MondoBrutal #12

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MöndoBrutal #12

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Info e coisas..:

A vida também se faz de apostas. Por vezes estamos sem saber muito bem qual é o melhor rumo a tomar e acabamos por ter de escolher sem saber bem ao que vamos, muitas vezes apenas porque um palpite nos aponta nesta ou naquela direcção. Na música vários casos hoje históricos partiram de algo desse género; para o comprovar basta referir que nos idos de 70’s muitas das bandas vingavam ou não dependendo se tinham ou não a ajuda do pulso firme (e consequente ‘músculo’) de managers muitas vezes ligados a algo tão ‘delicado’ como a máfia. E para muitos desses managers a banda em que pegavam era apenas um escape para o dinheiro que tinham para fazer escoar, sendo que alguns tinham até pouco olho para o negócio da música. Enfim, apostas... Nós também aqui gostamos de apostar de vez em quando, portanto não é à toa que por vezes contrariamos. Nesta edição a nossa aposta vai para os Tryangle. A banda de Póvoa de Varzim combina um som forte embuído em tudo o que é rock alternativo da primeira metade dos anos 90 com paisagens sónicas por vezes algo àridas e hipnotizantes, outras impulsionadas pelo músculo de um instrumental reforçado pela mão das suas influências mais metal. Há um espírito quase adormecido que envolve a banda, e dá à sua arte uma certo tom de bela melancolia mesmo que ela não seja uma intenção, e até algo contrariado pelos momentos mais rock. É no entanto nessa divergência e no que dela poderá surgir que estamos focados, e acreditamos que a consequente inspiração dos elementos da banda ainda poderá trazer muitos frutos. Mas a nossa aposta não se fica apenas pela capa. Nesta edição temos ainda: O Abominável, com o seu rock alternativo e de toada moderna no que ao rock cantado em português (e bem) diz respeito, manifestando uma energia sempre crescente e entusiasmante; os Primal Attack com a sua fusão de thrash metal com vários elementos de metal mais moderno e que têm galgado bastante caminho no sentido ascendente nesse que é o panorama metal português; os ovarenses Come Cacos, destiladores de um punk enraizado no conceito mais hardcore original e do it yourself possível, que com os seus concertos contagiaram uns quantos punhados de gente que depressa se tornaram seguidores; e claro, os An X Tasy, banda algarvia que há muito já merecia ser falada como tantas (que por vezes, por menos são repetidamente mencionadas..), tanto pela sua fórmula bastante curiosa - capaz de fundir hard rock com punk - como pelo seu historial, força de vontade e humildade que demonstram. Nesta edição podem encontrar ainda a história dos Anger, uma banda que há coisa de 10 anos quebrava o estigma provando que era possível uma banda de Aveiro representar o seu país numa cena então em ponto de ebulição, e a transcrição quer das motivações, quer do processo de criação da música “No spirit in this age” dos Nethergod, pelas palavras do seu vocalista. Portanto, não percam mais tempo e avancem no sentido de ficar um pouco mais em sintonia com o nosso próprio underground.

MÖNDOBRUTAL webzine mondobrutal@gmail.com http://www.facebook.com/pages/MöndoBrutal/118889448226960

A Seita: KaapaSessentainove (coisas variadas/ entrevistas) Sonic Ed (design) Rui LX (tmbm design) Ofélia X (recolha de info/ an.discos) Ana Matias (revisão textos/ entrevistas) Lagartixa (an.discos) Pereira Silva (tmbm an. discos) Hugo Cebolo (for.d’arquivo/ linhas c. q. s. t. a malha)

índice 02 - Editorial 03 - Notícias 04 - Fora do Arquivo: Anger

06 - An.X.Tasy

12 - Come Cacos

16 - Tryangle

22 - O Abominável

Abraço, e boa leitura. \m/

26 - Primal Attack

30 - A.l.c.q.s.t.M.: “No Spirit in this Age” dos Nethergod

32 - Análises a discos 34 - Videoclube pag.22


Not]cias .................. Morreu João Ribas

Podem acompanhar mais notícias da banda em: https://www.facebook.com/GwydionPT

Uaninauei apresentam-nos Dona Vitória

Morreu João Ribas. O vocalista de sempre dos Censurados e Tara Perdida, para além de guitarrista (e também vocalista) nos míticos insurrectos Ku de Judas, morreu dia 23 de Março, em Lisboa, vítima de doença respiratória. João havia sido internado semanas antes no Hospital Santa Maria, depois de diagnosticado como tendo sangue num dos pulmões, onde acabou por padecer. Tinha 48 anos e deixa-nos um legado de respeito, para o qual olhamos com saudade e inspirados.

Depois de Lume de Chão (há 4 anos atrás), os Uaninauei regressam com o seu segundo longa duração, Dona Vitória. “Guitarras inesperadas que suam electricidade e o choque de realidade das suas letras” é o que podemos esperar deste novo álbum da banda de Évora, editado pela Capote Música. http://uaninauei.bandcamp.com/album/dona-vit-ria

Um Uivo por António Sérgio

Vicious Five - regresso/final

Os The Vicious Five vão voltar aos concertos, após 5 anos separados, No entanto desengane-se quem gostaria que este fosse um regresso para ficar, pois este será em tom de despedida, como que o adeus que a banda não chegou a dizer aos fãs. A primeira destas datas a ser confirmada foi 11 de Julho, onde a banda subirá ao palco do Optimus Alive’14. Apesar de tudo, e como não dava para deixar de contrariar, a banda recentemente partilhou com os fãs uma música nova, “Young Divorce“. A ver vamos se o divórcio é para durar. Para já, podem escutar a nova malha em: https://www.facebook.com/pages/The-Vicious-Five/46948448084

Gwydion entre os melhores do seu género Os Gwydion foram nomeados para melhor disco folk/ pagan/viking metal no conceituado site Metal Storm com o álbum Veteran. Mesmo sem ter vencido a banda traz consigo o mérito de partilhar essa mesma categoria com nomes internacionais tão sonantes como Orphaned Land, Finntroll, Thyrfing ou Falkenbach.

Após a arrecadação de mais do que o inicialmente intencionado para a sua produção (130% do orçamento previsto), através de um crowdfunding na comunidade ppl.com.pt, Eduardo Morais vai, até Junho deste ano realizar um documentário sobre o eterno radialista António Sérgio, de seu nome Uivo, e que se prevê que tenha data de estréia ainda em 2014. Eduardo Morais é também responsável pelo surpreendente documentário sobre o rock português, Meio metro de pedra. Espera-se portanto algo de valor que traduza o que foi a vida do pioneiro do desbravar da música mais enérgica que o mundo tinha para oferecer nas últimas décadas. Podem saber mais sobre o projecto em: http://ppl.com.pt/pt/prj/uivoantoniosergio https://www.facebook.com/docmeiometrodepedra

Hellspiders de regresso aos discos Depois de uma pausa no seu trajecto de álcool, luxúria e todos os outros maus vícios, os Hellspiders regressam ao mais irresistível de todos eles - o rock -, ao lado dos garage punk rockers Psycho Tramps, na forma do novo split 7”, Hellspiders/The Psycho Tramps, que compila dois novos temas de cada banda. Para saber mais sobre este lançamento, ou mesmo para o encomendar podem-se dirigir ao site da editora: https://www.facebook.com/dogcityrecords https://www.facebook.com/hellspiders https://www.facebook.com/PsychoTramps

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F#ra do Arquivo ANGER

Aveiro. Ano de 1994. Pedro Pereira agarrou a voz e a guitarra, Lino Vinagre outra guitarra, Tó Viegas pegou no baixo, Afonso Corte-Real pegou nas baquetas, tomando conta da bateria. Juntos formaram os Anger, uma banda que não estava de todo deslocada do cenário musical em que se encontravam aqueles que se revelariam então como os seus pares além fronteiras: base enraizada numa escola rebelde de thrash metal, e sonhos postos numa melancolia que em momentos cristalizava grandes trechos melódicos, quer vocais, quer instrumentais, tudo sem perder força, nem o groove contagiante que os caracterizava. Estrearam-se nos palcos no verão do ano seguinte. Poucos meses depois a sua segunda actuação teve lugar, no agora mítico Johnny Guitar, em Lisboa, e segundo reza a história foi durante essa mesma actuação que a banda provou ter tanto competência técnica como energia em palco, chegando a convencer o então presente A&R da editora NorteSul. É assim que se cruzam com a oportunidade de gravar pela Valentim de Carvalho, e não deixa a oportunidade cair em mãos alheias. No verão de 1997 a banda grava o primeiro e homónimo álbum, editado pela NorteSul, do qual saíu o single “Low life”. Concertos como o da Queima das Fitas de Coimbra, que os acolheu com uma multidão de gente e terá acontecido por essa altura, para além de os motivar serviram de forma a os apontar no caminho de quem quer vencer. E durante um bom tempo os Anger estiveram na boca e nos ouvidos de muita gente. Depois de em Julho do mesmo ano Ricardo Melo substituir Tó no baixo, a

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banda iniciou a ‘Anger Tour’. Entre outros, fizeram parte da tour os concertos no Festival Imperial ao Vivo (em que fizeram a abertura para Scorpions e Megadeth), no Festival Sudoeste onde tocaram no palco Blitz, no Festival Rock in Ria, no Festival Paredes de Coura (no mesmo dia que One Minute Silence), ou abertura para o concerto dos Megadeth no Pavilhao Dramático de Cascais. Ainda que de forma insuspeita, a participação no Festival Paredes de Coura ao lado do então nome forte da segunda geração de nu metal viria a resultar numa feliz coincidência, visto que entre o público estavam membros dos Clawfinger, que ficou arrebatado com a prestação da banda aveirense. Como resultado os Anger viriam a terminar a ‘Anger Tour’ com o concerto no Via Rápida, no Porto, em abertura para os Clawfinger na sua única data em Portugal nesse ano, a convite dos próprios suecos. O desenrolar do feliz encontro não ficaria por aqui, tendo os aveirenses as ponte feita para o contacto com outra banda que os iria levar a mais um passo importante - os D.R.I. Ao lado da banda punk hardcore americana os Anger seguiram naquela que foi a sua primeira experiência numa tour europeia, passando por países como a Holanda, a Bélgica, a França, a Suiça, a Alemanha, a Austria, a Hungria, a Eslovénia, a Itália e a Espanha. Ainda no mesmo ano, de regresso a Portugal dão ainda mais três concertos com os Breed77, actuam na Expo’98 e voltam a tocar com os amigos Clawfinger, em Mira. No final de 98 a banda lança-se ao segundo álbum de originais, ‘Y2K’. Entre a fase de gravações e a edição do disco houve ainda tempo para mais duas tours - uma nacional a acompanhar os veteranos Tarântula, e a sua segunda europeia, desta vez como cabeça de cartaz, acompanhados pelos holandeses Vanity Fair com a qual passaram por Espanha, Bélgica, Holanda e Alemanha. ‘Y2K’ foi antecedido pelo single “Look sharp”, com passagem frequente em várias rádios nacionais e outros canais de comunicação, e finalmente lançado em Maio de 1999, também pelo selo da NorteSul. Com a inclusão de um teclista (Luís Silva) na sua formação, os Anger partem mais reforçados para uma tour em suporte ao seu novo trabalho,


para os mesmos - entre os quais se encontravam a actuação no Festival Hard-Fest, a Semana do Enterro em Aveiro, e nova actuação com os Breed77, no Hard Club. A editora Cobra (de Adolfo Luxúria Canibal) mostrou interesse no novo material, e em Maio e Junho de 2003 a banda gravou o sucessor de ‘Y2K’ nos estúdios Area 51 (Hanover, Alemanha) com Tommy Newton (que no seu currículo incluía trabalhos com bandas como Guano Apes, Ark ou Kreator). O novo álbum viria a chamar-se ‘The Bliss’, com edição em Setembro, e dele foi extraído o single “Say (what you wanna)”, para além de um vídeo também para o tema “Feel my anger”.

e entre vários concertos, actuam no Hard Club, Paradise Garage, Festival Super Bock Super Rock, T99 (no mesmo dia que Metallica, Monster Magnet e Merciful Fate), Sudoeste, Hardfest, e fazem novamente a abertura para os Megadeth, desta vez no Coliseu do Porto. Encerrando o ano em grande estilo com mais um concerto no Hard Club, os Anger partiriam para o ano seguinte com um novo desafio. 2000 foi o ano em que a banda se concentrou mais em actuações nacionais e resistir a problemas de ordem editorial, com a NorteSul a revelar ter graves problemas financeiros, empurrando a banda para uma situação em que, apesar de ter feito contrato para mais dois álbums, acaba por optar por uma rescisão amigável com esta última. Entre os concertos deste ano (em que a banda foi assídua de várias semanas académicas) destacam-se o de Vilar de Mouros e um em Aveiro onde voltam a tocar com os Breed77. A malfadade rescisão acabaria por acontecer apenas em Fevereiro do ano seguinte, 2001. Este foi também o ano em que participaram da celebração dos vários eventos que marcaram o 20º aniversário dos Tarântula, tendo em Abril participado na compilação de tributo com uma versão de “If You Close Your Eyes” , e partilhado o palco do Hard Club com as outras bandas participantes, no Outono do mesmo ano. Entre estas datas, a meio do ano, a banda ainda fez o concerto de abertura para os Soulfly, em Lisboa, na Praça Sony. Em 2002 a banda começa a trabalhar em novo material, com a intenção de compor um novo longa duração. A primeira maquete para este trabalho seria composta no tempo entre concertos e a preparação

‘Bliss‘ acabou por ter relativo sucesso, mas com o infeliz desfecho que teve a sua ligação à NorteSul acabou também por cair o impulso para continuar uma divulgação internacional, e o reduzido apoio que iam tendo não manifestava grandes resultados, muito também pela falta de verdadeira dedicação do público português a uma qualquer cena - ou então pelo virar de uma qualquer atenção à mesma para outras, por via de modas. A desmotivação, e consequente salientação de outras prioridades na vida dos músicos fez com que os Anger acabassem por colocar de lado os seus objectivos iniciais e entrar num hiato indefenido que mais tarde acabou por dar lugar ao silencioso fim da banda. No entanto, de entre os poucos que nunca fingiram pertencer a cena nenhuma e ainda novos assistiram, um pouco espalhados por todo o país às actuações dos aveirenses, quer fosse num grande evento, ou numa festa académica, ouvem-se memórias de como é difícil esquecer as actuações explosivamente eficientes e contagiantes da banda, e até que não terão estado, de todo, longe de ser um grupo que os terá influenciado, mesmo entre nomes internacionais.

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MB

https://myspace.com/angermetal https://www.facebook.com/pages/Anger/129100210454104?ref=profile http://palcoprincipal.sapo.pt/bandasMain/anger/sobre


An

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X Tasy -

entre bandas, quer Com uma humildade desarmante e sentido de união, quer /hard rock que são os entre amigos que ajudam a criar a entidade de fusão punk igues ajuda-nos An X Tasy, o vocalista (e também instrumentista) Rafael Rodr a pouco esclarecidas, a pôr os pontos nos i’s de muitas questões até agora aind não só. nomeadamente sobre a cena underground algarvia, mas 6


A vossa sonoridade é o resultado da improvável fusão de punk moderno com hard rock vintage e o resultado é pujante. Para vocês foi certeza à primeira escuta assim que fundiram esta sonoridade?

minha raiz esteja bastante assente no rock, oiço muito metal, punk e hardcore todos os dias. Isto tudo faz com que o resultado final seja o produto que as pessoas conhecem e ao qual chamamos de AN X TASY. Ah, e eu e o Bruno também nos vestimos de preto (risos).

Esta pergunta é traiçoeira tendo em conta todo o percurso que a banda tomou desde 2002 até aos dias de hoje. Para te responder a esta questão de forma mais aprofundada terias de deixar esta pergunta apenas, em toda a entrevista (risos). No entanto, posso resumir basicamente desta forma: a banda quando iniciou era algo dentro do rock/ punk mais simples e directo. Coisa para 2 riffs, verso + refrão, e pouco mais. Com o passar dos anos e as constantes metamorfoses no núcleo da banda, sentimos necessidade de adaptação entre todos os membros para que isto fosse não só ao gosto de todos nós como de forma a podermos recorrer a todo o contributo musical que cada um de nós podia trazer ao seio da banda e dessa forma podermos trabalhar como um só. A nossa base sempre foi, é será o rock mas temos várias vertentes que são inegáveis como o metal, o punk, alguns ‘ambientes’ e outras coisas mais. Apenas tocamos o que gostamos, não olhamos para rótulos e dessa forma podemo-nos deixar levar por aquilo que gostamos sem nunca tentar agradar a ninguém específico. Tanto um dia podemos vir a compor um tema de jazz como posso vir a escrever uma letra em português, tudo depende do mood em que estamos na altura.

De alguma forma a vossa sonoridade lembra-nos de uma banda algures perdida na história recente da música de peso, os Allhelluja. O que acham que falta para bandas com uma receita enérgica tão evidente poderem vingar num sistema tão viciado como é o da musica (mesmo na música de peso)?

Quais são as influências mais díspares que têm entre vocês, só para termos uma noção de quão variada é a paleta de tons que vos inspira? Ui... mais uma traiçoeira. As nossas influências são enormes. Embora todos nós tenhamos bastante em comum no que ouvimos no dia-adia, cada um tem as suas influências pessoais que influenciam bastante no modo de compor e encarar este projecto. O Ricardo (baterista) ouve muita metalada e veste-se de preto (risos); o Jimmy (baixo) é mais do punk-rock da paz e do amor; o Bruno e o Nuno (guitarras) andam perdidos pelo meio de todo o tipo de rock que possa existir, o Bruno é mais o rock clássico, o Nuno consegue ser um pouco mais versátil mas têm bastante em comum (mais no que ouvem do que propriamente no que compõem); eu oiço de tudo um pouco mas, embora a

Curiosa essa comparação... nem nunca tinha ouvido sequer falar dessa banda mas vou investigar pois gosto de estar informado de tudo o que se passa à nossa volta. O que falta? Pá... podia vir com os clichés de que ‘faltam apoios e salas para tocar’, etc, mas julgo que há mais factores para além desses. Por um lado, julgo que 90% das bandas não se esforçam o suficiente para conseguir algo. Não investem em estúdio, em merchandise, em sair de Portugal durante 15 dias a comer, dormir e cheirar mal (risos), não se preocupam com backline nem com muita coisa que realmente importa. Hoje em dia apenas conta o cenário e a técnica. Mas falta a alma, falta a paixão pelo que se faz. E isso nota-se perfeitamente quando vês uma banda ao vivo. É fácil perceber se a banda é verdadeira e se realmente sente o que toca ou se simplesmente está em palco porque ‘é fixe’ e toca aquilo que os outros querem ouvir. Sei de bandas que após meia década ainda não entraram uma única vez em estúdio nem têm nada palpável para mostrar ao público. E depois acabam frustrados porque não foram a lado nenhum. Embora nós façamos isto por gosto e amor à camisola há que encarar a música como um negócio. Tu não podes colher antes de semear. Para venderes discos tens de ir


para estúdio e investir, para teres camisolas tens de investir, para teres um clip tens de investir, para teres bom backline tens de investir... agora se há ou não retorno, isso nunca se sabe. Mas sem investir é certo que jamais haverá. Acho que realmente o grande problema é a falta das bandas acreditarem nelas próprias e não investirem o que deviam. Se a própria banda não acredita no projecto... como poderá o público fazê-lo? Outro factor importante é a falta de entreajuda no movimento. Se todas as bandas se ajudassem, fossem aos shows umas das outras, subissem todas ao mesmo tempo... tudo seria mais justo e proveitoso. Obviamente que depois há sempre quem vá mais longe pois háde haver sempre projectos com mais qualidade que outros. Mas enquanto todos se tentam atropelar numa competição desenfreada para ver quem detém a ‘lei do mais forte’ acaba

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por acontecer algo inevitável : caem todos e ninguém ganha com isso!

A banda fez no ano passado 10 anos de existência. Realizaram algum tipo de evento para celebrar a ocasião? Sim, sim, tocámos na Associação Recreativa e Cultural de Músicos em Faro com os nossos grandes amigos Killing.Electronica. Foi uma festa memorável. A casa estava bastante bem composta, apareceram muitos amigos e pudemos partilhar palco com uma das bandas com quem temos melhor relação e com a qual partilhamos editora (a LastManStanding Records). Não podíamos deixar de partilhar uma data tão importante para nós com estes nossos grandes amigos.

Como se mantém uma entidade que practicamente não recebe apoio por parte dos media, activa durante mais de 10 anos? Como? Muita paixão e fé no que fazemos. Se gostas do que fazes jamais vais deixar de fazêlo. Conheço pessoal com 40 anos que ainda joga playstation, porque não hei-de eu tocar e fazer música quando lá chegar também? Eu acho que passa tudo por aí: se gostas do que fazes... fálo! Há bandas que ‘nascem ensinadas’, outras nascem por cunhas e com os apoios à sua espera. E depois tens bandas que levam duas décadas a lutar e a acreditar e por vezes não chegam a lado nenhum. Eu não me posso queixar. Nestes últimos 4 anos editámos 4 trabalhos, saímos em várias compilações ibéricas, fizemos duas tours internacionais, participámos em bastantes festivais de renome e tocámos bastante para uma banda underground. Enquanto gostamos do que fazemos nada nos pode parar. Remar contra a maré pode ser chato mas acaba por ser proveitoso pois sabes que quando alcanças uma meta foi por mérito próprio e não porque foste levado ao colo. Outro grande factor são os amigos que nos apoiam. Tudo se torna mais fácil quando temos pessoas como o Mata-Gatos, Ruben Azevedo, Carlos Rocha, Luís Rocha, José Barros, etc, que estão lá sempre que precisamos. Muitas vezes estão lá mesmo quando não precisamos (risos) e isso dá-nos uma motivação que nem dá para imaginares. Quando nos deixamos ir abaixo e achamos que nada mais há a fazer encontramos nesse pessoal razões para continuar. Os amigos têm sido bastante importantes não só porque dizem que gostam do que fazemos mas acima de tudo porque demonstram realmente


que gostam e respeitam o nosso trabalho. Isso é praticamente tudo.

Pois, para além dos membros pertencentes à banda, vocês também reconhecem quem vos acompanha e ajuda das formas mais variadas (como venda de merchandising, gravação de concertos, etc) como pertencentes a essa entidade que são os An X Tasy. Espremendo um pouco mais, como descreveriam a importância que essas pessoas têm na vida da banda? Acho que respondi a isto na anterior questão (risos). Divagando um pouco mais... essas pessoas são o melhor que a banda tem. Eu costumo dizer que An X Tasy não são apenas 5 somos muitos mais. Se a banda fossemos apenas nós, já teríamos terminado há bastante tempo. Felizmente temos pessoas como o Mata-Gatos que para mim só não o vês em palco porque não toca nenhum instrumento mas é tão importante como todos nós. Enquanto nós estamos a suar em palco durante 1h, ele está a carregar o backline, a montar banca de merchandise, a conduzir a carrinha... não sei o que seríamos sem ele. Desde o 1º dia que o esforço dele foi incansável. O Luís Rocha e o Carlos Rocha têm-nos dado um contributo enorme à nossa sonoridade; são os nossos técnicos de som ao vivo e em estúdio e a importância deles é inegável quando vê um concerto de An X Tasy. Há uma grande diferença entre seres um técnico de som e seres O técnico de som. Quando és O técnico de som tens de entrar na banda, tens de fazer parte dela como se estivesses em palco, tens de conhecer bem os temas e passar isso ao público. De que adianta o som estar bom se não houver dinâmica ou paixão nos teus dedos? E depois há o incansável Ruben Azevedo que merecia uma estátua na nossa sala de ensaios, no mínimo. Ele é o responsável por toda a nossa imagem: merchandise, cartazes, capas de cd’s, logótipo, etc. Praticamente tudo é feito por ele. A ele devo bastante do que somos hoje em dia. Como vês, An X Tasy é um colectivo composto por muito mais do que meia dúzia de individualidades. E isso é o que faz a máquina mexer.

Em Faro há as concentrações de Motards, uma banda que fez tremer o metal moderno como os Mindlock e muito mais não se conhece no que diz respeito ao rock e metal. Diriam que há uma onda underground em Faro que passa despercebida ao resto do país, ou têm vocês próprios vindo a trabalhar no vosso caminho até onde essas ondas do rock estão? Pá... esta pergunta tem muito que se lhe diga. Eu faz-me confusão como é possível sermos convidados para tocar numa Festa do Avante! mas

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ficam aquém das oportunidades que merecem. É lamentável. Há tanta boa música no sul que se podia fazer um festival de qualidade só com bandas de cá. Mas é como te digo... cada um sabe de si e as bandas não deixam de ter qualidade por falta de oportunidades. Deixam é de ter oportunidades se desistirem dos sonhos.

Como é que o público costuma reagir aos vossos concertos? Nos refrões mais orelhudos cantam com vocês as letras, ou expressam animicamente a energia que vocês lhes transmitem?

nunca fomos a uma Semana Académica nem a uma Concentração. Não sei qual a razão mas vamos continuar a lutar para lá chegar. Cada um sabe de si e cada organizador de eventos sabe bem o que pretende para o seu festival. Mas realmente a música em Faro não tem o devido apoio das entidades locais como se vê por exemplo em Lisboa e no Porto. Por vezes até parece mais fácil ir tocar a um festival em Lisboa ou Porto do que propriamente em Faro. É tão estranho. Mas não critico, nem posso. Se acham que não merecemos essa oportunidade, só nos resta lutar e fazê-los acreditar que sim. Desistir nunca será uma opção pois aí morre mesmo tudo. E olha que o Algarve nos últimos anos tem apresentado uma qualidade musical invejável como já não se via desde a década de 90. Bandas como Killing.Electronica, Prayers Of Sanity, Mopho, entre muitos outros, são projectos que detêm bastante qualidade mas que por vezes

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A recepção tem sido deveras positiva. Mas tudo depende de local para local. Dois sítios onde adoramos tocar é em Odemira e na Catalunha (Espanha). Nesses 2 sítios sentimos que realmente há malta que gosta de nós e que nos segue pois notase na entrega a nós. Cantam os temas, saltam, sobem ao palco e agarram o micro, é algo maravilhoso. Há refrões que mexem bastante com a malta como os da “The Path” e “Til Death Set Us Apart”, entre outros. Temos temas que nem entram no set e acabamos por tocar sempre a pedido do público. A “I Am Free” é um desses exemplos. Por mais que estejamos decididos a deixar de tocá-la, há sempre quem a peça nos concertos e muitas vezes acabamos por recorrer a um encore. Ter uma boa resposta do público é das melhores coisas que pode acontecer a uma banda, tendo em conta que pisar um palco é capaz de ser a melhor.

Exacto. E a lista de bandas com que já tocaram chega a ser impressionante para uma banda underground, com Caliban e The Unseen logo à cabeça, passando também por bandas portuguesas como Mata-Ratos, Devil in Me ou WrayGunn. Tem sido uma experiência e pêras, não? Esta questão fez-me rir só de lê-la. Relembrar momentos na estrada como por exemplo com os Killing.Electronica ou com os Dr. Bifes & Os


Psicopratas deixam-me com uma nostalgia tão forte que me dá vontade de recuar no tempo e viver esses dias novamente. Andar na estrada é perfeito, das melhores sensações das nossas vidas. Não o troco por nada neste mundo. Temos tido a felicidade de partilhar palco com boas bandas mas eu prefiro 1000x’s partilhar com bandas com quem podemos ter alguma empatia do que propriamente com projectos de nome internacional com quem nem chegamos a estabelecer um contacto. Quando falei de Odemira simplesmente te queria dizer que quando vou lá sinto-me como em casa. O pessoal de lá vale ouro mesmo! É uma sensação inexplicável. Partilhar uma experiência engraçada é difícil pois foram tantas... mas digamos que ambas as tours que fizemos (2011 e 2012) ficam para a história. A primeira foi com Dr. Bifes & Os Psicopratas e cada dia era uma peripécia diferente e marcante; aconteceu-nos de tudo mesmo (fomos assaltados, agredidos, perdemos dinheiro...) mas acabou por ser algo que jamais esqueceremos e de onde pudémos tirar algo de bastante positivo. A tour de 2012 fizemo-la sozinhos e também foi memorável. Levámos connosco 4 amigos que tornaram aquela viagem algo de inimaginável! Quando regressámos a Portugal só queríamos pensar em voltar à estrada, porque foram dias de sonho mesmo. Tudo faz sentido quando estamos em digressão.

Estão a ultimar o vosso terceiro álbum, III, não é verdade? O que se pode esperar deste novo trabalho?

O III foi um disco de bastante esforço e dedicação. Foi até hoje o disco mais ‘pensado’ que fizemos. A nível de composição trabalhámos todos nesse sentido e tem um bocado de cada um de nós. É um disco mais directo que o anterior, com uma sonoridade e personalidade mais vincadas. Não levou tanto tempo a compor, mas demorou mais a gravar pois queríamos que o resultado final fosse ‘aquilo’. Posso dizer-te que desde a preprodução à masterização final muitos temas sofreram alterações e muita coisa foi posta em prática. Experimentámos ideias novas que nunca antes tínhamos feito, novos instrumentos, vozes diferentes, vários convidados, harmonias, passagens ambientais, etc. Quisemos que este disco tivesse a melhor finalização possível pois nunca sabemos quando este projecto vai terminar e como tal queremos que o nosso último registo seja o melhor possível. Claro que no próximo disco diremos o mesmo, é a lei natural das coisas. Mas acredita que consigo ouvir este álbum duma ponta à outra com um enorme sorriso nos lábios e o maior orgulho interior que alguma vez tive em toda a minha vida.

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MB

https://www.facebook.com/anxtasy http://anxtasy.bandcamp.com/

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E M CO S O C A C É mesmo verdade que tudo começou com a ideia para uma primeira música - “Cocaína” -, cantarolada pelo Fábio e pelo Bob ainda antes que sequer pensassem em ter uma banda e dar concertos? Sim, em parte é verdade porque foi a partir dessa música que acelerou o processo de querer criar a banda, uma vez que já era uma vontade antiga. Contudo nunca soubemos se ia mesmo ser usada, ou se ia ficar pelo papel.

No entanto as coisas correram bem e agora andam por aí a dar concertos

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em vários pontos comuns, locais de ensaio, e festas do underground. Imaginavam isto durante as tais viagens de autocarro que faziam juntos? No autocarro começámos por definir pequenos objectivos para a banda. A nossa intenção era tocar o máximo possível, sem nunca projectar muito, porque não sabíamos o que nos esperava.

Para além de se terem inspirado na rotina do dia-a-dia, em que mais se inspiraram para encontrar o som dos


dado? Desde o início, a atitude das pessoas nos nossos concertos foi sempre algo que nos espantou bastante… Geralmente corre melhor do que esperávamos. A adesão é sempre boa; mesmo quando são poucos [a assistir] a festa é enorme! A ‘’Quarta Feira’’ dá sempre muito que falar pelas noites fora, e até já criou umas histórias engraçadas.

Uma das atitudes curiosas da vossa parte é terem disponibilizado algumas vezes o vosso barraco (local de ensaios) para que, não só vocês, mas várias bandas se juntassem e dessem concertos. Dado o facto de se estarem a expor às mais variadas imprevisibilidades nunca vos aconteceu arrependerem-se de um desses sets de concertos?

Os Come Cacos são o que se pode chamar de caso sério que quase começou como brincadeira, dentro do punk mais desgarrado e selvagem, com actuações tão frenéticas que dão que pensar. Nesta entrevista ficamos a saber mais sobre o que o quarteto de Ovar tem feito até agora e o que começa a conspirar fazer.

Come Cacos? Sim de facto o dia-a-dia é uma grande influência na banda. Somos quatro membros com os mais variados gostos e isto faz com que a banda tenha um som bastante diversificado. Somos todos unidos pelo punk, cerveja e amizade.

A receptividade ao vosso som por parte do underground tem sido positiva, com algumas pessoas até a ficar com chavões cravados na memória, como o refrão de “Quartafeira”! Que tipo de feedback vos têm

O nosso barraco está numa rua muito pacata e por acaso algo que nos surpreendeu pela positiva foi nunca ter recebido nenhuma queixa por parte dos vizinhos, nem aparecerem uns homenzinhos fardados à porta. Na nossa última festa foi ainda mais arriscado porque foi feita ao ar livre e até tivemos uma tenda DIY… Já não bastava preocuparmo-nos com o barulho que depois ainda começou a chover mas aguentou-se bem e foi uma festa do c*ralho.

Lançaram há alguns meses Sujo e Barato, e algumas das músicas como já comentámos são já alvo de cantorias. O pessoal vai ouvindo o EP e nos concertos já vos ajuda a cantar as músicas todas? Que tipo de comentários têm feito ao disco? Como já dissemos, é o pessoal que faz a festa e a agora com o lançamento do EP ainda cantam mais. Os comentários são positivos mas a qualidade DIY é sempre falada - é uma merda, nós sabemos.

São opiniões.. Vocês no entanto não hesitam em se afirmar como uma banda punk hardcore; os vossos concertos são bastante irrequietos e erguem a bandeira da festa e bebedeira. Com uma mistura tão fulminante, quase que se poderia dizer que estão mesmo à procura de sarilhos, não? O nosso objectivo é que toda gente entre na festa e se o caos se quiser juntar estaremos de braços abertos para o receber. A ele e a uma grade de minis.

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Nunca vos aconteceu ter que largar os instrumentos e recorrer às “pedras da calçada”? Já tivemos uns episódios engraçados e complicados, mas sem nunca estragar a calçada.

Têm dado muitos concertos ultimamente? Um dos fenómenos que tem afectado o underground ultimamente é que nos centros mais destacados - como o Porto - alguns sítios têm deixado de abrir portas a bandas de garagem, ou a concertos “não lucrativos”... como têm contornado esta situação? Actualmente o nosso guitarrista foi para o estrangeiro e desde então não tocámos mais. Em parte esse problema sempre existiu, e a nossa resposta passa por organizar concertos à nossa maneira, dando assim possibilidade de toda a gente se reunir e conviver.

E música nova dos Come Cacos, já há algo aí à espreita? O que é que se pode esperar do próximo conjunto de músicas? Temos algumas malhas novas e vão ser acabadas quando o guitarrista voltar. Podemos dizer que não foge às origens, mas são um pouco mais trabalhadas.

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MB

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TR Y ANGLE Se ouvirem a música dos Tryangle e derem por vocês a comentar que nunca tinham ouvido falar deles antes vão reparar que algo está errado no circuito de música à nossa volta, tanto mais se forem apreciadores de tudo o que busque inspiração no rock desgarrado dos anos 90 mas pretenda ter os pés bem assentes no presente, e olhos postos no que está para vir. Nesta entrevista, para além da luta da banda contra alguma decepção contra a forma como as coisas teimam e decorrer no ciclo vicioso que é a vida através da música, também podemos vislumbrar um segundo álbum que poderá contar com a vossa ajuda.


A banda surgiu há mais de 10 anos, não é verdade? O que aconteceu para que só ouvíssemos falar de vocês pouco antes de 2009, com o lançamento do vosso primeiro (e homónimo) album? É verdade, existimos como banda há bastante tempo. O tempo de maturação foi semi-consciente; dávamos concertos aqui e ali, mas nunca quisemos aparecer com algo que estivesse mais ou menos numa gravação. Nunca forçamos nada também. Nessa altura surgiu a oportunidade e agarrámo-la.

Na altura, após o envio da vossa demo para várias editoras, receberam uma boa resposta da editora inglesa Lockjaw records. Isso mudou muita coisa para a banda, a nível de determinação face ao que pretendiam fazer, por exemplo? Sinceramente, não. Sempre pretendemos fazer carreira na música, pelo que na determinação não mudou. Talvez tenha mudado na consciência real do quão sozinhos estamos e sempre estivemos. A editora lançou o álbum, é verdade, mas não fez nada mais do que isso por três tesos portugueses que vivem numa periferia de Portugal, passe a redundância.

Quando lemos uma lista de influências que inclui Led Zeppelin, King Crimson, Soundgarden e Meshuggah postos no mesmo saco, não dá para ficar indiferente! Como conseguem juntar sonoridades que por vezes chegam a contrastes tão acentuados? Essa é a parte relativamente simples. Somos pessoas diferentes, mas temos algum background musical que nos vincula uns aos outros, à parte da cumplicidade óbvia. Isso reflecte-se na música, sendo esses exemplos apenas alguns dos imensos que nos ligam.

...a verdade é que para quem estiver atento, dá para topar pormenores que justificam isso mesmo. Para vocês foi algo muito natural, ou todo o tempo desde o início da banda até às primeiras edições foi um tempo de maturação necessário para que tal acontecesse? Já passamos por tantas fases e a banda para

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nós é quase como uma entidade própria. Como nas vidas pessoais, a maturação sente-se, com maior ou menor naturalidade.

Há também algo de Alice in Chains bem vincado - quer no instrumental, quer no jogo de vozes. São fãs? Crescemos os três com a boa música dos anos 90 - sublinhe-se boa -, não só Alice In Chains mas também a cena rock de Seattle, como qualquer outra cena ou música que transpirasse verdade. Como adolescentes talhados para tal, isso falava-nos ao ouvido e convencia-nos. Ainda convence. Mesmo assim, a título de curiosidade, o que encontraram e identificaram influenciado por Alice In Chains - vozes, particularmente não teve essa origem propositada, veio de outras zonas.

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Entretanto estão de volta com um novo trabalho, o EP Blue. Quais diriam que são as principais diferenças entre este trabalho e o que fizeram no passado? Queríamos que fosse um EP, a sério que queríamos, mas é apenas um single. Os constrangimentos financeiros a isso obrigaram. A principal diferença - e provavelmente o que nos motivou para gravar - foi, da nossa perspectiva, o tentar perceber onde estávamos. Essa será quase sempre a nossa intriga principal.

O videoclip para o tema deste single, “Blue”, é no mínimo curioso. Em que momento acharam que (entre outras coisas) as danças de salão


do país? Essas datas ainda não se planearam, pelo que apenas voltamos a ensaiar há duas semanas. Se fosse possível, gostaríamos de mostrar a nossa música em cada esquina do nosso país e a ideia é principalmente levá-la para fora.

encaixavam com a sonoridade da música? O vídeo encaixa na música, que, por sua vez, encaixa na letra, que, por sua vez, encaixa nas intenções pretendidas. Queríamos algo que abordasse de uma forma leve o estado das pessoas, o sentir das pessoas, e que fosse envolvido em cores. E que nenhuma dessas cores fosse o azul, ficando essa como conceptual para o sentir “blue”. A cena das danças pretende traduzir o comodismo quase simpático, belo, de quem sente. Sempre achámos que isso está na música, na letra também.

Depois do lançamento estão planeadas datas para a promoção deste novo trabalho, certo? Essas datas incluem presença em que zonas

A vossa música gravada soa extremamente bem capturada, de modo que nos deixa acreditar que se sentem bem a compor/gravar. O tempo e o feeling na estrada, a dar concertos, consegue rivalizar com isso? Há sempre truques usados em estúdio, mas, na essência, tentamos mais ou menos limitar a liberdade de ferramentas que tínhamos disponível para não defraudar o que somos dentro da sala de ensaio ou ao vivo. Podemos dizer que, num palco, como num estúdio, somos sempre nós.

Há planos para arriscar tocar lá fora? Esse é o plano! A nossa ideia é claramente, tal como tínhamos aflorado noutra resposta, levar a música lá para fora.

Daz, da publicação Rock Basement, descreveu que “deixam a música falar pro si, de tal forma que nos deixa a questionar/divagar sobre o que é que acabámos de ouvir”. De facto

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conseguem transportar quem quer que vos ouça através de uma viagem imprevista. Vocês já alguma vez tentaram pôr-se de fora e ver o efeito que a vossa música teria sobre vocês? Como autores e intérpretes o que nos sugeres é uma tarefa difícil. Nisso influi bastante o não ser possível dissociar-nos das ideias originais que tivemos para as músicas. Assistimos sempre, e tudo isso, o processo criativo, inibir-nos-ia de alguma seriedade na proposta, sem desligar o umbigo que não consegue ser desligado..

E a música do futuro? Já têm alguma ideia de qual será a ‘cor’ que sucederá a Blue, ou ainda é cedo para analisar novos acordes?

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Já temos muitas cores e queremos outras mais, andamos a correr o RGB, o CMYK e as tabelas que possas imaginar. Só falta a verdinha (risos) para mostrar-vos. Estamos ansiosos por gravá-las e é nesse sentido que vamos iniciar uma campanha de crowd funding algures nos próximos dois meses, tentar conseguir fundos para gravar e, quem sabe, até editar um segundo álbum, para oferecer coisas interessantes a quem nos financie.

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O

Abominável

Com os pés bem assentes no chão e a pisar sobre uma base firme que recentemente conquistou, O Abominável aponta o seu olhar na direcção ascendente e rodeiase de toda a energia e ajuda que precisa para tal. Prestes a ter pronto para edição o seu primeiro longa duração, falámos com os elementos da banda para saber um pouco de tudo o que nos belisca neste ser que respira rock alternativo que se adivinha com potencial para atingir estrutura de gigante. 22


Já descreveram a banda como “uma estranha forma, que sua aquilo que lhe corre na alma com a mesma intensidade e objectivo com que o sangue corre nas veias... Para circular e fazer viver.” Têm suado muito na estrada, e o sangue tem sido bombeado com cada vez mais força ao longo destes anos?

nos levem para outros voos, e que nos alimente a fome que é viver para a música, mas nunca sem esquecer que há uns anos fomos apenas uns miúdos que se reuniram para tocar umas canções e que tudo o que veio depois foi recebido com um enorme calor e satisfação... são essas coisas, e o apoio e bem-estar que os nossos amigos nos dão, que levamos para a vida, por certo.

Alexandre - Sim, suamos bastante e continuaremos a suar. É dessa forma que poderão observar o esforço dedicado ao que fazemos, seja em palco ou a gravar. Com o passar destes anos vimos nascer uma relação que foi caminhando sempre no sentido de equilíbrio e com isso houve a entrada de um novo membro, o Leonardo Rocha. Corre-nos no seio da banda sangue novo e mais vontade direccionada para continuar a lutar e a fazer música.

O que não ficou por fazer foi um videoclip com a qualidade do “Nada Passa Sem Ficar”. De onde surgiu a premissa para o que vemos no video? Como se processou a produção do mesmo?

O vosso último EP, Que só o amor me estrague foi alvo de elogios por parte da crítica especializada no ano passado. Terá estado aí uma das razões por detrás da grande actividade da banda em 2013. João - Em parte sim, mas essencialmente houve um esforço para reunir condições para preparar o próximo álbum, dar concertos para garantir financiamento e testar novas musicas.

É que 2013, tal como já chegaram a referir, foi ‘O ano’, para O Abominável, não é mesmo? O que aconteceu que jamais irão esquecer, e o que ainda ficou por fazer? David Félix - 2013 foi um ano óptimo, no sentido em que foi o ano em que conseguímos preparar de vez a base fundamental para o nosso futuro. Vimos o Leonardo a chegar e a dar-nos uma maior segurança e um novo ar que nos faz encarar o que vem aí com uma outra confiança. Tivemos a sorte de pisar o palco JN no Paredes de Coura, ouvir o nosso single em rádios como a Antena 3 e a Vodafone Fm, entre tantas outras coisas boas, que nos permitiram preparar agora o nosso primeiro álbum, que (permitam-me a confidência) esperemos que com todo o trabalho e suor sempre necessários,

DF - O vídeo é da inteira responsabilidade do Telmo Ferraz. Ouviu a música, e logo lhe dissemos para fazer o que bem entender com ela, dar a sua visão daquilo que a “Nada Passa Sem Ficar” lhe suscitasse. Não podíamos ter ficado mais satisfeitos com o resultado final. Vamos querer sempre que a nossa videografia, tenha para lá muitos videos com a assinatura dele. O Telmo é um óptimo realizador, um grande amigo e um sábio conselheiro.

Numa reportagem coberta pelo jornal de notícias, aquando do concurso JN bandas que como referiram há pouco vos levou a tocar em Paredes de Coura, pode-se ler que “o vocalista e o baixista lutam taco a taco por cada centímetro quadrado livre” do palco. Essa intensidade comum aos dois é algo constante, ou por vezes vão revezando com os outros elementos? Rui - Sim. É um comentário certeiro acerca do que acontece em concerto. Cada elemento vive aquilo que faz em palco e a energia que paira no ar é mútua, mas

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essa face mais visível da intensidade da banda recai sobre a presença do Félix e do Vítor, que se desprendem do seu espaço em palco.

De qualquer forma o que se pode esperar de uma actuação d’O Abominável é algo bastante intenso, não é mesmo? R - Em continuação à questão anterior… estamos do lado de cá e isso torna-se estranho analisar! Antes de mais, ouvir O Abominável num espetáculo será diferente do que em disco. Acredito que a experiência de palco será sempre o factor principal para mostrar ao público o que significa isto de fazer música e ter uma banda. Vivemos muito esse lado, diria mesmo que é uma necessidade expor o trabalho perante o público, daí, se nos disserem que sentiram a intensidade das músicas e dos músicos, é um motivo para continuarmos a fazer isto e esse é um dos propósitos pelo que fazemos.

Algo que certamente está directamente associado a isso é de que cantam palavras que todos percebemos, e que ainda assim conjugam significados que dão que pensar. Esta forma de escrita - partilhada por outras bandas como O Bisonte, Linda Martini, ou até MulherHomem - já não é uma moda e sim um estilo do mais digno que parece ter vindo para ficar. Também é esta a vossa forma de pensar, ou simplesmente saíu assim? J - Nem moda nem estilo, cantar em português é algo natural, podia não ser assim, não temos nada contra outras linguas, hoje em dia é dificil não pensar numa cultura global, a nossa música é portuguesa por ser feita em portugal por portugueses e não por ser cantada em português. Quem canta em inglês canta com sotaque português ou com erros gramaticais, vai dar ao mesmo. Infelizmentente em Portugal canta-se mal em inglês, daí não haver muita projecção internacional; soa ridículo. Há, claro, algumas execpções.

Como já referiram, têm estado a preparar o vosso primeiro àlbum. Que surpresas prepararam desta vez para quem vos ouve e para quem vos poderá vir a ouvir? J - A palavra chave aqui é evolução, evolução como grupo, novos elementos e novas ideias. o mais importante é estarmos a fazer um álbum sincero e sem grandes pretenções. Não pretendemos agradar a toda a gente, nem nada que se pareça, mas temos a convicção que aqueles que nos apreciam não irão ficar

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Confiamos na interpretação deles e chegamos ao resultado que nos soa melhor. Este processo é essencial para que o trabalho soe o mais focado possível. Estaremos orgulhosos no fim para receber o álbum no seu registo final, que tem tanto de nós como tem dos seus brilhantes e queridos produtores.

..Maze dos Dealema, e depois do Elísio Donas, dos eternos Ornatos Violeta.. Tem sido uma lista invejável a que têm reunido à vossa volta para este novo trabalho. Tem sido uma viagem inspiradora esta em direcção ao primeiro longa duração da banda? Vitor - Tem sido um bom reflexo do percurso que fizemos até chegar a este ponto, abordando um ponto de vista que nos é muito pessoal. São grandes marcas que simbolizam as coisas que não imaginávamos poder acontecer e que hoje são uma realidade. Foram muitas as vezes em que proferimos esses nomes em conversas sobre música e sobre músicos que gostamos, por isso, só pelo facto de termos cruzado o nosso destino com o deles em alturas diferentes das nossas vidas, só enriquece a nossa música e claro, fazem com que esta viagem seja sem dúvida alguma, bastante inspiradora. desiludidos.

É n’O Silo que têm estado a gravar, o estúdio idealizado pelo Davide Lobão e Hélder Bernardo, onde têm trabalhado sob o olhar atento de profissionais que também são músicos com créditos mais que firmados. É fácil não misturar o que é a visão de quem produz com a de quem idealiza e compõe, ou pelo contrário até dão as boas vindas a esse cruzamento? A - É uma questão interessante. Sim! Esse cruzamento é necessário. Nós somos os compositores de todas as músicas, mas o Lobão e o Hélder têm o papel fundamental de encaminhar cada música para uma ambiência específica.

Terminamos com uma criosidade: alguma associação, mesmo que rebuscada, do nome a alguma personagem fictícia, ou a principal inspiração está mesmo no ser humano em geral? V - Seria hipócrita se dissesse que o nome surgiu com algum propósito maior que aquele que agora posso explicar por palavras, acho que é daquelas coisas que ganham vários significados com o tempo, o nome às vezes acaba por ter o seu intuito artístico e cabe-nos a nós descrevê-lo da forma que nos apetecer nas alturas que surgirem para esse propósito. Pessoalmente acho que pode caber mais na esfera humana, e dentro dessa, na sua ficção. No fundo sei que há coisas que devem ser abominadas e outras que os outros querem que sejam, mas que podem ser amadas pela realidade da sua natureza. Não somos propriamente os melhores esclarecedores do amor nem do ódio, pois manifestamos ambos de maneiras que às vezes não coabitam com a génese que aparantemente conhecemos destes sentimentos.

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MB

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PRIMAL ATTACK to a solo, Iniciada como um projec tack está a jornada dos Primal At o gás, com agora a funcionar a todo estréia um portentoso álbum de aço, e com Humans - debaixo do br dos onde vários concertos agenda moderno irão destilar o seu metal dos clássicos que mantém a memória do thrash. ajudam-nos Os elementos da banda banda e a perceber tudo sobre a o actual do também sobre a situaçã underground nacional.

A banda começou quase como um projecto individual de Miguel Tereso. Pode-se dizer que a sonoridade dos Primal Attack tem tudo a dever a essa iniciativa do músico, ou pelo contrário, hoje soa ao que não poderia deixar de ser um trabalho de grupo? Miguel: Certamente. A banda começou integralmente com as minhas ideias e músicas, mas hoje com o toque e contributo pessoal que cada um de nós trouxe aos temas, soa mais coeso e observa-se um maior trabalho de banda.

Conseguem descrever qual é/em que consiste aquele momento em que se chega à conclusão que o projecto tem

de deixar de ser apenas um projecto de estúdio para passar a consistir numa banda pronta a atacar palcos? Miguel: A vontade de dar a conhecer e mostrar os temas ao público, e transmitir a nossa energia ao vivo era um objectivo que todos nós pretendíamos e para o qual trabalhámos desde início. Apesar de não termos qualquer razão de queixa, as salas um quanto vazias do país não são uma grande motivação.

Aquando da gravação aproveitaram o tempo que demorou fazer o álbum para solidificar a formação que hoje constitui os Primal Attack, não é verdade? Não houve entretanto algum tipo de sensação


de falta de contributo de algum elemento que ainda não estaria na banda?

influencia e motiva quanto a tudo o que envolve a banda?

Miranda: Tivemos cerca de 7/8 meses a preparar a nossa estreia ao vivo pois queríamos que quando chegasse o momento a experiência de quem ia ver ao vivo fosse tão boa ou melhor do que o que está no álbum. 95% do material constituinte do álbum já o Miguel Tereso tinha feito ao pormenor. Foi mais uma questão de alterar coisas mínimas, pois tudo o resto estava bem feito. Era ridículo estarmos a perder tempo a alterar o que quer que fosse.

Pica – O feedback tem sido muito positivo, tanto nos concertos, como nas reviews ao disco. Isso deixa-nos muito satisfeitos, pois estamos a ver o nosso trabalho reconhecido, e só se torna uma motivação para continuarmos a querer mais, e a trabalhar mais.

Têm recebido bastante feedback positivo em relação ao Humans, o vosso trabalho de estreia. Até que ponto isso vos

Apesar das salas não tão cheias, uma das partes mais estimulantes é certamente a dos concertos. Têm tido sorte quanto a marcar datas e ter boa reacção por parte do público? Pica - Até agora temos tido boas oportunidades de

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levar a nossa música até ao público, e este temnos recebido muito bem. Estamos a criar uma boa relação com quem nos vai apanhando por esses palcos.

Se não aparecessem de rompante com um álbum portentoso como o que têm e começassem como banda, com singles, demos e EPs, acham que teriam o mesmo impacto que têm andado a ter? Ter um set sólido, repleto de músicas originais é certamente motivo de um outro tipo de confiança em cima dos palcos, não? Pica - Para todos nós não fazia sentido que fosse de outra maneira, pois já temos alguma experiência no mundo musical, e sabíamos que não havia tempo nem espaço para esse caminho normal de uma banda recente, teríamos de chegar fortes, com atitude e com um disco que detivesse a atenção de quem se cruza com ele.

Vocês estão aliados à Hellxis nesta aventura. Nas vossas palavras o quâo dedicada diriam que vos parece a editora em relação ao underground nacional? Que outras bandas nacionais vos agrada ver representadas por gente dedicada como a da Hellxis? Pica - O Emanuel é uma pessoa que conheço há uns anos, e que quando começámos a falar com editoras, mostrou logo interesse em embarcar os Primal Attack na família da Hellxis, e nem

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pensámos 2 vezes pois percebemos que seria o parceiro ideal. Miranda - Se houvesse mais gente como o Emanuel e a Hellxis, o metal em Portugal se calhar já tinha atingido o nível que merece. É triste ver que cada vez menos bandas cá passam nas suas tours europeias, e as que cá vêem muitas vezes deparam-se com salas com 100 pessoas.

A vossa opinião acerca da passividade por parte dos fãs de metal e música enérgica em geral, que tanto se queixam da escassez mas viram a cara quando vêm passar a caravana do underground nacional, merece ser ouvida outra e mais outra vez; querem pronunciar-se sobre o assunto também nestas páginas? Pica - Acho que o fácil acesso à música influenciou a forma como as pessoas passaram a viver e ouvir o trabalho das bandas/músicos, pois tudo se tornou fácil demais e fez com que se valorizasse menos os concertos, os discos etc. A evolução tem coisas boas e más. Miranda - Infelizmente ainda há bastante o estigma de dar dinheiro para ver bandas nacionais, no entanto se vier cá uma banda da moda estrangeira ninguém se chateia em dar 30 euros para ir ver um espectáculo de fogo-deartifício.

Vocês colocaram para o pote as vossas influências de metal que foram ouvindo


e vos acompanharam toda uma vida, e com o som que conseguiram obter numa década de poderio sónico surgiram com um som que se equipara ao que de mais moderno temos vindo a ouvir no metal. Ver o resultado dessa fusão é algo que vos faz sentir que estão realmente na direcção certa? Miranda - Como é óbvio estamos muito satisfeitos com a sonoridade que temos, caso contrário procuraríamos outras praias. Como já foi dito todo este material veio do Miguel Tereso e mostra principalmente tudo o que ele mais gosta, desde a cena thrash mais old-school até às cenas mais modernas. Daqui para a frente vamos tentar manter a nosso rumo, sendo que agora enquanto banda é normal que experimentemos coisas novas pois todos ouvimos coisas diferentes.

O material contido no Humans ainda está fresco, contudo certamente já começaram a surgir novas malhas que apontam para o que poderá vir a ser nova música. Em que direcção acreditam que irão continuar a seguir? Miranda - Por esta altura já temos o set mais que batido e sabido, o que nos deixa mais tempo livre para ir trabalhando em novas ideias. Não temos objectivos de fazer músicas mais pesadas ou mais rápidas ou o

que quer que seja. Queremos aproveitar todas as boas ideias que vamos tendo e continuar a fazer músicas que nos deixem satisfeitos. Miguel - Posso revelar que tenho estado a escrever e trabalhar novas ideias/temas que apesar de não fugirem de maneira nenhuma ao conceito da banda, exploram novos horizontes sónicos e dinâmicas musicais até agora inexistentes em Primal Attack.

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MB

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As linhas com_ que se cosem a [“No spirit in this age”, dos Nethergod]

MALHA

Acedendo à nossa solicitação para apontar o foco desta rúbrica à musculada e viciante faixa “No Spirit in this Age“ dos portuenses Nethergod, uma malha que faz a fusão entre o metal mais clássico e o mais moderno, o vocalista da banda respondeu ao chamamento com um texto tão bem estruturado quanto esclarecedor, que desta vez vamos simplesmente deixar-vos com as suas palavras: Apesar de a designação Nethergod ser recente, a banda existe há muitos anos, mais concretamente desde 1995. Entre 1995 e 2006, sob a designação In Solitude, a banda gravou três albuns, deu inúmeros concertos, tocou em Portugal continental, ilhas e Espanha; abriu para bandas como Stratovarios, Metallium, Skyclad, Epica, Blaze Bayley, entre outras. Em 2006, e após termos dado vinte e tal concertos de promoção ao nosso terceiro album: “Nethergod”, os In Solitude entraram num hiato, apesar de nunca termos dado a banda como extinta, a verdade é que estivemos completamente parados durante demasiado tempo. Em 2012, quando chegamos à conclusão de que a história da banda ainda não estava terminada e decidimos voltar ao ativo, optamos por voltar com o nome Nethergod, (devido à existência dos In Solitude suecos).

O tema “No Spirit In This Age”, surge da necessidade de fazermos qualquer coisa para dizer às pessoas que os In Solitude não tinham desaparecido, estavam de volta e que apenas tinham mudado de nome. Nós podíamos

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ter optado por compor vários temas para mais tarde aparecer com um novo trabalho, mas estávamos com demasiada vontade de voltar a tocar ao vivo, por isso a opção recaíu sobre a gravação de um novo tema e respetivo videoclip, para podermos reaparecer e voltar rapidamente aos concertos, concertos esses em que temos tocado os temas dos álbums antigos e apresentando a música “No Spirit In This Age” como uma amostra da direção musical que a banda seguirá no futuro. O método de composição deste tema, seguiu aquilo que tem sido habitual nas nossas músicas: o Paulo Camisa (guitarra) apresenta o tema, depois a estrutura é definida tendo em conta as voltas necessárias para acomodar as partes de voz. Podem ser necessárias mais voltas numa dada secção, ou, pelo contrário, pode ter que se cortar partes. Esses arranjos são discutidos na sala de ensaio. Também não é raro o tema estar praticamente concluído e surgir alguma nova ideia que leve à alteração de partes substanciais da música. Este tema também tem a particularidade de ter sido feito de raiz para duas guitarras, já que antigamente a banda tinha apenas um guitarrista e isso tinha que ser levado em conta na fase de composição. Daí o facto de o refrão do “No Spirit In This Age” ter melodias de guitarra, algo que agora podemos explorar ao vivo uma vez que temos a guitarra ritmo para garantir “corpo” no som da banda.


Em termos musicais, não posso indicar nenhuma banda em particular que influencie diretamente o som dos Nethergod e deste tema em particular; todos nós ouvimos desde heavy clássico até estilos mais extremos. Houve sim, o cuidado de praticar um som que não fuja completamente aquilo que os Nethergod são: uma banda de heavy metal. Acho que esse objetivo foi conseguido; nós não deixamos de soar heavy metal mas conseguimos que o tema ficasse com um som atual, aliás os novos temas estão todos a seguir essa linha; a utilização de vocalizações guturais, que eu já não fazia desde o 1º album, “Eternal” (1998), estará presente em vários dos próximos temas. O titulo do tema é um trocadilho com o conceito Zeitgeist, que em alemão significa espírito do tempo, ou espírito da época. Esse conceito tipifica a linha de pensamento e vivência de uma determinada época, que na minha opinião, atualmente deveria traduzir-se num esforço coletivo para que os humanos que partilham este planeta que é a terra, pudessem usufruir em conjunto da dádiva e dos benefícios da vida durante o tempo que cada indivíduo tem (já que pessoalmente não acredito em qualquer existência, para lá da morte). Ora, a realidade é que caminhamos para algo completamente oposto a isso, daí o trocadilho “No Spirit In This Age”

No que diz respeito à letra da música, isso é algo que foi surgindo juntamente com a ideia do vídeo, ou seja, eu fiz a nível lírico aquilo que o nosso reduzido budget para o vídeo permitia fazer. Por exemplo, vamos imaginar que existia dinheiro para fazer um video em que se podia ver as sedes das poderosas instituições financeiras que estão por detrás da crise a explodir em mil pedaços e os seus líderes a ser fuzilados em praça pública... de certeza que a letra seria diferente... É claro que este exemplo que acabei de dar é naturalmente um exagero e um exemplo choque, serve apenas para ilustrar que o conceito daquilo que eu quis deixar claro está lá: O mundo gira à volta do dinheiro e do poder; o poder, como é sabido, corrompe, sempre foi assim e provavelmente continuará a ser... Daí a ideia das vendas e das correntes, nós podemos achar que levamos uma vida de

liberdade, mas na realidade fazemos parte de uma sociedade que é uma máquina trituradora, que impede as pessoas de fazer aquilo para que nasceram... que é desfrutar verdadeiramente da vida. Existe um verso nesta música, que espelha particularmente bem a realidade (a seguir ao primeiro refrão): “sand thrown to our faces, certified by nations”. Mudar tudo isto pode parecer utopia mas não é, apenas levaria tempo, provavelmente gerações.

Já tivemos oportunidade de tocar este tema ao vivo, e de facto é um tema que soa forte ao vivo, isso deu para perceber logo nos ensaios. Depois, tem a particularidade de não ser uma daquelas músicas que não são muito fáceis de descurtinar ao vivo para quem nunca a ouviu. Existem temas que quando são ouvidos pela primeira vez em concerto, não causam grande impacto porque necessitam de uma audição mais cuidada. O “No Spirit In This Age” é simples, bastante direto e quando vamos para o último refrão, a seguir ao solo, o público já compreendeu perfeitamente o tema, que tem ainda a particularidade de ter uma sobreposição de vozes no final, que parece agradar a quem ouve. No entanto, não posso realçar este tema perante todos os outros, porque temos vários que resultam bem em concerto. As reações do pessoal que conhece o nosso material mais antigo, foram muito boas, possivelmente também pelo facto de nós não mostrarmos nada novo desde 2004, o ano em que editamos o 3º album como In Solitude, no entanto não posso deixar de frisar que este foi apenas o nosso primeiro esforço desde que nos voltámos a juntar. Posso afirmar que os temas novos que estamos a trabalhar representam já uma evolução em comparação com o “No Spirit In This Age”. É esperar para ver.... e ouvir. Sérgio Martins (vocalista)

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MB

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Filii Nigrantium Infernalium - Pornokrates Deo Gratias (2013)

Os Filii Nigrantium Infernalium são uma banda de black metal, ponto. Ou talvez não. Há anos que Belathauzer tem vindo a trocar as voltas aos neurónios de quem vai acompanhando as criações e as palavras do músico, e se há coisa que já ficou bem assente é que os FNI contradizem as fórmulas tradicionais e provam que o espírito do género mais negro do metal vive para além dos blastbeats e riffs cerrados do início ao fim. E depois de escutarmos “Pornokrates Deo Gratias”, ficamos a perceber bem o (renovar do) burburinho à volta da banda. Neste terceiro longa duração, os FNI não só comprovam o que já haviam alegado anteriormente, como dão uma estacada quase final nas dúvidas de quem olha com ar céptico para a associação da expressão black metal a um nome como o dos influentes thrashers Venom. Após a desconcertante abertura do portão infernal com “Deo Gratias - Harmonia Mundi”, a banda rasga com “Rancor”, ecoando riffs que têm a pujança do thrash tão entranhada que é impossível não sentir algum tipo de impulsão; pelo meio a banda atiranos com um solo com sonoridade completamente vintage, algo ultrapassada, mas que só nos empurra para trás e remete para um outro plano temporal, como se fôssemos

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obrigados a revisitar um ciclo antigo, uma e mais outra vez, tudo sempre embuído na anteriormente descrita esquisofrenia desconcertante, através da junção de um elemento sonoro insuspeitamente diabólico - o violino. Ao longo do álbum a matéria negra que a banda nos vai servindo vai gerindo com maior ou menor dose desta fórmula, sempre numa gestão muito inteligente - em “Cadafalso”, por exemplo, os elementos thrash são palavra de ordem a partir do meio da música e quase que a banda não mostra grande vontade de voltar à negritude, algo que tem o seu pico num solo melódico e irresistível. Em “Labyrinto” temos uma faceta bem mais punked black metal, que nos lembra algo do que tem sido a recente intenção dos imprevisíveis Dark Throne. “Metastase” é arrojada em todos os sentidos, tendo na sua introdução algo de tribal, pujantemente rítmica, que se transforma em algo de new wave of british heavy metal, só para terminar num circuito com vista cerrada para algo negro, urgente e maquinal, num cruzamento de black metal com rock industrial que quase nos remete para os Ministry, mas sem esquecer o blastbeat. Em “Necro Rock’n Roll” temos algo de Judas Priest ou até Accept em versão negra; “Seita” é lenta, arrastada e um grande ‘vai-te foder’ a quem ainda cisma rotular ou prender os Filii Nigrantium Infernalium a uma fórmula de fazer as coisas - sendo até uma das faixas mais intensas, quer pela cadência, quer pela mensagem, quer pelo jogo de guitarras no soberbo solo; aproveitando o aparente descanso, a banda cospe de seguida “Rebanho de Lobos” numa velocidade insana que tem nos versos “Garras, garras afiadas” um mote para a iminente destruição ao vivo; “Ecumenica matança por Jesus” é novamente thrash do mais old school, rápido e sujo possível, com margem ainda para exploração de cantorias à power metal quase (algo surpreendentemente bem ajustado na música), que eventualmente dá lugar ao momento mais passível de ser considerado black metal puro e duro; a dose de velocidade e desespero continua na elucidativa e ambiciosa “Matéria Negra”, que pelo meio tem um twist que, recorrendo às outras

cordas - as de violinos - até arranca como uma das inspiradas e clássicas introduções de albums históricos, como os primeiros dos Metallica, para seguir rumo a um dos momentos de guitarra mais melódicos e enérgicos do disco; “Voivodina”, tal como o nome transparece, é experimentação, quer de riffs, quer rítmicas, quer de samples (algo também presente noutras das anteriores faixas) à Voivod, quase como que em tom de homenagem. “Pornokrates” encerra o álbum com uma energia abominável, equiparada à faixa de abertura quando arranca, metamorfoseando-se (através das orquestrações auxiliares) num épico de negritude conforme se aproxima do final. Pode-se dizer o que se quiser dos Filii Nigrantium Infernalium, mas uma coisa é certa, este é um grande álbum!

Soul of Anubis - Alone (2013)

Há raiva, muita raiva, riffs enérgicos, ritmos pesados mas sempre dinâmicos e há melodia neste primeiro registo dos Soul of Anubis. Há uma certa dose de ruído também, que dá a todo o registo um tom mais sujo do que o que é costume nas novas produções que nos chegam aos ouvidos nos dias de hoje. No entanto está tudo muito bem definido aqui (sendo a referência anterior um pormenor de produção), tão definido que acreditamos que já está mesmo na hora de enterrar preconceitos acerca do que é possível ou não fazer a nível de gravações neste retângulo à beira-mar plantado. Ao nível de referir eventuais influências para o som com que os Soul of Anubis nos presenteiam este ‘Alone’, esse é um desafio realmente


interessante. Muito mais pelo resultado final da gravação - aquilo que poderíamos chamar de síntese sónica do som da banda - do que pela composição, um dos primeiros nomes a vir ao de cima é Godflesh. Só por aí já faz parar qualquer um mais desatento, assim que ouve os primeiros acordes. Depois poderíamos referir nomes como Neurosis, Isis ou os (hoje incontornáveis) Mastodon. Ainda assim há algo de indefinido no som dos Soul of Anubis, e acreditamos que esse elemento que nos arrelia é aquilo que eles ainda estão de certa forma a moldar e que em breve conjugará para aquele que prevemos se tornará o som próprio da banda, um som que já se começou a definir. Mas atenção, toda esta dissecação não se resume com qualquer tipo de “em construção”.. Nada disso! O que temos aqui é já um trabalho com princípio meio e fim, que dá gozo ouvir dessa mesma forma, de uma ponta à outra - aliás, a própria banda esmerouse para criar ligações entre as sete músicas, e provocar uma viagem que nos transporta através dos recantos mais raivosos da mente, que pelo caminho nos faz passar por estreitas aberturas através das estruturas rochosas, pelas quais vislumbramos pequenas mas cintilantes golfadas de luz.

Self Rule - Harsh Reality (2013)

Os Self Rule estão de certa forma ligados aos Bloody Disgrace. Com uma paragem por alguns anos e uma troca de formação, três quartos da antiga banda street punk da zona de Ovar decide arregaçar as mangas, fazer algumas mudanças - o antigo baixista passou a tomar conta de uma das guitarras na banda, por exemplo - inserir dois novos elementos que injectam sangue novo e seguir em frente. Seguir em frente não é apenas uma frase feita porque aqui neste primeiro registo dos Relf Rule há provas de que os passos do passado não foram esquecidos e serviram

até para a banda apurar o seu som. ‘Harsh Reality’ busca inspiração no quotidiano de quem conhece as ruas por onde passa e nas frustrações da vida tornadas acordes. Esses acordes despertam na forma da força do street punk old school puro e duro em “Revolution”, em algo de quase Oi e jocoso em “When you’re dead inside” (a par com um travosinho a The Exploited), da revolta da música rápida do início dos anos 90 completa e desavergonhadamente embuída em melodia estampada em “Don’t you know”, ou da veia caustica da banda em “The man who would be king”, onde sons como o de bandas do género de Disfear ou Tragedy nos passa pela memória. Já “Run away”, repesca novamente algo de anos 90, mas fundido com algo surpreendentemente reminiscente da então nova vaga de heavy metal britânica nas guitarras (algo que não causa de tanta admiração quanto isso, visto que esse mesmo género na fase inicial também bebeu do punk até à exaustão). Poderíamos também falar em Clash, Rose Tattoo ou Anti-Nowhere League, mas a verdade é que o som da banda cresce para além de influências e não se deixa limitar. Velocidade, distorção e uma voz que canta como quem tira tudo para fora, mesmo que lhe esfole a garganta é o que estes cinco nos apresentam. Por vezes também há coros nestas músicas, e quando os há, são mesmo daqueles que dá vontade de acompanhar, algo que decerto não está dissociado do facto da banda ser antes de mais uma banda de palco, para concertos, e consequentemente as músicas terem adquirido essa capacidade de funcionar bem na ligação entre a banda e o público. Como se estes não fossem argumentos suficientes para dar atenção a este quinteto, o disco encerra duas faixas mais intensas que todas as outras: quer pela mensagem, quer pela determinação incisiva quer dos riffs quer da veloz secção rítmica, são mesmo “We know where you live” (uma música que vale mais do que ela própria, que para além de ser um ‘aviso’ aos maus exemplos que por aí povoam a autoridade, e cujo os coros cantados no refrão são inconfundíveis e inesquecíveis) e “Punk Rock my life”, que funde de vez praticamente todas as influências acima descritas, principalmente a sonoridade mais clássica, com as mais actuais e sem restrições; o coro final e o loop de guitarra a finalizar quase dão um tom épico à música e dá mesmo vontade de ouvir novamente. E já agora porque não ouvir o disco todo outra vez? Bota!

The Last of Them - At no one’s mercy (2013)

Este lançamento está minado de pequenos pormenores, quase indecifráveis às primeiras escutas. Mas quem já conhece os aveirenses sabe que o que fazem está carregado de garra e é improvável que algo saia à toa. Daí que o que temos em mãos é um conjunto de malhas que são agressivas e in your face, tal como tudo aquilo que uma banda ambiciona quando se aventura nos meandros do metal fazer o mais pesado possível - , mas ainda assim mantendo o groove que carazteriza o metal moderno. Quanto ao pormenores, o que podemos partilhar é que entre a energia dos Lamb of God e as estruturas mais groovy dos Meshuggah, os Last of Them sorrateiramente passam por debaixo da porta melodias subtis transportadas pela fusão do baixo com as guitarras, à In Flames ou Dark Tranquility, numa faixa como a primeira “Fury amplified” quando se emancipam os breakdowns, ou então o rasganço melódico fugaz mas eficaz em “Ghost Guerrilla”, na forma de um dedilhado que faz quase transparecer claridade por entre a destruição. E não se enganem, a destruição sónica é a palavra de ordem nesta potencial banda sonora para uns bons walls of death, com uma massiva eficácia sonora que nos faz embater como que de cara num muro a uma velocidade alucinante. A negridão de uma música a ressuscitar muito do espírito das primeiras vagas de death metal - algo entre a sonoridade de Morbid Angel e Obituary -, como “Black Phoenix” é disso exemplo. A exemplificação do deathcore que a banda nos apresenta completa-se com “Product”, um tema bem serrado, que practicamente não dá tréguas, e que só não comparamos aos Marduck porque não calhou. De novo na última música do EP, “Neon Vultures” acabamos or ser brindados por um regresso ao death metal (o melódico) na forma de um remate com chave de ouro, para estes cinco novos temas dos Last of Them, que ao som da linha (quase) final e épica das guitarras nos transporta para um outro universo em que nem as nacionalidades nem os números contam para nada e a boa música, só por o ser, é por instantes inquestionável e imortal.

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MB


Videoclube Z8NPk-Rla0

https://www.youtube.com/watch?v=N

ps://www. youtube.com/

LEVITIES -

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GO BABY GO - “Go Baby Go”

BRUTO AND THE CANNIBALS - “Wild Wild World”

AGENTX DO KHAUS - “Donos da VerdAde”

“Little Do They

(clica e vê)

Know”

https://www.youtube.com/watch?v=8zSAUTC9DxI

wOXCLwmUDY

https://www.youtube.com/watch?v=9




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