MöndoBrutal #08

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MöndoBrutal #08

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Info e coisas..:

Depressa e bem, há pouco quem. Já diziam os antigos, continuamos nós a dizer, e há que admitir que é um dos ditados populares que mais sentido faz. Aqui na MöndoBrutal temos vindo a batalhar com a constante escassez de tempo. Há sempre tanta coisa mais que gostaríamos de fazer, e sempre mais e mais a ocupar-nos o tempo de modo que não podemos fazer pela webzine muito mais como gostaríamos, daí que uma e outra vez os atrasos aconteçam. Ponderámos tornar esta edição trimensal, por esse mesmo facto, mas logo surgiu a evidência de que estaríamos a dar um passo no sentido de relaxar.. se esta edição dava jeito ser trimestral, a próxima já seria de quatro em quatro meses? E quanto mais tempo até deixar de ver as coisas dessa forma e olhar para algo como sendo “não produtivo”? Mas adivinhem só: algo não é produtivo quando não se insiste numa rotina saudável. Não se deixem enganar pessoal! Aquele ensaio certinho de x em x dias, ou aquela reunião saudável com os amigos uma vez por semana para discutir ideias pode parecer pouco, mas ao fim de algum tempo dá frutos. Tudo depende da dedicação e da perseverança conjunta. Portanto, depressa e bem há pouco quem, mas sem esquecer que cruzar os braços também não faz bem a ninguém!

MÖNDOBRUTAL webzine mondobrutal@gmail.com

E já que falamos em ditados populares, há que louvar o som e a forma como os aveirenses Estado de Sítio têm sabido manejar, não só o seu viciante punk rock cheio de crust, como os elementos próprios da nossa língua mãe, de forma a reforçar uma identidade que em tudo abraça a igualdade, mas sempre com a audácia de relembrar que o ditado de ontem também serve para amanhã. Também cá temos nesta edição o thrash metal bem reforçado dos Brain Dance, que defendem de uma forma assinalável a fé no underground; o rock alternativo dos Uaninauei, que viram a cara sem grandes preocupações ao que é habitual para não esquecer as suas raízes; o hard rock dos Redlizzard, que arranca reacções positivas como uma Harley arranca pneu no asfalto; e o thrash punk dos Konad, que nos lembra que a fusão dos dois estilos nem sempre tem de terminar em ‘core.

04 - Fora do Arquivo: Braindead

A par com tudo isto, temos ainda a história dos Braindead, cujo thrash metal cheio de groove acabou por influenciar um bom punhado de músicos, e o desfiar de todos os pormenores por detrás de uma das malhas mais viciantes do último ano “Home”, dos No Tribe. E mais, é só desfolhar. Há aqui mais que razões para acreditar no nosso underground, e é por estas e por outras que iremos continuar a fazer este esforço rotineiro, para um dia também nós olharmos todos para trás e apercebermo-nos como algo mudou, e esperamos, também com o nosso contributo, seja para melhor. Levantem esses horns pessoal \m/ ROCK’N’ROLL!

http://www.facebook.com/pages/MöndoBrutal/118889448226960

A Seita: KaapaSessentainove (coisas variadas/ entrevistas) Maltês (design) Rui LX (tmbm design) Cátia Panda (recolha de info/ an.discos) Girh (revisão textos/ entrevistas) Lagartixa (an.discos) Hugo Cebolo (for.d’arquivo/ linhas c. q. s. t. a malha)

índice 02 - Editorial 03 - Notícias

06 - Brain Dance

10 - Uaninauei

14 - Estado de Sítio

18 - Redlizzard

22 - Konad

26 - A.l.c.q.s.t.M.: “Home” dos No Tribe

28 - Análises a discos 32 - Videoclube

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Not]cias .................. História do metal português em livro Depois do sucesso na sua versão digital, o livro Breve história do metal português redigido por Dico (fundador do mítico blogue Metal Incandescente), encontra agora versão impressa, pela associação cultural A Causa das Regras. Esta trata-se de uma versão aumentada do livro originalmente concebido para download gratuito, contendo mais de 200 páginas com as mais diversas adições de interesse, revelando os passos do género dentro do nosso país desde os anos 60, contando com relatos surpreendentes acerca de algumas figuras conhecidas da música portuguesa. Para fazerem a encomenda, podem seguir este link:

de culto de horror. Formada em 2010, a banda constituída por Álvaro Fernandes (guitarrista, Pitch Black), Marco Silva (guitarrista, Biolence, Pitch Black) e Zé Pedro (baixista, Holocausto Canibal, Grunt), só agora surge com o seu primeiro EP, Tales for the carnivorous. Para além do vocalista não efectivo N. Lima, a banda conta ainda com colaborações de bateristas integrantes de bandas como Switchtense e Raw Decimating Brutality, e irá estrear-se em palco já na próxima edição do Moita Metal Fest 2013, ao lado dos também já confirmados For The Glory e Brutal Brain Damage. https://www.facebook.com/bavalives

Mais um regresso à vida dos palcos para os The Parkinsons

http://www.causadasregras.net/livros/breve-historia-do-metal-portugues

O resgatar do poder nada primitivo dos Primitive Reason

Depois do regresso ao activo e da edição no ano passado de Back to Life, os icónicos punk rockers The Parkinsons preparam-se para mais uma digressão, desta vez centrada na península ibérica. Confirmada está já uma data no Ceira Rock Fest 2013, que se realizará no dia 9 de Março, no concelho de Coimbra. http://www.facebook.com/pages/The-Parkinsons/105562656143003

Março é o mês previsto para a edição de Power to the people, o sexto álbum de uma das bandas mais multifacetadas e intrigantes dentro do rock nacional, os Primitive Reason. Vinte anos depois da sua formação, o grupo recorreu desta vez à ajuda da ‘Primitive tribe’ - os próprios fãs da banda - para o financiamento de 50% do custo de produção total do álbum através de uma campanha de crowdfunding. O álbum encontra-se em fase final de mistura, em Nova Iorque, nas mãos de Bob Brockmann (que já trabalhou com nomes como Korn, Herbie Hancock, The Fugees e Bob Dylan). https://www.facebook.com/primitivereason

Horror e culto segundo os Dementia 13

Mr.Miyagi sem destino, mas com novo disco Os insanos punk-thrashers Mr. Miyagi têm um álbum novo acabadinho de lançar no final do passado mês de Janeiro. There’s no destiny.. enjoy the ride, assim se chama, foi lançado sob o selo da Lover & Lollypops e apresenta-se como uma especiaria para os ouvidos de amantes, tanto do novo thrash metal, como do heavy metal precoce dos 60’s/70’s. Três faixas do álbum podem ser ouvidas na íntegra no seguinte link: http://loversandlollypops.bandcamp.com/album/theres-no-destiny-enjoy-the-ride

Novas oportunidades, no Hard Club

Dementia 13 é o nome do novo super-grupo dentro do underground metal nacional, dedicado ao death metal old school, com letras inspiradas no cinema

O realocado Hard Club começa o novo ano com um convite aberto a quem quer que tenha projectos musicais para apresentar ao vivo. Os interessados podem-se inscrever a partir deste link: https://www.facebook.com/HardClubPorto/app_141149985924076

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F#ra do Arquivo BRAINDEAD

Surgiram da margem sul do Tejo na segunda metade da década de 80, mas vincaram bem muito do que acabaria por vir a ser a música rock moderna nacional. Ouvir hoje Braindead lembra-nos o início dos anos 90 e o groove que em nada ficaria desencaixado de muita música que ainda hoje é feita, mas isso é só parte da história. Nas próximas linhas está a história da banda donde saíram dois dos elementos fundadores de um dos mais conhecidos grupos nacionais de hip hop, os Da Weasel, muito antes desse sequer ser um projecto. Uma banda que quando começou deixaria qualquer fã de Slayer ou Testament de ouvido bem atento! A banda foi formada em Dezembro de 1987, em Almada, por João Nobre(guitarra) e Michael Stewart(voz). Marco Franco junta-se à banda pouco depois para ficar responsável pela bateria, e passados alguns meses, em Abril do ano seguinte a primeira formação ficaria completa com a adição de Miguel Fonseca no baixo. Ainda no mesmo mês a banda acabou por gravar a sua primeira demo tape, ‘Final judgement’, que era constituída pelas faixas “Trapped in solitude (intro)”, “Warriors of pain”, “Mortal malignance” and “Bloody nightmare”. Tanto os nomes das faixas como a sonoridade revelavam uma banda que estava consciente

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da negridão de espírito de bandas como Venom, ou Kreator, mas que ainda assim buscava um pouco da claridade de outras referências thrash, como as partes de dedilhados de guitarra acústica a fazer lembrar um pouco as agora clássicas intros à Metallica, e não só, deixavam antever. A 9 de Junho e a 1 de Julho de 1988 o grupo tocou os seus primeiro e segundo concerto, na Escola Secundária de Cacilhas (Almada) e nas “Festividades da amizade” no Fogueteiro, respectivamente. Alguns meses depois, em Setembro do mesmo ano, a banda acabaria por gravar a sua segunda demo, com uma qualidade de som relativamente melhor - leia-se não tão sofrível - e acabaria por, com faixas como “Winds Of insanity (Intro)”, “Hedonist grimace” e “Peroxide” cativar mais uma boa dose de ouvintes e chegar mesmo a tornar-se um dos nomes mais promissores do género, ao lado de nomes como Ramp, Procyon ou Thormenthor. Ao lado destas duas últimas bandas, juntamente com The Coven no mesmo cartaz, os Braindead tocaram o último concerto da primeira fase do seu percurso, a 15 de Outubro de 1988, no primeiro Festival de Heavy Metal no Fogueteiro. Passados alguns meses, em Abril de 1989, Michael e Marco saem da banda devido a divergências musicais. No entanto acabariam por mudar de ideias e voltar passadas poucas semanas para se juntar a um novo alinhamento, onde ao lado do resistente João Nobre agora se encontrava um novo guitarrista, Vasco, e um novo baixista, Nuno Espírito Santo (que substituía Miguel devido à sua saída para se juntar aos Thormenthor). Com este alinhamento a banda deu vários concertos, incluíndo algumas passagens pelo mítico Rock Rendez Vous, no entanto em 1990 Marco acabaria por abandonar


o kit de bateria dos Braindead de vez, para se juntar aos Massive Roar - talvez por sentir mais Suicidal Tendencies do que Slayer no pulsar do ADN da banda -, fazendo com que os restantes membros, impossibilitados de encontrar um substituto adequado, se vissem forçados a se separar. Durante dois anos os elementos da então extinta banda acabariam por vaguear por vários grupos e projectos musicais: Nuno Espírito Santo ingressa nos UHF; João Nobre e Vasco Vaz formam os Esborr; para além dos Esborr Vaz acumularia também funções nos Agora Colora. Em 1992 a banda reúne-se, sem baterista, e decidem-se a seguir um novo rumo, acabando por compor novas, quase de improviso, e suficientes para completar aquele que acabaria por ser o seu primeiro álbum, Blend. Tal como o nome daria a entender, Blend foi um ponto de viragem para os Braindead, que agarraram uma sonoridade mais de fusão, provavelmente atentos à manifestação cada vez mais crescente de estilos musicais mais urbanos, como o rap ou o hardcore, e de uma forma mais inevitável, à fusão destes com o género de onde haviam partido, materializada em nomes como Biohazard ou Rage Against the Machine, mas manifestando também um fraquinho pelo funk e pelo lado mais orelhudo da música. No entanto o adiamento constante, totalizando mais de um ano, por parte da Heaven Sound (editora com a qual a banda havia assinado) para lançar o LP fez com que a banda rescindisse contrato e acabasse por se associar com a Valentim de Carvalho, sendo os responsáveis pelo primeiro disco de uma banda nacional cantado em inglês a ser lançado pela Valentim de Carvalho. No entanto tal só aconteceu com a regravação de Blend nos estúdios de Paço de Arcos, já com o novo membro, Guilherme, a cargo da bateria. Ainda assim o nome da banda não estava parado estanque debaixo da sombra durante todo este processo já que, ainda sob a tutela da Heaven Sound, antes da constatação do empate em editar o seu primeiro álbum, a banda tinha já o videoclip para o single “Cry alone” em alta rotação nos programas da especialidade

da televisão nacional. O single tornou-se um êxito, e com o tão aguardado lançamento de Blend a banda acaba por definitivamente pontuar um antes e depois na sua carreira, e ver a maioria dos seguidores da sua fase inicial virar-lhes as costas. Mesmo assim, devido à rotação do single, a banda chega a um novo público e torna-se um relativo sucesso. Dois anos e vários concertos depois a banda regressa às edições com aquele que seria o seu derradeiro álbum, Room Landscapes um álbum igualmente bem sucedido no que respeita à manifestação da veia musical iniciada com Blend e levou a banda a fazer a abertura para o concerto dos Faith No More na Praça de Touros do Campo Pequeno, em Junho de 1993. No entanto os ventos da mudança não cessavam de soprar, e algum tempo depois a banda viria a terminar definitivamente. Das cinzas dos Braindead, Nobre e Guilherme formaram um novo grupo, juntamente com Carlão (irmão de Nobre, que havia também participado nos Esborr, e mais conhecido como Pacman) que se haveria de chamar Da Weasel e com o passar dos anos se revelou um dos mais bem sucedidos grupos de hip hop portugueses. Nos últimos anos, durante um dos recentes hiatos dos Da Weasel, Nuno Espírito Santo viria a juntar-se a Carlão para reviver os dias de raiva que haviam sido os da antiga banda do baixista, num projecto intitulado... Dias da Raiva, claro está!

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MB

http://www.myspace.com/braindeadpt http://portugal80smetal.blogspot.pt/2011/05/braindead.html

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brain rain

Com a convicção de quem não hesita em acreditar no ‘som Eterno’ que acreditam ser o heavy durante esta entrevista até o nome de Salgueiro Maia é mencionado -, os lisboetas Brain Dan receita bem actual e que difícilmente passará despercebida a qualquer fã de metal que se pre O que vos fez pensar antes em “fazer uma banda de covers”, e só depois se converter aos originais? Parece-vos um ciclo comum quanto às bandas com que têm partilhado estes cinco anos? Este projeto iniciou-se como uma banda de ‘covers’ devido à circunstância dos membros que compunham o line up inicial pertencerem à mesma escola de música e aí as matérias ministradas serem [constituídas por] músicas de grandes bandas, o que nos deu a capacidade de as executar e fazer um alinhamento que nos permitia fazer um concerto. Como éramos muito novos - 16/17 anos - achámos que era por aí que devíamos começar. Claro que depois verificámos rapidamente que o que queríamos mesmo era uma identidade própria, criar as nossas próprias músicas. Muitas das bandas com quem nos temos cruzado começaram com covers. É bastante comum, mas também nos cruzámos já com bandas que se lançaram logo a produzir as suas músicas.

Quando começaram eram todos da

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mesma escola de música. Há algo que se perde quando membros com uma ligação assim forte se separam da banda, ou parece-vos que a troca da inocência pela experiência é algo que inevitavelmente traz mais valias? As ‘saídas e entradas’ foram naturais no processo de evolução da banda. Inicialmente éramos todos muito novos como dissemos anteriormente, e nem todos tinham como objetivo ser “músico profissional”, estavam no projeto por hobby, o que tornou impossível continuar quando começámos a ter mais “obrigações” (concertos). Por isso foram sempre processos de renovação muito pacíficos. A incorporação de novos membros, no nosso entender, foi muito benéfica e trouxe-nos ao som que hoje produzimos.

O vosso disco de estréia é um exemplo tão interessante quanto cativante no panorama metal português actual. Que outras bandas nacionais vêm como vossos pares nesta honorável cavalgada


Dance Danc

y metal, e com um espírito que não vira a cara à revolução - até pelo contrário, visto que ance revelam uma genuína vocação para a ideologia do thrash metal, que fundem com uma eze. em direção ao eterno heavy metal? Já partilhámos o palco com diversas bandas e é injusto esquecer algumas porque nos ajudámos [entre] todos nos passos iniciais, seja na procura de locais para concertos, na partilha de material, etc. Mas temos tocado de forma mais assídua com os Caronte, Dreadfire, Auschwitz, Laydown, Hate in Flesh.. isto no nosso circuito “doméstico”. A nível nacional parece-nos que o metal está em franca expansão com inúmeros eventos, novas bandas e grandes apresentações internacionais de bandas como os WAKO, More Than a Thousand, Switchtense, Moonspell, etc., pelo que temos a certeza que a cavalgada está garantida e vai chegar ao seu destino.

No vosso som denota-se uma forte e muito bem mesclada mistura de influências antigas como Iron Maiden com a nova lufada de ar fresco do thrash metal. O quão importante é na vossa opinião, a capacidade de uma banda conseguir diferenciar a música que faz

num todo cada vez mais populado como é o underground metal? É muito importante ter um “som próprio” que caracterize logo a banda e a distinga. Tentamos no nosso trabalho conseguir esse objetivo misturando as diversas influências musicais do pessoal da banda, por isso não vamos em “modas” tentamos seguir o nosso rumo sendo nós os mais críticos e exigentes com o nosso trabalho.

Têm estado no top de vendas do site MAL da recém-criada editora HellHotHell. Como resumem o processo do que a editora tem feito, a forma como isso se tem manifestado nos resulados e a forma como recebido tudo isto que se está a passar? Desde logo queremos agradecer à malta que nos segue, apoia e tem comprado o disco, é muito gratificante saber que a nossa música tem feedback. A nossa editora, a Hell Hot Hell, é uma editora nova ainda com poucos recursos mas que teve a coragem de “construir” um

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espaço inovador que permite a bandas e músicos independentes apresentar o seu trabalho fora da “ditadura” das grandes editoras que muitas vezes alteram o trabalho criativo dos autores no intuito de os tornar mais “rentáveis”. Claro que, como nós, anda à procura de conseguir ‘massa crítica’ alargando o catálogo de bandas e diversificando os estilos musicais que o compõem. Por isso não pode ainda ter pessoal destinado ao apoio directo a cada banda. Mas globalmente estamos satisfeitos; existem ideias de efectuar concertos de apresentação do rooster da editora de forma temática ou global, merchandising, edição física do CD, etc. Temos de dar tempo para que as ideias cresçam e se tornem sólidas. O crescimento de ambos os projetos - o nosso e o deles - vai num futuro próximo ser vantajoso para ambos.

Passa-nos a ideia de que, apesar de soarem muito bem em disco, vocês têm alguma sede de tocar em palco. É por aí que pretendem continuar a pôr os cérebros a dançar? É uma pergunta interessante, e uma perspetiva diferente da nossa. Nós temos a sensação nítida de que somos uma ‘banda de palco’. Aliás, o nosso percurso neste quatro anos tem sido a apresentação do nosso trabalho em concertos. Só estivemos uma semana em estúdio que foi o tempo que levámos a gravar o [álbum] Inheritance. Aproveitamos a ocasião para agradecer ao Wilson “Drummer” Silva (baterista dos More Than a Thousand) que fez a gravação, mistura e masterização

do trabalho na WRecords. Mas sim, voltando à pergunta, o que queremos mesmo é concertos, sentir a malta… O metal é no palco que se “ouve”!

Mesmo assim parecem também bastante activos no mundo virtual. Qual é a vossa visão do que pode ser alcançado através das novas formas de promoção? Conseguem, contra aquilo que muitos músicos estabelecidos amaldiçoam, vislumbrar ramificações interessantes desta nova era da informação e o seu reflexo na cena musical? É o progresso, temos de nos adaptar. Nós músicos desta geração que já nascemos com este facto adquirido da Internet - aliás estamos a dar uma entrevista para uma… webzine! - temos de saber explorar as potencialidades e aceitar os inconvenientes. Bandas como nós, com pouco (nenhum) orçamento para publicidade, tentamos colocar o nosso trabalho nos computadores de possíveis fãs para eles fazerem “likes” e aumentarem a nossa exposição mediática que se traduz depois em convites para concertos, aumento do volume de vendas, como se tivéssemos feito uma campanha publicitária nos moldes tradicionais. Agora, existe o reverso da medalha, que consiste nos downloads das músicas, os direitos de autor, o facto dos músicos serem reconhecidos como profissionais e precisarem de ter o seu trabalho remunerado. Tem de se trabalhar num método que permita ao ‘consumidor de música’ adquiri-la a preços comportáveis e pagar aos autores. O conceito M.A.L. (Mercado de Arte Livre), de que fazemos parte através da nossa editora, tenta equilibrar essa situação colocando à venda os produtos a preços competitivos online sem intermediários. Claro que em Portugal ainda está enraizado o “ter a posse física do CD”. Uma certeza existe: vai ser tudo diferente.

Em Março de 2012 chegaram a tocar no Paradise Garage, na mesma noite que um nome de peso como os Ramp. Que tal foi essa noite? Chegaram a trocar alguma palavra com os cabeças de cartaz? Foi no “Revolution Fest”, um espetáculo que teve algumas dificuldades na sua realização com algumas mudanças de datas e que sofreu algumas alterações ao cartaz inicial com a desistência de algumas bandas. Com isto, a promotora do evento convidou-nos para abrir o evento. Correu bem apesar de, por limitação de tempo, apenas termos tocado 3 temas, mas tivemos reviews positivas. Foi ótimo termos tocado num palco mítico, já pisado por grandes nomes da música; deu-nos o “ambiente” de como é tocar em eventos de maior dimensão. Devido à azáfama dos bastidores, com pena nossa, não foi possível falar com os Ramp, que deram um concerto ENORME.


Já actuaram em “vários bares em Lisboa e na margem sul”... para quando pensam invadir o resto do país? Já fizemos a “tour” do underground da zona da grande Lisboa, tocando no Transmission, República da Música, Revolver, InliveCafé, SideB, “asa de Lafões, Vinícola do Barreiro e outros locais menos ligados ao metal como o Rock in Chiado. [Contudo] também já demos uma saltada ao Porto, tocando duas vezes no Plano B. Realizámos igualmente alguns espetáculos ao ar livre nas festas de Alhos Vedros e Barreiro do ano passado, pelo meio também já fomos a Torres Vedras. Agora com o CD de estréia temos de o divulgar pelo País fora e estamos abertos a convites de quem nos queira ouvir e ver. Estamos igualmente a trabalhar em concertos de iniciativa própria. Não vamos ficar parados, temos de pôr o Inheritance a mexer.

Pretendem transmitir uma “mensagem social, normalmente contra o desleixo intelectual e o espiríto de rebanho” que acontece um pouco pelo mundo todo, Portugal incluído. Acham que é uma questão de ninguém ter os olhos abertos, ou mais de as pessoas não serem capazes de agir segundo aquilo que até já são capazes de saber? Não propriamente. Com o “estado a que isto

chegou”, como dizia o Salgueiro Maia, toda a gente tem os olhos mais abertos. Quanto mais não seja porque lhe rasgam as algibeiras à procura dos poucos trocos que ainda possuem. O que achamos é que a música tem de passar do seu aspeto meramente lúdico, e fazer pensar também, ter conteúdo. É isso que procuramos fazer no nosso trabalho. Na escolha das músicas para o Inheritance tentámos que a sua mensagem fosse coerente, que falasse de como chegámos até aqui: o tema que dá nome ao CD é disso que fala, da herança que a atual geração recebeu; na faixa seguinte apelamos para a alteração do rumo que levamos sob pena do nosso destino ser “Destination Nowhere”, e prosseguimos com temas que são homenagens à luta de diversos povos pelos seus direitos, como é o caso da “Arab Spring” e da “Insurrection”; terminando com uma sátira à massificação do indivíduo, que perde a sua autonomia, sendo escravo de ‘comportamentos globalizados’, seja ao nível da moda, seja ao nível dos produtos que consome - a “Existence”. Basicamente é isto: queremos fazer música, metal, que cumpra uma função social também. Não temos a pretensão de liderar movimentos; temos é a vontade de também contribuir para a mudança.

Depois deste Inheritance, o que se vos apresenta na manga de momento? Como todas as bandas que editam um novo trabalho, agora vamos promover o Inheritance, tentando que chegue o maís longe possível. Temos igualmente temas acabados já prontos para a “linha de montagem”, em número suficiente para nova edição e, continuamos a trabalhar em todos os ensaios em novas malhas, experimentado novas sonoridades, tentando não estagnar, para contribuir com a nossa pequena parte para que o metal português seja mesmo ETERNO.

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MB

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UANI NAUE I

Ainda se juntam na mesma quinta nos arredores de Évora, na qual começaram os primeiros ensaios em 2008, desde o início? Continuamos a ensaiar na mesma quinta sempre que possível, por vezes é complicado devido ao mau tempo, mas sempre que ensaiamos noutro sítio relembramos o privilégio que temos e a influência que aquele local tem em nós, principalmente ao nível da composição.

Sentem que o contacto directo com um ambiente marcadamente diferente do habitual conceito de urbanidade de alguma forma influencia as vossas

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canções, ou mesmo a forma de as escrever? Sem dúvida. Crescemos no interior, maioria de nós ainda lá vive, e sem dúvida que assimilamos uma cultura diferente dos centros urbanos nacionais. Seríamos falsos se neste momento falássemos de noitadas no Bairro Alto ou nas Galerias do Porto, porque não é a realidade que vivemos, que conhecemos melhor, e porque a vida no interior e no litoral está claramente dividida neste país. Queremos afastar-nos.

”Isto não é metal, não é stoner, hard rock ou rock alternativo, é uma mistura muito classy e catchy de tudo


identificar.

A origem do nome da banda está, segundo o que pudémos constatar, associado a uma situação bem engraçada. Querem presentear os leitores com essa história, nos detalhes possíveis? O nome surge como piada entre amigos para brincar com as bandas em que cantávamos em inglês macarrónico, com muitos “why don’t you run away” e coisas do género que com o sotaque português, mais especificamente alentejano, soam bastante mal. Referíamos então que com esta banda queríamos afastarnos desse som “uaninauei”, sem personalidade.

.Os Uaninauei não estão “cá” ...para se aproximar daquilo com .que o ouvinte tradicional de rock anglosaxónico espera escutar. ..O grupo eborense assume orgulhosamente a sua identidade .e transporta-a consigo onde quer que a estrada e as revigorantes ...composições de rock de fusão com as mais variadas influências .os levem. Daniel Catarino, vocalista, ajuda..nos a conhecer uma banda que ainda vai dar bastante que falar. isso.” Com que bandas - nacionais ou internacionais - se identificam, a este nível de amálgama e fusão de géneros? Em Portugal vêm alguma cena na qual se englobem a aparecer, ou nem perdem tempo com isso? Não andamos propriamente à procura de referências ou de artistas que pratiquem o mesmo tipo de sonoridade, interessa-nos mais que a banda respeite o seu caminho e a sua criatividade, que crie as suas próprias fusões sem a preocupação de soar próximo de A ou B. Gostamos de bandas rock com personalidade, que seguem o seu caminho com o compromisso único da qualidade, e é com essas que gostamos de nos

Foi fácil ou difícil hesitar uma vez mais em transformar os instrumentos em peças de mobília? Quanto tempo acreditam que um músico que não se venda e é capaz de entoar “tenho chamas em mim”, cá em Portugal, pode aguentar até que a guitarra tenha mesmo de ser pendurada numa parede? Acabou por ser natural porque a banda surgiu das cinzas de tudo o que aconteceu anteriormente. Os restantes membros são amigos de adolescência, alguns até de infância, e acabámos por juntar os elementos de várias bandas extintas que continuavam a tratar a música como prioridade na sua vida. Sempre foi difícil ser músico independente em Portugal, desde o salazarismo em que a guerra e o serviço militar impediam a progressão de carreira dos artistas, até aos dias de hoje em que a música já não tem o papel que tinha na vida da maioria. A venda de discos está remetida a um grupo de românticos que relembram ou recriam outros tempos, e até os concertos têm menor aderência, remetidos a segunda escolha por festas de bebidas alcoólicas, ou por uma barraca de cerveja barata à porta.

Os Uaninauei funcionam mais sob uma democracia, ou sob uma anarquia? Toda a democracia requer um certo nível de anarquia para funcionar, porque há conceitos de comportamento que não são legisláveis, que estão mais relacionados com instinto e consciência. Funcionamos sob a respeitocracia.

A dado momento na vossa descrição biográfica constatam que “as pessoas, quando envelhecem, tendem a deixar de acreditar que é importante o que têm a dizer”. Como contornam esta questão? Ignoram o desprezo dos

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outros, ou procuram falar sobre as coisas de maneira diferente, como às vezes nos soa numa ou outra música vossa? Tentamos encontrar alternativas positivas para o pessimismo geral, preocuparmo-nos mais com a correcção do indivíduo como resposta aos males sociais.

Lume de chão é um disco algo surpreendente para disco de estréia. Foi algo impetuosa a ideia de partir para um álbum em vez de lançar alguns EPs primeiro, ou para os Uaninauei as coisas não são para ser em meias doses? Foi mais uma questão de gosto, já tínhamos um single com 2 temas, não havia necessidade de estar a adiar esse momento fundamental que é editar um disco de longa duração; fundamental para uma banda que se quer na estrada por muitos anos.

No tema “Balada do Cavalo” chegaram a integrar o cantar de um coro alentejano. Como surgiu a ideia, e já agora como se deu a experiência? A ideia surgiu naturalmente já no estúdio, e saíram logo uns versos para encaixar nesse trecho. É algo que está nas nossas raízes, possivelmente mais que o rock anglosaxónico, e como não temos quaisquer barreiras na composição, estamos abertos a todas as influências de forma igual. O mote é utilizar o que soar bem a estas 5 pessoas, independentemente dos géneros ou fusões.

Levar um coro para a estrada não deve ser lá muito possível, mas para vocês os 5, a estrada é o destino mais apetecido nesta rotina do rock, certo? Que memórias ela vos tem dado? A estrada é metade da nossa ideia de banda, sendo que a outra parcela está relacionada com a composição de bons temas. Temos memórias positivas e negativas, de gente excelente e alguns sugadores de sangue alheio. Depois a selecção natural trata do resto.

Já passou algum tempo desde o álbum de estreia. Há já planos para a chamada prova dos 9 que será o segundo longa duração? Está já gravado, em fase de mistura e masterização, estando previsto para inícios de 2013. Até lá, temos de acertar como será feita a edição e distribuição.

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MB

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Os aveirenses Estado de Sítio já cá estão há algum tempo(!) e, verdade seja dita, são das poucas bandas que conseguem com o seu punk inundado de crust e espírito hardcore, não só contagiar o público a nível motor, mas também levá-lo a entoar os refrões (que muitas vezes ficam entranhados na memória por dias...) de practicamente todas as suas músicas nos seus concertos... Concertos esses que têm sido o combustível número um para o grupo ao longo da sua história. Ah!.. isso e Cergal!

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A crise que vivemos deve ser uma grande fonte de inspiração nestes dias, certo?

da crise é o povo unir-se é despertar o reivindicar coletivo e exigir o que é nosso por direito, sermos pessoas não números.

Penso que falar de crise é algo que já não é novo, vão-se é mudando os termos, as figuras e por ai fora. Quem não se lembra de uma música super antiga dos Ratos de Porão, onde já diziam “o FMI não está nem ai…”,e tantas outras. Por outro lado, um gajo é influenciado por tudo o que nos rodeia, o que nos leva a assumir uma maneira de ser e atuar, temos agora quase todos os dias provas que as pessoas estão a chegar a um ponto de rutura e estão a perder o medo e a insurgirem-se contra o sistema e toda a cambada de corruptos e leis de merda.Acho que é o único aspeto positivo

O que motivou a criação dos Estado de Sítio há 10 anos atrás? 10 Anos? Passa rápido. Estado de Sítio surgiu da necessidade de uns quantos gajos focalizarem as borras,raiva,ira,energia,ideias e nada melhor do que fazer barulho.

Pelo caminho houve algumas mudanças no alinhamento da banda. É inevitável que os anos de estrada, música e festa acabem por desgastar alguns músicos e


cruzamo-nos com um lugar comum onde para além de agradecerem a antigos membros, agradecem à mae de um deles (mãe do Rica). Não é algo banal cruzarmonos com pessoas de uma geração mais velha que tolerem um tipo de música extremo como o que praticam. A que se deveu tal agradecimento? Ensaiamos na casa - digo quarto - do Rica por uma porrada de tempo, e este agradecimento foi mais que merecido pela paciência, calma e simpatia da mãe dele. Esta fase foi bastante conturbada, tóxica, demoníaca. Foi por assim dizer os princípios; ainda havia muitas coisas por definir, e metal por limar.

fazer com que queiram repensar as suas prioridades? O tempo muda muita coisa, prioridades, interesses e todo o tipo de merdas. Uns ficam malucos, outros arranjam empregos com horários incompatíveis com tudo, outros desaparecem. Mas isto é mesmo assim, um gajo adapta-se às adversidades e o que não mata torna-nos mais fortes. Há sempre aquela constante de se poder ficar sem sala de ensaio ou algum elemento, mas nada de braços cruzados, pelo contrário, é mesmo siga a marinha. Refaz-se o plano, consolidam-se ideias e bota.

Num dado ponto da vosso percurso

Infelizmente também não é comum ver raparigas por trás de um set de bateria, ainda para mais numa banda de punk hardcore, mas a Paula consegue deixar qualquer um mais desprevenido de boca aberta. Ainda chegaram a ouvir algum tipo de comentários menos construtivos por parte de gente de fora da banda, ou é tudo boa gente, sem preconceitos? Pelo contrário, a cena da Paula sempre foi um ponto forte de E.S. O pessoal sempre foi bastante recetivo. Aqui ninguém é julgado, cada um é como é. Mulher, homen, animal… Uma banda é feita de pessoal que partilha alguma coisa e cada qual dá tudo o que tem, com o objetivo de criar algo, nem que às vezes, seja algo que à partida até possa só ter sentido para o pessoal da banda. O pessoal curte bandas porque sente afinidade com as letras, com as malhas, a atitude.

Às tantas já nem se lembram, mas

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Diriam que ainda há muitos ditados portugueses que podem vir a servir de inspiração à banda no futuro? cruzámo-nos com esta expressão atirada pela banda, aquando da gravação do álbum: “Anarquia, Punk & Cergal fria para todos!” Deveria haver um abastecimento de Cergal em cada local de ensaio/gravação por aí fora? Haha, se tivéssemos um contrato com a Cergal estávamos ricos. Na altura era a melhor opção a nível de preço e a média de consumo é elevada, por isso lá estavam eles litros e litros. Sempre houve aquela ligação música-copos, coposmúsica. Porém a música já sofreu algumas derrotas contra o álcool e vice-versa , mas faz tudo parte do treino.

Deus dá nozes a quem não tem dentes é um grande álbum, com malhas que quase de imediato se tornam em hinos a ser entoados em coro durante os concertos e a gravação do mesmo também está bastante potente. Contemnos alguns pormenores sobre como se deu o contacto com o estúdio onde registaram as músicas, e como foram aqueles dias de gravação, só com a Cergal amiga como conforto. Houve uma necessidade de gravar por que já tínhamos bastantes malhas e era algo que já pretendíamos há algum tempo. Surgiu a oportunidade de gravar num estúdio de uns amigos, “O Covil“, depois foi uma questão de tempo até finalizarmos as gravações. Entretanto houve uma série de contratempos, mas essas merdas fazem parte do processo.

Do género: “Quem não rouba nem herda, não tem uma merda”, “Ninguém dá um porco a quem dá uma chouriça” e por aí. Uma das coisas boas nos provérbios portugueses é a facilidade com que consegues transmitir algo, sendo bastante claro (embora haja sempre quem se faça de despercebido),contundente e atual. São expressões que não passam de prazo.

Bandas que, como vocês, têm em vista a crítica social nunca são demais. Tendo isto em conta, acham que se não tivessem sido vocês a compor malhas como “Sangue na arena”, ou “Nazi sai daqui”, por exemplo, acham que outro alguém o faria com a mesma intensidade? Acho que cada banda é uma banda, não dá para quantificar intensidade ou outro aspeto. Quando se cria uma malha é algo feito por aquele grupo de elementos, a música, os músicos, cada qual faz a sua parte com o seu cunho. Por outro lado, temos as covers que considero serem uma forma de mostrar que estas lá, curtes aquilo, aquilo bate.

Uma das comparações óbvias do som que praticam, muito pelo uso do português e pelo timbre do Redondo, é com

http://www.myspace.com/estadodesitiopunx

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estadodesitio666@gmail.com


os Mata-Ratos. Já estão fartos de levar com isso, ou é uma comparação que vêm como um elogio? Como?? Isso para mim é novo. Nunca tal tinha ouvido. A sério?

Sim, é o que parece. Mas façam as comparações que se façam o que é verdade é que ter o tipo de garra que têm, e a atitude visceral que mostram não é para qualquer um. Em que é que se inspiram para fazer as malhas que cospem pelos amplificadores? Obrigado,se isso é assim visível, quer dizer que estamos a fazer um bom trabalho. De tanta merda que um gajo é obrigado a fazer e a aturar, ao menos na música não temos quaisquer restrições, fazemos o que nos dá na gana. Somos influenciados por tudo e todos, e a música permite-nos dar o nosso parecer sem interferências de nada, és livre de berrar e tocar as malhas que quiseres, como quiseres. Uma coisa é certa, se não provocar otites caga, para nós não dá.

Os vossos concertos são sempre a abrir. As músicas por si só já tinham potencial para isso, mas com a vossa entrega ao vivo, não há forma de evitar o contágio. Ainda há concertos com malta morta, ou distraída de ouvido, onde precisam de puxar pelo público? Como já falamos cada um tem a sua maneira de encarar e de se exprimir com a música, isto é, não há gente morta ou sem vontade. De tantos concertos que já demos, continuamos a não curtir salas com cadeiras, barreiras (banda/público), preços elevados no bar, pouca quantidade de copos para a banda, fascistas, entre outros. Como se diz, dia de concerto é dia de festa, se não for para armar a puta mais vale ficar em casa, esta

merda são três dias e dois já foram. Se é para tocar damos o litro, é fodido um gajo saber que pode dar mais e depois ficar aquém das suas expectativas e já nem digo para com os outros, mas a nível pessoal. A banda funciona como um rastilho, o público a explosão, o resto é festa e convívio.

Já devem ter dado imensos concertos, mas pelos vistos não se cansam, não é mesmo? O que mais vos dá pica ao tocar ao vivo? Uma coisa é certa, se não fossem os concertos não sei até que ponto um gajo aguentava este tempo todo. Estado de Sítio vive dessa relação com o público, sentimo-nos bem é a tocar ao vivo, ver o pessoal a cantar as músicas, as pisaduras e as eternas ressacas ahah. Moche seus cabrões.

2010 já lá vai, e de certeza que não andam parados. Quando é que nos chega o próximo álbum dos Estado de Sítio? Ópa, nós parados não! Gravámos agora há pouco uma cover de Doom para uma compilação sem data certa a sair. E temos tudo orientado para entrar em estúdio. Logo, sem mais tardar, estará aí o novo álbum! Portanto a crise continua, mas esperemos que com nova banda sonora para 2013.

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MB


R E D L IZ Z A R D

De vencedores de vários concursos até à edição do EP ‘In your face’, os Redlizzard não são de todo um exemplo de risco e derrota. A imparável banda de hard rock, com uma energia bem actual, destila nas próximas linhas, através das palavras dos guitarristas Patrick e Elvis, os ‘porquês’ e os ‘porque nãos’ a todas as questões que lhes colocámos. Até se juntarem na banda que hoje são os RedLizzard, como era a vossa rotina? Em que bandas tocavam e de que forma se cruzavam uns com os outros? Patrick - Todos nós antes dos Redlizzard estávamos em outros projectos, e de alguma forma já tínhamos tocado uns com os outros, apesar de os Redlizzard serem um projecto idealizado por mim e pelo Elvis, que estava na gaveta… Na altura em que iniciámos, eu o Elvis e o Mauro estávamos noutra banda rock que era os Armadillo… e que infelizmente acabou por divergências entre alguns dos elementos, e nessa altura decidímos que era altura ideal para arrancar, aproveitámos para falar como Mauro,

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que estava connosco e mais tarde com o Ricardo, que já tinha tocado comigo em bandas como os Silent Scream e Airbugs.

Segundo lugar no Concurso de Música Rock Alive ‘09, 2ª banda mais votada online no concurso Levi’s Unfamous Award, e nomeados para melhor artista pelo site Palco Principal, tudo no mesmo ano. Foi um ano rico em experiências esse, para vocês? Elvis - Foi bastante rico sim, principalmente porque foi nesse ano que começámos a dar os nosso primeiros concertos. O ano anterior foi passado em estúdio a compor, a ensaiar e a


trabalhar os concertos que haveríamos de fazer. Por isso todas as experiências que tivémos em 2009 foram para nós muito importantes e enriquecedoras. Constituíram aquilo que agora somos.

Até pelos Upper State Independent Awards, realizados em Nova Iorque, foram nomeados e feitos vencedores na categoria ‘melhor banda alternativa’ e ‘melhor banda internacional‘. Tem sido difícil não cair em ilusões com tantos sinais a apontar para um lugar promissor? Elvis – Nós sempre tivémos como princípio nunca darmos nada como garantido e estarmos sempre disponíveis para fazermos mais. Acreditamos que a humildade é um princípio fundamental, tanto na música como noutras áreas da vida, e esse prémio deixou-nos bastante orgulhosos e honrados, mas sempre com os pés assentes na terra. Temos a perfeita noção de todo o trabalho que foi necessário para lá chegarmos e damos muito valor a isso.

Poder-se-há dizer que há um limbo entre a fase de concursos e a consagração discográfica, para uma banda? Patrick – A Fase de concurso, infelizmente aconteceu até à bem pouco tempo… infelizmente o nosso país não permite às bandas, quando não têm uma estrutura com editora, agenciamento, etc… crescerem de outra maneira… Para tocarmos noutras partes do país e dar a conhecer o nosso som às pessoas, por vezes chegar a outros voos, tivémos de o fazer… Correu bem principalmente porque ganhámos inúmeros fãs q hoje nos seguem.

O EP de 2011, In Your Face, arrancou boas reacções da crítica. De que forma isso se reflectiu no percurso dos RedLizzard? Patrick – A crtica, principalmente fora de Portugal, foi boa… mas aqui é difícil furar… As rádios nacionais e a revistas da especialidade simplesmente não apoiam… Para já somos uma banda Rock que canta inglês e isso por vezes fecha algumas

portas. Mas felizmente que nas rádios locais e nas fanzines e e-zines, como a vossa, existe muito boa gente que inclusive veste a camisola… e isso é bom, e aproveito a oportunidade para agradecer a todas essas pessoas que nos tem ajudado, inclusive vocês claro. Felizmente vendemos bem, até porque somos uma banda que fez tudo sozinha, com uma edição de 1200 exemplares… tivémos inclusive algumas Fnacs a pedirem a reposição do EP o que foi muito bom, No primeiro mês tivemos só nas Fnacs perto de 300 a 400 vendas… Infelizmente depois passam para o armazém e se as pessoas não perguntarem… As vendas continuam On-line na Amazon e iTunes, disco físico nos nossos concertos ou através do nosso site: http://www.redlizzard-online.com

Como se deu o processo de gravação? Patrick – O Processo de gravação foi um pouco moroso, por várias razões, a principal foi a questão financeira… Mas tivémos um excelente produtor Paulo Jorge Silva (Estúdios Rosa dos Ventos) que nos ajudou e foi extremamente compreensivo…


foi a sensação de tocar para 56.000 pessoas, na abertura para o concerto da mítica banda de Nova Jérsei? Elvis - Foi uma sensação única. Foi o nosso primeiro contacto com um público de 5 dígitos e esperamos não ser o último! Nos primeiros 5 minutos tentámos encontrar o conforto em palco, depois disso é debitar rock. A “cereja no topo do bolo” foi o facto de termos conseguido levantar os braços a praticamente todo o Parque da Bela Vista ao fim de dois temas. Além disto tudo, também foi muito gratificante termos a possibilidade de fazer a abertura para uma banda como os Bon Jovi.

Inicialmente queríamos regravar a Demo que tínhamos antes… acábamos por gravar tudo de novo e alterar muitas das coisas que tínhamos feito.

Uma dos vossos feitos mais marcantes foi vencer o concurso ‘Have a Nice Day no Palco com os Bon Jovi’. Houve muita ansiedade a ser acumulada, conforme se iam aproximando cada vez mais desse objectivo? Elvis - Sim, por várias razões. Pelo facto de percebermos que o nosso trabalho estava a ser reconhecido, a cada passo que dávamos, pela responsabilidade que tínhamos para com os nossos fãs (porque sem eles não conseguiríamos fazer o que fizémos) e também pelo facto de estarmos a assumir um compromisso connosco próprios com o qual teríamos de lidar, fosse qual fosse o resultado.

E enfim conseguiram vencer. Que tal

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isto?

Pelo que se soube obtiveram uma boa reacção por parte do público, mas os media não vos deram o crédito devido, quando em comparação... Gostariam de comentar sobre

Elvis - Nós acreditamos no trabalho que fazemos e foi esse trabalho que colocámos em frente àquela multidão, mas também temos a noção de como os media funcionam neste aspecto e, apesar de não concordarmos com muita coisa, isso acaba por não nos chocar. Houve uma situação em que um jornalista disse exactamente o contrário do que aconteceu. Basicamente foi enxovalhado pelos fãs em comentários ao artigo, principalmente a perguntarem-lhe se ele realmente esteve lá (risos). Mas também existe o lado bom, apesar de não estarmos inseridos no mainstream do panorama musical em Portugal, há várias rádios e imprensa local que nos têm apoiado bastante desde o início e a elas agradecemos imenso.

Mas ao menos conseguiram converter alguns hard rockers para o vosso


lado da barricada, certo? Foi notória a atenção recaída sobre a banda por parte de novos fãs? Patrick - Houve uma situação engraçada, que acabou por ser vantajosa para nós, que foi o Grupo de Fãs dos Bon Jovi Portugal convidar-nos a estar presentes em um evento organizado por eles no dia antes do espectáculo… As pessoas ficaram a conhecer-nos e apoiaram–nos muito no próprio espectáculo. De qualquer maneira, não esperávamos, mas a reacção do público foi excelente! Penso que as pessoas estavam sedentas de Rock e aderiram desde o primeiro minuto e acho que acabámos por captar alguns fãs dos Bon Jovi.

Os concertos, apesar de não ser para um tão grande número de gente, continuam a ser essenciais, certo? Patrick – Sim claro, os concertos dos Redlizzard são o expoente máximo da banda… é essencialmente por isso que estamos na música. Gostamos de tocar ao vivo! Somos uma banda claramente para tocar ao vivo! Elvis - Com certeza. Tentamos sempre chegar

ao maior número de pessoas possível e todos os concertos são importantes para nós, mesmo os mais pequenos. Temos como princípio proporcionar o mesmo nível de espectáculo quer sejam 50 pessoas ou 50.000. Ao fim ao cabo estão ali á nossa frente à espera disso e nós nunca faremos a coisa por menos.

E música nova? Já há planos para um sucessor de In Your Face? Patrick - Sim, estamos a trabalhar o novo disco, que em principio terá 12 temas. Estamos na fase final de ensaio de composição e arranjos. Vamos brevemente fazer uma Pré-Produção… para ver como os temas soam e depois está tudo ainda um pouco indefinido… a ideia é fazer um LP, talvez com produção de alguém de fora que esteja neste meio do rock… tudo depende do budget… enfim… vamos ver… garantido é que em Janeiro entramos em Estúdio.

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MB

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D A N O K

Focados no mais recente trabalho da banda, Café Beirute, tentámos desvendar juntamente com os Konad quais as diferenças entre a fusão de dois géneros - como o punk e o thrash metal - e a sua convivência lado a lado, um com o outro, para além da difícil questão de até que ponto é pacífica a combinação de baterista-vocalista. Acompanhem-nos nesta entrevista a uma banda que se revela incansável, qual máquina oleada pelo bom feedback e diversão à mistura.

O thrash metal acaba por ser o resultado de um heavy metal que se deixou influenciar pelo punk, no entanto vocês não estão mesmo a brincar quando reforçam que para além de thrash, também soam a.. punk! Como é que fazem para reforçar essa veia puramente punk tão evidente na vossa sonoridade? Bom, acho que acertaste no cerne da questão. A nossa sonoridade sempre andou mais ligada ao punk/hardcore, mas quando começámos a trabalhar para o Café Beirute, tínhamos decidido que gostaríamos de trazer mais agressividade e peso para o novo trabalho. Foi uma forma de integrarmos também as nossas influências musicais iniciais, que advêm do metal, nomeadamente, do thrash, como Metallica dos 80’s, Slayer, ou Sepultura. No entanto, o sangue que nos corre nas veias está carregado de

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glóbulos punk/hardcore e o resultado foi esse, um disco rápido e agressivo, com partes de peso, mas mantendo sempre aquela linha hardcore!!!!

Quando ouvimos a vossa música uma das primeiras coisas que nos assalta é a crueza - apesar de devidamente definido - do material. Diriam que é mais uma questão de terem um espírito dedicado ao undergound até à última instância, ou que passa mais pelo revivalismo de um espírito old school, de respeito aos clássicos? No Café Beirute procurámos uma mistura final que fosse ao encontro da brutalidade dos temas. Queríamos definição, mas não aquele som limpinho, “bonitinho” que se consegue hoje e que se vê ao virar de qualquer esquina. Assim como os temas, também a produção deveria ser


agressiva, e andámos à procura duma sonoridade. Não se trata propriamente por ser um culto ao underground ou por algum revivalismo, pelo menos, conscientemente, mas sem dúvida que bebemos muitas influências do passado e isso concerteza que se traduz na forma como fazemos e pensamos as coisas.

É tão ténue a linha entre o punk e o thrash que temos mesmo de perguntar: quais são as vossas referências musicais que de alguma forma vejam como exemplos que nem penderam muito para um ou outro dos dois géneros? Bom, podemos sempre dizer que as nossas referências são múltiplas e que acabam sempre por transparecer naquilo que fazemos. É muitas vezes difícil fixar as delimitações, onde acaba uma coisa e começa outra, as fronteiras são muito ténues, como referes. Desde os anos 80 que existem bandas que misturam punk e metal, com múltiplas subvariações... Foi com naturalidade que o fizémos, não pensámos em nenhuma banda em particular, mas podemos dizer que, no Café Beirute, ali estão influências como Ratos de Porão, Sepultura, The Exploited, Mata-Ratos, Driller Killer ou Disfear... No fundo, aproveitamos aquilo que ouvimos e gostamos. O próximo trabalho poderá ser diferente...

Enquanto primeira encarnação, vocês surgiram como Konad Moska em 1996. Foi complicado seguir um percurso feito de várias interrupções? É sempre difícil manter uma banda neste meio. As coisas são muito voláteis. Konad Moska saíu de uma brincadeira de um outro projecto que tínhamos então - Encancrate. Quando estes acabaram os outros acabaram também. Houve depois umas reuniões após 2000, mas sempre num espírito de amizade e curtição, em que tocámos 3 ou 4 vezes ao vivo. A partir de 2007 foi quando conseguímos manter mais estabilidade de formação e rotinas de ensaio e tudo tem rolado naturalmente... Editámos coisas com mais regularidade e os concertos foram aparecendo... Vamos lidando com isto com a maior descontracção possível, andamos nisto porque curtimos, e havemos de andar enquanto pudermos...

Bateristas-vocalistas não é uma combinação muito comum, ainda para mais num género de música em que a concentração tanto no instrumento como nas palavras é obra. Foi complicado seguir por essa opção? Como é que o Kampino se está a dar com a experiência?

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Bem, essa acabou por ser a opção possível na altura. Estávamos sem vocalista e o Kampino, que já fazia coros e escrevia temas antes, começou a executar os dois papeis enquanto não se encontrava ninguém. Como as coisas até estavam a correr bem, acabámos por decidir ficar assim. No início, talvez tivesse sido mais duro nas actuações ao vivo, mas a coisa tem corrido bem, concertos sempre a bombar... Acaba por ser uma cena diferente, ter um baterista-vocalista... No entanto, de vez em quando falamos sobre o assunto; para já está assim, mas admitimos a possibilidade de um dia poder vir a integrar um outro elemento, ou não...

Costumam referir a expressão ‘slam dance’ nos vossos concertos, quando incentivam o pessoal a reagir à música, e quem vos recorda também o faz. O que é que a expressão vos diz em particular? Eh pá, ‘slam dance’, pogo, é um estilo livre de se sentir a música, não há regras, cada um curte a cena como quiser. É isso que deveria ser um concerto, partilha e catárse... E quando estás a tocar é fixe veres as pessoas a reagir à tua música. Transmite-nos energia e feeling...

“Mundo incerto” (do anterior EP, Terror TV, de 2011) tem no refrão um dos riffs mais inspirados destes anos. Sentem que a inspiração é algo que fica cada vez mais apurado com o tempo? Inspiração é algo que se cultiva e que, com o tempo, aprendemos a estimular. Surge a maior parte das vezes do trabalho; serão indissociáveis. Sentimos que neste momento estamos numa fase altamente criativa e que, contráriamente ao passado, estamos também com a objectividade em alta. No entanto, sabemos que estaremos a aprender a cada momento e que amanhã poderemos estar num patamar superior ao actual. É com essa determinação que enfrentamos o dia a dia de Konad e avançamos para o futuro. E esperemos que com mais riffs inspirados... ou transpirados...

Para todos os efeitos são um ‘power trio’. Sentem que menos (elementos numa banda) pode ser mais (facilidade de entendimento criativo)? Já tivémos uma banda de cinco elementos no

passado. Sempre funcionámos como quarteto até 2009. Achamos que cada período tem as suas exigências, condicionantes e desafios. Neste momento, estamos confortáveis assim e não queremos mexer na interacção da banda, até porque, em termos criativos, ainda não sentímos essa necessidade. Temos tido criatividade e capacidade de produção. Assim, no momento actual, sentimos que assim é que estamos bem!

Estão já a um ritmo, no último par de anos, que se poderia dizer que é de um disco por ano. Já podemos esperar um disco novo para este ano também? Bom, encontramo-nos neste momento a produzir material novo! Temos andado na estrada a rodar o Café Beirute um pouco por todo o país e a resposta tem sido brutal!!! O pessoal tem aderido incrívelmente, temos sido muito bem recebidos nos eventos por onde passámos, e o feedback que nos é dado traz-nos motivação extra para trabalhar. Estamos neste momento a delinear um segundo álbum que talvez ainda possa ser editado este ano.

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MB

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As linhas com_ que se cosem a [“Home”, dos No Tribe]

MALHA

De uma faixa que quase estava para não fazer parte do EP ‘Deserta’, até se tornar num hino a essa vontade que sempre a todos volta de regressar a casa, “Home” revela-se um dos temas mais fortes e viciantes dos lisboetas No Tribe. O baterista Rui ‘Zargo’ Santos ajuda-nos a conhecer uma das malhas que mais dificuldade tivémos a tirar da cabeça nos últimos tempos.

“Home” é por e simplesmente um daqueles temas que tem tudo para se instalar no córtex cerebral e não querer de lá sair. Desde a dinâmica do instrumental à letra, desde as harmonias de vozes ao sentimento de união (ou reunião, se atentarmos à mensagem do tema), há aqui uma receita infalível que não deixa practicamente ninguém indiferente. “Este tema tem um groove muito particular, e isso reflecte-se na reacção do público”, explica-nos Zargo. “Ninguém fica indiferente ao tema e em particular ao refrão. Sentimos que as cabeças abanam um pouco mais, e no refrão até os mais timidos (e pessoas que ouvem o tema pela 1ª vez) se atrevem a cantar”, reacção que não vai isolada, e acaba por se complementar com a audição ao EP ‘Deserta’, em que o tema está incluído, cuja “reacção dos fãs tem variado com a audição. Por se tratar de um EP eclético, temos recebido pontos positivos para todos os temas, contudo, a Home acaba por ser o tema mais “orelhudo”. Temos recebido como feedback que este é o tema ideal para single (como acabámos por escolher) e temos algumas pessoas que ficaram surpreendidas com esta sonoridade, [pois] pensavam que seria mais pesado. Já nos disseram também que o refrão não lhes saiu da cabeça por dias a fio”. No entanto a história de “Home” podia muito bem ter sido outra. Segundo o baterista, a música “fazia parte de uma lista de cerca de 9 temas

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que poderiam entrar no EP, e esteve quase para não fazer parte do mesmo...” Curiosamente a razão para a inclusão da mesma foi a mais natural e indiscutível possível. “A decisão da “Home” fazer parte do EP foi tomada após um ensaio em que o refrão, simplesmente, não nos saía da cabeça. A esse facto, aliámos a boa energia que sentíamos quando o tocávamos. Mas o que separou o este tema dos restantes foi mesmo o resultado final. Em disco, o tema consegue transpirar a mesma energia que nós sentimos quando o tocamos tanto nos ensaios como em palco.” O músico chega mesmo a concluir que os “sentimentos relativamente a este tema variam um pouco de elemento para elemento... mas no geral, invade-nos de uma espécie de energia positiva, a (quase encoberta) mensagem de esperança alimenta-nos um pouco o espírito.”

A dita mensagem de que Rui nos fala torna-se bastante evidente quando o tema atinge o refrão, onde são entoados os versos “Save me, ooh/ I’m coming home”, versos esses de uma letra que “fala um pouco das muitas situações que nos rodeiam no dia-a-dia. São os sacrifícios que todos temos de fazer, os obstáculos que se colocam no caminho, as mãos que nos empurram para


baixo até ao ponto em que quase perdemos a esperança... é nesse ponto que devemos voltar a casa para recuperar as forças e reagir. E tantas vezes a nossa casa está dentro de nós próprios e já não sabemos o caminho”, explica. Um dos pontos arrebatadores mais evidentes desta malha é sem dúvida a melodia entrecruzada entre o vocalista Isi e o baixista David Pais (também ele vocalista dos Ashes). Zargo explicanos a naturalidade por detrás deste trunfo: “o trabalho de harmonias de vozes faz parte do processo de evolução da própria banda (assim como toda a sonoridade), não tendo sido, por esse motivo, dificil de fazer este trabalho. Tanto o Isi como o David se complementam muito bem a nível vocal e a integração destas harmonias está vincada não só na “Home”, como nos restantes temas do EP [‘Deserta’].”

Quanto ao processo de composição, este tema é fruto de um trabalho de grupo, algo que “geralmente” faz parte da forma de fazer as coisas na banda. “Aproveitamos alguns ensaios para fazer ‘jam sessions’ e quando uma acorde nos fica na cabeça, acabamos por trabalhá-lo e ver onde o tema vai dar”, explica Rui. “Este tema é exactamente isso, um processo colaborativo. Terá começado com um riff de guitarra, outro de baixo, umas variações de bateria, uma linha vocal e foi crescendo e sendo limado até ser a “Home”.” Ao nível de influências, o baterista recorre ao nome da banda para esclarecer que “os No Tribe, como o nome indica, não têm um estilo própriamente definido; serão talvez uma mescla de influências”, antes de explicar quais alguns dos exemplos de inspiração por detrás da envolvência deste tema: “”Na Home” transparecem influências dos Kyuss, Mastodon, Fu Manchu, Queens Of The Stone Age, assim como algumas referências a sonoridades mais ambientais, como Isis ou Mogwai. O nome do EP ‘Deserta’ também é um reflexo desta sonoridade.”

Sonoridade essa que atravessou fronteiras de uma forma muito curiosa, quando a banda, e um dos seus elementos em particular, acabou por aproveitar a conveniência de uma viagem para http://www.facebook.com/NoTribe.band http://www.myspace.com/notribe

assinalar audiovisualmente esse regresso a casa, na forma do videoclip oficial para a música. “Foi exactamente isso que aconteceu. Um dos nossos elementos teve a oportunidade de viajar por alguns países orientais e, munido de uma GoPro, aproveitou para filmar uma ideia que tinha para o video. Gravamos posteriormente as imagens dos elementos da banda e decidimos editar, desta forma, um vídeo feito pelos nossos próprios meios”, esclarece o baterista. Estamos portanto a falar de uma música, mas também de um regresso. Um regresso a casa, um regresso àquelas melodias familiares, um regresso às origens. Algo com que qualquer um se pode identificar.. aliás, algo com que cada um se quer identificar mesmo que não o saiba. Uma das formas mais impressionantes de medir a evidência dessa paixão imediata pelo tema, está exactamente na história com que Zorga nos deixa: “A apresentação do ‘Deserta’ ao vivo foi no Musicbox e no intervalo entre a banda de abertura e os No Tribe, decidímos mostrar o video em 1ª mão. A reacção foi muito positiva e decidímos surpreender os fãs tocando o tema Home com o João Campos (vocalista de Gula e Rejects United que participa no tema “Sleep Deprivation”). Com 3 vocalistas em palco o impacto do refrão foi maior e no último refrão tinhamos a sala toda a cantar connosco.” Vá, cantem também vocês. Cantemos todos!

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MB


Sinistro - Sinistro (2012)

há aqui vários momentos que nos transportam quase para a ambiência do seu segundo álbum, ‘The Director’s Cut’, e tal como uma banda sonora, este álbum faz muito mais sentido quando absorvido como um todo. Portanto, destaques? Todas as faixas sem escepção. E a banda, claro! Não se esqueçam deste nome: Sinistro.

MulherHomem novecentos (2012)

Há música muito boa a ser feita neste país, ponto. Outro ponto é que qualquer interesse em saber ou esventrar - quais as razões ou influências por detrás desta banda perde todo o sentido face à sensação de choque que nos invade, primeiro com a vergonhosa e preconceituosa pergunta “isto é português?” e depois com a mais justificada segunda “é o primeiro disco deles?” Bem, a origem da banda é algo misteriosa, mas acreditamos que os músicos que se apelidam de F, Y e P - não se tratam de estranhos a estas andanças e o material contido neste álbum homónimo atesta-o sem qualquer tipo de dúvida. Este álbum é uma autêntica banda sonora, tal como a premissa inicial do colectivo parecia intentar, assaltada por momentos arrasadores dirigidos pelos riffs viciantes de guitarra, sempre no volume máximo. Lembramo-nos de nomes como Mono, entre outros nomes ligados à experimentação mais ambientalmente progressiva do rock, mas na verdade há aqui muito mais (nas últimas faixas os músicos chegam mesmo a deixar-se “descair”, revelando tanto uma costela ligado ao que é contemporâneo, como a vaga de stoner rock que veio para ficar nos últimos anos, como outra apaixonada pelo hard rock que verte a jorros na última faixa). No entanto, apesar das bem escassas afinidades de estilo com um nome como os Fantomas,

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Este trio rockeiro distingue-se dos demais por, não sendo um trio instrumental, nenhum dos seus elementos executar mais que uma função (de instrumentos) na banda: são um guitarrista, um vocalista e um baterista. Em termos práticos, isto faz com que a concentração sobre o papel individual de cada um na banda seja elevada aos 100%. Isto seria o que aconteceria numa situação normal. No entanto nos últimos anos temos vindo a assistir a uma fusão cada vez maior e melhor da música feita em Portugal com as potencialidades da língua sua mãe, e os MulherHomem são um dos melhores exemplos disso mesmo, a par do facto de terem em Manuel Ferreira - o homem responsável pelo factor lírico atrás mencionado -, um vocalista inquieto que seria capaz de arrancar expressividade até dos vocábulos mais incompreensíveis, tal é a sua entrega, e como resultado o trio, impelido pela energia insana do letrista, atira-se aos temas com uma energia demoníaca, e é isso mesmo que se sente nestes 41 minutos. Após alguns segundos do primeiro tema já ninguém se pergunta “e o baixo?” Desconfiamos que será impossível estes temas terem sido gravados de outra forma que não ao vivo, com a banda toda a tocar ao mesmo tempo.

A energia explosiva de “Dormente indecente” a abrir o disco, o groove do primeiro single “Semente”, e até a surpreendente “fp 232” - uma deliciosa ode à bastarda rotina do emprego, ao que nos parece - dãonos algumas pistas, mas para além da imagem algo rebuscada do músculo mais audacioso dos Motorhead a cruzar-se com o art rock de uns, vá, Pop del Art, procurar as influências por detrás destes temas é quase como percorrer um labirinto. “Se o sufoco falasse”, lá pelo meio deixanos adivinhar um pouco de Smashing Pumpkins a correr naquelas veias, mas de resto é uma mistura rock que chega a ser tão visceralmente genuína que passamos mais tempo a pensar “mas quem é que são este tipos, e donde é que eles apareceram?” (quase como se não os tivéssmos entrevistado anteriormente, no nosso #04), chegando mesmo à evidência de que mais nada importa a não ser o facto de que temos mesmo de nos dar por vencidos. Vencidos pela musical coerência da desavergonhada incoerência emocional.

Iodine - An Abyss at Nightfall (2012)

Quando escutamos ‘An Abyss at Nightfall’, somos logo encostados à parede pela produção exemplar destes quatro temas. Com “Silent king” à cabeça, a banda de Leiria não facilita e entrega melodias inquietantes ao mesmo tempo que recorre ora a tempos agitados, ora a momentos envolventes, mas sempre com a melodia bastarda, em oposição à melodia fácil. Poison The Well é dos primeiros nomes que nos lembramos a escutar as músicas da banda, mas seria redutor resumir


a banda a apenas esta referência. A dado momento, tanto em “Chaos swan”, como em “Aurora’s thief” somos confrontados com breakdowns, mas sem que tal caia no exagero provavelmente a dose suficiente para fazer mossa nos concertos. De resto o que temos aqui é música que só não toca o hipnotizante porque os seus protagonistas não deixam, e só não adoça os ouvidos de um número maior porque a banda parece preferir o lado desafiante da musa, em contraste directo com o seu lado fácil. Esta é uma daquelas escutas que vai crescendo de cada vez que lhe damos atenção. Portanto, pensem bem antes de entregar vossa antenção a estes 15 minutos (parece pouco, mas é o suficiente), pois, como a banda bem lembra em “Monsters of Free Will”, se olharmos para o abismo, ele olha de volta para nós. E acreditem que este abismo é capaz de vos seduzir!

Simbiose - Economical Terrorism (2012)

Com o punk crust sempre debaixo de um olho de águia, os lisboetas Simbiose não falham. A banda regressa 3 anos depois do último ‘Fake dimension’, com este ‘Economical terrorism’, gravado por Paulo Vieira, no Toca Do Raposo Studios e masterizado pelo reconhecido músico e produtor Ulf Bloomberg, na Suécia. Agarrando nesta crise pelo pescoço, durante 28 minutos a banda prende-a debaixo do braço, e corre sem olhar para trás, sempre a espancá-la onde doi mais, e quando dizemos onde dói mais, é mesmo assim: temas como “Reage à tua frustração” apontam o dedo a quem se deixa ir abaixo - não ao governo, mas a alguns de nós -, porque na verdade está apenas nas nossas mãos fazer alguma coisa, reagir! No entanto não se alarmem nem deixem enganar, porque há ódio suficiente dedicado a esses que nos estão a estragar a economia e a vida (não fosse o título do álbum ‘Economic Terrorism’), algo registado inclusivamente pela pena de André

Matias (ex-Blacksunrise) que neste momento ocupa na banda o lugar do ex-vocalista Hugo R., em temas como “Payback Time”, “Buried Alive” ou “Information Overload”. O disco saíu ainda antes da primeira das recentes maifestações anticrise no nosso país, e já parecia que estavam a impelir a algo do género, com a sua mensagem. Sempre numa onda pro-activa, mas que não fala com meias palavras, isto é velocidade, agressividade e reacção tudo num só, que tanto nos lembra os incontornáveis Napalm Death, como The Exploited, ou os geniais Disfear, a par com aquela que poderá ser uma das ameaçadoras referências maiores da banda, os Brutal Truth. O d-beat é, de resto, a palavra de ordem na generalidade destes 14 temas, e entre eles destacam-se ainda malhas como “Rise Again”, “Believe”, “Total Descontrolo”, “Massacre Em Utoya”(dedicada às vítimas do massacre em Utoya, na Noruega, em 2011), “Push It” e “Parados Humilhados Calados”. De resto a preferência pessoal está mesmo aqui a puxar ao elogia à “Drowning In Shit”, um tema cheio de groove e velocidade que foi escrito por Bifes(baixista) e dá um excelente uso à costela melódica da banda. Esse tema, juntamente com “Sociedade Perdida” e o atrás referido “Reage à tua frustração” atiram mesmo para matar na direcção da indiferença existente em cada um de nós. Se procuravam a forma ideal de abrir os olhos a alguém que ainda não sabe bem o que se está a passar à sua volta neste momento, este é o melhor wake up call[despertar] que podiam ter à disposição. Rujam com eles: Acordem!!

sintamos impulsionados a colocar sobre a música do quarteto lisboeta, a verdade é que isso não é importante; o importante é que a sua música é irremediavelmente urgente, viciante e... re-viciante. Logo ao fim da primeira escuta o impulso é de voltar a tocar o álbum todo de novo, tal é a garra com que a banda se atira a estes temas, tal como uma fera se atira a uma jugular, com riffs endiabrados, ritmos frenéticos e com uma vocalista que, para além de ser uma das mais escitantes promessas a autoridade de palco, debita letras que nos dizem tanto a todos, ainda mais nos dias que vivemos. Claro que há aqui um travozinho a wisky, daqueles que fazem lembrar nomes clássicos como Motorhead ou The Cramps, mas a atitude do quarteto é em tudo exemplar e transpira personalidade própria. “Ódio” tem das prestações vocais mais inquietantes e exemplares, “Asfixia” tem um dos refrões (e solo) mais viciantes do álbum, e “F.M.I. (Finalmente mais impostos)” dá mesmo vontade de mexer, seja ao som da música, ou ao ritmo de uma manif. No entanto “Medos” é o irremediável tema de avanço/ single para o álbum, e vendo bem as coisas ainda bem, pois ultrapassar os nossos medos é sempre o primeiro passo a tomar para podermos seguir em frente, seja no caminho para a resolução dos problemas que nos atormentam a carteira, a vida ou sejam eles quais forem. Percamos nós também o medo de “perder” uns minutos a escutar rock ‘tuga e bora lá escutar estas 11 malhas incendiárias!

Insane Slave - Night Rider (2012)

Asfixia - Basta! (2012)

Rock’n’roll, rockabilly, punk... sejam lá quais ou quantos forem os rótulos que queiramos ou nos

‘Rock’n’roll’, apregoa Vega em cada verso de practicamente toda a primeira música deste ‘Night Rider’, “Everytime I Rock n’Roll” (lá está..), de modo que não dá para ter dúvidas no que diz respeito ao que a banda nos apresenta nestes

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quatro temas. São dois pares de temas que nos apresentam ao hard rock’n’roll de contornos algo sleazy que nos colocam uns óculos com os quais vislumbramos o espírito dos anos 80 de novo à nossa frente, em que as hastes estão já carregadas com a poeira de uns 20 anos em cima e dão uma honestidade tal à banda, que cada solo é adequado (“Hold me Now”), e se fecharmos os olhos acreditamos que entrámos num bar americano no qual o tempo não passou e a cada momento podemos ter a sorte de ver entrar uma Samantha Fox (versão anos 80), que nos tira o chapéu de cowboy da cabeça e coloca na sua, seguindo para o palco e começando a dançar de uma forma que deixaria qualquer rockeiro de queixo pregado no chão, tudo isto ao som de “My crow”, aquele que tem mesmo de ser eleito como o tema onde encontramos os Insane Slave na sua melhor forma, capazes de rivalizar até com os melhores no campeonato de balada hard rock. Com o tema título fecha-se o naipe que combina tanto a fúria de uns Guns’n’Roses com a aspereza de uns Wasp(a semelhança do timbre do vocalista com a de Blackie Lawless

em “My crow” é assinalável), como nos faz lembrar os tempos em que os Bon Jovi e os Motley Crue tinham algo em comum!

O Abominável - Que Só o Amor me Estrague (2013)

Até há alguns meses O Abominável parecia mais uma intenção de assombrar, do que propriamente um caso sério que nos fizesse ter de olhar para trás, sobre o nosso próprio ombro. No entanto tudo muda com este ‘Que Só o Amor me Estrague’. Para já há que louvar a

Identificas-te com a MöndoBrutal?

expressão que tanto dirá a tanta gente, depois, há que enumerar quer a diversidade de um rock que se quer alternativo o suficiente para nem ser previsível, nem cair em demasiada distorção, com ritmos contagiantes e vozes que finalmente se revelam, e ainda bem. Agora não são só palavras mas também música, e boa música, que esta banda portuense nos oferece. Com cada vez mais casos sérios de qualidade quer lírica, que rmusical, vamos finalmente começar a ter a fasquia alta por defeito, e O Abominável contribui certamente para que isso aconteça. Há aqui uma nítida fuga ao rock dos dias de hoje, com uma ponte intrumental que nos transporta directamente para os anos 90 em que o grunge, o punk e tudo o que era desavergonhadamente alternativo era abraçado por uma geração, e desta vez - mais uma vez há que louvar que tal se tenha sucedido - uma voz que canta e faz querer ser ouvida desta forma mais e mais vezes.

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MB

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Videoclube ybJds

http://www.youtube.com/watch?v=L1br-n

ANARCHICKS - “Restraining Order”

http://www.youtube.com/watch?v=8ZpU_iC0hx4

DECRETO 77 - “Here’s Your Freedom”

HOLOCAUSTO CANIBAL - “Objectofilia Platónica”

” HO-CHI-MINH - “Way Of Retain

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http://www.youtube.com/watch?v=bVTXQXYPU2U

H3B6NEnJI

http://www.youtube.com/watch?v=zm


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