unsichtbaren | invisíveis FRANK JESKE
DAGGI DORNELLES
vago, impalpável, pela geometria que habita a memória onde tudo se faz geografia de desabitar vou e volto, ninguém me acompanha só a minúscula criatura, tatuada entre nuvens de parede erguida imóvel observa olhos arregalados, devorando em curiosidade meu ir e vir entre eternidades conheces a vala? logo ali, passado o horizonte verde da superfície não, não esta, por onde o resto d’água escorre refiro-me a outra que em horizonte afunda e com tal solidez que o corpo faz-se vento em queda livre
vage, unfassbar, durch die im gedächtnis sesshafte geometrie wo sich alles in unbewohnte geographie wandelt gehe ich und kehre um, niemand begleitet mich nur die winzige kreatur, tätowiert zwischen wolken einer errichteten wand bewegungslos beobachtet sie die augen aufgerissen, verschlingende neugier mein kommen und gehen zwischen den ewigkeiten kennst du den graben? dort, hinter dem grünen horizont nein, nicht dieser, durch den ein rest wasser abfliesst ich meine den anderen, der im horizont versinkt mit solch einer beständigkeit, dass der körper frei fallend, sich in wind wandelt
a sombra do sapato, o salto dissonante que suportava manso o peso das pernas gordas aterradas no pé gigante o chão forte, e o frágil andar de uma mulher desapareci no lugar, perdi o corpo deixei cabelos pendurados, a pele impregnada à epiderme erguida vestida em verde frio, devastador forcas por todos os lados ao meu lado, esquecidos, os enforcados o vazio da teia, o oco do ninho fresta do desejo que ao olho guia de perto, pura falha do tecer a escurecer o espaço e escancarar um tempo sombrio
der schatten des schuhs, die dissonanz des absatzes welcher fügsam das gewicht der dicken beine auf den gigantischen füßen ertrug der starke boden, und der zarte gang einer frau ich verschwand im raum, verlor den körper die haare liess ich hängen, die aufgerichtete epidermis die haut imprägnierend, in kaltem grün gekleidet, verheerend auf allen seiten galgen an meiner seite, vergessen, die gehängten das leere des netzes, das hohle des nestes spalte der begierde, die das auge lenkt aus der nähe betrachtet, bloss ein fehler des webens den raum verdunkelnd und eine finstere zeit eröffnend
nun, diese alltäglichen kÜrper und ihr einsamkeitsgejammer wissen nichts von diesem zustand, in seinem eigentlichen sinn weil ja die einsamkeit, im absoluten ihrer abwesenheiten ein privileg der unsichtbaren ist
ora, estes corpos cotidianos e suas lamúrias de solidão em sentido puro e fundo, mal sabem deste estado pois que a solidão, no absoluto de suas ausências é privilégio dos invisíveis
unsichtbaren | invisíveis Imagens: Frank Jeske Textos: Daggi Dornelles Tradução para o alemão: Herta Treptow Helbern e Frank Jeske Revisão da tradução: Julia Mota Carvalho Série Ruínas - Vol. II Moinho Edições Limitadas Tipografia: Avenir Next Papel: offset 240g PrintStore Impressão Digital 1ª edição - 20 exemplares Porto Alegre, agosto de 2018