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UM SUPLEMENTO

DE O ALDEÃO

Supervisão: José Itamar de Freitas Coordenação: Henrique Olivier Editor: André Motta Lima Ilustrações: Roberto Simões

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. ·E de Paris, fala o nosso novo correspondente.

Ele está no Rio, se preparando , . para assumir o posto na Europa. Roberto Ferrareto D'Avila 1

conta como é o Curso de Formação de Jornalistas: uma grande chance de se preparar para correspondente internacional, viajando por toda a Europa. 5


Roberto Ferrareto D'Avila, com diploma de jornalismo, estava em Paris estudando e trabalhando com Realy Junior, quando apareceu a chance de participar do Curso de Formação de Jornalistas de" Paris. Dois brasileiros já estavam matriculados: Sérgio Motta Mello, do "(;) Estado de São Paulo", e Sonia Meinberg, da sucursal carioca do "Estado". Um jornalista belga desistiu da matrícula e Roberto ganhou a chance de fazer esse curso de p6s-graduação. Ele diz que qualquer jornalista formado, ou mesmo registrado como profissional, pode entrar para o curso. Mas tem de falar o francês e, de preferencia, também o inglês.

o Centro de Formação de Jornalistas de Paris foi fundado logo depois da Segunda Guerra, por um grupo de resistentes franceses. Hoje, o curso conta com o apoio de "Le Monde" e do seminário "Nouvel Observateur", e já formou cerca de seiscentos jornalistas. Tanto o centro como os jornais que a ele estão ligados seguem uma política de reunificação da Europa, não só do ponto de vista econômico como do cultural .e político. Por isto, a partir de 1974, fundaram um curso paralelo chamado "jornalistas para a Europa", sob a filosofia do mercado comum europeu. Esta nova experiência parte do princípio de que futuramente o estudante europeu poderá começar os seus estudos em qualquer país e terminar normalmente onde quizer. Por exemplo: um estudante alemão faria o curso colegial na Alemanha, e terminaria a faculdade na Inglaterra ou na França, sem qualquer problema burocrático. Para iniciar esta nova forma de estudos, o centro resolveu formar não só jornalistas europeus, mas também estrangeiros, que após um ano teriam feito uma "especialízação" sobre a Europa. Convidaram jornalistas de vários países, entre os quais o Japão, Brasil, Inglaterra, Alemanha, França e Estados Unidos. A seleção foi feita entre os ex-alunos do curso, ou jornalistas que já se encontravam na Europa. Entre os participantes, estavam três brasileiros, três americanos, um -ínglês, um francês, uma japonesa e uma alemã. A realidade européia era vista de uma forma muito diferente, por cada participante do curso, pela formação 'cultural que cada um recebeu em seu pais de origem. Percebendo isto, os organizadores do curso programaram uma sessão de abertura onde foi debatida a formação his6

tórica na Europa. Durante 15 dias na cidade de Strasbourg - fronteira com a Alemanha - um professor de história política orientou os trabalhos. De Strasbourg o grupo partiu para Bruxelas, para estudar os Mecanismos do Mercado Comum Europeu. Depois, foi decidido que no primeiro mês seria estudado a "Europa Verde" - a agricultura. De volta a Paris o representante da França no MCE, orientou os estudos, que foram seguidos de reuniões nos sindicatos, cooperativas, crédito agrícola etc. Depois de 15 dias, formou-se grupos de. duas pessoas que partiram para alguns países, membros do Mercado Comum Europeu. Lá, durante quinze dias, numa fazenda, o grupo estudou, no terreno, os problemas enfrentados pelos agricultores europeus. O segundo tema desenvolvido foi a indústria européia, após uma visita de três dias ao porto de Roterdam na Holanda, que é o principal escoadouro de produtos de toda a Europa Ocidental. Na mesma forma de trabalho, estudou-se ainda a política, os costumes e a pesquisa europeia, sempre orientada por especialistas no assunto. Em cada país visitado os estagiários entravam em contato com os jornalistas; formando assim um bom relacionamento para futuros trabalhos profissionais. Na inglaterra, a Agência Reuters; na Itália, o jornal "La Stampa de Turim"; na Holanda e Alemanha as respectivas televisões foram os organizadores dos estudos. o curso <lUTOU 1 ano. Cada aluno, no final, foi convidado a fazer um estágio de um mês no "Le Monde", pois o curso é presidido pelo seu fundador Hubert Beuve Mery. Qualquer pessoa que esteja interessada por esse estágio, poderá escrever para "33 - Rue du Louvre, Paris 1", mandando o curriculum vitae.

Hélio Costa, diretamente dos Estados Unidos, via telex, analisa a crise da televisão . americana,


Na última semana de outubro a imprensa americana revelou que o número de televisores desligados nos Estados Unidos tinha aumentado em oito por cento. A notícia veio acompanhada de confissões voluntárias das três cadeias CBS, NBC e ABC - de que a temporada de 75 podia, realmente, ser classificada corno a "pior de toda a história da televisão americana". E que seriam desenvolvidos todos os esforços para se evitar urna debandada ainda maior do telespectador. Muito embora a queda da audiência tenha colhido quase todos de surpresa, alguns observadores já esperavam por isso há cerca de dois anos, quando os bons musicais foram tirados do ar, os enlatados partiram em massa para o esquema policial e o jornalismo perdeu seus pratos prediletos: a guerra do Vietnam e o caso Watergate. Quem viu televisão nos Estados Unidos até 1970 ainda pôde apreciar musicais corno "Sammy Davis Jr.", "Hollywood Palace", "Andy Williams", "Bob Hope" e os especiais que Frank Sinatra, Burt Barharrach, Bing Crosby e Perry Corno faziam regularmente nos últimos cinco anos. Entretanto, os grandes astros e estrelas desapareceram da TV. Em seu lugar, surgiram artistas mais baratos, com espetáculos mais pobres, feitos com recursos limitados. As raras exceções, corno "Sonny and Cher", vingaram com pouca duração e, hoje, as três cadeias estão limitadas a mediocridades corno "The Carol Burnet Show", cujo estilo já foi abolido há mais de dez anos, e "Tony Orlando", que ninguém conhece e ninguém quer ver. Os especiais não apareceram e o público não gostou do que foi oferecido.

Os especiais não apareceram e o público não gostou do que foi oferecido.

Os enlatados, por sua vez, partiram para a violência dentro do terna crimedrama ou voltaram a vender a imagem do americano bem humorado e da comédia diária e natural que nunca existiu realmente - muito menos agora, quando o desemprego chega ao recorde de dez por cento, a inflação passa de onze por cento ao ano, os televisores subiram de preço e a energia elefrica está valendo ouro. O sucesso da comédia leve, corno "Mary Tyler Moore" e Bob Newhart está se diluindo e o herói da comédia sarcástica, Norman Lear, que ainda mantém "Ali In The Family " na lista dos mais vistos, já teve de tirar do ar três programas com o mesmo estilo mágico por falta de audiência. A mais recente investida em termos de inovação, partiu da CBS, que tentou lançar a chamada fórmula latinoamericana de novela em horário nobre.

Sua grande produção, "Beacon Hill", que reuniu os melhores diretores, atores e técnicos, com o melhor orçamento dos últimos tempos, não agüentou dois meses no ar, apesar de ser aclamada pelos críticos corno urna realização de al to gabarito.

Um programa inovador, elogiado pelos críticos, não aguentou dois meses no ar.

No jornalismo, o progresso técnico que trouxe o VT portátil a cores e o sistema de integração eletrônica das notícias não foi igualado pelas realizações jornalísticas. As emissoras independentes dedicam quarenta por cento de seu noticiário aos assuntos locais. O resto à política nacional e, muito raramente, quando falta notícia local ou nacional. o que acontece no resto do mundo merece ser divulgado. As três cadeias, apesar de seu esquema internacional via-satélite, só abordam os assuntos que fazem manchete fora dos Estados Unidos quando, depois de urna fermentação de vários meses, eles não podem mais ser ignorados. E, quando isso acontece, a cobertura é de saturação, tentando explicar às pressas aos americanos, corno no caso de Portugal, tudo o que ocorreu nos últimos anos e que levou à crise. A falta de visão internacional da televisão americana é inigualável. Normalmente o telespectador americano só torna conhecimento do que se passa na Europa, na América Latina ou na Ásia (depois do Vietnarn), aos domingos, quando o noticiário nacional é escasso e sobra tempo para se falar de "coisas menos importantes". Os exemplos típicos são inúmeros, muito embora o mais recente tenha sido o da manifestação anti-franquista em Paris. Enquanto a Rede Globo mostrava com exclusividade mundial a violência nas ruas da capital francesa, a TV americana ignorou totalmente o incidente. Ainda este ano, a eleição de Margareth Thatcher para a liderança do Partido Conservador da Inglaterra mereceu destaque na televisão americana. Não pelo fato dos conservadores terem um novo líder, mas por ser este Iíder urna mulher.

Em vista do fracasso, o jornal ismo foi chamado a salvar o barco que naufraga.

Os documentários de TV viveram sua fase mais crítica em 75, com a diminuição de orçamen to nas três cadeias até

setembro, quando em vista do fracasso da linha de show e dos enlatados, o jornalismo foi chamado a salvar o barco que naufragava. Foi assim que "60 Minutes", programa do tipo "Globo Repórter", foi programado no horário nobre dos domingos. Uma rápida análise do que levou o telespectador americano a se desencantar com a televisão e, em maior número, não ligar seus aparelhos mostra a violência exagerada, o afastamento dos grandes nomes dos musicais e a informação limitada aos assuntos nacionais e locais. Para quem cruza o país inteiro pelo menos urna vez por mês, vendo e observando a televisão americana, a tendência a essa apatia já era observada há quase dois anos. Numa conferência que fiz na Universidade do Alabama sobre a televisão brasileira, usei o programa de aniversário do Fantástico corno amostra do que estamos fazendo. Depois de urna hora e meia de exposição e debate, cerca de trezentos estudantes de comunicação e professores pediram que continuasse mostrando os pontos altos do programa. Na Universidade de Nova Jersey, depois de urna palestra semelhante, a convite da ABC e da própria Universidade, três estudantes de pós-graduação de jornalismo pediram ao Bureau da Central Globo de Jornalismo, em Nova lorque, para fazer um estágio de dois meses com nossa equipe. Em Nova lorque e Washington a repercussão foi a mesma e, em defesa do Fantástico e do jornalismo da Rede Globo, vale lembrar que, entre os estudantes e professores que encontrei, nenhum pôde apontar um só programa atual da TV americana capaz de ser igualado ao Fantástico.

Com programas isolados, já atingimos e até superamos o nível da TV americana.

Com programas isolados já atingimos e até superamos o nível da televisão americana. Mas, no todo, ainda é cedo para se fazer uma comparação. Dizer que a televisão americana está em decadência seria um exagero. Mas o fato é que seu padrão de excelência diminuiu nos últimos anos, pelo menos no setor artístico e jornalístico. E os homens da televisão americana reconhecem isso. Neste momento eles estão estudando a doença da televisão americana e procurando os remédios para fortificá-Ia. O fato de que o maior índice deste ano 35 por cento de audiência - para programa de uma hora foi alcançado, na semana passada, pela TV Educativa. com o especial "Máquina Incrível" (um filme muito bem realizado sobre o funcionamento do corpo humano), é uma prova de que o mal é grave e precisa do remédio certo, antes que o telespectador perca o prazer de ligar seu aparelho. 7


1. Não faça panorâmica numa cena estática apenas para levar a câmara de um ponto de interesse a outro. Só a faça para acompanhar o movimento de uma pessoa ou objeto. As razões dessa regra são simples. De imcio, não existe motivação para se fazer a panorâmica. Assim que uma câmara se move independentemente dessa forma, atrai a atenção para ela própria e para a técnica, dispersando a atenção dos telespectadores. Fazer panorâmica durante uma cena estática é desagradável para o telespectador, porque se trata de algo que a vista humana não faz normalmente. Experimente: focalize os olhos num objeto que está num canto da sala; volte a cabeça rapidamente e focalize com os olhos um objeto que está no canto oposto da sala. Você verá que embora tenha visto os dois objetos, não tem consciência de ter visto o que estava entre eles. De fato, a vista não fez panorâmica. Virtualmente, cortou de um objeto para o outro. Por outro lado a vista humana é perfeitamente capaz de fazer panorâmica quando segue uma pessoa ou coisa em movimento. A panorâmica rápida, em movimento com a do exemplo anterior, embora se trate de manobra duvidosa e feia, pode ser válida quando se pretende o mesmo objetivo conseguido pelo olho humano: passar de um ponto a outro, como um corte, deixando uma nódoa no meio. A panorâmica lenta ao longo de uma paisagem distante é tolerável porque a vista pode fazer o mesmo movimento, desde que se mova com suficiente vagar e a cena esteja bastante afastada. O que não se pode fazer é qualquer espécie de movimento rápido num espaço fechado. Isto é de particular importância quando se grava em filme, já que e provável ocorrer um efeito de rastejamento, mesmo com equipamento moderno, em objetos que se movem em certas velocidades. 2. Não afaste a câmara a não ser que uma pessoa ou objeto esteja se movimentando em direção a ela. Nunca se deve fazer nada sem que haja uma razão clara para o telespectador. Nunca se deve, por exemplo, retroceder de uma tomada de dois para focalizar a porta só porque você sabe que uma pessoa vai entrar por ela. A razão só seria clara para o telespectador quando fosse demasiado tarde e o movimento teria desviado a atenção do assunto na tomada das duas pessoas. Nesse exemplo, se deveria cortar para uma tomada geral, ao barulho do trinco da porta, sendo o barulho a motivação para o corte. A razão pela qual o recuo se torna feio e desagradável em televisão é a de tornar imperfeita a nitidez da imagem, quando a vista humana está sempre procurando ver com mais clareza, ou, em outras palavras, ficar mais próxima. Enquanto o avanço satisfaz esse instinto e se acha motivado por ele, o recuo faz o contrário e irrita o espectador. É legítimo recuar quando uma pessoa ou objeto se move para a câmara, porque então esta só recua em relação ao fundo e conserva a mesma distância do objeto de interesse. Além disso, o movimento da pessoa ou objeto motiva o afastamento e oferece razão palpável para ele. De modo análogo, é legítimo o recuo durante a panorâmica com um grupo em movimento que vai aumentando, pois o próprio fato de estar aumentando motiva o recuo. Nao havendo recuo, parte do grupo estaria excluído da tomada. Outro exemplo de afastamento motivado pela ação é o de um close médio de uma pessoa sentada. Quando ela se levanta, é preciso afastar de modo a contê-Ia de pé, estando a ação de afastar motivada pelo movimento de levantar-se. Deve-se ressaltar que, embora seja uma manobra legítima, é preciso ensaiar o movimento para que ele seja perfeito. Fazendo o retrocesso demasiado cedo, não estará motivado e constituirá uma distração. Ao contrário, se demasiado cedo, a pessoa que se levanta poderá por um momento ficar com a cabeça fora do vídeo, o que é feio e antiprofissional. Seria mais seguro cortar para uma tomada mais aberta no momento em que a pessoa se levan ta. 3_ Evite dispor as câmaras de modo que uma pessoa ou objeto esteja se movimentando da esquerda para a direita em uma imagem e da direita para a esquerda na outra. Isto é: que pareçam mudar de direção durante o movimento. O princípio para evitar esse problema é simples: alinhar todas as camaras no mesmo lado em relação à linha de movimento. Imagine-se uma corrida de cavalos, com um grupo de animais galopando ao redor da pista e as câmaras dispostas como nessa figura.

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AGORA AS REGRAS PARA MOVIMENTOS DE CAMARA A.

Imagem continua a publicação adaptada do livro "Produção em Televisão - Nações Básicas", de Oesmond Oavis, editado pela Livraria Agir. Neste número o trabalho de câmera do cinegrafista. O início das regras fundamentais de disposição e movimento de câmaras na hora da filmagem.

Você verá que, se os cavalos estiverem se movendo na direção da seta, na câmara 1 aparecerão em galope da direita para a esquerda e na câmara 2 na direção aposta, da esquerda para a direita. Ao se fazer o corte entre estas cárnaras, o efeito será grotesto.

Experimente então colocar ambas as câmaras por dentro da pista, do mesmo lado da linha de deslocamento. Os cavalos aparecerão seguindo a mesma direção nas duas camaras, o que é razoável.

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Esse problema é muito comum na hora de se realizar uma seqüência de planos de um personagem que anda. Se não houver o cuidado de se manter a câmara de filmar sempre do mesmo lado do personagem, haverá uma inversão de movimento na imagem. Numa partida de futebol ou tênis, por exemplo, a regra é simples: traçar uma linha imaginária que passe pelo centro do campo e conservar todas as câmaras do mesmo lado desta linha. Não irn-

porta quanto se aproximem da linha, desde que não a cruzem. 4. Evite agitação no trabalho de câmara. A câmara em movimento pode ser extremamente eficaz, mas há possibilidade de cair no exagero. Pode também irritar e distrair a atenção. Nunca mova a câmara, portanto, se não houver uma boa razão. Uma razão que seja óbvia para a audiência, uma motivação decorrente da ação ou diálogo.


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