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@univdoslivros Love me to death . Brasil Universo dos Livros
UM
Dias atuais Brad Prenter pensava que se livraria da cadeia, mas Lucy Kincaid remediaria isso. Ela olhou o relógio do computador e franziu o cenho. Já eram quase seis horas e havia prometido ao irmão, Patrick, que não se atrasaria para o encontro depois de ter cancelado os planos deles para jantar duas vezes na semana anterior. – Vamos, vamos – murmurou ao dividir a tela em seis pequenas janelas de salas de bate-papo para monitorá-las simultaneamente. – Você apareceu todos os dias às cinco esta semana. Por que está atrasado? Pelo canto do olho, Lucy viu a diretora do grupo PMC – Prioridade para Mulheres e Crianças, Frances Buckley, aproximar-se. Fran havia se aposentado do FBI havia nove anos, depois de ter trabalhado para o departamento por 25 e, apesar de ter 70, aparentava ser uma década mais jovem. Depois que Lucy começou a trabalhar como voluntária no PMC há três anos, Fran logo se tornou sua mentora. Escrevera uma carta de recomendação entusiasmada para o processo seletivo de Lucy no FBI e a ajudara a se preparar tanto para o exame escrito quanto para o oral. E nas três últimas semanas
Fran a ajudava a lidar com a ansiedade pela espera por saber se havia ou não passado para a fase seguinte do processo de recrutamento. Lucy não se permitia pensar que poderia ser rejeitada. Mesmo assim, sabia que o processo poderia levar meses, e não saber o resultado era frustrante. Nos últimos seis anos só pensou em se tornar agente do FBI. Tudo o que fez – como a dupla formação em Psicologia e Ciência da Computação, os estágios no Senado e no Departamento de Polícia do Condado de Arlington e agora no Instituto Médico Legal, os trabalhos voluntários em escolas e no PMC – foi calculado para que ingressasse no FBI. Ela tinha esperanças de que os selecionadores vissem o que ela havia aprendido e como isso seria benéfico ao departamento. Fran apoiou uma mão nas costas da cadeira de Lucy. – Tique-taque. São seis horas, Lucy. – Só mais cinco minutos. Prenter ainda não está on-line e ele sempre aparece no fim de tarde. – A vida passa. E você não pode ficar aqui a noite inteira esperando por ele. Você também tem uma vida, sabe? Não tinha planos para jantar com seu irmão hoje? – Sim, mas... – Lucy, Prenter ainda estará por aí amanhã. – Ainda tenho um tempinho – Lucy disse. – Mais vinte minutos e ainda consigo chegar ao Clyde’s às sete horas. – Se correr até o metrô. – Corro rápido – ela sorriu para Fran, deliberadamente mostrando uma covinha solitária. A mulher mais velha balançou a cabeça, mas retribuiu o sorriso. – Vou puxar a tomada se você ainda estiver aqui às seis e quinze. Essa não era uma ameaça vazia; Fran já desligara a luz de propósito antes. Lucy jurou que obedeceria antes de se virar para as agitadas salas de bate-papo.
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Às 6h10, o computador de Lucy emitiu um sinal: aka_tanya havia recebido uma mensagem particular de bradman703. bradman703: vc tá aí? aka_tanya: sim, meio que. estudando. kkk. bradman703: vc tá livre hj?
O pulso de Lucy acelerou. aka_tanya: tenho prova importante. bradman703: e amanhã? aka_tanya: onde? bradman703: vc escolhe.
Mesmo Prenter estando em condicional e Lucy não sendo uma policial, aquela conversa chegava a uma zona cinzenta. Lucy preferiria que Prenter escolhesse o local. aka_tanya: ñ sei. algum lugar legal. perto do fx. bradman703: Firehouse?
Lucy revirou os olhos. Não era de frequentar bares, mas todos com menos de 30 sabiam que o bar perto de Fairfax ficava cheio de gente animada. Muita bebida, música alta, lotação máxima. Não era um lugar para se conversar; definitivamente era um lugar para paquerar. Era perfeito para homens como Prenter, e perfeito para uma operação do PMC. aka_tanya: blz. qdo? bradman703: 8? aka_tanya: J
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Lucy sorriu com seus botões ao inserir o emoticon. Fran disse da porta: – Dez, nove, oito... – Eu o peguei! – ela exclamou assim que enviou uma mensagem se despedindo de Prenter, dizendo que precisava estudar. Depois, enviou a transcrição da conversa para seu e-mail particular, saiu das salas de bate-papo que estava monitorando e se desconectou. Enviou uma mensagem de texto para o policial Cody Lorenzo: Prenter vai esperar ‘aka_tanya’ no Firehouse Grill, às oito, amanhã.
Ela saiu do PMC e enfrentou o ar frio. Adorava caminhar e não se importava muito com a temperatura baixa, embora sentisse falta das temperaturas mais amenas e do sol do sul da Califórnia. Puxou o cachecol para cobrir as orelhas e o pescoço e caminhou rapidamente em direção ao metrô. O frio arrepiou os pelos do seu braço, como se tivesse ouvido o arranhar em uma lousa. Disse para si que era o frio intenso, mas sabia que não era isso, era a conhecida sensação de estar sendo observada. Fingiu tossir e virou de lado para observar diretamente as pessoas caminhando ao seu redor, o trânsito na rua, os fregueses de um restaurante do outro lado. Um homem passou, acenou a guisa de cumprimento e seguiu em frente. Ela suspirou frustrada consigo por estar ficando paranoica. Há seis anos não conseguia se livrar da sensação de estar sendo observada, de que as pessoas sabiam pelo que ela havia passado e que, de algum modo, culpavam-na pelo seu destino. As sensações diminuíram com o tempo, mas Lucy duvidava de que um dia sumiriam completamente. Seu passado sempre a perseguiria, não importava o que fizesse. – Engula essa – sussurrou baixinho.
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“Você está prestes a colocar um estuprador na cadeia. Tem muito por que celebrar.” Com isso em mente, continuou até a estação do metrô, sempre ciente das pessoas que a rodeavam.
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sete
Eu sou o professor. Sou o mestre. Sou o guardião da verdade, da justiça, do modo americano de ser. Silenciosamente, meu riso corta a noite enquanto espero, observando a casa às escuras. Super-homem? Sim, sou um super-herói. Faço o que nenhum outro homem tem coragem de fazer. Educo as fêmeas, o quanto essas criaturas fracas, vazias e estúpidas podem ser educadas. As fêmeas me enojam. Coisas patéticas e pérfidas, elas mentem com a mesma facilidade com que respiram. O cabelo delas raramente é da cor que Deus lhes deu. As cores falsas que adornam o rosto delas são o testemunho físico das mentiras contínuas. As joias no pescoço, nas orelhas, nos dedos, diamantes e safiras e ouro, captam a luz e brilham, mas nada disso se compara à beleza simples de uma gema perfeita. A máscara que as fêmeas usam é a mentira. Quando se veem no espelho, elas mentem, até para elas próprias. Quando olham para mim, mentem. Com os olhos, com a boca, com as mãos. Elas mentem com o corpo. Mentem com as palavras, com os dedos, com os pensamentos. As mulheres se consideram invencíveis, acham que podem fazer o que bem quiserem, que podem atrair os homens
com suas falsidades e truques e depois nos escravizar. Nós sempre damos, damos, damos... Dinheiro, casa, carro, joias. Elas tomam, tomam, tomam e as mentiras se avolumam. Sou o guardião da verdade. Eu exponho as falsidades, uma a uma, até que elas aceitem a verdade. Até que elas se ajoelhem e obedeçam. Elas fazem isso para que eu viva. É o sacrifício final do amor. O castigo pela traição. Eu observo e aguardo porque sou paciente. A casa está às escuras de novo. Cheguei tarde esta noite, mas agora tenho tempo para esperar. Observar. Esperar. Tique-taque. O tempo passa. Meu tempo é desperdiçado. Meses de tempo desperdiçado! E pelo quê? Minha raiva cresce, é real, um ser vivo que me atormenta. Enche-me de calor que tanto é temido como é bem-vindo. Ela acha que eu não sou nada. Considero deixar o anonimato do meu carro, caminhar pelo jardim e esperar por ela. Quando ela chegar, vou cortar sua garganta. Minha visão se escurece e por um momento não enxergo nada. Quero que ela entenda que as ações dela têm consequências. Não posso educá-la se ela estiver morta. Luzes cortam a noite densa, enevoada e indistinta. O carro diminui a velocidade, para. Lucy Kincaid está em casa. Meu coração bate forte, depois salta no peito. Ela não está só. Ela está com um homem. A fêmea que me enganou está na entrada de carros com um homem. Ela é uma cadela traiçoeira. Mas ninguém tem a minha paciência. Ninguém tem a minha habilidade. Lucy Kincaid será a minha próxima aluna. Se minha única transgressão me ensinou uma coisa, foi nunca agir impulsivamente. Não vou pegá-la agora.
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Sou um planejador meticuloso, todos os detalhes são ensaiados, melhorados, aperfeiçoados. Por anos tal organização me fez bem. É o testemunho da minha consistência o fato de eu ter sido atraído somente uma vez pelo gênero mentiroso ao agir rápido demais. Ela faz um jogo perigoso, chamando minha atenção com seus hábitos lascivos e mentirosos para me atrair. Eu sou muito mais esperto do que uma mera fêmea, porém. Vejo o homem sair do carro, abrir a porta e acompanhá-la até a entrada. Quero matar os dois, embora ela provavelmente tenha mentido para ele assim como mentiu para mim, aquela vadia. Contudo, não tenho o luxo de cometer erros, preciso controlar esse impulso poderoso. Respiro o ar noturno e frio de janeiro enquanto minhas mãos se agarram ao volante. A paz recaiu sobre minha alma. Enxergo a verdade. Sou o guardião da verdade. O homem sai e eu considero a possibilidade de entrar para confrontá-la. Mas preciso me preparar para a vadia – e isso significa cuidar de assuntos inacabados. Saio de Georgetown e dirijo por 40 minutos até minha casa. Ou o que deveria levar 40 minutos se não fosse por este tempo horrível. Quanto mais demoro, mais frustrado fico. Porque minha aluna me espera. Finalmente chego a casa. Caminho pela neve recém-caída e destranco a porta da frente da casa que adoro. O cheiro familiar me faz sorrir; o plástico que protege o chão, o aroma remanescente do bacon de hoje de manhã, a lavanda das flores secas que vovó pendurou em todos os cantos... As flores se foram, mas o perfume permanece. Minha casa. Meu santuário. Eu ando e as tábuas de madeira rangem a cada passo em um som reconfortante. Abro a porta do porão e acendo a luz. Ratos correm pelo chão sujo em movimentos leves e ligeiros que também são conhecidos. A fêmea grita, se é por causa dos ratos ou da luz pouco me importa.
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A escada é nova. Precisei reconstruí-la quando dois degraus ruíram na semana em que retornei, depois de ter ficado afastado tanto tempo. Pouco mudou nesta casa. A escada. O porão. E claro, a jaula. Ela está sentada em um canto da grande jaula, os braços segurando as pernas, o queixo apoiado no joelho. Ela não consegue ficar de pé, mas pode ficar sentada, o que acho uma grande generosidade da minha parte. E há espaço para que ela se arraste e até se estique, pois a jaula mede 30 metros por 15. Ela me fita com olhos arregalados de medo. Medo e não desafio, bem como deve ser. – Estou pronta para minha aula, professor –ela diz. Pena que tenha de morrer para dar lugar à nova aluna. Ela só precisou de três dias para aprender a maneira adequada de me cumprimentar pela manhã. Ela está comigo há 27 dias e eu tenho, ou tinha, grandes expectativas a respeito dela. Talvez eu possa mantê-la por um pouco mais. Um dia? Dois? Pego a chave e a coloco na fechadura. Ela se retrai ao som da trava destrancando, mas não se mexe até eu dizer: – Pode sair agora. Ela rasteja até a abertura, mas espera até que eu a abra, fazendo-me pensar que vou sentir falta dessa aí. Ela teria sobrevivido muito mais do que tantas outras. Escolhi bem essa fêmea. Tão obediente. Tão ávida em agradar. – De pé. Eu comando. Ela se levanta, as pernas estão trêmulas, mas eu não a ajudo. Ela perdeu peso, mas, na verdade, ela é que era gorda demais. Uma mulher do tamanho dela, 1,75 metro, deve pesar de 50 a 55 quilos. Ela pesava muito mais do que isso. – Vá – eu digo, e ela segue para a escada. Vou logo atrás. No topo da escada ela espera por mim, como foi ensinada. Ela olha para a mesa da cozinha.
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– Não vamos... Eu a esbofeteio com o dorso da mão. Ela cai no chão e fica lá, com a mão cobrindo a boca. – Não lhe dei permissão para falar, fêmea – eu digo. – Levante-se. Eu saí depois do café da manhã. Já passa da meia-noite. Sei que ela está com fome, mas não me importo. A fêmea se levanta e fica de pé. Eu digo: – Vá. E indico a sala de estar. Ela anda e eu sigo. Eu abro a porta do armário perto da entrada e retiro meu casaco longo. Pego a arma da prateleira da porta. – Vamos andar – eu digo. – Abra a porta. Ela gira a maçaneta. Uma lufada de vento frio entra e ela estremece. Ela abre a boca, mas nenhuma palavra sai porque ela sabe o que é o melhor. Ela sabe que não deve pedir um casaco ou sapatos. Deixo que ela se debata uns instantes, perguntando-me se ela quebrará a regra pedindo o que precisa. Ela não pede; eu digo: – Pegue os chinelos e o casaco. A fêmea se vira para o armário e faz o que mandei. – Boa garota – eu elogio. Quando ela se veste, eu ordeno: – Vá. Ela obedece e eu sorrio. Sou um excelente professor; minhas alunas aprendem o que outros dizem ser impossível ensinar. Mas isso só prova o que eu sempre soube: as mulheres devem obediência aos homens. Ela caminha na neve fresca, as mãos esfregam os braços por sobre o casaco fino que ela veste. Ela olha de relance na minha direção, mas não ousa falar. Seu rosto enrubesce por conta do frio, os lábios começam a ficar azuis. Não andamos muito longe, só até o celeiro vazioa 50 metros da casa. Não é nem a metade do comprimento de um campo de futebol. Mas sei que está frio e que ela está ultrapassando minhas expectativas ao não reclamar. Estou certo em mantê-la viva por mais alguns dias. Pego outra chave e destranco o cadeado da porta do celeiro. Empurro a trava de metal e o vento empurra a porta para dentro. Nós entra-
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mos e eu fecho a porta atrás de nós, trancando-a por dentro. Ainda está frio, mas pelo menos não há vento, e minha fêmea diz: – Obrigada. Obrigada é a única coisa que ela pode dizer sem a minha permissão. Eu aceno a cabeça e indico que ela deve andar até uma das baias à direita. Ela obedece. – Entre –ordeno. Ela hesita. Na última vez em que ela entrou no celeiro foi para ser castigada. Ela levanta a mão. – Pode falar – eu digo. – O que fiz para desagradá-lo? – ela pergunta com a voz trêmula de frio e de medo. Prefiro o medo. – Você é uma mulher – eu digo. Indico a sela sobre o cavalete de madeira. Ela sabe o que fazer. Não preciso instruí-la novamente. Não gosto de ter de me repetir. Ela geme, mas se inclina sobre o cavalete e expõe as nádegas nuas para mim. Eu sorrio. Pego o remo do gancho e bato no seu traseiro. Você se comportará. Aprenderá sua lição! Acredito gritar o comando, grito, mas não digo nenhuma palavra. Eu bato e ela grita. Não importa o volume dos seus gritos; ninguém ouvirá. Bato com o remo de novo, o som da madeira na pele é excitante. Mas não vou colocar meu pênis nessa mulher desprezível. Nunca toquei em nenhuma delas desse modo. Não sei onde elas se meteram. Cuidarei das minhas necessidades mais tarde. Primeiro tenho de punir essa fêmea. Bato uma vez depois da outra, mais e mais rápido, e ela grita e chora. Um último golpe, e o cavalete cai, derrubando-a, ela fica lá, deitada, soluçando, com as nádegas em sangue. – Levante-se – ordeno.
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Ela não se levanta. Eu a agarro e a ponho de pé. Ela grita de dor e cai de joelhos. – Vai se arrastar de volta à jaula. Eu ordeno. Levanto o remo. Ela começa a rastejar. Abro a porta do celeiro e ela rasteja pela neve. Eu sorrio. Até mesmo a mais teimosa das mulheres pode aprender a obedecer. Até mesmo Lucy Kincaid.
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