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DA ARTE DE NÃO MORRER

APÓS UM PERÍODO DE HIBERNAÇÃO FORÇADA, a MITsp retorna para a sua 8ª edição. Os últimos dois anos marcam um tempo de crise, de insegurança, de reavaliação interna. Tempo também de escuta, de introspecção, mas nunca tempo morto.

A edição de março de 2020 da Mostra foi o último evento teatral a se realizar presencialmente antes da pandemia. Na verdade, os três últimos dias do festival já foram marcados pela instabilidade, pelo medo em relação à doença e pelo cancelamento de alguns espetáculos da programação, pois os órgãos culturais e as salas de espetáculo já começavam a fechar as portas. Mas, ainda assim, felizmente, conseguimos realizar o festival em sua quase integralidade.

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Em meio a tantas impossibilidades que vieram na sequência, conseguimos dar um passo importante: a criação da plataforma digital MIT+, onde pudemos, durante todo o período da pandemia, manter a apresentação de espetáculos online - nacionais e estrangeiros -, a realização de seminários, encontros e palestras, além de atividades pedagógicas, tudo de forma virtual.

Porém, agora, damos um passo ainda mais importante: o restabelecimento da ágora cênica, do encontro público presencial, da convivência teatral in loco. Evidentemente, as experiências digitais vividas na pandemia nos abriram outras possibilidades e perspectivas. Porém, uma coisa não substitui a outra e, talvez, possamos pensar, a partir daqui, em formatos híbridos e articulados entre o presencial e o virtual.

O retorno da Mostra, dentro de um contexto político e econômico póspandêmico, tem sido um desafio maior do que aquele quando inauguramos a MITsp, em 2014. O escárnio e a má-fé com que vem sendo tratada a área da cultura pelo governo federal, a inflação, a disparada do dólar e do euro nesses últimos dois anos, o recuo de patrocinadores – e também dos montantes aportados – em razão de um quadro de instabilidade econômica, entre outros motivos, tornou a realização do evento ainda mais difícil, especialmente em relação aos espetáculos internacionais. 8

Mas, apesar de tudo – ou talvez por isso mesmo –, estamos vivos e estamos aqui, de novo, juntos. É urgente lutar, mais do que nunca, por um outro país, é urgente sermos capazes de desejar e imaginar outros futuros, pois nossas armas são a poesia, e a poesia é capaz de vencer a morte. Pois como foi cantado, em outro tempo sombrio deste país: “atenção, precisa ter olhos firmes (...) para esta escuridão. É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte”.

Que essa oitava edição da MITsp nos leve a respirar de novo, a gritar de novo, a cantar de novo, a plenos pulmões!

ANTONIO ARAUJO E GUILHERME MARQUES

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