Revista Subversa 7ª ed

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ERIC COSTA | PEDRO BELO CLARA SAT AM| JOSÉ VIEIRA JULIANA BEN| BRENO RICARDO MORGANA RECH | ANTONIO PEDRO CARNEIRO

7ª Edição | DEZ /1 2014


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SubVersa | literatura luso-brasileira |

7ª Edição

© originalmente publicado em 01 de Dezembro de 2014 sob o título de SubVersa ©

Edição e Revisão: Morgana Rech e Tânia Ardito

Fotografias: ©Luciana Belinazo: Confusão dos Sentidos |A Fraqueza do Amor | Reféns Perpétuos | Restolho | Poema de nenhuma face © Morgana Rech: Miseráveis Alpercatas © Valdir Neto (tempestade sobre a Serra do Tinguá): O Estrondo da Tempestade © Sandra Bernardo: Alberto Pimenta

Os colaboradores preservam seu direito de serem identificados e citados como autores desta obra. Esta é uma obra de criação coletiva. Os personagens e situações citados nos textos ficcionais são fruto da livre criação artística e não se comprometem com a realidade.


7ª Edição Dezembro de 2014

BRENO RICARDO | ©MISERÁVEIS ALPERCATAS | 5 JULIANA BEN | ©CONFUSÃO DOS SENTIDOS | 11 SAT AM | ©O ESTRONDO DA TEMPESTADE | 13 MORGANA RECH | ©PIMENTA AOS (DES) BOCADOS: MAIS TRÊS RESPOSTAS DE ALBERTO PIMENTA|15 JOSÉ VIEIRA | ©A FRAQUEZA DO AMOR | 20 ERIC COSTA | ©REFÉNS PERPÉTUOS | 25 PEDRO BELO CLARA | ©RESTOLHO | 27 ANTONIO PEDRO CARNEIRO |©POEMA DE NENHUMA FACE | 28

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EDITORIAL A Subversa surgiu como um projeto despretensioso, cujo propósito se satisfazia, no princípio, em unir dois mundos que para nós, editoras, já não podiam ser vistos separadamente, dado que nós próprias nos sentimos irreversivelmente parte deste universo literário luso-brasileiro. Com a primeira edição em Agosto de 2014, nos surpreendemos diariamente com a atenção que a nossa revista desperta em autores e leitores dos mais variados meios. Tal recepção calorosa nos permitiu, já no segundo mês, evoluir para uma edição quinzenal, com o privilégio de ter um fluxo contínuo suficientemente bom para publicar dezesseis textos inéditos a cada mês, com relevância literária cada vez mais surpreendente. Hoje podemos dizer que a Subversa vem se fixando como um efetivo meio de comunicação literária entre autores portugueses e brasileiros, e que vem nos permitindo exercer e aprimorar a nossa tarefa de edição e análise e crítica de textos. É, sobretudo, uma grande aprendizagem: sobre ler, sobre escrever e o mais emocionante: entender um pouco mais das complexas questões que envolvem a paixão por escrever. Por isso, este editorial registra o nosso agradecimento a todos os colaboradores, parceiros, leitores e apoiadores, por permitir que a revista exista e nos confiar à responsabilidade de receber um material tão íntimo e ao mesmo tempo tão necessário de ser compartilhado. A vontade de evoluir e crescer ainda mais com o projeto nos faz acertar e errar a cada dia, porém é isso o que põe a Subversa neste processo de expansão crescente, com projetos em desenvolvimento relacionados ao aperfeiçoamento de autores, crítica e divulgação personalizada de seus trabalhos, entre outros. Nesta edição, um convite para um mergulho nas mais diversas profundezas da alma está em aberto. Aceita vir conosco? Boas leituras. As editoras.


MISERÁVEIS ALPERCATAS BRENO RICARDO JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS, BRASIL

Somos sete irmãos: Mateus, Marcos, Lucas, João, Tiago, Paulo e eu, José. Mamãe é muito católica, por isso deu-nos nomes da Bíblia. Junto a ela e ao papai, formamos a menor família de Vila das Dores. Vivemos em uma casa de pau-a-pique. Tal moradia é de apenas um obscuro cômodo, dividido em quarto e cozinha, por lençóis feitos cortinas. Não temos banheiro, mas uma fossa nos fundos de casa. De início, essa situação muito me incomodava. Os vizinhos, pouco a pouco, construíam casas de alvenaria com luz elétrica e lavabos ligados à rede de esgoto recém-chegada ao povoado. Contudo, minha família continuava naquela pocilga, com luz a velas e sem latrinas, apesar de trabalharmos bastante. Mais tarde, deixei de me preocupar com tais ninharias, não obstante estarmos gradualmente sendo excluídos da comunidade, devido à iminente miséria. Em nossa vizinhança, somente Sebastiana conversa conosco e nos convida à sua residência sem vangloriar-se de seus feitos nem olharnos como se olha os porcos que se chafurdam na lama. Seu olhar é de misericórdia. Parece querer fazer algo por mim, por meus pais e irmãos –

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mas desconhece a correta atitude a tomar... Os filhos de Sebastiana – onze ao todo – são boa gente. Eu sou mais amigo do Joaquim, o Joca, que tem a minha idade, quinze anos. Os seus irmãos mais velhos moram na capital e mandam dinheiro para a mãe. Entretanto, no meu caso, eu mesmo sou o mais velho e a despeito do desejo de me mudar para alguma cidade grande, não o faço por ainda ser um púbere. Na verdade sei me cuidar sozinho, mas os adultos, que se julgam entendidos, desentendem isso.

II De repente, à chegada, ao povoado, de uma loja que revende os mais diversos produtos novos, vindos da capital, as mulheres e crianças se apinharam à porta do estabelecimento. Quando esta se abriu, adentraram encantadas. Quantas luzes, quantas novidades! Era impossível distinguir o brilho das lâmpadas do brilho dos olhos desses novos consumidores. Minha mãe, Méuri (Na verdade era “Mary”, mas no cartório não souberam escrever), meus irmãos e eu, estávamos lá, também enlevados. Nas paredes havia fotografias da loja matriz. Percebi então o quão pequena era a filial de Vila das Dores. Havia também cartazes anunciando o “advento do crédito”. É como comprar fiado, no entanto, pode-se comprar mais, de acordo com a quantia de dinheiro posta em um cartão. Maravilhado, quis disparar-me por entre os corredores – não pude. Quis levar para casa alguns livros e brinquedos – fui de novo impedido. A escassez de recursos financeiros, pela primeira vez, fez-me gritar injúrias à vida e à pobreza (as quais eu não conseguia discernir). Um

guarda

vendo-me

embebido

em

tamanha

cólera

e

se

apercebendo das poucas condições de que dispunha, convidou-me a

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mim e à minha família a retirar-nos. Lá fora fui xingado por meus consanguíneos, enquanto voltávamos para casa. “Seu” Dantas, o papai, chegou à noite nervoso por ninguém o ter auxiliado na roça. Disse-nos que trabalharíamos em dobro até que pagássemos essa folga. Mas pouco nos importamos, tão deslumbrados estávamos com “a novidade”. Mesmo eu, que já conhecia esses estabelecimentos grandiosos por fotos e livros das grandes cidades, impressionei-me por estar num deles. Contamos, em meio a uma imensa algazarra, o que vimos e sentimos. Os olhos dele se iluminaram, mas falseou desdém antes que a luz lhe clareasse os lábios e o seu deslumbre aparecesse num sorriso. Desde então estamos cada vez mais entregues corporalmente à labuta e mentalmente à lembrança da maravilhosa casa comercial. Li que até os escravos descansavam, mas nós – não. Mamãe tem ido à roça e mesmo assim quando chegamos, o jantar está pronto. Desconheço o modo de ela fazer tal peripécia, se parece todo o tempo estar conosco. O fato, no entanto, é que ela a faz. Jantamos à mesa. O pai em uma ponta e a mãe à contrária. Nós, os filhos, nos sentamos às laterais. Comemos com garfo e faca. O papai nos ensinou etiqueta, para que não passemos a vergonha que ele passou quando esteve na capital. De acordo com ele, pessoas educadas comem assim e pobres não têm que ser deseducados. Toda essa finura, porventura, também seja motivo de a comunidade afastarse de nós, eu acho, mas o papai disse que são todos um bando de invejosos, isso sim! (E enfatizou o “isso sim!”). Só me pergunto de quê, ao certo, as pessoas têm inveja. Seria mais lógico nós termos inveja delas... Mamãe nos disse que aprendeu tais trejeitos da elite, quando estudou na Escola Normal, numa cidade próxima à vila. Ia a pé todos os dias. Chegava, por vezes, enlameada – mas, obstinadamente, ia. Lá, as poucas amigas dela mostraram-na a forma correta de comer, andar,

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sentar, falar, etc. Mas estas, ao fim do curso, voltaram às suas cidades. Mamãe continuou em Vila das Dores, mas nunca lecionou, porque se casou e engravidou. Findo o jantar matutei com meus botões: “Talvez o súbito trabalho intenso tenha alguma ligação com a loja...” Porém não pude ainda estabelecer uma ponte firme entre os dois fatos e não tenho coragem de perguntar ao papai. Ele não gosta de perguntas.

III Chega a véspera do Natal. Estamos extasiados de tanto trabalho. Inexiste melhor presente que o descanso. Graças a Deus pudemos dormir até tarde. Levantamos, os caçulas e eu, por volta das 10h e almoçamos. Foi-nos liberado o recreio. Aproveitei para continuar as leituras outrora estacionadas. Li no jornal que a grande loja é um “hipermercado” e que fora organizada na vila, porque estão construindo um condomínio fechado aqui perto. São “casas de campo”. Por isso, também instalaram luz elétrica e rede de esgoto na região. Como os ricos querem descansar da cidade, trazendo-a para o campo? Realmente é-me ignoto o que eles procuram por essas bandas de Vila das Dores. Será que não sabem que aqui é, provavelmente, o fim do mundo? À noite, a mesa estava posta com esplêndido louvor. Havia comidas caras que sobre ela eu nunca vira, já que era frequentada somente por arroz, feijão e farinha – quando muito, umas salsichas... Os caros alimentos foram preparados por Sebastiana, que entendia de cozinha, por ter sido, quando moça, cozinheira em casa de um magnata. Junto aos oito filhos que moravam com ela, ceou conosco. Mamãe só sabia cozinhar a costumeira gororoba, que já não

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julgávamos boa ou ruim – apenas nos habituamos a ela. À 0h, fomos à árvore de natal: um pinheiro de plástico, de igual modo, novo. Geralmente, nessa época, cortávamos uns galhos de uma angiosperma qualquer e isso se tornava a nossa árvore de natal, onde debaixo nada se via senão o próprio chão de terra batida. Como em dezembro essas árvores frutificavam, os troncos e galhos se enchiam de formigas. Então, assim que passava o natal tirávamo-la rapidamente de casa, antes que se infestasse toda ela. Todavia, dessa vez havia presentes, como nos cartazes e nós os abrimos ansiosos. Eram alpercatas! Todos tínhamos a partir daí com o que nos calçar! Foi uma alegria geral! Tamanho júbilo, infelizmente, pouco durou. A vizinhança que nos tratava com hipocrisia e hostilidade, passou a ignorar-nos totalmente. Se primeiro éramos demais sujos para estar com eles, agora, éramos demais soberbos. “Eles têm sandálias novas e boa comida, estão construindo uma nova casa de alvenaria, e se acham por isso! Não os suporto!”, diziam. No entanto, mantivemos o caráter. Trabalhávamos demasiado muito. E nas folgas, construíamos a nova casa, inspirada em uma foto que vi das casas da cidade grande. Até as crianças menores ajudavam carregando, mesmo que um tijolo por vez. Eu não lia mais – era-me falto o tempo. Estava feliz, porque via a ignomínia da pobreza ir-se de mim; contudo a tristeza me assaltava quando de modo vil me ignoravam os passeantes na rua. E desentendia o porquê, apesar de sabê-lo. Terminada a edificação, vimo-nos endividados. O temor, que sempre

impedira

meu

pai

de

ousar

e

investir,

consolidou-se.

Empolgados, gastamos mais do que permitiam nossas posses. A nova casa, na rua principal da vila, rua tal que dava acesso ao futuro condomínio – essa casa foi por nós, pouco tempo habitada. A pressão da loja para que as dívidas fossem quitadas, culminou na venda – e

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voltamos ao barraco de pau-a-pique. Esse regresso foi demais trágico e humilhante. Os comentários fervilharam por todo o pequeno povoado. Mantivemo-nos exclusos da comunidade que aceitava somente os “iguais”. Fôssemos mais ricos ou mais pobres que a maioria – não importa – qualquer disparidade seria motivo de angústia. Não tínhamos a quem recorrer, pois até Sebastiana, com seu olhar se misericórdia, se foi com seus filhos para a capital.

IV Em nossa casa está proibido falar “na loja”. Com muito trabalho, continuamos a sobreviver como dantes do aparecimento desta. As alpercatas estão estragando. Li que os produtos novos não são feitos para durar, mas para que se comprem outros mais recentes rapidamente. Contudo, estamos sem posses e em breve voltaremos a andar descalços, machucando a sola dos pés nas pedras soltas pelo caminho, como as pedras da pobreza e da miséria machucam o nosso espírito e desanimam o nosso coração.

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CONFUSÃO DOS SENTIDOS

JULIANA BEN PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

A voz revela traços essenciais da personalidade feminina Por ela São ocultadas e desveladas Todas as emoções do mundo A voz feminina é a mãe de todas as vozes Uma poesia. Luzia a escrevera esta manhã, ao acordar. Havia sonhado com sua voz vagando pelo universo. Estava orgulhosa. De sua poesia, pois de sua voz, já o era antes. Contudo, esperava a aprovação do marido. - Gostaste José? Fui eu que compus. O marido permanece calado e a olha de maneira distinta. - José! Estou falando contigo, me ouves? José responde sem voz:

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- Não mais te escuto, mas sim, falo com os ouvidos, não me escutas? - José, não me olhes assim, responda, gostaste da poesia? - Luzia – a voz não lhe sai pela boca. A mulher, inconformada com a atitude do marido, insiste: - O que há contigo José? Estás mudo? Não. José não está mudo. Apenas tenta se comunicar de uma outra forma, um pouco sinestésica talvez, mas uma nova forma. Luzia está surda. Surda pela voz. Voz da qual tanto se orgulha. Voz que inspirou sua poesia. Ela se embravece e corre para o quarto. Atira-se na cama, soqueia as almofadas de cetim púrpura, que pousam sobre o leito do casal, e cai em prantos. Chora compulsivamente. Está surda e cega. Acha que o marido não a escuta. Ou pior, que a escuta, mas não dá importância. Ou pior ainda, que se importa, mas não gostou da poesia e não quis confessar isso a ela. Passada meia hora, José vai até o quarto. Senta na cama, toca o ombro nu da mulher, que vira o rosto em sua direção. Ele a fita profundamente e a envolve nos braços. Aquele abraço dura a eternidade que o momento permite. E conforta. E acalma. E acalenta. Agora ela o escuta. Como nunca o havia escutado antes. Então ele repete, dessa vez com o olhar, a primeira frase que havia dito com os ouvidos, logo que Luzia acabara de recitar seu poema: - Sua voz é linda, minha Luzia. E sua poesia, mais ainda.

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O ESTRONDO DA TEMPESTADE SAT AM CURITIBA, PARANÁ, BRASIL

Lá, na tempestuosa colina de um fulgor inominável. Lá, entre emaranhadas e tenebrosas árvores de um horror incondicional, Onde as chamas tocam o céu, e o céu se perde no vasto paraíso. Lá, onde a imensidão do nada e o abismo se encontram, Como em um romance infernal... Carnal aos ouvidos ditos. Lá, onde os raios rasgam grossas nuvens cinza perpetuadas por um lúgubre fugaz, Onde as estrelas perdidas do firmamento se unem em um baile profano, Cheio de uma total falta de bondade e benevolência aos homens considerados de bem, Onde o vento frio, gélido e repugnante de um norte esquecido, Percorre o corpo dos guerreiros lobos, esperando o retorno de seu rei.

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E ao longe o estrondo... O baque inumano do raio diabólico, O último gole de fôlego diante da tempestade espectral, O último suspiro diante de um abismo de tenebruras abissais, O último vislumbre de um horizonte negro rasgado pelo poder incondicional. Lá, onde deixamos nossos sonhos de lado, E nos deparamos com a incondicional verdade. Lá, onde as imagens de um reino perdido e esquecido em meio a neve, Força-nos a repensar quem somos ou seremos, Para onde aqueles que se esqueceram de sorrir serão enviados. E ao longe o estrondo... Como o martelo de um ferreiro batendo contra a espada em brasas, Como o forte bradar das asas de corvos, Como a voz firme do pai zeloso a seus filhos. A tempestade que traz a nova sorte aqueles que vivem na "terra dos vivos" Perdidos...

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PIMENTA AOS (DES)BOCADOS II: MAIS TRÊS RESPOSTAS DE ALBERTO PIMENTA MORGANA RECH PORTO ALEGRE, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

Já contei na primeira edição da revista Subversa, que em meados de 2013, desci do comboio na estação Santa Apolônia, em Lisboa, para encontrar Alberto Pimenta. Relembrando hoje, a cena mais parece um filme. A jovem estudante que passa quase um ano lendo os livros do poeta, tem a chance de finalmente encontrá-lo pessoalmente. A surpresa de ser recebida na estação por Alberto Pimenta foi o suficiente para saber que aquela não seria apenas uma entrevista, mas o início de uma conversa que até hoje influencia alguns pensamentos que tenho em relação à posição da literatura e do artista neste mundo. Por serem as três respostas de Alberto Pimenta (das nove que o poeta me respondeu com a precisão de uma espada de Tai Chi) das linhas mais lidas da nossa revista eletrônica, nada mais justo do que compartilhar com o leitor o que mais aconteceu naquela tarde:

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MR - O que é mais poético, o instante em que surpreende o Homo Sapiens refletindo-lhes a própria imagem na jaula, ou o texto que escreve depois com os comentários que ouviu? A. Pimenta – Creio que poético é um conjunto, das duas coisas. Creio que só uma sem a outra não seria… só a exibição do Homo Sapiens para outros assim sem mais, seria um mero ato circense - o que tem o seu encanto – mas não é poético ainda, é um ato incompleto, tão incompleto que a questão será… mas o que é isto? Indefinidamente todos perguntarão o que é isto. Agora… é definitivo? Não é? Um homem estar dentro da jaula, e como… Agora acrescentando a isso o que uma série de gente anônima que vai ao jardim zoológico ver animais diz perante esta circunstância… temos a dialética perfeita da criação e da receção. Algo de inesperado, algo que quer ter um sentido e que ele adquire nesse momento, no momento em que há uma certa receção, uma certa expressão dessa receção. Então o poético é essa totalidade, e só poderia ser naquela circunstância até em certo ponto real que se chama jardim zoológico. Ou seja, isto feito numa galeria não tinha absolutamente nada de poético… tinha de artístico sim…que é uma coisa diferente… era um ato de artista… Construir uma jaula numa galeria e meter-se lá dentro da jaula, é uma forma artística… uma forma de criação de arte, de estética artística, mas não era poético ainda, não era… Não dava a reação que este deu…. isto teria de ser… só é o que é, sendo de fato numa jaula de jardim zoológico real, embora sabendo depois ou muitos não sabendo exatamente se de fato o homem está compulsivamente ali ou não. Isso é importante. Mas tem que ser alí, de forma que há de fato uma certa angústia em relação à categorização estética de espetáculos onde há a ilusão da prisão, onde há ilusões desse tipo, que são ilusões que duram um espaço… que são metáforas, isso são metáforas. Isto não foi uma

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metáfora, a diferença está nisso, é que aqui não há metáfora nenhuma… aqui há um homem dentro de quê? Duma autêntica jaula… Um homem autêntico dentro duma autêntica jaula dum autêntico jardim zoológico, que é isto? Voilá. MR - Vê algum ponto em comum entre as políticas do sexo e as políticas do literário? A. Pimenta - Há aqui na maneira de pôr a questão uma outra questão… uma questão que de fato, talvez não seja uma questão ((risos)). Eu agora vou ficar em volta disto… uma questão que talvez não seja uma questão para muita gente, mas para mim é uma questão… que é o de falar de política do sexo e de política do literário… ou políticas… Política do sexo em termos literais entendo por exemplo as leis… leis que regulam idades em que é permitido ter sexo, considerando o sexo como um ato, como direi? Um ato fácil de definir, ou um ato elementar numa certa natureza. Leis que consistem portanto nisso, leis que consistem em definir sexos, formas de sexo permitidas e formas não permitidas… ainda num certo limite leis do aborto, já num limite um pouco já ligado a outro aspeto… até aí eu posso falar de políticas do sexo, só nesse aspeto, não é? Nesse aspeto de consideração dos autores das leis, daqueles que fazem as leis, fazem as leis para que o sexo, aquele sexo normativo, aquele sexo que significa uma certa penetração dum órgão num outro órgão mais nada, nem menos nem mais, só isso. E políticas do literário já tenho que entender doutra maneira porque não há legislação sobre o literário a não ser eventualmente uma legislação geral, não sobre o literário mas sobre a escrita… sobre o texto… com limites ao que pode ser dito e o que deve ser censurado… o que não pode ser dito. Bom e então, tentando agora ligar ou desligar as coisas ficam complicadas. Ligar o sexo ao literário

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em si é uma coisa, ligar as políticas do sexo às políticas do literário é outra, não me parece muito produtivo sequer… a não ser que consideremos que no literário a censura em si essencialmente incide preferencialmente em descrição do sexo ou… elogio dum sexo que a lei não permite, portanto em contradições entre a atitude do literário em relação ao sexo, com a legislação sobre o sexo. Nesse sentido então acho que estamos mais em domínios do legislativo, da legislação, do que noutro. Não estamos num domínio do ((interrupção)). Especificamente tudo o que há de sensual… eu prefiro o sensual, o sexual é sensual, sensorial, sensual no ser humano e a sua manifestação literária, já não estamos exatamente nesse domínio, estamos no domínio da legislação em vigor. Bom legislação não a quero discutir porque acho que legislações não vale a pena discuti-las porque seriam todas tão discutíveis… desde as primeiras… as primeiras da Bíblia são as primeiras legislações… ou antes ainda… as de Hamurabi na Suméria… não são muito diferentes das de hoje… isso é que é curioso. E não vale a pena discutir aquilo que não nos diz respeito, isso não me diz respeito, pode me abranger, claro, posso ser abrangido mas não me diz respeito… eu não me interesso… pela mente de pessoas que fazem leis… ESSE TIPO DE PESSOAS NÃO ME INTERESSA. Agora, deixando portanto isso… se o literário, portanto mais que o poético, o literário em geral… está a tentar, quer, deseja, procura simbolicamente pelas palavras que lhe foram dadas, lhe foram dadas logo ao adquirir uma língua, ou duas ou três, as palavras que lhe foram dadas para conhecer o mundo... se eu quero usá-las de uma maneira tal que, inovando a relação entre elas, que defina aquilo que normalmente não está definido em lado nenhum que é o desejo, que é o móbil que está por trás, aqui está dito sexo… um desejo fundamental, um desejo fulcral, um desejo de raíz, radical nesse sentido, então sim… então a ligação é muito importante porque sendo o sexo talvez um móbil radical do

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desejo

humano,

do

desejo

de

existência…

que

se

procura

precisamente na legislação fazer desaparecer, apagar, reduzir só à utilidade… se esse desejo é de fato um grande móbil da existência humana… então a literatura não pode ser outra coisa senão uma forma variada de ir procurar essa raiz do desejo que orienta o ato do ser humano… e duma e doutra maneira o literário com raras exceções é aí que vai ter e é em volta disso que se move… nessa raiz de desejos que leva à toda espécie de atos que nós conhecemos por parte do homem. Então sim, então a relação é total. MR - Das inversões que trabalha sob a via do pensamento filosófico da negativa, qual a mais importante para si, hoje em dia? A. Pimenta – Há aqui uma referência implícita à teoria da negação crítica de Adorno. Negação de quê? Negação de que a teoria, a palavra, a arte sobretudo, seja uma solução de qualquer espécie… A maior parte da arte no momento em que se identifica com o sistema está a negar-se a si mesma, porque a função da arte é sair do sistema, pôr em causa o sistema e CRIAR valores diferentes do sistema. A negação principal é essa… se a arte não faz isso, se a arte em tudo o que nos dá está dentro do sistema, acho que não interessa.

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A FRAQUEZA DO AMOR

JOSÉ VIEIRA SANTA CRUZ, PORTUGAL

Chove lá fora. Estou junto à janela a beber o habitual chá de camomila e penso. Penso em tudo o que passou e o que levou a que estivesse assim… Sozinha e com uma gata! Refugiei-me nesta minúscula casa, longe da cidade, nesta vila onde ninguém me conhece. Da casa vislumbro a vasta planície com a enorme plantação de vinha. Esta casa, que escolhi para libertar o meu coração das amarras que o prendem, pertencia a um velho solitário que aqui nasceu e aqui morreu. Nunca saiu daqui, nunca teve mulher e nunca deixou de viver. Os locais dizem que já teria mais de cem anos quando faleceu. Costumava todos os dias visitar a plantação de vinha. Era o seu

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trabalho. Há décadas que laborava para a família proprietária da vasta Quinta dos Cardais. Um dia o seu cão desapareceu. O velho, possivelmente, andou à procura, sem sucesso. Provavelmente não aguentou o desgosto e faleceu. Dizem que o cão era o seu único amigo. Por vezes, quando deambulo pela casa fico a pensar como seria a vida desse homem. Sozinho a viver com um cão, nesta pequena habitação com um belo jardim de hortênsias e o horizonte a perder de vista. Não tinha ninguém. Quando morreu ninguém na vizinhança se apercebeu da sua ausência. Cada um encontrava-se vidrado no seu mundo e o velho não permitia que ninguém se aproximasse de si. Só quando deixaram de ver o cão, a deambular pelos campos, é que acorreram até esta casa e encontraram-no morto. Pelo que as mulheres contaram, quando cá cheguei, o velho encontrava-se numa cadeira junto a janela a olhar para o extenso planalto. Encontrava-se, muito provavelmente, onde estou agora a beber o chá e a olhar o horizonte. Hoje, o céu cinzento adivinha intensa precipitação. Consigo ouvir o rugir do vento batendo contras as árvores. A gata enroscasse na manta, que tenho sobre as pernas. Adormece, enquanto continuo a olhar lá para fora. Nada a apoquenta. A sua respiração torna-se mais lenta e profunda. A gata dorme e eu continuo a olhar para o horizonte. Um relâmpago irrompe nos céus e um grande clarão alastra pela janela, iluminando todos os cantos e recantos. A gata continua a dormir. Está serena. Algo que me causa um pouco de cobiça. Como eu desejava que a minha vida fosse assim… Uma leve brisa de Primavera que apazigua. Penso no velho. Estava sozinho como eu. Medito sobre a sua vida e como rumou a esse estado de solidão. Não encontro respostas às minhas inquietações.

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No outro dia num antigo baú, que se encontra junto à lareira, encontrei várias cartas. Eram cartas de amor. Cartas escritas, pelo velho, para uma mulher. A escrita era elegante. Denotava-se sentimentos puros e verdadeiros. O inquietante é que pareciam escritas para alguém que nunca as recebera. Entre as cartas, um retrato, a preto e branco, de uma jovem. Era bela! Devo dizer que nunca vira mulher com tamanha beleza, como aquela. No verso podia ler “não deixes de amar apesar do que aconteceu”. Lá fora começa a chover. A gata acordou, espreguiçou-se e foi a correr para debaixo das almofadas no sofá. Arrefece! Coloco na lareira lenha a arder. Aos poucos o cheiro e o som da combustão começam a notar-se. A sala aquece. O dia será assim, chuvoso e ventoso. Não admira é fim de Outono. Quando cheguei a esta casa era Primavera. A pequena moradia estava à venda por uma ninharia. O velho não tinha família. Mas mesmo que tivesse descendência, estes não ficariam com a habitação já que pertencia aos senhores da quinta. Continua a chover! A frase que li no verso do retrato ainda ecoa na minha mente. Inquieto-me! Penso no que terá sucedido para que aquela bela mulher tivesse escrito aquelas palavras. Fantasio com a sua história! Estariam enamorados um pelo outro. Seriam jovens e com inúmeros sonhos para a vida. Sonhos a dois! Amavam-se às escondidas dos olhares reprovadores dos progenitores e da vizinhança, que não estavam habituados a demonstrações de carinho. Um amor proibido, possivelmente. Imagino um casal que fugia a qualquer norma imposta. Uns rebeldes, para aquelas gentes, contudo verdadeiros à sua essência. No entanto interrogo-me o que terá sucedido para que a jovem deixasse aquela mensagem no verso da fotografia. O que terá corrido

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mal e que não permitiu que aquele amor vingasse? O amor deveria ser suficiente. Devia bastar para suportar qualquer infortúnio, que surgisse no caminho daqueles que amam. Sentada junto à janela, vislumbro a vasta planície e imagino os dois jovens a correr por estes terrenos sem fim. Ouço palavras e risos trazidos pelo vento. Escuto murmúrios apaixonados e promessas de amor eterno. E de repente o silêncio. O vento levou tudo consigo. Deixo de ver os jovens e apenas terra árida e seca, com fracas videiras a tentar, a todo o custo, dar fruto. Não há qualquer sinal de amor. A terra parece infértil num longo processo de aridez. Não há sinal dos jovens. Já não estão juntos. Um dia ela chega a casa e descobre que irá partir para a cidade. Vai para longe porque os pais não querem aquele romance. Ele é demasiado pobre para ela. Não lhe dão alternativas, ou parte para junto da tia ou será deserdada e esquecida. O amor deveria ser forte e ela permaneceria ao lado do seu amado, independentemente das dificuldades. Ela sempre fora mais racionalista que ele e por isso sabe que não aguentará viver assim. Com o passar do tempo sabe que o enamoramento cessará perante as vicissitudes da vida. Ela sente e sabe que não será capaz de manter a chama acesa quando não tiver comida na mesa, roupa para se cobrir ou contas para pagar… Porque estarão reduzidos à pobreza. Ela escolhe partir mesmo amando. O coração vai despedaçado! Nem se despede. Pede ao irmão que entregue a carta com a fotografia deles. Não tem coragem. Faltam as forças. Sabe que se o ver não conseguirá ausentar-se e o futuro não será nada agradável, para ambos. O amor é forte mas as desventuras irão miná-lo e estragar algo belo e puro. Ela parte para poderem ser felizes. Ele fica. Recebe a carta e a fotografia. A foto guarda no fundo do baú. E a carta? Recusou ler e queimou? Imagino a luta interior daquele homem. Anseia por respostas

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às suas inquietações. Porquê terá ela partido? Amava como dizia? Onde ficou o amor? Quando começou o fim? O que aconteceu com eles? Sente o coração bater a um outro ritmo, mais acelerado. As mãos começam a tremer. Calafrios percorrem o seu corpo. E um suor frio teima em descer-lhe pela testa. É nervosismo, é tristeza é fúria! Rasga o envelope, abre a carta e lê. As últimas palavras da amada! Não acredita. Não quer acreditar. Voltar a ler e a reler. Não encontra sentido naquela justificação. Aquele acto irracional não é coerente para ele. É decepção,

raiva

e

incredulidade.

Todo

o

corpo

vibra.

Vários

sentimentos e pensamentos assolam ao seu ser. Por instantes não sabe quem é e onde está. Por momentos perde a sua identidade. Passado e presente deixam de existir. Naquele pequeno ápice a sua dor desaparece, porque ela não existe, ele não existe e eles nunca se encontraram. Contudo o sofrimento regressa de rompante e começa a atormentá-lo. No início uma pequena dor que magoa apenas quando se recorda, por fim uma dor intensa a toda a hora. Não sai do pensamento. Sente que perde a sanidade. A pequena sala vislumbra o que parece um furação. Em segundos está destruída e ele ofegante. Sentado no chão olha para as mãos, que um dia acariciaram a amada, e vislumbra sangue. Chora! As lágrimas percorrem a sua face. Está só… Inevitavelmente só! Ela abandonou-o em prol de uma vida desafogada. O amor não bastou! Imagino

que

nem

ele

nem

ela

tiveram

outros

amores.

Permaneceram fiéis, longe do olhar de cada um. Não foram felizes. Não era para serem! Anoitece e lá fora os últimos raios de sol despontam no horizonte. Imagino o velho nesta casa, sozinho, apenas com a companhia do seu cão. Sinto a sua tristeza e a sua solidão, dia após dia. A sua dor esta presente nestas quadro paredes… A dor de um coração partido. A dor de um amor que fora fraco.

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REFÉNS PERPÉTUOS

ERIC COSTA SÃO LUIS, MARANHÃO, BRASIL

Que é a vida senão a busca incessante por um emplastro BrásCubas? Aquele mesmo: o de alívio imediato às dores do corpo e sobretudo às da alma. Que é a busca de muitos por glórias e aplausos além de um mero convite a se tomar de assalto os ventos carregados das enfermidades de corpo e alma? Ah , mal sabem estes que a vaia é mil vezes mais nobre, forte e engrandecedora! Ainda que esta ora entre pelos ouvidos ora, como quase sempre nos introspectivos, seja de dentro da própria consciência, como um barulho do diálogo entre o pensar e o sentir. É nobre, mesmo que seja a estrondosa vaia da inteligência contra CANALSUBVERSA.com

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a emoção. Diálogo que nada! Dicotomia muito menos. Pensar e sentir precisam um do outro, mas quase sempre guerreiam. Hoje é apenas mais do mesmo. Os muros da mente estão falando alto. Alto demais. Caos. E dele ao menos a criação. A literatura e a música, além de nos fazerem pensar o pequeno dia-a-dia, levam-nos a escavar, para a ordem, desordem e surpresas desagradáveis, o próprio eu, além de criarem personagens e questionamentos atemporais a partir de recortes específicos de outrora e de diálogos entre realidade e ficção. Livros de outros tempos falam tantas vezes mais a respeito da mente conturbada dos fiéis leitores e de sua visão de mundo do que de seu próprio eu-lírico. Não é questão de desconfiar disto. É crer plenamente. Machado, que era de Assis. Nelson, que era de Rodrigues. Humberto, que é de Gessinger. Seres verbais. Logo, eternos. A palavra, quando “pega”, é aplicável para sempre. Nossos sonhos humanos são os mesmos há muito tempo. Os problemas também. Sempre existiram. Nenhum deles é o primeiro ou último acorde. Todos são quase sempre refrão. Vão e voltam ao sabor de si. Que liberdade eles têm, não? Inveja justificada. Somos apenas quase livres. Ora, isso é pior que a prisão. Apropriado: na gaiola psicológica, somos os presos. E os livres problemas, os carcerários com suas chaves. As chaves nos próprios problemas! Tá aí a solução! Ocorre que o braço e o pensamento, você sabe, às vezes são curtos demais. Somos detentos. Reféns perpétuos de nosso próprio eu. Do caos, vem a criação. E não é que deu certo? A inspiração é de linhas tortas até demais. Às vezes, é bem melhor que ela não venha.

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RESTOLHO PEDRO BELO CLARA LISBOA, PORTUGAL

Seriam cristais os teus olhos de pássaro? Gemas de fino corte em fundo de marfim ou virgens rosas abrindo num canteiro em flor? As mãos em abandono: neve liquefeita em lenta expansão pela nudez dos corpos? Só teu beijo dardeja ainda flamejante no sereno êxtase dos lábios dormentes.

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POEMA DE NENHUMA FACE

ANTONIO PEDRO CARNEIRO RIO DE JANEIRO, RIO DE JANEIRO, BRASIL

Meu coração segue couraçado. Meus sonhos seguem atados Ao chão. Meus dias seguem andando na contramão. Ainda durmo de lado (Pra manter o equilíbrio na hora de sonhar; vide o segundo verso). Ainda vivo pensando na morte. Ainda escrevo o que não faço.

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Responsáveis técnicas: MORGANA RECH E TÂNIA ARDITO

Recepção de originais: CONTATO.SUBVERSA@GMAIL.COM Diretrizes para publicação: WWW.CANALSUBVERSA/DIRETRIZES

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