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| “Eu tive sorte e iniciativa em pesquisar e nunca parar de estudar, e mesmo não estando numa universidade, me profissionalizei ”
SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 6/10/2008
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Nas ondas da rádio comunitária Terminado o terceiro ano, Ronei procurou uma saída rápida para a grana. Fez um curso de telemarketing e sua boa voz o tornou locutor de rádio. Começou a conhecer os botões, cabos e vinhetas e
depois de duas semanas virou apresentador do Choque Cultural, programa dos sábados e domingos. Mais tarde, mudou de rádio e fez parte de um projeto social em Fazenda Coutos.
Como fazer tudo junto? Administrar o tempo.
SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA, 6/10/2008
Em busca do respeitável público Nesse intervalo, não abandonou suas aulas no grupo PSIU! de teatro, que freqüentava desde os 19 anos. Lá, ganhou o apelido de Sorriso e foi aos palcos com a peça infantil A Lenda
do Dragão Encantado. Para a peça, teve de aprender a técnica de teatro de bonecos e, além de manipulador, tornou-se um artesão e vendedor de bonecos.
“Faço freela, e a grana é sempre pouca; mas quando recebo uma grana, na mesma hora vejo outro trampo”
CAPA ❚ À margem do paradigma bacharelesco da tradição nacional, profissionais
mostram que estudar e vencer não é privilégio de quem passa pela academia
Produzindo na balada
Por outros caminhos
Em 2004, fez um curso de DJ no Pragatecno e tornou-se o Djgo. O delay entre as noites de Salvador e de fora do estado o fizeram criar um projeto de evento,
DIEGO ALMEIDA, 21, SAIU DA FACULDADE PARA VIRAR DJ E PRODUTOR
BRUNO AZIZ
RONEI CONCEIÇÃO, 24, MULTIARTISTA
VESTIBULAR
“Não houve desvantagens que eu não pudesse contornar com alguma criatividade e confiança no meu trabalho”
Produzir um evento? Capital e visão.
Tecnoarte Ligado em artes visuais e tecnologia, fez design gráfico na Unifacs e artes visuais na Ufba, metade do curso (dois anos). Um ano de intercâmbio no Canadá despertou seu interesse para novas opções da área, e ele abandonou as duas graduações.
que não vingou. Três anos depois, com mais contatos e experiência, criou a Boa Noite, festa mensal na boate Boomerangue da qual é o mestre de cerimônias.
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VESTIBULAR
Sapateado Inquieto, a vontade de unir a boa voz com música e atuação o levou a pesquisar sobre sapateado. Achou uma escola e, negociando com a dona, ganhou bolsa integral de um ano.
“Carreira sem diploma não é um caminho muito claro, seguro ou confortável, mas conheci pessoas que conseguiram sucesso”
3,6% dos soteropolitanos (54.183 pessoas) trabalham com arte, com ou sem estudo formal. (fonte: Secult, Pnad e MinC)
Filial São Paulo Depois que a Boa Noite se estabilizou e a família comprovou o sucesso da decisão, Diego decidiu exportar a festa para São Paulo, mas sem extinguir a versão
MIRELA PORTUGAL mportugal@grupoatarde.com.br
Às vésperas da temporada de vestibulares, as propagandas das faculdades miram nos alunos promessas de dinheiro, carreira estável e sucesso. Por trás disso, está o paradigma da educação que sustenta a universidade como caminho dourado para uma carreira dos sonhos. Mas esse modelo não é uma realidade para todos: só no Estado da Bahia, 79,6% dos jovens de 18 a 24 estão fora de cursos de graduação. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE] ilustram não apenas os atrasados pelos índices de repetência, mas chamam atenção para aqueles que vislumbraram outras possibilidades de estudo, crescimento ou qualificação fora da academia. É o que mostram os casos dos três profissionais entrevistados pelo Vestibular. Eles resolveram peitar esse modelo e, por
baiana. Sem desfazer as malas, ele se prepara pra discotecar por lá e volta para a festa do dia 25, uma batalha de I-pods entre Djs. Pensa em voltar à graduação.
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| Técnico Depois de duas seleções para bolsa, começou o curso de técnico de arte, no qual se profissionaliza para ser ator. Pretende fazer vestibulares no final do ano, só não decidiu ainda se administração ou jornalismo.
A INDEPENDÊNCIA É RESULTADO DO AMADURECIMENTO DO PROJETO DE CARREIRA E DO ESTUDO E ESFORÇO PESSOAL
algumas vezes também os pais e amigos, e partiram por outros caminhos para se qualificar dentro das vocações com as quais mais se identificavam. Leonardo Camanho, 25, começou estudando para ser piloto de avião, mudou de idéia e preferiu investir nos concursos. Para Ronei Conceição, 24, enquanto a decisão por fazer ou não uma graduação não chega, os cursos livres são chance para ampla formação de artista. Diego Almeida, 21, saiu da faculdade para investir no próprio negócio. Mesmo aqueles que tiveram curtas passagens pela graduação não trabalharam na área que optaram por estudar. No entanto, são unânimes ao dizer que iniciativa, criatividade e esforço foram fatores mais importantes para se dar bem na vida e superaram a necessidade de ter um diploma. Há infinitas opções para escolher, crescer e ingressar no mercado de trabalho não necessariamente nessa ordem.
Opções Trabalhou na Polícia Civil durante um ano e meio, tempo que levou para ser convocado pela Petrobras. Nesse intervalo, fez vestibular para sistemas de informação, mas hoje o curso está trancado. Leonardo está no Rio de Janeiro, fazendo curso de formação da Polícia Civil, mas pensa em sair e ser técnico.
2.611 vagas foram oferecidas no último concurso da Petrobras (2008)
FOTOS ARQUIVO PESSOAL
LEONARDO CAMANHO, 25, PERITO TÉCNICO DA POLÍCIA CIVIL
“Meu sonho era ser piloto de avião. Mas, quando saí da escola, vi no curso técnico uma entrada mais imediata no mercado”
Desejo de conquistar as alturas De olho na cadeira de piloto, Leonardo terminou o ensino médio no Cefet e passou um ano se preparando para o Escola Preparatória de Cadetes do Ar [Epcar], em Barbacena,
Minas Gerais. Passou na segunda tentativa, arrumou as malas e teve de refazer o 3º ano. De lá, foi para a Academia da Força Aérea [AFA], em Pirassununga, São Paulo.
Concurso? Estudar todo o programa.
Vida de concurseiro Depois de dois anos na Força Aérea, ele viu que não era aquilo que queria e resolveu recomeçar. Voltou para Salvador e começou um curso técnico em informática, segunda área preferida. Ao mesmo
tempo, estudava para concursos e vestibulares. Passou para perito técnico na Polícia Civil. Depois, foi aprovado na Petrobras para técnico de automação [profissional que planeja e controla processos fabris].
“Agora que estou seguindo essa carreira, terei que adiar ainda mais a faculdade, mas não a descarto”