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Retranca Periódico Institucional Bimestral Número 16 - janeiro/fevereiro de 2010

Relato de Caso

ESCLEROSE TUBEROSA TAMBÉM NESTA EDIÇÃO Reuniões Ordinárias página 3 Confira as alterações nas datas das reuniões ordinárias já programadas para o ano de 2010.

Entrevista página 5 O patologista Dr. Horácio Friedman comenta a relação entre a especialidade e a dermatologia.


Agenda

Editorial Prezados colegas, Assumimos a presidência da SBD-DF para o período de 2010-2011. Como característica de nossa chapa está um grupo de colegas que em comum agregam experiência e dinamismo. Meu vice-presidente, Dr. Iphis Campbell, contribuirá com sua larga experiência profissional e será um ponderador e conselheiro. Nosso primeiro secretário, Dr. Helbert Abe Rodrigues, contribuirá com a sua paciência oriental para organizar e estruturar nossas reuniões. A segunda secretária, Dra. Bárbara Uzel, com sua alegria baiana, estará a cargo da divulgação das nossas reuniões. Para tesouraria, convidei a Dra. Janine Ribeiro, por conhecer sua grande capacidade gestora. Todos estaremos empenhados, doando nosso tempo de trabalho à SBD-DF, por sermos pessoas institucionais e amarmos a dermatologia. Criamos ainda os cargos de coordenadores, sendo que à frente do nosso informativo está, como editora-chefe, a Dra. Tatiana Varella empenhada em aumentar o jornal e levá-lo até os colegas das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. O Dr. Luciano Morgado cuidará do nosso site, a fim de torná-lo mais útil aos sócios locais. O Dr. Marcelo Pompeu coordenará nossa campanha do câncer de pele, evento em que pretendemos gerar inovações, tornando-o mais abrangente e com maior adesão dos colegas. O Dr. Gustavo Godoi estará à frente dos cursos práticos, tornando-os úteis dia-a-dia dos colegas que atuam nos consultórios. Por último, o Dr. Thiago Antonio Pinto, nosso ombudsman, está à disposição para ouvir criticas e sugestões à nossa gestão. Espero contar com o apoio dos sócios, com sugestões e criticas à nossa gestão. Estaremos doando nosso tempo e entusiasmo por nossa especialidade e esperamos ter em troca a participação de todos. Gilvan Alves Presidente da SBD-DF 201011

19/03 e 20/03 III Simpósio Nacional de Doenças Infecciosas e Parasitárias IV Simpósio Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis III Simpósio Nacional de Hanseníase Local: São Paulo (SP) Informações: sbd.org.br 09/04 55ª Jornada Goiana de Dermatologia SBD Regional GO Local: Goiânia (GO) Informações: sbdgo.org.br 21/04 a 25/04 XXII Congresso Brasileiro de Cirurgia Dermatológica Local: Rio de Janeiro (RJ) Informações: sbcd.org.br 21/05 e 22/05 II Teradermda Sociedade Brasileira de Dermatologia Local: São Paulo (SP) Informações: sbd.org.br 29/05 a 01/06 XXVIII Reunião Anual de Dermatologstas Latinoamericanos (Radla) Local: Buenos Aires (ARG) Informações: radlaargentina2010.com.ar

Expediente

Diretoria 2010/2011

Informativo da Sociedade Brasileira de Dermatologia - DF

Presidente: Gilvan Alves Vice-Presidente: Iphis Campbell 1º Secretário: Helbert Abe Rodrigues 2ª Secretária: Bárbara S. Uzel Tesoureira: Janine Ribeiro Coordenador do Site: Luciano Morgado Coordenador Campanha do Câncer de Pele: Marcelo Pompeu Coordenador de Cursos Práticos: Gustavo Godoi Ombudsman: Thiago Antonio Pinto

Editora-chefe Dra. Tatiana Varella Produção e Diagramação Editora Moinho

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05/03 a 09/03 68º Meeting da Academia Americana de Dermatologia Local: Miami (EUA) Informações: aad.org

Jornalista Responsável Bruno Laganà - Reg. nº 3510/DF

Informativo SBDDF


Notícias

Reuniões Ordinárias 2010: confira as mudanças nas datas

Atenção! As datas das reuniões da SBD-DF mudaram. A razão para isto é que a RADECO, que seria realizada no mês de junho, em Uberlândia (MG) teve local e data alterados para julho/agosto, em Brasília (veja nota nesta página). As novas datas das reuniões ordinárias são: 13/03, 10/04, 08/05, 12/06, 23/10 e 27/11. Além disso, o local das reuniões ordinárias também mudou: elas passarão a ser realizadas no Auditório da Associação Médica de Brasília (AMBr), que fica no Setor de Clubes Sul Trecho 3 Conjunto 6. Fique atento ao nosso site e à agenda que será divulgada em todas as edições do Informativo SBDDF para saber sempre das novidades sobre as reuniões.

Conheça a programação da 1ª Reunião Ordinária de 2010

Foi liberada a programação da primeira reunião ordinária da SBD-DF no ano. A grande mudança em 2010 é o acréscimo de um curso prático na parte da tarde. Nesta primeira reunião, serão dois cursos: Toxina e Preenchimento, com o Dr. André Braz e Rádio Frequência e IPL, com o Dr. Emerson Alves. A inscrição para os cursos práticos será no local da reunião e custará R$100,00. As vagas são limitadas, portanto chegue cedo e garanta sua participação. A seguir, a programação completa da reunião do dia 13/03. Não perca! 8h 8h30 8h45 9h 9h15 9h45 10h30 11h 11h30 12h 12h30 13h 15h

Inscrição Exame Micológico: Fase Pré-Analitíca - Graciela Ribeiro Ecos de Meeting - Gilvan Alves Antimicrobianos na Dermatologia - Alexandre Cunha Antimicrobianos na Gravidez Lactação - Cleuton Soares Discussão / Intervalo / Visita Aos Pacientes Discussão Dos Casos Clínicos - Iphis Campbell Novas Tecnologias? - Francisco Leite Rádio Frequência E IPL - Emerson Alves Toxina Butolinica Avançada - André Braz Preenchimento Facial (Soft Lift) - André Braz Encerramento Cursos Práticos

12ª RADECO será em Brasília

A 12ª Reunião Anual dos Dermatologistas do Centro-Oeste, que estava programada para Uberlândia (MG) foi transferida para Brasília e as datas reservadas para o evento são os dias 30 e 31 de julho e 1º de agosto. Informações sobre a programação científica serão divulgadas no site e no informativo da Regional.

Ouvidoria A função de ouvidor está sendo criada pela nova gestão da SBD-DF, e cabe a mim ser o porta-voz entre o associado e a diretoria no que diz respeito a sugestões, críticas e reclamações. A comunicação mais próxima entre associado e a sociedade é importante para o aperfeiçoamento da SBD-DF e para que os objetivos comuns sejam alcançados. É a primeira vez que participo da diretoria da SBD-DF, resolvi aceitar este desafio, pois acredito que cada um de nós, associados, tem muito a sugerir para o crescimento da nossa entidade e por acreditar nesta diretoria e nas pessoas que dela fazem parte. Todos da diretoria temos o intuito de somar e tornar a dermatologia de Brasília cada vez mais forte. Temas como a defesa profissional, valorização do verdadeiro dermatologista com formação pela SBD e melhora do conteúdo das reuniões científicas são assuntos constantes de reclamações dos sócios da nossa regional. Este é o momento de contribuirmos com a nossa especialidade, agirmos decididamente, do contrário, teremos cada vez mais dificuldade de combater os problemas da dermatologia local. Por isso, a participação dos sócios através da ouvidoria é essencial para o fortalecimento da SBD-DF. Esperamos a participação de todos e estamos a disposição para colaborar. Thiago Antonio B. Pinto Ombudsman

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Artigo de Revisão

Métodos diagnósticos para a alopecia Ana Maria Costa Pinheiro Professora Assistente de Dermatologia da Universidade de Brasília Tricograma digital A queda de cabelo é uma das queixas dermatológicas mais frequentes em homens e mulheres. Para o diagnóstico das alopecias é importante a realização de um exame clínico bem feito e como método complementar, a realização do tricograma, dentre outros, pode auxiliar no diagnóstico das alopecias e do eflúvio telógeno. Para que possamos entender o resultado de um tricograma, é preciso compreender que o folículo piloso tem um ciclo biológico bem definido, com fases de crescimento e repouso sucessivas. A primeira fase deste ciclo, chamada Fase Anágena, é o período de crescimento, onde o pelo possui em sua porção profunda, a matriz, que apresenta grande atividade de proliferação celular para formar a haste e a bainha radicular. A fase anágena pode durar, no couro cabeludo, de dois a cinco anos. Após esse período o cabelo anágeno entra em remissão, havendo parada da atividade celular na matriz e o desprendimento da haste da papila dérmica, com deslocamento no sentido da epiderme. A segunda fase,

chamada Fase Catágena, dura duas a três semanas, sendo um processo ativo com afinamento da bainha radicular externa e formação do saco epitelial. O processo continua com ceratinização do bulbo e o cabelo entra na terceira fase, a Fase Telógena, que dura de dois a quatro meses. Após este período uma nova fase anágena se inicia. O tricograma é um exame que avalia o ciclo de crescimento do cabelo. Desta forma, pode ser usado não só para o diagnóstico, mas também para analisar a evolução e o prognóstico das quedas de cabelos. Pode ainda, ser utilizado como parâmetro para avaliar a resposta terapêutica nas alopecias. Nos eflúvios telógenos, o tricograma pode levar ao diagnóstico, na alopecia androgenética pode ser útil no diagnóstico da fase inicial da doença e na avaliação de sua gravidade. O tricograma pode ser feito de forma convencional onde cerca de 100 fios são arrancados do couro cabeludo e o feixe de cabelos examinados na sua porção folicular. A leitura é feita em microscópio óptico comum e o percentual de fios anagenos e telógenos determinados. O tricograma digital é um método não invasivo, no qual utilizamos a fotografia digital de determinada área do couro cabeludo e diferentemente do método convencional, os cabelos não são arrancados, são apenas cortados e fotografias são capturadas de forma digital. Essas fotos são analisadas em períodos de tempos diferentes para de terminar, utilizando um programa de computador, a quantidade de fios anágenos e telógenos em uma área representativa da alopecia. Método Uma área de cerca de 1cm2 é raspada na região de transição entre o vertéx e a região parietal. Após três dias fotos da região são capturadas e analisadas com o auxilio de um soft-

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ware que determina o número de fios na área, sua densidade, espessura e comprimento. A partir destes dados são determinados os números de fios ANÁGENOS e TELÓGENOS. Interpretação do Tricograma A interpretação do tricograma deve ser feita sempre em conjunto com a clínica. O quadro abaixo resume os resultados obtidos. O número aumentado de fios telógenos caracteriza um tricograma TELÓGENO e o tricograma ANÁGENO determina aumento dos fios anágenos. Resultado Tricograma Normal Telógeno Anágeno

Fios Anágenos 80 a 90% <80% >90%

Fios Telógenos 10 a 20% >20% < 10%

O tricograma telógeno pode ser encontrado em algumas dermatoses com alopecia areata, alopecia androgenética e nos eflúvios telógenos. Devemos entender que nos eflúvios telógenos ocorre telogenização precoce. Nas alopecias androgenéticas ocorre aumento progressivo no tempo de duração dos fios telógenos. E na alopecia areata em formação a maioria dos fios se encontra em fase telógena. O tricograma anágeno pode ser encontrado em mulheres grávidas, em crianças, na tricotilomania e na Loose Anagen Syndrome. Referências bibliográficas 1  -  Pereira JM,O tricograma parte I, An bras Dermatol, 1993,68:145-52 2  -  Pereira JM,O tricograma parte II, An bras Dermatol, 1993,68:217-223 3  -  Mulinari-Brenner F. Entendendo o eflúvio telógeno. An Brás Dermatol, 2002,77:87-94. 4  -  Ulrike et AL. Hair Growth and disorders. Springer,2008,134-140.


Artigo de Revisão

Cirurgia micrográfica de Mohs Alessandro Guedes Mestre em Dermatologia pela Universidade Autônoma de Barcelona A cirurgia de Mohs se caracteriza por ser o método mais eficaz na remoção da maior parte dos tumores cutâneos. É um procedimento cirúrgico que possibilita a remoção precisa e completa de neoplasias cutâneas ao mesmo tempo em que poupa ao máximo a área de pele sã adjacente ao tumor ressecado. Essa técnica apresenta as mais altas taxas de cura se comparada a outros métodos, cirúrgicos ou não, utilizados no tratamento dos cânceres de pele.1 Data de 1936 o início do método de mapeamento de tumores cutâneos, desenvolvido sob tutela do médico norte americano Frederick Mohs, que originou o que hoje vem a se denominar cirurgia micrográfica de Mohs. O procedimento cirúrgico consiste basicamente em 5 etapas: delimitação da margem do tumor, exérese da lesão (figura 1), mapeamento da peça cirúrgica e confecção das lâminas (figura 2), análise histológica (figura 3) e fechamento do defeito (figura 4). Diferentemente da técnica cirúrgica usual, em que as margens são avaliadas no pós-operatório, na cirurgia de Mohs, a análise histológica é realizada no intraoperatório, trazendo ao cirurgião a segurança de que o fechamento do defeito será feito sem que haja tumor remanescente. Destaca-se, ainda, que há diferença entre a cirurgia micrográfica de Mohs e os procedimentos cirúrgicos usuais realizados com congelação intraoperatória. Na primeira técnica os cortes de congelação são realizados horizontalmente e permitem avaliação completa das margens cirúrgicas laterais e profundas, enquanto o segundo método utiliza os tradicionais cortes verticais que avaliam apenas parte da lesão ressecada. Inúmeras são as indicações para uso da cirurgia de Mohs no tratamento das neoplasias cutâneas:

• Carcinomas Basocelulares (CBC): tumores > 2,0 cm, recidivados, localizados na zona H, esclerodermiformes e micronodulares, apresentando infiltração perineural, localizados em áreas nobres( com intuito de poupar tecido são), apresentando margens mal delimitadas.2 • Carcinomas Espinocelulares: apresentando bordas mal delimitadas, recorrentes, acometendo imunodeprimidos ou portadores de xeroderma pigmentoso, sobre área previamente irradiada, sobre cicatriz e tumores de crescimento rápido.3 • Outros tumores: carcinoma de células de Merkel, carcinoma sebáceo, dermatofibrosarcoma protuberans, carcinoma anexial microcístico, doença de Paget extramamária, histiocitoma fibroso maligno, leiomiosarcoma, angiosarcoma, tumores anexiais benignos, lentigo maligno.2 Análises estatísticas demonstram que cerca de 30% dos tumores cutâneo não melanoma são tratados por cirurgia micrográfica de Mohs em centros de referência no tratamento de câncer nos Estados Unidos.4 O índice de recidiva de CBC primário, avaliado após 5 anos, é de 1% nos casos tratados com cirurgia micrográfica de Mohs, e de 10,1% nos casos tratados com cirurgia convencional.5 Para tumores recidivados, esse índice sobre para 5,6% nos CBCs tratados com cirurgia micrográfica e 17,4% nos casos tratados com cirurgia sem controle de margens.6 Por fim, a cirurgia micrográfica de Mohs soma-se como mais uma opção ao arsenal do dermatologista para tratamento do câncer de pele. Assim como outras modalidades terapêuticas, apresenta suas indicações bem definidas, devendo ser utilizada de acordo com critérios estabelecidos anteriormente.

Figura 1. Defeito resultante de 3 etapas de cirurgia de Mohs para ressecção de CBC recidivado. Figura 2. Mapa cirúrgico e lâminas corada pela técnica da hematoxilina-eosina. Figura 3. Histopatológico representando CBC esclerodermiforme em derme profunda e subcutâneo (foto cedida pelo Dr. JoanRamon Garces – Universidade Autônoma de Barcelona). Figura 4. Reconstrução - 8ºdia pósoperatório.

Referências bibliográficas 1  -  Gross K, Steinmam HK.Mohs Surgery and Histopatology. 2009 2  -  Snow SN; Mikhail GA. Mohs Micrographic Surgery. 2ª ed. 2004 3  -  CEC Guideline. National Comprehensive Cancer Network. 2009 4  -  Gaston D, Naugle C, Clark DP. Mohs Micrographic Surgery Referral Patterns: The University of Missouri Experience. Dermatol Surg 1999; 25:862-867. 5  -  Rowe DE, Carroll RJ, Day CL Jr. Long term recurrences rates in previously untreated (primary) basal cell carcinoma: implications for patient follow-up. J Dermatol Surg Oncol 1989; 15: 315-28. 6  -  Rowe DE, Carroll RJ, Day CL Jr. Mohs surgery is the treatment of choice for recurrent (previously treatedl hasal cell carcinoma. J Dermatol Surg Oncol 1989; 15: 424-31.

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Relato de Caso

Esclerose tuberosa Daniela Araujo Rodrigues, Izelda Maria Carvalho Costa e Ciro Martins Gomes Hospital Universitário de Brasília - HUB

retardo no desenvolvimento neuropsicomotor e história familiar. Ao exame físico, havia máculas hipo e acrômicas disseminadas, em forma de folha (“ashleaves”) no hipogástrio e em forma de confete na superfície extensora de parte distal de membros, sem parestesia. Em região lombar, apresentava placa papulosa normocrômica, com aspecto em “casca de laranja”. Na face, havia pápulas vinhosas em regiões malares.

Manchas hipoacrômicas em tronco

TSC 2, que codificam as proteínas hamartina e tuberina, respectivamente, com inibição da via mTOR1 (alvo de rapamicina de mamífero), responsável pelo controle do crescimento tissular. Com a mutação, há uma “upregulation” da via, com aumento da transcrição protéica e da proliferação celular, com formação de tumorações em vários órgãos. A forma mais comum de apresentação clínica da ET é convulsão (80%). Há importante associação positiva entre epilepsia e deficiência de aprendizado. Exames de neuroimagem apresentam túber no córtex cerebral e nódulos subependimários na parede lateral dos ventrículos laterais em 90% dos casos. Clinicamente, as alterações cutâneas são os achados mais frequentes, ao nascimento ou nos primeiros meses de vida, em tronco e membros, sendo as mais frequentes as manchas acrômicas em forma de folha, as “ash-leaves”. A placa fibrosa frontal é patognomômica da ET. Os angiofibromas surgem aos 5 anos, de forma bilateral e simétrica, nos sulcos nasolabiais, região malar e mento. A placa de Shagreen ocorre geralmente na região inferior do dorso, aos 3 anos. Os fibromas ungueais são incomuns antes dos 14 anos, sendo mais comuns nos pododáctilos (90%). As alterações re-

Placa de Shagreen e máculas hipoacrômicas em região inferior do dorso

realizações. Discussão A Esclerose Tuberosa (ET), Síndrome de Bourneville ou “Epilóia” (Epilepsia, deficiência mental e adenoma sebáceo) é uma doença hereditária, autossômica dominante, com prevalência de 1: 6.000 ao nascimento. Há formação de hamartomas em vários órgãos, como cérebro, pele, olho, coração, pulmão e rim. Sua etiologia se baseia na mutação dos genes TSC 1 e

Mácula acrômica em forma de folha (ash-leaves) e máculas hipocrômicas em hipogástrio

Trata-se de uma paciente de 4 anos, com máculas acrômicas em abdome e face, desde os 6 meses de idade, quando recebeu o diagnóstico de vitiligo e tratada com mamacadela tópica sem melhora. Durante o acompanhamento da criança, surgiram novas máculas hipocrômicas, assintomáticas, em tronco e membros. Negava crises convulsivas,

Apresentava dedo extranumerário em mão esquerda. Após suspeição clínica de Esclerose Tuberosa, foram solicitados exames complementares laboratoriais, como hemograma e bioquímica, que estavam sem alterações, além de exames de imagem. A ecografia renal é normal, ecocardiograma com persistência do canal arterial (PCA), sem repercussões hemodinâmicas. Tomografias de abdome e crânio não foram realizadas pela dificuldade devido à necessidade de sedação para suas

Dedo extranumerário em mão esquerda

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Relato de Caso

Máculas hipocrômicas e angiofibromas em face

nais mais comuns são os angiomiolipomas renais, principais causas de morbidade, podendo apresentar hematúria importante, com risco de vida ou perda de função renal. A alteração cárdica mais comum é rabdomioma, sendo a maioria assintomática, com surgimento precoce, podendo ser diagnosticado durante a gestação, com tendência à regressão. Pode ocorrer linfangiomatose pulmonar, sendo incomum, afetando seriamente a função pulmonar. O diagnóstico é baseado em critérios clínicos e radiológicos, de acordo com o Comitê Nacional da Associação de Esclerose Tuberosa dos Estados Unidos (NTSA – National Tuberous Sclerosis Association), em 1992 e revisado em 2000, podendo ser definitivo, provável e suspeito. Dentre os critérios maiores, encontram-se o adenoma sebáceo (angiofibroma facial), o fibroma periungueal, mais de 3 manchas acrômicas, placa da Shagreen, hamartoma retiniano, angiolipoma renal, linfangiomiomatose, astrocitoma subependimário de células gigantes,

rabdomioma cardíaco, túber cortical e nódulo subependimário. Dentre os critérios menores, estão mancha hipocrômica no esmalte dentário, hamartomas retais (pólipos), cistos renais múltiplos, mancha acrômica em retina, hamartoma não renal, cisto ósseo, linhas de migração radial na substância branca cerebral (mais de 3 linhas) à RNM e fibroma gengival. Tais pacientes devem ser acompanhados e tratados sintomaticamente para a preservação da função dos órgãos acometidos, além de receberem aconselhamento genético. A paciente relatada apresentava critérios clínicos para o diagnóstico definitivo de ET, pois apresentava três critérios maiores, que são os angiofibromas faciais, caraterizadas pelas pápulas vinhosas descritas na face; placa de Shagreen, denominação utilizada para a placa fibrosa em região dorsal descrita, e mais de 3 máculas hipocrômicas, representadas pela mancha em formato de “ash-leaves” e a hipomelanose “em confete” dos membros. Apesar de apresentar dedo extranumerário e PCA, não há relato de associação destes à ET na literatura.

Máculas hipomelanóticas "em confete" em mebros inferiores

Devido à precocidade e frequência das manifestações cutâneas na ET, o dermatologista é um dos primeiros profissionais a ser consultado, o que

lhe confere importante papel na condução e orientação desses pacientes, principalmente quando ocorrem crises convulsivas, uma vez que o controle precoce da epilepsia favorece um melhor prognóstico no desenvolvimento neuropsicomotor da criança.

Referências bibliográficas: 1  -  Jozwiak S. Skin lesions in children with tuberous sclerosis complex: their prevalence, natural course and diagnostic significance. Int J Dermatol 1998; 37: 911. 2  -  Joswiak J, Joswiak S, Wlordaski P. Possible mechanisms of disease development in tuberous Sclerosis. The Lancet. Oncology, 2008; Vol 9, 73-79. 3  -  Hyman MH, Whitemore VH. National Institute of Health Consensus Conference: tuberous sclerosis complex. Arch Neurol 2000; 57: 662-5. 4  -  Webb DW, Clarke A, Fryer A., Osborne J P. The cutaneous features of tuberous sclerosis: a population study. British Journal of Dermatology, 1996; 135(1):15. 5  -  Pereira ALM. Esclerose tuberosa: relato de caso. An Bras Dermatol 1998; 73 (5):431-34. 6  -  Yates, JRW. Tuberous Esclerosis. European Journal of Human Genetics 2006; 14, 1065–73. 7  -  The Diverse Clinical Manifestations of Tuberous Sclerosis Complex: A Review Seminars in Pediatric Neurologic 2006; 13(1): 27-36. 8  -  Chou I, Lin K, Wong A et al. Neuroimaging correlation with neurological severity in tuberous sclerosis complex. European Journal of Paediatric Neurology 2008; 12 (2):108-12.

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Entrevista

Horácio Friedman Paulista de nascimento mas brasiliense de coração, o Dr. Horácio Friedman se formou em medicina na Universidade de Campinas (Unicamp), onde também fez a sua residência em patologia até 1974. Ao voltar para São Paulo, trabalhou no Hospital do Servidor Público Estadual. Depois de passar um ano e meio na Universidade de Manchester, na Inglaterra, trabalhando na área de pesquisa e assistência em patologia, pensou em ir para o interior de São Paulo, mas foi convidado, em 1982, para dar aula na Universidade de Brasília. Já na capital, além de professor, montou o Laboratório Diagnose de Patologia que funciona desde 1986. Nesta entrevista, Dr. Horácio fala um pouco sobre a correlação da patologia com a dermatologia e a importância do diálogo entre as especialidades.

Por que o senhor se interessou pela Patologia? E de onde veio a ideia de montar o laboratório? Achei que era uma área onde poderia estudar mais e me dedicar à pesquisa, além de me aprofundar na natureza das doenças. E também porque gostava já de morfologia. O laboratório me atraiu porque é um desafio que obriga a estar sempre estudando. A área privada exige que você se aprimore continuamente. A universidade não lhe cobra, como professor, de uma maneira eficiente, para que se atualize, principalmente no Brasil. Você pode ter um conhecimento acadêmico sem aplicá-lo à prática, pelo menos era assim na época em que trabalhei na UnB. Já no laboratório, você é obrigado a soltar laudos com precisão e é cobrado continuamente, pelo paciente ou pelos médicos. Além disso, a área privada, do ponto de vista financeiro, dá um respaldo que, infelizmente, a universidade brasileira não dá. Qual é a importância da patologia para a medicina como um todo e por que o senhor se interessa tanto pela relação com a dermatologia especificamente? Patologia quer dizer, literalmente, o estudo das doenças. Nós analisamos o órgão depois que ele fica doente. A patologia se aplica a todas as áreas clínicas, mas, em relação à dermatologia, tem uma importância muito grande, porque o dermatologista faz um exame macroscópico morfológico da lesão e consegue vê-la no consultório, diferentemente do cardiologista, por exemplo, que só pode ver o coração

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por uma imagem. O patologista também faz esse exame macroscópico dos outros órgãos e, depois, microscopicamente em pedaços selecionados. Torna-se fundamental a correlação entre o que ele viu e o que nós estamos vendo. E aí alcançamos um diagnóstico correto para que o paciente possa ter um tratamento adequado. O senhor é conhecido por telefonar para os médicos e discutir com eles os casos. De onde surgiu essa iniciativa e por que isso é importante? Na minha formação, tive a felicidade de ter professores que valorizavam a correlação entre dados clínicos e patológicos. Isto é feito através do diálogo ou, em um hospital ou universidade, do prontuário do paciente. Quando comecei a trabalhar com os dermatologistas de Brasília, principalmente o Dr. Iphis e a Dra. Rosicler, eu os procurei porque queria fazer um trabalho sobre pênfigo. Eles me abriram as portas dos laboratórios e os casos da doença e começamos a trabalhar juntos. Eu tinha interesse nessa doença porque ela é autoimune, de origem desconhecida e tinha prevalência alta em alguns locais do Brasil. Hoje já diminuiu muito. Além disso, é a única doença autoimune com características endêmicas. Não há nenhuma doença como ela. Isso foi em 1983, eu estava na UnB e queria fazer alguma pesquisa. Como gostava da área de imunologia, vi no pênfigo uma oportunidade de focar algo que teria um interesse local e que poderia ser desenvolvida, porque os dermatologistas eram abertos à pesquisa. Comecei

vendo os pacientes de pênfigo e, naturalmente, estando em um laboratório de dermatologia, acabei vendo outras doenças também. Com esse estímulo por parte dos colegas da dermatologia, o interesse em fazer correlação voltou. Eu sempre sentia necessidade, ao me deparar com determinados casos, de entrar em contato com o clínico para fazer a correlação. Às vezes é impossível fazer o diagnóstico sem possuir os dados clínicos corretos. Fale um pouco sobre sua experiência acadêmica. Na UnB, dava aula de patologia geral e dos órgãos. No ambiente da faculdade em si não havia muita troca com relação a dermatologia. Já no HUB, dentro do ambulatório de dermatologia, há um espaço dedicado a reuniões dos clínicos com os patologistas. Essas reuniões ocorriam pelo menos uma vez por semana, às segundas-feiras, que acho que é a única reunião consagrada de Brasília. Os clínicos da cidade sentem abertura para levar seus casos e sempre há doenças e doentes que precisam de discussão. Na verdade, nós sabemos muito pouco, nosso conhecimento é muito insatisfatório, estamos engatinhando dentro da medicina. Essas reuniões têm a participação dos residentes e é ai que temos contato com eles, que, naturalmente, vão envelhecendo e se tornando profissionais de destaque. O relacionamento, para mim, foi muito gratificante pois eu sempre aprendi muito com os dermatologistas, mesmo quando ensinando alguma coisa.


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