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Manejo da madeira pode ser rentável
PODE INTERFERIR NA RENTABILIDADE MANEJO DA MADEIRA
Alessandro Magalhães Boccia Ribeiro
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Engenheiro florestal e diretor técnico da Forte Florestal alessandro@forteflorestal.com.br
Oobjetivo principal do manejo é o cultivo e colheita de árvores de maiores diâmetros e livres de nós, num ci clo de rotação de 16 a 20 anos, para produção de madeira certificada FSC (Forest Stewardship Council), podendo ser comercializada como toras, madeira serrada bruta, aplai nada, seca ou industrializada sob a forma de pisos, móveis, forros, esquadrias, portas, janelas, ou então laminada.
Essas toras de primeira qualidade estão sendo produzidas em um sistema sustentável, com técnicas de cultivo mínimo do solo, que contemplam o uso restrito de agrotóxicos e o plantio de le guminosas para cobertura orgânica no solo.
Para consolidar o ciclo florestal sustentável, aproveitan do-se do potencial produtivo do sítio de plantio, consorciamos nossas florestas com culturas agrícolas nos primeiros anos e no manejo semi-sombreado com gado, café, juçara, dentre ou tras, conforme a região.
Estes sistemas agrossilvipastoris possuem capacidade para custear a floresta até a colheita da madeira, além de enriquecer a terra e propiciar tratos culturais livres de agrotóxicos.
Sustentabilidade, impacto social e retorno financeiro
O retorno financeiro que esperamos, sem dúvida, será no final do primeiro ciclo de 20 anos, uma vez que as receitas se cundárias obtidas com desbastes e culturas agropastoris servirão para compor o fluxo de custeio ao longo dos anos, tornando o projeto economicamente sustentável.
Nas nossas fazendas adotamos o sistema agrossilvipasto ril com manejo de desbaste, condução de rebrotas e plantios de enriquecimento. Adotando este sistema, cria-se a possibilidade de se perpetuar a plantação florestal, tratando-a como uma flo resta nativa, que se regenera e se potencializa.
No vigésimo ano, as árvores dos plantios de enriquecimen to estarão com 15 anos de idade; as rebrotas conduzidas dos desbastes estarão com 10 e cinco anos; as rebrotas do corte aos 20 anos estarão com 0 anos; novo plantio de enriquecimento. E assim, após a primeira rotação de 20 anos, o ciclo de corte da floresta torna-se anual e sustentável.
Socialmente, estamos em uma região de baixo índice de de senvolvimento, e nossos projetos geram uma vaga de emprego direto a cada 10 hectares de plantio, em que, além do impacto social em termos de geração de renda, temos um impacto so cial com a introdução na região de novas culturas e novos sistemas de produção.
Vantagens desse tipo de cultivo
As árvores tornam-se um ativo físico em crescente valorização - a cada ano que passa a árvore vale mais, e para potencializar isso ‘tentamos’ imitar a natureza, buscando um sistema orgânico de alta produtividade e diversidade de espécies.
A geração de renda com os consórcios agropastoris é rele vante no custeio do manejo. A diversidade de espécies garante um maior equilíbrio em casos de intempéries climáticas, pragas e doenças, demandas do mercado e ciclos de cortes.
Espécies florestais envolvidas nesse tipo de cultivo
Como espécies fundadoras temos os três mognos africanos, a teca e o jequitibá rosa. Para plantios de enriquecimento, temos o eucalipto citriodora, o guanandi, ipê roxo, jatobá, ja carandá-da-bahia e cedro.
Quanto ao manejo em relação ao cultivo convencional, mu dam os tratos culturais, uma migração do controle de ervas daninhas com herbicida para controle de ervas daninhas com cobertura morta, plantio de forrageiras e leguminosas. Muda também o manejo das árvores, pois não haverá corte raso na floresta, já que não é um monocultivo, e o fluxo de caixa do ne gócio, com antecipação dos rendimentos.
Esse tipo de sistema já acontece em muitos sistemas agros silvipastoris pelo Brasil há muitos anos, mas este manejo que falamos foi desenvolvido especificamente para a região do Vale do Ribeira (SP) e está implantado em nossas fazendas.
Investimento x retorno
O investimento envolvido no nosso modelo de negócio, na implantação e manutenção do projeto até o quarto ano, gira em torno de R$ 30.000,00/ha, com tudo incluso. O retorno do in vestimento se inicia a partir do décimo ano, quando começa a produção da palmeira juçara e os cortes intermediários das árvores.
No sistema convencional, o retorno do investimento de pende exclusivamente do corte das árvores. O que devemos levar em consideração é que o corte pode ser técnico, que respeita o ciclo de produção, ou seja, pode gerar uma colheita sem valor comercial, ou corte comercial, que aproveita oportunidades co merciais, independente da idade da floresta.
A taxa de retorno estimada é de 15 a 20% ao ano no ciclo de 20 anos. Consideramos o preço médio do metro cúbico serrado de R$ 2.5000,00 no mercado interno e uma expectativa de pro dução média de 200 m³ de madeira serrada, de primeira qualidade, por hectare. Consideramos a comercialização da polpa de juçaí a partir do décimo ano.
Atenção
A implantação desse sistema de manejo depende da região do projeto: clima, solo e logística. Depende, tam bém, da aptidão do produtor em trabalhar com florestas plantadas sustentáveis e ciclo longo, pois madeira boa cresce devagar.
DEMARCAÇÃO PARA DESBASTE E CORTES
INTERMEDIÁRIOS
Os cortes intermediários são comuns durante o manejo florestal para a melhoria dos talhões. Um corte inter mediário pode gerar inúmeros benefícios, tais como: ganho de estabilidade do plantio, aperfeiçoamento da estrutu ra do povoamento, melhoria do estado sanitário e incremento da qualidade de madeira produzida.
Estes cortes podem ser classificados em quatro tipos: de lim peza, de liberação, de melhoria ou de recuperação.
Necessidade Daniel da Silva Souza
Engenheiro florestal e geógrafo geocentrosul@gmail.com
Os cortes de limpeza são realizados quando há elevada concorrência entre indivíduos desejáveis e indesejáveis (aqueles que emergem naturalmente no interior dos talhões). Prejuízos nas copas dos indivíduos desejáveis, em função da concorrência, são indícios a serem considerados para realizar a marcação dos in divíduos para o corte de limpeza.
Em florestas plantadas, estes cortes ocorrem durante o cres cimento inicial do povoamento. Para florestas nativas, uma das maiores vantagens está no incremento das espécies de inte resse e, consequentemente, no ganho de valorização econômica da floresta.
Painel Florestal
Os cortes de limpeza podem ser conduzidos juntamente com os de liberação. O objetivo deste corte é liberar indivídu os jovens para que expressem maior crescimento. Em florestas nativas, o corte de liberação pode promover a regeneração de indivíduos de interesse comercial. Em plantios, o corte de li beração é mais comum em povoamentos mistos.
Quanto aos cortes de melhoria, estes normalmente não são realizados se os cortes de limpeza e de liberação forem executa dos corretamente. Caso contrário, eles ocorrerão na fase posterior ao crescimento inicial e terão como finalidade o aprimoramento da composição do povoamento.
Nesta intervenção silvicultural, a marcação e eliminação de indivíduos - seja da espécie de interesse ou de espécies in vasoras - serão realizadas.
Objetivo
Os cortes de recuperação visam a supressão de indivíduos senescentes, mortos ou danificados por patógenos ou fatores externos. Árvores doentes ou comprometidas podem ser fon tes de propagação de patologia para outros indivíduos do povoamento, e por isso devem ser removidas.
Os desbastes são operações de maior envergadura quan do comparados aos cortes intermediários. Eles exigem amplo domínio e conhecimento para que o método de desbaste seja adequado, assim como a definição do ciclo, do peso e do grau
de desbaste a ser conduzido no povoamento.
Antes do desbaste é preciso classificar as árvores em dominantes, co-dominantes, subdominantes ou domina das. Essa classificação é imprescindível, dependendo do método de desbaste escolhido.
Árvores dominantes são as maiores e recebem ilumi nação solar direta na parte apical e em nas partes adjacentes. As co-dominantes são imediatamente menores que as dominantes e recebem iluminação solar apenas em parte da composição apical. As laterais destas árvores recebem pouca iluminação direta.
As subdominantes apresentam dimensões ainda meno res e recebem iluminação solar direta apenas nas extremidades da copa. Já as dominadas não recebem luz solar em nenhuma parte de sua estrutura.
Veracel Celulose
Métodos
Para a marcação do desbaste, é necessário escolher o método que será utilizado: seletivo, sistemático ou mis to. No método seletivo, as árvores são cortadas em função da sua classe de dominância ou da forma e qualidade do fuste.
No método sistemático, linhas inteiras são cortadas, en quanto outras são mantidas. O método misto combina o método sistemático ao seletivo. No método seletivo é preci so atenção para não gerar pontos totalmente sem indivíduos e pontos com grande concentração de árvores.
Os desbastes devem ser conduzidos com seriedade téc nica e cautela. São operações que demandam custos operacionais significativos e nem sempre são acompanhadas de retornos econômicos equivalentes. É muito comum haver excessos no volume desbastado para fazer frente aos custos. Essa situação pode desestabili zar o povoamento e reduzir a produtividade final. Os desbastes também devem ser pensados antes mesmo da implantação do povoamento, pois o espaçamento escolhido pode representar mais ou menos custos durante os des bastes.
Um pelo outro
A marcação dos desbastes deve ser coerente com o método escolhido. O mais comum é que as árvores a serem retiradas sejam marcadas em função do diâme tro limite de corte (definido no plano de manejo) ou da classe de dominância.
A vitalidade e a sanidade, assim como a qualidade e forma do fuste também são critérios considerados para marcar árvores que serão retiradas. A distribuição espa cial das árvores é muito importante e deve ser observada durante a marcação.
Em campo, a marcação pode ser feita com tinta lí quida ou spray, dando preferência para cores vivas e fortes. Fitas também podem ser utilizadas, mas a mar cação por tinta ou spray tem apresentado melhor rendimento.
BAGAÇO DE CANA
ALTERNATIVA PARA
GERAR ENERGIA A competitividade da indústria brasileira está fortemente correlacionada ao custo de um dos seus principais in sumos: a energia elétrica. No setor de celulose, as plantas industriais são capazes de produzir toda a energia necessária ao processo fabril, disponibilizando o excedente para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
Com licença para exportar 27 megawatts para o SIN, a Veracel Celulose passou a ver esse mercado livre como opor tunidade de diversificação dos negócios e investiu em ações internas para ampliar a produção de energia. “Essa é uma re levante fonte de receita para a empresa”, diz Melissa Pimenta, assistente técnica da área de Recuperação e Utilidades da empresa.
Localizada no Nordeste, a Veracel deu início às pesquisas internas, explorando novas fontes, além das que já são utiliza das pelo setor de modo geral. Até o ano passado, a geração de energia era feita a partir da queima do lodo primário (resíduo da produção de celulose), madeira inservível (tora de eucalip to desclassificada como madeira de processo) e ainda a biomassa gerada internamente na picagem da madeira de processo (cascas, “overs e finos”).
No último ano, a quantidade de madeira inservível reduziu e isso motivou a equipe a procurar alternativas que não impac tassem nos custos nem no processo de produção.
O bagaço de cana, utilizado também em usinas de açúcar, foi o primeiro combustível pesquisado. “Foi uma aplicação to talmente inovadora. Não temos conhecimento de outra empresa do setor que tenha feito isso”, conta Melissa. Os estudos de ram certo e a preocupação da equipe passou a ser o volume do bagaço que poderia ser queimado diariamente na caldeira. “Em 2018, a receita virou um mix composto por de 6% de ba gaço de cana, 38% de inservíveis, 1% de lodo primário e 54% de biomassa gerada internamente”, revela.
Esse mix de combustíveis para geração de energia possi bilitou à Veracel a venda de 13 MW para o mercado nacional no ano passado.