|
CADERNO DEZ!
Guerra santa e política “Terrorismo de Estado” tem sido a expressão usada para definir os ataques em território palestino. Na contabilidade de bombardeios, foi acrescentado um hospital da Cruz Vermelha árabe, uma instalação de ajuda humanitária da ONU, quatro escolas e o prédio da agência Reuters . O ministro do interior palestino Said Siyam, do governo do Hamas em Gaza, foi morto em explosão na ultima quarta [14/1]. O bombardeio diário pelos foguetes do Hamas continua a ser a justificativa repetida pelas autoridades israelenses. Para o historiador Estevão Martins , professor da Universidade Estadual de Campinas [Unicamp], ela esconde a tensão gerada pelas eleições israelenses em fevereiro. “A extrema-direita cresceu nas pesquisas. A chanceler Tzip Livni quis mostrar que também sabe morder”. Outro elemento por trás da ansiedade bélica é a transição presidencial americana, um vácuo de liberdade. “Sem rédeas, o objetivo é aniquilar a capacidade de armamento do Hamas e garantir as eleições”. Para o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Al Zeben, são utilizados falsos pretextos. “Nossas
❛
“Para os dois lados, a terra é um direito sagrado. Isso gera tensão sem fim”. Millian, professor de direito
organizações paramilitares e políticas buscam direitos que Israel nega. Os mil palestinos mortos são do Hamas?”. Enquanto houverem Qassam, Israel mantém seu direito à auto-defesa, insiste o conselheiro da embaixada de Israel no Brasil, Raphael Singer. “Você pode imaginar 8 mil foguetes caindo em Salvador e o governo não fazendo nada? Crimes de guerra tem é quem usa seu povo como escudo”. GUERRA SANTA – Depois de 60 anos, a questão Israel-Palestina
já teve cenários de paz mais promissores. O país, criado pela ONU em 1948, é norteado pelo direito internacional, que não define leis, mas princípios comuns a todos os povos. Suas leis são baseadas em documentos religiosos, para os quais ambos são legítimos merecedores da terra-santa. “Seja baseado no alcorão ou na torá, a terra é um direito sagrado. Isso gera uma tensão sem fim”, explica Cláudio Millian, o professor de direito internacional da Universidade Salvador [Unifacs]. Para a ONU, fica o retrato do enfraquecimento do humanismo internacional. E para Obama, a impossibilidade de fazer milagre, mesmo que queira, explica José Saraiva, professor de relações internacionais “É o Senado americano quem tem força nessa questão”. O cessar-fogo rompido veio com apoio americano e era previsível, diz o arabista e sociólogo Lejeune Mirhan: ”O acordo era esperado para até a véspera da posse de Obama. A sujeira tem de ser feita dentro do governo Bush“. O saldo de Israel em 23 dias de guerra extenuante, diz, é desgaste internacional e derrota simbólica, mesmo com o enfraquecimento do Hamas .
Protesto em Salvador pede paz Na linha de frente, integrantes do Centro Cultural Islâmico da Bahia seguravam um cartaz pedindo por uma Gaza Livre. Mas foram as bandeiras vermelhas de partidos de esquerda e siglas de entidades sindicais e estudantis a maioria no protesto baiano contra os ataques em território palestino. Na última quarta-feira [13/1], as organizações se manifestaram em frente ao consulado americano em Salvador, na avenida Tancredo Neves, a partir das 10h30. Poucos passantes ergueram os olhos aos pedidos de cessar-fogo. Mas o grupo seguiu condenando a política externa do governo Bush. Logo o carro-palanque transmitia
críticas ao governo Lula e pedidos para a retirada das tropas brasileiras do Haiti. Quando o reggae abaixou pela última vez – Edson Gomes era a trilha até então – o Sheik Abdul Ahmad, representante do centro islâmico, pediu por uma ação mais forte da ONU. “Terroristas não ganham eleição, o Hamas representa o povo. O que vem acontecendo lá é genocídio”. ESTUDANTES – De óculos escuros para fugir do sol e pesadas roupas típicas em guerra com o calor de janeiro, Ibrahim Munin, 26, da Juventude Islâmica da Bahia, reiterava que a guerra não é a solução. “Em Gaza, o tempo
SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 20/1/2009
|
inteiro o povo é atacado, não apenas nas ofensivas. Se não tem guerra, não tem paz”. Ao seu lado, Yahya Ramahn, do Centro Cultural, espera que o ato ajude a conhecer os árabes. “Ando de jalabia [bata até os tornozelos] e me chamam de pai de santo”. Segurando uma bandeira judaica que substituía a Estrela de Davi por uma suástica, Artur Gibson, 23, acusava Israel de chacina. Segundo ele, a imagem não é ofensiva para o povo judeu. ”Somos contra a política de Estado em Israel, não o povo“. No Brasil, houve protestos em São Paulo, Rio de Janeiro e Cuiabá. Na Lavagem do Bonfim também houve manifestos.
Territórios
LÍBANO
SÍRIA
Ma r
6
M
it ed
eo errân
CISJORDÂNIA Tel Aviv
Ramallah Jerusalém
Jibaliyah
JORDÂNIA
Sderot
Rafah Gaza
Beer Sheva
Faixa de Gaza
EGITO ISRAEL
Controle palestino
Assentamento israelense
Controle civil palestino e controle militar israelense
Controle israelense
Muro FONTE AFP
EDITORIA DE ARTE
WELTON ARAÚJO | AG. A TARDE
Manifestantes pediram fim do conflito no consulado dos EUA