duas faculdades

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VESTIBULAR

MARCO AURÉLIO MARTINS | AG. A TARDE

MIRELA PORTUGAL

Apesar da agenda apertada, Sumaia, 22, não tem problemas com as notas

mportugal@grupoatarde.com.br

Quando chamavam Jamile Queiroz de fominha, ela nem se dignava a responder. No máximo, se alguém insistia em criticar, retrucava: "Gosto de aproveitar oportunidades, e daí?", e abraçava o mundo com braços e pernas. Entre calda de morango e de chocolate, um pouco das duas. Entre fazer jornalismo ou algum curso da área de saúde – seu projeto de vida inicial – a moça de 22 anos tornou-se uma feliz estudante de relações públicas e direito. Pela manhã, Jamile faz estágio num escritório de advocacia. De tarde, o curso de relações públicas é feito na Universidade Estadual da Bahia [Uneb]. À noite, mais quatro horas estudando direito na Unifacs. Ela não conseguiu resistir à tentação de transformar sua vida em uma maratona quando foi aprovada nos dois cursos, após quatro anos de tentativas em vestibulares. "Estava cheia de gás, decidi arriscar e ver qual das faculdades teria mais a ver comigo". Fazer duas graduações simultaneamente é uma opção para indecisos, insatisfeitos com a carreira ou com sede de conhecimento. Quem encara a empreitada precisa de doses cavalares de dedicação, planejamento e cuidado. Jamile já chegou a pegar 12 matérias ao mesmo tempo, e teve de reduzir seu sono para quatro horas diárias em semanas de provas mais pesadas. "No final, vira uma questão de administração, de saber organizar seu tempo", ensina. Depois de três anos, finalmente uma certeza para a estudante: direito é o seu futuro. Mas ela não acha que o sacrifício e a correria da jornada dupla foram inúteis: "Noções de escrita e comunicação são sempre importantes. E o RP, no final das contas, é um advogado da comunicação".

com vestibulares, turnos, locais e mensalidades para todos os gostos e bolsos. Só em Salvador, segundo dados do Ministério da Educação [MEC], são 52 faculdades privadas. Com essa facilidade de oferta, a pressão familiar, outro problema comum entre vestibulandos, parece ser milagrosamente resolvida. Entre a vocação e a vontade paterna, atender ambas parece a saída menos dolorosa. Em seu consultório, não é incomum Ana Cláudia receber estudantes pressionados pelos pais. "Nesses ocasiões, bato nas teclas da afinidade e vocação. Escolhas sob o peso da pressão dos pais quase sempre resultam em profissionais frustrados e infelizes".

ESCOLHA – Especialistas divergem se fazer dois cursos ao mesmo tempo vale mesmo a pena. Uns vêem na prática um aprofundamento válido na formação do estudantes, e outros questionam a qualidade de cursos feitos com menos dedicação. Ana Cláudia Gonçalves, orientadora vocacional, não acha que essa é a melhor saída para os indecisos quanto ao futuro. "O ideal é investir só em uma carreira. Boa parte dos estudantes que fazem dois cursos acabam desistindo no meio do caminho, num desperdício de tempo e energia". Mas outros fatores além das dúvidas vocacionais são responsáveis por tornar a graduação dupla uma realidade acessível. Os últimos anos foram palco da popularização do ensino superior,

CONVERGÊNCIA – Se Jamile preferiu uma das carreiras, só a idéia de optar por apenas um caminho amedronta Sumaia Pereira, 22, sexto semestre de jornalismo na Ufba e oitavo semestre de relações internacionais na Jorge Amado. No começo, ela traçou uma estratégia bem clara: ser correspondente internacional. Hoje, apenas sonha com uma carreira futura que permeie as duas áreas, da maneira que for. "Tento direcionar minhas graduações para que eu possa aproveitar os conhecimentos de uma área na outra". Seus trabalhos de conclusão de curso buscam essa intersecção, tratando da notícia na “hegemonia internacional”. Mesmo com a agenda corrida, Sumaia nunca teve problema com

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SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 3/12/2007

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SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 3/12/2007

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Lado bom

notas. Para deixar as Os ponto s positivo matérias em dia, ela s de faze cursos ao r dois mesmo te estuda nos finais de mpo: semana e quando chega Ampliaçã o de con hecimento em casa. Sumaia lembra, s ❚ sem saudade, da época Amadure cimento profission que chegou a ter três de organ al e senso ização ❚ provas no mesmo dia e pouco sono por noite. Círculo d e amizad es duas v "É complicado, quase maior ❚ ezes sempre os períodos de avaliação coincidem Possibilid ade de e liminar d nas duas faculdades". repetidas isciplinas ❚ Para completar a correria, a estudante Diferencia l no merc ado de tr buscava um estágio abalho ❚ desde o terceiro Ajuda em dúvidas v ocaciona semestre, mas as is ❚ bancas de seleção a rejeitavam, diagnosticando "falta de tempo para dedicar-se à função". Ou então, eram serviços de inviáveis oito horas diárias. Só agora conseguiu um estágio, onde pode colocar em prática o que aprende nos dois cursos. Sumaia também se desdobra para cumprir outras exigências extra-curriculares, como horas de extensão. "Dou um jeito. Falto aulas e me inscrevo em seminários e fóruns". Natural que uma hora ela decida simplesmente jogar a toalha. A estudante não abandona as saídas com amigos, festas, namoro. As apostilas e livros são postos de lado antes que lápis, rímel e batom lhe acompanhem no happy hour do final de semana. Durante a semana, complica. O dia ainda tem apenas 24 horas.

il Lado difíc

s rar dua de enca s o iv t a g ctos ne empo: Os aspe s ao mesmo t e õ ç gradua lver com se envo omo a r a p o es, c mp Falta te xtra-curricular e s orias ❚ projeto e monit s io r ó t labora plano ❚ egundo s m e l cia Vida so e nsporte rial, tra e t a m com Gastos ação ❚ n e alim t lados ❚ s atribu io r á r o ia e h às Dia-a-d mente e plena -s r a ic d para de Não dá s❚ culdade duas fa ❚ estágio ixas de a b s e d ida Possibil

vidas

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Currículo recheado nem sempre abre portas

CAPA ❚ Fazer

mais de um curso exige dedicação e planejamento

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Nem todo mundo agüenta o tranco de fazer duas graduações ao mesmo tempo. Juliana Trinchão, 22, abandonou fisioterapia na Escola Baiana de Medicina depois de quatro semestres cursados simultaneamente com fonoaudiologia na Ufba. Um dia, acordou e descobriu que não tinha mais prazer nas aulas. “No fundo, queria mesmo fono. Além disso, o mercado é menos saturado”, diz. A identificação com os dois cursos não resistiu muito tempo à rotina puxada. Com aulas em Brotas e no Canela, Juliana sempre chegava atrasada. “Não dava para suportar por muito tempo mesmo”. Para a psicóloga Cristiane Vieira, Juliana agiu corretamente. Ela acredita que ter duas graduações no currículo nem sempre é sinal de brilhantismo. “Numa seleção de emprego, quem tem vasta formação pode ao mesmo tempo ser considerado superdinâmico ou ser tachado como uma pessoa que não se prende a nada”, aponta. A exceção viria, segundo Cristiane, se as duas formações forem complementares. “Um profissional graduado em pedagogia e letras, por exemplo, tem um nível de qualificação que não passará despercebido“. Ela sugere que o vestibulando que pretende fazer dois cursos analise o que é melhor para o seu perfil. “Quem já está nessa não deve abandonar a vida pessoal”.

“PAITROCÍNIO“ – A diversão, mais especificamente as farras com os amigos, está na lista de prioridades de Vítor Reis, 23, ao lado dos cursos de licenciatura em química na Uneb e engenharia industrial elétrica no Cefet. Dividido entre as duas graduações desde 2005, Vítor decidiu usar sua manhã livre trabalhando, para dar conta dos gastos com transporte, livros e alimentação multiplicados por dois. “Muitos amigos na mesma situação têm ajuda dos pais, mas eu acabo me bancando sozinho nas despesas. Não é fácil“. Os gastos e o desgaste, porém, são pequenos diante da satisfação de Vítor de aprender em dobro. “Meu objetivo é licenciatura. Mas a engenharia me dá um diferencial, um embasamento teórico muito útil em sala de aula. Ganho mais do que perco com esse meu arranjo“. Mas, afinal, dá para acompanhar com um bom rendimento dois cursos simultâneos? Vítor acha que dedicação ajuda, mas não faz milagre. “Você nunca será 100% em todos. Ainda mais se as faculdades forem boas realmente e te exigirem muito“. Para tentar aproveitar ao máximo os currículos dos cursos, Vítor diminuiu o número de disciplinas por semestre e abriu mão da formatura em quatro anos. “Prefiro ir com calma, não me sobrecarregar. É um sacrifício, mas não me arrependo.“

MARGARIDA NEIDE | AG. A TARDE

Cansada da correria e de sempre chegar atrasada, Juliana, 22, abandonou fisioterapia e cursa “só” fonoaudiologia


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