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UM SUPLEMENTO

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DE O ALDEÃO

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Supervisão: José Itamar de Freitas Coordenação: Henrique Olivicr Editor: André Morta Lima li ustrações: Robcrto Simões

'SE VOCÊ NÃO SOUBER, A PESQUISA PODE , INFORMAR QUE ESSE QUADRO E DO DALI, Salvador, pintor, um dos criadores da corrente surrealista, nascido na Espanha, em 1904 ... 5


, , MEMORIA DO REPORTER ENGRANDECEU GOLEIRO Quando ele começou a correr, a multidão prendeu a respiração. Afmal de contas, aquele não era de perder pênalti. Justo aquele pênalti, que representava tudo. E ele correu, bateu e perdeu, tirando o grito da boca de milhões de torcedores. Nas arquibancadas, um silêncio profundo. Tão profundo que deu para ouvir, pelo eco, a voz do repórter de campo justificar: "é o terceiro que ele perde em toda a sua carreira" . Parecia impossível, mas Zico havia perdido o terceiro pênalti. Ele, o infalível. Começava a morrer ali o campeonato do primeiro turno para o Flamengo. Antes mesmo de começar a nova série de pênaltis, que daria o título para o Vasco, outro repórter de campo aparteava: "esse é o terceiro da carreira do Zico, mas o segundo como profissional. Antes ele perdeu um no campeonato de juvenis, num jogo contra o Vasco. E o goleiro era o Mazzaropi" De repente, o goleiro Mazzaropi, mais do que herói daquele momento, passava a ser capaz de fazer o que parecia impossível: era o homem que defendia os pênaltis do Zico. A informação dos locutores, além de enriquecer a notícia, deu a ela novas características. O fato ficou engrandecido. Naquele momento, e até depois, quase ninguém percebeu o que a atitude do segundo locutor representava. Todo mundo achou normal aquela informação mais. Talvez porque a carreira do Zico ainda fosse muito curta, dando chance ao repórter de lembrar daquele pênalti dos juvenis, que ele assistiu. Mas se o repórter não tivesse uma boa memória, ninguém ia saber que o Mazzaropi tem o hábito de defender os pênaltis do Zico. Pelo menos, foi assim que ficou registrado na cabeça dos torcedores: Mazzaropi tem o hábito de defender os pênaltis que o Zico bate. Mas quem pode garantir se em outro jogo, de juvenis mesmo, o Mazzaropi não deixou passar a bola, contribuindo para o saldo positivo do Zico? Na dúvida, apela-se para o Departamento de Pesquisa. Esta é a visão que todos fazem da pesquisa: um negócio para tirar dúvidas do passado. Quase sempre numa sala ernpoeirada e cheia de recortes de jornais. Mas na verdade, o que o segundo locutor fez foi recorrer à memória, à verdadeira função da pesquisa. Uma delas, e claro. Quando chega na redação a notícia do golpe de estado em Swistoni, pequeno país lá pros lados da Conchinchina, onde vai ficar o leitor? E até mesmo o redator da notícia? O jornalista não é obrigado a ser um computador. praticamente certo que ele não tenha tido chance igual à do segundo repórter de campo. Ele nunca viajou e nem sabia direito da existência do Swistoni. Mas, no dia seguinte, sai no jornal: "O governo de Swistoni, pequeno país de um millião de habitantes, na parte meridional da Conchinchina, sufocou ontem um golpe de estado da Guarda Nacional, tro;>a de elite dos 500 homens do exército do pais, que .é rico em minérios, etc e tal". A pesquisa funcionou, Da pessoa que possui uma cultura superficial, costuma-se até dizer que não passa de um leitor de orelha de livros. O jornalista que se Ê

TODAS AS HISTÓRIAS DESTA NOITE DE NOTICIAS SERÃO INESQUECMIS

fia apenas na própria memória, de certa forma situa-se no mesmo caso, já que prefere fazer a reportagem guiando-se por fatos esfumaçados que lhe rodam na cabeça, em lugar de ir a uma fonte mais completa e digna de crédito: a pesquisa. Em qualquer escola de jornalismo, uma das ;>rimeiras coisas ditas aos futuros repórteres, e a importância de se informar antecipadamente sobre o assunto que se vai cobrir. Mas muita gente esquece desta recomendação quase uma regra básica. E enquanto tal maneira de agir se prolonga, a CBS News faz, em vários jornais americanos, anúncios mostrando a capacidade de seus arquivos, como aquele que apareceu no "Variety" de 7 de abril de 1976, onde é dito que nenhum acontecimento é esquecido, que tudo é arquivado e armazenado na memória de computadores, em vídeotapes ou filmes. A nova imagem que Hélio Costa criou para o repórter, e que sustenta todo o domingo a sede de informação do público, deve-se muito à pesquisa por ele realizada. Em 1975, quando falou para os alunos de Comunicação, na PUC, o repórter relatou que antes de entrevistar uma pessoa ou cobrir um fato, ele e sua equipe realizam um trabalho de pesquisa sobre a ;>essoa ou fato que serão focalizados. Só assim e que serão realizadas práticas jornalísticas, que tentam ser objetivas, aproveitando o máximo de tempo que lhe é cedido. Mas não são só estas as funções que a pesquisa pode assumir no jornalismo. Alves Pinheiro, antigo chefe de reportagem de "O Globo", implantou um método que rendia boas matérias. Sempre que um político prometia alguma coisa, ou que se anunciava a data para uma obra ficar pronta, A1ves Pinheiro mandava recortar e colocar numa pasta, que ele só voltaria a consultar muito tempo depois, na data "prometida". Quase sempre acontecia da obra não ficar pronta. Da promessa não passar de promessa. E era notícia tranqüila mandar um repórter apurar os "porquês". Muitos profissionais de imprensa vivem em função de seus arquivos. Críticos de teatro e cinema, por exemplo, não poderiam guardar de cabeça todas as informações originais sobre determinadas obras. Há até quem não abandone um bom histórico de acontecimentos para aproveitar datas para criar matérias. E quase sempre elas saem da própria pesquisa. ~ a pesquisa desencadeando nova pesquisa, e criando matéria. Num mundo que se acelera cada vez mais em espaços mais curtos, onde os fatos se acumulam em velocidade capaz de impedir qualquer homem de acompanhar tudo o que acontece, cada vez mais a pesquisa assume importância. Por tomar objetiva e homogênea uma matéria que antes se encontrava desconexa e heterogênea, a pesquisa tem a capacidade de revitalizar a matéria. Além do apoio ilustrativo, ela vai ajudar a situar o fato dentro de um contexto de acontecimentos que podem ter contribuído mesmo para que aquele fato ocorresse. um pouco de visão histórica, que ajuda a compreender o presente e talvez ate a prever o futuro. Não são poucos os historiadores a lembrar que, com o surgirnento de um maior controle

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=~~~'~ON '-~-;::.,"""'- F""'NEWS WILL BE ~=--.odUNlOliGlii iJlBLE A cadeia CBS busca o prestígio através da credibilidade oferecida por um eficiente Departamento de Pesquisa.

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estatal sobre o desenvolvimento da economia - delimitando campo e orientando a infra-estrutura - a função do empresário deixou de ser a do homem que toma decisões baseadas numa intuição ou audácia própria. Da década de 30 para cá, as grandes empresas aprenderam a trabalhar baseadas em pesquisas de mercado e em previsões, sempre com base em pesquisas projetadas. Quando o "seu" José chega em casa e sintoniza seu programa favorito, apenas para ver um quadro de cunho cultural, seja entrevista com artistas, atores ou até mesmo um jornal, jamais conseguirá imaginar o quanto de informação foi pesquisada para que ele, o telespectador, tivesse num curto espaço de tempo uma visão geral sobre a pessoa, sobre a obra. Hoje, os seriados e "enlatados" que diariamente vemos na TV, primam pelo apuro técnico e, acima de tudo, pela reconstrução do lugar e/ou época. N a televisão brasileira, quando aparece o herói ou heroína falando e vestindo conforme a época, a imagem tem ~o de mágico para o telespectador, pois ele esta vendo a época dos nossos antepassados desenrolar-se perante ele. Porém, tal reconstituição de época, de costumes, só foi possível através da pesquisa em livros, filmes e depoimentos de pessoas que as vezes já morreram mas que, devido aos arquivos, conservaram seus pensamentos sempre eternos. Na televisão, a pesquisa adquire importância ainda maior. Sem falar nas am bien tações de novelas e nas possibilidades de aprimoramento [ornalfstico, ainda existe um componente a mais, fascinante e revelador. De repente, a gente tem a possibilidade de ver um morto falando - vivo como se não tivesse morrido. Os filmes e vídeo-tapes guardam as coisas como foram exatamente, tirando qualquer possibilidade de modificação e alteração da realidade do passado. Não adianta dizer que o Lamartine Babo era fluente e bem falante, quando a gente pode ver que era gago. E que fluente, e bem humorada, era a sua idéia, o que dizia. Com tudo isso, ainda presenciamos casos de profissionais que, tendo o auxt1io da pesquisa, desde fichamentos até computadores, preferem confiar na própria memória, pondo em risco a credibilidade da empresa em que trabalham. Um repórter que, ao entrevistar uma alta personalidade pública, e na falta do que dizer prende-se ao supérfluo, é o biotipo do profissional que prefere consultar-se com reporteres de outros jornais em lugar de informar-se antes na fonte da própria emissora em que trabalha. Tirésias era cego sim, porém via longe - o que não é o caso destes senhores. Já é hora de olhar para o exterior e ver a importância dada pelas empresas estrangeiras aos seus centros de pesquisas. Pois, como a CBS mostrou, não é só a emissora que faz a notícia, mas sim o inverso: é a credibilidade da notícia, apoiada em grandes pesquisas, que faz o nome de uma empresa. MARCia AI..VES DE BRlTO SUCUPIRA do Centro de Documentação - Rio

De fato, nenhuma reportagem do telejomalismo da CBS é esquecida. Isto por causa da memória mágica global do sistema de recuperação da informação da CBS NEWS. Um computador programado para o arquivo de jornalismo armazena dados para todos os telejomais - para todas suas edições televisadas, informativas ou documentários. Quando o computador é acionado para fornecer a lista das 37 mudanças. ocorridas no govemo italiano de pôs-guerra ou as vendas de trigo para a Rússia durante o mês ou determinado periodo, o computador localiza imediatamente o filme ou tape solicitado e um dossiê completo num breve pertodo de tempo. Este sistema de recuperação é somente um dos recursos dos Arquivos da CBS NEWS que compreendem: uma equipe de pesquisadores especialtzados, uma biblioteca geral de obras de referências, 67 milhões de pés de filmes de atualidades, 16 mil horas de video-tape de telejomal, mais de 6 mil documentários e mais de 35 anos de noticiário radiofônico. A noticia é um composto de passado e um desenvolvimento de presente. O conhecimento do fato, acontecimento ou entrevista pode se tomar mais importante, como contribuição, que a noticia primária. Por esta razão, a equipe do Arquivo atende a mais de mil consultas por semana. Seu produto final: maior compreensão, acuidade e credibilidade nas reportagens que são levadas ao ar. Orientando e cordenando esse tesouro documental está Samuel Suratt, arquivista do Smithsonian Institution: Ele e seus colegas orientam os arquivos, atentos à pluralidade de valores de um arquivo: não se preocupando somente com as informações pedidas pelo jomalismo, mas atentos ao calendário da história. E aos seus cuidados que está uma das mais ricas coleções de informação das últimas 4 décadas. Arquivo da CBS NEWS: Pesquisadores, preservadores e vice-versa.


Pesquisa televisada o jornalismo

televisado começou no Brasil ao mesmo tempo que a televisão. Mas era apenas um apêndice da programação. Existia, e existe ainda uma diferença fundamental, muito difícil de ser transposta: no caso do jornalismo impresso, a informação jornalística é o elemento principal, o entretenimento é acessório; na televisão, o entretenimento é o elemento principal, a informação [ornalfstíca é acessória. Mas pouco a pouco, o jornalismo foi ganhando terreno na televisão e hoje em dia já pode ser considerado como elemento importante na programação das principais emissoras. A televisão sentiu que era necessário criar uma estrutura própria para os seus jornais. Mas sentiu que era preciso mudar muitas outras coisas também. Uma delas, foi a de concretizar a estruturação da televisão como empresa: a televisão é uma empresa, e como tal, precisa ter elementos especializados em cada um dos setores de atividade (pena que muitas emissoras ainda não tenham chegado lá). E paralelamente a este desenvolvimento da estrutura empresarial na televisão, ou como reflexo dele, a estrutura do jornalismo televisado foi se formando e se tomando cada vez mais complexa. Se no início bastava ler os jornais do dia e buscar uma ou outra imagem para "ilustrar" o noticiário, atualmente este esquema já não pode mais ser aceito. E mais uma vez, pouco a pouco, foi surgindo na televisão um departamento de jornalismo, com uma estrutura completa, englobando aspectos da estrutura de um jornal impresso e também aspectos próprios do meio em questão: som e imagem. E, mesmo com as restrições ainda existentes, com o jornalismo ainda pouco explorado, dia a dia vem sendo ampliada a dimensão da informação jornalística na televisão. A estrutura jornalística vai surgindo nas emissoras de televisão (pelo menos naquelas que já perceberam a sua importância): ao lado da redação, formam-se equipes completas de reportagem; montam-se setores especializados na coleta do fato no momento em que ele ocorre. E, por último, surge a pesquisa no jornalismo televisado. Em televisão, a pesquisa jornalística engloba texto e imagem. Nosso enfoque será dado predominantemente à pesquisa de informações de texto. A pesquisa de imagem no jornalismo televisado, está ligada à apresentação de filmes, fotos, slides) tapes, que possam fazer parte de uma noticia, dando-lhe a devida dimensão. A pesquisa de imagens, representada pelo arquivo de filmes - como é mais conhecida é algo que não representa novidade no campo. Só que este arquivo de filmes também não pode ser visto como algo morto, mas precisa ter vida, estar sempre atualizado e não depender somente do que foi filmado e aproveitado nos jornais televisados. Devem também ser providenciadas e arquivadas imagens, que mesmo sem terem sido utilizadas, poderão ser necessárias a qualquer momento, como subsídio importante para a matéria jornalfstica, A pesquisa no jornalismo televisado difere da pesquisa no jornalismo impresso, em função das características do meio: ínstantaneidade, imediatismo, além do som e da imagem. Se no jornal impresso a pesquisa tem, de modo geral, mais tempo para a coleta do material necessário.• no jornal televisado este tempo não existe. t, preciso que o material esteja sempre à mão. Por motivos funcionais, é feita a separação do material de texto e de imagem. Mas os dois setores trabalham ligados e simultaneamente, em cima do mesmo assunto, sempre que haja esta necessidade. O objetivo principal de um setor de pesquisa é dar embasamento para o noticiário. E este ambasam~nt? pode se manifestar sob três aspectos pnncipars: 1) Dados colhidos pela pesquisa que comporão o texto a ser transmitido; 2) Dados que permitam ao editor se situar de forma mais segura diante do fato a ser transmitido; 3) Dados que permitam ao repórter explorar melhor o assunto com o qual vai trabalhar. Assim que um fato ocorre (quando imprevisto, caso contrário o material ja fica pronto),

a pesquisa levanta os dados complementares, procurando detalhes deste e relacionando-o com outros. Além disto, também estão presentes o levantamento de eventos e a elaboração de pautas com fatos não divulgados, que podem se constituir em noticiário original, não divulgado por outros veículos; levantamento de assuntos especiais, que podem dar origem a documentários, etc. A pesquisa tem uma função importante dentro do dia-a-dia do jornalismo, mas esta importância aumenta ainda mais quando ocorrem fatos imprevistos e de grande repercussão. A pesquisa pode alimentara noticiário enquanto as informações novas vão chegando. Podem ser abordados os diversos ângulos que envolvem o fato em si, permitindo uma apresentação mais completa da notícia. Também no caso de transmissões diretas, a pesquisa pode ser muito útil, preparando textos antecipados que vão alimentando a transmissão enquanto não há informações novas, evitando que o repórter fique falando sobre nada, só para não parar de falar por falta de assunto. O trabalho de um setor de pesquisa se divide fundamentalmente em dois ramos: arquivo e trabalho de campo. O arquivo é formado por material publicado nos jornais, revistas, boletins, releases, etc, que depois de lidos são recortados e. classificados por assunto, em pastas e arquivos apropriados. Todo este material deve ser fichado, pelo processo de cruzamento de fichas, que permite maior amplitude na consulta. Por este processo, pode-se conseguir, de uma mesma fonte, vários itens de interesse, que ficariam esquecidos no momento da consulta. Inclui também a confecção de resumos analíticos de assuntos de interesse e a organização de uma biblioteca sobre temas básicos, obras de referência que tem uso corrente na elaboração das matérias. O trabalho de campo inclui a coleta de material original para a formação do acervo e a coleta de material específico sobre assuntos de atualidade. Conta com o trabalho de pesquisadores que vão procurar o material para o acervo e de repórteres especiaJizados em pesquisa, que coletarão material e redigirão textos que serão utilizados pela chefia de reportagem e editorias. Para a coleta de material de acervo, é estabelecida uma relação geral de assuntos de interesse, de forma que o trabalho seja organizado e não se torne disp,ersivo. Em princípio, tudo interessa, mas é difícil arrolar esse tudo. Portanto, o ponto de partida é a fixação de temas mais ou menos gerais, que podem ir sendo detalhados conforme a coleta for sendo efetuada. A coleta de material específico, sobre assuntos de atualidade, deve atender a uma dinâmica de atualidade. Os fatos em maior evidência a cada dia, são pesquisados em seus detalhes, para que possam ser elaboradas matérias de maior profundidade analítica. A pesquisa deve ter sempre condições para atender às solicitações do dia-a-dia da reportagem e das editorias e estar sempre oferecendo sugestões para matérias a serem realizadas. Atualmente, com a pesquisa, assim que uma informação chega à redação, ela pode ser mandada para o ar - quando a importância do fato o justifique - apresentando apenas os dados sem maiores detalhes, seja com slide de "atenção" e locutor de cabine, seja com apresentado vivo, seja apenas com gerador de caracteres. Neste meio tempo, os diversos setores de um departamen to de jornalism o televisado se mobilizam, para que esta notícia seja elaborada, para que haja som e imagens do local. E os dados que complementam o fato, os detalhes e sua localização em relação ao noticiário dos últimos tempos, são levantados pela pesquisa, de maneira que, no horário do noticiário normal ou numa extraordinária posterior, já se tenha condições para divulgar a informação em toda a sua amplitude. E esta divulgação da notícia em toda a sua extensão, deve ocorrer antes de sua divulgação pelo jornal impresso que, de modo geral, só tem condições de apresentar o noticiário no dia seguinte. GISELA SWETLANA ORTRIWANO Pesquisa da CGJ - SP

TODO O SERVIÇO , LA DA PESQUISA Se seu filho chegar em casa com um trabalho escolar sobre qualquer assunto ligado à comunicação, não se afobe. Fique sabendo que o Centro de Documentação da Rede Globo pode também resolver esse pequeno problema. Das 15 às 19 horas, os filhos de funcionários vão encontrar pessoas aptas a fornecer qualquer informação sobre a Rede Globo ou sobre os meios de comunicação. Mas não são apenas os filhos de funcionários que podem usar este serviço. Qualquer estudante de faculdade de comunicação, seja ou não funcionário da empresa, pode também fazer suas pesquisas no Centro de Documentação, que está instalado na Rua Pacheco Leão, 240. E este é apenas um dos serviços que o centro oferece.

o QUE s o Centro de Documentação foi criado há dois anos, pelo Departamento de Relações Públicas da Rede Globo, para coletar, catalogar e informar a Diretoria da empresa sobre assuntos ligados à televisão. Logo depois, os funcionários do centro descobriram que o assunto televisão era pouco abrangente. Que era necessário ampliar as pesquisas para as comunicações em geral. Para que houvesse uma atualização constante, o Centro fez intercâmbios com diversas entidades e universidades, do Brasil e do exterior. Ao mesmo tempo, criava-se um núcleo de biblioteca e um núcleo de arquivos sonoros, além da sistemática catalogação de recortes de jornais e revistas. O Departamento de Relações Públicas já possuia um serviço de filmoteca encarregado de preservar reportagens, que depois poderiam também ser emprestadas para colégios e fac'41dades: Com o mesmo sentido, o Centro de Documentação começou a preservar a memória da televisão. De inicio, através da microfilmagem dos scripts de novelas, que deterioram facilmente. Depois, guardando depoimentos de homens de televisão e recuperando a história gráfica e visual da Rede Globo (logotipos, filmes de animação, etc). SERVIÇOS Todo esse material acumulado, por si só, iustiftcava que fosse visto por mais gente. O Centro de Documentação começou então o atendimento ao público, principalmente estudantes, que hoje têm acesso a esse acervo. Com circulação interna, foi criado um boletim semanal, que informa aOI funcionários sobre todas as publicaçõe« que o centro adquire. Há trê« meses foi inictado um trabalho de pesquisa com a finaJidode de prestar serviços ao departamento de jornalismo, à produção e, posteriormente, a toda a Rede Globo. O núcleo de pesquisa j4 possui uma biblioteca de assuntos gerais (cobrindo todas as áreas de conhecimento), obras de referência, catálogos e bibliografilll, além do arquivamento de jornais e revisttu (por microfilmagem) e uma parte de ilustrações. No entanto, ainda são poucos os jornalistas da Globo que procuram o Centro de Documentação. Segundo Edna Palatnik Benolieí, responsável pelo Centro, "a maioria ainda desconhece a quantidade e a qualidade do material que temos nos arquivos ", Ela admite, inclusive, a recomendação de livros: "Se forem livros úteis para uma maioria, nós compramos", Quem quiser também receber os boletins sobre as publicações que estão sendo compradas, é SÓ pedir. Muitos dos livros e artigos sobre comunicação são estrangeiros, mas os funcionârios do Centro de Documentação se encarregam da tradução. E atendem também a pedidos de toda a Rede Globo, sem se limitar ao Rio de Janeiro. O ramal do Centro de Documentação é o 381. E esta, a lista dos funcionários que podem atender aos pedidos de informação: Vanda Braga] Eliane Melo] Rosilma Azevedo/ Ntsicler Ferreira] Regina Palmeiral Silvana Leitão/ Márcio Sucupiral Leonor Aina] Gisele Ruiz] Maria do Carmo Viana] Ana Gosling] Maria Raquel/ Bárbara Marinho/ Maria Helena Sobral] Valdinea Santos/ Maria Helena da Cunha] Antonio Tinoco] Macário de Oliveira/ Lenildo Cardoso/ Jorge Amaro] Haide Góis/ Helida Cardoso/ Terezinha Santa Rita. 7


Aleluia,

aleluia começaram a escrever por conta própria Aqui trabalha

O

"colador de durex", ou "chofer de moviola ". Mário Murakami.

DEFENDENDO A CLASSE, UM MONTADOR Depois da filmagem, completando o trabalho do cinegrafista e escapando das engrenagens dos laboratórios de imagem e de som, o filme passa para as mãos de um ou tro técnico: "o montador". A nomenclatura vem de montar, armar, dar forma, unidade. A finalidade do trabalho do montador é de dar um tratamento ao material filmado e revelado, com cortes e emendas de imagens e de som das cenas interiores, exteriores, sonoras ou mudas. E sempre selecionando os melhores trechos, de acordo com o maior ou menor interesse dos depoimentos, das cenas complementares e do assunto em questão, tentando dar uma narrativa de ordem lógica e sintética, a mais clara possível para uma mensagem a ser transmitida por imagens e sons justapostos, alternados c/ou contrapostos umas às outras. O som pode ser ao natural (direto - captado durante a filmagem - ou fabricado nos estudios - dublagens de falas ou de ruídos, trilha sonora, narração antes, durante e/ou após o filme propriamente dito. Ao tecelão é dada a tarefa de fabrico do tecido, à costureira a de cortar e emendar as partes, até que a roupa esteja totalmente pronta e ajustada. Uma boa quantidade de pessoas colaboraram para que tudo saia perfeito. Desde o camponês, que plantou a semente do vegetal que fornece o fio, ao operador da fiandeira, ao

desenhista da estamparia, ao tecelão, ao vendedor do tecido, aos fabricantes de linhas, botões, e ou tras quinquilharias necessárias ao acabamento de um tecido pela costureira. Na confecção de um filme, além dos fabricantes das matérias-primas, colaboram os técnicos de laboratórios de imagens, dos estúdios de som, os cinegrafistas, os sonotécnicos, os repórteres, os produtores, os desenhistas, os atores, os eletricistas, os motoristas, os contínuos, o faxineiro, o diretor de filmagem e também o "colador de durex" - o montador de filmes. Mas para que o trabalho do montador seja realizado, é evidente que dependerá diretamente do rendimento conseguido pelos cinegrafistas, repórteres, redatores, locutores, ete. O montador trabalha na sala de montagem, em uma mesa apropriada, com recursos para que a imagem possa ser vista e revista, com ou sem som, selecionando os trechos, dando uma ordenação, um ritmo encadeante entre estas cenas. Ou melhor: entre uma cena mal filmada c outra muito bem filmada, entre um movimento condizente com o assunto e um outro com movimentos apressados, ou retardados e até repetidos. Entre cenas fixas e outras trepidantes (camcra-na-mão e não no tripé). Corrigir aquela frase mal articulada, com ritmo lento, locução apressada. Erros de redação ou locução que são retirados, substituídos por outros, mas que não al terem o sentido da narra-

tiva. Tentando sempre ernbelezar o produto final com um artíffcío de tempo, de ritmo, com um movimento de eena ou uma passagem de som. Esticando ou encurtando para conseguir que o filme tenha um tempo total que dê J,lara perceber o assunto o mais claramente possível. Eis aí a finalidade do "chofer de moviola" o montador. Em nossos trabalhos para a Rede Globo, além do esforço despendido na mesa de edição de filmes, a rnoviola, há uma complementação feita na edição de video-tape, onde o programa recebe mais alguns enfeites e a inserção das mensagens dos patrocinadores de nossas transmissões. E, por fim, esclarecimen tos sobre uma questão de nome: Colador de durex - os filmes são emendados em suas partes, tanto na imagem como no som, por fita adesiva translúcida, popularmente conhecida pelo nome de um de seus fabricantes. Moviola - mesa para editar filmes, impropriamente assim chamada, também por ter um fabricante de equipamentos para cinema emprestado seu nome a popularização. MÁRIO MURAKAMI montador do dep, de reportagens especiais - rio

A BEM DA VERDADE, UM PESQUISADOR Na oportuna pesquisa sobre os profissionais que cuidam da preservalão da memória nacional - matéria "Luz, Camara, Ação - Quem Está Filmando? ", O Aldeão, n.? 13, de Mario César, Pesquisa dOI de Departamento de Reportagens Especiais -, creio que vale acrescen lar um adendo sobre alguns dos nossos melhores cinegrafistas, justamente aqueles que se tornaram mais conhecidos ao trilharem o caminho aberto pelo pioneiro Afonso Segretto. Por exemplo: Antonio Leal, que foi o grande repórter-de-cinerna na inau.lluração da Avenida Rio Branco. Era portugues e foi fotógrafo de vários jornais e revistas cariocas da época, antes de tomar-se repórter cinematográfico. O seu primeiro filme foi justamente a reportagem da inauguração da "Fonte Ramos Pinto" (este o título também do filme), então situada no Largo da Glória e posteriormente levada

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para a entrada do Túnel N ovo, onde ainda deve estar, se não houve nenhuma decisão em contrário. Em 1906, Pascoal Segretto viu que um crime famoso de então daria um bom tema para um filme e Leal começou a fotografá-lo, Nascia, assim, sob a direção de Francisco Marzul10, "Os Estranguladores", que foi o primeiro filme brasileiro de enredo, sendo necessário notar que embora se tra tasse de um filme dramatizado, o tema para essa dramatização era um fato real. Dava-se início portanto a uma tradição de "cinema-verdade" que no cinema brasileiro iria ser responsável por al$uns dos melhores momentos de nossa trajetoria cinematográfica (O Assalto ao Trem Pagador, O Crime dos Irmãos Naves, e tc., etc.) Sobre o realizador da coletânea "70 Anos de Brasil", Jurandir Noronha (ele também um

dos cinegrafistas brasileiros mais atuantes, durante longo tempo), e sobre Ortiz Rubio, discorre muito bem Eli Azeredo, neste trecho da análise que fez de "70 Anos de Brasil": - Coerentemente, Jurandir Noronha, que tanto militou como cinegrafista, encerra o filme homenageando os pioneiros do documentário brasileiro, a raça de homens de cinema cujo trabalho mais sofre as deficiências da preservação da memória nacional. A última seqüência - com muita adequação - fica incompleta: é de uma reportagem sobre aviação na qual perdeu a vida um repórter da câmara, o cinegrafista Ortiz Rubio.

Carlos Alberto Miranda pesquisador da cgj - rio


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