Corrupção poltica e a igreja

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Classe: Evangelho para hoje Mediador: Daniel Carvalho

CORRUPÇÃO POLÍTICA E A IGREJA Introdução Antes de ingressar no assunto, é necessário estabelecer algumas definições para que possamos todos falar a partir dos mesmos referenciais. Inicialmente, destaca-se que a palavra “corrupção”, na Bíblia, geralmente está associada a ideia de morte espiritual, do estado espiritual humano após a queda (I Coríntios 15:50, Gálatas 6:8, Romanos 8:21) ou a ideia de degradação do corpo humano, isto é, a morte física (Atos 13:37, Salmos 16:10, I Coríntios 15:42). Assim, em raras passagens bíblicas se encontrará a palavra “corrupção” com o sentido que temos atualmente, de crime/lesão contra a administração pública, até porque, no tempo em que foi escrita a Bíblia o poder público tinha uma configuração totalmente diferente, onde o poder estatal na maioria das vezes estava concentrado na figura do governante e os administrados não tinham como questionar a ação governamental. Isto não significa que a Bíblia seja omissa quanto ao tema, apenas a nomenclatura usada é que é diferente. Esta espécie de conduta geralmente estará nomeada como “injustiça”, “maldade” ou “roubo” (Levítico 19:15, Jeremias 22:13, Ezequiel 22:29). Quando o tema é política, ao contrário do que se possa imaginar, há numerosas passagens bíblicas relatando a história de reis e reinos, conflitos políticos, campanhas militares, como relatado pelo pastor Franklin Ferreira no vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=61OJHiCIRxI. A história protestante também nos mostra participação ativa de crentes em causas políticas, como a abolição da escravatura, a luta pela igualdade racial, a contribuição no desenvolvimento de modelos de governança, como o federalismo e a república, dentre outros. Esclarecidos estes pontos conceitos, vamos ingressar no tema proposto de imediato. Igreja e Estado Acho que um bom ponto de partida para o assunto é conversarmos sobre o conceito de Estado laico e se isto é bom ou ruim. Quanto mais nos deslocamos para o passado histórico, mais comum é encontrarmos o poder político concentrado nas mãos de uma pessoa, uma família


ou um grupo específico e, na maioria esmagadora das vezes, com sobreposição do poder religioso. Ou havia uma teocracia, onde a lei civil se confundia com a lei religiosa. Ou o próprio governante era o deus vivo, sendo a sua palavra a própria lei. Este cenário político – a história nos comprova – era pródigo em construir tiranos, ditadores, déspotas cruéis que tinham o povo como fonte de lucro e trabalho escravo. Os líderes religiosos, associados a tais políticos, reforçavam o modelo e se beneficiavam das benesses estatais, quando não eram eles mesmos quem eram os líderes políticos. Nesta segunda hipótese, quando líderes religiosos detinham também o poder político, invariavelmente, eram cometidas atrocidades em nome da divindade, acúmulo de riqueza dos clérigos e Igreja em detrimento da população e abuso de poder. “O poder corrompe, o poder absoluto corrompe absolutamente”. Esta é uma frase do historiador católico e liberal John E. E. Dalberg Acton, ou simplesmente Lord Acton1, que virou ditado popular. Não por outro motivo, o modelo adotado pela maioria dos países democráticos é o da repartição de poderes, cujo objetivo central é impedir que uma única pessoa ou grupo detenha em suas mãos grande parte do controle estatal e que cada poder supervisione e limite os outros. Foi um modelo alternativo ao Estado Absolutista que vigia até então. Aliada a esta medida, verificou-se que a ligação do Estado com a igreja contribuía para esta concentração de poder. Verificou-se, ainda, que o Estado não deveria privilegiar esta ou aquela crença, preferida pela maioria ou pela liderança política, em detrimento das demais. Foi sendo forjado, então, o direito de liberdade de crença e culto e, mais recentemente, o de Estado laico. Todas estas medidas não foram suficientes para conter a tendência controladora e corrupta do Estado, sendo necessário o desenvolvimento do conceito de cidadania e de direitos do cidadão contra o próprio Estado como meio de se defender da opressão, violência e corrupção estatal. Apesar de todo o desenvolvimento nesta área, você deve saber na prática que não tem sido suficiente, mas voltemos ao que nos interessa no momento. No Brasil, enquanto a igreja protestante era proibida, não sendo permitida a construção de templos ou a sua identificação com a cruz, os protestantes sempre lutaram pelo direito de liberdade de crença e culto e por um Estado laico, isto é, um Estado que trate as religiões/crenças sem qualquer preferência ou privilégio.

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http://veja.abril.com.br/blog/rodrigo-constantino/democracia/o-poder-corrompe-e-o-poder-absolutocorrompe-absolutamente/


Todavia, à medida que a igreja protestante foi admitida e colocada em pé de igualdade de direitos com a igreja católica romana, recebendo privilégios que antes somente a esta eram conferidos, como a isenção de tributos, doação de terrenos para construção de templos, recebimento de valores para cultos, etc, infelizmente, a luta por um Estado verdadeiramente laico cessou e passamos a lutar pela manutenção destes privilégios. O certo é que, do ponto de vista histórico, o Estado laico é um avanço, fracionando o poder estatal entre vários personagens. Para a igreja é melhor ainda, pois livra seus líderes da tentação de corromperem-se pelo/para o poder e nos deixa livres para poder falar contra o Estado sem medo de perder este ou aquele privilégio. Outro ponto que me parece importante é que, apesar de Cristo se autoproclamar como Rei (Marcos 15:2, Atos 17:6-7) e haver inaugurado o seu Reino (Lucas 10:9), este Reino não é deste mundo (João 18:36) e suas leis somente serão prazerosas para seus súditos (João 16:7-11, Salmo 119:24). Logo, não faz sentido um Estado com leis religiosas por imposição, a pretexto de estar atendendo um preceito divino. Infelizmente, como disse, me parece que a Igreja evangélica no Brasil luta por um estado laico apenas nos aspectos que lhe são convenientes. Crentes na política Tudo isto não quer dizer que a política deve ser uma área proibida aos crentes, mesmo a política partidária. É perfeitamente lícito aos crentes participarem de discussões políticas, atos políticos, disputarem eleições, etc. Deus pode chamar servos Seus para atuar na esfera pública, inclusive em cargos eletivos (o Espírito sopra onde e como quer), como bem esclarece o rev. Hernandes Dias Lopes https://www.youtube.com/watch?v=PO6GJ9uo7q0, sendo esta uma nobre vocação. O que não se pode admitir é a confusão entre estas esferas com candidato crente pedindo voto na comunidade cristã ou transformando-se a Igreja em curral eleitoral. A Igreja, por óbvio, tem atuação política, mas sua atuação, num estado laico, deve ser isenta, sem vinculação a partidos políticos ou a políticos. A propósito, recomendo o seguinte vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=yeVcZJGoYEg. O que se deve esperar de um candidato/político crente não é que ele defenda a Igreja, seus privilégios. Quem defende a Igreja é Cristo. O que se deve esperar de alguém assim é que busque a justiça, o bem comum, lute por distribuição de renda, por melhor educação e saúde públicas, que seja honesto.


O candidato crente também não deve esperar votos certos da sua igreja local ou da comunidade cristã. Ele deve mostrar que merece os votos dos crentes e descrentes pelas boas propostas que tenha e pela sua conduta. Ainda é preciso referir que os indivíduos crentes, talvez com medo de parecerem vinculados à política partidária, são apáticos na defesa de seus candidatos, principalmente quando eles possuem a mesma fé. A prática tem mostrado que estes irmãos, eleitos, têm uma caminhada política muito difícil, pois, de um lado, sendo honestos, serão perseguidos pela cúpula partidária e, de outro lado, serão vistos com desconfiança pela comunidade evangélica https://www.youtube.com/watch?v=eawLiC3Xk8Q. A corrupção (política) no Brasil O Brasil é o país do jeitinho, da “carteirada”, do amigo influente, da do “vender dificuldades para cobrar facilidades”, onde os fins justificam os meios e o crime compensa. É a lei de Gerson: deve-se levar vantagem em tudo. Temos variadas expressões idiomáticas que atestam este traço da nossa identidade cultural: a corrupção, a desonestidade, a injustiça. A desonestidade é até mesmo valorizada, chamando-se de “mané”, “besta”, “otário”, aquele que rejeita participar de algum “esquema”. As justificativas são muitas e variadas, sempre minimizando o fato praticado e/ou colocando a vítima como culpada por ter sido desatenta, desorganizada ou ingênua. Alguém que neste cenário pratica um ato honesto, devolvendo dinheiro encontrado, por exemplo, é manchete de jornal e homenageado como alguém acima da média. A corrupção está em quase tudo: desde o troco a maior da padaria que não é devolvido até as negociatas em licitações em empresas estatais. As negociatas envolvendo dinheiro público, as denúncias contra políticos (algumas que nem chegam a ser comprovadas) enchem a nossa boca de indignação e de revolta, mas a desonestidade de alguns levando uma resma de papel (ou caneta) do trabalho pra casa ou comprando um produto pirata não são nada demais (é quase um direito). A Bíblia, entretanto, tem outro critério: “Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito” (Lucas 16:10). Dizendo de outra forma: se eu levo para casa a resma de papel da minha repartição, muito provavelmente, se lá estivesse, eu cometeria os crimes denunciados na Petrobrás. A conduta é a mesma, só muda a proporção.


Talvez você não tenha ficado muito satisfeito ou não concorde com isto, mas é a Bíblia quem afirma... Se o seu coração ama o dinheiro e/ou o poder, se o seu olho brilha quando vê uma oportunidade de ficar com R$0,50 do troco da padaria, se você ama receber honrarias e privilégios, não se engane: a chance de você se corromper [no meio político] é enorme! Ou seja, a corrupção existente na política não é algo isolado, ela apenas reflete a sociedade brasileira. Na igreja evangélica, infelizmente, não é diferente. Estamos cansados de ver líderes evangélicos, valendo-se de sua posição de poder, determinar comportamentos aos crentes, abusar da sua autoridade, quando não metem a mão nos dízimos e ofertas. De outro lado, também não é incomum, infelizmente, vermos tratamento diferenciado de membros nas igrejas, a partir da capacidade econômica dos membros. Isto também é corrupção2. No campo político-partidário, é comum vermos líderes evangélicos pedindo votos para (contra) este ou aquele candidato/partido, utilizando-se da congregação como massa de manobra. Por certo, tais apoios não são “de graça”. A conta vai chegar, nem que seja com a doação de um terreno público para construção de templo ou a concessão de uma faixa de frequência para rádio ou televisão. Infelizmente, a tendência quando se concentra poder (união do poder religioso com político, no caso) é sempre a manipulação, a injustiça, a corrupção.

injustiça

A Igreja deve ser uma voz profética contra a corrupção e a

A Igreja deve manter distância da política partidária também porque ela deve ser uma voz profética contra a corrupção e injustiça e, como diz o pastor Ariovaldo Ramos: “profeta não vai em festa de rei”3. É dever e papel da Igreja lutar por uma sociedade justa, igualitária, denunciando as mazelas e a omissão do Estado e manifestando-se contra leis injustas, violadoras de direitos de pessoas, mesmo que descrentes. A conduta que se espera de um político crente é que ele aja no parlamento como age na Igreja. A Igreja deve parar de ser omissa e denunciar (lutar contra) a corrupção, a partir da própria instituição local.

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https://www.youtube.com/watch?v=EsI5MIR7-6c https://www.youtube.com/watch?v=TacT1mBq1ms


A Igreja deve parar de ter uma posição passiva e subalterna perante o Estado e adotar uma posição pró-ativa, de voz profética, sem medo do poder estatal. O ministério profético do Velho Testamento tem muito desta luta contra a injustiça social e contra os abusos dos governantes, senão vejamos alguns exemplos: - o profeta Natã denunciou a injustiça praticada pelo Rei Davi contra Urias (II Samuel 12:1-12); - o profeta Isaías denunciou a ladroagem praticada pelos príncipes e o desamparo aos órfãos e viúvas (Isaías 1); - o profeta Miquéias falou contra a corrupção no poder executivo e judiciário (Miquéias 7:2-4); - o profeta Amós condenou a cobrança exorbitante de tributos com objetivo único de beneficiar o governante (Amós 5:11-12). A Bíblia toda, na verdade, é contrária à exploração e ao abuso contra o semelhante, sempre proclamando que isto é mau e não é a vontade de Deus (Deuteronômio 24:17, Deuteronômio 27:19, Salmo 146:9, Salmo 68:5, Tiago 1:27, Levítico 19:15, Jeremias 22:13, Ezequiel 9:9). Infelizmente, a Igreja brasileira (e nossa denominação) tem se comportado de forma passiva, omissa, furtando-se ao seu ministério profético de denunciar a injustiça e lutar pela promoção do bem para todos4. Vozes isoladas têm se manifestado, é verdade, mas elas não representam a instituição. A instituição, que tem grande força política, tem preferido se omitir e garantir os privilégios existentes. Pior, adotando, não raras vezes, justificativas bíblicas para tal comportamento, como o texto de Romanos 13:1-7. Com todo respeito, utilizar tal passagem para defender uma subserviência a um estado explorador, corrupto e ineficiente é uma miopia espiritual muito grave. Como já dissemos neste estudo e conversamos longamente em aulas anteriores, os crentes servem, antes de tudo, a Cristo e vivem os valores do Seu Reino. Quando o Estado estabelecer leis contrárias aos valores do Reino, desobedeceremos estas leis. Quando o Estado tratar pessoas com injustiça, devemos nos manifestar contrariamente e lutar pelo restabelecimento da justiça. Antes importa obedecer a Deus do que a homens (Atos 5:29). Como indivíduos crentes precisamos nos envolver, também, em ações/movimentos que lutem pela justiça, pela promoção do bem comum, pela

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https://www.youtube.com/watch?v=5aalMaeWziA


denúncia da maldade. Isto também faz parte do caráter cristo. Isto é ser santo, ser sal da terra e luz do mundo. Conclusão Finalizo esta aula com dois textos do pastor Antonio Carlos Costa, que tem sido, dentro de suas limitações, principalmente no Rio de Janeiro, uma voz que se levanta contra a corrupção, a violência e a favor da paz, da justiça social e da promoção do bem comum5. O primeiro texto fala sobre a necessidade do envolvimento político (não necessariamente partidário) por parte do cristão, como manifestação de amor ao próximo: “EXTRAPOLAÇÃO DO AMOR: A DIMENSÃO POLÍTICA DA REGRA DE OURO John Stott, famoso teólogo britânico, morto ano passado aos 90 anos de idade, afirma num dos seus livros que, "a pressão política é uma extrapolação legítima do mandamento de amar ao próximo". O que ele quer dizer com isso? A Bíblia não fala nada explicitamente sobre pressão política. Ela manda amarmos ao próximo, o que significa, entre outras coisas, fazer o que estiver ao nosso alcance para socorrê-lo nas suas necessidades, especialmente, quando este não tem subsídios para socorrer a si mesmo. Esse amor é chamado nas Escrituras de misericórdia. No Estado moderno, neste modelo de sociedade dentro do qual vivemos, certas necessidades humanas só podem ser supridas quando o poder público age. O que fazer quando somos postos em contato com pessoas cuja carência só pode ser suprida mediante a ação de um governo que se recusa a agir? Ali está alguém cuja dor demanda uma resposta do cristão. Este, porém, percebe-se de mãos atadas em razão do fato de - a desgraça daquele que a providência botou em seu caminho para ser socorrido -, depende, para ser mitigada, de políticas públicas que não são implementadas pela autoridade pública. Nestas horas, o amor evangélico, revelado por Cristo nas Escrituras, pede por inferência lógica insofismável, que o único caminho para a solução do problema seja naturalmente tomado. Sendo esse caminho, a pressão política, essa extrapolação do amor tornar-se-á legítima. Tudo o que estou dizendo tornou-se claro para mim através do trabalho de campo. Tenho me deparado todos os dias com seres humanos reais que sofrem por causa da incompetência, falta de compaixão e descaso do poder público. 5

https://www.youtube.com/watch?v=pelwjMjY3zg


Deixe-me falar sobre duas experiências vividas por mim nos últimos anos. Estou numa prisão distribuindo camisas brancas, sandálias havaianas, remédios, pasta de dente. Observo, ao mesmo tempo, que a temperatura das celas chega a quase 57 graus celsius, os cárceres estão superlotados, inocentes encontram-se presos, pessoas que cometeram crimes insignificantes estão enjauladas e não há a mínima perspectiva de reintegração social do apenado. Tem gente que não gosta que falemos de misericórdia pela vida do preso. Pessoas que não olham para suas próprias vidas e não dão conta que o princípio que sustenta sua existência é o favor imerecido de um Deus que sente repulsa pelo que elas fazem. Deixe-me falar de um outro contexto. Estou numa favela onde pessoas vivem abaixo do nível da pobreza. Levo cesta básica para elas. Tomo conhecimento, através desse contato, que policiais estão praticando abuso de poder na localidade. Ao lado dos barracos percebo um rio para onde escorrem o esgoto, um Amazonas de fezes, em cujas margens ratazanas se alimentam do lixo. Crianças morrem de leptospirose. Quem pode dar conta dos problemas supramencionados? Não estou perguntando quem tem a responsabilidade de resolvê-los. Pode acontecer de que assumamos a responsabilidade, em nome do amor, pela inoperância dos outros. A questão é outra. Qual a única solução para estes problemas? A igreja precisa aprender a vivenciar essa "extrapolação do amor". Amor que a levará à imperiosa decisão de se envolver com algo que ela julga tão sujo (não menos sujo do que muita política eclesiástica que conhecemos por aí), a dimensão política da vida”.6 O segundo texto do mesmo autor é bem mais grave e denuncia a nossa omissão como evangélicos diante do estado de coisas em nosso país: “A CONTENDA DE DEUS COM O POVO BRASILEIRO "Ouvi a palavra do Senhor, vós, filhos de Israel, porque o Senhor tem uma contenda com os habitantes da terra; porque nela não há verdade, nem amor, nem conhecimento de Deus. O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios" (Oséias 4:1-2). Creia numa verdade. Ela pode ser provada pelo nosso passado: genocídio de índios e escravos. Ela pode ser confirmada pelo nosso presente: desigualdade, miséria, violência. No nosso país a vida humana não tem valor. É cultural. E como a pregação e o ensino nas 6

https://www.facebook.com/IgrejaBatista/posts/715272641834411


nossas igrejas são fracos, assimétricos e ideológica e culturalmente condicionados - quem se torna membro da instituição religiosa tende a negligenciar as porções mais importantes da Bíblia-, aquelas que falam sobre a dignidade do homem e, consequentemente, destacam a obrigação por parte do que diz conhecer a Deus de gritar quando a santidade da vida humana é ultrajada. Faz uma semana que uma chacina ocorreu na periferia de São Paulo. Numa ação orquestrada por matadores profissionais, homens que entram em crise de abstinência quando deixam de matar, 18 vidas humanas foram interrompidas de modo hediondo. Vimos pelos meios de comunicação cenas perturbadoras. Rodo limpando piso de bar encharcado de sangue. Familiares das vítimas, inconsoláveis, debruçados sobre caixões. Fato igualmente incompreensível foi o silêncio de toda uma cidade. Não houve manifestação de rua. Nenhuma pressão para que as mortes sejam esclarecidas. Nenhum ato em memória das vítimas e solidariedade aos parentes enlutados. Na próxima vez que orarmos pedindo perdão a Deus pelos pecados da igreja e da sociedade, não deixemos de mencionar a banalização da vida humana, a omissão covarde face às históricas e endêmicas violações dos direitos humanos. Falemos francamente com Deus: "Senhor, o maior amor da nossa vida é o que temos por nós mesmos. Pouco nos importa a desgraça que atinge a vida daqueles que chamamos de 'criados à imagem e semelhança de Deus'. No nosso país, a igreja não marcha com Jesus contra os homicídios, a miséria, o abuso de poder, os crimes perpetrados pelo próprio Estado, o dinheiro público que não prioriza o combate à desigualdade social gritante. Compadece-te de nós. Porque Tu não podes suportar ajuntamento solene associado a iniquidade". Deus nos ouvirá. Perdoará a sua e a minha omissão. E nos levará a viver de tal maneira que, você e eu, seremos perseguidos por causa da justiça”7 . Que o poder do Espírito de Cristo possa nos transformar e nos mover a sermos a Sua voz denunciando a maldade e o Seu braço promovendo a justiça e o bem comum! Amém!

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http://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/contenda-de-deus-com-o-povo-brasileiro.html#.Vdl0y_lViko


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