eleições1

Page 1

8

|

CADERNO DEZ!

SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 5/2/2008

|

STEVEN SENNE | AP PHOTO

NA REAL ❚ Superterça deve definir o

provável candidato democrata para 2008

O embate final entre Hillary e Obama MIRELA PORTUGAL mportugal@grupoatarde.com.br

Barack Obama é filho de mulçumanos do Quênia, tem Hussein como primeiro sobrenome e é negro. Hillary Clinton ganhou mais destaque no episódio da traição conjugal de Bill, ao perdoar o marido em cadeia nacional. Analistas apontam que a atual popularidade de Hillary e Obama é resultado de oito anos de um governo republicano desastroso, economia capengando e uma guerra impopular contra o terrorismo. O cenário parece perfeito para entregar as chaves da Casa Branca direto nas mãos de um democrata, apesar de George W. Bush ser reeleito em 2004 em situação semelhante. O provável vencedor pode ser conhecido hoje, o primeiro dia D da escolha presidencial, apelidado de Superterça – mais de 20 estados realizam suas prévias, que definirão 40% dos delegados, aos quais cabem a escolha do candidato democrata e republicano [entenda o mecanismo na página 9]. As eleições de 2008 tiveram sua grandeza anunciada no embate sangrento dentro dos partidos e na situação do país que aguarda o presidente vencedor. O eleitor americano quer um candidato capaz de resgatar a nação da recessão econômica, da crise imobiliária interna e de quebra recuperar a imagem do país no cenário mundial. Segundo o cientista político e professor da USP Gaudêncio Torquato, essas eleições vêm ratificar o fim de um ciclo. ”É o fim do período do império americano. Os EUA perderam credibilidade, e recebem pressões de todos os quadrantes mundiais. O país nunca esteve tão fragilizado“. O

A campanha republicana não despertou tanto alvoroço, mas o nivelamento percebido entre os pré-candidatos e a incerteza da escolha a transformam num capítulo à parte. Mike Huckabee, Mitt Romney, John McCain, Rudolph Giuliani [que desistiu da candidatura] e Ron Paul começaram pulverizando as intenções de votos. Mas a vitória de McCain nas primárias da Flórida deixou o candidato fortalecido como um dos favoritos do partido para concorrer à Casa Branca, ao lado de Mitt Romney. Não há grandes diferenças de tom nos discursos dos herdeiros de Bush. A maioria é contra a retirada das tropas americanas no Iraque, com excessão de Ron Paul, um dos seis congressistas republicanos a votar contra a guerra. São ofensivos quanto à segurança, defendendo o fortalecimento das forças armadas. Eles lutam para se sobressair e levar o voto de 2.380 delegados, mínimo necessário para a candidatura oficial.

professor arrisca uma previsão do resultado. ”Será muito difícil um republicano ganhar. O país quer um fôlego novo. E na história americana é comum a sucessão de partidos após oito anos no poder“. SONHO AMERICANO – Os slogans democratas não deixam dúvidas. ”Change“ [mudança], pede Obama. ”Make history“ [faça história], aconselha Hillary. O senador de Illinois tem o frescor do carisma que arrebata um eleitorado jovem e de classe média. E o apoio da mítica família Kennedy e da apresentadora super popular Oprah Winfrey. A senadora de Nova Iorque usa o marido como cabo eleitoral de luxo, sempre presente em comícios e entrevistas, e apregoa a experiência de quem conhece os corredores do poder. Ambos já abandonaram há muito a fase da trégua e as farpas multiplicam-se. Sempre comedida, Hillary deixou com seu marido a tarefa da descompostura. Gritando com um jornalista da CNN em Charleston, Clinton acusou o comitê de Obama de alimentar a questão racial. ”Eles sabem que é isso o que vocês querem cobrir“, disse Clinton, com o dedo em riste. ”Isso é uma vergonha“, gritou, afastado pelos seguranças das câmeras de TV. Obama se defende. ”Não há um EUA branco e outro negro, e sim os Estados Unidos da América“. O discurso de Obama funcionou mais do que o de Clinton e ele venceu as prévias na Carolina do Sul. A acirrada disputa democrata apaga os outros pré-candidatos republicanos. O comparecimento às urnas republicanas não chega à metade dos democratas, o que não pode ser ignorado, afinal o voto no país não é obrigatório.

Candidatos republicanos contra-atacam

Pré-candidatos democratas disputam indicação nos 50 Estados dos EUA

”É o fim do período do Império Americano. O país nunca esteve tão fragilizado“ Gaudêncio Torquato, professor da USP ❚

FILME DE GUERRA – Em busca da atenção do eleitorado, as estratégias republicanas descambaram para um filme B de artes marciais. Literalmente. Nos comícios do ex-governador do Arkansas, Mike Huckabee, já se tornaram costumeiros os gritos de “Huck-Chuck!”, celebrando o apoio do ator Chuck Norris, presença constante na campanha. Para não ficar atrás do rival de pancadaria, Sylvester Stallone [que já atendeu por Rambo e Rocky Balboa] anunciou seu apoio ao senador do Arizona John McCain, herói – como Rambo – da guerra de Vietnã. ”Gosto muito do McCain“, declarou Stallone na cadeia de televisão Fox News. McCain recebeu outro reforço de peso nas fileiras de guerreiros da direita. O governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger tornou público seu apoio e a vontade de vê-lo comandando a nação. A declaração veio após a vitória de McCain na Flórida, que lhe rendeu 57 delegados e a dianteira no lado republicano. Atores decadentes à parte, republicanos aguardam ansiosos a luta final, na eleição presidencial dos EUA dia 4 de novembro.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.