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Bambu - ator da regeneração de espécies nativas
Diego Munhoz Gomes
diegomgomes77@gmail.com
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Fabiana Prieto Castanho
fabianacastanho26@gmail.com Graduandos em Engenharia Florestal - UNESP/FCA
Roque de Carvalho Dias
Engenheiro agrônomo, mestre em Proteção de Plantas e doutorando em Agronomia - UNESP/FCA roquediasagro@gmail.com
Obambu é uma cultura tropical, de produção anual e de rápido crescimento, possuindo uma grande variedade de espécies. A espécie tem se mostrado um ótimo se questrador de carbono, além de possuir características físicas e mecânicas fantásticas, tornando-a viável para o desenvolvimen to de variados produtos.
Embora não se pense no bambu como uma solução exclusiva para os problemas relacionados ao meio ambiente e/ou à dimi
ambiente e gerar renda e emprego, contribuindo para fixar o homem ao campo.
Em termos de produção, pode servir a uma ampla gama de negócios, desde o pequeno artesanato local até grandes empre endimentos.
O bambu ajusta-se à ideia de sustentabilidade ambiental e de ecodesenvolvimento, como podemos perceber ao ler a afirmação de Farrely (1984): “Nunca haverá em nosso plane ta suficientes flautas de prata para dar a todos, mas facilmente haverá bambu o suficiente para que cada um faça sua própria flauta e toque”.
Versatilidade
Pertencente à família das gramíneas e à classe das monocotiledôneas, dividindo-se em colmo (esse é dividido em intervalos por um diafragma saliente, formando os nós e os entrenós), rizoma e sistema radicular fasciculado, o bambu é responsável por apresentar um rápido desenvolvimento e fácil multiplica ção, possui uma alta produtividade, formato tubular, baixo peso específico e alta resistência mecânica.
Também apresenta características satisfatórias como iso lante térmico e acústico. Sua abrangência é grande, variando desde espécies de pequeno porte, com alguns centímetros de al tura, até espécies gigantes que atingem 30 metros.
Vantagens em relação à madeira
Quando comparamos a madeira utilizada em construções, artesanato e outras finalidades, percebe-se que o bambu apre senta algumas vantagens, como: dentro de um mesmo bambuzal podem ser retirados vários colmos a cada ano, o bambu é um material leve, forte, consistente, elástico e maleável, apre senta fácil colheita, não possui operações de desdobramento, devido ao baixo peso específico e à sua constituição oca, é fa cilmente processado por ferramentas simples, além de poder ser facilmente trabalhado em marcenaria, trazendo um retor no financeiro acelerado, entre muitas outras vantagens.
Desvantagens
Shutterstock
nuição acentuada dos recursos florestais, ele vem se mostrando promissor na recuperação de áreas degradadas, pois gera um microclima favorável para as espécies secundárias e clí max se desenvolverem.
Este produto florestal também é capaz de movimentar o sistema financeiro dos agricultores, sendo estudado como um material alternativo e de baixo custo. A exploração da cultu ra do bambu e sua cadeia produtiva podem beneficiar o meio
Algumas das desvantagens do bambu é que o mesmo, assim como a madeira, também necessita de preservação - outro fator relevante a ser levado em conta é a cavidade central que possui, proporcionando um maior risco de incêndio, quando comparado com a madeira maciça. Os bambus também não apresentam comprimento e diâmetro uniforme, o que dificul ta algumas atividades que utilizam este material.
Os colmos dos bambus se partem com facilidade, compli cando o uso de pregos. Os colmos também possuem amido, o que atrai insetos e fungos após o corte.
Contenção de erosões
A utilização de bambu na contenção de erosões é mais uma das inúmeras utilidades que a planta nos fornece. Isso ocor re devido a sua alta resistência aliada à sua complexa raiz fasciculada.
As espécies de bambu conhecidas como alastrantes ou tam -
SXC
bém como monopodiais têm o crescimento tanto na vertical como na horizontal. Com o passar do tempo, o mesmo é res ponsável por formar terraços, o que diminui a velocidade do escoamento da água, sendo excelente para conter deslizamen tos e degradações.
Outro fator que ajuda na contenção de erosões é o seu rá pido crescimento, o que causa um recobrimento acelerado da área sujeita à erosão.
Regeneração de espécies nativas
Quando é realizado o bom manejo da espécie, impedindo que o mesmo cresça em superabundância em áreas florestais que foram fragmentadas, evitando a competição com as espécies locais e mantendo o equilíbrio ecológico, o bambu pode se tornar um ator adequado para a regeneração de espécies flo restais nativas.
A utilização do bambu como espécie pioneira em áreas de regeneração de espécies nativas gera um microclima favorá vel para diversas espécies presentes no local, ou espécies que sejam posteriormente introduzidas.
Devido ao seu acelerado crescimento, o mesmo pode for necer sombra e condições ambientais adequadas para espécies secundárias e clímax. Estudos mostram que locais com superabundância da espécie, mesmo sem o manejo adequado, conseguiram obter uma regeneração natural de plantas que eram tolerantes à sombra.
Após o estabelecimento da vegetação nativa, o mesmo pode ser utilizado como fonte de renda do produtor, lembrando sem pre que o bambu introduzido poderia ser retirado e utilizado nos mais variados fins.
Produtos feitos com bambu
As populações de bambu são abundantes nas grandes porções de florestas tropicais, principalmente na Amazônia Ocidental, que possui 180.000 km² de florestas dominadas por bambu. A utilização do bambu ao longo do tempo tem be neficiado o homem em várias gerações, como fonte de trabalho e renda.
No leste da Ásia, é utilizado na fabricação de casas, ferra mentas agrícolas, artesanato e móveis. Mas, atualmente, outras frentes têm sido pesquisadas, como o uso como carvão.
Muitas espécies de bambus são utilizadas na construção civil - já há estudos que dizem que este material é capaz de substituir as madeiras, principalmente no uso como pontale tes, escadas e andaimes.
O bambu tem resistência à tração e compressão maior que o concreto e o módulo de elasticidade igual à do concreto, o que faz com que, quando misturado ao concreto, torne as peças da construção mais leves e resistentes.
Entre os mais variados usos, pode-se citar sua utiliza ção na decoração, pois este é aplicado em móveis, pisos, laminados, persianas, luminárias e no artesanato em geral. Outros usos na construção são em galpões, pontes, esquadrias e cercas.
É, também, muito utilizado em instrumentos musicais, na fabricação de talheres, ferramentas, brinquedos, espetos de churrasco, palitos, molduras, vasos de flor, entre outros. Algu mas pessoas têm o costume de usá-lo na alimentação, comendo os seus brotos.
Dentre as utilidades do bambu no campo, podemos ci tar: como quebra-vento, sombreamento em viveiros de mudas, suas folhas podem servir de alimento para o gado, há a possibilidade de usá-lo como tubo de drenagem e irrigação, além de ser uma gramínea que pode facilmente participar da compo sição de sistemas agroflorestais.
Custo-benefício
O investimento ou custo inicial para cultivar uma área de um hectare de bambu é em torno de R$ 3.500,00 para a realização do plantio. É necessário que seja feita uma limpeza da área du rante mais ou menos dois anos e meio, o que gera um custo em torno de R$ 2.000,00.
Desta maneira, com um bom manejo aos cinco anos, já se pode colher de 600 a 700 varas; aumentando para mais ou menos 1.000 varas com sete anos. Este mane jo pode ser feito até os 30 anos de idade do bambuzal.
O preço da vara de bambu carregada no caminhão pode variar muito, mas estima-se que seja entre R$ 3,00 e R$ 7,00, com um custo de corte por vara de mais ou menos R$ 2,00.
NECESSIDADE NUTRICIONAL
QUAL A DO EUCALIPTO?
Lafayete Gonçalves Campelo Martins
Engenheiro florestal, doutor em Solos e Nutrição de Plantas e consultor em silvicultura lafayetecampelo@gmail.com
Na sua forma orgânica, o fósforo é componente dos fosfolipídeos que fazem parte das membranas celu lares, participa de processos metabólicos como transferência de energia, é importante para a respiração, para a síntese de glicose e de ácidos nucleicos, dentre outras funções vitais para as plantas.
Para o eucalipto, considerando uma árvore adulta, a con centração de fósforo nos tecidos, em geral, é de aproximadamente 0,05% (média entre os componentes de folhas, galhos, casca e lenha).
É uma concentração relativamente baixa, quando compa rada à de outros macronutrientes, como o potássio, o cálcio e o nitrogênio, cujas médias de concentrações nos tecidos va riam de 0,5 a 0,8%.
Apesar disso, as doses de fósforo que normalmente são adi cionadas ao solo via fertilizantes são bem superiores às quantidades que são efetivamente exigidas e absorvidas pelas plantas. Isso decorre das características dos nossos solos brasileiros, especialmente aqueles mais usados para os plantios florestais.
Tais solos são predominantemente pertencentes à classe dos Latossolos, que são muito antigos, intemperizados e cujas argilas são predominantemente formadas por óxidos de fer ro e de alumínio.
Painel Florestal
Além de serem solos de baixa fertilidade, não possuem minerais primários, ou seja, minerais com capacidade de libe ração de nutrientes para o solo e, ainda, seus componentes (os óxidos) reagem com as formas solúveis de fósforo e transfor mam esse fósforo antes disponível para as plantas em formas não mais disponíveis.
Dessa maneira, o solo passa a ser um dreno de fósforo e compete com a planta pelo nutriente que é aplicado via fertili zantes, o que ocorre principalmente quando a aplicação não é feita de maneira adequada. É exatamente para compensar esse tipo de perda que as quantidades adicionadas ao solo são superiores às efetivamente exigidas pelas plantas.
Opções em nutrientes
São várias as fontes de fósforo disponíveis no mercado. Há as fontes naturais, que podem ser aplicadas diretamente sem um processamento industrial mais elaborado, neste caso, as ro chas são apenas moídas e aplicadas; há as fontes industrializadas que utilizam as fontes naturais como matéria-prima para a sua fabricação - as rochas são tratadas com ácidos e o resul tado são os fertilizantes solúveis; e há também os fertilizantes com tecnologias diversas que aumentam a eficiência no fornecimento do nutriente para as plantas com o uso de com ponentes orgânicos ou de alguma proteção que impede ou retarda reações indesejáveis no solo que tornam o nutriente indisponível.
Normalmente, estes últimos utilizam como matérias-pri mas os fertilizantes solúveis, e a tecnologia é adotada para re
Fibria
duzir perdas e aumentar a sua eficiência. Dentre as fontes naturais, há as provenientes de rochas fosfatadas de baixa rea tividade (de origem ígnea ou metamórficas), que possuem estrutura cristalina, compacta e de baixa solubilidade.
Esses disponibilizam o nutriente de maneira muito lenta e, muitas vezes, torna-se necessário fornecer outras fontes mais solúveis juntamente com esses tipos de fosfatos durante a fase inicial de crescimento, quando as raízes ainda não estão total mente estabelecidas e por isso requerem concentrações mais elevadas de fósforo no solo.
Há, também, as fontes naturais de fósforo provenientes de rochas sedimentares e que são denominados fosfatos reativos. Estes possuem estrutura mais porosa e com grande superfí cie específica, ou seja, permite que a umidade e a solução do solo penetrem nos seus interstícios e, assim, liberam mais ra pidamente os nutrientes.
O melhor produto a ser utilizado depende das condições do solo (características químicas, físicas e grau de intemperis mo), da fase de crescimento da planta e de fatores climáticos. Às vezes, a melhor opção não é a escolha de um único produto, mas sim a combinação de duas ou mais fontes de fósforo com características diferentes.
Fósforo x produtividade da espécie
Em 1850, o biólogo alemão Justus Von Liebig descreveu a lei do mínimo, segundo a qual a produção ou o rendimento de uma cultura é determinado pelo fator ou nutriente mais limi tante ou que esteja em menor grau de disponibilidade.
Dessa maneira, a relação entre a disponibilidade de fósfo ro e a produtividade florestal será mais ou menos estreita, dependendo do grau de limitação de todos os outros fatores dos quais também depende o crescimento da floresta.
Vale lembrar que, no caso dos solos brasileiros, onde pre dominantemente se plantam florestas, os solos são extremamente pobres em fósforo. Isso exige, quase que como uma regra geral, a aplicação de doses elevadas de fertilizantes fosfatados. De modo geral, é praticamente impossível alcançar produ tividades minimamente satisfatórias sem o uso de fertilizantes fontes de fósforo.
Manejo
de um trabalho conjunto entre o preparo do solo, controle das plantas invasoras, da adequação do material genético ao am biente local, da qualidade das mudas utilizadas e até do espaçamento.
Não se dobra a produtividade florestal apenas com boa qualidade da nutrição, mas é bem possível reduzi-la pela me tade com a carência ou desequilíbrio de um único nutriente. É necessário que o manejador tenha a sensibilidade de perce ber se o ajuste necessário para dobrar a produtividade está na nutrição ou em outro componente que a limita.
Cuidados específicos
Um cuidado para o qual sempre chamo a atenção dos meus clientes é quanto à qualidade dos fertilizantes. É neces sário ter certeza da idoneidade dos fabricantes e dos fornecedores, e saber se a composição dos insumos adquiridos está dentro dos limites das garantias mínimas estampadas nos ró tulos.
Para isso, é necessário, pelo menos com certa frequência, co lher amostras e analisá-las. Já pude testemunhar casos de intoxicação de plantas por fertilizantes que continham concentrações excessivas de elementos micronutrientes, por causa de má qualidade de homogeneização da mistura. É possível, por exemplo, que haja segregação da mistura du rante o transporte ou a aplicação, fazendo com que haja má distribuição dos nutrientes e trazendo fortes consequências para o crescimento das plantas.
Fibria
outra lei que pode ser aplicada à relação entre a produção vegetal e os fatores dos quais essa produção é dependente.
Trata-se da lei da tolerância ou Lei de Shelford. De acor do com a lei da tolerância, para todos os fatores de crescimento, não apenas a disponibilidade dos nutrientes, há uma faixa de valores dentro da qual a produtividade é máxima.
Abaixo ou acima dos limites dessa faixa ótima, a planta sobrevive e produz, porém, sob determinado grau de estres se por carência ou por excesso desse fator considerado. Há, também, limites abaixo ou acima dos quais a produção é nula, dada a total intolerância pela falta ou pelo excesso do mes mo fator.
Interferência direta
No contexto da produtividade florestal, os fatores que influenciam são diversos. Além dos nutricionais, há os relacionados ao manejo, os fatores climáticos, há os que estão ligados à física do solo, como compactação, impedimentos físicos, en charcamento, e a competição por plantas invasoras, etc.
Portanto, para se dobrar a produtividade florestal, é ne cessário ter a noção do equilíbrio entre todos eles, por meio
Novidades em pesquisas
Diferentemente de pouco tempo atrás, temos hoje disponível no mercado vários produtos novos com tecnologias diversas e que otimizam o apro veitamento dos nutrientes aplicados. O surgimento dessas tecnologias está permitindo, por exemplo, a redução do número de parcelamentos das doses aplicadas. O benefício principal disso é a redução dos custos de aplicação, do trânsito de máquinas e, consequentemente, da compactação do solo.
Há, também, produtos biológicos, como o que foi lançado recentemente por meio de uma par ceria público-privada com a participação da Embrapa.
Trata-se de um inoculante à base de bactérias que, de acordo com os fabricantes, promete tornar disponível para as plantas formas de fósforo fixa das e indisponibilizadas por reações naturalmente irreversíveis.
Apesar desse inoculante ainda não ter sido tes tado para as espécies florestais, há uma grande expectativa de que seja uma alternativa para otimizar o uso de um recurso natural como as fontes de fós foro, cujas reservas são finitas e cuja importância é fundamental não só para o cultivo de árvores, mas também para a produção de alimentos para as fu turas gerações.