Capa do caderno de Cultura - Vampiros, de novo

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SALVADOR TERÇA-FEIRA 1/9/2009

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SALVADOR TERÇA-FEIRA 1/9/2009

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SITE LIZ MARINS, OU LIZ VAMP, COMO PREFERE SER CHAMADA, É A FILHA DO CINEASTA ZÉ DO CAIXÃO E UMA ATIVISTA DA DOAÇÃO DE SANGUE. WWW.VAMPIRA.COM.BR

POP

Arte Enrico Marini / Reprodução A Tarde

VAMPIROS Velhos como o mundo, os chupadores de sangue continuam exercendo seu fascínio em novos lançamentos no cinema, televisão, literatura e quadrinhos

De eremitas antissociais a cordiais membros da comunidade

Retorno triunfal com gostinho de sangue

MIRELA PORTUGAL

Quando o garoto Oskar pergunta a Eli se ela é uma vampira, ela responde simplesmente: “Vivo de sangue”. A vampira de Deixe Ela Entrar tem poder, mas está distante da figura soturna de capa negra e garras afiadas a espreitar no escuro. Crepúsculo e True Blood trazem vampiros vegetarianos e Del Toro fez os seus bem famintos, mas longe de clichês. Sociáveis e racionais ou não, os vampiros nunca foram tão humanos. Longe dos pescoços, os chupadores de sangue abraçaram o papel de banidos sociais, como qualquer outra minoria. Suas diferentes faces seriam um reflexo da sociedade, disse o autor de graphic novels Neil Gaiman em entrevista à revista Enterteinment Weekly de julho. “Os vampiros vêm em ondas, provavelmente estamos no fim de uma nova”. Para o autor de Sandman, a última mudança na eterna crônica vampiresca foi nos anos 80, com o espectro da AIDS. “De repente você tem uma troca de sangue que mata e é fundamentalmente sobre sexo. E vampirismo virou metáfora do ato de amor que mata”. Para o cineasta e crítico do cinema de horror Carlos Reichenbach, o vampiro é antes de tudo a imagem mais mitólogica, o imortal que ao mesmo tempo não pode suportar a luz do dia. Por isso foi prato cheio para clássicos do cinema, sem restrições para filme A ou filme B. “ Ele reúne vida e morte sob um julgamento amoral. Como as mulheres vampiras, até a dos filmes trash. São sempre indepedentes e fortes, filhas da Condessa de Bathory, que se banhava em sangue de virgem ”.

Divulgação

CHICO CASTRO JR. E MIRELA PORTUGAL

Eles estão no topo da cadeia alimentar e também na crista da onda. Os chupadores de sangue do século 21 atacam por todos os lados, e, em breve, não haverá mais aonde se esconder. O sucesso avassalador dos livros e filmes da série Crepúsculo é só a ponta do iceberg vampiresco. No cinema, pelo menos dois filmes que entram em cartaz em breve prometem manter o mito dos caninos avantajados em alta: o sueco Deixe Ela Entrar (Låt den Rätte Komma In, 2008) e o sul-coreano Sede de sangue (Thirst). O primeiro, do diretor Tomas Alfredson, é uma pequena obra-prima que casa ternura e terror em doses iguais ao mostrar o sentimento que surge entre um garotinho catarrento de 12 anos, Oskar (Kåre Hedebrant), alvo dos valentões da escola, e sua nova vizinha, Eli (Lina Leandersson), uma menina da mesma idade, que, ele descobre depois, é uma vampira. Exibido em festivais mundo afora, tem sido alvo de rasgados elogios da crítica. A jovem Lina, com certeza, é a melhor vampira infanto-juvenil a aparecer nas telas desde Kirsten Dunst em Entrevista Com o Vampiro(1994). Não a toa, Hollywood já tem um remake em andamento, com Matt Reeves (do sensacional Cloverfield) na direção. Já o sueco original estreia no dia 18. Ainda mais elogiado pela crítica é Sede de Sangue, novo filme do sul-coreano Park Chan-wook, diretor do aclamado Oldboy (2003). Sua trama conta a história de um padre transformado em vampiro após uma experiência científica e seu relacionamento – nada casto – com uma garota. Premiado com o Grande Prêmio do Júri no último Festival de Cannes, o filme estreia, vejam só, no mesmo dia de Deixe Ela Entrar. Coincidência? Outro que vem aí é Cirque du Freak: O Assistente do Vampiro, de Paul Weitz. O filme tem o cômico John C. Reilly (Quase Irmãos) como um vampiro, chefe de um circo de horrores, que convence um jovem a se tornar seu assistente.

Sangue na TV Um grupo de cientistas japoneses desenvolve em laboratório uma espécie de sangue sintético. Logo o produto é engarrafado e começa a ser vendido no mercado. Essa é a deixa para que

PRÓXIMOS LANÇAMENTOS 18/09/2009 Deixe ela entrar [Låt den räte komma in, de Tomas Alfredson]. Com Kåre Hedebrant, Lina Leandersson. Menino perseguido pelos colegas na escola faz amizade com nova vizinha, a qual ele descobre ser um vampiro. 18/09/2009 Sede de Sangue [Thirst, de Park Chan-wook]. Com Song Kang-ho, Ok-bin Kim. Padre se torna voluntário em experiência que o transforma em vampiro. 20/11/2009 Lua Nova [New Moon, de Chris Weitz]. Com Kristen Stewart e Robert Pattison. Continuação da saga teenager Crepúsculo. 30/10/2009 Matadores de Vampiras Lésbicas [Lesbian Vampire Killers, de Phil Claydon]. Grupo de jovens nerds cai nas mãos de um clã de vampiras lésbicas. 15/01/2010 Cirque du Freak – O Assistente do Vampiro. [Cirque du Freak, de Paul Weitz]. Com Salma Hayek, John C. Reilly e Chris Massoglia. Um jovem se une à estranha trupe de um circo de horrores, cujo líder é um vampiro.

Do medieval ao pop

Sem previsão de estreia The Countess. Filme dirigido e estrelado por Julie Delpy, com William Hurt, sobre a vida da Condessa Erzebet Bathory. Já lançado na Europa. Setembro 30 Dias de Noite – Ebben & Stella. Graphic novel que continua a saga 30 Dias de Noite, pela Devir.

Sookie (Ana Paquin) e Bill (Stephen Moyer) em True Blood

FONTES FILME B, DEVIR, IMDB.

os vampiros, parafraseando a gíria gay, “saiam do caixão“ e se revelem ao mundo, com a intenção de se integrar a sociedade. É nesse contexto que se desenvolve True Blood, seriado do canal a cabo HBO (Família Soprano, A Sete Palmos). Baseado na série de livros da escritora Charlaine Harris para a personagem Sookie Stackhouse, uma garço-

da nos EUA. No Brasil, a primeira temporada já saiu em DVD.

nete com poderes telepáticos, True Blood traz todo o calor e o sotaque pesado da região sul dos Estados Unidos, onde a protagonista vive e conhece Bill, o vampirão galã por quem ela acaba se apaixonando. Recheado de sexo, sangue, drogas alucinógenas, macumba e assassinatos, True Bloodsegue firme em sua segunda tempora-

Páginas vermelhas Começa com cadáveres. Em Noturno, eles são centenas, passageiros de um boeing mortos logo após o pouso. Em Manhattan, logo se acende o pânico de bioterrorismo. Mas você está lendo o livro de estreia de Guil-

Predadores, HQ que não economiza na sangueira

lermo del Toro, e ele começa com Era uma vez. O avião é apenas o início de uma praga vampiresca cujo fim de linha é a raça humana. Del Toro cria uma descrição biológica dos vampiros, um triller naturalista longe da mitologia usual. ”Pense num homem de capa preta. Com caninos grandes. E um sotaque engraçado", diz um

dos personagens na Nova York de 2010. "Agora esqueça a capa, os caninos e o sotaque engraçado. Esqueça tudo o que é engraçado“. O livro, escrito em parceria com o autor de suspense Chuck Hogan , abre a Trilogia da Escuridão, que continua em 2010. Nas prateleiras há também vampiros nacionais, mais vitorianos ou mais urbanóides ao

paladar do autor. Na antologia O Livro Vermelho dos Vampiros, 13 escritores recriam suas versões dentuças, entre eles jovens aclamados como Santiago Nazarian e Flávia Muniz. Conheça a sede teen, de rímel preto e all star, em Nina e Suzana no Shopping, de Martha Angel. E o pálido sexy de um galã à Anne Rice, em Vampire Route.

Outro lançamento vem de carona no sucesso da TV : Vampiros em Dallas, suspense ágil e despretensioso que inspirou o roteiro da série True Blood. Não se assuste com o insosso título nacional . Vale conhecer em primeira mão os vampiros de Bon Temps, quase inofensivos diante do povo da cidade.

Caninos em quadrinhos Numa guerra de vampiros, é regra sobrar para os humanos. Na HQ Predadores, violência e lascívia chegam na mesma dose impiedosa para os mortais. O quadrinho italiano de Jean Dufaux, distribuído no Brasil pela Devir, conta a história dos gêmeos Drago e Camilla, cujos caninos varrem um a um os mem-

bros de uma sociedade secreta. O mistério foi publicado pela editora francesa Dargaud e é linear e simples, mas farto de sexo e de personagens embalados em couro vermelho. O destaque é mesmo o traço elegante do desenhista Enrico Marini, inspirado pelos mangás. Para mais arrepio e insônia, 30 Dias de Noite não faz econo-

mia. O conto de horror chega ao quarto título, 30 Dias de Noite: Ebben & Stella, também distribuído pela editora Devir. A HQ de Steve Nilles se passa no Alasca, na cidade de Barrow, condenada a ausência de luz do sol durante o pior mês do inverno. Junte ao ambiente opressor um bando de vampiros sanguinários e o pesadelo é garantido.

Sensual ou nosferático, sanguinário ou bonzinho, o vampiro ainda é sacerdote do obscuro. Assim era conhecido seu “número zero“, o conde Vlad Tepes, o Empalador. Por entre os séculos se temeu a palidez doentia e fúria bélica do nobre da Transilvânia, que inspirou o Dráculado escritor irlandês Bram Stoker. Outro marco que ergueu o vampiro como o conhecemos é o romance de John William Polidori, ”O Vampiro”, que no século XIX narrou um protagonista maldito, melancólico e gótico numa história de erotismo e perdição. Ou seja, feijão com arroz repetido nos séculos seguintes. De lá até agora, a trajetória foi reescrita por mãos do cacife de Anne Rice, Francis Ford Coppola, Roman Polanski e Zé do Caixão. Lua Nova, o número dois da saga Crepúsculo, chega aos cinemas nacionais em dezembro munido da benção pop de Radiohead e Death Cab for Cutie na trilha sonora. A vida eterna alcança a juventude sumarenta e, de quebra, aparece na MTV.

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Condessa Drácula se banhava em sangue Quando se fala em vampiros da vida real, Vlad Tepes, o terrível romeno que teria sido a inspiração de Bram Stoker em Drácula logo vem a memória. Mas ainda mais “vampírica“ do que Tepes foi a condessa húngara Erzsébet Báthory (1560 -1614). Crudelíssima, banhava-se todos os dias em uma banheira cheia do sangue de mulheres virgens – prática que, ela acreditava, a manteria sempre jovem. Acabou emparedada em seu próprio palácio. Dizem que foi a inspiração para a Rainha Má da fábula da Branca de Neve. Um filme sobre sua vida está sendo produzido, com Julie Delpy como Bathóry.

Oskar coleciona notícias sobre crime sangrentos e sofre sozinho o bullying de seus colegas de escola, até que as coisas mudam quando conhece Eli, sua vizinha nova, que não sai de dia e não sente o frio da noite. Em Deixe ela entrar, horror e amizade fazem conto de fada.

★★★★★

SUCKERFORVAMPIRES.WORDPRESS.COM

- Você acha que eu tenho medo de uma estaca, Rose? Até pouco tempo atrás eu usava uma dessas. E provavelmente tudo o que você sabe sobre como usar uma estaca fui eu que te ensinei. - Eu não tenho medo de você, Dimitri. A estaca que você costumava usar, pode matar você hoje. Não seria uma honra ser morto por ela? Me diga… O que você prefere? Direto no coração ou uma cicatriz no rosto igual a de Rurik, pra começar? A autora apenas diz que é obcecada por vampiros. Apresentações feitas, acesse o blog que funciona como indexador da novidades da TV, cinema e literatura da nova onda de dentuços por aí. E também capítulos de suafanfiction Blood Promise, acima.

TWITTER.COM/NOTURNOLIVRO

Ministra romena rejeita Drácula

Mito também morde gênios da música

Crepúsculo vira musical na web

A Agência EFE de Bucareste noticiou, em março último, um pronunciamento da ministra do turismo romena, Elena Udrea, renunciando ao mito do Drácula como maior estratégia de atração turística. "O mito de Drácula não será a marca do país", declarou. "A Romênia tem muitas coisas que podem ser promovidas como marca. Acho que pode ser representada muito melhor por muitas outras coisas", acrescentou. Drácula, personagem de Bram Stoker, foi criado a partir da história do príncipe romeno do século 15 Vlad Tepes e das lendas vampíricas, comuns no folclore do leste europeu.

Não são poucas as canções que tratam dos vampiros, independente de gênero musical. Seja da forma extremamente poética de um Jorge Mautner (O Vampiro), na metáfora regueira de um Edson Gomes (Esse Sistema é um Vampiro) ou mesmo no romantismo para FM de Rita Lee (Doce Vampiro). No heavy metal, gênero naturalmente ligado à fantasia e ao terror, a quantidade de canções sobre o tema é tão grande, que encheria uma lista telefônica. Já no rock alternativo, a banda inglesa Kasabian soltou no seu último CD a música Vlad The Impaler, uma “homenagem“ à Vlad Tepes.

Se na vida real Crepúsculo e High School Musical disputam por bilheteria e por um espacinho no coração dos fãs adolescentes, na web não há razão. Ao menos na série-paródia Twilight Musical, cuja trama é vendida como “uma série online sobre adolescentes, vampiros e cactus”. A ironia não termina quando uma Bella de peruca foge dos colegas grudentos da nova escola em Forks . Ou quando Edward canta em tom de ópera tentando resistir ao sangue novo da colega - cena que deixaria Zac Efron orgulhoso. O crédito é da Gliff Productions e pode ser visto em www.twilightthemusical.com

Presidente Prudente tem vampiro real?

“Prisão, sombrio book-trailer de Noturno, de Guillermo del Toro, já está no ar! Confira, legendado” “Visite o site oficial de Noturno no Brasil: trilogiadaescuridao. com.br. Mergulhe no universo vampiro de Del Toro!” No perfil, extras em português do primeiro livro de Guillermo del Toro, sobre vampiros

Blade: vampiro negro e carateca

Conhecidos por serem branquelas, os vampiros ganharam mais cor com Blade, o personagem surgido nas HQs da Marvel que já estrelou três filmes no cinema, com Wesley Snipes no papel.

Distante 565 quilômetros de São Paulo (capital), a cidade de Presidente Prudente entrou no noticiário nacional no fim do ano de 2007, quando um certo Vandeir Máximo da Silva, então com 27 anos, foi preso pela polícia local. Ele foi acusado de morder mais de uma dezena de jovens adolescentes, os quais seriam seus seguidores na sua própria seita, a Legião dos Salvadores do Mundo. Exames comprovaram que ele, de fato, afinou seus dentes caninos para ficarem semelhantes aos de um vampiro e, em rituais no cemitério da cidade, ele realmente chupava o sangue dos seguidores.


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