EDITH STEIN - FILHA DE ISRAEL "Um exemplo eloquente da extraordinária renovação interior é a experiência espiritual de Edith Stein. Uma jovem em busca da verdade, graças à ação silenciosa da graça, chegou a ser santa e mártir: é Teresa Benedita da Cruz, que hoje, do Céu, nos repete a todos as palavras que marcaram a sua existência: Quanto a mim, livre-me Deus de Gloriar-me senão na cruz de Jesus Cristo senhor nosso (cf. Gál 6, 14)". João Paulo II, homilia de canonização de Edith Stein.
FINDAVA O INVERNO DE 1945 A pequena cidade de Echt, no Limburgo holandês, encolhida de frio, ansiava pela primavera próxima para curar suas feridas. Pouca gente nas ruas. Trânsito quase nenhum nesta manhã de libertação. Um automóvel militar que atravessava a cidade atraiu a atenção dos habitantes. Tinha sido reconhecido o Padre Superior do Carmelo de Geleen, acompanhado do Rev. Padre van Bréda, professor da Universidade de Louvain. O carro parou diante de um montão de ruínas, o antigo Carmelo, destruído pelos bombardeios. Os habitantes ficaram surpresos de ver estes dois eclesiásticos descerem, abrirem caminho penosamente nos escombros, e iniciar a procura de papéis esparsos e enlameados. Quando tiveram certeza de não encontrar mais nenhum fragmento de papel, reuniram com grande cuidado o fruto de seu trabalho e partiram. Que interesse poderia ter este resto de papéis? Tratava-se de folhas manuscritas de uma importante obra de filosofia, abandonada na sua cela por uma carmelita, bruscamente deportada para o Leste em agosto de 1942. "L´être fini et l´être éternel" (A criatura mortal e o Ser eterno) assim se chamava esta obra filosófica, a mais importante da vida da irmã Thérèse-Bénédicte de la Croix. Este nome religioso era o de convertida, discípula preferida Edmundo Husserl, célebre no alemão antes de abraçar a
Edith Stein. Judia do grande filósofo mundo intelectual religião, ela foi,
segundo o testemunho de Dom Walzer, abade de Beuron, uma das mulheres mais eminentes de nossa época. Sua vida e sua conversão são um admirável canto de fidelidade à luz da graça. Tudo parecia separála do cristianismo seu meio natal, a educação judia que recebeu, o estudo aos pés de um mestre eminente, cuja filosofia devia seduzir fortemente sua grande inteligência, a perspectiva de uma carreira universitária que se prenunciava das mais brilhantes. Passo a passo ela soube responder ao chamado de Deus, triunfando sucessivamente de todos os obstáculos que a separavam d´Ele.
FILHA DE ISRAEL 12 de outubro de 1891. Havia festa na família Stein. A grande casa da rua Saint-Michel, em Breslau, de aspecto geralmente severo, parecia sorrir neste dia. As seis crianças do casal Stein se acrescentava uma menina, que se chamaria Edith. Para termos uma ideia da atmosfera deste lar israelita, é necessário visualizar certas águas fortes de Rembrandt, onde o artista nos transmitiu, com fidelidade, a fisionomia dos interiores judeus do ghetto de Amsterdam. Desde seus primeiros passos, a pequena Edith estava enquadrada em um clima do Antigo Testamento. Tudo lhe falava do Povo de Deus. As imagens da Bíblia nas paredes da casa, os motivos gravados sobre as arcas de carvalho, as preces tradicionais recitadas em hebreu, os ritos do Talmude fielmente observados e sobretudo o admirável exemplo de uma mãe profundamente