Descomplicando o Estudo da Fisiologia Humana

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Nilva Lúcia Rech Stedile (Organizadora)

Descomplicando o Estudo da Fisiologia Humana

1a edição – 2020 Porto Alegre – RS


Os autores e a editora se empenharam para dar os devidos créditos e citar adequadamente a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material u lizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos posteriores, caso, involuntária e inadver damente, a idenficação de algum deles tenha sido omi da. Todas as fotos que ilustram o livro foram autorizadas para publicação e uso cien fico pelos pacientes e/ou familiares na forma de consen mento livre e informado, seguindo as normas preconizadas pela resolução 466/2012, do Conselho Nacional de Saúde. Diagramação e capa: Formato Artes Gráficas Revisão de Português: Lisiane Andriolli Danieli Imagem de capa: Shu erstock Id:116156647 Ilustrações : Fernanda Meire Cioato 1ª Edição – 2020 Todos os direitos de reprodução reservados para

É proibida a duplicação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, em quaisquer formas ou por quaisquer meios (mecânico, eletrônico, fotocópia, gravação, distribuição pela internet ou outros), sem permissão, por escrito, da MORIÁ EDITORA LTDA. Endereço para correspondência: Av do Forte, 1573 Caixa Postal 21603 Vila Ipiranga – Porto Alegre /RS CEP: 91.360-970 – Tel:51.98604.3597 moriaeditora@gmail.com www.moriaeditora.com.br

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Descomplicando o estudo da fisiologia humana / Organizadora: Nilva Lúcia Rech Stedile. - Porto Alegre: Moriá, 2020. 445 p. : il. ISBN: 978-65-86659-01-6 1. Fisiologia I. Stedile, Nilva Lúcia Rech NLM QT104 CATALOGAÇÃO NA FONTE: RUBENS DA COSTA SILVA FILHO CRB10/1761


Organizadora

Nilva Lúcia Rech Stedile – Enfermeira. Pós-doutora no Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde do ICICT/FIOCRUZ. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), SP. Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSC), SP. Especialista em Saúde Pública e em Gestão e Liderança Universitária. Docente do Curso de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde e do Mestrado Profissional em Engenharias e Ciências Ambientais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS.


Autoras

Asdrubal Falavigna Médico. Neurocirurgião. Doutor em Neurociências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), SP. Mestre em neurocirurgia pela UNIFESP. Coordenador da Pós-graduação Stricto Sensu em Ciências da Saúde da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Docente do Curso de Medicina da UCS. Carolina Travi Canabarro Medica. Mestre em Ginecologia e Obstetrícia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Residência Médica em Ginecologia e Obstetrícia e Ginecologia Oncológica pela Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA), RS. Instrutora do Programa de Residência Médica de Ginecologia da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e do Hospital Ernesto Dornelles (HED). Consultora Médica de Projetos no Hospital Moinhos de Vento (HMV), no Programa de Apoio ao Desenvolvimento InsƟtucional do SUS (PROADI-SUS). Dagoberto Vanoni de Godoy Médico. Pneumologista. Mestre e Doutor em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Docente adjunto do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS.


viii Autores Eleonora Bedin PasqualoƩo Médica. Doutora em Ginecologia pela Universidade de São Paulo (USP), SP. Docente da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Pesquisadora II CNPq. Diretora da Clínica ConcepƟon – Centro de Reprodução Humana de Caxias do Sul, RS. Elisa Braun Rizkalla Medica. Monitora concursada do laboratório de neurofisiologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Fabio Firmbach PasqualoƩo Médico. Mestre e Doutor em Urologia pela Universidade de São Paulo (USP), SP. Docente da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Pesquisador I CNPq. Diretor da Clínica ConcepƟon – Centro de Reprodução Humana de Caxias do Sul, RS e Chapecó, SC. Gregory Saraiva Medeiros Médico. Mestre e Doutorando pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), RS. Especialista em Medicina Interna pelo Hospital Nossa Senhora da Conceição (GHC), RS. Residência pelo serviço de Medicina Intensiva do Hospital Moinhos de Vento (HMV), RS. Plantonista e Consultor Médico de Projetos do HMV. Médico plantonista do Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Mãe de Deus (HMD). Instrutor da American Heart AssociaƟon, vinculado ao Centro de Treinamento e Simulação de Emergências Médicas (CTSEM), para os cursos de Advanced Cardiac Life Support (ACLS) e Basic Life Support (BLS). Lucas Fürstenau de Oliveira Bacharel com Licenciatura em Ciências Biológicas com ênfase em Bioİsica. Mestre e Doutor em Ciências Biológicas: Neurociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), RS. Docente adjunto do Centro de Ciências Humanas da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Lucas Piccoli Conzaƫ Médico. Plantonista no Pronto Atendimento 24h do município de Caxias do Sul, RS Residente de Neurologia do Hospital São Lucas da PonƟİcia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), RS. Maria da Graça SanƟ Enfermeira. Mestre em Ciências da Saúde: cardiologia, pela Fundação Universitária de Cardiologia, InsƟtuto de Cardiologia do Rio Grande do Sul (IC-FUC), RS. Pósgraduada em Administração e Planejamento para Docentes pela Universidade


Autores ix Luterana do Brasil (ULBRA), RS. Proficiente em Hematologia e Hemoterapia pela Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia. Docente da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Nilva Lúcia Rech Stedile Enfermeira. Pós-doutora no Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde do ICICT/FIOCRUZ. Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), SP. Mestre em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSC), SP. Especialista em Saúde Pública e em Gestão e Liderança Universitária. Docente do Curso de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde e do Mestrado Profissional em Engenharias e Ciências Ambientais da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Scheila dos Santos Cardoso Médica. Plantonista do Hospital Geral (HG) de Caxias do Sul, RS. Monitora concursada do laboratório de neurofisiologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Pedro Guarise Médico. Monitor do Laboratório de Neurofisiologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS. Olívia Egger de Souza Médica. Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Cirurgia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), RS. Título de Especialista em Otorrinolaringologia da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial. Fellowship na área de Cirurgia PlásƟca Facial em andamento no HCPA. Residência em Otorrinolaringologia no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), RS. Monitora do Laboratório de Neurofisiologia da Universidade de Caxias do Sul (UCS), RS.


Sumário

Apresentação ...................................................................................... 13 PARTE I Bases Gerais da Fisiologia Humana

1

Organização do Corpo Humano e Processos Fisiológicos Básicos...................................................... 17

2 3 4 5

Mecanismos de Transporte pela Membrana Celular ................... 35 Potenciais de Membrana ............................................................. 65 Neurotransmissores e Receptores ............................................... 85 Contração Muscular ..................................................................... 103 PARTE II Fisiologia dos Sistemas de Regulação: Nervoso e Endócrino

6 7 8

Sistema Nervoso........................................................................... 129

9

Sensações Somá cas e Fisiopatogenia da Dor ............................. 215

Sistema Nervoso Central .............................................................. 157 Aprofodundando as Funções Motoras do SNC (Cerebelo de Núcleos da Base) e as Funçõe Cor cais................................... 195


xii Sumário

10 11 12 13

Sistema Motor e Reflexos Medulares........................................... 223 Sistema Nervoso Autônomo ........................................................ 233 Sistema Nervoso Periférico .......................................................... 249 Sistema Endócrino........................................................................ 289

PARTE III Demais Sistemas Orgânicos

14 15 16 17 18 19

Fisiologia Cardiovascular .............................................................. 313 Fisiologia Respiratória .................................................................. 343 Fisiologia Digestória ..................................................................... 375 Fisiologia Urinaria......................................................................... 413 Fisiologia Reprodu va Feminina .................................................. 423 Fisiologia Reprodu va Masculina ................................................. 435


PARTE I Bases Gerais da Fisiologia Humana


1 Organização do Corpo Humano e Processos Fisiológicos Básicos Nilva Lúcia Rech Stedile

Fisiologia humana é a ciência que estuda a forma como o organismo funciona, ou seja, é o estudo da matéria viva. Tenta explicar os mecanismos e caracterísƟcas específicas do corpo humano. Para entender esta complexidade é importante explicitar como o organismo se consƟtui e seus mecanismos básicos de funcionamento, os quais exigem um comparƟlhamento do corpo humano. No entanto, esse comparƟlhamento visa apenas facilitar o entendimento, uma vez que o organismo é e reage como um todo indivisível e interdependente. Assim, embora consƟtuído de bilhões de células, com caracterísƟcas e funções diferenciadas, há uma contribuição comparƟlhada, sincronizada e arƟculada, que faz o organismo reagir integralmente a qualquer esơmulo que pode comprometer seu equilíbrio interno e externo.

ORGANIZAÇÃO DO CORPO HUMANO O corpo está organizado por meio das estruturas que o compõe. Resumidamente, pode-se dizer que o corpo é composto de unidades funcionais chamadas células, as quais se organizam em tecidos, órgãos e sistemas, conforme quadro abaixo. O organismo humano é uma junção de tudo isso.


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Nos cinco exemplos o feedback (observe as flechas) ocorre no senƟdo de reverter o esơmulo inicial que pode ser considerado prejudicial a vida. Pode-se afirmar que as funções fisiológicas (pressão sanguínea, respiração, secreção e excreção de substâncias, concentração de hormônios, entre outros) são manƟdas mediante este mecanismo. Portanto, feedback negaƟvo é um sistema de controle que faz, quando algum fator esteja excessivo ou deficiente no organismo, ele retornar ao seu valor médio determinado, mantendo assim a homeostasia. Dito de outra forma: é a reação pela qual o sistema responde de modo a reverter a direção da mudança, conforme mostrado no esquema abaixo. Esơmulo prejudicial

Alteração do processo fisiológico

Reação do organismo para reverter o esơmulo e anular o esơmulo prejudicial

Figura 3. Sequência de eventos no feedback negaƟvo.

Entre os órgãos e as estruturas considerados mais importantes como homeostáƟcos pode-se citar o líquido extracelular, o İgado, o pulmão, os rins, o coração, o trato gastrintesƟnal e a pele. A coordenação de todas essas funções ocorre por mecanismos internos de regulação manƟdos por dois sistemas de controle: o nervoso e o hormonal. O sistema nervoso central atua recebendo mensagens da rede de nervos sensiƟvos e enviando mensagens aos nervos motores para compensar qualquer distúrbio ou desequilíbrio percebido. O sistema hormonal atua por meio de hormônios para auxiliar na regulação das funções do organismo. A incapacidade do corpo em realizar o feedback negaƟvo torna impossível a manutenção da vida (feedback posiƟvo).


2 Mecanismos de Transporte pela Membrana Celular Nilva Lúcia Rech Stedile

O obje vo deste capítulo é discu r os mecanismos de transporte pela membrana citoplasmá ca. Para entender as formas como as células trocam matéria e energia é fundamental compreender a própria célula e sua membrana. Desta forma, o capítulo está organizado em duas partes: (1) a célula, suas principais organelas citoplasmá cas e a membrana celular; e (2) os mecanismos de transporte de substâncias pela membrana.

A CÉLULA: MEMBRANA, CITOPLASMA E NÚCLEO A célula é uma unidade funcional do corpo, ou seja, a menor porção do organismo com funcionamento próprio. Uma célula pica é formada por membrana, citoplasma e núcleo. O núcleo está separado do citoplasma pela membrana nuclear, e o citoplasma dos líquidos que circundam a célula pela membrana celular. No citoplasma estão presentes as organelas citoplasmá cas, que são estruturas sicas altamente especializadas e organizadas, conforme apresentado na figura 1.


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TRANSPORTE DE ÍONS E MOLÉCULAS PELA MEMBRANA O líquido intracelular (LIC) é diferente, em relação à concentração de substâncias, do líquido extracelular (LEC). Este úlƟmo inclui tanto o líquido que circula entre as células (intersƟcial) como o plasma sanguíneo (no conjunto = LEC), os quais se misturam por meio do endotélio fino dos capilares sanguíneos. O LEC supre as células de nutrientes e de substâncias necessárias ao seu funcionamento. Para serem uƟlizadas pelas células, essas substâncias precisam transpor a membrana celular. A passagem aleatória de parơculas sempre tende a ocorrer de um local de maior concentração para outro de concentração menor (a favor do gradiente de concentração). Há tendência de que este processo ocorra até que a distribuição das parơculas seja uniforme (o que não significa que ocorra). A parƟr do momento em que o equilíbrio for aƟngido, as trocas de substâncias entre dois meios tornam-se proporcionais. Há vários mecanismos de transporte pela membrana, conforme esquema abaixo, no entanto, as substâncias são transportadas por dois processos principais: a difusão e o transporte aƟvo. Difusão Passivo

Osmose Difusão facilitada

Formas de transporte pela membrana

Primário AƟvo Secundário Endocitose Transporte de macromoléculas

- Pinocitose - Fagocitose

Exocitose

Figura 6. Formas de transporte pela membrana Fonte: elaborado pela autora


3 Potenciais de Membrana Lucas Fürstenau de Oliveira

INTRODUÇÃO As células animais possuem cargas elétricas na superİcie de sua membrana plasmáƟca. Normalmente, há acúmulo de cargas posiƟvas no lado externo da membrana, e de cargas negaƟvas no lado interno. Esta distribuição é necessária para o funcionamento normal das células e precisa ser manƟda estável. Entretanto, neurônios e células musculares são capazes de alterar esse equilíbrio momentaneamente e usam essa capacidade para processar informação ou produzir movimento. Neste capítulo, serão apresentados os mecanismos responsáveis pela distribuição de cargas elétricas na superİcie das células, o chamado “potencial de repouso”, bem como as alterações desse potencial que são realizadas por neurônios e células musculares, o chamado “potencial de ação”.

O POTENCIAL DE REPOUSO Os líquidos que compõem os seres vivos são ricos em íons, em especial os íons sódio (Na+), potássio (K+), cloreto (Cl-), cálcio (Ca2+), magnésio (Mg2+) e bicarbonato (HCO3-). Para o estabelecimento do


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Figura 7 Representação esquemá ca de neurônios fazendo sinapse. No detalhe, o terminal pré-sináp co, a fenda sináp ca e o terminal pós-sináp co. Fonte: Esta imagem está no domínio público nos Estados Unidos, pois é um trabalho do Governo Federal dos Estados Unidos sob os termos do Título 17, Capítulo 1, Seção 105 do Código dos Estados Unidos..

Na fenda sináp ca, as moléculas de neurotransmissor entram em contato com receptores, a vando-os. O po mais comum de receptor, apresentado anteriormente, é aquele associado a um canal de sódio. Sua a vação resulta em um potencial excitatório pós-sináp co no neurônio que está recebendo o es mulo. Se um número suficiente de PEPS for gerado nas várias sinapses deste neurônio, ele pode iniciar um potencial de ação, dando con nuidade ao fluxo de informação. Após exercer sua ação na fenda sináp ca, é necessário re rar o neurotransmissor dali. Há vários mecanismos disponíveis, e cada neu-


5 Contração Muscular Nilva Lúcia Rech Stedile

A contração muscular está entre os mecanismos fisiológicos mais importantes do corpo humano, uma vez que nos permite o movimento corporal como um todo, assim como o trabalho de órgãos como o coração, a bexiga, o tubo gastrintesƟnal. Para entender este complexo mecanismo é necessário antes conhecer o tecido muscular. O tecido muscular é formado por células especiais denominadas fibras. As fibras musculares têm propriedades que as diferenciam de outras células, como a elasƟcidade e a contraƟlidade. Essas propriedades lhes permitem reduzir de tamanho (contração), alongar-se e retornar ao estado normal (elasƟcidade). As fibras também possuem a propriedade de serem excitáveis, ou seja, são capazes de reagir a esơmulos produzindo como resposta a contração. Sua principal função, portanto, é o movimento. Pelas suas especificidades, seus elementos consƟtuƟvos recebem denominações específicas, além de apresentar estruturas peculiares. A célula muscular é denominada fibra muscular; a membrana plasmáƟca da fibra se denomina sarcolema; o citoplasma, sarcoplasma;e o reơculo endoplasmáƟco é chamado reơculo sarcoplasmáƟco. O sarcolema apresenta múlƟplas extensões para dentro do sarcoplasma, denominadas túbulos T (ou túbulos transversos), que são importantes no processo de contração muscular, conforme veremos


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Para que a contração aconteça é necessário que um es mulo chegue pelo neurônio motor até a placa motora. Portanto, o es mulo necessário ao desencadeamento da contração geralmente é transmitido pela fibra nervosa. O es mulo é um impulso elétrico que chega à junção neuromuscular. Entre o terminal do neurônio e a super cie do sarcolema da fibra muscular existe um espaço: a fenda sinápƟca. Observe que nas terminações nervosas existem vesículas, as quais contêm um neurotransmissor denominado ace lcolina e que é lançado na fenda sináp ca quando o neurônio sofre despolarização. Cada impulso nervoso que chega a junção neuromuscular libera aproximadamente 125 vesículas de ace lcolina ao espaço sináp co. Vale lembrar que todos os movimentos do corpo são causados por contrações simultâneas de músculos agonistas e antagonistas que se dispõe em lados opostos das ar culações. A esse processo dá-se o nome de coa vação. 1. Axônio de um neurônio motor 2. Placa motora 3. Fibra muscular 4. Miofibrila

Figura 8. Fonte: h p://upload.wikimedia.org/wikipedia/ commons/c/ca/Synapse_ diag 3.png

As vesículas sináp cas podem ser mais bem visualizadas na figura 9. Muitos são os fatores que podem promover o aumento inicial do potencial de membrana (de -90 a zero). São exemplos desses fatores: mecânicos (pressão nas terminações sensoriais da pele), químicos (neurotransmissores) e elétricos (transmissão de sinais entre as sucessivas células do coração). Qualquer um deles pode provocar: • a abertura dos canais de sódio, causando consequentemente o influxo rápido desses íons;


PARTE II Fisiologia dos Sistemas de Regulação: Nervoso e Endócrino


6 Sistema Nervoso Asdrubal Falavigna Scheila dos Santos Cardoso Lucas Piccoli Conzatti

Todas as aƟvidades desenvolvidas pelo organismo estão sob o controle de milhares de células especializadas (neurônio) que consƟtuem fibras nervosas e terminações sensiƟvas, as quais recolhem informações e transferem ao sistema nervoso central (SNC), que as processa, classifica e elabora respostas que são transferidas para diferentes partes do organismo. Isso é possível graças a forma como o SNC é organizado. Diversas estruturas parƟcipam na coordenação dessas complexas aƟvidades desempenhadas pelo organismo: • Um sistema sensor que registra variações ambientais (internas e externas ao organismo) e as transfere em forma de esơmulos nervosos; esse sistema é o responsável pela interação e integração do organismo com o meio externo. • Uma rede de nervos que se distribui por todas as partes do corpo e liga as terminações sensiƟvas (sensores) e outras estruturas corporais com os órgãos; essa rede é responsável por conduzir os comandos nervosos. • Um conjunto de órgãos centrais que processam, memorizam, classificam e produzem respostas a esơmulos que chegam pela rede nervosa. Esse conjunto de órgãos consƟtui o encéfalo (estruturas e órgãos alojados na caixa craniana) e a


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tura, pelo diâmetro da fibra e pela presença ou ausência de mielina. Dessa forma, explica-se, por exemplo, a aplicação de frio para controle da dor e o controle da hipertermia para evitar convulsões. Observe a figura abaixo que representa um potencial de ação nervosa.

A) Neurônio em repouso (polarizado) B) Transmissão do potencial de ação (despolarização) C) Retorno ao potencial de repouso (repolarização) D) Hiperpolarização

B C A D

O potencial de ação somente ocorreu quando o esơmulo foi suficiente para ultrapassar o limiar de excitabilidade. Impulso subliminar

Figura 2. Potencial de ação nervosa.

fSinapses Além da condução ao longo da célula nervosa, há a condução de um neurônio para outro, ou deste para uma fibra muscular ou glândula. Quando o impulso vai de um neurônio para uma fibra muscular ocorrem na junção neuromuscular (ver Cap. 5); quando entre um neurônio a uma glândula, atravessa a junção neuroglandular (ver Cap. 7); entre os neurônios ou entre estes e as fibras e glândulas, os impulsos são conduzidos por meio de sinapses. Sinapses nervosas são os pontos onde as extremidades de neurônios vizinhos encontram-se e o esơmulo passa de um neurônio para o seguinte ou para uma membrana celular. Sinapse é, portanto, uma junção momentânea entre as células. As sinapses ocorrem no “contato” das terminações nervosas, chamadas axônios, em geral com os dendritos de outro neurônio, ou


8 Aprofundando as Funções Motoras do SNC (Cerebelo de Núcleos da Base) e as Funções Corticais Asdrubal Falavigna Scheila dos Santos Cardoso Lucas Piccoli Conzatti

APROFUNDANDO AS FUNÇÕES MOTORAS DO SNC: CEREBELO E NÚCLEOS DA BASE

fCerebelo O cerebelo é um órgão infratentorial, localizado na fossa posterior do crânio, numa saliência denominada tenda do cerebelo que tem funções inconscientes e involuntárias, predominantemente motoras, como o controle da intensidade da contração muscular, o planejamento do movimento, o monitoramento e a correção dos movimentos realizados. Ele se comunica com outras estruturas encefálicas através dos pedúnculos cerebelares: o pedúnculo cerebelar superior (PCS) comunica-o com o mesencéfalo, sendo predominantemente eferente; o pedúnculo cerebelar médio (PCM), com a ponte; e o pedúnculo cerebelar inferior (PCI), com o bulbo, os quais são predominantemente aferentes. Anatomicamente, o cerebelo divide-se em vérmis cerebelar, hemisférios cerebelares direito e esquerdo, valécula cerebelar e tonsilas cerebelares (Fig. 27). Na substância branca estão presentes os núcleos centrais do cerebelo, que são ilhas de substância cinzenta composta por corpos neuronais. Existem quatro pares de núcleos cerebelares, denominados de denteado, emboliforme, globoso e fasƟgial.


PARTE III Demais Sistemas Orgânicos


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movidos os resíduos do metabolismo celular. Os capilares localizamse entre as vênulas e as arteríolas (ver Figura 6). A necessidade por oxigênio causa o fechamento ou a abertura dos capilares. Na porção arterial do capilar, a pressão do sangue é maior que a pressão osmó ca do plasma, proporcionando a ocorrência de saída de água contendo substâncias dissolvidas. Na porção venosa do capilar, a pressão do sangue é reduzida, tornando-se menor que a pressão osmó ca do plasma, proporcionado a ocorrência de retorno de fluido para o interior do capilar. Ver na Figura 11.

Figura 11. Representação de capilar e diferente pressão.

fMúsculo cardíaco O músculo atrial, o músculo ventricular e as fibras musculares excitatórias e condutoras formam o coração. As fibras musculares atriais e ventriculares contraem-se de forma semelhante às fibras musculares esquelé cas, mas a duração da contração é maior nas fibras cardíacas. Entretanto, as fibras excitatórias e condutoras contraem-se mais fracamente, pois apresentam menor quan dade de fibras contráteis. O músculo cardíaco é estriado, da mesma forma que o músculo esquelé co pico. Ver Figura 12.


15 Fisiologia Respiratória Dagoberto Vanoni de Godoy

INTRODUÇÃO O aparelho respiratório (AR) consiste em um sofis cado arranjo estrutural composto por centro respiratório, localizado no tronco cerebral (ponte e bulbo), quimiorreceptores periféricos, nervos aferentes e eferentes, caixa torácica, músculos, vias aéreas superiores e inferiores, vasos sanguíneos, pleuras e pulmões. Esse conjunto interage com toda a economia orgânica para a manutenção das funções vitais de maneira muito rápida e com baixo gasto energé co. Em repouso, somente 2% do gasto energé co basal do corpo é despendido pelo ato de respirar. A principal função do AR é prover oxigênio (O2) ao organismo, bem como eliminar o dióxido de carbono (CO2) produzido pela geração de energia no metabolismo celular. A fonação não seria possível sem o AR. Os pulmões também são responsáveis por outras funções importantes, como 1) par cipação nos equilíbrios acidobásico, hidroeletrolí co e térmico, 2) filtragem do sangue e 3) metabolismo de substâncias. O Quadro 1 lista as principais funções do aparelho respiratório.


19 Fisiologia Reprodutiva Masculina Fábio Firmbach Pasqualotto Gregory Saraiva Medeiros Carolina Travi Canabarro Eleonora Bedin Pasqualotto

CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS E EMBRIOLÓGICAS O sistema reprodutor masculino (Fig. 1) é composto por bolsa escrotal, ductos deferentes, ductos ejaculatórios, epidídimos, glândulas bulbouretrais, pênis, próstata, uretra, vesículas seminais e tes culos (Tabela 1). As funções do sistema reprodutor masculino são diferenciação sexual, espermatogênese e reprodução. Os tes culos são as gônadas masculinas responsáveis pela gametogênese e pela secreção do hormônio sexual masculino – testosterona. No período embrionário, a presença do cromossomo Y é determinante no sexo do embrião. A expressão do gene SRY (proteína reguladora de ligação do DNA) induz à diferenciação das células de Leydig (células presentes nos túbulos seminíferos dos tes culos que produzem testosterona, androstenediona e de-hidroepiandrosterona [DHEA], a par r do colesterol). Esse gene faz também com que as células germina vas do embrião diferenciem-se em espermatogônias (células diploides que formam os espermatozoides). No feto masculino, a testosterona produzida pelas células de Leydig promove o desenvolvimento dos ductos mesonéfricos (ductos de Wolff) a par r da oitava semana de gestação, daí derivam os ductos deferentes, epidídimos e vesícula seminal. Ainda, a diferen-


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