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AS VOLTAS DO EXU PEDAGÓGICO

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FICHA TÉCNICA

FICHA TÉCNICA

QUAL A GIRA QUE GIRA A GIRA? Quando que encontrar deixou de ser um ato cênico? E por que os processos de reflorestamento dos afetos nos convocam a poéticas potáveis da vida estética? Ainda, quando que o fim da narrativa deixará de ser o fio da narrativa?

Não estamos apenas diante do desafio de um festival do porte da MITsp retornar ao presencial depois de dois anos de confinamento. Estamos aqui a reparar o que sobrou daquilo que jamais deveria ter sido perdido; ou a imaginar o que se ganhou daquilo que jamais deveria ter sido sobras. A digitalidade nos impulsionou a um tecnovívio da cena em meio a vários colapsos. No período de pandemia estivemos entre a overdose das telas e experiências profícuas (como a MIT+), de um lado, e o esfacelamento dos modos de presença conjugados com o decréscimo de subsídios econômicos para a cultura, gerando, por conseguinte, cortes e uma menor edição da mostra (MIT-). Um festival-furacão como a MITsp precisa ser festival e precisa ser furacão. E furacão não é melhor que brisa, nem serpente melhor que formiga.

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A gira que gira a gira, além de ser outra gira, é tão gira quanto a gira. Não há espetáculo melhor que ação pedagógica, ou vice-versa. Atravessar uma obra é outra obra. Então, o Eixo Pedagógico é um Exu Pedagógico. Devorar a cena com tônus de outra cena. As voltas que Exu esteve dando na teatralidade digital faz que as Pombas-Giras sejam as guias da pedagogia da cena. Todo espetáculo é uma encruzilhada. Toda ação pedagógica é uma encruzitrava.

Assim, para além das tradicionais oficinas e rodas de conversa, desenhamos uma programação em que novas criações e práticas darão ensejo aos desejos. A ideia de que somente podemos elaborar a cena teatral dentro do conjunto de configurações de teatralidades é uma constipação. Ao apresentarmos um conjunto de números musicais, visuais, audiovisuais e performativos, constatamos que a linguagem não é o fim da cena, mas o fio da cena.

Quando notamos que a prática pedagógica da cena é um modo de afeto, teremos novos nutrientes para o vigor de vidas não cafetinadas. Estéticas potáveis são 14

aquelas não subservientes a modelos de amor coloniais. Talvez as teatralidades das profundezas do oceano, da imensidão do céu e da beleza das montanhas nos aguce a pactos poético-afetivos que não remetam a casas ou casamentos, mas a causas e causamentos.

Se a finalidade do encontro é o encontro, a finalidade da encontra é a afetossíntese.

DODI TAVARES BORGES LEAL

CURADORA DO EIXO AÇÕES PEDAGÓGICAS

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