Jornal especial opressões 2015 para impressão

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Correio do Trabalhador Informativo do Sindicato dos Trabalhadores em empresas de Correios, Telégrafos e Similares do Vale do Paraíba e Litoral Norte

Edição Especial Opressões

Contra toda forma de opressão

“Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres.”

Rosa Luxemburgo

20 de novembro, dia da consciência negra.

Neste mês em que lembramos as lutas de negras e negros do nosso país, o Sintect-VP vem reafirmar o respeito às diferenças e nossa luta constante contra todo tipo de opressão. A Constituição diz que as leis existem para garantir os direitos de todos, mas na prática é difícil esperar justiça somente das vias judiciais. Também é preciso ir á luta, organizar e mobilizar para garantirmos o que já é de direito e conquistarmos mais vitórias.

O Brasil era um lugar povoado por índios e foi “colonizado” pelos portugueses. Na época, não existia mão-de-obra para a realização de trabalhos braçais. Os portugueses escravizaram os índios nas lavouras, mas esta escravidão não avançou pois os religiosos estavam empenhados em catequizar aquele povo. Assim, os portugueses fizeram o mesmo que os europeus faziam em outras colonizações e deu-se, assim, a entrada dos negros no Brasil. De 1550 a 1888, pelo menos 3 milhões de africanos foram brutalmente trazidos pelos mercadores

Um pouco de ...

de escravos. A maioria deles veio de Angola e Moçambique, que eram colônias portuguesas na África.

Quilombo

Durante os anos da escravatura, milhares lutaram e conseguiram escapar, montando colônias livres conhecidas como quilombos. O mais famoso de todos foi o Quilombo dos Palmares, em Alagoas, liderado por um escravo fugitivo conhecido como Zumbi, que veio a se tornar símbolo de resistência por defender o povoado contra as forças coloniais. A data para o Dia da Consciência

Negra foi escolhida por coincidir com o dia da morte de “Zumbi dos Palmares”, em 20 de novembro de 1695. Sendo assim, é um dia de celebrar a força e resistência do negro (a) contra a escravidão.

Somos todos África

O Brasil é um país onde os descendentes de africanos foram quase metade da população de 180 milhões de habitantes. Todos nós temos este sangue guerreiro mas apesar disso, a discriminação econômica e social continua sendo a principal herança dos que nos exploraram e ainda nos exploram.


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Homenagem

Luiz Gama, jurista negro e abolicionista é reconhecido como advogado na OAB após 133 anos de sua morte

Após 133 anos da sua morte, Luiz Gama foi homenageado e reconhecido como advogado pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Gama libertou mais de 500 escravos, mas por ser negro, ele foi impedido de entrar na faculdade de Direito, porém não deixou de estudar e de usar das leis para

as lutas. Luiz Gama foi inscrito na OAB durante a II Semana da Consciência Negra, da Universidade Mackienzie, em São Paulo. Evento que aconteceu entre os dias 3 e 4 de novembro de 2015. O título foi entregue ao neto de Gama, Benemar Françana, pelas mãos do Presidente da OAB. O presidente do Instituto Luiz Gama, que também leciona na Universidade Mackienzie, Silvio Luiz de Almeida, declarou que é uma homenagem inédita “o título de advogado pós-morte não sendo formado em direito”. “Luiz Gama não é apenas im-

portante para a história do movimento negro do Brasil, como também faz parte da história do país e todos deveriam conhecer sua trajetória. Resgatar a história de Luiz Gama, de sua mãe Luiza Mahin e de tantos outros negros lutadores de nossa história, é resgatar também a esperança na construção de uma sociedade sem exploração.” Declarou Raquel Paula diretora do Sintect-VP “Foi uma justa homenagem a quem tanto lutou pela liberdade, igualdade e respeito do povo negro.” ressaltou Alexandre Silvério, diretor do Sintect-VP.

Um pouco sobre Luiz Gama e Luíza Mahin

Luiz Gama nasceu em Salvador, filho de um português com uma escrava liberta, chamada Luíza Mahin. Ele foi vendido como escravo pelo próprio pai quando tinha dez anos. Alforriado sete anos mais tarde, estudou direito como autodidata e passou a exercer a função, defendendo escravos. Também foi ativista político, poeta e jornalista. Luiz Gama escreveu então a biografia de sua mãe, a lutadora Luíza Mahin, que dizia ter sido princesa na África e depois escravizada no Brasil. Foi alforriada em 1812, e da sua união com um fidalgo português, nasceu Luís Gama. Luísa esteve envolvida na articulação de todas as revoltas e levantes de escravos que sacudiram a então Província da Bahia nas primeiras décadas do século XIX, dentre eles a revolta dos Malês. Descoberta, foi perseguida e, possivelmente, enviada para Angola, na África. Mas, não existe nenhum documento que comprove essa informação.

Atriz Taís Araújo e jogador de futebol Michel Bastos são vítimas de RACISMO

Atenção Atividades em celebração do Dia da Consciência Negra No sábado, dia 21 de novembro, haverá um ato na Praça Afonso Penna, às 10h, em São José dos Campos!

Ataques racistas ocorreram no mesmo dia. Na última semana de outubro, o Brasil testemunhou terríveis casos de racismo que tiveram destaque na mídia, alguns por terem ocorrido com pessoas famosas. A atriz Taís Araújo e o jogador Michel Bastos, do São Paulo, sofreram ofensas racistas na internet. Outros casos também marcaram o ano como o da jornalista e apresentadora Maria Julia Coutinho, a Maju, que também está em investigação na justiça.

Também no sábado dia 21, haverá o Seminário de Negras e Negros do Sintect-VP, às 14h, no Sindicato da Alimentação. Endereço: Av. Rui Barbosa, n.14 Jardim Bela Vista, São José dos Campos.


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Primeiro Assédio

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Caso Masterchef júnior abre discussão sobre pedofilia e assédio sexual Roger debochou da campanha que denuncia assédio contra mulheres

O programa MasterChef Júnior, reúne crianças de 9 a 13 anos cozinhando e tem registrado grandes audiências. Porém, a estreia da primeira edição infantil do reality foi marcada pelas denúncias de comentários com teor sexual direcionados a uma das participantes, Valentina, de 12 anos. Outras crianças também sofreram com comentários maldosos e até homofóbicos. Motivadas pela discussão a respeito dos comentários sobre Valentina, mulheres começaram a contar nas redes sociais sobre as

primeiras vezes em que foram assediadas. De acordo com levantamento, 10 entre 10 mulheres já sofreram algum tipo de assédio e é comum encontrar histórias de mulheres que sofreram seus primeiros assédios aos 7, 8, 9 anos. O assédio acontece na certeza de que a vítima ficará em silêncio. Os assédios não devem ser vistos como algo normal. Quem assedia tem de ser punido, e para que isso não aconteça Nas próximas gerações é preciso educar nossas crianças à denunciar qualquer sinal de abuso.

Com a hashtag “#primeiroassédio“, mulheres desabafaram casos em que sofreram ou foram testemunhas de abuso. Porém, o cantor Roger Rocha Moreira, vocalista do “Ultraje a Rigor”. Utilizando a hashtag em tom de deboche: “#PrimeiroAssédio Acho que tinha uns 10 anos. Uma empregada me deixou pegar nos peitos dela. Foi bom pra cac***”.

Mulheres vão às ruas contra Eduado Cunha e o PL 5069

Mulheres saem às ruas contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e seu Projeto de Lei que dificulta ainda mais o atendimento às mulheres vítimas de estupro. Os protestos denunciaram o machismo. em uma unidade de saúde, modiEduardo Cunha e a presidente fica o atendimento que essa vítiDilma, não se cansam de atacar ma receberá no hospital vetando os direitos da classe trabalhaorientações sobre aborto legal — dora. Aprovaram as MP’s 664 e no país, somente em casos de es665, que atacam o PIS e o Setupro, de risco para a mãe ou para guro Desemprego. Cunha ainda fetos anencéfalos. Além disso, fez a maior manobra já vista para segundo o Projeto Lei, ela só poaprovar a redução da idade pePelo arquivamento do derá receber medicamentos que nal para 16 anos, aumentando a PL 5069/13 não forem abortivos, proibindo até criminalização dos jovens negros O PL 5069/13, de autoria do mesmo a pílula do dia seguinte se das periferias. Ele também foi o articulador do projeto que limita o presidente da Câmara, Eduar- a mulher for estuprada. Isto é punir conceito de família apenas para do Cunha (PMDB-RJ), e outros a vítima e não o estuprador! A PL casal de homem e mulher com fi- 12 deputados é mais um capítu- 5069/13 discrimina as mulheres e lhos, desconsiderando casais ho- lo dessa lista de projetos contra precariza o exercício de direitos moafetivos, mães solteiras, filhos a nossa classe e em especial às e deveres importantes em nossa sociedade. Os protestos de rua criados por avós ou parentes, etc. mulheres. O projeto prevê que uma víti- demonstram a insatisfação das Mas seu discurso moralista caiu por terra após descoberta das ma de abuso sexual ou estupro mulheres nessa questão . Mas a contas na Suíça, com 5 milhões terá que realizar um boletim de luta não pode parar e deve se dide dólares provavelmente de es- ocorrência e fazer um exame de rigir a todos os que não respeitam corpo de delito para ser atendida os direitos das mulheres. quema de corrupção.


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Sintect-VP na luta contra a opressão

Crime por homofobia poderá ser especificado em SP

Os LGBT´s agredidos por preconceito devido a condição sexual poderão tipificar as ações de crimes homofóbicos nos boletins registrados em todas as delegacias do estado de São Paulo.

A mudança já está valendo desde o dia 5 de novembro, quando a Lei Anti-Homofobia (10.948/01) completa 14 anos de criação. Apesar desta lei estadual ter sido criada em 2001, até agora, quando uma vítima registrava queixa, não encontrava espaço nos boletins de ocorrências para detalhamento das ações discriminatórias. Isso impedia o levantamento real do número de casos de homofobia e dificultava o combate aos crimes do gênero. Esta medida abrirá espaço no sistema de registro de boletins de ocorrências - onde haverá a declaração facultativa do nome social da vítima, condição sexual e identidade de gênero -, motivo presumido de discriminação, da violência motivada por identidade de gênero.

Vem aí...

Para lutar contra a homofobia é preciso ir às ruas e enfrentar o Governo

Com o ajuste fiscal, Dilma cortou quase R$ 80 bilhões do orçamento, comprometendo a saúde e a educação ainda mais, para manter o lucro de poucos. Agora, com a Agenda Brasil, as terceirizações vão se proliferar. Se na saúde falta estrutura para atender as especificidades dos LGBT’s, com menos dinheiro isso se torna ainda pior. O mesmo acontecerá em relação à educação, à segurança e às demais áreas. Quem derrotou Feliciano e seus planos como a “cura gay” deve voltar às ruas e derrotar Eduardo Cunha, Temer e Dilma Roussef. É preciso construir uma alternativa. Negros, mulheres e LGBT’s devem ser parte desta luta. Contraditoriamente, até mesmo dentro de

alguns movimentos LGBT´s ainda são espaços que reproduzem a homofobia e a transfobia. Estas organizações se limitam a enfrentar a homofobia tendo por objetivo algumas reformas, sem lutar contra o capitalismo, que é um sistema que se beneficia das opressões para explorar os trabalhadores. Nossa libertação só virá com o fim deste modelo político, econômico e social. A luta pelo fim do machismo, do racismo, da homofobia e da transfobia é uma luta pelo socialismo!

No próximo dia 21 de novembro, ocorrerá o I Seminário de Negros e Negras do Sintect-VP. A realização deste seminário para esta categoria onde a maioria é de origem negra e todos são extremamente explorados, será uma atividade histórica. Diante de uma crise econômica e política, com cortes e ajustes fiscais, negros e negras são os que mais sofrem com todas as retiradas de direitos. O projeto de redução da maioridade penal vem como reflexo da política de cortes, em que encarcerar o jovem da periferia se torna mais viável do que investir em educação, esportes, entretenimento, moradia, transporte, etc. Sabemos que a solução é mais escolas e menos prisões. Enquanto isso, o governo Dilma do PT corta 7 bilhões da educação e o Governo Alckmin do PSDB fecha escolas em todo o Estado de São Paulo. As escolas também não ensinam a cultura do povo negro e este é mais um motivo para participarmos deste seminário para conhecer um pouco mais da história de nossos lutadores e debatermos políticas raciais para o próximo período. Nós do Sintect-VP buscamos levar nossa política com ênfase na luta contra a opressão e racismo. E para dizer não a toda forma de discriminação, é preciso construir cada vez mais representantes e um movimento amplo para ser vitorioso. Só com mobilização, venceremos a exploração e a opressão!

Expediente - Publicação do Sintect-VP - Sede S.J.Campos, R. Genésia B. Tarantino, 115 - Jd. Paulista, Fone: (12) 3941-5451 ou (12) 33025996 - Jornalista Responsável: Angélica de Paula, MTB 50299 - www.sintectvp.blogspot.com.br - E-mail: sintect_vp@yahoo.com.br


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