infra escolar

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CADERNO DEZ!

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NA REAL ❚ Condições precárias de escolas

públicas tornam ensino baiano ainda pior

Estrutura improvisada MIRELA PORTUGAL mportugal@grupoatarde.com.br

Uma caminhada de dez minutos separa o que os alunos apelidaram campus I e campus II da Escola Mestre Paulo dos Anjos, no Bairro da Paz. Mas os prédios nada têm de universitários: o primeiro, um galpão alugado de supermercado com marcas de tiro na porta de metal. O segundo, outra casa em rua sem asfalto. As carteiras estão conservadas e há uma TV em cada sala, mas falta biblioteca. As instalações que deveriam ser provisórias abrigam quase 1.500 alunos, de ensino fundamental e médio, segundo a Secretaria de Educação. Entre eles, Jeremias Carvalho, 18, morador do bairro. O aluno do primeiro ano se acostumou a procurar livros numa ONG e a voltar para casa sem aula quando chove. “Fica impossível de passar. Professor já ganha pouco e ainda fura pneu em buraco”, critica. Em janeiro, o Ministério Público pediu transferência dos alunos. “É necessário construir um novo colégio, com outra infraestrutura para apoio pedagógico”, considera a promotora Márcia Virgens. A SEC não se pronunciou. ESPERA – As chuvas de maio agravaram a situação. No Colégio Estadual Odorico Tavares, na Vitória, o quinto subsolo foi inundado e aulas, suspensas por dois dias. No Duque de Caxias, na Liberdade, estudantes fizeram protesto em apoio a funcionários de serviços gerais sem salários e contra a sujeira e abandono. Alunos do Goés Calmon e Luís Vianna foram às ruas pedindo melhores instalações. “Tem áreas bem depredadas”, queixa-se Douglas Nascimento, 18, do Luiz Vianna. E o problema não existe só em tempos de chuva. ”Falta ventilador, às vezes nem tem porta“. Douglas lembra que a culpa é também do vandalismo. ”Falta

SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 2/6/2009

Enquanto alunos reclamam, escola que funciona em mercado foi cravejada de bala

FERNANDO VIVAS | AG. A TARDE

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quem fiscalize. Não temos estímulo pra estudar“. O Dez! tentou visitar as escolas, mas foi barrado pela SEC. Em nota oficial, a secretaria alegou que os diretores estão “insatisfeitos com as abordagens negativas que os veículos de comunicação vêm adotando com relação às escolas da rede estadual”. A nota não se refere à questão da infraestrutura. Para o chefe de gabinete da SEC, Aderbal de Castro, a falta de estrutura básica nos colégios é problema antigo, monitorado em cada unidade. “Repassamos recursos para pequenas intervenções, executadas pela própria unidade, sob orientação técnica da Diretoria de Projetos, Obras e Manutenção”. Estão em andamento reformas em 118 escolas e previstas para mais 383 unidades. Ao colégio Mestre Paulo dos Anjos, diz o chefe de gabinete, resta esperar a transferência dos alunos para um terreno doado em parceria com a empresa Patrimonial Saraiba, para até o fim do ano. Segundo a secretaria, há um projeto de R$ 6 milhões para a reconstrução do prédio . A permanência dos estudantes por quase três anos no improviso foi necessária para ter um espaço que “atendesse aos padrões mínimos da secretaria”, justifica. SOLUÇÕES – O Colégio Modelo Luís Eduardo Magalhães, na San Martin, é um bom exemplo para Juliana Santana, 15. “Aqui tem muita coisa. As vezes, é o aluno que não aproveita”, conta, admitindo que não usa o estúdio de rádio. “Aqui o aluno conserva o patrimônio”, diz o vice-diretor, Juracy Dourado. A experiência em outros colégios da rede pública também pesa na avaliação de Marcos Andrade, 18, sobre o Instituto Federal da Bahia [IFBahia], antigo Cefet, no Barbalho. O pró-reitor Anilson Gomes explica: “Trabalhamos para dar aos estudantes o melhor. Isso tem relação total com o aprendizado”.

FERNANDO AMORIM | AG. A TARDE

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