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José Alberto Robalo · ANIL
JOSÉ ALBERTO ROBALO · ANIL
O MODATEX está a celebrar 10 anos. Que balanço faz desta década?
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Ao fim de 10 anos de atividade, o trabalho do MODATEX é reconhecido pelas empresas e pelos formandos. O MODATEX é procurado também por jovens com formação superior, por reconhecerem as valências complementares deste Centro de Formação. Os formandos do MODATEX têm-se destacado em eventos nacionais e internacionais com trabalhos de primeiro plano. Tudo isto é motivo de orgulho para o MODATEX, mas por outro lado, cria grandes responsabilidades para o futuro, que não poderão ser descuradas para que a fasquia da qualidade formativa seja cada vez maior.
Qual a importância do MODATEX para o setor?
O sector da Indústria Têxtil e Vestuário tem na Formação Profissional um dos alicerces mais importantes para enfrentar os novos desafios a que a nossa indústria está sujeita no âmbito da concorrência global dos mercados. Desta forma, a importância do MODATEX para o sector é indiscutivelmente de enorme relevância.
Quais considera serem as principais oportunidades e as principais dificuldades que se colocam atualmente ao setor? Que papel está reservado ao MODATEX?
A Industria Têxtil Portuguesa tem passado por várias “revoluções” desde a qualidade de Produtos e Serviços, a Inovação/Investigação, Moda/ Design, etc.. Hoje colocam-se outros desafios, como a Sustentabilidade, a Indústria 4.0, a Economia Circular, entre outros. O MODATEX, como um Centro de Formação Profissional em constante evolução, deverá adaptar-se a esta nova realidade, de forma a que a sua oferta profissional seja adaptada às atuais exigências, continuando a ser um parceiro essencial da ITV nacional.
Quais considera serem as prioridades do ponto de vista da formação para os próximos anos?
Como é do conhecimento geral e, particularmente das nossas empresas, a educação ministrada nas nossas escolas é, maioritariamente, desadequada à realidade, não preparando os jovens para a inserção numa vida de trabalho com formação adequada. Assim, enquanto este estado de coisas prevalecer, a Formação Profissional ministrada pelo MODATEX não poderá dedicar-se exclusivamente ao core business da Indústria Têxtil, mas terá também de preencher algumas lacunas educativas. Os próximos anos vão trazer novos desafios às empresas. A sustentabilidade do nosso planeta passou a ser uma preocupação constante do século XXI. Desta forma, a formação em Sustentabilidade, Economia Circular, Gestão de Resíduos, etc., serão os novos desafios para a formação. O MODATEX terá de se equipar com recursos humanos, e outros, adequados a uma formação de qualidade elevada.
A indústria 4.0 identificou necessidades adicionais de formação? De que forma o MODATEX ajudou a colmatar estas necessidades?
A Quarta Revolução Industrial, ou Indústria 4.0, não é um processo recente. Já começou há alguns anos, a nível mundial, com o desenvolvimento das tecnologias informáticas e robóticas, adquirindo uma importância maior atualmente, pelos últimos avanços tecnológicos postos à disposição das empresas. Todo este processo evolutivo cria novas necessidades de formação a que o MODATEX tem vindo a responder.
Há ou não falta de mão-de-obra no setor?
Neste momento, devido à pandemia, e consequentes alterações de mercado, há falta de mão-de-obra em alguns subsectores, enquanto noutros, existe mão-de-obra disponível.
O que pode ser feito para captar recursos humanos qualificados para esta indústria? É um problema de captação ou de fixação de recursos?
O problema da captação/fixação de recursos humanos qualificados para a nossa indústria varia muito de região para região. As empresas de Lanifícios, por exemplo, estão situadas, na quase totalidade, em zonas do interior, afastadas dos grandes centros urbanos do litoral, zonas essas, que têm vindo a perder população de forma dramática, ao longo das últimas décadas. Este problema não pode ser deixado exclusivamente nas mãos das empresas, pelo que tem de haver políticas públicas de descriminação positiva para quem quiser investir ou fixar-se nestas zonas de menor densidade populacional, existindo todo um leque de incentivos económicos que poderão ser aplicados, como benefícios fiscais, isenção de portagens, isenção de taxas, etc. Além disso, deveria ser feita uma campanha a nível nacional de divulgação dos diferentes benefícios que as pessoas/empresas iriam usufruir, não só a nível económico, como também, a nível de qualidade de vida.
O recrutamento de trabalhadores estrangeiros pode ser uma alternativa?
Devido à baixa de natalidade que o nosso país apresenta é natural verificar-se uma diminuição na mão-de-obra disponível, problema que tenderá a agravar-se, segundo os estudos existentes. Assim, considero perfeitamente natural o recrutamento de trabalhadores estrangeiros, desde que adquiram as competências adequadas ao trabalho na ITV portuguesa. Esta formação de mão-de-obra estrangeira é uma atividade perfeitamente adequada às competências do MODATEX e enquadrada nos seus objetivos.
Qual o impacto da pandemia no setor ITV?
O impacto da pandemia não foi sentido da mesma forma nos diversos subsectores que compõem a nossa Indústria Têxtil. Por exemplo, o sector de Têxteis-Lar teve um aumento anormal de procura, provavelmente, devido ao facto de as pessoas ficarem mais tempo em casa. Por outro lado, o sector de Lanifícios e Confeções sofreu uma quebra substancial, em alguns casos, superior a 60%, nas suas encomendas. Para esta quebra concorreu, seguramente, o encerramento dos espaços comerciais, assim como a proibição de eventos culturais, sociais e de entretenimento, que levam as pessoas a investir em vestuário e na moda.
Quais são as expetativas de recuperação do setor?
A recuperação do setor está, obviamente, diretamente relacionada com a evolução da pandemia, tanto a nível interno, como a nível externo. Esta crise provocou desequilíbrios económicos e financeiros graves, na grande maioria das empresas portuguesas. Por isso, uma das grandes preocupações da ANIL é a utilização dos fundos do PRR. Será gravíssimo, e com prejuízos irreversíveis a nível de encerramento de empresas, aumento do desemprego, recessão e correspondentes custos sociais, se as verbas do PRR forem canalizadas para os “vampiros” do costume, como, TAP, BES, BPN, CP, etc. Igualmente grave será o investimento excessivo em projetos megalómanos como a produção de hidrogénio anunciada, novos aeroportos, investimentos públicos não prioritários, e de duvidosa utilidade social, só eventualmente rentáveis em esquemas de monopólio, com custos incomportáveis para as empresas privadas e para os contribuintes em geral. Estou certo de que esta será uma preocupação partilhada por todos os portugueses conscientes da debilidade económica e social em que a nosso país está mergulhado. Por outro lado, se o PRR for um apoio efetivo, sério e expedito, na recuperação do tecido empresarial português e, consequentemente, da nossa Economia, as expectativas de recuperação serão muito elevadas, nomeadamente a Indústria Têxtil portuguesa, que é, desde há muitos anos, um vetor fundamental da economia nacional.
Uma curta mensagem para celebrar o aniversário MODATEX
A ANIL e os seus associados estão conscientes do trabalho do MODATEX no apoio à Indústria de Lanifícios, esperando que os próximos anos sejam de evolução positiva para o sector e para o MODATEX. Aproveitam esta oportunidade para publicamente reconhecerem o trabalho e a dedicação dos trabalhadores deste Centro de Formação ao longo desta década.