UM SUPLEMENTO DE O ALDEÃO Supervisão: José Itamar de Freitas Coordenação: Henrique Olivier Editor: André Motta Lim a Ilustrações: Robcrto Simões
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A CRITICA, LA COMO CA 5
muita amenidade muito tempo desperdiçado muita imagem pouco conteúdo
(OS TELEJORNAIS BRASILEIR Há algum tempo um crítico dizia que os telejornais americanos podem ser comparados ao soco de um fantasma: você apalpa o estômago, mas não consegue saber o que o atingiu. O telejornal é dramático e ativo, e certamente causou impacto nos casos de Watergate e da guerra do Vietnã. Esse impacto, no entanto, é parte do problema. As cadeias ABC, CBS e NBC jogam toda sua força competitiva para fazerem telejornais cada vez mais empolgantes, mas acabam tornando-os superficiais - e até chatos. A televisão é divertimento. O povo americano espera divertimento, mas ao mesmo tempo deseja e merece ser bem informado, especialmente por um veículo de comunicação do qual a maioria da população depende para obter informações. As redes de televisão não reconhecem que seus noticiários são tendenciosos, mas admitem que eles são superficiais. Elas acham que a única forma de corrigir essa distorção seria dedicar mais tempo - talvez uma hora - à divulgação de notícias. Ao meu ver, esta é uma proposta dúbia. Em 1963, a duração dos telejornais americanos foi aumentada de 15 para 30 minutos. Apesar disso, não descobri nenhuma melhora nos noticiários. Essa modificação pode ter aumentado a dose de assuntos leves, divertidos; pode ter dado maior dramaticidade na exploração de certas notícias. Só isso. Não houve qualquer avanço no conteúdo, no equilíbrio. Vou mais longe: defendo a tese de que 30 minutos podem ser tempo demais para um telejornal, quando ele - como acontece com todos os telejornais americanos pensa mais em divertir e convencer, do que em informar. Parece que as três principais redes de televisão usam 15 dos 30 minutos para as amenidades e imagens vivas, que confundem mais do que explicam assuntos controvertidos. A guerra do Vietnã, a Convenção Democrata de 1968 e as demonstrações de rua são apenas alguns dos muitos exemplos em que a imagem da TV distorceu a realidade. Isto acontece porque um filme mostra geralmente ambos os lados de uma questão. Ou melhor: o cinegrafista filmou tudo. Na hora do corte, da seleção das imagens que vão para o ar, o editor elimina os trechos menos dramáticos, dando preferência às cenas de maior violência. O mesmo acontece com as entrevistas: o editor escolhe as frases mais absurdas e menos representativas das declarações de um pol ítico, etc. As frases que vão para o ar não refletem, exatamente, o pensamento do entrevistado; impedem a reflexão. 6
Se dentro do noticiário fosse dedicado menos tempo a pedaços de filmes ou a trechos de entrevistas, o jornalista teria de resumir o assunto com as próprias palavras. E lógico que o resultado seria menos dramático, mas seria muito mais claro e equilibrado do que a confusão criada pela rápida superposição de sons e imagens que serve de cenário para as caretas, as inflexões e as palavras do repórter. Estou convencido de que os telespectadores absorvem mais facilmente as informações quando não são massacrados por sucessões de imagens distorcidas que, freqüentemente, apelam para a emoção, e não para a razão. Essas imagens em excesso são uma interferência inconveniente. Como é possível. então, fazer um telejornal mais informativo? Antes de mais nada, os 22,5 minutos (sem contar os comerciais) são o tempo suficiente, pois repre-
RACIONAR I~ A crítica do editor da TV Cuide, pedindo um racionamento de imagens nos telejornais, talvez possa ser entendida no exemplo da guerra do Vietnã. Todos os dias os editores escolhiam as cenas mais violentas e a guerra enchia os Estados Unidos, costa a costa. As entrevistas e informações analíticas da guerra não eram tão importantes para a televisão, quanto as notícias sobre os últimos combates e a violência. A tendência de se escolher as cenas mais dramáticas existe. E pode ser entendida. Afinal, é o que diz aquela frase famosa da televisão: a imagem vale mais que muitas palavras. Quem já não ouviu isso? A dramaticidade de uma imagem pode comunicar muito e, sem dúvida, a violência estúpida da guerra está sempre dentro da imagem em que um homem dá um tiro no outro. Mas este e apenas um dos lados da questão. Mesmo a imagem violenta, que pode criticar a violência, necessita de um acompanhamento. Roubando um pouco a teoria do cinema, cada plano tem seu significado, variável ao gosto do freguês, porq ue tudo depende da maneira de olhar e de apresentar o plano. A sequência, ou ligação de um plano a outro, já pode modificar o próprio conteúdo inicial do plano. Um exemplo: a câmara enquadra a mão de um
homem, com o dedo no gatil O dedo aperta o gatilho e ouv O que você está espera; sobre este plano? Procure mações ele pode passar a , existe um componente de vio tiro. Sem fazer nenhuma plano, esta cena pode represe ou poucas. Vamos ampliar dando só o enquadramento mostraria a mão, o revólver, e o outro que cai. Neste caso poderia ter sido pensado de na primeira imagem, começ mas não objetivo. Foi mesmo O motivo, as circunstânc mado na imagem. Existe ur um homem baleado - e n Esta imagem-exemplo não é tituir notícia objetiva, se nã, de um texto ou de outras cinema mudo mostrava mu significados). E muito comum confund credibilidade, quando se trai para fins jornalísticos. Dizer. tiva parece ser o primeiro c, maior. Porq ue são as palavra
A acusação não é nova-eo mínimo que os críticos pedem é que os telejornais brasileiros sigam o exemplo americano. Amenidades de mais, conteúdo de menos, distorção da realidade, abuso da eletrônica, etc. etc. - coisas que pareciam s6 nossas. Sem falar das acusações que, na verdade, preocupam os que lutam para dominar um veículo novo. Um veículo que, na prática, ainda não tem uma linguagem. Mas tem muita teoria. O editor da TV
lo
Guide fez, há algumas semanas, uma crítica pessimista sobre o telejornalismo americano. Amenidades, zorra eletrônica, distorção da realidade, etc. etc. Foi mais longe: pede um racionamento de imagens. Televisão racionando imagens? Exatamente. Lá, como cá, a prática e a teoria ainda estão em guerra. E o telejornalista - além de saltador de obstáculos - um profissional à procura de uma linguagem.
IROS? NÃO. OS AMERICANOS) )0
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sentam 1575 palavras, ou seja, mais de 60% das 2.590 palavras que compõem normalmente a primeira página do New York Times, tirando os títulos. Esse espaço de tempo deveria ser melhor aproveitado ou simplesmente reduzido. Com isso, as redes de TV seriam forçadas a concentrar informações objetivas e a eliminar o supérfluo. Informar melhor significa divulgar honestamente os diversos aspectos de um assunto controvertido. Por outro lado, o telespectador estaria melhor informado se as redes de TV passassem a dedicar mais tempo a programas relacionados com assuntos de interesse público. Documentários, entrevistas, a cobertura de discursos presidenciais e outros acontecimentos importantes são uma excelente oportunidade para apresentar problemas de interesse público dentro de uma perspectiva correta. Além disso, esses programas especiais são ideais na medida em que refletem uma grande diver-
IMAGENS?!?! edo no gatilho de um revólver. :atilho e ouve-se o disparo. está esperando que seja dito ? Procure ver q uan tas infor: passar a você. Sem dúvida, mente de violência - a arma e r nenhuma ligação com outro rode representar muitas coisas, 10S ampliar o exemplo: muuadramento, essa mesma cena o revólver, o homem que atira . Neste caso, o assassinato, que pensado de maneira subjetiva ;em, começa a ser real. Real, Foi mesmo assassinato? circunstâncias, nada foi infor1. Existe um fato real nela ado - e nada mais que isso. mplo não é capaz de se consetiva, se não for acompanhada de outras imagens (afinal o iostrava muitas coisas, e seus irn confundir objetividade com ando se trata de usar a imagem ticos. Dizer que imagem é objeprimeiro caminho de um erro '0 as palavras, no jornalismo, a
única forma capaz de proporcionar
objetividade
à informação. As imagens dão realidade (credibilidade) ao que se está narrando ou são até capazes de desmentir a falsa objetividade de um texto. Um exemplo que esclarece isso é dizer no texto que dez mil pessoas foram a uma concentração enquanto a imagem mostra uma incrível multidão. Esta força que tem a imagem é que é importante. Ela é sutil e contundente. Em telejornais, que se condicionaram curtos objetivos, existe a tendência de se escolher imagens a partir do máximo de objetividade que elas podem ter. A imagem passa en tão a ser a escravizadora do editor e não um instrumento da informação. I: a mesma febre dc objetividade - uma tendência atual - que pode roubar a um repórter de jornal a chance de mostrar o envolvimento de um fato e suas conseqências - regra das básicas para um bom jornalismo. Portanto, o racionamento de imagens do editor do TV Cuide, não deve deixar ninguém surpreso. Deve ser entendido como uma crítica à concepção da imagem como elemen to supremo do Telejornalisno. Ele tem razão quando fala em quebra da realidade, porque a imagem é forte o suficiente para fazer isso, quando mal usada. Mas num texto também não se pode distorcer a realidade? A ndré Morta Lima
sidade de pontos de vista, tão essenciais ao debate e decisões do público. Esse papel tem sido melhor desempenhado pelo rádio, do que pela televisão, embora não exista nenhuma razão para impedir que um programa de rádio como o "spectrurn" da CBS - cujos convidados apresentam, semanalmente, pontos de vista totalmente diferentes sobre determinados assuntos - seja adaptado para a televisão. ~ preciso que um maior número de opiniões seja transmitido pelas redes de televisão, que poderiam, a exemplo das emissoras de TV locais, fazer editoriais. O noticiário de televisão cuidadoso e honesto desempenha um papel vital na vida da comunidade, principalmente quando suplementado por programas de interesse público, pelo rádio, jornais, escolas e universidades. Nessas circunstâncias, o tempo curto não é um defeito e pode mesmo ser uma qualidade, pois não se pode confundir tempo curto com superficialidade. Num telejornal, uma reportagem longa pode ser vazia e distorcida por informações supérfluas. Uma reportagem curta pode ser mais profunda e equilibrada, se focaliza apenas os fatos importantes. As vantagens dá notícia curta foram enfatizadas por um comentário recente de um alto funcionário do governo que considera o telejornal de um minuto da NBC, "News Update" mais informativo do que qualquer um dos três importantes telejornais noturnos. O objetivo de um telejornal deve ser informar, e não impor ao público um determinado ponto de vista, como ocorre normalmente nos telejornais noturnos. Durante
um certo tempo assisti ao mini-telejornal "News Update". porque o ponto de vista apresentado era importante. Esse telejornal é composto, normalmente, de quatro ou cinco notícias diretas e não encontrei nenhuma distorção, nenhuma informação errada nele. Um crítico de televisão afirma que o telejornal de cinco minutos, o "Mid-Day News", apresenta uma imagem mais equilibrada dos principais assuntos do dia do que o informativo de 30 minutos com Walter Cronkite. Devido ao problema de tempo, o programa de cinco minutos tem, naturalmente, menos opiniões e imagens que poderiam d istorcer os fatos. Eu não estou sugerindo que o telejornal passe a ter cinco minutos. Os três principais telejornais noturnos têm muito que aprender com a simplicidade dos jornais curtos - isto eu afirmo. Numa época confusa como a nossa, informações objetivas são essenciais. O tempo curto, quando bem empregado, pode ser a base dos telejornais. 7
AQUI, NOVAS DICAS DE FILMAGEM São dicas retiradas ainda do livro "Produção em Televisão - Noções Básicas", de Desmond Davis.
Evite que o ponto de interesse principal salte de um lado para outro do vídeo durante um corte. Por exemplo, se esse ponto de interesse estiver à esquerda do vídeo numa tomada, deverá continuar à esquerda na tomada subseqüente. Essa é uma armadilha na qual facilmente se cai quando não se tem cuidado. O efeito do erro é muito perturbador. Veja o exemplo na Figura 1. Na câmara 1, a personagem B está à esquerda do vídeo e, na câmara 2, à direita. Portanto, no corte, ela parecerá saltar de um lado para outro.
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Faça uma experiência. Cubra o vídeo da câmara 1 com dois dedos e olhe para o vídeo da câmara 2. Em seguida, mova depressa os dedos de modo a cobrir o vídeo da câmara 2 e expor o da câmara I. Faça isso para cá e para lá algumas vezes. Você terá a impressão de cortar de uma para outra e verá como a personagem B salta de um lado para outro.
FIGURA
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FIGURA
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O exemplo da figura anterior é extremo, porque as duas imagens são semelhantes e a personagem B está completamente à direita de uma e completamente à esquerda da outra. Quando esse pulo é atenuado, o problema praticamente desaparece, como podemos ver na Figura 2. Neste caso, a personagem B está completamente à direita da imagem da câmara 2, mas aproximadamen te no centro da imagem da câmara I. O salto é muito menor. Além disso, as duas imagens são inteiramente diferentes e jamais se notaria um pequeno salto. A regra demonstrada nas duas figuras anteriores não se aplica apenas a uma pessoa ou ponto de interesse máximo, mas também a um objeto perturbador de interesse relativamente menor. lmagine duas pessoas conversando, sentadas a cada lado de uma mesa e falando por cima dela. É uma cena muito comum em en trevistas. Agora imagine que essas pessoas sejam filmadas através de um par de tomadas sobre os ombros, equilibradas e complementares, conforme a Figura 3. Um vaso como o do exemplo, se torna perturbador em ambas as tomadas. Numa câmara estará à direita do vídeo. Na outra, à esquerda. A cada corte, as flores voarão de um lado para outro do vídeo, o que vai constituir uma dispersão ridícula. Um objeto pequeno e relativamente despercebido, fazendo isso, não teria importância. Mas algo como um vaso de flores, um busto ou uma lâmpada, que rivalizem com os sujeitos em espaço ocupado, de fato importam muito, porque vão atrapalhar. 8- '--
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FIGURA
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