meb ganhou prestígio logo no seu nascimento, pois em 21 de março de 1961 o presidente da República em exercício, Jânio Quadros, editou o decreto que dispôs sobre o Programa de Educação de Base, no Norte, Nordeste e CentroOeste. De acordo com o artigo 2º, o Meb executaria um plano quinqüenal (1961-1965) para expandir e tornar crescente a rede escolar radiofônica. Foi a partir do decreto que o Meb adquiriu estabilidade funcional. Para isto, foram importantes também as fi guras de Dom Helder Câmara e Dom Vicente Távora. “O Meb ao sustentar a sua ação nestes cinquenta anos de existência, seja em parcerias governamentais, seja no âmbito interno das ações pastorais da Igreja Católica, celebra, com alegria e sentimento de dever cumprido, a sua contribuição na superação da miséria e da exclusão social mediante educação popular libertadora”, destaca a direção do organismo.
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CNBB divulga texto sobre beatifi cação de João Paulo II BISPOS DO BRASIL RECORDAM AS TRÊS VISITAS FEITAS PELO PAPA AO PAÍS E SEU EMPENHO EM DEFESA DA VIDA E DA FAMÍLIA 25 de março de 2011 A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou mensagem pela beatificação do papa João Paulo II, que ocorrerá no dia 1º de maio, em Roma. O texto foi aprovado pelo Conselho Permanente da entidade, reunido em Brasília desde quartafeira, 23 de março. Na mensagem, a CNBB exalta as virtudes de João Paulo II, lembrando suas três visitas ao Brasil, onde “foi carinhosamente acolhido e aclamado
como ‘João de Deus’”. A CNBB destaca, ainda, o empenho do papa na defesa da vida e da família. “O mundo inteiro foi edificado pelo seu empenho em favor da vida, da família e da paz, dos direitos humanos, da ecologia, do ecumenismo e do diálogo com as religiões”, diz a mensagem. Leia, abaixo, a íntegra da mensagem: “Deus nos chamou à santidade” (1Ts 4,7) Revista da Arquidiocese
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A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) dirige-se aos católicos e a todas as pessoas de boa vontade para manifestar sua alegria e gratidão a Deus pela beatificação do Servo de Deus, João Paulo II, no próximo dia primeiro de maio. O Papa João Paulo II amava muito o Brasil e visitou nosso País por três vezes. Entre nós, ele foi carinhosamente acolhido e aclamado como “João de Deus”. A beatificação nos incentiva a aprofundar nossa vocação universal à santidade. Na sua primeira mensagem, ele convidou a todos: “abri as portas a Cristo Jesus!” Sua vida foi um testemunho eloquente de santidade, pela grande fé, amor à Eucaristia, devoção filial a Maria e pela prática do perdão incondicional. A Palavra de Deus foi por ele intensamente vivida e anunciada aos mais diferentes povos. A espiritualidade da cruz o acompanhou na experiência da orfandade e da pobreza, nas atrocidades da guerra e do regime comunista, mas principalmente no atentado sofrido na Praça de São Pedro. De maneira serena e edificante, suportou as incompreensões e oposições, as limitações da idade avançada e da doença. Revista da Arquidiocese
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O mundo inteiro foi edificado pelo seu empenho em favor da vida, da família e da paz, dos direitos humanos, da ecologia, do ecumenismo e do diálogo com as religiões. Revelou-se um grande líder mundial, um verdadeiro “pai” da família humana. Pediu várias vezes perdão pelas falhas históricas dos filhos da Igreja. Ele mesmo foi ao encontro do seu agressor, na prisão, oferecendo-lhe o perdão. Pela encíclica Dives in Misericordia e na instituição do “Domingo da Divina Misericórdia”, manifestou seu compromisso com a reconciliação da humanidade. Foi um papa missionário. Numerosas viagens apostólicas marcaram seu pontificado e incentivaram, na Igreja, o ardor missionário e o diálogo com as culturas. No Grande Jubileu conclamou e encorajou a Igreja a entrar no terceiro milênio cristão, “lançando as redes em águas mais profundas”. Afirmou e promoveu a dignidade da mulher; ampliou o ensino Social da Igreja e confirmou que a promoção humana é parte integrante da evangelização. Valorizou os meios de comunicação social a serviço do Evangelho. A todos cativou pelo seu afeto e sensibilidade humana;
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crianças, jovens, pobres, doentes, encarcerados e trabalhadores foram seus preferidos. O Papa João Paulo II estimulou, especialmente, as vocações sacerdotais, religiosas e missionárias. Aos sacerdotes dirigiu, todos os anos, na Quinta-Feira Santa, sua Mensagem pessoal. Leigos e consagrados foram valorizados e encorajados nos Sínodos a eles dedicados, para promover sua dignidade, vocação e missão na Igreja. Convidamos, portanto, todo o povo a louvar e agradecer a Deus pela beatifi cação do Papa João Paulo II. “O Brasil precisa de santos”, proclamou ele na beatifi cação de Madre Paulina. Sensibilizados por essas palavras, confi amos à sua intercessão a santifi cação da Igreja e a paz no mundo. Fazemos votos de
que seu testemunho e seus ensinamentos continuem a animar a grande família dos povos na construção de uma convivência justa, solidária e fraterna, sinal do Reino de Deus, entre nós. Brasília, na Solenidade da Anunciação do Senhor, 25 de março de 2011 Dom Geraldo Lyrio Rocha Arcebispo de Mariana Presidente da CNBB Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus Vice-Presidente da CNBB Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro Secretário-Geral da CNBB
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CNBB vai à Câmara por PEC do Trabalho Escravo SECRETÁRIO GERAL DA CONFERÊNCIA FOI RECEBIDO PELO PRESIDENTE DA CASA, MARCO MAIA, E PEDIU VOTAÇÃO DO PROJETO QUE COMBATE O CRIME TRABALHISTA 29 de março de 2011 O secretário geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Dimas Lara Barbosa, foi recebido nesta terça-feira, 29, pelo presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia. Dom Dimas pediu ao presidente que coloque em votação a PEC do trabalho escravo (PEC 438/2001). Esse projeto de Emenda à Constituição estabelece a pena de expropriação de terras onde for constada a exploração de trabalho escravo. “Esta PEC é um instrumento importante para que esta chaga social, que é o trabalho escravo, seja defi nitivamente extirpada do Brasil”, disse o secretário da CNBB. Dom Dimas entregou ao presidente da Câmara um kit composto de materiais de conscientização das comunidades sobre a realida-
de do trabalho escravo no país. O material, incluindo um vídeo, foi elaborado pelo Grupo de Trabalho de Combate ao Trabalho Escravo formado pela CNBB há dois anos. “O combate ao trabalho escravo atende a três frentes: prevenção, repressão e reinserção social”, explica dom Dimas. Segundo o secretário, a CNBB atua, especialmente, na primeira frente, enquanto ao Estado cabe, de modo particular, a segunda. Dom Dimas disse que a CNBB, que já se preocupava com a realidade do tráfi co de pessoas e exploração sexual de crianças e adolescentes, decidiu fortalecer sua ação de combate ao trabalho escravo. “Constituímos um GT específi co com entidades parceiras da Igreja e da sociedade para pensar uma Revista da Arquidiocese
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forma concreta de combate ao trabalho escravo”, conta. O presidente da Câmara, Marco Maia, agradeceu a iniciativa da CNBB e confi rmou a necessidade de se combater o trabalho escravo no país. “Estou convencido de que precisamos trazer este debate, com muita força, para dentro do Parlamento e avançar. Todas as medidas que puderem ser tomadas no sentido de evitar e combater o trabalho escravo, inclusive punindo aqueles que ainda insistem nesta prática no Brasil, precisam ser tomadas”, ressaltou Maia. O secretário executivo do Mutirão Pastoral para a superação do trabalho escravo, ligado ao GT criado pela CNBB, padre Ari Antônio dos Reis, que também participou da audiência com o presidente da Câmara, mostrou-se otimista com o encontro.
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“O encontro foi signifi cativo para acelerar a votação da PEC que servirá para inibir as iniciativas de exploração da mão de obra escrava no Brasil”, comentou. “É inaceitável que um país com tamanho desenvolvimento tecnológico conviva com esta forma de relação de trabalho”, acrescentou. Segundo padre Ari, o presidente da Câmara assumiu o compromisso de se reunir com os lideres dos partidos para acelerar a votação da PEC. Durante a audiência, Marco Maia entregou ao secretário da CNBB uma cópia do documento enviado, pela Câmara, ao Comitê do Prêmio Nobel da Paz, em Oslo, Suécia, que indica a Pastoral da Criança para receber o prêmio em 2011, pelos trabalhos feitos por Drª Zilda Arns.
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Eleições e Diretrizes dão o tom da 49ª Assembleia da CNBB REALIZADA PELA PRIMEIRA VEZ EM APARECIDA, REUNIÃO ACOLHEU MAIS DE 300 BISPOS DURANTE DEZ DIAS 11 de abril de 2011
A Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pela primeira vez, foi realizada em Aparecida (SP). Uma grande estrutura foi montada pelo Santuário de Aparecida para acolher o evento que reuniu mais de 300 bispos, durante dez dias, de 4 a 13 de maio. Esta foi a 49ª Assembleia da CNBB e teve dois temas centrais. O primeiro, as eleições da nova Presidência da Conferência e dos presidentes das Comissões Pastorais. O segundo, as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, a serem aprovadas pela
CNBB para o quadriênio 2011-2015. Já as Diretrizes do Diaconato Permanente estão entre os chamados temas prioritários, juntamente com assuntos de liturgia. Durante a Assembleia, a CNBB prestou homenagem à Adveniat que, neste ano, comemora 50 anos. Realizaram, ainda, análise de conjuntura social e eclesial e várias comunicações referentes, por exemplo, aos 50 anos do Movimento de Educação de Base (MEB), Jornada Mundial da Juventude, preparação do jubileu de 50 anos do Concílio Vaticano II, situação dos povos indígenas.
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Anápolis manifesta pesar pelo falecimento do seu bispo emérito PASTOR DA IGREJA EM ANÁPOLIS DURANTE 25 ANOS, DOM MANOEL PESTANA FILHO MORREU DIA 8 DE JANEIRO, EM SANTOS (SP), SUA CIDADE NATAL O bispo de Anápolis, Dom João Wilk, divulgou dia 8 de janeiro uma nota expressando o pesar da diocese pelo falecimento de seu segundo bispo, dom Manoel Pestana Filho. “Sua presença (de Dom Manoel) e seu carisma marcam os rumos da fé, mas também os rumos convivência, da harmonia social. É sentida esta passagem e fica a gratidão pelos anos que ele serviu a Igreja aqui”, diz um dos trechos do texto.
Abaixo, a íntegra da nota: A Diocese de Anápolis manifesta pesar pelo falecimento de seu 2º bispo diocesano, Dom Manoel Pestana Filho, ocorrido na manhã deste sábado, 8, em Santos (SP). Neste momento de pesar, expressamos nossos sentimentos aos familiares, aos irmãos no episcopado e a todos os nossos diocesanos, que ao longo dos anos seguiram Revista da Arquidiocese
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seus ensinamentos e lhe dedicaram grande admiração. A Deus os nossos agradecimentos pelos 25 anos de ministério dedicado e exitoso de Dom Manoel Pestana Filho como bispo da Diocese de Anápolis, de 1979 a 2004. Neste período, entre outras ações, teve o mérito de fundar o Seminário Maior Diocesano, ampliar as ações pastorais segundo o espírito e criar o Movimento PróVida, referência nas ações de defesa da vida e da dignidade da pessoa humana. Sua presença e seu carisma marcam os rumos da fé, mas também os rumos convivência, da harmonia social. É sentida esta passagem e fi ca a gratidão pelos anos que ele serviu a Igreja aqui.
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A Diocese de Anápolis informa que, a pedido da família, o corpo de Dom Manoel Pestana será velado em Santos, até a tarde deste domingo, 9. Em seguida será trasladado a Anápolis (GO), onde deve chegar por volta das 9 horas de segunda-feira, 10. O velório em Anápolis ocorre durante todo o dia e, às 19 horas, será celebrada na Catedral do Bom Jesus a Missa das Exéquias. O sepultamento acontece logo depois, na Capela do Santíssimo Sacramento, na Cripta da Catedral do Bom Jesus. Anápolis, 9 de janeiro de 2011 Dom João Wilk Bispo da Diocese de Anápolis
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Regional Centro-Oeste realiza formação para a Quaresma CENTRO PASTORAL DOM FERNANDO RECEBEU, DE 25 A 27 DE FEVEREIRO, O 2º ENCONTRO DE FORMAÇÃO LITÚRGICA 27 de fevereiro de 2011 O Regional Centro-Oeste da CNBB (Distrito Federal, Goiás e Tocantins) realizou entre os dias 25 e 27, o 2º Encontro de Formação Litúrgica. O evento aconteceu no Centro de Pastoral Dom Fernando, em Goiânia e contou com a assessoria da Equipe de Liturgia do Regional. De acordo com os organizadores da formação, o encontro teve por objetivo preparar as pessoas para o Tempo da Quaresma. Para isso, foi
elaborada pela Equipe de Liturgia uma programação especial para a formação com os temas: Quaresma: História, Teologia e Mística; Tríduo Pascal: Teologia e Ritualidade; Celebrando o Mistério Pascal; Pastoral Litúrgica: Caminhos para formação das equipes de liturgia e celebração. Participaram presbíteros, religiosos, estudantes de teologia e agentes da pastoral litúrgica. Revista da Arquidiocese
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Goiânia recebe Seminário Nacional de Novas Comunidades ORGANIZADO PELA CNBB, ENCONTRO REUNIU PADRES, RELIGIOSOS E LEIGOS DURANTE TRÊS DIAS NA CAPITAL GOIANA 25 de março de 2011 Nos dias 25 a 27, Goiânia (GO) acolheu o Encontro Nacional de Novas Comunidades. Participaram do evento associações de leigos, movimentos e novas comunidades que congregam religiosos, padres e leigos. Organizado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) em parceria com o Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), o Seminário teve por objetivo estabelecer um primeiro encontro da CNBB com as Novas Comunidades, conforme explicou o bispo diocesano de Santarém (PA), e presidente da Comissão Episcopal para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada da CNBB, dom Esmeraldo Barreto de Farias.
“Neste primeiro encontro queremos propiciar a oportunidade de partilha de experiências, já que é a primeira vez que a CNBB propõe um Seminário deste porte com representantes das maiores “Novas Comunidades do Brasil”, que são 12 e fazem parte da Organização Internacional das Novas Comunidades”, comentou o bispo. Dom Esmeraldo destacou ainda o encontro como um importante passo de relacionamento entre a CNBB e as Novas Comunidades para que se possa conhecê-las melhor e ao mesmo tempo saber até que ponto elas compreendem a CNBB e vivenciam as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora (DGAE) para a Igreja no Brasil. Revista da Arquidiocese
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O presidente do CNLB, por sua vez, Laudelino Augusto dos Santos Azevedo, também afi rmou que conhecer as novas comunidades e fazê-las se conhecerem entre si, são os objetivos do encontro. “A intenção é realizar um primeiro encontro para conhecê-los: saber como se organizam, como elas trabalham na perspectiva de conhecer a Igreja no Brasil, a CNBB, as dioceses e paró-
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quias; é também o momento de fazê-las se conhecerem”, sublinhou. Laudelino frisou ainda a importância das Novas Comunidades para a Igreja no mundo. “São uma riqueza para a Igreja no mundo. Eu particularmente tenho tido uma surpresa muito agradável de descobrir esses movimentos e associações de novas comunidades como uma presença rica para a Igreja”, disse.
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Solenidade da Santa Mãe de Deus DOM WASHINGTON CRUZ, CP 1° de janeiro de 2011 Por estarmos celebrando hoje e solenemente a “maternidade divina de Maria”, ouvimos São Paulo nos falar do Filho de Deus, nascido de uma Mulher. E o Evangelho nos recordar o encontro dos Pastores no Presépio e a imposição do nome de Jesus! Maria conserva e guarda no coração, o testemunho dos pastores, que contaram o que lhes fora dito sobre o Menino” (Lc 2,17)!
Mas todo ano se celebra também, no dia 1º de janeiro, o Dia Mundial da Paz. Iniciativa do Papa Paulo VI, já chegamos ao 44º Dia Mundial da Paz. Bento XVI escolheu para a sua mensagem deste ano, o tema da “Liberdade religiosa, caminho para a paz”. Gostaria de nesta homilia aprofundar a mensagem do Santo Padre. Ouvimos no Evangelho a visita Revista da Arquidiocese
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dos Pastores a Belém. Belém estava em Paz! Tudo acontecera conforme ao anúncio do Anjo, na noite Santa de Natal! Havia liberdade religiosa, dentro e fora do Presépio! No regresso, os Pastores voltaram, maravilhados, “glorificando e louvando a Deus, por tudo o que tinham visto e ouvido” (Lc 2,20)! Assim, o primeiro cenário do Presépio, fala-nos de homens e mulheres livres, “para professar a sua própria fé e viver o seu amor a Deus, com todo o coração, toda a alma e toda a mente (cf. Mt 22, 37)” (Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial da Paz 2011)! Os pastores gozam, por assim, dizer, de plena liberdade religiosa! E não deixam de partilhar, em alta voz, as impressões do coração, depois de tudo o que viram, ouviram e viveram. Vê-se, portanto, que pela palavra partilhada dos Pastores e pelo silêncio cúmplice de Maria, “embora movendo-se a partir da esfera pessoal, a liberdade religiosa – como qualquer outra liberdade – realiza-se na relação com os outros” (Ib. 6)! Mas, bem o sabemos, esta liberdade religiosa, foi de curta duração. Logo veio a tentativa homiRevista da Arquidiocese
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cida de Herodes, que procurou matar o Menino e chegou mesmo à loucura da matança dos inocentes. E logo depois, a mesma liberdade parece condicionada, na tentativa de extravio dos Magos, quando se propõem adorar o Menino, em Belém! Talvez pensemos, erradamente, que a perseguição a Cristo ou aos cristãos seja apenas uma página sangrenta dos primeiros séculos da história da Igreja. Embalados num certo adormecimento da fé, nem nos damos conta que “os cristãos são, atualmente, o grupo religioso que padece o maior número de perseguições devido à própria fé. Muitos suportam diariamente ofensas e vivem frequentemente em sobressalto por causa da sua procura da verdade, da sua fé em Jesus Cristo e do seu apelo sincero para que seja reconhecida a liberdade religiosa” (Ib.1). Imaginemo-nos, irmãos e irmãs, sem podermos sair de casa para ir à Igreja celebrar o Natal. E que, mesmo dentro de casa, reunidos com nossas famílias e amigos, podemos perder a vida… só pelo simples fato de sermos cristãos. Pois é disso mesmo que, neste momento, têm medo os católicos iraquianos. Ouvimos, ainda há poucos dias,
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em pleno tempo de Natal, falar de perseguições, aos cristãos da Nigéria, Filipinas e Paquistão! Porque somos filhos de Deus, não podemos mais viver como escravos (cf. Gal 4,4-7), seja do fanatismo religioso, que quer impor a fé pela força, seja do laicismo, que a quer negar ou limitar na sua pública manifestação (cf. Ib.8). A liberdade religiosa é, pois, um direito tão enraizado na dignidade humana dos filhos de Deus, que deveria gozar de um estatuto especial: uma espécie de patrimônio comum, ao ponto de cada violação ser encarada como um crime contra a Humanidade. Bento XVI, em sua Mensagem, fala não só do que se passa no Iraque, mas também em várias regiões do mundo, onde não é permitido a cada um professar livremente a própria fé, sob pena de risco de vida. “De modo particular na Ásia e na África, as principais vítimas são os membros das minorias religiosas, a quem é impedido de professar livremente a própria religião ou mudar para outra, através da intimidação e da violação dos direitos, das liberdades fundamentais e dos bens essenciais, chegando até à privação da liberdade pessoal ou da própria
vida” (Ib.13). Mas o Papa denuncia também ataques à liberdade religiosa, noutras zonas do globo, onde a perseguição surge de forma mais sofisticada e sutil, contra crentes e símbolos religiosos. É nesta lista que Bento XVI inclui a Europa, onde são visíveis “as hostilidades e preconceitos contra os cristãos que desejam orientar a própria vida de modo coerente com os valores e os princípios expressos no Evangelho” (Ib.14). Trata-se de uma espécie de ditadura do pensamento dominante, que quer negar aos cristãos o direito à sua própria forma de ser, pensar e viver, pondo-os e expondo-os muitas vezes, ao ridículo, diante da sociedade! Queridos irmãos e irmãs: Como os Pastores, temos motivos para dar graças a Deus, por tudo o que vimos, ouvimos e vivemos em todo o ano de 2010. Mas agora, e como sempre, a vida continua! Se em outros lugares, a própria vida dos crentes, está em causa, por causa do seu testemunho de fé, não temos nós o direito de viver uma fé adormecida (cf. Mt 8,26). “Peçamos ao Senhor que nos acorde do sono de uma fé cansada e restitua à nossa fé o poder de moRevista da Arquidiocese
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ver montanhas, isto é, de conferir a ordem justa às coisas do mundo! (…) A nossa fé não é uma realidade do passado, mas um encontro com o Deus, que vive e atua agora! Ele chama-nos em causa e opõe-se à nossa preguiça, mas é precisamente assim, que nos abre a estrada para a verdadeira alegria”. (Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, 20 de dezembro de 2010)! Que a Mãe de Deus, com o Menino no colo, assim proposto e oferecido à nossa liberdade fi lial, nos guarde, fi rmes e fi éis, em seu coração! Maria nos atraia, de seu Filho Jesus, as maiores bênçãos de paz, de coragem e de alegria na fé, para mais um ano de graça e de missão! Salve ano novo de 2011.
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Nós te acolhemos, sem medo, e com gratidão! Nós te levaremos no colo, e pelas mãos, com os pés apressados e o louvor cantado dos pastores de Belém! Maria, a Mãe de Deus, oferecenos, no Filho, e de mão beij ada, o novo ano, que é oferta de Paz, bênção e missão. Neste espírito, glorifi camos e louvamos a Deus, por tudo o que vemos e ouvimos, na maravilha de um Natal, que nos faz nascer e renascer para Ele. Na oitava de tão grande acontecimento, ressoe, com alegria, o nosso Hino de glória a Deus e de Paz na terra aos homens por ele amados. A todos desejamos, de alma e coração, um feliz ano de 2011!
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Exéquias de Dom Manoel Pestana Filho DOM WASHINGTON CRUZ, CP 10 de janeiro de 2011 Querido irmão Dom João Wilk, bispo de Anápolis, demais irmãos bispos, queridos irmãos sacerdotes e diáconos, estimadas e dignas autoridades, familiares do Dom Manoel, irmãos e irmãs todos no Senhor: Estamos reunidos, nesta Catedral do Bom Jesus, Igreja mãe da Diocese de Anápolis, para celebrar a sagrada Eucaristia e oferecer o Sacrifício de Jesus Cristo na Cruz, em ação de graças e em sufrágio pela alma de Dom Manoel Pestana Filho, que sábado passado, entrou na paz Senhor. Diante da profunda tristeza que a impactante notícia de sua morte nos causou, queremos abrir nossos corações à esperança que somente o Pai Eterno nos pode dar. Damos graças a Deus por Dom Manoel, pelo dom de sua vida entre nós. E desejamos tributar
também ao ilustre irmão, amigo, sacerdote, bispo e pastor, neste último momento, todo o nosso reconhecimento e gratidão. Mas não o fazemos apenas com as nossas próprias forças, que, aliás, são mínimas, mas com a graça e a força de Jesus Cristo que se oferece e se faz presente no mistério da Eucaristia. Meus irmãos e minhas irmãs, Dom Manoel serviu a Igreja desde a sua mais tenra idade. Entrou criança para o seminário. Tendo iniciado seus estudos eclesiásticos em Santos e São Paulo, foi em seguida, enviado para Roma. Ordenado sacerdote, voltou para o Brasil, onde exerceu seu ministério, primeiro, como professor de Seminários e Universidades, e depois, por nomeação do Papa João Paulo II, como bispo. A Palavra de Deus ilumina a Revista da Arquidiocese
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vida deste nosso irmão, da mesma forma que conforta e edifica a nossa vida. Dom Manoel bem poderia proclamar para nós, hoje, com a mesma força e contundência, com a mesma precisão e fogosidade, as palavras do Livro de Jó que ouvimos na 1ª leitura: “Eu sei que o meu Redentor está vivo!” Sim, irmãos e irmãs, diante da vida e da morte, diante dos sobressaltos porque passamos em nossos dias, diante de tanto sofrimento e de tantas fadigas do homem de hoje, não podemos dizer nem confessar outra coisa, a não ser: “Eu sei que o meu Redentor, Jesus Cristo, vive!”. Esta é a grande certeza da nossa fé, do cristianismo e de seu humanismo. “Eu sei que o meu Redentor, Jesus Cristo, vive!”. Esta profissão de fé transforma a nossa vida, enche-a de felicidade e de alegria, abre-a à esperança e faz o homem caminhar na luz da verdade. O Deus que Jesus Cristo revelou é o Deus da Redenção do homem, de nossa redenção, de minha redenção. Como na manhã de Páscoa, nós dizemos com as testemunhas que o viram e o palparam: “É verdade, Revista da Arquidiocese
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Cristo, nosso Redentor, vive, ressuscitou; não busquemos entre os mortos aquele que está vivo”. O Cristianismo é a vitória de Cristo sobre a morte. São Paulo escreve isso com letras de fogo em suas cartas. Aos Filipenses chega a dizer “para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” (Fl 1, 21). São também de fogo as palavras do bispo Inácio de Antioquia, escritas aos cristãos de Roma, para dissuadi-los de evitar o seu martírio. Martírio que de fato lhe sobreveio, mais ou menos no ano 107, e o uniu ao do próprio Cristo, numa mesma dádiva, numa mesma vida: “Deixai-me alcançar a luz pura. Quando lá chegar, serei verdadeiramente um homem. Deixai-me ser imitador da paixão do meu Deus. Se alguém o possuir, compreenderá o que quero e terá compaixão de mim, por conhecer a ânsia que me atormenta” (Inácio de Antioquia, Carta aos Romanos). Meus irmãos e minhas irmãs: “Felizes os servos que o Senhor, ao chegar, encontrar acordados” ouvimos no Evangelho há pouco proclamado (Lc 12,37). Dom Manoel faz parte dessa imensa legião de homens e mulheres que viveram neste mundo em
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permanente vigília, sempre com as antenas ligadas, e que se deixaram apaixonar por Jesus Cristo. Toda a sua rica existência, existência operosa e cheia de méritos, foi marcada por uma profunda fé e uma entrega total ao serviço do Reino de Deus. Podemos dizer que, nesta terra, Dom Manoel não soube fazer outra coisa a não ser servir a Deus, com todo o seu coração e com as altas capacidades com as quais Deus o enriqueceu. Admiramos seu espírito organizador e sua capacidade de relacionamento, sua grande inteligência e eficácia com que conseguia de Deus tudo o que se propunha pelo bem da Igreja. Mas, hoje, sobretudo, queremos dar graças ao bom Deus pelo ministério sacerdotal que o Senhor lhe confiou e que ele exerceu com fidelidade e zelo até a hora de sua morte. Em sua vida não deixou de enfrentar dificuldades e até polêmicas, sempre no sincero desejo de fazer prevalecer a verdade e a glória do Senhor. Pastor conforme o coração de Deus amou intensamente seu povo, em benefício do qual não poupou esforços nem sacrifícios, nos vários lugares em que exerceu
seu ministério pastoral: em Santos, em São Paulo, Rio de Janeiro e em Petrópolis, como sacerdote; depois nesta diocese como bispo, durante 25 anos. Coração inquieto, como Santa Teresa e Santo Agostinho, amou e buscou apaixonadamente a suprema sabedoria, a Verdade e a beleza de Deus. Irmãos e irmãs, a vida do homem sobre a terra é uma busca constante da plenitude de Deus. Esta plenitude que de alguma forma, misteriosamente, se oculta em nossas vicissitudes humanas. A este respeito Santo Agostinho dizia: “Fizeste-nos para ti Senhor, e o nosso coração estará inquieto até que não repousa em ti”. Por isso, quando alguém deixa esta vida, quando alguém ultrapassa as vicissitudes e ansiedades desta vida terrena, a Igreja reza: “Descanse em paz”. Sim, agora, o coração de Dom Manoel recebeu o descanso, o sossego desejado e merecido. Querido irmão e amigo, sábado passado encerraste teu peregrinar entre nós. Muito obrigado por teu sim ao Senhor na vocação sacerdotal; obrigado por ter vivido com alegria teu ministério sacerdotal; Revista da Arquidiocese
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obrigado por tua entrega generosa e desinteressada; obrigado por tua prontidão em atender com solicitude a quem a ti recorria; obrigado por tua inocência e jovialidade; obrigado por ter partilhado conosco teus dons de mente e de coração. Que tua vida oferecida por amor desperte muitas e santas vocações nesta Diocese e em toda a Igreja. Agora que partiste para a assembleia dos santos e justos, nós te pedimos interceder, junto ao Senhor, por esta tua diocese de Anápolis; por nós teus irmãos bispos e nossas dioceses, por nossos padres, por
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nossos seminários, por nossas comunidades paroquiais, por nossas famílias, especialmente por tua família que te acompanhou durante toda a tua caminhada terrena e que hoje vive este momento de dor. Dom Manoel, o Senhor que um dia te chamou para ser seu discípulo e missionário, te acolha agora na comunhão plena e defi nitiva da glória celestial. A Toda Santa, Mãe de Deus e nossa Mãe, dê consolo e paz a todos os que hoje sofremos por tua partida, e que obtenha para a tua alma o descanso eterno no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Amém.
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Aniversário da Vila São Cott olengo DOM WASHINGTON CRUZ, CP 12 de fevereiro de 2011 Neste sexto domingo do Tempo Comum, a Igreja põe em nossos lábios os primeiros versículos do salmo 118, que é um elogio à lei: “Feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo”. Este salmo, permeado de profunda espiritualidade e beleza, é a pérola do Saltério. Nele proclamamos que a verdadeira Felicidade nasce da fi delidade a Deus, o qual manifesta
sua vontade por meio da lei. Irmãos e irmãs, o homem foi criado livre. Os olhos de Deus veem todas as suas ações e conhece todas as suas obras, respeita a sua liberdade, mas é prudente cumprir a sua vontade: “Se quiseres observar os mandamentos, eles te guardarão”. “Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir” (Eclo 15,18). Revista da Arquidiocese
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Portanto os Mandamentos são a manifestação do amor de Deus, que mostra a seus filhos o que é bom e o que é mal, para que ninguém escolha a morte, mas a vida. “Se confias em Deus, tu também viverás” (Eclo, 15 16). Irmãos e irmãs, alguns hoje veem o Decálogo como retrógrado e repressivo. Mas é porque não entenderam a lei cristã. Quando a lei é bem entendida, descobre-se o que ela verdadeiramente é: fonte de liberdade: “Fostes criados para a liberdade” (Gl 5,13). A palavra “Decálogo” significa literalmente “dez palavras”. Na montanha santa Deus revelou estas “dez palavras” a seu povo. Elas pertencem à revelação que Deus fez de si mesmo e de sua glória. Os Mandamentos são dom de Deus e de sua santa vontade. Dando a conhecer a sua vontade, Deus se revela a seu povo. A Lei antiga e a Lei nova não são duas realidades opostas, contrárias. Jesus Cristo veio cumprir os mandamentos, os levar à plenitude, e, de fato, lhes deu uma nova perfeição. Jesus conserva o essencial da tradição judia, mas lhe aporta um selo novo, original, superior: a Lei Revista da Arquidiocese
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de Deus se cumpre a partir de dentro, com espírito e coração novos. Para os judeus, a Lei era a personificação da sabedoria divina. Jesus não é só o legislador da nova Lei: ele mesmo é a Lei. Por isso, Jesus é o ponto de união do Antigo e do Novo testamento. A expressão “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos, mas eu, porém, vos digo” mostra a enorme audácia de Jesus, consciente de sua realidade divina. Mesmo parecendo um simples habitante de Nazaré, ao explicar e definir a vontade de Deus se coloca no mesmo nível de Deus. Jesus promulga a nova Lei com a sua própria autoridade, e não apenas transmitindo disposições alheias, como fez Moisés. A lei é necessária como é necessária a caridade, e ambas devem caminhar juntas, unidas. Ficar somente na lei é farisaísmo; mas desprezar a lei, em nome de uma moral da caridade, é desconhecer o ser humano, unidade de matéria e espírito. Meus irmãos e minhas irmãs, o discípulo de Cristo encontra o equilíbrio justo entre lei e liberdade na “sabedoria que não é deste mundo”, mas “é divina, misteriosa, escondida, que desde a eterni-
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dade Deus destinou para a nossa glória”. “A nós Deus revelou este mistério pelo Espírito”. Nossa época, agnóstica, laicista e submetida à ditadura do relativismo, prescinde dos mandamentos e apaga a fronteira entre o bem e o mal, fazendo-a depender daquilo que o homem arbitrariamente decide. O Decálogo é um dom divino que manifesta o amor de Deus e traça o caminho da liberdade, do bem e da felicidade. Nossa história há de se construir sobre a verdade, que torna o homem livre com a mesma liberdade com a qual Cristo nos libertou: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Irmãos e irmãs, hoje estamos celebrando o jubileu de diamante da Vila São Cottolengo, obra esplendorosa de fidelidade à vontade do Divino Pai Eterno, e movida por Sua sabedoria. O Pe. Gabriel Vilela, lá atrás, há 60 anos, iniciou um caminho que nos trouxe ao que hoje é a Vila São José Bento Cottolengo. Percebendo que não podia deixar sem amparo tantas pessoas pobres que perambulavam famintas pelas ruas de Trindade, após a realização
das grandes romarias, o Pe. Vilela, como era conhecido, procurou encontrar soluções para o atendimento aos pobres. Construiu as primeiras casas, mobilizou a comunidade e descobriu parceiros. Os anos foram se passando, a quantidade de pessoas abrigadas na Vila foi aumentando, e acabou se tornando uma verdadeira comunidade de acolhimento, de cura e de esperança. Os missionários redentoristas e as irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em nome de toda Igreja Particular de Goiânia, serviram e servem na coordenação desta obra tão linda. De um simples abrigo para o acolhimento de pessoas necessitadas, especialmente pessoas com deficiência, a Vila São Cottolengo foi se especializando e é, hoje, um Hospital de assistência integral e humanizada a pacientes com deficiências múltiplas, em leitos de longa permanência. Atualmente, são 365 pacientes com este perfil, pessoas que são a razão e missão primeiras da existência dessa Obra. Na Vila São Cottolengo, milhares de pessoas receberam e recebem todos os cuidados básicos de alimentação e de higiene. Revista da Arquidiocese
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De vestuário e de assistência médica. De enfermagem e de atendimento terapêutico multiprofissional. Há vários anos, depois de consolidada a criação de escolas internas, muitas crianças, adolescentes e adultos também frequentam aulas de ensino especial e as oficinas pedagógicas, conforme suas capacidades individuais, além de praticarem esportes e participarem de atividades de cultura e lazer. O atendimento a todas essas pessoas é baseado na atenção e no carinho, e a presença constante das irmãs e dos padres, norteia os valores éticos e espirituais, aliados ao trabalho competente de uma grande equipe de profissionais de várias áreas. Recentemente, foi criado o Hospital São Cottolengo, que atende diariamente a 2.400 pacientes não internos com consultas em diversas especialidades médicas, serviços de diagnóstico por imagem, terapias de apoio, laboratório, serviço odontológico, e um grande centro cirúrgico com infraestrutura completa para a realização de cirurgias de média e pequena complexidades. A Vila São Cottolengo também é gestora do Programa ReabilitarRevista da Arquidiocese
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Medicina Física e Medicina Auditiva, que faz a concessão de órteses, próteses ortopédicas e auditivas e meios auxiliares de locomoção a pacientes do Sistema Único de Saúde. Portanto, ao longo desses 60 anos de existência, a Vila São Cottolengo foi consolidando sua dedicada atuação nas áreas Social, da Saúde, Educação, Cultura e Lazer. Com a missão de promover vida com qualidade para a pessoa com deficiência e em situação de vulnerabilidade social, essa obra é reconhecida, hoje, como a mais tradicional instituição filantrópica do CentroOeste do Brasil. Nossa fé nos leva a proclamar, com alegria, que a Vila São Cottolengo é uma obra que se apresenta como fruto da fidelidade à vontade do Divino Pai Eterno. A arquidiocese de Goiânia, graças às Irmãs Filhas da Caridade e aos Missionários Redentoristas, como também, a generosos benfeitores, aos funcionários e colaboradores voluntários, se torna presente, por amor, na vida de tantos irmãos e irmãs, que às vezes só dispõem deste único recurso. E agora que chegamos a uma data jubilar tão importante, cabe-nos a
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tarefa de pedir ao Divino Pai Eterno, que nos conserve, sempre atentos, ao seu doce querer, e jamais tomemos distância do cumprimento de nossa missão. Agradecemos a todas as pessoas que, pela força da fi delidade na busca do Reino dos céus, doaram muito do que tinham
e do que eram para fazer crescer a Vila São Cott olengo. Agradecemos também a todos os que hoje, pela mesma força de fi delidade, conservam a herança recebida, cuidam do patrimônio de bondade da Vila e projetam essa obra para um futuro ainda mais bonito.
Divino Pai Eterno, só a partir do amor a liberdade germina; só a partir da fé as nossas asas podem crescer. Despertai-nos para a fonte cristalina dos vossos mandamentos. Ajudai-nos a enxergar o homem e o mundo com um olhar límpido e um coração próximo. Divino Pai Eterno, é uma tarefa e uma aventura, viver hoje na vossa lei, observar os vossos mandamentos. Derramai sobre nós o vosso Espírito Santo, luz dos corações, doce refrigério, óleo do vosso amor; para que nossos pés caminhem, nossas mãos se abram, e nosso carro rode sem queixas egoístas nem cansaços. Divino Pai Eterno, ensina-nos a sonhar, amar e servir, por Cristo Nosso Senhor. Amém!
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Aniversário do monsenhor José Pereira de Maria DOM WASHINGTON CRUZ, CP 17de fevereiro de 2011 “Tu és o Messias” Termina a história do dilúvio com a aliança que Deus faz com Noé e sua família, e com o reinício de uma nova humanidade. O juízo de Deus foi justo, mas salvador e misericordioso. Deus abençoa Noé e sua descendência. É, portanto, uma bênção “universal”, destinada a todos os homens, sem qualquer exceção: a vida é o primeiro dom de Deus. Esta nova bênção acontece mesmo com o pecado da humanidade: portanto, para além do pecado, Deus conserva seu amor por suas criaturas. Entre as cláusulas da aliança há detalhes que se referem à comida, mas, sobretudo, Deus exige uma coisa importante: o respeito aos ir-
mãos, porque cada um deles é imagem de Deus. Depois do assassinato de Abel, que representava toda a maldade do coração humano, Deus, para sua nova humanidade, quer um coração novo, que respeite não só a vida mas também a honra e o bem-estar do irmão. Faltar contra o irmão vai ser agora faltar contra o próprio Deus. Para os semitas, os fenômenos meteorológicos eram sinais de Deus: tudo o que se passava “no céu” pertencia precisamente a esse domínio divino sobre o qual o homem não tem poder algum. Deus propõe aqui, como sinal deste pacto com Noé, o arco-íris. Deus começa de novo, esperançosamente, agora com a família Revista da Arquidiocese
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de Noé, depois da purificação geral do dilúvio. Não temos Deus contra. Sempre a favor. Apesar de todo o mal que temos feito, Deus continua nos amando e concedendo um voto de confiança. “Quem dizem os homens que eu sou?” Esta pequena, mas fundamental sondagem de opinião sobre a pessoa de Jesus, feita por ele mesmo com os seus discípulos, marca o início de sua última e definitiva etapa terrena. “Quem dizem os homens que eu sou?” Com uma primeira pergunta Jesus prepara o terreno. Antes de entrar em questões pessoais, faz uma pergunta, que não compromete nada. Quer apenas saber o que os outros opinam sobre ele. E os discípulos se mostram auto falantes e cheios de si: “Uns dizem que és João Batista; outros dizem que és Elias; e outros ainda que és um dos profetas”. Pensam que Jesus ficará tranquilo e satisfeito com essa resposta, mas não foi assim. Para Jesus a resposta que eles deram não era nada importante, nem era o que ele buscava. “E vós, quem dizeis que eu sou?” E dessa vez a resposta já foi diRevista da Arquidiocese
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ferente. Foi uma resposta que comprometeu mais, sobretudo sabendo que a Jesus não se pode enganar. Como se Jesus pedisse mais clareza em relação à sua pessoa, procurando esclarecer a postura pessoal de cada um. “Por que me estás seguindo?” “Que viste em mim de especial para me seguires?” “Até onde estás disposto a me seguir?” “Crês que os outros veem coerência entre a tua postura e a tua vida?” “E vós, quem dizeis que eu sou?” Só Pedro, como em outras ocasiões, tenta romper o gelo e solucionar da melhor forma possível o dilema: “Tu és o Messias”, responde Pedro. E todos respiram aliviados, crendo que não se podia responder mais nem melhor. E tinham razão. Se, de verdade, Jesus fosse para eles o Messias, o Senhor, o Filho de Deus, Deus conosco, não podiam ter respondido melhor, representados por Pedro. Jesus aceitou a resposta, ao menos naquele momento. E, ainda que não o tenha dito, ficou contente com a postura e a sinceridade de Pedro. Mas, ao mesmo tempo, percebeu o pobre conceito que eles tinham de seu messianismo. E,
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imediatamente, lhes explica o que isto significava, e o que teria de acontecer ao verdadeiro Messias em Jerusalém: “O Filho do homem padecerá muito, será rejeitado, condenado, executado e, depois de três dias, ressuscitará. Afirmao com meridiana clareza, mas a atitude de Pedro demonstra que o que eles tinham entendido, ainda não era bem o que Jesus estava lhes dizendo. Pedro, então, quis dar uma lição ao Mestre, sobre o que Ele, como Messias, tinha que fazer e evitar. A espontaneidade de Pedro foi boa, mas o levou a passar por um constrangimento. Porque o Mestre responde: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens”. Mais tarde, Pedro e os discípulos chegarão a “pensar como Deus”, e acabarão por dar, como resposta à pergunta que o Senhor lhes fizera naquele dia, um grande testemunho de vida, não respondendo com uma frase feita, mas com o martírio. Senhor, eu, como Pedro, te digo hoje, com plena convicção, que tu és o Messias, o Filho de Deus, meu Salvador e meu Senhor. Peço-te ter também a coragem de te confessar
diante dos homens que não te conhecem ou se envergonham de ser discípulos teus. E também te peço não ser como Pedro que pensava como os homens, quando quis te persuadir a afastar-te da Cruz. Adoro tua Cruz e quero seguir-te cada dia com a minha. Celebramos hoje mais um aniversário do Mons. José Pereira de Maria. Mons. Pereira, o homem de fé toma consciência de quanto é amado por Deus, amado com amor eterno, na medida em que os anos passam. E é levado a descobrir que tudo é dom de Deus, que tudo é uma carícia de seu amor. Somos um pequeno lápis na mão de Deus, com o qual ele escreve sua carta de amor ao mundo. Cada novo dia é uma página em branco no diário de nossa vida. O lápis está na mão de Deus, mas nem todas as linhas serão escritas como desejamos. Há os imprevistos do amor de Deus. O segredo da vida está em fazer da nossa história a mais bela possível. Escrever o diário da vida e encher suas páginas com palavras nascidas do coração. À medida que as páginas vão sendo escritas encontramos dores e alegrias. Mas, Revista da Arquidiocese
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se temos consciência de estar na palma da mão do Pai que está escrevendo uma mensagem de seu amor… sempre haverá esperança para o dia de amanhã. “O Pai sabe bem do que precisais”. Celebrar todo nosso aniversário é uma oportunidade que o Senhor nos oferece para darmos graças. Graças a Deus e graças aos irmãos. Avançar nos anos é como escalar
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uma grande montanha. Enquanto se sobe, as forças diminuem, mas o olhar vai se tornando mais livre, a vista mais ampla e serena. O homem de fé não envelhece quando percebe as rugas em sua pele, mas quando se enrugam seus sonhos e suas esperanças. Avançar nos anos signifi ca enxergar Deus sempre mais próximo. Parabéns Monsenhor Pereira. Muito obrigado!
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Maurício Brandolize
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Dedicação da Igreja Matriz do Divino Pai Eterno DOM WASHINGTON CRUZ, CP Trindade, 15 de abril de 2011 Irmãos e Irmãs, todos os templos possuem uma história e uma préhistória. Em 1840, havia aqui apenas uma pequena Casa de Oração, coberta com folhas de buriti, construída por Constantino Xavier e sua esposa Ana Rosa. Em 1866, foi demolida a Casa de Oração (Oratório) e construída uma Capela maior, coberta com telhas. O crescimento da devoção
ao Pai, das graças obtidas e da consolidação da comunidade levaram à construção de um novo templo, concluído em 1878, com altares laterais e torres. Em 1912, foi inaugurado outro templo, edifi cado em mutirão, construído em estilo colonial, com duas torres revestidas de latão e o interior com “linhas em estilo românico”. Em 1921, veio da Alemanha um Revista da Arquidiocese
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grande relógio que foi colocado na parte frontal da igreja. Depois disso, várias foram as reformas por que passou a Matriz de Trindade até se chegar a esta última, motivo de júbilo para todos nós. A Palavra de Deus que ouvimos convida-nos a aprofundar o sentido desta celebração. Dedicar significa: consagrar, destinar um lugar ou um objeto ao uso sagrado. A Dedicação é o solene rito litúrgico, reservado ao bispo, pelo qual uma igreja e seu altar ficam consagrados e destinados ao culto divino. O Antigo Testamento descreve o carinho que o povo hebreu tinha para com o templo. A oração responsorial dos salmos no templo, os cânticos, a oferta dos sacrifícios no altar, as longas caminhadas para chegar ao templo em Jerusalém, tudo isso expressa a importância existencial e a unidade do povo em torno do templo. Na primeira leitura, tirada da Profecia de Ezequiel (Ez 47,1-12) encontramos a imagem do rio que nascia da parte subterrânea do templo cujas águas se avolumam sempre mais e, quando entram no Mar Morto (onde não há vida), purifica suas águas dando possiRevista da Arquidiocese
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bilidade de animais e peixes em abundância. O rio é fecundo e em suas margens crescem árvores frutíferas que são alimento e remédio. O templo marcou a vida de Jesus. Após seu nascimento, foi apresentado no templo ao Senhor – acolhido por Simeão e Ana (Lc 2, 22-38); e no templo José e Maria ofereceram dois pombinhos (Lc 2,24). Quando Jesus completou doze anos, conforme o costume, José e Maria o levaram a Jerusalém para a festa da Páscoa. Lá o perderam e só o encontraram três dias depois. Ele estava no Templo, sentado em meio aos doutores, ouvindo-os e interrogando-os (Lc 2, 41-46). É no templo (a sinagoga) que Jesus proclama a leitura do profeta Isaías e anuncia a realização daquela boa-notícia que Ele havia lido (Lc 4, 16-21). No Evangelho, que hoje ouvimos, Jesus entra no templo e faz uma purificação significativa. O Templo estava sendo lugar de comércio, exploração e roubo. Jesus critica a exterioridade, a exploração do sentimento do povo, a religião sem justiça e amor, o uso do templo para fins estranhos como a vaidade, o orgulho e o comércio explorador. Não aceita o comércio da fé. Não aceita também a humilhação
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dos pobres, templos de Deus, considerando feito a Ele o que se faz ao um pequenino (Mt 25,40). O templo construído de pedra, tijolo, cimento ou madeira não é o significado último da fé cristã. Mas assim como foi para Jesus, também é uma importante referência de nossa experiência comunitária de fé. A construção ou a reforma de uma igreja costuma ser ocasião importante da caminhada em conjunto de uma paróquia, que em muito contribui para edificar a igreja do Povo de Deus, edifício sempre precisado de reforma. A Igreja está sempre em reforma. A igreja-templo possui idade, história, importância, abrangência pastoral e características arquitetônicas distintas. Por isso, há nomes que as distinguem: capela, igrejamatriz, igreja paroquial, santuário, basílica. Esta é a Igreja Matriz do Divino Pai Eterno. A simbologia do Templo material leva-nos a reconhecer que o templo significa a habitação de Deus no meio do Seu Povo. Deus peregrina com os homens, partilha da sua sorte, como Pai, respeitando a liberdade e autonomia dos seus filhos, e torna-se próximo para estabelecer o diálogo que Ele
tanto deseja e que o Povo de Deus tanto necessita. Através da Encarnação, se estabelece uma relação tão profunda entre o ser humano e Deus, que Jesus Cristo identificou o verdadeiro templo com ele mesmo. A igreja-templo é sinal visível que aponta para Deus e para um povo nele constituído. Quando passamos por uma igreja, costumamos nos benzer com o sinal da cruz, lembrando-nos que a Santíssima Trindade habita em nós. Quando estamos no templo, fazemos a experiência sensível de que Deus nos acolhe em seu coração. Que todos os membros da comunidade cristã de Trindade olhem para a sua igreja paroquial e descubram nela o sinal visível de Jesus Cristo que quis habitar no meio de nós. Ele, sim, é o verdadeiro templo onde Deus habita. Deste modo, todo ser humano pode caminhar para Deus, através daquele que disse de si mesmo: “Eu sou o caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,8). Todos os sinais da bênção e dedicação de uma igreja nos elevam para o sagrado, para Deus que habita aquele lugar privilegiado de oração, de celebração dos sacramentos, por meio dos quais a Revista da Arquidiocese
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comunidade cristã se alimenta com os gestos salvadores de Jesus Cristo, e partilha, em ação de graças, o amor fraterno. Termino com uma palavra de congratulação e de agradecimento a todos os que tornaram possível a reforma desta igreja, desde os fi éis que contribuíram com o seu dízi-
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mo, ao Sr. Governador, ao pároco, Pe. Marco Aurélio, aos demais redentoristas que aqui atuam, aos trabalhadores, às comissões que se organizaram para este fi m, numa palavra, a toda a Comunidade Católica de Trindade. Que o Divino Pai Eterno cumule de bênçãos todos os presentes.
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Mudar é preciso DOM WASHINGTON CRUZ Arcebispo Metropolitano de Goiânia (publicado no jornal Diário da Manhã) 17 de janeiro de 2011 Há quem pense que uma transferência de lugar promovida pelo bispo em relação ao responsável por uma paróquia tenha a ver sempre com descontentamento, correção ou punição. Quem pensa assim se desprende da fantástica oportunidade de contemplar o dinamismo missionário como componente essencial do serviço prestado pelos padres às comunidades cristãs. Transferência de lugar é um recurso antigo na Igreja para ajudar todos, padres e paroquianos, a oxigenar suas práticas e a crescer na fi delidade ao evangelho. O tempo, os costumes, os hábitos administrativos, as acomodações pastorais naturais acabam por exigir que, de vez em quando, se faça uma movimentação dentro do clero e se ofereça uma nova oportunidade de traba-
lho para aqueles que se dispõem a renovar-se com alegria e serenidade. A esses e às suas comunidades aparece, seguramente, um tempo novo cheio de graça e de ventos favoráveis para o engrandecimento da ação evangelizadora. Isso sem falar que ajuda na essencial prática do desapego e na incrível experiência do recomeço esperançoso. Várias comunidades da Arquidiocese de Goiânia estão vivendo, neste início de 2011, uma experiência de mudança de pároco. Os padres estão sendo convidados a se despedirem de seus queridos irmãos e irmãs de um determinado lugar no qual estiveram por muitos anos para ir enriquecer a vida e a caminhada de outras paróquias. As comunidades reagem de modo compreensível quando lamentam Revista da Arquidiocese
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essas transferências. Os padres também enfrentam fortes momentos de discernimento, mas todos se abrem de maneira edificante ao novo quadro de trabalho evangelizador nos 27 municípios que compõem a arquidiocese. Se em algum lugar, esse tipo de situação causa tensões maiores, pode-se procurar, com fraterna disposição, encontrar o modo certo de salvaguardar valores essenciais como o respeito, a paciência, o espírito de sacrifício e a coragem de enfrentar desafios. Em raríssimos casos de conflitos abertos ou de insatisfações mais radicais, é importante descobrir o caminho de volta ao bom senso e ao da busca da libertação interior proporcionada pelo evangelho de Cristo que aponta para o compromisso com o serviço livre e desinteressado. Não é o caso de elencar as razões atuais e concretas mais importantes para realizar essa movimentação, mas está no coração de nossa Igreja Particular o desejo já antigo de dar aos novos padres oportunidades de assumir comunidades mais carentes e necessitadas do vigor dos jovens. Entre os sacerdotes mais idosos que se encontram há décadas no mesmo trabalho também Revista da Arquidiocese
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crescia, com manifestações esporádicas, a disposição de buscar novos horizontes. Os padres que estão com plenas condições de trabalho não encontram dificuldades maiores para reorganizações tão positivas e importantes para o fortalecimento da missão da Igreja. E, claro, as comunidades onde esses valentes sacerdotes servem têm também dado sinais frequentes de que algumas mudanças seriam muito saudáveis e concorreriam para o bem e a garantia do encantador anúncio da Boa Nova. Como Pastor dessa porção maravilhosa do Povo de Deus, tenho vivido com os padres e com todos os membros das comunidades, as expectativas, e procurado compreender as reações diante dessas mudanças. Nossa intenção é profundamente abençoada pelo dever de buscar o melhor para o trabalho pastoral. Ainda que o anúncio oficial não tenha sido publicado, nas comunidades estão acontecendo as transferências e a maior e mais consistente parte do efeito dessa movimentação é marcada pelo comovente bem-querer que as pessoas têm pelos seus párocos, pela alegria em receber novos coordenadores para o trabalho de evangeli-
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zação e pelo belíssimo testemunho de desapego dos nossos sacerdotes. A Igreja toda se renova e se alegra com o resultado desse movimento. A arquidiocese de Goiânia que está às portas da realização do seu pri-
meiro Sínodo Arquidiocesano fi ca ainda mais forte para aprofundar seu compromisso com a Palavra de Deus, celebrar, na fé, o mistério do Cristo e de expandir as raízes da sua prática da caridade.
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O caminho do bem DOM WASHINGTON CRUZ Arcebispo Metropolitano de Goiânia (publicado no jornal O Popular) 22 de abril de 2011 Jesus passou a vida fazendo o bem. Com estas palavras, o apóstolo Pedro anuncia e apresenta Jesus aos judeus (At 10,34-38). Não poderia ser diferente, nos últimos momentos de sua peregrinação terrena. O caminho da cruz é o caminho do bem. A via-sacra é fazer o caminho que o próprio Senhor Jesus fez até a morte no madeiro da cruz. No madeiro da cruz, sinal de sofrimento e de redenção, Jesus não morreu nem de velhice e nem de morte natural ou repentina. A morte de cruz foi o resultado de uma vida imbuída dos valores do bem que o Reino exigiria anunciar e a consequência jurídica de uma violência praticada contra o Filho do Homem, desde a sua captura no Getsêmani, passando pelos
julgamentos frente às autoridades romanas até chegar ao veredito popular: “Crucifi ca-o”. Porém, sob a ótica da fé, nos ombros de Jesus pesam o pecado e a iniquidade de todos e naquele ato, mais do que violência, o que vemos é o sacrifício redentor que Ele quis fazer por livre obediência de sua vontade à vontade do Pai (Fl. 2,8). Por isso, lembramos este caminho, que é um caminho sagrado, que é um caminho de dor, de sofrimento, de encontro e de silêncio. Caminho que nos faz entrar no mistério central da nossa fé: a paixão, a morte e ressurreição de Jesus. Assim, fazer a via-sacra é também percorrer, sob a fé no crucifi cado, o próprio caminho da nossa vida, à luz de Deus. Carregar a cruz, sob o amoroso olhar do Crucifi cado Revista da Arquidiocese
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Pastoral Carcerária entrega sugestões à Susepe EM REUNIÃO NA CÚRIA METROPOLITANA, COORDENADORAS DA PASTORAL AVALIAM COMO ‘POSITIVA’ A NOMEAÇÃO DE EDÍLSON DE BRITO PARA A SUSEPE 10 de janeiro de 2011 Em reunião realizada na Cúria Metropolitana, no dia 7 de janeiro, a Pastoral Carcerária teve o primeiro encontro com a cúpula da nova diretoria da Superintendência do Sistema de Execução Penal (Susepe), comandada agora por Edílson de Brito, recém-nomeado pelo governador Marconi Perillo para o cargo e anunciado também presidente da futura Agência Prisional de Goiás. Estiveram presentes a coordenadora nacional da Pastoral Carcerária, irmã Petra Silvia Pfaller, bem como a coordenadora estadual, irmã Maria José Monteiro de Oliveira. A pastoral repassou ofício avaliando como “positiva” a nomeação de Edílson e ressal-
tou a necessidade de união para conseguir benefícios para a área. “Queremos ser parceiros e trabalhar juntos para a melhoria do sistema prisional goiano”, disse a irmã Petra. No documento de 11 páginas assinado pelas duas coordenadoras, a Pastoral Carcerária cita a criação do Módulo de Respeito, implantado em unidades prisionais do Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia. “O Módulo de Respeito mostrou responsabilidade e compromisso com a Execução Penal”, diz Ir. Petra. O projeto foi implantado em Goiás na primeira gestão de Edílson de Brito frente à Susepe. As coordenadoras também fi zeRevista da Arquidiocese
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ram sugestões para a gestão do trabalho como melhorias na saúSuperintendente, elegendo como de ao detento e soluções para a prioridades várias frentes de superlotação.
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Dom Washington recebe Comenda do TRT ARCEBISPO DE GOIÂNIA É CONDECORADO PELO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO POR TRABALHOS EM PROL DA COMUNIDADE 18 de janeiro de 2011 O arcebispo de Goiânia e grãochanceler da PUC Goiás, Dom Washington Cruz, recebeu no dia 17, do Tribunal Regional do Trabalho, a Comenda Ordem Anhanguera, do Mérito Judiciário. Estiveram presentes no evento, o presidente do TRT, desembargador Gentil Pio de Oliveira, o chefe de gabinete da PUC Goiás, professor Lorenzo Lago, também representando o reitor Wolmir Amado, além de procuradores, desembargadores e conselheiros do judiciário. A Comenda busca homenagear pessoas que se destacam no estado, em trabalhos em prol da comunidade. “Atribuo todas essas honrarias a nosso Senhor Jesus Cristo, a quem represento na Igreja”, disse
Dom Washington, ao agradecer a homenagem. A seguir, o arcebispo de Goiânia celebrou uma missa em ação de graças, com a participação do Pe. Éverson de Faria. O presidente do TRT enfatizou a importância do arcebispo para Goiás. “Este evento é uma honra para o Ministério Trabalhista. Ele é uma fi gura ímpar na história do estado por sua grandeza e simplicidade na sua conduta”, reconheceu. Dom Washington também refl etiu sobre o papel do poder judiciário. “É aqui que a balança pesa. Não é o mais forte, o mais rico ou o mais importante que deve vencer. Isso deve ser feito àquele que a possui, ainda que seja o mais pobre ou o mais humilde”, afi rmou.
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Batinas Futebol Clube goleia vereadores em 1ª partida TIME DE PADRES DA ARQUIDIOCESE DE GOIÂNIA ESTREIA COM NOVO NOME EM JOGO BENEFICENTE E VENCE SELEÇÃO DA CÂMARA DE SENADOR CANEDO POR 5 A 1 22 de fevereiro de 2011 A noite do dia 21 de fevereiro foi de um futebol especial para a população de Senador Canedo. Em prol das obras de conclusão da nova sede da Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, o Estádio Plínio José de Souza recebeu jogo entre o Batinas Futebol Clube – equipe dos padres da Arquidiocese de Goiânia – e o time da Câmara de vereadores da cidade. O placar foi incontestá-
vel: 5 a 1 para os sacerdotes. Cerca de 2 mil ingressos foram vendidos, ao preço de 4 reais a unidade. O arcebispo Dom Washington Cruz esteve presente, saudou o público e os jogadores e deu o pontapé para o segundo tempo. No jogo, desde o começo, o Batinas, em sua estreia com nome e uniforme defi nitivos, teve maior volume de jogo e perdia várias Revista da Arquidiocese
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oportunidades de gol. Mas foi dos políticos o primeiro gol, com Sérgio, depois de cobrança de escanteio. Ainda no primeiro tempo, a equipe visitante – que tinha o maciço apoio da torcida presente – virou o jogo, com gols de padre Lázaro e padre Luiz Alberto (de pênalti). No intervalo, com a presença de Dom Washington, houve o sorteio de vários brindes para a plateia. Os últimos 45 minutos foram marcados pela dominância do Batinas, que fez mais três gols: dois com o padre Flávio Marchesini e o último com padre Ozaine. Curiosamente, o nome do jogo foi o goleiro da equipe, pa-
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dre Carlos Gomes, que fez belas defesas e assegurou o desequilíbrio no placar em favor dos sacerdotes. Recebeu elogios dos presentes ao estádio, inclusive da imprensa, chegando a ser comparado, em aparência e desempenho, ao goleiro Márcio, do Atlético – de quem ganhou, como torcedor atleticano, a camisa, autografada que usou na partida. No fi m, a vitória foi da comunidade católica de Senador Canedo, liderada pelo pároco Amauri Mazzoleni – promotor do jogo –, que ganhou fôlego fi nanceiro para o término da igreja, por sinal, muito bonita e moderna.
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Dom Washington abre a Campanha da Fraternidade ATERRO SANITÁRIO DE GOIÂNIA É PALCO DE DISCUSSÃO E REFLEXÃO ACERCA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS QUE O PLANETA VEM SOFRENDO 9 de março de 2011 Em uma cerimônia bem diferente das tradicionalmente organizadas pela Arquidiocese de Goiânia, o arcebispo metropolitano, Dom Washington Cruz, abriu a Campanha da Fraternidade deste ano, que tem como tema “Fraternidade e a Vida no Planeta” e como lema “A criação geme em dores de parto (Rm 8,22)”. Toda a solenidade foi realizada nas dependências do Aterro Sanitário de Goiânia, para
reforçar o compromisso da Igreja de se envolver na causa ambiental. O evento contou com a presença do prefeito da capital, Paulo Garcia, que elogiou a iniciativa da Igreja de tomar frente em uma das maiores preocupações da humanidade no momento, o futuro da vida na Terra. Ele lembrou de outros temas da Campanha da Fraternidade também ligadas ao meio ambiente e colocou a administração municipal à Revista da Arquidiocese
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disposição para o que for possível. Em seu discurso, Dom Washington ressaltou o compromisso dos cristãos com o planeta e a defesa da vida, “especialmente do meio ambiente”, e terminou sua fala com uma oração de São Francisco de Assis – “o santo que mais se aproxi-
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mou da fi gura de Jesus” –, sempre lembrado quando se fala do amor à natureza. Depois do encerramento da cerimônia, o arcebispo visitou as instalações do aterro sanitário em companhia da imprensa e ciceroneado pelo presidente da Comurg, Luciano Henrique de Castro.
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Sessão na Assembleia lembra Campanha da Fraternidade AUTORIDADES POLÍTICAS E PARLAMENTARES PARTICIPARAM DA APRESENTAÇÃO DA CF 211, QUE ABORDA URGÊNCIA DA QUESTÃO AMBIENTAL 29 de março de 2011 Uma sessão especial sobre a Campanha da Fraternidade 2011, proposta pelo deputado Humberto Aidar (PT) foi realizada, no plenário da Assembleia Legislativa, em solenidade que contou com a presença de Dom Washington Cruz, além de autoridades municipais, estaduais e parlamentares. Leigos de várias comunidades da Arquidiocese de Goiânia – como das paróquias São Geraldo (Goianira) e Santo Inácio
de Loyola (Conjunto Riviera). O centro da audiência foi a discussão do tema “Fraternidade e a Vida no Planeta”. Em sua fala aos presentes, o arcebispo metropolitano fez alusão também ao lema da Campanha da Fraternidade – “A criação geme em dores de parto” (Rm 8,22) – e alertou para o “modo desastrado” com o qual a humanidade tem lidado com o planeta nos últimos tempos. “A questão Revista da Arquidiocese
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ecológica representa um problema moral cujas implicações são basicamente duas: a solidariedade para com os pobres e o direito das futuras gerações”, discursou Dom Washington. Autor da propositura da sessão, Humberto Aidar – que foi lembrado
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pelo arcebispo como um “deputado vicentino” – disse na tribuna que serão necessárias “criatividade”, “iniciativas simples” em nível pessoal e “iniciativas mais elaboradas”, em forma de leis, para garantir o reordenamento e a sustentabilidade das cidades.
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Padre Zezinho participa de evento da Pastoral da Moradia PARÓQUIA SANTO INÁCIO DE LOYOLA RECEBEU O CANTOR E COMPOSITOR NA ENTREGA DA 100ª CASA ERGUIDA POR GRUPO DE LEIGOS VOLUNTÁRIOS 9 de abril de 2011 “Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte / Que ninguém interfira no lar e na vida dos dois/ Que ninguém os obrigue a viver sem nenhum horizonte / Que eles vivam do ontem, do hoje, e em função de um depois!”
Loyola. Desde 2002 pessoas dispostas a ajudar famílias necessitadas a ter um lugar digno para viver se reúnem mensalmente e, em regime de mutiração e por meio de doações, constroem mensalmente uma casa para quem não tem teto. Esse trecho da Oração pela Família, Para comemorar a entrega da cenuma das mais famosas canções do tésima casa a ser doada, uma missa cantor católico Padre Zezinho, ins- especial presidida por José Fernandes pira o trabalho da Pastoral da Mo- de Oliveira, o próprio Pe. Zezinho, foi radia da Paróquia Santo Inácio de realizada dia 9 de abril, no campo Revista da Arquidiocese
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de futebol em frente à sede da paróquia, no Conjunto Riviera. O convite para que Padre Zezinho estivesse presente na celebração comemorativa veio da motivação inicial do projeto, que sempre usou o trecho da canção Oração pela Família na entrega do novo lar. Em seus nove anos de trabalho, a pastoral da paróquia realizou, pelas mãos de seus membros, o sonho da moradia digna a famílias de Goiânia e de municípios como Aparecida de Goiânia, Senador Canedo, Goianira, Aragoiânia, Bela Vista, Anápolis e Nova Veneza. Com a proposta de amenizar o grave problema social da falta de moradia, o trabalho é realizado em mutirão e a casa é construída num só dia. O coordenador da Pastoral, Paulo César Martins – Paulinho, explica a importância do trabalho: “Todas as famílias precisam de um lar com dignidade para criar os filhos. E nossa missão é ajudar os irmãos a concretizar esse sonho”. Que nenhuma família... O coordenador, que também é um dos fundadores da pastoral, relembra que em uma palestra na época da criação da Pastoral teve como canto final a Oração pela Revista da Arquidiocese
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Família, destacando o trecho: “Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte”. E até hoje, sempre que as chaves de uma nova residência são entregues, a canção é entoada junto com o desejo de que possa de fato ser um ambiente de vida e harmonia para a família. Na centésima edição de entrega de chaves, a canção foi entoada pelo próprio compositor da canção, o padre Zezinho. O pároco da Paróquia Santo Inácio de Loyola, Padre Roque João Bieger, ressalta essa intuição motivadora e lembra a importância pastoral do trabalho: “É um bonito serviço e uma dinâmica ação pastoral. Tanto com o resultado, como com o trabalho das cerca de 40 pessoas voluntárias que dedicam seu tempo de forma alegre e ajudam a construir o Reino de Deus e a colocar o Evangelho em prática”. Um dos desafios da Pastoral da Moradia é promover, cada vez mais, a evangelização por meio desse trabalho social. Segundo o coordenador, Paulo César, o intuito é de aproveitar os momentos junto às famílias para levar uma mensagem especial. “Precisamos cada vez mais promover a evangelização: sempre iniciamos com a
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leitura do Evangelho do dia, faze- comparação com o trabalho desenmos uma refl exão e temos momen- volvido: “Tem que ser um trabalho tos de oração”. Paulinho faz uma alicerçado em Deus!”.
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Arquidiocese integra comitê de combate à dengue IGREJA DECLARA QUE AÇÕES CONTRA O MOSQUITO AEDES AEGYPTI É UMA QUESTÃO DE FRATERNIDADE 15 de abril de 2011 A luta contra a dengue vai arregimentar forças do poder público e de diversas entidades e instituições em um comitê de combate à proliferação do mosquito Aedes aegypti. A Arquidiocese de Goiânia também foi convida e participa do movimento por meio de seu representante, José Eduardo Albuquerque de Macedo Costa, servidor da Cúria Metropolitana. Entre as várias iniciativas pro-
postas a partir da criação do comitê está a constituição da fi gura do “síndico dengueiro”, uma pessoa treinada pelos órgãos de saúde que será responsável por atuar na fi scalização e na prevenção e no combate de qualquer possível foco em seu local de residência. Para a luta contra a dengue, se juntaram as Secretarias Municipal e Estadual de Saúde, além da Arquidiocese, entidades como Sesi, Revista da Arquidiocese
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Sesc, Senai, OVG, PUC Goiás, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. A cidade de Goiânia foi dividida em sete regiões e foi marcado um Dia de Mobilização Estadual Contra a Dengue, que ocorrerá em 14 de maio, centralizando suas ações na capital no Cepal do Jardim América.
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A luta contra a dengue chega em sintonia com o tema da Campanha da Fraternidade deste ano, Fraternidade e a Vida no Planeta, pelo qual se depreende a necessidade de cuidar melhor do lixo e da água – ações que são efetivas também no combate ao mosquito vetor da doença.
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PRF e Arquidiocese juntas pela paz no trânsito POLÍCIA CONVOCA OS MOTORISTAS EM VIAGEM A RESPEITAREM AS LEIS NO SENTIDO DE REDUZIR A OCORRÊNCIA DE TRAGÉDIAS NAS ESTRADAS 25 de abril de 2011 A Polícia Rodoviária Federal e a Arquidiocese de Goiânia estiveram novamente em parceria para a abertura da Operação Semana Santa, desta vez em uma reedição aprimorada de um trabalho que já ocorre há quatro anos sempre nesse feriado. Como já virou tradição, o arcebispo metropolitano, Dom Washington Cruz, abençoou, na quarta-feira, dia 20 de abril, os mo-
toristas em viagem, para aproveitar o feriado de Tiradentes (21) e da Semana Santa (22 a 24). A bênção, foi realizada às 9h, na BR153, no Km 133. Mas este ano o evento foi acrescido de outras atividades. A principal delas foi o pedido para que os condutores trafeguessam com seus veículos de faróis acesos, simbolizando um alerta contra a Revista da Arquidiocese
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violência e as mortes nas rodovias. “Será uma forma diferente e inovadora de mostrar a indignação da população com a irresponsabilidade no trânsito”, explica o inspetor Newton Moraes, um dos idealizadores do projeto, que se chama Uma Luz para a Vida. O tema da Campanha da Fraternidade deste ano (Fraternidade e a Vida no Planeta) também foi realçado, com alerta, entre outras coisas, para a regulagem dos motores – evitando a emissão acentuada de gases – e para que não se jogue lixo pela janela do veículo. “Já ocorreu
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caso de morte por conta disso, com um coco que foi arremessado de um carro”, diz o inspetor. Outra iniciativa interessante foi a distribuição de panfl etos ilustrados pelo cartunista Mariosan. A campanha ganhou a adesão de empresas que vão custear os materiais. Melhor ainda: a Polícia Rodoviária Federal resolveu aderir à campanha em nível nacional. A expectativa é de que o esforço conjunto entre PRF e Igreja cause a redução dos trágicos números do carnaval, que bateu recordes de mortes nas estradas.
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CF 2011: o planeta pede socorro IGREJA ENVOLVE PESSOAS, COMUNIDADES E ENTIDADES EM TORNO DE ESTRATÉGIAS PARA ENFRENTAR OS PROBLEMAS AMBIENTAIS NO BRASIL 10 de fevereiro de 2011 A Campanha da Fraternidade 2011, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), foi discutida em mesa redonda Wolmir Amado, Antonio Pasqualett o e Altair Sales pelos professores da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), na Reunião Mensal de Pastoral realizada em fevereiro. A temática apresentada contribuiu para a conscientização das comunidades cristãs e
das pessoas de boa vontade sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, além de motivá-las a participar dos debates e ações que visam enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta. Para o sucesso da campanha, algumas estratégias deverão ser adotadas, declarou Wolmir Amado. “Mobilizar pessoas, comunidades, igrejas, religiões e sociedade para Revista da Arquidiocese
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assumirem o protagonismo na construção de alternativas; propor atitudes, comportamentos e práticas fundamentados em valores que tenham a vida como referência no relacionamento com o meio ambiente; denunciar situações e apontar responsabilidades”, são algumas das medidas a serem realizadas, disse ele. Para Altair Sales, o clima do planeta é resultante da interação de muitos fatores, inclusive dos seres que integram a biodiversidade que ele hospeda. O ser humano é também um agente que colabora, com considerável parcela, na composição do clima. O aquecimento global é uma mudança climática que traz consigo uma série de desdobramentos. Quando se fala em aquecimento global, quer dizer que ocorre a elevação dos valores médios da temperatura na superfície do planeta, o que pode provocar alterações de várias ordens, como no regime e intensidade das chuvas. O efeito estufa é um processo natural, sem o qual a temperatura na superfície terrestre seria, durante o dia, muito quente e, à noite, muito fria. Assim sendo, pode-se dizer que o efeito estufa é uma espécie de “instrumento”, mediante o qual Revista da Arquidiocese
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a Terra oferece uma temperatura média constante, necessária para a vida. A principal causa de um desequilíbrio no efeito estufa é a produção exagerada do dióxido de carbono (CO2), o gás carbônico, pela combustão de combustíveis fósseis: petróleo, gás natural, carvão e desmatamento. O gás carbônico é responsável por cerca de 64% do efeito estufa – diariamente são enviados cerca de 6 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera, complementou Altair. Ele explicou que a análise de ar capturada no gelo mostra um aumento considerável dos gases de efeito estufa a partir de 1750. Essa data marca o início da aceleração do processo de industrialização. Se as emissões de gases de efeito estufa continuarem no ritmo atual ou forem ainda mais intensas, um aquecimento maior irá ocorrer. Isso, por sua vez, agravará as mudanças no clima global. A temperatura da superfície deve aumentar em cerca de 2,4°C até 2050. Disse ainda que a implantação do sistema industrial de produção de bens e o do consumo compulsivo, inclusive de produtos supérfluos, intensificou a extração de materiais
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da natureza e ocasionou profundas transformações na face do planeta. Quase a metade da população vive, hoje, em cidades ou megacidades. No século 20, a urbanização aumentou dez vezes. A produção industrial cresceu 40 vezes nesse mesmo período e a demanda energética exigiu que o setor crescesse 16 vezes. Quase metade da superfície do planeta passou por transformações. A emissão de alguns gases de efeito estufa cresceu exponencialmente. A maior preocupação recai sobre o dióxido de carbono, que aumentou a sua concentração na atmosfera em 40% após o início da industrialização. Para ele, o crescimento econômico e a vida em sociedade baseados na industrialização capitalista e socialista foram alavancados pelas fontes energéticas não renováveis, como os combustíveis fósseis, que emitem grandes quantidades de CO₂ e vapor de água, dois dos principais responsáveis pelo efeito estufa. A emissão de CO₂ no Brasil é diferente da maioria da dos outros países do planeta. Os dados oficiais de 2005 apontam que 24% das emissões deste gás provêm do uso de combustíveis fósseis e 76% do uso da terra, incluídos os desmata-
mentos e queimadas. Assim, dados do Balanço Energético Nacional (BEM) de 2008, tendo como base o ano de 2007, indicam que 45,9% da produção de energia no País são resultantes de fontes renováveis. No entanto, é preocupante o direcionamento que as recentes decisões do governo estão conferindo à questão das fontes energéticas. De acordo com professor Antonio, é preciso sensibilizar o ser humano. Enchente no sul, no nordeste, no sudeste, na Amazônia e no CentroOeste, no pantanal! Césio 137 em Goiânia. Poluição em Cubatão. Mortandade de Peixes nos Rios do Rio Grande do Sul. Deslizamento em Niterói. Ciclone em Santa Catarina. Tornado em São Paulo. Catástrofe na Região Serrana do Rio de Janeiro. Todos, eventos recentes, na nossa memória e que permanecerão na história. O que falta? Quais serão as próximas notícias avassaladoras? Indagou o professor. “Comecemos a olhar para a vida”, complementou. “Qualquer espécie, seja ela vegetal ou animal, depende basicamente de três coisas para sobreviver, que as definirei como 3 As: ar, água e alimentos. Quanto tempo permanecemos sem alimento? Baseando Revista da Arquidiocese
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no evangelho constata-se que Jesus suportou 40 dias (Lc 4.1-13). Um ser humano suporta o extremo de 60 dias sem se alimentar, se gozar de boas condições físicas e mentais, mas morre após este prazo por degeneração de órgãos e tecidos. Em média consumimos 2000 a 3000Kcal/hab/dia ou seja, 1kg de alimentos/hab/dia e geramos 1kg/ hab/dia de resíduos sólidos (lixo), deste 60% são restos de comida. Além disto, geramos 2kg/hab/dia de entulho de construções. Pagamos pelos alimentos? Sim, mas não apenas pagamos, mas nossos alimentos são, em muitos casos, contaminados e mais recentemente, transgênicos, ou seja, pagamos por algo que não é saudável ao nosso organismo. Quanto tempo permanecemos vivos sem ÁGUA? Não suportamos mais que 48h e em média consumimos 2 l/hab. dia-1 de água para matar a sede e em média 200 l/hab.dia-1 para nossas necessidades diversas e destes, 85% a 90% retornam aos rios na forma de efluentes (esgotos)”. Segundo informações do Antonio Pasqualetto, na América latina, 85 milhões de pessoas não têm água potável e 115 milhões vivem sem saneamento básico. Esta situação é Revista da Arquidiocese
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apontada como responsável direta pela morte de 1,5 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade, vitimadas por diarreia. Pagamos pela água? Perguntou o professor. “Pagamos apenas pelo tratamento da água e não pelo produto enquanto recurso natural, pagamento este que pela Lei 9433/97 (política de recursos hídricos) é dotado de valor econômico, por ser um bem finito, portanto passível de ser cobrado, mediante aprovação do plano de bacia hidrográfica pelos respectivos comitês. Entretanto, a água que consumimos traz consigo muitos riscos de contaminação na origem e percurso. Mesmo com tratamento, as ETAs (estações de tratamento de água) são concebidas para tratar a água contaminada por agentes naturais como folhas e partículas de solo, não são eficientes em retirar resíduos de agrotóxicos, antibióticos e anticoncepcionais, bem como demais substâncias sintéticas. E quanto tempo ficamos sem ar? Bons mergulhadores fazem apneia por 5 a 7 minutos, mas pessoas comuns como nós não suportaríamos mais do que 2 a 3 minutos. Nossos pulmões utilizam em torno de 100 metros cúbicos/hab/dia. Pagamos pelo ar que
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respiramos? Muitos dizem não, mas indiretamente pagamos na medida que em busca de melhor qualidade de vida, nos afastamos da cidade e moramos em condomínios fechados. Pagamos também indiretamente quando pelas péssimas condições do ar procuramos mais os médicos, especialmente na época de seca. Aristóteles já dizia que o ar é portador de muitos benefícios, mas transporta consigo muitas enfermidades. Pagamos se precisarmos de UTI, onde os balões de oxigênio custam os olhos da cara e a vida passa a ter preço”, relatou. “Cabe à própria espécie humana encontrar a solução para o caos que gerou. Somos 7 bilhões de habitantes e nossa pegada ecológica é
assustadora. Se a população do planeta se multiplicou por 4 no século passado, a atividade econômica cresceu 10 vezes somente entre 1950 e 2000. A capacidade de suporte do planeta está excedida em 45%. Para manter os atuais níveis de consumo, necessitaríamos de 2 planetas Terra. Somos passageiros enquanto indivíduos no planeta Terra, mas gostaríamos que a espécie humana se perpetuasse. Afi nal, que legado queremos deixar a nossos descendentes? Cabe lembrar a Carta do Cacique Seattle, em 1855 e entender que a Terra nos é dada por empréstimo de nossos fi lhos e netos e como inquilinos, devemos devolvê-la em igual ou melhor estado daquela que recebemos”, pontuou o professor.
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Carta Pastoral é apresentada na reunião de março LIVRO TEM INTUITO DE FORTALECER O COMPROMISSO NA COMUNIDADE, PROMOVENDO A UNIDADE EM BUSCA DA SANTIDADE 10 de março de 2011 A segunda Reunião Mensal de Pastoral de 2011 teve como tema a apresentação da Carta Pastoral n° 12 – O amor vence tudo – escrita pelo Arcebispo de Goiânia, Dom Washington Cruz. Padre Rafael Vieira iniciou o encontro apresentando a música Lenha, composição de Zeca Baleiro. E ressaltou um trecho da canção, em que o cantor faz um questionamento: “Eu amo você, mas não sei o quê isso quer dizer...”. “O vasto campo semântico da palavra ‘amor’: fala-se de amor da pátria, amor à profi ssão, amor entre amigos, amor ao trabalho, amor entre pais e fi lhos, entre irmãos e familiares, amor ao próximo e amor a Deus. Em toda esta gama de signifi cados, porém, o amor entre o homem e a mulher... so-
bressai como arquétipo de amor por excelência... Surge então a questão: todas estas formas de amor no fi m das contas unifi cam-se sendo o amor, apesar de toda a diversidade das suas manifestações, em última instância um só, ou, ao contrário, utilizamos uma mesma palavra para indicar realidades totalmente diferentes?” Segundo a análise do Pe. Rafael, Dom Washington Cruz ao escrever a Carta Pastoral, não defi ne o amor, porque ele considera que nós já o conheçamos. Para o arcebispo, o amor é movimento, é corajoso. O amor supera tudo, dá segurança, não se intimida, tem poder e, além disso, é vencedor. De acordo com ele, a Carta Pastoral só tem sentido se contribuir, se somar, se ajudar a pessoa no serviço Revista da Arquidiocese
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dos padres, religiosos (as) e agentes de pastorais. E ainda, o amor que ele apresenta é a resposta para a vida pessoal, familiar, comunitária, social e comprometida com a vida do planeta. A Carta Pastoral também joga luzes, desperta percepções novas, pois, Dom Washington escreve no intuito de fortalecer o compromisso na comunidade, promovendo a unidade em busca da santidade. Esta Carta Pastoral conclui a preparação para o Sínodo Arquidiocesano. No primeiro ano a Igreja vivenciou a Palavra, fundamento do amor; no segundo ano a Liturgia que é a celebração do amor e neste ano contempla a Caridade/Amor, Palavra encarnada, conteúdo maior da Liturgia. Padre Rafael resumiu e destacou algumas partes importantes da Carta Pastoral. “O amor é esse que nos faz sair da zona de conforto para ir ao encontro do outro, do marginali-
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zado, do oprimido, do necessitado desse amor”, enfatizou. “Pela caridade, colocai-vos a serviço uns dos outros” (Gl 5,13). O Monsenhor Daniel Langi encerrou a manhã apresentando os organismo da caridade da Arquidiocese de Goiânia, como a Feira da Solidariedade e também de outras obras sociais. E para isso contou com a participação e presença do Coordenador Pastoral dos Vicentinos e da Santa Casa de Misericórdia, Donizete Luiz, da Assistente Social e Coordenadora da Equipe Multiprofi ssional da Vila São Cottolengo, Daniela Mendes e da senhora Gislaine Morais, também da Fonoaudióloga, Professora e Coordenadora de Estágios e Extensão da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC), Cejana Baiocci e da Conselheira Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e Professora da PUC, Maria Luiza.
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Caridade é novamente discutida em reunião DOM WALDEMAR PASSINI, BISPO AUXILIAR, E PADRE LUIZ HENRIQUE ABORDAM IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA DO AMOR UNIVERSAL 15 de abril de 2011
No mês de abril, a arquidicese de Goiânia realizou outro momento de estudos sobre a Caridade durante a Reunião Mensal de Pastoral. O encontro foi enriquecido pelas sábias palavras do bispo auxiliar, Dom Waldemar Passini e do padre, Luiz Henrique que refl etiram sobre a caridade cristã e suas bases bíblicas. “O amor vence tudo é luz para a nossa razão, luz para absorver equívocos. O amor não é só questão de conveniência... Deus ama seu povo, fi el diante da infi delidade do povo, Deus conduz seu povo para a terra prometida, terra, local de comunhão”, revelou Dom Waldemar após leitura do Livro de Oseias, capítulo 11, versículos de 1 a 10. “... o amor de Deus também é erótico, cheio de paixão”, ao di-
zer isso, Pe. Luiz espantou todos os presentes. Dizer que o amor de Deus é erótico é dizer que este amor de Deus é ao mesmo tempo eros, philia e ágape. Pois o amor de Deus é um amor de totalidade. Não é um amor “em partes”. O amor do Senhor é único e precisa ser trabalhado em nosso interior. Assim como São Paulo diz nas Sagradas Escrituras: “A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará”. (1Cor 13, 4-8) Revista da Arquidiocese
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