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UM SUPLEMENTO DE O ALDEÃO

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Supervisão: José ltamar de Freitas Coordenação: Henrique Olivier Editor: André Motta Lima 11ustrações: Roberto Sirnões

VAI NASCER OREI DA REDAÇÃO

E pode

ser o mesmo que morreu, assassinado, , no numero passado

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COMO ENTREVISTAR O SEU JOÃO NÃO SEI DA~ ou da necessidade de uma Teoria da Reportagem de TelE Uma vez teve um repórter, se não me engano o Jorge Segundo, da extinta O Cruzeiro, que disse: "sem repórter não existe reportagem; ele é o rei da redação". Todo mundo, na época, concordou. Mas é sempre bom partir para os exemplos reais. E o próprio autor da frase é um deles: profissional correto, foi do colunismo social à reportagem geral, passou pela redação e nunca deixou de cumprir seu principal encargo: escrever pensando nos seus leitores, dentro das formas traçadas pelos editores ek»: itens de política de mercado dos veículos empregadores. Jorginho, boa praça em primeiro grau, foi até repórter de amenidades da úl tima e melancólica fase d'O Cruzeiro. Imaginem que barra: reportar amenidades numa revista moribunda Pois bem: foi um servidor exato da adequada máxima segundo a qual não se deve idealizar veículos, empetecar ou embonecar o que não é empetecável nem embonecável, mas sim fazer o possível dentro do jornal, revista, emissora de rádio ou TV que nos pague direito no fim do mês. E até que conseguiu produzir umas amenidades bem interessantes. Agora (todo mundo chega lá, vamos logo ao 6

que interessa, que essa introdução já está longa demais), está desempregado, com o fechamento de O Cruzeiro. Isso mesmo: sem ter onde trabalhar. Portanto, acho que qualquer discussão' teórica em torno da função do repórter esbarra logo no problema inadiável da falta de trabalho, mesmo para os bons estivadores da notícia. Hoje, mais que nunca, é importante ajudar a manter aberto mesmo o mais insignificante (na aparência, né?) jornalzinho de bairro. Chegados lá, poderemos, então, dizer, por exemplo, que o antigo apanhador de notícias morreu - e não sem tempo - num mundo partido, doido varrido, em que os acontecimentos dificilmente se interpenetram e se explicam - a não ser quando mexidos e remexidos pelos especialistas de cada área e setor. Entanto (perguntariam os mais agudos dos nossos cha tíssirnos, sempre bem-vindos foquinhas), e se alguns desses especialistas se especializassem demais, virassem mons-tros sagrados de acesso impossível, senhores absolutos de boletins econômicos, políticos, ecológicos ou que mais diabos de setores existam por aí? Está aí o paradoxo da nossa profissão. Temos de nos

especializar, temos de ler muito, sem tempo nem dinheiro, havemos de saber as causas dos conflitos que nos cabe noticiar. Nunca, mesmo assim, sem perdermos a precisa visão do repórter, aí sim, insubstituível, já que ele é quem se aproxima das várias verdades que cercam um acontecimento. De verdade em verdade, de interpretação em interpretação, não será possível atingir qualquer coisa próxima do cerne do assunto tratado? Acredito que sim. Sejamos precisos, no que toque a emoção: acreditar por acreditar não é nada. Tenhamos, portanto, capacidade de observação pessoal. A nós, repórteres, é dado o encargo pesado, de ouvir e duvidar, cotejar e misturar dados, ser a base da linha de montagem da nossa amada matéria-prima: a notícia. Por tudo isso, não acredito em repórter que se limite a lidar com opiniões alheias, aquele cara sempre cheio de aspas. Nem acredito, tarnpouco, no consagrado especialista, que bota regra em tudo que escreve. Vamos lá? Vamos às fontes da matéria? Vamos sempre. E, daí, trazeiremo-nos em alguma máquina de escrever, para tentar dizer o que tentamos entender sobre aquilo


- A coisa tá preta mermo por aqui, seu reporti. Essa pedrera é uma sacanagi com os morador daqui do bairro. As explosão são de matar e não tem hora. A gente nem pode mais dormir dereito ...

o fotógrafo registra o momento em que o seu João Não Sei da, Quantas coloca o dedo em riste, apontando para a pedreira. Seu João nem se dá conta e continua reclamando da empresa que explora a pedreira. Termos como sacanagi, merda e outros aparecem com frequência em seu vocabulário atrofiado, mas isso, no final das contas, "acaba não tendo importância, já que ele consegue ser coerente. João nem prestava atenção na caneta do repórter riscando rápido as costas de uma lauda tim brada do seu jornal. Falava naturalmente, como se estivesse debruçado no balcão de uma repartição pública. A entrevista até que foi boa. Na redação, para fazer essa matéria não houve o menor problema. As declarações do seu João Não Sei das Quantas entraram perfeitamente embaixo do não muito original entretítu10. MORADORES RECLAMAM Os moradores do bairro Tal foram os mais prejudicados, desde que a Empresa iniciou a exploração da pedreira. Para João Não Sei das Quantas, que mora há mais de quinze anos na Rua Paratso, não é mais posstvel suportar as seguidas explosões: -A coisa está mesmo preta por aqui. A empresa que explora essa pedreira não tem a menor consideração com os moradores do bairro. Muitas vezes nós somos acordados em plena madrogada pelo barulho das explosões. A gente nem pode mais dormir direito ..

Essa declaração de João Não Sei das Quan tas foi modificada em sua forma, mas ninguém pode dizer o mesmo do seu conteúdo. Para um repórter de jornal, isso me parece perfeitamente válido. Mas, se essa mesma en trevista tivesse sido gravada pela televisão, seu João Não Sei das Quantas certamente experimentaria a grande frustração de reunir os ami~os para vê-I o ~o Telejomal, esperar ansioso ate a ultima noticia e, no final, nada. Seu depoimento jamais iria para o ar. E claro que essa é uma situação exagerada. De qualquer forma, serve para me ajudar a colocar algumas diferenças existentes entre o traba-

lho de um repórter de jornal e um repórter de televisão, se e que se pode chamar assim essa função. No caso da entrevista do seu João N. S. das Quantas, o repórter de televisão precisaria querer um pouco mais do entrevistado, além de simplesmente ouvi-lo. Transar o que vai ser ou que deve ser dito no momento em que o cinegrafista apertar o botão pode ser uma solução. Mas é quase certo que o antes espontâneo cidadão fique tenso, escolhendo palavras que julga bonitas, enfim, que ele se transforme num inconfundível diante da câmera. t verdade que existe um bom número de saídas que o repórter de televisão, microfone na mão, cinegrafista do lado, pode usar em casos como esse. Exemplo: gravar sem o entrevistado perceber. Mas isso nem sempre é possível. Depende muito da sorte. E é exatamente nesse pon to que a reportagem de jornal difere da reportagem da televisão. Enquanto o primeiro repórter se preocupa em conseguir uma resposta para sua pergunta, o segundo se preocupa com a forma com que sua pergunta vai ser respondida pelo mesmo entrevistado. E esse trabalho de conse$uir respostas televisionáveis é que, pela razão logica (ou não) do pouco tempo de existência da televisão no Brasil, ainda não me parece definido em padrões profissionais muito sólidos. A maior parte dos repórteres-de-televisão conseguiram desenvolver técnicas próprias de abordagem nas entrevistas e, bem ou mal, o trabalho acaba sendo feito até que com boa qualidade. Mas a verdade é que essas experiências são mui to pessoais e isoladas. Ainda não aconteceu de serem reunidas pelos próprios repórteres que as utilizam separadamente. E essa limitação é perigosa na medida em que pode ser confundida com estilo de abordagem. Longe de mim, mas muito longe mesmo, a idéia de esvaziar a importância do repórter de televisão com esse comentário. Penso que a técnica, ainda que não muito clara, existe dentro de cada repórter que conseguiu colocar pelo menos uma matéria no ar. Isso talvez justifique a idéia de que a reunião dessas técnicas isolada, poderia ser o primeiro passo para o aperfeiçoamento e valorização dessa festejada função. A gente poderia até pensar nas bases de uma Teoria da Reportagem de Televisão, em termos práticos (que me perdoem as faculdades de comunicação). Deixo aberta a discussão. OTAVIO ESCOBAR

SQUANTAS levisão que escrevemos. Ou, no caso do rádio, falemos. Ou, no caso da televisão, em última instância, editemos. Pois, em TV, parece, é importante que o repórter saiba editar, entenda a origem, as determinâncias e implicações do fato a relatar. De ou tra fonna bastaria ter boa voz e bela aparência. Pois não adianta ficar falando mal dos locutores, já que, de nossa parte, não complementamos vitalmente o que têm a dizer. Eles cumprem com a sua parte e, num veículo que inclui insubstituivelmente imagem, dispõem do nicho exato a que se elevaram. Sejamos tão insubstituíveis quanto eles, partes que se completam num todo que ainda vai acabar. Mas enquanto não acabar o jeito é a gente estar lá. Perto dos acontecimentos. Sabendo deles o máximo que pudermos saber, em teoria e prática, de ler, ouvir, ver, sentir e analisar. Afinal, somos a base do edifício econômico construído em torno do fato de noticiar. E, sem nós, ele poderia ruir.

ANTONIO CHRYSOSTOMO

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VOCÊ ESTÁ GANHANDO UM LIVRO Imagem inicia a publicação adaptada do livro "Produção em Televisão - Noções Básicas", de Desmond Davis, editado pela livraria Agir. Para começar, uma condensação do capítulo "Composição". A tradução do original inglês é de Antonio Augusto Porto Maia.

Faça com que a iluminação favoreça suas tomadas. Se a iluminação for muito difusa, os sujeitos no vídeo não se destacarão. Se for muito dirigi da, podem passar despercebidas ações ou expressões importantes. As mudanças de tom de iluminação de cena para cena dão variedade e elevam o estilo de um programa. A iluminação cruzada num cenário, tal como proveniente de portas abrindo para um corredor, darão mais profundidade à cena. A iluminação forte ou a silhueta de determinadas peças de ação aumentarão o efeito dramático.

ERRADO

ERRADO

CERTO

CERTO

CERTO

Em closes de pessoas, evite a escassez ou o exagero de teto. Lembrese de que a cabeça da pessoa nunca deve encostar no alto do vídeo, nem o queixo na parte inferior, a não ser que o close seja tão fechado que as marj!ens superior e inferior do vídeo cortem respectivamente a testa e o queixo. Em todas as tomadas de cena o nível deve ser mantido.

ERRADO

DrmJD EVITE ESTA IMAGEM

PREFIRA ESTA

OU ESTA

Em tomadas de grupo, componha a imagem em l'rofundidade, evitando a linha reta. A noção de profundidade é multo importante na televisão. Evite também reunir artistas, ou pessoas, de modo que alguém, não essencial a uma tomada, seja visto pela metade ao fundo e meio encoberto por alguém que se acha no primeiro plano.

PREFIRA ESTA

A ESTA PREFIRA ESTA

A ESTA

OU ESTA

PORIÔM, MELHOR AINDA, POR SER MAIS PRÓXIMA, PREFIRA ESTA.

VfDEO 1

VfDEO 2

Num close individual, se a pessoa estiver olhando para a direita, componha a imagem colocando-a ligeiramente para a esquerda. Se estiver olhando para a esquerda, desloque-a ligeiramente para a direita. Além de ser mais agradável à vista não ter o rosto da pessoa comprimido contra a margem, não se observando esta regra, ao cortar entre um par de closes, os dois sujeitos podem parecer estar de costas um para o outro. Evite também tomadas onde os objetos pareçam sair do alto da cabeça de uma pessoa, por se acharem na mesma linha que o sujeito e a câmera.

ERRADO

Q,

Equilibre no vídeo os objetos de interesse. Evite amontoá-Ios no meio, deixando os lados vazios. Ou, pior ainda, deslocá-Ios para as margens extremas do vídeo, deixando vazio o meio.

/

, Q

o/t

~ A tomada cruzada de dois, como é chamada, tende sempre a exagerar no perfil e perde-se a expressão facial. Portanto, deve-se preferir um par de tomadas acima dos ombros, equilibradas e complementares como as exemplificadas nos dois desenhos acima.

CERTO

Em geral, evite tomadas onde as pessoas, vistas de frente, ou quase de frente, sejam verticalmente cortadas pelas margens do vídeo. Outra preocupação é a de evitar que no close a ação ocorra fora do vídeo. ~ aborrecido ver alguém lendo e não vermos o que está lendo, ou despejando bebidas que não podemos ver. As mãos do entrevistado não devem fazer gestos expressivos para além dos limites do vídeo. A extensão ideal da tomada é a que contemexatamente a ação essencial.

S

Cü)!:

Em tomadas gerais, disponha objetos no primeiro plano. Uma tomada mui to aberta, sem ter algo no primeiro plano, pode tomar-se sem vida, feia, até mesmo aborrecida, com uma vasta extensão de solo na parte inferior do vídeo e todo interesse à distância, na parte de cima. Objetos no primeiro plano dão interesse à parte inferior do quadro e profundidade à composição. Compare as duas imagens acima. A da esquerda é a corre ta.


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