Inesquecível

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J.R. WARD Inesquecível

São Paulo 2014


An Irresistible Bachelor An Ivy Book Published by The Random House Publishing Group Copyright © 2004 by Jessica Bird

Diretor editorial Luis Matos Editora-chefe Marcia Batista

© 2014 by Universo dos Livros Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros.

Assistentes editoriais Aline Graça Rodolfo Santana Tradução Isadora Prospero Revisão Geisa Oliveira Jonathan Busato Arte Francine C. Silva Valdinei Gomes Capa Osmani Garcia Filho

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Angélica Ilacqua CRB-8/7057 B517i

Ward, J.R. Inesquecível / J.R. Ward; tradução de Isadora Prospero. – São Paulo : Universo dos Livros, 2014.

304 p.

ISBN: 978-85-7930-756-0 Título original: An irresistible bachelor

1. Literatura americana 2. Ficção I. Título II. Ward, J.R. III. Prospero, Isadora

14-0740

CDD 813


Dedicat贸ria Para minha fam铆lia Bluegrass, com amor.



Capítulo 1 A mulher surgiu das sombras, e ele a reconheceu pelo cabelo ruivo. Ela se movia devagar e deliberadamente em sua direção, e ele soltou o ar, satisfeito. Queria perguntar aonde ela foi, pois sentira sua falta. Mas quanto mais perto ela chegava, menos ele tinha vontade de falar. Quando ela parou à sua frente, ele estendeu uma mão e passou um dedo por seu rosto. Ela era insuportavelmente linda, em especial os olhos. Eram de um azul espetacular, um tom que complementava os cachos acaju que caíam para baixo dos ombros. Ele a queria. Não, precisava dela. O sorriso dela aumentou, como se soubesse em que ele estava pensando, e ela inclinou a cabeça para trás. Ao olhar para aqueles lábios entreabertos em um meio sorriso, uma onda de urgência o atingiu. Entregando-se ao desejo, ele colocou as mãos nos ombros dela e a puxou para perto, querendo rapidamente tomar o que ela oferecia, antes que ela desaparecesse outra vez. Curvando-se para ela, ele sentiu ansiedade e algo mais, algo que fez seu coração bater mais do que com mero desejo. Os olhos de Jack Walker se abriram de súbito. Envolvido como estava com o desejo incontrolável, ele não tinha certeza se de fato acordara. Ou onde estava. Sabia que a cama não era a dele, mas nada mais.


Ele olhou ao redor para as formas negras no quarto. Depois que respirou fundo algumas vezes, as silhuetas começaram a fazer sentido. Ele estava no Hotel Plaza em Nova York, na suíte em que sempre ficava quando ia para a cidade. E a mulher que ele ainda queria tanto tinha evaporado. De novo. Ele olhou para as decorações do teto, frustrado. Não tinha dormido bem as duas últimas noites e precisaria de um sono decente em breve. Ele não era uma pessoa paciente, para começo de conversa, e a falta de sono certamente não estava ajudando. Aquele sonho o estava deixando louco. Toda vez era igual. Logo antes de beijá-la, antes de saber qual seria o gosto dela, ele acordava, molhado de suor e com um humor terrível. Jack passou uma mão pelo cabelo. Sem um alvo adequado para sua frustração, ele fervilhou de raiva na escuridão. Ele só tinha visto aquela mulher uma vez e não tinha imaginado que ela deixaria uma impressão tão forte nele. Inquieto, soltou-se dos lençóis emaranhados ao redor do seu corpo nu. Quando finalmente livre, foi até as janelas e olhou para fora. Era uma vista característica de Nova York. Arranha-céus se erguendo para as nuvens, faróis piscando em um labirinto de asfalto lá embaixo. Já era tarde, mas a cidade ainda se movia. Alguns dias antes, ele tinha saído de Boston esperando encontrar seu colega da faculdade, que era agora um consultor político de alto nível, e comprar de volta uma pintura que fora da família. Adquirir uma obsessão sexual subconsciente por uma estranha com certeza não estava no programa. Pelo menos a reunião tinha ido bem. E ele tinha conseguido o retrato. Na noite anterior, ele vencera o leilão no baile de gala da Hall Foundation. A pintura era uma representação magistral feita por John Singleton Copley e representava Nathaniel Walker, um herói da Guerra de Independência e proeminente ancestral de Jack. A obra custou quase cinco milhões de dólares, mas Jack teria subido ainda mais o lance. Ela jamais deveria ter deixado sua família e Jack era o único que tinha condições de resgatá-la. O que seria uma surpresa para qualquer pessoa exceto seus parentes mais próximos.

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Desde o dia em que o pai discretamente entrara em falência, Jack começara a empregar seu dinheiro arduamente ganho para proteger e fortalecer o legado da família. Para manter a herança orgulhosa e o estilo de vida luxuoso dos Walkers, um volumoso e incessante rio de dinheiro era requerido. Entre a família, no entanto, pessoas que ganhavam dinheiro estavam em falta, enquanto havia uma infinidade das que o torravam. Jack estava no primeiro grupo. A má administração do pai e as dificuldades financeiras de manter o Parque Temático Walker garantiram que Jack não se tornasse outro aristocrata inútil. Em vez disso, ele era um filho da puta insensível e competitivo que tinha uma reputação de vencer a qualquer custo. Tinha sido uma evolução que seu pai, Nathaniel James Walker VI, nunca tinha aprovado – mas, claro, as opiniões e escolhas do pai sempre foram equivocadas, na opinião de Jack. Nathaniel VI, como fora conhecido, era a síntese do filantropo da velha guarda. Pensava que só havia uma coisa a se fazer com dinheiro: distribuí-lo. Um cavalheiro não sujava as mãos fazendo as coisas pessoalmente. Era um jeito presumido de encarar a vida, e que fizera seu pai ser muito querido pelas universidades, bibliotecas e museus beneficiários de sua generosidade. Infelizmente, toda essa filantropia o levara à falência quando Jack tinha 25 anos. A pintura fora uma das primeiras posses vendidas para manter a farsa de uma fortuna ilimitada. Embora estivesse morto há quase cinco anos, Jack podia claramente imaginar os sentimentos conflitantes que seu pai teria com o retorno do primeiro Nathaniel. O retrato do patriarca estava de volta à família, contudo apenas graças às mãos sujas de Jack. Que ironia, ele pensou, apertando os lábios. Tentando esquecer o passado, Jack pensou que não deveria estar tão satisfeito consigo mesmo. Ele conseguira a pintura, sim. E também o maldito sonho. Ele fora ver a peça na Hall Foundation antes do leilão, esperando verificar rapidamente se seu estado era razoável e, então, ir embora. Vira o quadro, mas no processo tinha encontrado a restauradora de arte que, desde então, lhe tirara o sono.

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Ele a vira pela primeira vez quando ela saía de um escritório. Ela se voltou, o cabelo vermelho voando sobre os ombros, e seus olhos se encontraram. Ele ficara intrigado, como qualquer homem ficaria, mas ela ainda não o tinha arrebatado com seu charme. Eles foram apresentados por uma velha amiga, Grace Woodward Hall, presidente da Fundação. A mulher, Callie Burke, era uma restauradora de arte, e por mero capricho, Jack a convidara para ir com eles ver a pintura. Ele ficara impressionado com os comentários detalhados que ela fazia sobre a condição da pintura e sua avaliação do que seria necessário para cuidar dela adequadamente. Jack gostou também do jeito como ela olhou para o retrato. Os olhos de Callie Burke tinham se fixado no rosto de seu ancestral, como se ela estivesse extasiada. Quando perguntou se ela teria interesse em restaurar o quadro, no entanto, ela não demonstrou muito interesse, e cada um foi para um lado. Pelo menos até ele colocar a cabeça no travesseiro àquela noite. A princípio, ele tinha rido do sonho, contente ao ver que, aos 38 anos, sua libido ainda estava forte como sempre. A cada noite passada, porém, perdia o senso de humor. Por fim, pensara que eventualmente se esqueceria da mulher, pois eles nunca se reencontrariam. Entretanto, na noite anterior, após o lance vencedor no leilão, sua amiga Grace mencionou a mulher outra vez. Grace insistira para que ele chamasse a tal Callie Burke para a restauração do quadro, quase chegando ao ponto de pedir aquilo como um favor pessoal. Evidentemente, ela confiava na srta. Burke para o trabalho, e o incentivou a pesquisar o trabalho da restauradora para saber se ela era talentosa. Ao final da noite, ele concordara com o pedido, embora ainda não tivesse ideia de por que aquilo era tão importante para sua amiga. Olhando para a cidade, Jack decidiu que no dia seguinte investigaria o trabalho da restauradora e que, então, tentaria encontrá-la e faria o pedido outra vez. Ele não era do tipo que dava segundas chances às pessoas, mas talvez fosse uma boa oportunidade para começar. Tinha de admitir que ficara tocado com o apoio ardente de Grace. E os sonhos? Ele não se preocuparia com eles. Afinal, nem gostava de ruivas.

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– Jack? Ele se virou para a cama e olhou a silhueta escura de Blair Stanford. Sua noiva. – Não queria acordá-la – ele disse, quando ela se sentou. – Está tudo bem? – Sim. Tudo certo. Ela estendeu uma mão para ele. – Vem pra cama. Jack entrou embaixo dos lençóis e sentiu Blair colocar os braços ao seu redor. – Você está tenso – ela disse suavemente, acariciando seu peito. Ele entrelaçou seus dedos com os dela. – Durma. – Tem algo errado? – ela murmurou. – Esteve tão agitado nas últimas noites. – Não há nada errado, não se preocupe. Ele acariciou o braço dela, tentando fazê-la relaxar, mas ela ergueu a cabeça e a apoiou na outra mão. – Jack, a gente se conhece bem demais pra manter segredos. – Verdade. Mas quem disse que estou escondendo alguma coisa? Ele sorriu ao ver o cabelo loiro dela espetado para todos os lados. Estendeu uma mão e o alisou, pensando que ela não teria aprovado aquela desordem se pudesse ver-se. Mesmo no meio da noite. Blair o encarou por um longo tempo. – Você está repensando o noivado? – Por que diz isso? Ela hesitou. – Fiquei surpresa quando me pediu em casamento, e não falamos muito sobre isso desde então… – Ambos estivemos ocupados. Não quer dizer que estou mudando de ideia. O que Jack de fato queria dizer era que ela já deveria saber que ele não era o tipo de pessoa que “mudava de ideia”. Depois de decidir que era hora de se casar e de encontrar a mulher que queria ter como esposa, ele tomara todas as providências necessárias.

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– É só que… – Blair deu de ombros. – Nunca achei que nos casaríamos. Fico me perguntando quando vou acordar do sonho. Ele tocou o ombro dela, sentindo como estava tensa. – De onde está vindo toda essa ansiedade? – Nunca pensei que você fosse o tipo de homem que sossega. Teve muitas mulheres antes de mim. – Você sabe que as histórias sobre minha vida amorosa são extremamente exageradas. – Talvez, mas não faltaram oportunidades. E não são só as mulheres. Você é um viajante. Jack riu e pensou em seu irmão gêmeo. – Não, esse é o Nate. Ele já rodou o mundo quantas vezes? Quatro? – Você sabe que não é isso que estou dizendo. Você sempre foi inquieto. Ele pensou sobre a estranha mistura de sangue em suas veias, a combinação do DNA da aristocracia anglo-saxônica e de pescadores portugueses. Provavelmente Blair estava certa, embora ele nunca tivesse se questionado a respeito. Ele tinha a ânsia de liberdade típica de um homem do mar, assim como seu irmão, mas sempre temperara esses ímpetos com uma firme força de vontade e uma dose saudável de avareza. – Bom, inquieto ou não, vou ficar com você – ele disse a Blair. Ele a ouviu suspirar no escuro. – Quero que tenha certeza. – Você sabe como me sinto sobre você. – Você não me ama, Jack. As palavras sussurradas o atingiram com força. Ele abriu a boca, sem saber o que dizer, mas ela colocou um dedo fino sobre seus lábios. – Não tem problema – ela sussurrou. – Eu sempre soube. Ele pegou a mão dela e a beijou, querendo poder negar aquilo. Havia tantas características de Blair que ele adorava e respeitava. Ela também era um sucesso empresarial, no comando de uma empresa de decoração de interiores em ascensão. Tinha um estilo e uma elegância fantásticos. Era amorosa e compreensiva, duas coisas de que ele dependeria nos próximos doze meses. Tudo indicava que Jack se candidataria a governador do estado

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de Massachusetts, e ele sabia que Blair conseguiria lidar com o estresse da campanha com a mesma calma com que administrava tudo. Ele a valorizava. Gostava de tê-la em sua vida. O fato de não a amar era a única coisa faltante, mas ele não considerava um problema. Esse tipo particular de paixão não era algo que ele era capaz de sentir. Por nenhuma mulher. – Então talvez a questão seja mais por que você está casando comigo – ele disse. – Porque amo você e acho que somos uma boa equipe. – E somos mesmo. – Então fale comigo. Qual é o problema? Ele balançou a cabeça categoricamente. Não contaria para Blair que estivera sonhando com outra mulher. – Blair, acredite em mim. Não há nada com que você precise se preocupar. – Tá bom, tá bom – ela passou uma mão tranquilizadora sobre o ombro dele, como fazia com frequência. Ela tinha um jeito de lidar com Jack que ele gostava. Tranquilizador, mas não condescendente. – Mas espero que me conte em algum momento. Prefiro saber as notícias ruins cedo, não tarde. Ela se deitou e, aos poucos, relaxou contra ele, sua respiração se tornando profunda e regular. Jack encarou o teto enquanto ela dormia em seus braços. Quando finalmente fechou os olhos, visões da ruiva voltaram a invadir sua mente. Era só um sonho, ele disse a si mesmo. As imagens e sensações tinham mais a ver com sua libido do que com uma mulher que vira por… quanto tempo? Dez minutos? Além disso, ele sempre preferira loiras e tinha em seus braços uma mulher incrível e carinhosa. Era um homem com um plano e nada alteraria o curso da sua vida.

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