DEARTES | UFPR CURITIBA
3 — 1 1 D E AGOSTO DE 2015
COORDENACÃO
ARTISTAS
CONSUELO SCHLICHTA ALINE TEPASSÈ B A R T E L • ANA R OV I E R O • ÂNDRIA KAMINSKI • CAMILA DINIZ R O D R I G U E Z
•
MONTAGEM
CA MI L A GO N Z AGA • C A R O L I N A D E A Z E V E D O • CAROLINE B O R TO LO N • C R I S T I N E S I Q U E I R A •
CAROLINE BORTOLON • E L I Z E T E
E L I Z E T E C O G O • E S T E R V I T O R • F L ÁV I A
C O G O • F L ÁV I A B Ü H R E R •
B Ü H R E R • ISABELLE GUERCHESKI
JAMILE
RAK • NINA ZAMBIASSI • RENAN
M U N A I E R • J E A N A L I S S O N • KARLA PINHEIRO
A R C H E R • TA L I TA B A Z Z O R A U B E R
• K I M B E R LY S I M Õ E S LUIZA
•
•
LEONA RDO
RAK •
S C H N I T Z L E R • MARCELLEN NEPPEL •
MARCIA
LEONADO
FOTOGRAFIA
M AC H A D O • M A R I A N A G U S S O N I C K E L
• M A T H E U S G R U B E R • M AT H E U S F . H A R T M A N • M AT T H I A S TSCHUMI • MONISE B A U D E L A I R E • N E Y D I A N E HERNANDES • NINA ZAMBIASSI •
A L I N E T E PA S S È B A R T E L • MARCELLEN NEPPEL
O B À R Á BARBOSA • R A F A E L A F É L I X • R E N A N ARCHE R
•
R O D R I G O
BAZZO R A U B E R
•
CAPA
D U E N A S • TA L I TA
V I TÓ R I A
B OT TA R O
NINA
ZAMBIASSI
DIAGRAMAÇÃO MARCELLEN NEPPEL
LEONARDO RAK 055 LUIZA SCHNITZLER 058 MARCELLEN NEPPEL 061 M A R C I A M AC H A D O 0 6 4 MARIANA GUSSO NICKEL 067 M AT H E U S G R U B E R 0 7 0
0 0 6 I N T R O D U ÇÃO 0 0 7 A L I N E T E PA S S È B A R T E L 01 0 A N A R OV I E R O 013 ÂNDRIA KAMINSKI 016 CAMILA DINIZ RODRIGUEZ 01 9 CA M I L A GO N Z AG A 022 CAROLINA DE AZEVEDO 025 CAROLINE BORTOLON 028 CRISTINE SIQUEIRA 031 ELIZETE COGO 034 ESTER VITOR 0 3 7 F L ÁV I A B Ü H R E R 040 ISABELLE GUERCHESKI 043 JAMILE MUNAIER 046 JEAN ALISSON 049 KARLA PINHEIRO 0 5 2 K I M B E R LY S I M Õ E S
M AT H E U S F . H A R T M A N
073
M AT T H I A S T S C H U M I
076
MONISE BAUDELAIRE
079
NEYDIANE HERNANDES
082
NINA ZAMBIASSI
085
OBÀRÁ BARBOSA
088
R A FA E L A F É L I X
092
RENAN ARCHER
095
RODRIGO DUENAS 100 TA L I TA B A Z Z O R A U B E R
103
THAIS BAIRROS 106 V I T Ó R I A B O T TA R O 1 0 9
SUMÁRIO
C
ertamente, uma exposição de desenho não é uma novidade ou uma invenção no DEARTES. Nem é novo o fato de se encorajar os/as alunos/as do Curso de Artes Visuais, no exercício da exposição, desde o 1º ano. Nem é nova a proposta de diálogo entre imagem e palavra na produção de um livro de artista. Mas a criação de um livro com um número de páginas tomando como referência a idade dos alunos, de certa maneira, trouxe um novo desafio. Para cada aluno/a um livro com uma quantia diferente de páginas, que incorporasse a busca de uma marca pessoal, de um lugar acima de tudo no âmbito da pesquisa em desenho e de suas possibilidades na produção artística contemporânea. O que se propôs foi uma reinvenção do exercício pessoal em produção artística, que incorporasse as práticas do desenho figurativo, pois ele tem presença cativa nos campos de representação do mundo visível; da experimentação
além do risco, do traço, do desenho como linguagem construtiva, como desígnio, projeto, intenção. Uma produção que desvencilhasse a linha da ideia de elemento configurador subordinado a forma, pois, na contemporaneidade o desenho reclama permanentemente sua autonomia. Aliás, o desenho, retomando o conceito de campo expandido, de Rosalind Krauss, também se beneficia das articulações entre perceptual, conceitual, experimental e processual. Cada livro explora os limites entre as linguagens, articula fotografia, desenho, letra, imagem. Alguns livros permanecem no encontro entre escrita, história pessoal e desenho, outros desconstroem, propõem a dissolução dos limites entre as linguagens artísticas, enfrentam o desafio da práxis do desenho sob muitas perspectivas artísticas e contextos culturais, na procura de uma linguagem pessoal. Consuelo Schlichta
INTRODUÇÃO 006
ALINE TEPASSÈ BARTEL
06 007
Destino Fotografia e colagem digital em papel.. 15 cm x 15 cm 008
N
o meu projeto usei a técnica de colagem digital para mostrar a conexão entre o universo que existe no céu com o universo que existe no mar, através da linha do horizonte. As fotos dos meus olhos com várias expressões diferentes mostram em seus interiores paisagens diversas de mares e céus que passaram pela minha vida. O horizonte significa o equilíbrio perfeito do Destino. As águas dos mares simbolizam o meu ser e os céus o mundo fora de mim. Assim o meu olho, a porta de entrada e saída da minha alma, mostra a demarcação do meu horizonte e do meu equilíbrio. Indicando que o ideal de destino é sempre ficar perto desta linha tênue, sem sair muito de você nem se aprofundar nos abismos das suas profundezas. A linha preta, uma forma tão simplificada de desenho, contrasta com as técnicas digitais usadas nas minhas colagens. Mostrando que algo tão complexo e denso como o Destino pode se reduzir a algo tão pequeno e concentrado: A sua essência.
009
ANA ROVIERO
010
Problemas Lápis de cor, nanquim e sangue sobre papel. Capa em papelão e tinta acrílica. 15 cm x 22 cm 011
“P
roblemas� narra a rotina de sua criadora com suas lutas diårias para sobreviver na vida adulta.
012
ÂNDRIA KAMINSKI
013
Caixas de Artista Pintura sobre papel, colagem de materiais (tais como glitter, pelos de gato, parafusos, cabos eletrĂ´nicos, flores de plĂĄstico, relĂłgio, madeira, entre outros), costura e colagem em tecido, aquarela e pastel sobre papel, entre outros. 17 caixas de 9 cm x 9 cm x 4 cm. 014
E
ste livro de artista é formado por 17 caixas, cada uma com uma palavra em sua tampa, e o seu significado de acordo com um dicionário na parte de dentro da tampa. Dentro de cada caixa, há algo que estabelece alguma relação entre a palavra e a vida da artista, procurando causar uma reação de impacto ao ver o interior da caixa, pela mesma ser preta e não ter nenhuma informação além da palavra colocada na mesma, e o interior ser cheio de possíveis significados para cada palavra.
015
CAMILA DINIZ RODRIGUEZ
016
Cidade(s) Desenho com caneta preta sobre papel sulfurize 10,5 cm Ă— 14,8 cm 017
N
ĂŁo posso viver sem a urgĂŞncia de uma cidade grande.
018
CAMILA GONZAGA
019
Etiqueta Desenhos a caneta preta sobre papel 90 g/m². 16 cm x 21 cm 020
M
eu Livro de Artista trata sobre a busca de identidade e por um sentido. Assim, ele traça o panorama do fluxo de pensamento de uma mente confusa. Por isso, ele é fragmentado, apesar de ter uma certa sequência. Ele mostra essa névoa da dúvida e da tentativa de lembrança. Portanto, ele apresenta recordações de lugares e lembranças de infância que são apenas momentos que fazem algum sentido para minha consciência e trazem felicidade, também.
021
CAROLINA DE AZEVEDO
022
(Des)dobramentos Nanquim, aquarela, linha de bordado e flores sobre papel. 14,8 cm x 21 c 023
P
assado, presente e futuro. O livro traz consigo medos, memórias, julgamentos, prazeres, gostos e desgostos. É o desdobramento de uma alma que jå foi tantas vezes dobrada.
024
CAROLINE BORTOLON
025
Recordaçþes Desenho e colagens e fotografias sobre papeis diversos. 29,7 cm x 21 cm 026
E
sse trabalho representa um pouco de mim. Os materiais os quais utilizei foram todos pensados no sentido de passar delicadeza. Alguns deles, tais como folha de papel reciclável e folhas de árvore, retratam o quanto a natureza fez e faz parte da minha trajetória. Minha proposta foi a de apresentar alguns momentos da minha vida, sejam eles tristes ou alegres de forma leve e é dessa maneira que pretendo seguir, seja na carreira artística ou não.
027
CRISTINE SIQUEIRA
028
Camadas Papel Canson, papel vegetal, papelĂŁo, nanquim, tinta guache, lĂĄpis de cor, e giz pastel. TĂŠcnica mista sobre papel.. 029
A
obra funciona como um teste da artista para si mesma. A obra consiste em mostrar partes da vida e da personalidade da artista que geralmente não seriam expostas ou compartilhadas com outras pessoas. Visualmente, isso é representado com o uso do papel vegetal, que ora é utilizado para esconder ou expor elementos traumáticos. Em contraponto o traço característico acaba por vezes sendo delicado e a obra é feita quase inteiramente de papel, o que denora uma fragilidade, tanto dessas camadas que tanto escondemos quanto da obra em si..
030
ELIZETE COGO
031
ELIZETE COGO = VIDA = 49 ANOS = 7 CICLOS DE 7 ANOS Desenho, fotografia e colagem sobre papel.. 032
LUZ = ‘TERRA’ = PUREZA + ALEGRIA + AMOR = 3 CICLOS DE 7 anos = 21 anos SOMBRA = 7 PECADOS CAPITAIS = 3 CICLOS DE 7 anos = 21 anos COR = {(‘ÁGUA’ = EVOLUÇÃO) + (‘AR’ = LIBERDADE) + (‘FOGO’) = AMOR)] = 1 CICLO DE 7 = 7 anos LUZ + SOMBRA + COR = 7 CICLOS DE 7 = 49 = VIDA = ELIZETE COGO 033
ESTER VITOR
034
Ilustraçþes de minha vida Diversos materiais sobre papel. 035
A
quilo que serpenteia em minha memória, que enche a minha vida de significados, a luta contra uma sociedade opressora e o que ela já me fez sangrar... Algumas tristezas, alegrias, conquistas... O que enche meu coração de luz e amor.. Caem como folhas as palavras, acalmando, consolando e trazendo alegrias. E as gotas... Marcam para sempre como cicatrizes.
036
FLÁVIA BÜHRER
037
Livro de Lembranรงas Colagem, desenho, tranรงado e escrita sobre papel. 42 cm x 59 cm 038
C
om as memórias aprendemos a avaliar situações e podemos também transformar momentos e mudar sentimentos. Alegria, tristeza, lutas, dificuldades e superações, tudo faz parte da vida, tudo colabora para a transformação pessoal. As lembranças que aqui compartilho foram as mais marcantes e transformadoras. Nas páginas da minha vida mostro situações que muitas famílias também conhecem e com elas eu compartilho a força para continuar sem se embrutecer e crescer com as coisas boas e se fortalecer com as coisas não tão boas.
039
ISABELLE GUERCHESKI
040
Sem tĂtulo Desenho e colagem sobre papel 17,5 cm x 21 cm 041
042
JAMILE MUNAIER
043
Livro de artista Impressão jato de tinta em papel opalina 250g; Capa: glossy paper 180g e encadernação: wire-o branco. 40 cm x 66 cm 044
C
onsidero meu livro o resultado de um trabalho contínuo ao longo do tempo. Organizado, padronizado e linear. Limpo, branco, expansivo e ao mesmo tempo detalhado. Impessoal. Reflexo do meu lado mais técnico, menos artista, o que transparece aquilo que pretendo quebrar ao longo dos próximos anos. Posso dizer, então, que é formado por linhas e formas que exprimem minha atual personalidade, não apenas a minha imagem. O processo de concepção do projeto me ajudou a perceber a necessidade de fugir da minha própria zona de conforto. Esse livro é (pra mim) um primeiro passo.
045
JEAN ALISSON
046
II Nanquim e caneta sobre papel 16 cm x 15cm 047
À
altura das duas décadas de vida, quase todo indivíduo já é ciente das próprias dualidades. O embate entre as ambições e os medos, entre o pessoal e o social, entre a auto-imagem e a intimidade e como resolvemos estes conflitos são, afinal de contas, parte do que conhecemos como nossa própria identidade. “II” é uma breve autobiografia, onde cada dupla de ilustrações em preto e branco se confronta e complementa por dez momentos diferentes entre o começo da infância e o fim da adolescência.
048
KARLA PINHEIRO
049
Livro de Artista Aquarela, acrĂlica, lĂĄpis de cor, grafite e nanquim sobre papel. 22 cm x 21 cm 050
O
livro expressa os sentimentos da artista durante sua vida, a falta de amor próprio e ódio ao próprio ser, o desejo de mudança e a decepção de ter falhado. No fim, a aceitação de quem realmente é.
051
KIMBERLY SIMÕES
052
Maldita Anatomia Pintura, desenho, e corte em papel. 23 cm x 15 cm 053
O
livro faz uma vivissecção da artista. Usa elementos como borrões, sangue e tinta vermelha pra exprimir intensidade. Desenhos de rostos, órgãos e partes da anatomia compõem o livro. As cores predominantes são branco, preto e vermelho, cores intensas e com significados muito distintos e únicos, atribuindo a obra um caráter de semelhança a autora, poucas cores, mas fortes. O livro foi intencionalmente feito com pouco zelo ou capricho, como demonstração das lutas internas da artista para com sua aparência, batalha que a acompanha desde a infância.
054
LEONARDO RAK
055
Repertório Técnica mista sobre papel. 30 cm x 21,5 cm 056
“A
s pessoas só irão entender umas às outras quando sentirem a mesma dor” – frase de Yahiko (Pain), do mangá Naruto, traduz com perfeição a proposta deste livro de artista. Estamos acostumados, infelizmente acostumados, a julgarmos uns aos outros com uma autoridade que nem em sonho nos é concebida; julgamos, como se não fosse nada, sem entender, de fato, as pessoas ao nosso redor. E não as entendemos,
por vezes, pelo simples fato de não determos o mesmo “repertório” de vivência destas pessoas; por não termos passado pelas mesmas experiências, pelas mesmas circunstâncias, enfim, por não termos sentido “a mesma dor”. Caro, se você não entender muitas das páginas deste livro, não é falta minha e nem sua; simplesmente o meu “repertório” é diferente do seu.
057
LUIZA SCHNITZLER
058
Livro de Artista Aquarela sobre papel 059
R
etomar: recuperar, tomar novamente, reaver aquilo que foi perdido.
Retomar foi a palavra chave para este trabalho: trazer à memória aquilo que realmente fez e faz bem. Lembranças do tempo de criança que me fazem retomar aromas, sabores e sentimentos; coisas que vêm da família, manias, coleções, crenças, particularidades de cada momento de minha vida que não passaram despercebidas. Coisas que foram formando o que sou hoje e no que ainda irei me transformar. O primeiro amor, as amigas de infância; os amigos de agora, os amores de agora, a família de agora e o crescimento que vai ocorrendo no seu devido tempo. Este livro foi uma forma de expressar o meu amor pela vida que tive, pela vida que tenho e pela vida que ainda ei de ter. E é com gratidão que dedico este livro aos amados que passaram pela minha vida e que com certeza a marcaram de alguma forma muito especial.
060
MARCELLEN NEPPEL
061
Postais Desenho, colagem e impressão digital sobre papel. Cartão horlle (capa); encadernação japonesa em barbante encerado; envelopes de papel; impressão a laser sobre papel couché; acrílico. 14 cm x 20 cm 062
L
embrança que fica. Lembrança que vai. “Mande lembranças!”. O cartão postal surgiu neste trabalho como objeto de experimentação por sua função de trocar memórias entre duas ou mais pessoas através de um suporte físico. Enviar recordações alegres. Ou enviar a notícia da sobrevivência. Esta obra traz a lembrança como tema. Cada página é um envelope contendo um cartão postal correspondente a um ano de vida. Em cada postal, um vestígio de memória. Uma imagem construída através de técnicas e materiais diversos, convidando o espectador a sair do campo visual ao retirar cada vestígio de seu envelope e sentir cada memória, através de cheiro, textura e som, tornando-se assim, o destinatário de cada lembrança.
063
MARCIA MACHADO
064
Eu Meu Grafite, lรกpis de cor, marcador e recorte em papel e acetado. 33 cm x 30 cm 065
U
ma busca, uma pesquisa sobre mim, um ciclo de momentos bons e ruins - este trabalho representa uma olhada para trás, ao meu passado. São vinte e quatro páginas enquadradas num livro em ordem cronológica, registrados em desenhos em papel preto e branco. O primeiro mar. A presença da família, O descobrir dos gostos. Minhas angústias. Felicidades. O movimento das amarras, do cabelo preso. A liberdade. Os sonhos.
066
MARIANA GUSSO NICKEL
067
Blue Velvet Grafite e strass sobre papel; Capa: veludo, argolas de metal. 44 cm x 31 cm 068
O
livro trata do processo de luto como reintegração pessoal. As “joias”, dispostas de acordo com a art nouveau, acordando com o veludo azul da capa, simbolizam a consumação de uma doença que, em seu processo, transforma tanto física como psicologicamente. Coladas,
dão sentido de não pertencimento da doença, como um acessório. A figura transfigura-se representando a recomposição a qual passamos após um processo de perda, dando um novo lugar a esse sentimento dentro de nós.
069
MATHEUS GRUBER
070
Retalhos Pintura, desenho e colagem BotĂľes, tecidos (retalhos), cola, papel, tinta, linha de costura e bainha. 21 cm x 29,7 cm 071
E
sse livro de artista tem como proposta trazer as memórias de uma grande costureira, minha avó, e relacionar essa temática, costura, com as fases da minha vida, desde meu nascimento até os dias de hoje. Cores vibrantes e lúdicas foram utilizadas para criar uma atmosfera viva e vibrante para que o observador sinta a proposta. As palavras foram utilizadas como uma quebra do mecânico e do orgânico, contrapondo conceitos e criando uma arte marginal que pretende incluir as palavras aos desenhos. Botões, retalhos e linhas de costura constroem uma estrutura frágil e delicada entre um passado enterrado de uma grande mulher, o presente de um menino e o amanhã de um homem. Papel, cola e bainha trazem a rusticidade, o cru, o cerne da questão, o fundamento de uma poética que pretende quebrar com a técnica e elevar o que se exclui como pobre e marginal a um patamar aceitável para a sociedade.
072
MATHEUS F. HARTMAN
073
Matheus / suehtaM Desenho, recorte e pintura sobre papel 18,5 cm x 24 cm 074
E
spelho, reflexão. Reflexos do mundo que nos permeia e fazem parte de quem somos. Até que ponto o “eu” é puramente “eu” e até que ponto ele passa a ser “eles” ou “nós”. O reconfortante colo do espelho, que desvia a atenção de nós mesmos, e nos faz olhar para o próximo. A infância, tão doce e tão cruel ao mesmo tempo, memórias que se fazem onipresentes e memórias que nem sabemos o quão influenciam o “eu” no presente. Elas se instalam nos cantos mais pertinentes da mente, não necessariamente escondidos, apenas encobertos pelo véu da lembrança. A construção da personalidade é algo linear? Quais são as suas fases e delimitações? Apenas uma coisa é certa, você é todos, você não é ninguém.
075
MATHIAS TSCHUMI
076
Estudos sobre o preto Desenho sobre papel carmim 20 cm x 14 cm 077
E
ste projeto de livro de artista tem como objetivo ser um experimento de materiais, traços, cores e papéis. Explorando cores pouco contrastantes como o preto do papel e o prata do grafite têmse um efeito no mínimo interessante, algo como traços e desenhos “escondidos”, misteriosos e que necessitam de alguma fonte de luz para refletir o prata e revelar os desenhos. Os desenhos, de certa forma, também são sombrios e misteriosos, sendo fruto da imaginação, questionamentos e experiências do artista. O livro se apresenta com uma capa igualmente preta e de um material rígido, mantendo a linha de raciocínio utilizada em seu desenvolvimento.
078
MONISE BAUDELAIRE
079
Pergaminho Desenho, pastel oleoso e aquarela sobre papel. 080
N
esta obra a artista expressou suas memórias mais agradáveis e motivadoras de sua vida. Muitos artistas expõem seus traumas e tristezas como foco em seus trabalhos, valorizando a negatividade. A artista traz aqui de forma rústica suas lembranças mais valiosas, abandonando as lembranças negativas.
081
NEYDIANE HERNANDES
082
Livro de Artista Chapa LF 1006 1,2, dobradiça soldada, papel canson 120g, verniz transparente brilhante, tinta a óleo, colagem, grafite, pincel atômico, lâ, linha branca para costura. 20 cm x 25,5 cm 083
S
ão duas fases. Na primeira tudo está preso, tudo aconteceu para dentro, é possível apenas espiar. É a fase em que moramos com os pais e as coisas acontecem internamente, não temos muita escolha, não tempos muito contato com o mundo, pois estamos protegidos do exterior. Na segunda fase, as páginas se soltam, estão à mostra, interagem com o exterior. Fase em que não há mais a proteção dos pais, em que tudo é por sua conta em risco, tudo é fruto de suas decisões, agora é o mundo que interfere em sua vida. Não são 26 anos de idade, são os 26 anos nos quais existo. Do primeiro ano, o ano zero, ao ano atual, no qual ainda não completei 25 anos, mas já pode ser representado. A ordem é cronológica, mas não formar uma narrativa. O livro pode ser visto na ordem em que se desejar, cada página representa um ano completo e são independentes. No entanto cada página está unida a outra, porque são sequenciais. Os materiais utilizados são aqueles que sempre estiveram presentes em minha vida e aos quais me apeguei, o ferro, o papel, o grafite, a tinta e o tecido. Documentos fazem parte das nossas vidas, andam conosco, nos identificam. Destes documentos: quanta coisa há que não gostaríamos que estivessem ali? Registradas? Quanto há que gostaríamos que fosse diferente? Único? Há tantas particularidades pessoais... quer gostemos ou não disso.
084
NINA ZAMBIASSI
085
Casa que me habita Desenho em papel; Capa: madeira e metal. 30 cm x 30 cm 086
A
obra tem como proposta investigar as conotações subjetivas da morada a partir da memória. Tomando como centro um personagem que tende ao autobiográfico, foram criados vinte quadros que convergem no limite da expressividade. Ao acessar a intimidade deste personagem, abre-se uma porta que simula a própria ambiência da casa (capa e madeira com dobradiça metálica). Os materiais mostram a sutiliza de um artefato em construção sempre em processo, ainda por ser acabado. Como o próprio sujeito.
087
OBÀRÁ BARBOSA
088
Aos meus fantasmas com carinho/ Ayê I Perfomance realizada em um espaço em processo de demolição, com o corpo coberto de argila. Fotografia e vídeo por Wemerson Costa. 089
E
ntrego um lugar onde tudo é esquecimento, onde a carne vira pó, o sonho vira sono, e os sorrisos amarelam, onde me enterro, onde me balanço, onde entro em contato com o útero, Nanã. Aonde me exorcizo de mim, e todos os dias são frio, as memórias se empoleiram na cadeira, cobertas pela poeira dos anos, onde nado na lama, lama que me engole, que me nutre. Apodreço. Putrefo. Feneço. Aonde danço com meus terrores, e bebo da taça das eras, onde tudo é eterno e efêmero, onde tudo é beleza e dor, atadura e corte, sorriso e lágrimas. Aonde me entrego à òlórum, e todo o peso do Ayê está em minhas costas, meus dias escorrem pelos dedos como argila amolecida. Enterro-me neste lugar, pois, sempre tive dificuldade em me desfazer das coisas, de me desapegar, me deixar levar. Por mais vulgares que fossem, móveis velhos, papéis de carta, paixões,
090
tudo que de alguma forma tenha feito parte de mim um dia… Agora ajoelhado no chão, contemplo, nacos de passado, fotografias emboloradas, cartas à punho, flores desidratadas. Absorto em tantas lembranças, percebo, que esse passado não é real, que todas as coisas que escrevo, que arquivo, são tentativas malogradas de me apegar ao que fui para, talvez, ter pedaços suficientes de mim para me recosturar um dia. Mas nesses momentos também era eu o que sou hoje. Como costurar pedaços de uma pessoa que nunca teve em si um único pedaço? Pensando nisso descartei, rasguei, me desfiz de tudo, continuo vazio, e agora meus pedaços dançam sozinhos na lixeira. Aos meus fantasmas com carinho. Eduardo Barbosa
091
RAFAELA FÉLIX
092
Dentro. Fora. Nanquim sobre papel, tecido sobre papel, colagem 21 cm x 29,7 cm 093
094
RENAN ARCHER
095
Corpos que sobem Aquarela, nanquim, grafite e outros materiais s/ papel; Tecido algodĂŁo; PapelĂŁo; Terra. 24 cm x 17 cm; 220 cm x 80 cm 096
D
urante a história do homem, no ato de se preocupar com o corpo que está para deixar esse mundo - após a vida ter deixado o mesmo -, ele cultivou, a prática de envolver o morto em pedaços de tecido, atribuindo a isso um sentido subjetivo, e, muitas vezes, utilizando o tecido de algodão como envoltório. Este tecido pode tanto lhe conferir a pureza e humildade, como na tradição judaica, unindo tanto o pobre e ao rico num uníssono de singela espiritualidade; como poderia ser o invólucro do corpo que foi preparado metodicamente para a eternidade que lhe aguardaria após o último suspiro, como na cultura egípcia. Passando por entre diferentes culturas e motivos, envolver o corpo desfalecido neste tecido é parte de um ritual tomado para ajudar no envio para o campo intocável que há após o corpo natural, após a vida que corre pelo organismo paralisar. Nos dezenove “corpos” aqui expostos, o tecido não serve para nunca mais ser tocado, para levar algo que não mais vive ao hibernar infindável, mas está ali para ser tocado, ser aberto, e para envolver corpos que são trazidos à tona, que foram despertados. Corpos que 097
estão a serviço de representar corpos do passado, de cada ano já vivido, e já movido para o passado. Corpos estes que não são constituídos de pele, cabelos, estatura e cheiro, mas, que são corpos que estruturam-se em memórias; corpos de velhos momentos, passagens, sonhos e angústias, que um dia abrigaram-se em um corpo de carne e ossos, porém, que agora podem ser sondados apenas em finos traços negros, pela inocência de tons de azul, roxo e verde, ou pela dramaticidade das escalas cinzentas. Cada um dos corpos aqui são estes corpos fundidos em histórias e marcantes emoções vividas, e onde juntos fazem parte de um todo, um esqueleto que não pode ser quebrado, que é a história já escrita deste que aqui lhes escreve. O último corpo, o décimo nono, ainda não forjado, terminado, constituído, deve esperar o andar dos dias, mais uma completa volta ao redor do Sol para dizer-se pronto; deve, ainda, virar lembrança e não ser realidade. Um corpo que transita pelo mundo enquanto o sente e absorve, sofrendo pela sequência inevitável dos dias as causalidades que participam da formação do seu íntimo, possui 098
sempre em seu histórico, lugares que foram importantes para a formação daquilo que ele chama de “eu”; lugares que são dignos de memória. Onde passa ou passou a maior parte de seus momentos; onde abriga, ou abrigou, o seu carinho e senso de segurança; o lugar onde viveu seus primeiros desafios, seus maiores medos. A memória é o maior banco de dados dos momentos de importância, mas esses momentos têm também coordenadas, têm lugares de acontecimento, têm a sua terra própria. A vida de um corpo, ao experienciar o mundo, enraíza simbolicamente parte de si mesma na terra dos lugares que foram importantes para sua constituição, fazendo do corpo um grande organismo, com raízes fixadas nos locais onde viveu suas principais emoções. A terra é aqui a exposição dessa simplificação da vida humana, da minha vida. Ela não cobre o corpo, escondendo-o do mundo, mas transpira logo abaixo dele, como o chão abaixo dos pés de todo o mundo. Essa terra é, além de diversa, o alicerce desse corpo de memórias, que se expõe aqui dividido, entre os anos de vida que já teve, como um corpo de corpos já deixados. Corpos de lembranças, com ossos de tinta, postos sobre a terra que me foi o chão durante os momentos que me deram o sopro da vida que conheço hoje. 099
RODRIGO DUENAS
100
Tudo e nada Grafite, lรกpis de cor, aquarela e recorte s/ papel. 30 cm x 21 cm 101
T
udo e nada, um livro de artista que representa “tudo” de mais importante que foi vivido, e ao mesmo tempo “nada” comparado ao que há de vivenciar mais adiante. São trabalhos que retratam memórias do passado, momentos do presente e projetos para o futuro inseridos em páginas giratórias.
102
TALITA BAZZO RAUBER
103
Olhar como Trajetória Amorosa Pintura com ecoline e nankin, colagem de impressão a laser, costura e clipes em papel. Encadernação com tecido brocado. 8 cm x16 cm x1,5 cm 104
M
eu livro de artista trata da trajetória visual dos meus olhos e do meu olhar para eles mesmos. Os acidentes da vida os mudaram esteticamente e, assim, a minha percepçao para com essa assimentria, deles e do próprio mundo, mudou. Por um momento, nao me reconheci. Dois olhos, um diferente do outro. Um do presente, outro do passado. Portanto, a minha poética neste livro é a busca pela aceitação dessa assimetria e pelo reconhecimento amoroso da mudança estética dos olhos e do olhar para si e para o mundo.
105
THAIS BAIRROS
106
Destruição de botões Acrílica, aquarela, guache, costura e colagem sobre papel 29,7 cm x 21 cm 107
Corpos atrás de botões. Botões atrás de corpos. Corpos que se transformam em botões. Botões que se transformam em corpos. Formas, cores, jeitos, estilos, personalidades. O padrão é preferível; misturar é melhor. Chamam a atenção; São simples; Têm importância. Afinal, o que difere os botões de corpos? O corpo chora, tenta ser o que não é, se autocritica a todo tempo, ofende, é ofendido, maltrata, é maltratado. Julga, mata, se autodestrói, é morto. O corpo vive de ilusões. O corpo é uma ilusão. No fim das contas, a esperança ainda existe?
108
VITÓRIA BOTTARO
109
FeitadĂŞ Desenho com caneta nanquim sobre papel, e linha de bordado. 110
E
u não me arrependo das coisas que eu fiz. De nenhuma delas, na verdade. Não que todas as escolhas da minha vida tenham sido escolhas acertadas, mas ainda que eu tenha cometido muitos erros e feito mal a algumas pessoas, eu não mudaria esses fatos. Porque eu acredito que ninguém nasce pronto. A gente nasce como um quebra-cabeça desmontado, e cada pessoa que entra na nossa vida é uma pequena pecinha. Cada piada que nos contam, cada choro que nos consolam, cada sorvete e pão-de-queijo que dividem, cada rímel que nos emprestam, cada perda em comum, tudo isso é a cola que gruda essas pecinhas na gente. Uma vez que uma peça se encaixa no seu quebra-cabeça, ela nunca mais sai. Os momentos-cola não podem ser desgrudados da gente. A não ser que soframos de amnésia. Todos os desvios que temos no caminho, todos os planos que mudam, eles são parte da nossa experiência e são, acima de tudo, grandes oportunidades. De aprender, de crescer, de não cometer o mesmo erro duas vezes. Recordar 111
o passado não significa viver nele, isso são coisas bem diferentes. Sou muito apegada ao meu passado, aos meus antigos amigos, à minha antiga escola, à minha antiga casa, aos meus antigos amores, porque todos eles me ensinaram coisas e me fizeram passar por coisas, boas e ruins, importantes para minha formação. Mas isso não significa que eu quero voltar. Não, isso seria desfazer todo o percurso que eu fiz até aqui. E o caminho para onde nossos erros nos levam pode ser um ótimo caminho, se soubermos aproveitar as oportunidades. Minha chegada nessa cidade foi um acaso, e eu não posso imaginar um destino melhor do que esse para mim hoje. É importante manter um pensamento otimista com relação ao futuro, porque assim como coisas ruins acontecem sem a gente esperar, coisas boas e ótimas oportunidades surgem quando mal estamos olhando. Mas se estivermos cercados de tralhas velhas amarguradas e de pena de si mesmo, não vamos conseguir ver. O ambiente onde eu cresci, as pessoas que me criaram e as coisas que eu penso que eu sou, tudo isso moldou meu comportamento e forma de ver o mundo. E esse livro na verdade é uma grande tentativa de demonstrar alguns traços da minha personalidade, e de agradecer todos aqueles que fizeram seu trabalho em formá-lo, só por terem entrado na minha vida, só por terem grudado no meu quebra-cabeça. 112
A exposição foi resultado da elaboração de trabalhos realizados na disciplina de Desenho I no curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Paraná, sob orientação da profª Consuelo Schlichta e da monitora Elen Patrícia, no primeiro semestre de 2015, em Curitiba.