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César Araújo · ANIVEC

CÉSAR ARAÚJO · ANIVEC

O MODATEX está a celebrar 10 anos. Qual o balanço desta década?

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O MODATEX é um fantástico centro de formação profissional dedicado às necessidades das indústrias do têxtil e do vestuário. A componente técnica e tecnológica do ensino desta instituição responde à necessidade de formar pessoas e, simultaneamente, de as preparar para ingressar no mercado de trabalho. Não existem muitos modelos de ensino que promovam competências com base na necessidade real do nosso mercado empresarial pelo que, o balanço, só pode ser muito positivo. Enquanto presidente da Direção da ANIVEC, associação que representa milhares de empresas do Setor do Vestuário, considero cada vez mais relevante este tipo de ensino e essenciais as competências técnicas que os formandos adquirem.

Qual a importância do MODATEX para o setor?

Os setores do Têxtil e do Vestuário são tradicionalmente de cariz familiar e muitas das competências dos seus trabalhadores eram transmitidas de geração em geração, sempre no contexto familiar. Grande parte dos atuais trabalhadores ingressaram muito jovens no mercado de trabalho e não têm, muitas vezes por falta de oportunidade e por necessidade, o acesso à devida formação. O MODATEX está a ter a importante responsabilidade de ajudar a formar esta parte da população. O nosso país tem uma dívida geracional para com estes trabalhadores. É fundamental consciencializarmo-nos que o MODATEX promove instrumentos insubstituíveis para a formação dessas pessoas.

Quais considera serem as principais oportunidades e as principais dificuldades que se colocam atualmente ao setor? Que papel está reservado ao MODATEX?

O setor do vestuário está em permanente mudança. Hoje somos mais inovadores e sofisticados quer nos recursos tecnológicos, quer no produto final. Os clientes são também eles cada vez mais exigentes e é fundamental o contributo dado por instituições como o MODATEX para a competitividade do setor e para a adaptabilidade dos seus recursos humanos às novas práticas. Com novas máquinas, novas matérias-primas e novos processos, é necessário qualificar os nossos quadros.

Quais considera serem as prioridades do ponto de vista da formação para os próximos anos?

Para além do investimento em tecnologia, que sempre pautou as nossas empresas, é necessário investir em áreas fundamentais como a transição digital, o marketing, a modelação 3D, a manipulação em avatar ou a vertente da sustentabilidade e da economia circular. Estas transformações estão já a acontecer no setor e cada vez mais empresas estão a redirecionar o investimento para estas áreas. A Europa é referência mundial no setor da moda, e Portugal, que tem já um ecossistema propício para as indústrias da moda, tem de adaptar-se rapidamente às novas exigências do mercado, de forma a posicionar-se na vanguarda do mercado Europeu.

A indústria 4.0 identificou necessidades adicionais de formação? De que forma o MODATEX ajudou a colmatar estas necessidades?

A dinâmica da indústria 4.0 está a acontecer. Além das necessidades já mencionadas, e para as quais o MODATEX já apresentou vários planos de formação, redirecionando muitos dos conteúdos formativos para as referidas áreas, é fundamental sermos dinâmicos e estarmos preparados para a constante evolução e até mudança nos mercados.

Há ou não falta de mão-de-obra no setor?

A falta de mão-de-obra não é um problema exclusivo dos setores do Têxtil e do Vestuário. A população portuguesa está, na generalidade, envelhecida. As políticas que estimulam a natalidade são escassas e essa será outra “dívida” com que Portugal se deparará dentro de algumas décadas, quando não houver suficiente população ativa para assegurar o custo da população aposentada. Os setores estão todos a padecer do mesmo mal e na última década houve, inclusivamente, um incentivo à emigração. É claro que, setores como os das indústrias do Têxtil e do Vestuário, que requerem mão-de-obra mais intensa, ressentem-se mais com a falta de trabalhadores, principalmente dos segmentos mais jovens o que significa que não há, de forma adequada, a renovação dos quadros de pessoal.

O que pode ser feito para captar recursos humanos qualificados para esta indústria? É um problema de captação ou de fixação de recursos?

O futuro passará pela abertura do país à imigração e consequente investimento nessa população e na sua qualificação. A baixa natalidade é um problema europeu, não sendo exclusivo de Portugal. No entanto, é um problema especialmente grave para um país de 10 milhões de habitantes com recursos limitados. É urgente a implementação de medidas que promovam a natalidade, à semelhança do que alguns países do norte da Europa já estão a fazer.

O recrutamento de trabalhadores estrangeiros pode ser uma alternativa?

Sim, a curto prazo esta é a melhor solução. Devem ser criadas condições para captar e fixar fluxos migratórios em Portugal, havendo já o histórico de Portugal enquanto país de emigrantes. Para isso é essencial apostar na qualificação dessa população.

Qual o impacto da pandemia no setor ITV?

A chegada da Covid-19 afetou profundamente a indústria do Têxtil e do Vestuário, em especial as empresas que se dedicam ao vestuário mais formal. Com os confinamentos nos principais destinos de exportação, as empresas viram-se obrigadas a recorrer a apoios e estratégias alternativas para continuarem no mercado. A seguir aos sectores das viagens, do turismo e da restauração, o sector do vestuário foi aquele que mais sofreu com o impacto da pandemia, principalmente o subsector dedicado ao vestuário formal. As empresas tinham os seus modelos de negócio assentes numa economia de mercado e esta pandemia foi uma “guerra” que veio colocar um ponto de interrogação em tudo, e as empresas com mais trabalhadores sofreram mais e estão a sofrer.

Expetativas de recuperação do setor?

Este setor pauta-se pela resiliência, no entanto, por muita resiliência e vontade que se tenha, vão ser necessários mais apoios para proteger os trabalhadores e garantir a manutenção dos postos de trabalho. A adaptação a esta nova etapa já está em prática e a vacinação é uma lufada de ar, depois de meses em que estivemos completamente parados. No entanto, é importante compreender que somos um setor que trabalha por estações e, neste momento, já perdemos as encomendas relativas ao inverno de 2020 e ao verão de 2021. As lojas continuam cheias de stock de produtos porque, mesmo com a reabertura dos mercados e do comércio, a incerteza do amanhã está a inibir o consumo na escala que conhecíamos. As encomendas que as nossas empresas possuem têm pouca expressividade. Contudo, se os mercados não voltarem a encerrar, acreditamos que dentro de duas estações, haverá uma retoma consistente e normalização, mas até lá, as empresas vão continuar a ser geridas ao “minuto” e cada empresário vai continuar a ser um “general” na linha da frente.

Uma curta mensagem para celebrar o aniversário do MODATEX

O trabalho que o MODATEX tem vindo a desenvolver na formação de trabalhadores durante a última década tem sido fundamental para a competitividade e para colocar a indústria portuguesa na vanguarda. É essencial apoiar centros de competências para que Portugal consiga consolidar o seu lugar no mercado europeu e ainda conquistar mais mercados a nível mundial, enquanto “motor” de sofisticação e de qualidade. A próxima década será, sem dúvida, crítica para que isto aconteça, e serão instituições como o MODATEX que irão ajudar a alavancar as nossas indústrias.

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