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Stock Car RJ
Corrida histórica: os bastidores do GP Galeão da Stock Car 2022
OGP Galeão da Stock Car foi um marco para o automobilismo brasileiro. Assim como acontece em tudo nas corridas esportivas de carros, buscar inovações e testar novos limites faz parte desta competição tão fascinante. Exige ideias interessantes, pessoas certas para executar cada detalhe, aprovações técnicas e burocráticas, ousadia e risco para atingir os objetivos. E assim foi o grande evento realizado pela Stock Car no retorno do Rio de Janeiro ao cenário do automobilismo de maneira inédita: uma corrida utilizando pista de um aeroporto comercial, em uma das cidades mais famosas do mundo.
Para que as largadas e os pódios das provas realizadas nos dia 9 e 10 de abril de 2022 coroassem um capítulo da história das corridas no Brasil, muita coisa aconteceu antes, durante até mesmo depois da bandeirada final, que coroou os pilotos Ricardo Maurício e Daniel Serra como os primeiros vencedores da etapa GP Galeão da Stock Car Pro Series 2022.
Principal categoria do automobilismo brasileiro voltou a correr no Rio de Janeiro após dez anos
Texto Venicio Zambelli
Fotos Divulgação Duda Bairros Magnus Torquato
INICIATIVA DESAFIADORA
A iniciativa partiu da Vicar Promoções Desportivas — empresa organizadora da Stock Car — e teve o aval da CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo), com apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Aeroporto RIOGaleão, Secretaria de Esporte e Lazer, Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), Infraero, Naturgy, Light, CEDAE, além da Buenos Dias, empresa parceira da Vicar na implantação do evento.
“Realizar essa prova foi um dos maiores desafios da história da Stock Car, pois criar uma pista onde simplesmente só havia o piso foi uma tarefa que exigiu alto nível de organização, muita compreensão dos aspectos técnicos do esporte e parceiros também decididos a alcançar algo inédito”, comentou Fernando Julianelli, CEO da Vicar. “Foi fundamental o apoio e empenho do Governo do Estado, Aeroporto RIOGaleão, Secretaria de Esportes, Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e Infraero, além da Naturgy, Light e CEDAE, que são as patrocinadoras que ajudaram a tornar realidade este empreendimento inédito” disse.
Além de homenagear Cacá Bueno com o nome do circuito, a Stock Car também lembrou a história do automobilismo do Rio. Os trechos da pista receberam o nome de circuitos de rua daquele estado e importantes no esporte a motor brasileiro. Desde 2012, com a demolição de Jacarepaguá, a Stock Car não disputava corridas no Rio de Janeiro.
Desde a demolição do já lendário autódromo de Jacarepaguá, em 2012, a ausência do Rio de Janeiro no cenário automobilístico nacional foi muito sentida e lamentada pelo público e praticantes do esporte. Segunda maior economia do Brasil, o Rio sempre foi um dos celeiros mais ricos do automobilismo, gerando não apenas grandes campeões, como também equipes de primeira linha. Esse legado foi lembrado no retorno da Stock Car Pro Series à capital fluminense.
A importância do estado todo no automobilismo se mostra até na precocidade das corridas disputadas lá. A primeira foi em 1908, do Rio até Petrópolis, sendo uma das provas pioneiras do nosso automobilismo e já lançando entre os cariocas e fluminenses a semente da velocidade”, diz Fernando Julianelli, CEO da Vicar, promotora da Stock Car.
“A estreia e a primeira vitória de Emerson Fittipaldi, nosso primeiro campeão mundial, foi em uma prova de rua do Rio, no Circuito do Fundão, ambas em 1965. No âmbito da Stock Car, nosso maior campeão em atividade, Cacá Bueno, é um carioca da gema. Não consigo descrever a importância desse retorno ao Rio”, finaliza Julianelli.
CURVAS HOMENAGEARAM CIRCUITOS ANTIGOS DO RJ
Apista do Galeão homenageia seis traçados que ajudaram a transformar o Rio de Janeiro em palco histórico do automobilismo: as Curvas Petrópolis, São Gonçalo, Fundão, Barra (a última antes da linha de chegada) e Jacarepaguá (a primeira depois da largada, onde habitualmente há muita ação).
Jacarepaguá foi o único autódromo permanente do Rio de Janeiro, de 1977 a 2012. Mas o grande destaque do traçado é o Complexo da Gávea. Composto por três semirretas intercaladas por duas curvas suaves, é o trecho de maior aceleração plena do automobilismo brasileiro, com 1.550 metros de extensão. O único trecho do Galeão que não alude a uma pista emblemática do automobilismo fluminense é a Reta da Apoteose, uma referência ao momento máximo do Carnaval carioca.
Seguindo a ordem de sua disposição na pista do Galeão, confira alguns detalhes dos circuitos que serão homenageados na pista montada no aeroporto carioca:
Jacarepaguá (Curva 1)
Ativo de 1977 a 2012, o Autódromo de Jacarepaguá é o palco mais famoso do esporte a motor no Rio de Janeiro. Além de receber a Stock Car em 42 corridas, o traçado técnico e exigente também foi palco de dez edições do GP do Brasil de Fórmula 1 (1978 e de 1981 a 1989) e de cinco corridas válidas pela Fórmula Indy, entre 1996 e 2000. Foi demolido em 2012 para a construção do Parque Olímpico da cidade.
Complexo da Gávea (Curvas 2 e 3 intercaladas por três trechos de reta)
Apelidado de “Trampolim do Diabo” por seu traçado ameaçador, recebeu as primeiras corridas dos Grands Prix muito antes do nascimento da F1. Chico Landi, e os argentinos José Froilán González e Juan Manuel Fangio eram habitués no grid. A estreia foi em 1933, combinando mais de 100 curvas e um traçado com 170 metros de desnível, na Rocinha. O vencedor foi o diplomata brasileiro Manuel de Teffé, com um Alfa Romeo. Teve provas de 1933 a 1954. Circuito de Petrópolis (Curva 4)
A primeira prova foi já em nove de março de 1908, quando Petrópolis integrou um percurso que iniciava na capital fluminense. Mais tarde, no final da II Guerra Mundial, o Circuito Cidade de Petrópolis estrearia em quatro de julho de 1948, com vitória do Maserati de Benedito Lopes. As provas no circuito de rua de Petrópolis aconteceram até 1968. Nos anos 90 a Cidade Imperial ganhou o apelido de “Capital da Stock Car”, por sediar várias equipes da categoria.
Circuito Ilha do Fundão (Curva 5)
Famosa por sediar a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Ilha do Fundão também já recebeu eventos de automobilismo. E um deles representou um marco. Em 11 de abril de 1965, o então desconhecido Emerson Fittipaldi venceu uma das provas no circuito de rua a bordo de um Renault 1093, na categoria dos estreantes. Naquele mesmo ano, o “Rato”, como era conhecido, havia feito na Ilha do Fundão sua estreia ao volante.
Circuito de São Gonçalo (Curva 6)
Com uma prova em 19 de setembro de 1909, sediou a segunda corrida mais antiga do Rio de Janeiro. Curiosamente, usou dois traçados: o principal, com 72 km de extensão, e a versão “básica”, de 48 km. Os carros foram inscritos em cinco categorias: B, até 15 cv de potência; C, até 20 cv; D, até 30 cv; E, até 45 cv; F, acima de 45 cv. As duas categorias mais potentes usaram o circuito completo. A vitória foi do Berliet 60 HP pilotado por Gastão Ferreira de Almeida, em 1h10min, com a estonteante média de 62km/h.
Circuito da Barra da Tijuca (Curva 7)
Quando era um bairro quase desabitado, a Barra da Tijuca passou a receber corridas entre 1958 e 1970. O traçado de rua de cerca de 4,2 km de extensão, tinha oito curvas e percorria trechos como as Avenidas Lúcio Costa, Sernambetiba (à beira-mar) e Olegário Maciel, que hoje estão entre os endereços mais valorizados da cidade do Rio. A bordo de uma Ferrari-Corvette, Chico Landi venceu a prova que marcou a inauguração oficial do circuito.
O DESAFIO POR QUEM PARTICIPOU DOS BASTIDORES:
Roque Mendes, diretor comercial da Stock Car – “O GP Galeão também foi um desafio comercial, no qual contamos com o apoio adicional da Ligth, Naturgy e Manancial junto aos nossos parceiros tradicionais. Por seu interesse esportivo e econômico para o Rio, ele se tornou uma grande oportunidade para as mais de 200 marcas que participam da Stock Car. Conseguimos viabilizar essa etapa histórica, pois nossos parceiros enxergaram e puderam explorar nossos pilares: exposição de marca, relacionamento e ativação.”
Leonardo Murgel, gerente de marketing da Stock Car – “Fui convidado pelo Fernando Julianelli para integrar o time da VICAR, em novembro de 2021, e logo de cara recebi a missão: ‘Vai ter uma corrida no Aeroporto RIOgaleão, pensa aí o que vamos fazer’. Entre a coletiva de anúncio do GP Galeão no Palácio Guanabara, em dezembro e a prova realizada dia 10 de abril, foram mais de 15 ações, como visita com convidados, ativações pela cidade, citytour de um Stock em pontos icônicos, cerimônia de abertura oficial do Circuito Cacá Bueno com a presença do Governador fluminense, Cláudio Castro. Fizemos muita coisa. E se for confirmada a prova para 2023, faremos muito mais.”
Vanda Camacho, diretora operacional da Stock Car – “O maior desafio foi a parte burocrática e o tempo hábil que tínhamos para montar e desmontar todo o evento. O aeroporto é considerado uma “área ar”, ou seja, tem que seguir todos os protocolos da aviação, que foram novos para a gente. E o evento era totalmente inédito para os gestores do aeroporto. Equalizar tudo isso, a logística em pouco tempo, a quantidade de pessoas envolvidas, órgãos públicos, prestadores de serviço, foi o maior desafio da minha vida profissional. Movimentamos mais de 800 toneladas de estrutura, com mais de 1200 profissionais envolvidos nessa operação.”
Rodolpho Siqueira, assessor de imprensa da Stock Car – “Todos os números do GP Galeão eram grandes, algo coerente com as dimensões do espaço no qual o evento foi montado. Na área de comunicação, por exemplo, tivemos mais de 250 profissionais credenciados entre produtores de conteúdo oficiais, profissionais contratados por equipes, pilotos e patrocinadores, além de staff de todos os tipos de mídia, incluindo diversas agências internacionais.”
NÚMEROS DO CIRCUITO CACÁ BUENO
Extensão da pista: 3.225 metros; Número de curvas: 7 (6 para a direita e uma para a esquerda); Trechos de retas: 3; Extensão das retas: 702 metros (entre as curvas 7 e 1), 1.030 metros (entre curvas 1 e 2), e 520 metros (entre as curvas 3 e 4); Trecho de aceleração máxima: 1.550 metros (entre as curvas 1 e 4); Largura da pista: 24 metros na maior parte do trecho e 12 metros na curva 2 e entre curvas 6 e 7; Blocos de concreto: 200 peças de 4 metros e 2,7 toneladas cada; Barreiras de pneus: 270 módulos, 420 metros de extensão, total de 8.200 pneus.