5 minute read

Paulo de Oliveira

A Paulo de Oliveira SA é a maior produtora de lanifícios da Península Ibérica. Um percurso que se iniciou em 1936 e que tem contado, ao longo dos últimos 10 anos, com a parceria e a colaboração do MODATEX na formação e recrutamento de profissionais altamente preparados para os enormes desafios que o setor, o país e o mundo atravessam.

“O MODATEX conhece a nossa realidade”

Advertisement

Há quantos anos se iniciou a relação do MODATEX com a Paulo de Oliveira S.A? E como se carateriza a mesma?

A nossa colaboração com o MODATEX vem desde a sua fundação e assenta num diálogo permanente. O MODATEX conhece a nossa realidade e tem sido inexcedível nas respostas às nossas solicitações. Podemos dizer que tem sido uma cooperação fundamental para o desenvolvimento dos nossos recursos humanos.

Que serviços presta o MODATEX à empresa?

No essencial recorremos ao MODATEX para formação e recrutamento. Saliento sobretudo a formação têxtil. Um serviço muito relevante para nós é a ligação entre o recrutamento e a formação. Isto é, incentivamos ações de formação e asseguramos um estágio no final da formação. Na prática quase todos os formandos acabam por ser inseridos nos quadros das empresas. Nos anos que antecederam a pandemia, estas ações foram um importante contributo para o crescimento e o rejuvenescimento da empresa.

Como avaliaria a prestação de serviços do MODATEX?

Como sempre acontece, nas parcerias bem-sucedidas importa ponderar a vontade e a disponibilidade e, nesse aspeto, a avaliação é excelente. É evidente que, ao longo do tempo e, até em função do ciclo económico, há momentos em que é mais fácil recrutar e fazer ações de formação e outros em que é mais difícil. Mas mesmo nos períodos mais complicados, em que não é fácil dar resposta à nossa assertividade, constatamos um grande empenho e vontade em encontrar soluções.

Quais são as principais mais-valias de um centro como o MODATEX para as empresas do setor?

Em Portugal, o sector da lã tem o epicentro na Covilhã, que é uma cidade industrial e que se desenvolveu sempre em ligação com a manufatura da lã. A preservação desta tradição, deste saber fazer, é um valor inestimável para todos os covilhanenses. É a essência da nossa história e, portanto, a difusão e preservação deste conhecimento, que é matriz do MODATEX, é uma mais-valia económica, mas também emocional.

Ao nível dos RH qual o principal desafio que as empresas do setor em geral, e a Paulo de Oliveira S.A em específico, enfrentam? Pode o MODATEX ser uma mais-valia nestes desafios?

O valor maior de uma empresa é o seu capital humano. E nós temos a felicidade de trabalhar com pessoas fantásticas e de ter uma rotação de pessoal muito baixa. Por outro lado, existe um estigma social para com o trabalho na indústria têxtil, que dificulta o seu rejuvenescimento. Contudo, verificamos que depois de inseridas na nossa realidade, a maior parte das pessoas adapta-se muito bem e fica connosco muitos anos. O MODATEX tem ajudado a ultrapassar esta barreira.

Quais as áreas onde têm mais dificuldade em contratar? Porquê?

Generalizando, podemos dizer que com a redução do ecossistema têxtil se tem tornado mais difícil contratar pessoas com competências técnicas e, portanto, é mais importante conferir-lhes conhecimentos teóricos para que, quando inseridos na nossa realidade, possam consolidar as competências que pretendemos.

A imagem do setor tem vindo a mudar nos últimos anos. Essa mudança tem sido suficiente para tornar o setor atrativo para a captação de mão-de-obra qualificada? O que falta ainda fazer?

Infelizmente existe um preconceito sobre a indústria no geral. Quando, na verdade, as estatísticas nos dizem que, em média, a indústria remunera mais, tem maior produtividade, exige mais qualificações e acrescenta mais valor que, por exemplo, a maior parte das atividades ligadas ao turismo ou ao setor terciário. Se queremos melhorar a nossa produtividade, para aumentarmos os salários médios, necessitamos de uma indústria forte. Mas, infelizmente, as políticas públicas não têm contribuído para a consolidação de uma base industrial forte. Este é um problema com décadas e que talvez explique uma parte das nossas dificuldades em crescer. Portugal está a empobrecer em termos relativos, estamos a atrasar-nos, o que deveria ser uma preocupação. É estranho porque não se discute isto. É necessária uma estratégia de longo prazo, que mobilize vontades para construir vantagens competitivas, em áreas como a transformação digital ou a transição energética. Faltam políticas públicas que facilitem o desenvolvimento dos negócios, incluindo um enquadramento moderno para as leis do trabalho e uma fiscalidade justa, previsível e amiga do reinvestimento.

Que desafios se colocam atualmente ao ITV em Portugal? Como se podem ultrapassar?

Os próximos anos vão ser transformacionais. Há uma década Andy Grove, o grande dinamizador da INTEL, escreveu um manifesto “how america can create jobs” que ainda hoje é poderosíssimo. A ilusão sebastiânica de que todos os nossos problemas se resolvem com “startups”, que vão criar infindáveis empregos e gerar incomensurável valor, é mais que um logro, é um perigo. Nada contra as “startups”, são fantásticas, mas sem uma base industrial forte, em que se possam apoiar, não há vantagens competitivas sustentáveis. Como intuía Andy Grove, a Intel do futuro vai ser asiática porque é lá que está a produção. A nossa base industrial tem que ser preservada e temos que criar condições para a fortalecer. Nos próximos anos podemos assistir a uma reindustrialização, numa lógica de proximidade, e o setor da moda pode recuperar glamour. A têxtil tem feito um trabalho fantástico, mas ainda há um caminho a percorrer e pleno de desafios complexos: digitalização, automatização/robotização, inteligência artificial, machine learning, alterações de processos de compras, alterações culturais com influência em políticas públicas, etc. Vai ser necessário investir para nos mantermos na linha da frente da produtividade e das competências. É necessário que as políticas públicas compreendam a amplitude dos desafios e protejam as empresas que têm capacidade para fazer face aos investimentos necessários para serem bem-sucedidas. As empresas maiores serão os polos de desenvolvimento das competências que depois serão disseminadas pelo seu ecossistema. Da mesma forma que são os nossos maiores clientes que nos obrigam a evoluir, seremos nós a ajudar os nossos parceiros locais. Não quero dizer que devemos apoiar as empresas “maiores” com o mesmo vigor com que apoiamos as pequenas. Nada disso. Apenas que a nossa legislação estigmatiza e é contrária ao crescimento e que será um erro tremendo se as empresas com mais de 250 trabalhadores não forem apoiadas nesta travessia. Esse erro tornará muito mais lento, difícil e talvez até inviabilize a transformação que desejamos. Uma têxtil com 250 trabalhadores não é grande. De facto, o maior problema da têxtil portuguesa é não ter empresas de dimensão internacional.

Breve mensagem de aniversário para o MODATEX.

Obrigado pela colaboração que nos têm dado e continuem a contribuir para melhorar as empresas e promover o emprego.

This article is from: