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Estudos da Bibliometria por Raimundo Nonato
Organizadoras: Elane Oliveira Renata Santana Ruhana Berg Suzanna Dias
Ed. Livros para Tod@s Recife, 2011
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Capa: Suzanna Dias Projeto Gráfico: Elane Oliveira Renata Santana Ruhana Berg
E48o
Oliveira, Elane
Estudos da Bibliometria por Raimundo Nonato. / Organizadoras: Elane Oliveira, Renata Santana, Ruhana Berg, Suzanna Dias. – Recife: Ed. Livros para tod@s, 2011. 47 p.: il., gráficos. Inclui bibliografia ISBN XXXXXXXXX
(e-book)
1. Bibliometria – Pesquisa Científica – Ciência da Informação. 2. Raimundo Nonato. I. Título
025
(CDD 22.ed.)
UFPE
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SUMÁRIO
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Apresentação..............................................................................................4
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Acesso e uso de tecnologias em teses de dissertações: o caso BDTD....5
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Arqueologia do trabalho imaterial: uma aplicação bibliométrica à análise de dissertações e teses.............................................................................17
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Bibliometria, cientometria, infometria: conceitos e aplicações..................26
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Ergonomia: Estudo bibliométrico na base LISA........................................40
Apresentação
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Este e-book reúne alguns textos sobre bibliometria do Professor/Doutor da Universidade Federal de Pernambuco, Raimundo Nonato Macedo dos Santos. Ao todo foram selecionados quatro artigos, onde todos utilizam métodos bibliométricos para fazer uma análise da produção científica. O tema bibliometria tem tido muita evidência na Ciência da Informação, como um estudo que permite quantificar os processos da comunicação escrita. É a partir proposta de disponibilizar para professores, estudantes e pesquisadores da área de Ciência da Informação e áreas afins, informações produzidas a partir dos estudos de Raimundo Nonato, que este trabalho se faz relevante. Espera-se que todos que tenham acesso a este e-book possa se interessar mais pelo tema e que venham contribuir para os avanços nas pesquisas científicas, podendo quantificá-las e compará-las, para que assim, a comunicação escrita esteja mais organizada e apoiada em fundamentos teóricos confiáveis e eficazes.
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ACESSO E USO DE TECNOLOGIAS EM TESES DE DISSERTAÇÕES: O CASO BDTD Ursula Blattmann Raimundo Nonato Macedo dos Santos Resumo: Desenvolver a cultura de tecnologias de acesso e uso da informação no processo de aprendizagem no ambiente acadêmico requer a informação e o conhecimento das bases de dados, elaborar a formulação da busca e entender os resultados da busca. Após a busca iniciase o processo de interpretação e análise dos resultados. As bases de dados de teses e dissertações no Brasil contam com a estrutura da biblioteca digital que utiliza o protocolo de acesso aberto, OAI-PMH, possibilita a facilidade de exportar os metadados (registros de autores e dos respectivos documentos) e ampliam a recuperação da informação possibilitando a divulgação do conhecimento científico de forma livre, gratuita, acesso aberto e internacional. Relata a implantação desta tecnologia para as teses e dissertações de instituições de ensino superior no Brasil e a criação da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Ciência e Tecnologia (http://bdtd.ibict.br/). As vantagens consistem na facilidade de disseminação da informação científica no Brasil, agilidade no processo de recuperação da informação e proporciona a visibilidade da produção científica. Palavras-chave: Bases de dados. Biblioteca Digital de Teses e Dissertações. Acesso à informação. 1 INTRODUÇÃO O mundo de hoje caracteriza-se pelo desenvolvimento gigantesco do conhecimento, associado, há muitos anos, com um acelerado progresso tecnológico. É consensual que a grande quantidade de informação acumulada desde o início da primeira revolução industrial, alimentada permanentemente por todas as invenções, descobertas, inovações e estudos, constitui-se um fenômeno recorrente: o problema de "explosão de informação", acoplado com a necessidade de prover disponibilidade e acessibilidade à informação pertinente, portanto, conjunção de fatores que exige uma solução, para um "dilema tecnológico“, afinado com a pósmodernidade e, estrategicamente atraente, (SARACEVIC, 1995). Frente ao dilema que aqui se apresenta, questões do tipo: como organizar-se para melhor utilizar este patrimônio fabuloso; como procurar, coletar e difundir informação científica e técnica; como memorizar e arquivar; como tratar e explorar de forma racional os milhares de caracteres, os milhões de imagens ou figuras e tornar explícitos os dados imersos nas imensas memórias virtuais, precisariam ser respondidas. Para responder tais questões, consideradas na sua maioria atividades com nível de complexidade de monta, atores privilegiados, de múltiplas competências, sob a denominação de serviços de indexação e resumo, apresentaram-se rapidamente, com o papel de intermediário para o utilizador final, responsabilizando-se pela divulgação e comercialização dos serviços de informação.
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Esses intermediários, vinculados a instituições públicas e privadas, realizam um trabalho sistemático de coleta, seleção e catalogação de documentos relacionados às suas áreas científicas ou técnicas. Essas informações são organizadas e produzidas em forma de bases de dados bibliográficos, as quais incluem, geralmente, as mesmas informações que suas versões impressas, mas apresentam maior facilidade para pesquisa devido aos requisitos técnicos e operacionais da estrutura de um registro bibliográfico. De uma maneira geral, as bases de dados bibliográficas assim geradas têm como missão sinalizar a existência da maioria dos documentos específicos, cobrindo uma área de conhecimento, com a finalidade de facilitar a identificação e o acesso à informação que se encontra dispersa em um grande número de publicações, como artigos, teses, dissertações, relatórios técnicos, patentes, publicações governamentais, anais de eventos, entre outros. São, portanto, fontes terciárias de informação e sua função principal é a seleção e a identificação do conteúdo das publicações por aqueles que as solicitam. Pode-se dizer que são instrumentos valiosos a todos que dependem de informação, isto é, desde o professor, o pesquisador, o cientista, até os engenheiros ou administradores, que têm necessidade de obter informações recentes sobre tópicos ainda não incluídos em fontes secundárias, como livrotexto, enciclopédia e manuais, ou verificar tendências em um determinado campo de conhecimento. Por outro lado, quando se pretende realizar estudos com o objetivo de conhecer, particularmente, a ciência efetivamente produzida em um determinado país, constata-se que as bases de dados bibliográficas de dissertações e teses, produzidas e mantidas, em geral, pelas bibliotecas das universidades são fontes imprescindíveis resultantes da produção, reflexão e geração do conhecimento. É fato recorrente que estudos tradicionais de produção científica da ciência produzida no país, realizados com artigos científicos referenciados em bases de dados internacionais, com vistas aos estudos de impacto, são altamente questionáveis quanto à sua validade em razão da não neutralidade das bases de dados que, em geral, são produzidas para atender prioritariamente, interesses comerciais (KOBASHI et al, 2006). Em sentido oposto e, ao mesmo tempo, em complementariedade, as bases de dados de dissertações e teses produzidas nas instituições de ensino superior são permanentemente atualizadas, constituindo-se nas mais exaustivas inscrições deste tipo de produção, em que a ênfase volta-se para promover a visibilidade institucional e, portanto, o interesse comercial fica relegado a segundo plano. No caso do Brasil, deve-se destacar que, de maneira geral, as bases de dados bibliográficas de Dissertações e Teses produzidas e mantidas pelas bibliotecas das instituições de pesquisa e ensino acadêmico recebem tratamento específico, por várias razões, dentre as
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quais podem ser destacados os seguintes aspectos: disponibilizar informação sobre a produção científica da universidade, manter atualizada a memória da instituição sobre a produção dos programas de pós-graduação, prestar contas aos órgãos de fomento brasileiros (CAPES, CNPq, FAPESP, FINEP) e apresentar dados de produtividade científica em projetos apresentados aos respectivos órgãos. Destaca-se, ainda, que a produção de dissertações e teses dá-se em contextos altamente institucionalizados e controlados. Um exemplo pode ser dado para ilustrar a magnitude dos dados disponíveis: a Base de Dados de Dissertações e Teses, da Universidade de São Paulo (http://www.teses.usp.br/), que cobre o período 1934-2007, acumula mais de 90.000 registros, (SIBI/USP, 2009). Um segundo exemplo de maior expressão e que constitui objeto central de estudo desta comunicação
é
a
Biblioteca
Digital
Brasileira
de
Teses
e
Dissertações
BDTD
(http://bdtd.ibict.br/), coordenada pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (http://www.ibict.br/). Essa biblioteca foi desenvolvida no âmbito do programa da Biblioteca Digital Brasileira, com apoio da Financiadora de Estudos e Pesquisas (FINEP). Tem como objetivo integrar, em um só portal, os sistemas de informação de teses e dissertações existentes no país, de forma a permitir consultas simultâneas e unificadas aos conteúdos informacionais destes acervos assim como disponibilizar em todo o mundo, via Internet, o catálogo nacional de teses e dissertações em texto integral, também acessível via Networked Digital Library of Theses and Dissertation (NDLTD) - http://www.ndltd.org/. Além de permitir consultas simultâneas e unificadas aos conteúdos informacionais bem como disponibilizar em todo o mundo, via Internet, análises bibliométricas desses acervos podem fornecer diversos tipos de representações, como: distribuição quantitativa de temas de pesquisa, linhas de pesquisa e áreas de concentração, quantidade de trabalhos produzidos pelos programas de pós-graduação, número de orientadores de dissertações e teses, quantidade de trabalhos orientados, redes de cooperação entre programas/pesquisadores, produtividade dos programas por comparação, etc. Obtém-se por meio desses dados e seus cruzamentos, cartografias que permitem fazer inferências sobre a institucionalização cognitiva e social da pesquisa científica no país. Estudos da institucionalização cognitiva e social da pesquisa científica do país, com base em trabalhos como os de Whitley (1974), realizados no campo da Sociologia da Ciência, são referências teóricas importantes. Segundo o modelo proposto por esse sociólogo, a pesquisa científica pode ser analisada segundo duas categorias: a institucionalização cognitiva e a institucionalização social. A institucionalização cognitiva diz respeito aos aspectos epistemológicos, teóricos e
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metodológicos das disciplinas científicas. São seus objetos os graus de consenso sobre os conceitos da área, a legitimidade e pertinência dos problemas propostos ao campo, o grau de aceitabilidade das soluções encontradas e, finalmente, o grau de adequação dos métodos, técnicas e instrumentos de observação dos fenômenos. A institucionalização social, por sua vez, refere-se às estruturas formais que demarcam os membros de uma comunidade científica. Nesta dimensão são analisados o grau de organização de uma área do conhecimento, sua integração às estruturas de legitimação (universidades, institutos de pesquisa, instâncias de avaliação, sociedades científicas, etc) e as condições de acesso a programas de fomento. Como se observa, são inexauríveis e de expressiva importância, para toda a cadeia do sistema de produção e de gestão política, social e econômica do conhecimento científico, as possibilidades de aplicação e de utilização que a exploração dos repositórios de bases de dados de dissertações e teses produzidas no país, como a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações, pode oferecer. Manter tais bases, descrever os dados e produzir indicadores tem o sentido de rememorar e reavaliar a atividade científica desenvolvida no ambiente acadêmico. Necessita-se considerar, no entanto, que a obtenção de tão inestimáveis informações requer abordagem interdisciplinar que entrecruza três saberes: os Estudos Sociais da Ciência, a Organização e Representação do Conhecimento e os Métodos Bibliométricos avançados, ao tempo em que há de se convir, constituir-se a abordagem da “institucionalização da pesquisa” a expressão seminal da materialização do campo da Ciência da Informação. 2 ACESSO À INFORMAÇÃO ACADÊMICA NO BRASIL A necessidade de buscar e acessar a informação científica nos ambientes acadêmicos em rede mundial consiste saber quais os acervos disponíveis, onde estão localizados e como proceder para acessá-los, pois, aspectos de credibilidade, legitimidade e acurácia permeiam a escolha e confiabilidade das fontes de informação. Com o desenvolvimento das tecnologias de informação e de comunicação, a indústria da informação está em constante evolução, tanto sob aspectos da oferta de opções de bases de dados, a cada dia se especializa e se diversificam, quanto dos serviços oferecidos e a introdução de novos atores na cadeia de produção de serviços de informação. Inicialmente, ainda nos anos de 1960, os produtores de bases de dados usavam os computadores apenas para produzir fitas magnéticas com os dados e para imprimir os seus índices que eram vendidos diretamente aos clientes, na grande maioria, grandes instituições de pesquisa científica, universidades, que registravam esses dados e produziam boletins de notificação
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corrente, bibliografias sobre tópicos específicos, serviços de disseminação seletiva de informação, levantamentos retrospectivos, entre outros. Nos dias atuais, as bases de dados produzidas pelos serviços de indexação e resumos, na maioria das vezes, são vendidas em suportes magnéticos para outras organizações privadas que se especializaram no fornecimento de informações eletrônicas. Essas empresas adaptam os registros em suporte magnético dos produtores de bases de dados de acordo com os seus padrões e vendem o acesso remoto ao conjunto de bases de dados para bibliotecas, instituições de pesquisa, empresas e pessoas físicas. No Brasil, essas empresas têm sido chamadas de bancos de dados. Existem várias empresas (bancos de dados) fornecedoras de acesso em linha às bases de dados. Por exemplo, a Dialog (http://www.dialogbr.com.br/), criada em 1972 como primeiro serviço de informação on-line do mundo, possibilita pesquisar 15 terabytes de informações provenientes dos mais renomados editores do mundo, em 900 bases de dados abrangendo artigos técnicos, notícias, conferências e a maior coleção de bases de patentes; tudo recuperado com rapidez e precisão. Outros grandes fornecedores de informação em linha são STN (http://www.stninternational.de/), consórcio americano, alemão e japonês que engloba parte do Chemical Abstract Service; DataStar, LEXIS/NEXIS, Questel-Orbit. Segundo a OCDE, entre os anos de 1979 e 1995, o crescimento do mercado de venda de informação cresceu entre 10 e 15% ao ano, alcançando em 1993 a cifra de mais de 10,5 bilhões de dólares. Além de proporcionar mais eficiência na consulta em linha, esses bancos de dados comercializam outras formas de acesso como, por exemplo, produzindo e disseminando informação utilizando-se da tecnologia do CD-ROM, que explodiu no final dos anos de 1980 e, já no início da década de 1990, por meio da própria Internet, que facilitou ainda mais o acesso remoto às bases de dados. Com tudo isso, a produção, acesso e disseminação de informação em meios eletrônicos constitui hoje uma verdadeira indústria da informação científica e tecnológica, com um grande número de empresas produzindo uma variedade de produtos e serviços de informação. Sem uma penetração expressiva no mercado brasileiro desses provedores, em função dos elevados preços praticados no mercado internacional, o que tem prevalecido hoje, no que concerne ao acesso às informações técnico-científicas, disponibilizadas pelas bases de dados, pelas instituições de ensino e pesquisa são os portais, destacando-se a iniciativa do “Portal de Periódicos da Capes” (http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp ). O Portal de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – http://www.capes.gov.br/), oferece acesso aos textos completos de artigos
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selecionados de mais de 12.661 revistas internacionais, nacionais e estrangeiras, e 126 bases de dados com resumos de documentos em todas as áreas do conhecimento. Inclui também uma seleção de importantes fontes de informação acadêmica com acesso gratuito na Internet (CAPES, 2009). O uso do Portal é livre e gratuito para os usuários das instituições participantes. O acesso é realizado a partir de qualquer terminal ligado à Internet localizado nas instituições ou por elas autorizado. O total de acesso às bases de texto completo, disponibilizadas pelo Portal Capes, no período compreendido entre janeiro a agosto de 2007 foi de 9.508.016. O gráfico que segue detalha a quantidade de acesso mês a mês, ao longo do período analisado, bem como a estatística dos acessos aos provedores disponibilizados pelo Portal Capes em igual período.
Figura 1: Acesso as bases de dados de texto completo no período de janeiro a agosto de 2007 FONTE: Portal de Periódicos da CAPES 2007 http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/paginaInicial/estatisticas/estatistica.htm O acesso aberto (open access) possibilita facilitar o acesso aos resultados de pesquisa produzidos nas Instituições de Ensino Superior (IES). O acesso aberto, conforme Steve Barnard tem sido visto como fator que maximiza o acesso à pesquisa propriamente dita, maximiza e acelera seu impacto e, conseqüentemente, maximiza sua produtividade, o progresso e as recompensas. No Brasil, para facilitar o acesso e a disseminação da informação, seja na busca, no acesso, na recuperação e no uso de teses e dissertações foi criada, no final de 2002, a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) implantada no país, sob a coordenação do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Maffia (2006) apresenta a missão da BDTD que consiste em "promover a competência e
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o desenvolvimento de recursos e infra-estrutura de ICT para a produção, a socialização e a integração do conhecimento científico-tecnológico". A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações adota padrões estabelecidos pela Open Archives Initiative (OAI – http://www.openarchives.org/). Ao utilizar os protocolos da Iniciativa dos Arquivos Abertos, Open Archives Initiative – Protocol for Metadata Harvesting - OAI-PMH, utiliza-se
tecnologia aberta e os repositórios podem ser
acessados por diversos provedores de serviços disponíveis em nível nacional e internacional. Conforme Marcondes (2005), a vantagem do uso do OAI-PMH consiste em permitir a coleta automática de metadados de documentos armazenados em arquivos de publicações eletrônicas conhecidos como provedores de dados. Os metadados são coletados conforme o Dublin Core Metadata Initiative (padrão internacional de metadados para descrição de documentos eletrônicos, http://dublincore.org/), pois é mais específico para informação bibliográfica. Outro fator fundamental é a integração de bases de dados e a BDTD está integrada à Networked Digital Library of Thesis and Dissertations (NDLTD), projeto mundial de biblioteca digital de teses e dissertações, empreendido pela Virginia Tech nos Estados Unidos da América - EUA. Desta maneira, é possível localizar as pesquisas acadêmicas transformadas em teses e dissertações defendidas no Brasil. Paralelamente também pode-se dizer que as mesmas são disseminadas amplamente tanto no Brasil, pela BDTD, quanto em nível mundial pela NDLTD. Conforme
dados
no
Registry
of
Open
Acces
Repositories
–
ROAR
(http://archives.eprints.org/ ) a BDTD é a maior iniciativa brasileira em termos de bibliotecas digitais de teses e dissertações, com um total de 57.067 teses e dissertações. Kuramoto (2007) menciona que a implantação da BDTD enfrentou e enfrenta vários níveis de dificuldades: tecnológicas, culturais e políticas. As dificuldades tecnológicas foram superadas, restam as barreiras culturais e políticas. E suas reflexões precisam ser resgatadas e discutidas perante a comunidade acadêmica para solidificarem estratégias e não serem apenas ações impulsivas e sim, possibilitar estratégias amplas em beneficio da comunidade acadêmica e para a sociedade em geral. Ao se analisar os procedimentos estratégicos, táticos e operacionais pode-se entender como são definidas e concretizadas as políticas públicas de acesso e uso da informação em um país. As primeiras ações acontecem nas esferas das agências de credenciamentos dos programas de pós-graduação, nas agências de fomento para a pesquisa em instituições de ensino superior ou em centros de pesquisa. Nas questões de políticas públicas sobre o acesso à informação necessita-se observar
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as tendências nacionais e internacionais das agências de credenciamento (no caso brasileiro a CAPES) dos programas de pós-graduação stricto sensu. Se foram estabelecidos mecanismos para apoiar o acesso livre à informação científica ou se são meramente discursos desvinculados de recursos técnicos e operacionais. Ao pensar e discutir como viabilizar iniciativas e fortalecer esforços na busca da adoção de padrões internacionais e preferencialmente facilitar o acesso na aldeia global caminha-se para o acesso livre à informação. Quanto ao acesso público à informação acadêmica precisam ser observados quais os mecanismos são criados pelas agências de fomento no intuito de estimular o acesso público aos resultados de pesquisas fomentadas pelos órgãos como o Conselho Nacional de Pesquisa - CNPq (http://www.cnpq.br). Pode ser desde o estímulo para o depósito legal nas coleções das bibliotecas das instituições, até mesmo disseminar a produção em bases de dados nacionais e internacionais. O que se precisa evitar é dificultar o acesso ao conhecimento produzido principalmente com recursos financeiros públicos. Nas instituições em que as pesquisas são realizadas é necessário estabelecer políticas internas e externas. As internas precisam definir quais procedimentos serão adotados para o encaminhamento das teses e dissertações; explicitar o tramite legal e institucional; definir como e que encaminhará as teses e dissertações; a verificação dos metadados; estabelecer condutas para autores e demais responsáveis; analisar as questões dos direitos autorais; licenças de uso e de distribuição; enfim, se para documentos impressos existem processos de encaminhamentos legais e operacionais no ambiente digital não poderia ser muito diferente ao trâmite. Conseqüentemente, externamente, seria necessário conhecer quais as metodologias disponíveis; empregar análises sobre os indicadores gerados; concessões de acesso, uso e distribuição da informação científica e tecnológica. Concorda-se com o dizer de Kuramoto (2007?) "verifica-se que se conseguiu o mais difícil, que era a interoperabilidade tecnológica, e esbarra-se na interoperabilidade humana, que é fazer com que os vários atores envolvidos conversem e compartilhem os seus interesses”. Entre as possibilidades de ação necessita-se de instrumentos para acessar a informação básica das diversas áreas. Torna-se crucial saber quem faz ou pesquisa o que, com que e aonde. Saber usar os recursos existentes, sejam eles de ordem tecnológica ou cultural, torna-se essencial para o avanço no fazer-saber-pensar ciência e tecnologia. O compartilhar saberes na rede resultará benefícios além da redução de custos da informação. A seguir exemplificamos o acesso e uso da BDTD como fonte de informação indispensável na investigação científica brasileira.
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3 ACESSO E USO DA BIBLIOTECA DIGITAL DE TESES E DISSERTAÇÕES O Brasil tem mais de 50 repositórios institucionais (bibliotecas digitais contendo a produção científica de uma instituição), dispõe de um acervo de aproximadamente 75 mil teses e dissertações em texto integral, disponíveis somente na BDTD, e mais de 500 publicações periódicas eletrônicas oferecidas na web graças à utilização do pacote do Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas – SEER (http://seer.ibict.br/), versão customizada do pacote de software Open Journal Systems (http://pkp.sfu.ca/?q=ojs), software desenvolvido pelo Public Knowledge Project – PKP (http://pkp.sfu.ca/) Conforme o Site do IBICT : o Brasil já é a 5ª maior nação do mundo em número de repositórios digitais, à frente de potências econômicas como França, Itália e Austrália; possui a 2ª maior Biblioteca Digital de Teses e Dissertações do planeta (a BDTD), e ocupa o 3º lugar em quantidade de publicações periódicas de acesso livre. No site da BDTD (2008) observa-se que se tem como objetivo integrar, em um só portal, os sistemas de informação de teses e dissertações existentes no Brasil, assim como disponibilizar em todo o mundo, via Internet, o catálogo nacional de teses e dissertações em texto integral, também acessível via Networked Digital Library of Theses and Dissertation (NDLTD) da Virginia Tech University nos Estados Unidos da América. A interface de busca da BDTD (http://bdtd2.ibict.br/ ) para iniciar uma levantamento bibliográfico, está disponível no canto superior direito, conforme visto na figura 2. Figura 2: Site da BDTD Fonte: http://bdtd2.ibict.br/
Observa-se na figura 2 que o usuário poderá optar pela busca avançada. Ao clicar no
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link "Pesquisa Avançada" (canto superior direito) aparecerá a interface avançada na qual é possível delimitar a formulação de busca pelos campos especificados. As vantagens em delimitar a busca viabilizam ao pesquisador incluir um detalhamento da busca para maior precisão e revogação dos documentos a serem consultados na base de dados.
No
caso
da
BDTD
a
opção
pesquisa
avançada
(http://bdtd2.ibict.br/?
option=com_wrapper&Itemid=39) delimita os argumentos da pesquisa a serem utilizados: os termos de busca, os critérios de recuperação, ou recuperar em campos específicos (autor, titulo, contribuidor, assunto, resumo, instituição da defesa) e utilizando filtros de pesquisa (país, grau – seja mestre ou doutor, idiomas e ano da defesa).
Figura 3: Ambiente de busca avançada na BDTD Fonte: BDTD http://bdtd2.ibict.br/?option=com_wrapper&Itemid=39 Os resultados da busca simples ou avançada são apresentados com uma síntese sobre os registros informando o autor, instituição, data da defesa. Pode-se detalhar cada registro. Para isso basta assinalar no lado esquerdo selecionando o respectivo registro e clicar no botão "Detalhar este registro" (no lado direito) conforme pode ser visto na figura 4.
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Figura 4 : Resultados da busca: termo intercultural Fonte: BDTD http://bdtd2.ibict.br/?option=com_wrapper&Itemid=39 Observa-se nos resultados da busca simples com o termo “intercultural” apresentou 92 registros. Para consultar o registro pode-se clicar no bloco verde que remeterá diretamente ao documento. Ou assinalar o quadrado para selecionar o registro e em seguida pressionar o botão “Detalhar este registro”, serão apresentados os metadados detalhados referente ao registro do documento na BDTD. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O acesso e a recuperação da produção científica gerada pelas instituições acadêmicas e de pesquisa precisam estar disponibilizados em ambientes de acesso livre e gratuito. No tanto, conceber e disponibilizar tais ambientes exige competência interdisciplinar de expressivo e sofisticado conteúdo intelectual; treinamento e familiaridade no uso da tecnologia; desenvolvimento de serviços e produtos do próprio ambiente da BDTD. Tais iniciativas demandam esforço de monta, de longa duração, do âmbito das políticas públicas e não permitem, sobre pena de se ver um país excluído do progresso e do avanço científico e tecnológico, sofrer de solução de continuidade por falta de recursos financeiros, operacionais e do monitoramento dos avanços científicos e tecnológicos dos ambientes de acesso ao conhecimento. O desenvolvimento só pode acontecer quando está assegurada, no médio e longo prazo, toda infra-estrutura operacional, logística e estratégica. Conhecer iniciativas como a BDTD possibilitam divulgar a ciência produzida, viabilizar o acesso, estimular o uso e o fazer cientifico além de promover a visibilidade e a auto-estima
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daqueles que o fazem e se realizam no fazer ciência, constituído esse pelo campo de luta simbólica na qual os participantes disputam espaço e poder na hierarquia acadêmica. Saber usar ambientes de bases de dados implica conhecer o contexto do recurso informacional, seu propósito, sua legitimidade e principalmente facilitar a busca seja esta simples ou avançada para recuperar a informação pertinente, no momento e local que se faz necessária. A iniciativa desenvolvida pelo IBICT possibilita para consulta ou download, a produção nacional de teses e dissertações, oferece aos usuários produtos e serviços integrados capazes de proporcionar aumento significativo ao impacto e avanço de suas pesquisas. Divulgar iniciativas desta natureza permite realizar reflexões sobre o que já foi realizado e o caminho que ainda precisa ser percorrido. Por exemplo: incorporar ferramentas tecnológicas para divulgar e disseminar seja por meio de alertas temáticos (áreas de interesses de pesquisadores) para atender demandas reprimidas e principalmente facilitar ainda mais a objetividade no acesso e uso da informação.
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and Kegan, 1974. p. 69-95
ARQUEOLOGIA DO TRABALHO IMATERIAL: uma aplicação bibliométrica à análise de dissertações e teses i .
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Nair Yumiko Kobashi Raimundo Nonato Macedo dos Santos Resumo Busca de alternativas teóricas e metodológicas para mapear a pesquisa científica brasileira. Apresenta-se como hipótese de trabalho a idéia de que os repositórios de dissertações e teses podem ser fontes confiáveis para conhecer a ciência produzida no país. Por meio de procedimentos que associam os Estudos Sociais da Ciência, a Organização e Representação do Conhecimento e Métodos bibliométricos avançados, podem ser vislumbradas novas abordagens sobre a institucionalização social e cognitiva da pesquisa científica no Brasil. A visualização gráfica dessas informações, por meio de cartografias dinâmicas, é útil por sua funcionalidade para oferecer visão global de conjuntos de informações e evidenciar relações entre elas. Da mesma forma, as visualizações configuram-se como possíveis interfaces para recuperação de informação. Palavras-chave: Institucionalização da pesquisa científica. Organização do conhecimento. Cartografia temática. Indicadores bibliométricos. Dissertações e teses. 1 INTRODUÇÃO Os trabalhos de Whitley (1974), realizados no campo da Sociologia da Ciência, são referências teóricas úteis para abordar a institucionalização da pesquisa científica. Segundo o modelo por ele proposto, a pesquisa científica pode ser analisada segundo duas categorias: a institucionalização cognitiva e a institucionalização social. A institucionalização cognitiva diz respeito aos aspectos epistemológicos, teóricos e metodológicos das disciplinas científicas. São seus objetos os graus de consenso sobre os conceitos da área, a legitimidade e pertinência dos problemas propostos ao campo, o grau de aceitabilidade das soluções encontradas e, finalmente, o grau de adequação dos métodos, técnicas e instrumentos de observação dos fenômenos. A institucionalização social, por sua vez, refere-se às estruturas formais que demarcam os membros de uma comunidade científica. São analisados, nesta dimensão, os graus de organização de áreas do conhecimento, sua integração às estruturas de legitimação (universidades, institutos de pesquisa, instâncias de avaliação, sociedades científicas, etc) e as condições de acesso a programas de fomento. Alguns comentários preliminares são necessários para contextualizar o estudo da institucionalização cognitiva e social da pesquisa no campo da Ciência da Informação, como também para justificar a abordagem aqui proposta:
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1) os produtos da pesquisa científica, vistos na ótica da economia informacional, por serem expressões do trabalho imaterial (HARDT e NEGRI, 2002), podem ser descritos e analisados para revelar aspectos da institucionalização da ciência. 2) trabalhos de escavação da produção intelectual, como o aqui proposto, não são novos. De fato, inspira-se em trabalho seminal de Foucault - “A arqueologia do saber”. Seu comentário sobre o porquê da escolha desse título tem servido de base para muitos trabalhos sobre os processos de construção do conhecimento: Inicialmente, empreguei essa palavra de maneira um pouco cega, para designar uma forma de análise que não seria efetivamente uma história (no sentido em que se relata, por exemplo, a história das invenções e das idéias), e que tampouco seria uma epistemologia, ou seja, uma análise interna da estrutura de uma ciência. Trata-se de uma coisa diferente, e então eu a chamei de “arqueologia”; depois, retrospectivamente, pareceu-me que o acaso não tinha me guiado muito mal: afinal, essa palavra “arqueologia”, ao preço de uma aproximação que me será perdoada, eu espero, pode querer dizer: descrição do arquivo. Por arquivo, entendo o conjunto de discursos efetivamente pronunciados; e esse conjunto é considerado não somente como um conjunto de acontecimentos que teriam ocorrido uma vez por todas e que permaneceriam em suspenso, nos limbos ou purgatórios da história, mas também como um conjunto que continua a funcionar, a se transformar através da história, possibilitando o surgimento de outros discursos (FOUCAULT, 2000, p. 145). Este texto fundamenta-se epistemologicamente nas formulações de Hardt e Negri (2002) e Foucault (2000), acima enunciadas. Pretende-se, desse modo, empreender uma arqueologia do trabalho imaterial, sob a ótica da Ciência da Informação. Para isso, serão exploradas as bases de dados referenciais de dissertações e teses produzidas em programas de pós-graduação do país. Não se reivindica originalidade neste trabalho. A afirmação de Granger sobre o processo de construção do conhecimento: a descontinuidade radical dos paradigmas é um mito, porque os modelos científicos sempre se estabelecem “a partir de um momento anterior do pensamento” (GRANGER, 1989, p.25), balizam os limites deste trabalho e as vozes que reverberam como panos de fundo. Portanto, esta pesquisa se apóia nos estudos anteriores já realizados por pesquisadores da área da Ciência da Informação e campos conexos. Explorar as bases de dados de dissertações e teses produzidas no país, descrevê-las e produzir indicadores tem o sentido, portanto, de rememorar e reavaliar a atividade científica desenvolvida na universidade. O projeto proposto requer abordagem interdisciplinar que
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entrecruza três saberes: os Estudos Sociais da Ciência, a Organização e Representação do Conhecimento e os Métodos Bibliométricos avançados. São dados empíricos da pesquisa, as dissertações e teses produzidas nos programas de pós-graduação do país, que serão analisadas por métodos bibliométricos. Os estudos bibliométricos, na visão tradicional, fundam-se na descrição e na quantificação. Na abordagem aqui proposta combinam-se estudos quantitativos e qualitativos, explorando-se a oposição entre qualidade e quantidade, com base em Granger (1989), que afirma que essa relação pode ser explicada como uma oposição ontológica. Como lembra Granger (1989), remonta a Descartes o reconhecimento do duplo sentido do quantitativo: a enumeração e a medida. Nessa dicotomia, a quantidade se associa ao número inteiro natural e tem com o objeto apenas uma relação extrínseca. No caso da medida, ao contrário, opera-se com o tratamento quantificado de propriedades que podem ser submetidas a operações de disjunção e de reunião. A quantificação é, portanto, uma operação mais complexa do que a enumeração. Ainda segundo Granger (1989), o conhecimento qualitativo, pode também ter um duplo sentido: referir-se à idéia de diferença ou à idéia de forma. A diferença é obtida por meio de operações ativas de classificação, portanto, de disjunção e de reunião, tal como na quantificação. A dicotomia quantidade/qualidade se expressa nas formas de abordar os objetos: descrever, compreender, explicar (GRANGER, 1989). O processo de descrição consiste primeiramente em escolher as dimensões dos dados empíricos que serão, em seguida, divididos em elementos discretos e enumeráveis. A descrição gera, portanto, um conhecimento morfológico que evidencia um todo e as suas partes. Um conhecimento qualitativo, por sua vez, procura compreender e explicar. Porém seria presunçoso imaginar que se possa compreender sem primeiramente descrever de forma adequada o objeto que se analisa. Na Ciência da Informação, são controvertidas as relações entre a quantificação e o conhecimento qualitativo. Procura-se, nesta pesquisa, explorar a idéia de que o conhecimento qualitativo pode ser objetivado por relações quantificadas, provindas da aplicação de técnicas bibliométricas. Afirma-se, portanto, que um conhecimento qualitativo não elimina a quantidade. Ao contrário, procura-se tomar a medida como meio para compreender e explicar, de modo a quebrar a clivagem entre o modo quantitativo e o modo qualitativo de analisar objetos. Em estudos bibliométricos é necessário, primeiramente, descrever os elementos constitutivos das bases de dados (os dados de input), de modo a estabelecer conjuntos. Esses conjuntos se aproximam por “semelhanças de família”, no sentido proposto por Wittgenstein (1996). O conceito de “semelhança de família” dá conta de objetos que se relacionam, não por
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uma constelação de caracteres que os transformam em classes rigorosas, em que os objetos da classe compartilham um núcleo totalmente invariante. São, na realidade, tipos de agrupamentos que apresentam alguma inexatidão e fluidez, como o são os descritores das linguagens documentárias. No entanto, para garantir a confiabilidade dos resultados da análise é necessário que sejam expostos os parâmetros de operação de constituição dessas categorias operacionais. Rejeitam-se, portanto, as operações tradicionais das técnicas bibliométricas que enumeram sem analisar o objeto para determinar os critérios de composição das famílias de dados.
2 A APLICAÇÃO BIBLIOMÉTRICA À ANÁLISE DE DISSERTAÇÕES E TESES. 2.1 Breve caracterização da bibliometria A bibliometria é uma metodologia de recenseamento das atividades científicas e correlatas, por meio de análise de dados que apresentem as mesmas particularidades. Por meio dessa metodologia, pode-se, por exemplo, identificar a quantidade de trabalhos sobre um determinado assunto; publicados em uma data precisa; publicados por um autor ou por uma instituição ou difundidos por um periódico científico, o grau de desenvolvimento de P&D e de inovação, entre outros. Por meios bibliométricos pode-se, por exemplo, computar dados para comparar e confrontar os elementos presentes em referências bibliográficas de documentos representativos das publicações. Os estudos bibliométricos objetivam conhecer como se comporta uma propriedade relativamente a outra já conhecida. Dessa forma, no caso das publicações científicas, pode-se pretender conhecer todos os autores que trabalharam em determinado assunto; os periódicos que publicaram sobre esse assunto; os autores considerados referência no assunto; os autores desse assunto que publicaram em determinado periódico e assim por diante e cruzar essas propriedades. A classificação do resultado da contagem dos elementos, por ordem de freqüência de aparição decrescente, produziu as primeiras distribuições estatísticas em bibliometria. Os estudos sobre tais distribuições constituem, assim, os primórdios das aplicações estatísticas à Produção Científica (POLANCO, 2003). Atualmente, há consenso entre os estudiosos que atuam na área, de que o campo da bibliometria, como um todo, inclui os aspectos quantitativos e os modelos da comunicação científica e do armazenamento, disseminação e recuperação da informação científica. Esse conceito de bibliometria é, nesse enfoque, mais amplo do que as definições usuais do termo e objetiva incorporar todas as orientações correntes, como também suas aplicações à política
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científica e à recuperação da informação (WORMELL, 1998). Os métodos bibliométricos vêm sendo aplicados não somente aos estudos cientométricos (métrica dos aspectos da ciência, enquanto disciplina ou atividade econômica) (MACIAS-CHAPULA, 1998), e à avaliação da pesquisa em ciência e tecnologia (C&T), mas também à análise de seus aspectos sociais e econômicos. Com efeito, o mapeamento e a avaliação da ciência são questões consideradas cruciais, na sociedade contemporânea, principalmente a partir de sua caracterização como fator de produção. A avaliação da pesquisa científica pode ser qualitativa ou quantitativa. A avaliação feita por pares é de natureza qualitativa, sendo utilizada, em geral, para julgar propostas de pesquisa, avaliar grupos de pesquisa e artigos científicos, entre outros aspectos. Os indicadores bibliométricos, por sua vez, representam o aspecto quantitativo do processo avaliativo. Deve-se observar, no entanto, que os aspectos quantitativos também estão presentes na avaliação por pares, já que, nessas avaliações, também são contados o número de publicações e as atividades acadêmicas próprias das áreas institucionalizadas (VAN RAAN, 2003). Os indicadores bibliométricos vêm ganhando importância crescente como instrumentos para análise da atividade científica e das suas relações com o desenvolvimento econômico e social. Sua construção tem sido incentivada pelos órgãos de fomento à pesquisa como meio para se obter uma visão acurada da produção de ciência, de modo a subsidiar a política científica e avaliar seus resultados. Os indicadores são, desse modo, parâmetros empregados como medidas indiretas da atividade da pesquisa científica e contribuem para a compreensão dos objetivos da pesquisa, das estruturas da comunidade científica, do seu impacto social, político e econômico (SPINAK, 1998; TRZESNIAK, 1998; OKUBO,1997). Quando empregados na análise da produção científica, os indicadores bibliométricos podem ser divididos em indicadores de produção, indicadores de citação e indicadores de ligação (MACIASCHAPULA, 1998; SPINAK, 1998; OKUBO, 1997; NARIN et alii, 1994; COURTIAL, 1990; CALLON et alii, 1993). Os Indicadores de produção científica são construídos pela contagem do número de publicações por tipo de documento (livros, artigos, publicações científicas, relatórios etc.), por instituição, área de conhecimento, país, etc. Os indicadores de citação, por sua vez, são construídos pela contagem do número decitações recebidas por uma publicação de artigo de periódico. É o meio mais reconhecido de atribuir crédito ao autor. Já os indicadores de ligação são construídos pela co-ocorrência de autoria, citações e palavras, sendo aplicados na elaboração de mapas de estruturas de conhecimento e de redes
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de relacionamento entre pesquisadores, instituições e países. Emprega técnicas de análise estatística de agrupamentos. 2.2 Exemplo de mapeamento bibliométrico Em complemento às aplicações para obtenção de indicadores da ciência, tecnologia e inovação, os estudos recentes da área concentram-se em técnicas de mapeamento bibliométrico para monitorar o desenvolvimento científico (básico ou aplicado), uma vez que eles são considerados instrumentos úteis para identificar padrões na estrutura dos campos científicos, identificar processos de disseminação do conhecimento e visualizar as dinâmicas do desenvolvimento científico, tecnológico e de sua efetiva adoção na produção de bens e serviços. Os mapas gerados a partir desses dados e métodos são representações da produção científica de áreas. Semelhante produção pode ser expressa por meio de conceitos produzidos e utilizados pela própria área. Tem-se, portanto, neste caso, garantia literária na geração das representações cartográficas da institucionalização cognitiva de um dado campo do conhecimento. A visualização da informação por meio de mapas baseia-se nos estudos sobre a percepção, que mostram que o ser humano tem primeiro uma percepção global de uma cena antes de atentar para os detalhes (TUFTE, 1983). Tais estudos abriram caminhos Enc. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., Florianópolis, n. esp., 1º sem. 2008 para explorar as características da percepção global e, conseqüentemente, para aplicálas aos sistemas de informação, particularmente nos aspectos relacionados à recuperação de informação, tais como: −Exploração rápida de conjuntos de informações desconhecidas; −Evidenciação de relações e estruturas nas informações; −Fornecimento de alternativas de acesso a informações pertinentes; −Classificação interativa de informação. Para demonstrar como as cartografias podem ser utilizadas para descobrir padrões na estrutura dos campos científicos, identificar processos de disseminação do conhecimento e visualizar as dinâmicas do desenvolvimento científicos, são apresentadas, a seguir, cartografias, construídas com base em métodos de análise multivariávelii. Essas análises consistem na comparação de todos os pares possíveis dos descritores que geram, neste caso particular, dois tipos de gráficos, para uma mesma observação: a) gráficos de classificação hierárquica – dendograma – e, b) classificação não hierárquica– multidimensional. Os mapas abaixo apresentados (Figura 1 e Figura 2), visualizam os descritores das 97
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teses e dissertações defendidas no Programa de pós-graduação do Instituto de Pesquisas Nucleares de São Paulo, dentro da categoria S63 da base de dados INIS. A categoria S63 compreende temas relativos à “Radiation – thermal pollutant effects – biological, Material and Living organisms”. Na Figura 1, a visualização da dinâmica da aplicação de processo científico de “radiação gama à base de cobalto 60” sobre os mais diversos tipos de matérias e organismos vivos evidencia, de forma objetiva, as relações e as estruturas que foram, ao longo dos últimos 30 anos de pesquisa no IPEN, hierarquicamente, estabelecidas entre as temáticas de estudo. Na Figura 2, em que se estuda a mesma categoria S63, o objetivo foi o de representar em espaço reduzido, os “clusters” que se formaram entre as temáticas estudadas, a partir dos processos de radiação gama à base do cobalto 60, bem como as relações que se estabelecerem entre os diversos clusters. Figura 1: Classificação hierárquica de descritores – DENDOGRAMA
Figura 2: Classificação, em espaço reduzido, não hierárquica de descritores – ESCALA MULTIDIMENSIONAL (MSD)
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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS Foram apresentados, neste trabalho, exemplos do que pode ser obtido com a exploração das bases de dados por meio de técnicas bibliométricas avançadas. O estudo combina abordagem quantitativa e qualitativa, com o intuito de descrever, conhecer e explicar fenômenos. Procurou-se demonstrar que os dispositivos de memória institucionalizados, dentre eles as Bases de Dados referenciais, são inscrições que, se adequadamente analisadas, podem gerar representações da cultura científica do país. No entanto, tais artefatos têm tido seu uso limitado à localização de informação ou como instrumentos de apoio à gestão de acervos. Analisar tais inscrições, descobrir relações entre os dados e apresentá-los sob a forma de cartografias estáticas ou dinâmicas, é um modo de resgatar a produção de conhecimento que se faz no país. Esse resgate pode se configurar, além disso, como insumo para promover a produção de novos conhecimentos e para orientar as políticas de pesquisa. Para serem eficazes, no entanto, tais análises devem ser objeto de produção contínua. Deve-se chamar a atenção também para o fato de que as especificidades de cada país quanto ao estágio de institucionalização da ciência apontam para a necessidade de redefinir pressupostos antes de empreender a tarefa de produzir indicadores. É preciso, ademais, conhecer em profundidade as características e hábitos de cada setor para elaborar hipóteses de trabalho pertinentes e utilizar metodologias de coleta e análise que produzam resultados confiáveis. No caso brasileiro, o desafio é maior dada a precariedade ou mesmo ausência de
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fontes de informação para empreender estudos bibliométricos. Outro aspecto a ser enfatizado refere-se aos próprios métodos bibliométricos. Estes, se aplicados de forma cega, podem gerar resultados pouco confiáveis. A crítica constante dos procedimentos é, portanto fundamental. Os problemas que surgem requerem respostas que, muitas vezes, são encontradas em outras especialidades. Se os estudos sociais da ciência são fundamentais para interpretar os dados, os métodos da Organização da Informação são imprescindíveis para reorganizar os dados em categorias funcionais adequadas para a análise das tendências de pesquisa. O mapeamento das tendências globais de institucionalização cognitiva e social da pesquisa científica, por meio de técnicas bibliométricas avançadas, parece, portanto, ser cada vez mais imperioso. Somente com dados objetivados podem ser justificadas e sustentadas as decisões sobre as políticas de pesquisa. Sua ausência, não raro, resulta em decisões frágeis porque baseadas apenas em impressões ou em cristalização de posições que não encontram eco na dinâmica da criação científica. Tais decisões acabam por engessar um campo científico em lugar de promover seu desenvolvimento e consolidação. É sabido que esses resultados dependem, muitas vezes da abertura de fronteiras, promovida por meio do diálogo intra ou interdisciplinar.
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REFERÊNCIAS CALLON, M.; COURTIAL, J-P.; PENAN, H. La scientométrie. Paris, Presses Universitaires de France, collection “Que sais-je?”, v. 2727, 1993, 126p. COURTIAL, J.P. Introduction à la scientométrie: de la bibliométrie à la veille technologique. Paris: Anthropos, 1990. FOUCAULT, M. Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense, 2000. GRANGER, G-G. Por um conhecimento filosófico. Campinas: Papirus, 1989. HARDT, M.; NEGRI, A. Império. Rio de Janeiro: Record, 2002. MACIAS-CHAPULA, C.A. O papel da informetria e da cienciometria e sua perspectiva nacional e internacional. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 2, p. 134-140, maio/ago. 1998. NARIN, F.; OLIVASTRO, D.; STEVENS, K. S. Bibliometric theory, practive and problem. Evaluation Review, v. 18, n. 1, 1994. OKUBO, Y. Bibliometric indicators and analysis of research systems: methods and examples. . Paris, OECD, 1997, 69 p. (STI Working Papers, 1997/1). POLANCO, X. Aux sources de la scientométrie : Dossier Solaris, No.2, Bibliométrie, Scientométrie, Infométrie. Available from: <http://www.info.unicaen.fr/bnum/jelec/Solaris/d02/2polanco1.html> Acesso em: 16 jan. 2003. SANTOS, R.N.M. Desenvolvimento de indicadores da produção científica da Ciência da Informação no Brasil. Projeto de pesquisa desenvolvido na PUC-Campinas, 2005. SANTOS, R.N.M.; KOBASHI, N,Y. Aspectos metodológicos da produção de indicadores em ciência e tecnologia. Apresentado no VI CINFORM. Salvador, 17 junho 2005. SPINAK, E. Indicadores cienciométricos. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 2, p. 141148, 1998. TRZESNIAK, P. Indicadores quantitativos: reflexões que antecedem seu estabelecimento. Ciência da Informação, Brasília, v. 27, n. 2, p. 159-164, maio/ago., 1998. TUFTE, E.R. The virtual display of quantitative information. Cheshire, Connecticut: Graphics Press, 1983. VAN RAAN, A.F.J. The use of bibliometric analysis in research performance assessment and monitoring of interdisciplinary scientific developments. Pre-print, 2003. WHITLEY,R. Cognitive and social institutionalization of scientific specialities and research areas. In: WHITLEY,R. (ed) Social processes of scientific development. London: Routledge and Kegan, 1974, p. 69-95. WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. Petrópolis: Vozes, 1996. WORMELL, I. Informetria: explorando bases de dados como instrumentos de análise. Ciência da Informação, v.27, n.2, p. 210-216, 1998.
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BIBLIOMETRIA, CIENTOMETRIA, INFOMETRIA: CONCEITOS E APLICAÇÕES Raimundo Nonato Macedo dos Santos Nair Yumiko Kobashi
1 Introdução Aqueles que necessitam reunir informações sobre o desenvolvimento da ciência enfrentam, por vezes, enormes desafios para localizar os itens mais pertinentes para subsidiar determinada tarefa. Os desafios se tornaram ainda mais agudos, na sociedade contemporânea, provocados pela progressiva informatização dos métodos de trabalho e a crescente ampliação das formas de armazenamento e de circulação do texto escrito, seja ele impresso, digital ou eletrônico. (LE COADIC, 2004a, 2004b). Esse lado desafiador vem sendo compensado, porém, pela criação de métodos e técnicas de tratamento, análise e visualização de informação, de naturezas diversas, baseados em princípios estatísticos e / ou lingüísticos. Segundo Boustany (1997), a análise estatística de informações bibliográficas e a formulação de modelos ou leis vêm sendo feitas desde o século XIX. Sua expressão mais sistemática, porém, teve início no século XX, com os trabalhos de Lotka. A partir daí, as informações bibliográficas ou factuais, reunidas em bancos de dados públicos, de acesso gratuito ou mantidos por serviços comerciais, foram objeto de inúmeros estudos que resgataram ou deram origem a novas designações, de acordo com o objeto em foco: cientometria, infometria, tecnometria, museometria, arquiometria, iconometria, biblioteconometria, webmetria, entre outras. (ROSTAING, 1996). Essas designações, certamente sintomas de crescimento do campo, geram controvérsias. Mesmo entre os especialistas da área não há consenso sobre a terminologia empregada no campo e sobre os limites que demarcam cada denominação utilizada. Esse cenário de crescimento expressivo dos estudos métricos da informação cria a oportunidade e, também, a necessidade de refletir criticamente sobre as questões conceituais, terminológicas e metodológicas da área. Não se tem aqui a pretensão de apresentar quadro exaustivo dos estudos já realizados na área ou visão histórica abrangente. Procuramos, apenas, resgatar aspectos do processo de constituição da área, seus conceitos e termos centrais, ao mesmo tempo em que lançamos um olhar crítico sobre estudos e aplicações contemporâneos. Assim, o artigo apresenta, inicialmente, breve histórico da constituição do campo, os principais conceitos da bibliometria, da cientometria e da infometria para, em seguida, abordar algumas tendências atuais dos estudos métricos da informação.
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2 Bibliometria, cientometria e infometria: breve histórico O uso de métodos estatísticos e matemáticos para mapear informações, a partir de registros bibliográficos de documentos (livros, periódicos, artigos), não constitui fato novo. É o que Boustany (1997) aponta, ao se referir a um autor desconhecido, citado no Manuel du Bibliophile ou, traité du choix des livres, editado em1823, de autoria de Gabriel Peignol, que pesquisou a produção universal de livros no período compreendido entre a metade do século XV e início do século XIX. No entanto, é no século XX que esses métodos ganham densidade e legitimidade. É bastante conhecida, por pesquisadores da Ciência da Informação, a proposta de Paul Otlet, considerado por historiadores franceses como o criador da bibliometria. Na obra seminal Traité de documentation: le livre sur le livre, o autor belga definiu a bibliometria como a área que se ocupa da medida ou da quantidade aplicada a livros. (OTLET, 1934, apud BOUSTANY, 1997). Autores de origem anglo-saxônica, no entanto, atribuem a criação do termo bibliometria a Pritchard, que propôs sua utilização em substituição à bibliografia estatística, cunhado em 1923 por Hulme, como Rostaing (1996) retoma. A bibliometria foi caracterizada por Pritchard (1969) como conjunto de métodos e técnicas quantitativos para a gestão de bibliotecas e instituições envolvidas com o tratamento de informação. Os resultados das análises bibliométricas foram, nessa medida, considerados importantes coadjuvantes da definição de estratégias de gestão de unidades de informação e de bases de dados. No âmbito dos esforços para quantificar os produtos da atividade científica, citar Lotka, Bradford, Zipf e Price se torna obrigatório. A lei do quadrado inverso, de Lotka (1926), refere-se ao cálculo da produtividade de autores de artigos científicos. Segundo essa hipótese, numa especialidade científica, coexiste pequeno número de pesquisadores extremamente produtivos com uma grande quantidade de cientistas menos produtivos. A lei de Bradford (1934), por sua vez, trata da dispersão dos autores em diferentes publicações periódicas. O que lhe interessava, à época, era determinar o núcleo dos periódicos que melhor se concentrassem em determinado tema. Essa lei resultou de estudos que visavam propor critérios de seleção de periódicos para uma dada coleção, de modo a equilibrar custo x benefício. É, portanto, uma lei voltada para fins gerenciais. Em se tratando da lei de Zipf, apresentada em 1935, refere-se à freqüência da ocorrência de palavras num texto longo. Lei quantitativa fundamental da atividade humana, Zipf extraiu sua lei de um princípio geral do “esforço mínimo”: palavra cujo custo de utilização seja pequeno ou cuja transmissão demande esforço mínimo são frequentemente usadas em texto grande. Por fim, no caso de Price, ele será objeto de discussão mais ampla em contraposição aos estudos dos três primeiros, por demais conhecidos, os quais serão citados apenas quando necessários para sustentar pontos de vista aqui defendidos.
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A partir de Price, que se valeu das propostas de Lotka, Bradford e Zipf para formular suas leis cienciométricas, os estudos quantitativos adquiriram novos contornos, centrando-se fundamentalmente, na análise da dinâmica da atividade científica, incluindo tanto os produtos quanto os produtores de ciência. Uma nota: a abordagem do modelo de Price, aqui apresentada, beneficiase largamente do trabalho de Polanco (1995). Este conhecido pesquisador da infometria, radicado na França, apresenta excelente balanço crítico sobre os antecedentes e o estado atual dos estudos métricos, em particular, sobre as contribuições de Price. Para Price (1969), a cientometria é o estudo quantitativo da atividade científica. Semelhante caracterização teve como ponto de partida a percepção de que certas leis econométricas, em especial, as relativas ao cálculo da mão-de-obra, no mundo do trabalho, poderiam explicar, igualmente, o comportamento da literatura científica. Com base nesse raciocínio analógico, Price afirmou que os dados quantitativos sobre revistas e artigos científicos obedecem a certas regras estáveis, configurandose como indicadores do estado da ciência. A análise estatística da literatura científica, na abordagem de Price, encontra na história e na sociologia da ciência os contextos que dão sentido aos dados quantitativos analisados. Segundo Meadows (1990, apud Polanco, 1995). The key figure in this new quantitative studies was Price, whose writings, especially Little Science, Big Science had a major impact on thinking about the growth and evolution of scientific journals. In part, he drew together ideas already under discussion. For example, the rapid growth in the amount of scientific literature had been debated by librarians and others since the First World War. Similarly, but separately, there had been work on relevant statistical distributions, such as Lotka's work on scientific productivity and Zipf's on word distributions. Price extended this earlier work to provide an integrated, quantitative picture of the scientific literature [...] One important area of Price's work covered the applications of citation analysis. In this, he relied on the contemporaneous activities of Garfield in developing the concept of a citation index.
O pioneirismo de Price manifesta-se, portanto, na elaboração de novo modelo que integrou a bibliometria ao estudo da atividade científica. Deve-se a ele a formulação teórica da ciência da ciência, campo que entrecruza a cientometria com a Ciência da Informação, como Garfield já percebera. Da mesma forma, Small e Garfield (1986) afirmaram que Price antecipara, nos anos 60, a idéia de evidenciar, por meio de mapas da ciência, o grau de cobertura e a importância relativa das revistas científicas. Os referidos mapas têm por base, segundo Price (1965), as "relações estruturais de uma rede de referências e citações", projeto que será desenvolvido no Institute for Scientific Information (ISI), na década de 70, por meio de métodos de co-citação. (POLANCO, 1995). Os modelos bibliométricos e cientométricos têm os artigos científicos como objetos empíricos privilegiados. Pode-se, certamente, discutir à exaustão a pertinência destes últimos para examinar a
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atividade científica e realizar inferências sobre o estado da ciência. Embora não discutamos as razões que levaram à eleição desse tipo de produto como objeto principal dos estudos métricos, fazemos uma ressalva: não se pode reduzir a atividade científica à produção, à circulação e ao consumo de artigos de periódicos e, muito menos, confundir o crescimento quantitativo de artigos com o desenvolvimento cognitivo da ciência. De fato, muitos autores já assinalaram que os modelos tradicionais tinham como foco a quantificação de artigos, de autores mais produtivos, de periódicos mais citados, etc., porém, não penetraram nas questões cognitivas, ou seja, no conhecimento contido nesses objetos. Como assinala Polanco (1995), [...] le modèle bibliométrique de la science de Price ne saisissent pas directement le contenu cognitif des articles scientifiques, autrement dit les connaissances qu'ils véhiculent. Les informations présentes dans le titre de l'article, dans son résumé, ou dans le texte lui-même sont en réalité ignorées dans l'approche scientométrique instauré par Price [...] De ce fait, un tel dispositif ne réalise qu'une scientométrie "externaliste". Par conséquent, le défi est maintenant de développer une scientométrie "internaliste" si l'on peut ainsi s'exprimer. Ce qui s'est fait en France avec la mise au point de la méthode des mots associés au début des années quatrevingts, utilisant justement les mots-clés comme indicateurs de connaissance [...]
Depreende-se do que foi dito, que a análise multidimensional, aplicada às palavras-chave de registros bibliográficos, configura-se como uma das contribuições teóricas mais recentes aos métodos quantitativos. Baseado no cálculo matricial e na álgebra linear, esse método supõe a classificação automática dos dados e sua representação por meio de cartografias temáticas. O termo infometria, por sua vez, foi proposto em 1987, pela International Federation of Documentation / Federação Internacional de Documentação (FID), para designar o conjunto das atividades métricas relativas à informação, cobrindo tanto a bibliometria quanto a cientometria. (EGGE; ROUSSEAU, 1990). Semelhante caracterização é confirmada por Polanco (1995): [...] a infometria comporta uma síntese da bibliometria e da cientometria, mas também como Brookes destacou tão bem, ela significa uma abertura ao estudo matemático da informação e sobre suas formas documentárias (Ciência social da informação) seja eletrônica ou física [...]
A partir do exposto acima, pode-se fazer uma primeira distinção entre bibliometria, cientometria e infometria. A bibliometria tem como objetos de estudo os livros ou as revistas científicas, cujas análises se vinculam à gestão de bibliotecas e bases de dados. A cientometria preocupa-se com a dinâmica da ciência, como atividade social, tendo como objetos de análise a produção, a circulação e o consumo da produção científica. A infometria, por sua vez, abarca as duas primeiras, tendo desenvolvido métodos e ferramentas para mensurar e analisar os aspectos cognitivos da ciência. Constata-se, nessa medida, a aproximação crescente dos estudos métricos da informação das ciências humanas e sociais (CHS). Trata-se, desse modo, não apenas de quantificar e constatar, mas de atribuir sentido aos dados, qualificando-os para que possam ter melhor uso em
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políticas de ciência e tecnologia (C&T), por cada especialidade ou grupo de pesquisa, ou em contextos mais abrangentes, regionais, nacionais ou mundiais. Em resumo, permanecem como conceitos operacionais centrais: a produtividade de autores de artigos científicos (com base nas leis de Lotka e Price); o núcleo e a dispersão de artigos em periódicos científicos (lei de Bradford); e a freqüência de palavras em textos longos (lei de Zipf). O cálculo de co-ocorrências (de autores, de palavras, de instituições), fundada em métodos de análise multidimensional é uma das áreas que vem crescendo de forma acentuada nos estudos métricos contemporâneos. Os estudos métricos na contemporaneidade A partir do início deste milênio, as técnicas de visualização de informação, em apoio aos métodos e técnicas de tratamento e análise de informação, passaram a ser utilizadas de forma vigorosa e recorrente. Essas técnicas têm sido importantes para melhor perceber e compreender dados manipulados por meios estatísticos. Com efeito, é possível, por meio de mapas da ciência e da técnica, fazer múltiplas inferências sobre os fatos que ocorrem na pesquisa científica. Essa tendência é evidente no programa da 12th International Conference on Scientometrics and Informetrics, Rio de Janeiro, julho de 2009. O evento, reunindo pesquisadores nacionais e internacionais do domínio da cientometria e infometria, incorporou em sua programação a realização de três workshops sobre a visualização da informação: 1.
WK1 (This workshop aims to contrast perspectives on how to measure and map
interdisciplinary
research) – este workshop objetiva identificar e avaliar pesquisas
interdisciplinares: métricas e mapas; 2.
WK2 (This
and
educators
analyzing
workshop to
scientific
share
aims
to
provide
their experiences
literature
using
an and
interactive needs
forum for
for
researchers
understanding
and
CiteSpace ) – este workshop objetiva visualizar e
analisar a literatura científica com CitySpace. Ressalta-se que CiteSpace é uma aplicação Java para analisar e visualizar redes de co-citação, como Chen (2004) esclarece. A meta central do CiteSpace é facilitar a análise de tendências emergentes num determinado campo de conhecimento. Permite ao usuário se informar com rapidez das novidades na área e, então, tirar proveito.
1
3.
WK3 (This workshop aims to provide an interactive forum to discuss how maps
of science can assist in the teaching of graduate-level courses) – este workshop objetiva utilizar mapas de ciência para ensinar ciência. Segundo Nascimento e Ferreira (2005), os estudos das técnicas de visualização de informações distribuem-se em dois eixos principais. O primeiro leva em consideração o modo como essas técnicas exploram o substrato visual, as marcas e as propriedades visuais do desenho. No segundo caso, de particular interesse para os principais usuários de informação científica (comunidade científica e gestores de C&T), as técnicas são classificadas de acordo com as características dos dados a serem visualizados. As Figuras 1 e 2 são formas tradicionais de visualização de informação. A Figura 1, estudo exploratório de Momm (2009), mostra a distribuição de orientadores de dissertações e teses de programas de pós-graduação stricto sensu de uma área de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Dos 334 trabalhos defendidos, num período de seis anos, 20 docentes foram responsáveis pela orientação de 66,2% enquanto os demais, aproximadamente 40, orientaram 33,8%. Curva de distribuição da qtde. de orientações pela qtde. de orientadores 120% 100 % 80% 2 0 6 6 ,2 %
60%
40% 20% 0% 10
20
30
40
50
60
7 0
Quant. acumulada de orientadores
Figura 1 - Curva de distribuição de orientadores por dissertações produzidas A Figura 2, por sua vez, indica a distribuição mundial dos artigos em periódicos científicos por região, em 1993, obtido da fonte Science & Engineering Indicators, 1995.
Figura 2 – Percentual de artigos científicos publicados em 1993, por regiões do mundo Pesq. bras. Ci. Inf., Brasília, v.2, n.1, p.155-172, jan./dez. 2009 Técnicas mais elaboradas de visualização são aplicadas a dados que possuem múltiplas dimensões (n dimensões, sendo n maior que três). Uma técnica consiste em mapear apenas dois atributos dos dados para as coordenadas X – Y de um plano cartesiano e associar os demais atributos à forma, cor e tamanho de objetos visuais. Pode-se, ainda, projetar o espaço ndimensional no plano cartesiano, através da técnica conhecida por Multidimensionl scalling. (BORG; GROEMEN 199,7 apud NASCIMENTO; FERREIRA, 2005). Outras técnicas difundidas na literatura são: (a) a das coordenadas paralelas, que consiste na associação das dimensões dos dados a eixos paralelos verticais eqüidistantes, denominados coordenadas; (b) a dos Glyphs (ou ícones), entendidos como representações simbólicas que evidenciam as características essenciais de um dado, segundo colocações de Nascimento e Ferreira (2005).
A Figura 3, por seu turno, consiste em exemplo de técnica de visualização. Representa o ranking de produção de artigos científicos de países da América do Sul, América Central e Caribe de Herrero-Solana (2005).
Figura 3 – Ranking da produção de artigos científicos de paises da América Latina, América Central e Caribe Há diversas formas de apresentação gráfica de dados relacionados hierarquicamente. O chamado Tree-Map (Figura 4), criado por Johnson e Shneiderman (1991), do Laboratório de Interação Humano-Computador (Maryland University), é um exemplo de técnica de representação hierárquica de dados. Os dendogramas constituem outra técnica de visualização de dados. Também conhecidos como diagrama de árvore, permitem visualizar, hierarquicamente, resultados de análise de agrupamentos.
Figura 4 – Exemplo de imagem gerada com a técnica Tree-Map
As visualizações apresentadas nas Figuras 5 e 6 são dendogramas que exemplificam experiências de análise de dados, realizadas por Fachin e Santos (2009), que analisaram, com fins exploratórios, os registros da área de organização da informação e do conhecimento, armazenados em Library and Information Science Abstracts (LISA). Tree Diagram for
Variables
Ward`s method 1-Pearson r Knowledge management Models — Business managementThesaur World Wide Web Science Digital libraries Citation analys s— Controlled vocabulary Indexin Information scien gie Theories Information communication Taxonomy Dewey Decimal Classificat ion -----1 ve__ u Semantic
Ü
a--1_|—li relations Ontologies —r Computer applicatio nsCatalog uing _______ Bibliographic control Librarianship Software Computerized info stor retri ve Data mining Multimedia Terminolog y Metadata Online information retrieval Electronic med a-International aspects Natural language processi ng0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4
Linkage Distance Figura 5 – Representação hierárquica de registros sobre knowledge organization, da base Library and Information Science Abstracts (LISA) Tree Diagram for Variables Ward`s method 1Pearso nr Automatic classification
b*
eac hin g Hyp erm edi a 00
& h-
H— Scaling Clustering Similarity measures Data mining DClassification Tree structures Computer applications Expert systems Knowledge representation Genetic algorithms Computers Human-computer interaction User interface Diagnosis Health care Learning Probability theory Machine learning Robotics Robots Neural networks Commonsense reasoning Interactive systems Intelligent agents Ethics Knowledge organization Philosophy Intelligent systems Uncertainty Semantic web World Wide Web Images Information communication ce Computer Scien assisted instruction Educat ion Educational technology
01
02
03
04
05
Linkage Distance Figura 6 – Representação hierárquica de registros sobre Knowledge representation da base Library and Information Science Abstracts (LISA) As Figuras 5 e 6 sistematizam dados coletados utilizando os descritores Knowledge organization e knowledge representation, considerados representativos do objeto em análise. Esses termos são coordenados, ou seja, são termos específicos de mesmo nível, subordinados ao termo genérico Knowledge, no tesauro LISA. As referências bibliográficas coletadas foram armazenadas numa base de dados ad hoc e reformatadas para processamento bibliométrico (contagem de objetos) e análise cientométrica (análises multidimensionais dos descritores correlacionados). Nos dendogramas gerados, os descritores foram agrupados utilizando-se o método Ward, a partir da distância de 1-r de Pearson. Para comparar os agrupamentos, foi adotada a distância igual a 1. Observa-se, nas duas figuras, que os nós estão agrupados dois a dois (thesauri, WWW), (controlled vocabulary, indexing) ou três a três (knowledge management, models, business management), (science, digital library, citation analysis). Da análise dos agrupamentos, infere-se que, na Base LISA, os artigos indexados com o descritor knowledge organization têm conteúdos relativos aos fundamentos da organização do conhecimento, enquanto os artigos indexados com o descritor knowledge representation são relativos às aplicações ditas tecnológicas da organização do conhecimento. Os dendogramas têm sido utilizados também em pesquisas de institucionalização social e cognitiva da ciência, desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa Scientia, cadastrado no Diretório de Grupos de Pesquisas do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), Plataforma Lattes, sob a coordenação dos pesquisadores Raimundo Nonato Macedo dos Santos (Universidade Federal de Santa Catarina) e Nair Yumiko Kobashi (Universidade de São Paulo). Nessas pesquisas, busca-se identificar, por meio da análise de descritores de um corpus de registros bibliográficos, o conhecimento neles inscrito e interpretá-lo à luz das teorias sociais da ciência. Esses resultados podem ser úteis para gestão da política científica ao nível dos programas de pesquisa, particularmente em relação às prioridades a serem estabelecidas nos grupos de pesquisa, como também para fazer análises do estado-da-arte de campos científicos. O núcleo e a dispersão na distribuição de dados Dois fenômenos podem ser destacados nas representações visuais dos estudos bibliométricos, cientométricos e infométricos: a conjunção e a disjunção de dados. A Figura 7 ilustra, de forma genérica, os fenômenos da conjunção (núcleo) e disjunção (dispersão)
Freqüência das propriedades bibliográficas
núcleo
dispersão
Figura 7 - O núcleo e a dispersão de uma distribuição bibliométrica Na figura 7, ■
O núcleo representa o grupo de dados que aparecem com as maiores freqüências, relativamente ao conjunto dos itens analisados. Levando-se em consideração a Lei de Lotka, o núcleo simboliza os autores mais férteis numa área de especialidade.
■
A dispersão representa os dados de baixa freqüência relativamente ao conjunto de dados. Segundo a mesma lei de Lotka, a dispersão corresponde à grande diversidade de autores que publicam muito pouco dentro da área de especialidade estudada.
Nesta modelização, o núcleo é o espaço no qual se distribuem os elementos bibliográficos redundantes e / ou que identificam certa área ou certo domínio de especialização. Na zona da dispersão, é onde se distribuem os elementos que representam a individualidade ou a variação da área. O mesmo princípio da distribuição em núcleo e dispersão é observado nos estudos de citação: é comum um autor reconhecido citar, principalmente, seus próprios trabalhos, demonstrando que o núcleo cultiva a identidade. Por outro lado, os demais autores freqüentemente citados guardam vínculos intelectuais com o autor e, assim, alimentam uma identidade social. O Science Citation Index (SCI) do ISI é, talvez, o exemplo mais ilustrativo da aplicação dessa regra. Criado nos anos 1960, em sua concepção inicial, o SCI pretendia se colocar como alternativa para recuperar informações científicas por meio da indexação dos elementos bibliográficos do campo citation index. Esse recurso permitia formular estratégias de busca pelo nome do autor e / ou do periódico mais citado, em determinada área de conhecimento: trata-se, novamente, da idéia de um núcleo que cultiva a identidade. (WORMELL, 1998).
A facilidade de compreensão e aplicação dessa regra pode gerar ao menos um questionamento: porque os diferentes atores da comunicação de conhecimento científico tenderiam a se submeter a tal regra? Dos estudos realizados para responder a esta indagação, decorreram duas regras: 1. A vantagem do acúmulo (cumulative advantage) – subentende-se que quanto maior a freqüência de uma referência bibliográfica, maior a tendência a reutilizá-la; 2. A especialização – quanto maior a freqüência de uma referência bibliográfica, menor a quantidade de informação a ela associada e, portanto, maior é a probabilidade de que seja rejeitada em favor de uma referência mais específica ou inovadora. Em princípio, essas regras de comportamento antagônico parecem aplicáveis aos demais elementos bibliográficos de um registro: a vantagem do acúmulo tende para o efeito do núcleo e a especialização, para o efeito da dispersão. Os colégios invisíveis também se comportam segundo as regras do núcleo e da dispersão. O comportamento dos pesquisadores, conforme as regras abaixo descritas, sinalizam, também, o que a área entende como uma “característica perversa da ciência”: Efeito núcleo – quando se pesquisa, se interage dentro de um grupo de trabalho, o que pode gerar o monopólio de um periódico. Efeito dispersão – é próprio, do processo de criação científica, o desafio permanente para a novidade. Promove-se, assim, a extensão contínua de redes de trabalho como forma de evitar a redundância. Ligações ou relacionamentos entre dados A análise das redes de colaboração é um campo em crescimento. Conhecida também como pesquisas de redes sociais (MARTELETO, 2001), a noção remonta aos estudos de citações e de co-autoria. Contemporaneamente, os estudos de redes sociais se beneficiam de modelos matemáticos e de softwares de tratamento e manipulação de dados, cujo cerne são os conceitos de entidade e relacionamentos. Certamente, entidades de apreensão instantânea, como nomes de autores, de instituições e de revistas são mais fáceis de ser mapeados. A Figura 8 é um exemplo de grafo ou rede de relacionamento entre empresas depositantes de patentes sobre catalisadores. O estudo de Santos (1998) apresenta rede de relacionamentos entre grandes empresas petrolíferas que, até 1996, compartilhavam a prioridade de depósito de patentes de tecnologias de produção de catalisadores de refino de petróleo para fabricação de
óleo diesel. As Figuras 9 e 10, por seu turno, constituem exemplos de grafos de relacionamentos entre palavras-chave. (SANTOS, 2009). Os estudos com entidades semânticas, como os descritores de uma base de dados, requerem intenso tratamento prévio de consolidação dos dados antes de submetidos ao processamento bibliométrico. Desse modo, é necessário olhar, com cautela, a classificação automática de dados porque podem fornecer resultados pouco confiáveis.
Figura 8 – Grafo ou rede de relacionamentos entre empresas depositantes de patentes sobre catalisadores.
Figura 9 – Rede de relacionamentos de descritores dos registros de uma base de dados -1,0
-0.8
-0,6
1.2|
Dimensicm 1
-0,4
-0,2
0,0
0,2
074
0.6
0.8
Figura 10 - Rede de relacionamentos dos descritores de registros de uma base de dados
1,0
Considerações finais Apresentamos, neste texto, breve histórico dos estudos quantitativos da informação para, em seguida, abordar as tendências dos estudos contemporâneos sobre o tema. Esse percurso permite tirar algumas conclusões: 1. O campo dos estudos métricos, embora tenha origens remotas, se consolidou a partir da década de 50. 2. Os objetos de estudo passaram, gradativamente, da contagem de livros e revistas, para fins de gestão, para a interpretação da atividade científica e para orientar políticas de ciência. 3. Novos métodos de abordagem e tecnologias foram sendo criados para correlacionar dados, como estudos de citação, co-autorias e co-words. 4. A visualização de informações ganha, desde os anos 90, lugar de destaque. 5. Os estudos métricos se aproximam, cada vez mais, das ciências ditas “moles” (CHS) porque estas últimas oferecem teorias e modelos que permitem interpretar os dados em contextos culturais, políticos, ideológicos e econômicos distintos. 6. Ao lado dos estudos de natureza externalista, vêm crescendo os estudos internalistas. Significa, portanto, que aos estudos de quantificação de autores, de artigos e de citações, agregam-se estudos sobre os conteúdos dos trabalhos científicos. É crescente, portanto, a consciência de que os estudos da ciência não podem se orientar por critérios meramente quantitativos. A incorporação da sociologia e da história da ciência inaugura a aproximação entre estudos quantitativos e estudos qualitativos. Atualmente, os trabalhos de mapeamento cognitivo da ciência se colocam como tendência importante para aprofundar a compreensão sobre a dinâmica da ciência. Como o texto científico se expressa pela linguagem, parece ser imprescindível incorporar, ao campo dos estudos métricos, as teorias e métodos da área da organização da informação e do conhecimento para construir os corpora de análise. Nesses estudos, os mapas de co-words, para serem confiáveis, devem resultar de compreensão rigorosa dos processos semânticos e pragmáticos da representação de informação, abandonando os procedimentos ingênuos de contagem da freqüência de palavras do texto. Para finalizar, destaca-se um fato auspicioso. O Brasil tem seguido a tendência internacional de crescimento dos estudos quantitativos da ciência. No período 1990-2006, segundo Meneghini e Packer (2008), as publicações em cientometria e bibliometria, de autores brasileiros, cresceram exponencialmente. Da mesma forma, a quantidade de estudos em nível de pós-graduação (doutorado, mestrado), as comunicações em congresso e demais formas de manifestação e expressão da produção científica demonstram o vivo interesse da comunidade científica, dos
mais diferentes campos de pesquisa, em utilizar os procedimentos metodológicos e as técnicas próprias dos estudos métricos da informação. É importante, porém, realizar estudos empíricos para identificar o grau de participação e a natureza dos trabalhos dos pesquisadores do campo da Ciência da Informação, nesse conjunto.
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Ergonomia: Estudo bibliométrico na base LISA
Eliana M. dos Santos Bahia, Raimundo N. Macedo dos Santos y Ursula Blattmann Universidade Federal de Santa Catarina
1. Introdução Ao reunir informações sobre o desenvolvimento da ciência, enfrentam-se, por vezes, desafios para localizar os itens que subsidiem determinada tarefa. Esses desafios se tornaram ainda mais agudos na sociedade contemporânea, provocados pela progressiva informatização dos métodos de trabalho e a crescente ampliação das formas de armazenamento e de circulação do texto escrito, seja ele impresso, digital ou eletrônico. (LE COADIC, 2004, p.51). Essa situação vem sendo compensada pela criação de métodos e técnicas de tratamento, análise e visualização de informação, de naturezas diversas, baseados em princípios estatísticos e / ou linguísticos. O desenvolvimento científico e tecnológico tem transformado o acesso e uso da informação, permitindo a crescente produção de publicações na comunidade científica. Com o uso dos meios eletrônicos, que representam um importante instrumento de divulgação do conhecimento, principalmente por transpor barreiras de tempo e espaço, é possível o alcance de maior público de maneira mais eficiente. Esta realidade fatual permite o avanço das mais diversificadas áreas do conhecimento, como no presente estudo – Ergonomia - Bibliometria. A bibliometria, conceituada por Sá (1978, p. 1) é a analise estatística dos processos da comunicação escrita. Se aplica a análise do tamanho, crescimento e distribuição da bibliografia científica, mas não se restringe como é corrente pensar-se na contagem purament. Ao contrário, seu valor reside exatamente em que a bibliometria se confunde com a sociometria, ou seja no estdo da estrutura social dos grupos que produzem a bibligrafia científica e nas intrações existentes ente os grupos que produzem e os que consomem esta literatura.
O conhecimento da bibliometria, ciência métrico-estatística, utilizada como ferramenta versátil,pressupõe que o conhecimento está sendo medido ou consultado para obter resultados significativos em prol da sociedade. Segundo procedimentos de análise métrica aplicada à temática ergonomia, é pertinente considerar o avanço da ciência e da tecnologia. Wilson (2000) afirma que qualquer definição aceitável de ergonomia enfatiza a necessidade de um entendimento fundamental sobre as pessoas, suas interações e a prática de melhorar essas interações. O autor ressalta que a ergonomia esta relacionada às transformações do mundo contemporâneo, com interações múltiplas e complexas.
Conforme Moraes e Mont’Alvão (2009), o “objeto da Ergonomia,seja qual for a sua linha de atuação, ou as estratégias e os métodos que utiliza, é o homem no seu trabalho, realizando a sua tarefa cotidiana, executando atividades do dia a dia”. O atendimento aos requisitos ergonômicos possibilita, conforme Abrahão
et al.
(2009,p.19) : Nessa perspectiva, a ergonomia busca projetar e/ou adaptar situações de trabalho compatíveis com as capacidades e respeitando os limites do ser humano. Este ponto de vista implica reconhecer a premissa ética da primazia do homem, cujo bem-estar deveria ser o objetivo maior da produção, uma vez que um dado trabalho pode adapatar-se ao ser humano.No entanto, não podemos esperar que nos adaptemos a um trabalho que não respeita as nossas limitações, nem contempla as nossas capacidades.
A avaliação, principalmente a médio e longo prazo, possibilita verificar o que mudou, melhorou e mudou aos trabalhadores na produção. O desempenho do homem no trabalho, cada vez mais complexo,no qual a ergonomia amplia progressivamente o campo de seus fundamentos científicos e suas aplicações. A ergonomia participa da renovação produzida pela informática, já que, mais uma vez, a preocupação com os fatores humanos nas diversas atividades profissionais, mudanças profundas nos hábitos, nas atitudes e nos esquemas operatórios, acompanhada de um aumento de trabalho repetitivo. A Associação Internacional de Ergonomia (The International Ergonomics Association - IEA), apresentada pela Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO, 2007), adota a definição oficial de Ergonomia nos seguintes termos: A ergonomia (ou fatores humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos, os sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos, a fim de otimizar o bem- estar humano e o desempenho global do sistema [...] Caracteriza-se com a criação de novos domínios de aplicação ou de aperfeiçoamento:
A análise ergonômica do trabalho ajuda a compreender as formas ou as estratégias utilizadas pelos trabalhadores no confronto com o trabalho, para minimizar ou limitar as suas condições patogênicas.As novas tecnologias trouxeram benefícios inestimáveis, mas também novas restrições e imposições ao modo de funcionamento dos indivíduos. A prática de atividades de pesquisa demanda o uso de metodologias que monitorem a produção científica, com o propósito de selecionar, avaliar e sintetizar a informação, tornando-a mais acessível. Esta pesquisa referente à metria do conhecimento sobre o tema ergonomia é pertinente, considerando o avanço da ciência e da tecnologia, nestas áreas. A bibliometria tem, nas diferentes formas de comunicação e de informação científica e tecnológica, seus principais objetos de estudo. Um número crescente de periódicos especializados, seu acompanhamento para avaliá-los, dentre os mais citados na literatura, são critérios que possam interessar às organizações que lidam com informações
científicas, aplicando instrumentos de estatísticas, incluindo a medida da inovação e da difusão das tecnologias da informação. Com a presente pesquisa, buscou-se na literatura especializada de Biblioteconomia e Ciência da Informação, isto é, utilizando a base de dados Library and Information Science Abstracts – LISA –ao verificar a produção científica, na qual se justifica a necessidade de um estudo e levantamentos bibligráficos sobre a ergonomia. A produção científica na área de ergonomia tem crescido de forma acentuada, e ao realizar uma investigação bibliométrica, possibilita-se conhecer a amplitude e o desenvolvimento da ergonomia. A seguir, apresenta-se a metodologia utilizada na pesquisa.
2. Aplicação da técnica bibliométrica As atividades científicas de pesquisa são essencialmente reguladas pelo controle social mútuo, a evolução da comunicação científica, dando ênfase à geração do conhecimento. Artigos publicados em revistas científicas, publicações periódicas avaliadas pelos pares, resultam da aceitação científica e estimulam a troca informações científicas. A bibliometria infere sobre a produção bibliográfica de um determinado autor, tentando assim medir a produtividade de cada autor e criar métodos de comparação entre vários autores. Outra medida utilizada também pode ser pelo número de citações que foram feitas do artigo original, o que enfatiza a qualidade do artigo. Aplicando a metodologia da bibliometria, pode-se verificar a comunicação científica desde os seus primórdios até as bases de dados bibliográficos, com o objetivo de amenizar os problemas de acesso à ergonomia e às vantagens de facilitar o acesso integrado e a recuperação. A geração de indicadores é cada vez maior com uso da internet, efetuado análise, e saber quem é quem no assunto pesquisado. A comunicação científica em mídia digital está sendo amplamente discutida, com o rápido desenvolvimento da internet, que vem modificando o acesso à informação. As discussões giram em torno de propostas, que visam passar de um sistema de comunicação científica impressa tradicional para um sistema eletrônico. No Brasil, na área de Ciência da Informação, Kobaski, Santos e Carvalho(2006) utilizaram os métodos bibliométricos para analisar seus estudos da área de Ciência da Informação. Ao observar aplicações da bibliometria nota-se estudos além dos profissionais da Informação, é o que afirma Urbizagástegui-Alvarado (2006, p. 84), em seu artigo sobre aplicação da Lei de Lotka para análise da produtividade dos autores: Os estudos sobre a produtividade dos autores não são privativos da Biblioteconomia, mas também são realizados por psicólogos, sociólogos, provêm de distintas direções. Os psicólogos estão mais interessados em explorar o mundo da criatividade, os fatores cognitivos que fazem possível a existência dos “gênios” e da “ inteligência”, enquanto os sociólogos apontam as condições sociais que
possibilitam a produção estratificada e desigual na ciência.Os bibliotecários, no entanto, estão mais interessados nas “publicações” (teses, livros, artigos,etc.), como um produto acabado e objetivado da prática científica.
A bibliometria pode aplicar-se aos estudos sobre produção científica, de forma geral, e também sobre a ergonomia. Os indicadores métricos desempenham função importante, servindo de referência para os pesquisadores, constituindo questões cruciais a serem enfrentadas, consagram-se nos processos de avaliação quantitativa. Ao discutir o papel dos indicadores bibliométricos como recursos de disseminação, promoção e visibilidade dos impactos do processo de comunicação e de análise da produção do conhecimento científico, em uma perspectiva nacional e internacional, com pressuposto subjacente à aplicação dos indicadores bibliométricos“que a combinação dos elementos de informação permitem elaborar indicadores quantitativos e qualitativos das atividades
de
construção
comunicação
e
uso
das
informações
científicas
e
técnicas.Aplicam-se métodos matemáticos e estatísticos.”(LE COADIC,2004, p.51) Sob o ponto de vista abordado, dadas as peculiaridades das ciências, cada comunidade científica adota processo diferente de comunicação e de socialização do conhecimento científico produzido.É fato conhecido que as áreas de ciências exatas e biológicas não têm a mesma cultura de publicação das ciências sociais e humanas. Enquanto as primeiras tendem a privilegiar a publicação de artigos em revistas, nas ciências humanas e sociais, privilegia-se a publicação de livros. Conforme Santos (2003a, p. 130), esses indicadores também são de interesse dos especialistas e das autoridades governamentais, pois, além de auxiliarem no entendimento da dinâmica da Ciência e Tecnologia, funcionam como instrumentos para o planejamento de políticas e tomadas de decisão. A relação entre bibliometria, cienciometria e informetria é tão estreita que, em determinados contextos, o termo Bibliometria é ampliado para se referir a todas elas. Esses termos são definidos por Santos e Kobashi ( 2009): - Bibliometria: estudo dos aspectos quantitativos da produção, da disseminação e do uso da informação registrada; - Cienciometria: estudo dos aspectos quantitativos da ciência como uma disciplina ou atividade econômica; - Infometria: medida as atividades de construção, comunicação e o uso da informação. A criação de uma série de leis métricas formuladas principalmente por Bradford(1934), Zipf(1949) e Lotka (1962), entre outros, que regem os processos de
mensuração da informação e comunicação científica, formou um corpo teórico desses conceitos. São leis que envolvem a Bibliometria, a Cienciometria e a Informetria, indicadas a seguir: • Lei de Bradford (1934), investiga a dispersão dos artigos em diferentes publicações periódicas. • Lei de Zipf(1949), pesquisa a frequência da utilização de palavras em um texto. • Lei de Lotka(1962), estuda a produtividade de autores em termos de documentos científicos. Afim de verificar como a literatura do campo da Ciência da Informação está abordando o tema relacionado com a Ergonomia, realizou-se uma análise bibliométrica, entre maio e agosto de 2010, das referências bibliográficas nos artigos dos periódicos científicos indexados na base de dados LISA, utilizando o Portal de Periódicos CAPES. A expressão de busca limitou-se ao tema central da ergonomia. O estudo considerou as buscas na produção científica indexada na respectiva base no período de 1969 a 2010. Entre os resultados da busca de termos indexados na base de dados LISA, encontraram-se 503 artigos com o termo Ergonomic; 352 artigos, com a expressão Design; 111 artigos - Systems; 110 artigos - Work; e , 98 artigos com o termo Evaluation. A seguir estão descritos e analisados os resultados. 3. Análise bibliométrica sobre ergonomia na base de dados LISA A análise bibliométrica dos registros da Base de dados LISA foi dividida em quatro partes: 1) distribuição de frequência relativa acumulada dos 153 títulos de periódicos; 2) dendograma dos descritores de maior frequência na temática Ergonomia; 3) distribuição temporal de frequência; 4) distribuição dos títulos de periódicos, análise bibliométrica dos 1750 artigos e das citações realizadas pelos autores na construção de seus respectivos artigos. Foram também coletados dados referentes às citações, incluindo tipo de bibliografia, seu idioma e os trabalhos mais citados. Para algumas variáveis levantadas, foram realizadas análises temporais, de forma a caracterizar as tendências ao longo do tempo. A Figura 1 apresenta a distribuição de frequência dos descritores das 503 referências bibliográficas que compõem o corpus da Ergonomia. Como apresentado na Figura 1, pode-se dizer que entre os termos com maior frequência foi “Ergonomic”, e seguida o termo “Design”,utilizado para indexar 352 artigos do corpus.Na sequência, tem-se “System” que aparece com a indexação em 111 artigos, “Work”, que aparece com 110 e “Evaluation” com 98 artigos. Assim, essa configuração
demonstra a expressão da consistência e garantia da exaustividade da busca (principalmente com o termo ergonomic), uma vez que evidencia os termos que caracterizam as linhas de investigação da temática “Ergonomic”. A distribuição temporal dos artigos sobre Ergonomia, indexados na Base de dados LISA, pode ser identificada na Figura 2. Observa-se na literatura analisada que as primeiras publicações sobre Ergonomia na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação datam de 1960. A partir da análise da Figura 2, pode-se verificar que, na base de dados LISA, até início dos anos 1990, a cobertura da temática no que tange à Ergonomia, apresentava baixa expressividade, variando, em termos de média, entre 4 a 5 artigos por ano. É a partir dos anos 1990 que essa temática começa a ser objeto de maiores investigações na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação.
FIGURA 1 – Distribuição de frequência dos descritores.
FIGURA 2 – Distribuição Temporal dos artigos publicados no período compreendido entre 1960-2010.
A Figura 3 apresenta a distribuição de frequência acumulada dos títulos de periódicos publicaram artigos tratando da temática Ergonomia. Pode-se verificar que aproximadamente, 10% dos títulos de periódicos publicaram em torno de 80% dos artigos, tratando da temática.A lei de Bradford investiga dispersão dos artigos em diferentes publicações periódicas.
FIGURA 3 – Distribuição de frequência relativa acumulada dos títulos de periódicos que publicam artigos sobre Ergonomia. Os resultados das análises apresentados legitimam a identidade da temática, objeto deste estudo, legitimado o conjunto de documentos sobre determinado tema no caso a ergonomia em publicações na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. O estudo mostra a importância depesquisas bibliométricas que envolvem as relações daErgonomia na área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, escopo da indexação da Base de dados LISA. Nota-se que dentre os 34 títulos de periódicos, 4 títulos cobrem 79% dos artigos que tratam da Ergonomia na base LISA. Os demais 30 títulos de periódicos cobrem 21% dos artigos indexados sob essa temática. Cabe lembrar que ao utilizar descritores numa busca em base de dados como o LISA requer cuidados, pois é diferente se fossem utilizados os termos das palavras-chave dos documentos. A formulação da estratégia de buscas visou termos indexados para
recuperar artigos da ergonomia numa base especifica da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Destaca-se que o uso de técnicas, instrumentos e métodos daBibliometria possibilitam realizar agrupamentos e interligação de informaçãomas não são únicos para análise da produção científica em Ergonomia. Outras áreas especialmente as engenharias, saúde, sociologia, psicologia e administração realizam estudos focados na ergonomia. Portanto, são necessários outros estudos bibliométricos com o termo ergonomia nas demais bases especializadas do conhecimento. O consumo dessas informações por um público cada vez mais especializado e interessado na otimização das condições de trabalho humano carecem de maior precisão, uma vez que a escolha de títulos de artigos, suas palavras-chave, descritores e a elaboração de resumos para facilitar a disseminação da informação científica, muitas vezes são pouco atreladas a uma visão geral e sistematizada do conteúdo tratado na pesquisa. Cabe aos autores muita atenção na formulação do título e demais itens para a recuperação e disseminação de seus estudos. É importante ampliar a discussão sobre coleta e tratamento das informações , na medida em que essas se tornam mais complexas pela incorporação, por exemplo, de conteúdos em diversos idiomas. No que diz respeito à organização dos conteúdos, em que pesem os complicadores relacionados à manipulação de textos em outros idiomas, tornase uma tarefa instigante interpretar os signos a partir de realidades, por vezes desconhecidas, para um determinado país. Assim, parece que “saber mapear a informação, traçar rotas, selecionar e articular o que é relevante seja a forma mais eficiente para as buscas (OKADA; ALMEIDA, 2004). Com o aparecimento das novas tecnologias de informação e comunicação, surgem outras demandas, no qual é necessário conhecer instrumentos, ferramentas, técnicas e métodos estatísticos aplicados a análise da informação produzida em determinada área do conhecimento para que seja possível conhecer as abordagens, os desdobramentos e as tendências do conhecimento. 4. Conclusões O entendimento do presente estudo Bibliométrico na Ergonomia possibilita um panorama de como a ergonomia é vista na área da Biblioteconomia e Ciência da Informação. O termo nessas áreas surge em 1960, e quatro títulos de periódicos publicam
79% das pesquisas. E a partir da década de 1990 são concentrados a maioria dos estudos. A criação de estratégias inovadoras para transformação da prática profissional, fortalecendo a conjuntura holística e humanizada com qualidade dependem das mudanças de atitudes, posturas e ações do ser humano na sociedade. A informação métrica na Ergonômica auxilia no entendimento e aplicação em demais áreas do conhecimento. Foi possível apontar a contribuição da análise bibliométrica automatizadas, isto é com buscas de termos na base de dados LISA, sua exportação para o software, a geração de gráficos e o agrupamento dos termos possibilita novas leituras e interpretações de como a ciência cresce e influência outras áreas do conhecimento. O estudo não esgotou a abordagem do tema. Cabe dar continuidade no sentido de identificar os periódicos científicos, os autores, os temas tratados e as referencias utilizadas. O entrelaçamento da ciência torna-se cada vez mais presente e é necessário explorar as novas tecnologias para efetuar estudos e divulgação amplamente dos resultados. A temática envolve praticidade, na visualização dos dados estatísticos da métrica, possibilitando novos estudos e beneficiando especificamente, toda área acadêmica. Assim, para aprofundar os estudos bibliométricos sobre a Ergonomia, é necessária a participação de pesquisadores dos mais diversos campos do conhecimento: Metodologia da pesquisa científica, Estatística, Ciência da Informação, Educação, Sociologia, Economia, Engenharias, entre outros, a fim de compor uma equipe que participe da coleta, do tratamento e da interpretação da Informação, de forma colaborativa e multidisciplinar nessa área multifacetada da Ergonomia.
5. REFERÊNCIAS
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