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UM SUPLEMENTO DE O ALDEÃO Supervisão: José ltamar de Freitas Coordenação: Henrique Olivier Editor: André Motta Lima Ilustrações: Roberto Simões

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.o,FUTURO

DA TV NA SINTESE DOS POETAS Uma expenencia de menos de dois anos em jornalismo de TV - como é a minha - não permite generalizar, muito menos formular regras. Permite, no máximo, o simples relato, suposições e perguntas. ~ claro que ao chegar à TV, depois de 18 anos de imprensa escrita, minhas únicas armas - eu achava - eram a palavra e a própria experiência de haver passado por vários tipos de jornal e revista. Não foi preciso muito tempo para descobrir que as armas eram bem mais fracas do que julgava. Em poucos dias acumularam-se perguntas e mais questões, quase todas sem resposta ainda hoje. Primeira grande diferença e grande questão: num jornal ou numa revista, o profissional geralmente não se interroga muito sobre o público desse órgão - a não ser quando ocupa uma posição de direção. São raros os casos de veículos escritos que não tenham já seu público mais ou menos estratificado e definido. Quase sempre, um público bastante homogêneo quanto ao nível cultural e categoria econômico-social. E isso explica até a conhecida resistência da imprensa escrita diante de inovações. "O leitor é conservador" - esse é um mandamento (bom ou mau, correto ou não) da imprensa escrita. Conservador no sentido de rejeitar mudanças, por menores que sejam. Tem ou teria o hábito de encontrar este ou aquele tipo de matéria nesta ou naquela página/seção e se irritaria com qualquer mudança. Costuma-se até lembrar uma pesquisa que mostrou o seguinte: o leitor de jornal é tão conservador que leva em média um ano para mudar de jornal, a partir do momento em que se desgosta. Na televisão é quase tudo exatamente ao contrário. O público é heterogêneo vai do analfabeto ao universitário, da criança desatenta ao velho surdo concentrado, do especialista ao cego (os cegos sempre afirmam que "vêem" TV), da empregada à dona da casa, do favelado ao grande empresário e ao presidente da República. Aqui se colocam as primeiras grandes questões, numa televisão como a brasileira, ou pelo menos nas que atuam em rede nacional: encontrar temas e linguagem de interesse de todo o público. Temas e linguagem ao alcance do espectador que se convencionou chamar de menor nível cultural, mas sem perder o interesse do público de nível mais "alto". Mais ainda. Um telenoticioso do tipo do Jornal Nacional tem cerca de 15 minutos de informação. Se se tomar por base a média de 50 por cento de texto - que a maioria dos homens de TV provavelmente considerará excessiva, longe do ideal - serão 7 minutos e meio de texto. Que correspondem a umas 75 linhas de 65 batidas. Com essas 75 linhas, mais o. que a imagem informar, o jornalista de TV estará na obrigação de corresponder à expectativa do público, que é a de informar sobre o que está aconte6

cendo naquele dia na cidade, no país, no mundo, em Marte, nas galáxias e nas profundezas da Terra, onde nascem os terremotos. Como se o quadro já não fosse bastante complicado, entra em cena um complicador. Quem escreve para jornal ou revista toma como ponto de partida que o leitor está absorvido na tarefa de ler - em casa, no escritório, no ônibus etc. Jornalista de TV tem de partir do inverso - tem de supor que o espectador não está absorvido ou pode deixar de estar a qualquer momento. O televisor costuma ficar na sala, onde se reunem adultos e crianças, homens e mulheres, com os mais diversos interesses - a criança interessada em aproveitar as últimas horas de folga do dia, empregada preocupada com jantar, dona de casa nem tanto, homem cansado do trabalho etc. Qualquer um deles pode interromper a concentração do outro -rindo ou chorando, sentando ou levantando, apagando ou acendendo a luz, falando ou discutindo. E o preço pode ser um aparelho desligado ou a mudança de canal. É uma preocupação que o jornalista de imprensa escrita não costuma ter. Ainda que seu leitor se canse ou se desinteresse em dado momento, em geral ele não tem como "mudar de canal" (é baixíssimo o número de pessoas que lê mais de uma publicação). Esse ambiente de recepção da informação de TV tem reflexos poderosos na linguagem. Não favorece, pcr exemplo, a e stru tura cartesiana, lógica, de linguagem. Como o receptor pode ter sua atenção desviada a qualquer momento, a compreensão do que está sendo informado no momento não deveria, em princípio, estar condicionada a nenhuma informação prévia - porque se correria o risco de ele não ter ouvido ou visto essa informação. O desvio de atenção pode ser induzido até pela própria' TV. Uma imagem altamente estimulante tenderá a concentrar a atenção e afastar o espectador do texto que corra paralelo, especialmente se ele contiver uma informação diferente, não específica (complementar) daquela imagem. Uma das experiências mais frustrantes, por um lado, e reveladoras, por outro, foi a que tive ao assistir com mais seis pessoas à exibição de uma montagem que fiz. Como não se tratava de texto factual, e sim interpretativo, foi montado sobre imagens alegóricas muito ricas e fortes. As pessoas que assistiam deixavam, a todo instante, de prestar atenção no que se dizia para se perguntarem que imagens eram aquelas, a que se referiam. Ao final, tinham entendido muito pouco do texto narrado. Isso levaria a uma das grandes perguntas: a linguagem específica do nosso tipo de televisão seria o mosaico? Seriam os fragmentos isolados, capazes de permitir a compreensão isoladamente, e com o sentido transmitido, mais simbólica que especificamente, pelo con-

junto? Uma resposta positiva transformaria a tarefa do jornalista de TV em algo ainda mais complicado do que já é. A função da palavra no jornalismo de TV tem ainda outros complicadores. Um homem de imprensa escrita pode - e costuma - trabalhar mais ou menos isolado. Um repórter escreve seu texto e não costuma participar da diagramação, da edição, da decisão sobre o destaque conferido à matéria. Não precisa saber de diagramação, de linotipos ou compositoras eletrônicas, muito menos de rotativas. Do profissional de TV, no jornalismo, exige-se mais. O bom ou mau uso da cinegrafia influirá na qualidade de sua informação. E isso vale para o videotape, para o moviscope, para a moviola, para a mesa de efeitos - enfim, para a parafernália eletrônica. A cinegrafia pode determinar mais ou menos palavras, este ou aquele tipo de texto. O video-tape permitirá este ou aquele método de montagem, o destaque desta ou daquela imagem/informação. Um efeito de mesa pode transformar tudo. Na verdade, continuamos todos a nos perguntar o que é a linguagem da TV e, dentro desta, qual a linguagem do jornalismo - forma e conteúdo. Não temos ainda respostas para quase todas as questões que se levantam, sobre os fatores que condicionam e influem ou deveriam influir - como a diversidade regional de cul turas, censura, disponibilidade de equipamentos, diversidade de fontes etc. Em um dos poucos livros sobre a televisão no Brasil ("TV Quem vê quem", Eldorado), João Rodolfo do Prado lembra que a TV não é mais um meio de comunicação; é a sintese das comunicações possíveis. E isso define a complicação. Porque a síntese não é a soma, não é o ajuntamento ou o uso alternado dos fatores; é o produto da soma, do ajuntamento. E como toda comunicação se assenta na realidade - seja qual for essa realidade, o conceito de realidade ou a forma de apreensão - parece que todas as formas em TV se aproximam progressivamente do jornalismo, que tem a pretensão de espelhar a realidade mais concreta e mais próxima. Está sendo assim com a novela, o caso especial, o humor e o próprio show. Se é assim, se a TV tenta se aproximar cada vez mais da realidade; se o meio for realmente a síntese; se a comunicação tende a ser mais simbólica que específica - talvez então aconteça uma utopia, talvez aconteça que o futuro da TV seja dos poetas. Porque o poeta é capaz, mais que nós outros, de se debruçar sobre uma realidade, captar-lhe os significados mais profundos, transforma-Ios em símbolos extremamente sintéticos, reduzi-Ios a sua expressão mais simples e compreensível. Talvez nem seja verdade, mas é um bom sonho. WASHINGTON

NOVAES


lhe New York Times

X CBS News

Uma briga pela forma jornalística da TV de lá Num programa jomalistico da CBS - "60 Minuts" - o entrevistado foi surpreendido com perguntas que o atiraram contra a parede. A produção havia prometido evitar os debates diretos ou simulados por meio de filmes editados. Na hora, ao vivo, surpreendeu o entrevistado com uma acusação grave. O comentarista de televisão do Jornal "The New York Times" criticou a atitude, considerando que o programa estava tendendo ao sensacionalista. A direção da CBS retrucou. Resta saber quem está com a razão. A conclusão é sua.

Jogo limpo ou jogo sujo? o

inevitável choque entre a ação e a reação parece ter se intensificado no jornalismo atual. As honras devidas à profissão depois de Watergate estão sendo .acompanhadas de severas especulações sobre métodos e costumes. Enquanto Bob Woodward e Carl Bernstein conforme foram representados por Robert Redford e Dustin Hoffman em "Ali the President's Men" (Todos os Homens do Presidente) estão sendo constantemente glorificados nas bilheterias dos cinemas, o último livro dos dois repórteres do "Washington Post", "The Final Hours", tem sido duramente criticado em certos aspectos importantes com relação a alguns métodos jornalísticos. Como crítico de televisão, sinto-me muito mais inclinado pelo fenômeno relativamente recente do "jornalismo eletrônico". E como homem sensato, prefiro evidenciar o assunto da melhor maneira. "60 Minutes", o bem sucedido "magazine" produzido pela CBS News, serve adequadamente ao meu propósito. Tenho comentado, freqüentemente, nestas páginas sobre as diferenças tanto óbvias quanto sutis entre jornalismo impresso e jornalismo eletrônico. A distinção básica pode ser estabeleci da. brevemente: uma história impressa é usualmente colhida através de uma variedade de entrevistas e depois processada pelos editores; o processo da TV é quase o mesmo, exceto por um aspecto bem sígnificante: a presença do equipamento eletrônico, especialmente da câmera que vai registrar a metragem de filme que a maioria dos produtores de TV considera essencial para uma televisão "efetiva".

Mas, se a história é uma reportagem de pesquisa, como obter essa metragem de filme? O repórter de imprensa trabalha por conta própria, armado apenas de um cademo de anotações. Woodward e Bernstein podiam sair por aí, no meio da noite batendo nas portas de cidadãos comuns. Às vezes permitiam que eles entrassem. Mas, se eles viessem acompanhados de uma equipe de TV, carregando câmeras e equipamentos de som, isso nunca iria acontecer. O próprio equipamento exigido para esse tipo de produção de TV torna-se obstáculo à investigação. Como então poderá o repórter de TV convencer o testemunho em potencial de uma investigação a se expor, até desfavoravelmente, ante uma cârnera de TV? Uma maneira, que me parece, aproxima-se perigosamente do que se po· deria intepretar como "fantasiosas pretensões" e embustes. No domingo, 8 de fevereiro, "60 Minutes" apresentou um seriado sobre energia nuclear chamado "Qual a segurança da segurança?" (How safe is safe? ) O produtor era Harry Moses; o correspondente era Mike Wallace. A peso quisa jornalística apresentada era certamente válida. Evidenciando que em 2S anos espera-se que 725 geradores de força nuclear estarão produzindo quase que a metade da eletricidade deste país, Mr. Wallace perguntou: "Não estaremos avançando com demasiada rapidez sem dispositivos de segurança próprios, sabendo-se que um único acidente em um gerador nuclear poderá desencadear catástrofe? "

A principal figura da reportagem era Robert Pollard, um gerente de projetos da Nuclear Regulatory Cornission, a agência governamental que fornece as licenças para as usinas de força nuclear. Mr. Wallace explicou: "Este homem é um perito em energia nuclear... Ele acha que algumas usinas que já estão operando não apresentam segurança. "Mr. Pollard foi entrevistado e mostraram algumas cenas de sua vida diária ("Essa é sua esposa Laurie, e seus dois filhos"). Ele estava preocupado principalmente com condições de segurança de uma usina chamada lndian Point Number Three, que como Mr. Wallace salientou, está situada próxima ao Rio Hudson de Nova York". O seriado examinou, então, "próximas" e "possíveis" catástrofes em Indian Point Three e outras usinas antes de deslocar-se para William Anders, o ex-astronau ta, que na época era diretor da Comissão Organizadora Nuclear. Após um breve comentário sobre a segurança nuclear perguntou-se a Mr. Anders: "Já ouviu falar de um sujeito chamado Bob Pollard, Mr. Anders?" Não, não tinha ouvido. (De fato, Pollard estava pedindo a sua demissão no mesmo dia em que Anders estava sendo entrevistado). Imediatamente o pânico tomou conta dos escritórios da NCR. Anders e seus assessores foram surpreendidos frente às câmeras desculpando-se das acusações de Pollard. Se eles dissessem que conheciam as acusações, poderia parecer que estavam pregando a discórdia. E se não as conheciam iriam passar por incompetentes. Entrementes, com declarações pausa7


das, calmo e bem disposto, Pollard explicava que, entre outras coisas, sua demissão se destinava a produzir um "impacto público". Ele concluiu com a afirmação: "Quando o público vir o que se passa (nos procedimentos com relação à segurança nuclear) então as mudanças ocorrerão porque são inevitáveis, por isso acho que tive que fazer isto." Mr. Wallace terminou acentuando que a questão da segurança nuclear iria ser submetida a um plebiscito em 8 de junho na Califórnia. Ora, esta é uma matéria bem sensacional, tornando bastante aparente a controvérsia antiforça nuclear. E como de costume, permitiram-me o acesso às fontes de informação da produção e até que ponto elas foram compiladas no programa. Minhas fontes estavam ligadas tanto à Comissão Organizadora Nuclear quanto à produção do "60 Minutes", incluindo Mike Wallace, Don Hewitt, o produtor executivo da série Harry Moses e Ellen CoJJyer uma pesquisadora da série. Numa recente reunião no escritório de Wallace, a equipe de "60 Minutes" nos explicou que a idéia da história "chegou até nós" através de pessoas que se opõem às usinas de força nuclear. Outras fontes dizem que o contato específico foi Dan Ford, representante de imprensa da Union of Concemed Scientists, um grupo antiforça nuclear que Pollard conhecera no início deste ano. Certamente que as acusações eram sérias e mereciam investigação. Mas como Anders fora persuadido a aparecer no seriado? E foi precisamente neste ponto que o processo de coleta de notícias com filmes tornou-se mais evidente. Ellen Collyer, pesquisadora do seriado "60 Minutes", entrou em contato com um consultor de Anders em Nova York e numa conversação telefônica (gravada em fita sem o seu conhecimento) o propósito do comparecimento de Anders foi cuidadosamente planejado. O consuJtor disse que Anders concordaria em vir ao

programa para explicar o papel de sua agência na segurança nuclear; entretanto, não queria se envolver em debates diretos ou simulados por meio de filmes editados. "Quem diabo mais vai aparecer no programa?" perguntou o representante de Anders acrescentando: "Mas você também não sabe, não é?" Miss Collyer: "No momento, não." Mas "60 Minutes" já estava entrevistando Pollard; na verdade, em um encontro posterior no escritório de Wallace, Miss Collyer concordou que ela já sabia que Pollard estaria no programa. Hewitt e Wallace são Inflexíveis na defesa de seus métodos. Era suficiente, argumentam eles, que Anders soubesse que "o tema era a segurança dos reatores nucleares". Hewitt é até mais explícito: "Quem quer que se submeta a uma entrevista na televisão deve estar preparado para qualquer pergunta". Depois retificando essa extraordinária afirmação acrescentou: "dentro do seu campo de experiência. " Deve ser enfatizado que este problema em particular não é típico da produção habitual de "60 Minutes". No formato costumeiro da série, a maioria das pessoas deve compreender e aceitar o fato de que seu aparecimento num seriado pode resultar em alguma espécie de confrontação. Mas nenhum serve para comparação com "How safe is safe? ", que é um caso único. No início deste mês, um exemplo similar de confrontação-surpresa foi registrado com um membro da Liga de Defesa dos Judeus, numa reportagem de "60 Minutes" sobre mercenários. Wallace argumenta com veemência a favor do jornalismo investigativo e acentua as exigências da televisão "interessante", com toda certeza pensando na obtenção de boas metragens de filmes, Mas, o seriado sobre segurança nuclear seria menos jornalisticamente sadio se Anders tivesse sido previamente avisado da presença de Pollard e depois tivesse uma oportunidade para responder as acusações com detalhes e sem confusão?

Wallace argumenta agora que Anders poderia ter pedido que desligassem as cámeras, mas só os muito ingênuos iriam deixar de apreciar o efeito de tal cena na TV. Wallace acrescenta que se Anders tivesse pedido a interrupção da entrevista ele consentiria em continuá-Ia depois que Anders tivesse sido totalmente informado. Qual teria sido a diferença se Anders fosse informado sobre a questão um ou dois dias antes? Uma resposta embaraçosa dentro dessa pesquisa especial da televisão "interessante". O resultado pode levantar questões inadequadas mas legítimas sobre o jornalismo de "60 Minutes". E um fato inegável que enquanto Anders estava sendo "confrontado", Pollard estava sendo simpaticamente "exposto" sem enfrentar nenhuma pergunta difícil. Além disso, enquanto Pollard ia para a Union of Concerned Scientists somente no início de 1976, manteve-se sem pronunciamento em fins de 1975. Numa conferência sobre energia, em Albany, a 2 de março, Ted De Boer, diretor do Conselho de Energia Atômica de Nova York testemunhou que em fins de 1975 ele falava pelo telefone duas vezes por semana com Pollard mas nunca ouviu nenhuma palavra sobre a segurança de Indian Point Three. De fato, disse De Boer, Pollard mantinha uma aprovação oficial sobre a segurança da União. Wallace -defende-se apontando a evidência conferida às acusações de Pollard no New York Times. Mas ele se esquece de mencionar que esse jornal tem apresentado um número substancial de artigos sobre energia e segurança nuclear, artigos que abrangem um amplo cabe dai de fatos e opiniões. Para "60 Minutes", a única contribuição ao debate da força nuclear neste ano foi "How safe is safe?" E como um subsídio questionável merece ser mediador de valiosos debates. JOHN O'CONNOR The New York Times

Em defesa de um estilo

Ao Editor: As sugestões de John O'Connors (em "Jogo Limpo ou Jogo Sujo" no "60 Minutes"?) de que "60 Minutes" muitas vezes marca pontos com jogo desleal exige comentário, porque envolvem erros e falsas distinções que, penso eu, estão se tornando parte da mitologia da midia. O que parece alarmar principalmente Mr. O'Connor é o fato de que "60 Minutes" às vezes penetra o âmago de (os personagens de) uma história, e até faz com que pessoas falem diante das cámeras sem terem sido prevenidas de antemão das intenções, sem receberem instruções quanto às perguntas que poderão ser feitas. Isto exige uma certa audácia, tenho que admitir, e desafia qualquer um que estiver enfrentando uma situação assim. Mas, se (na opinião de O'Connor) isto se limita a "engodos e armadilhas", então uma grande quantidade de boas reportagens será desperdiçada, as autoridades estarão em total segurança, e o público deve se resignar às notícias escollúdas a dedo. Em seu tratamento da (questão da) segurança nuclear, por exemplo, "60 Mi-

a

nutes" deveria provavelmente ter feito suas entrevistas verdadeiras com os representantes da Con Edison e da Comissão Organizadora Nuclear por detrás das câmeras e depois, tendo sido tudo ensaiado e representado, as declarações de seus relações-públicas seriam então filmadas na presença de Mike Wallace que ficaria sendo expectador interessado mas relativamente inerte. Mas não em "60 Minutes". Essa é a espécie de coisa que os depreciadores da televisão costumavam deplorar como "encenação". E essa era uma acusação muito mais séria do que a recente alegação de estarem cedendo aos baixos imperativos do "Jornalismo interessante." Se o tratamento de "60 Minutes" parece ser duro demais para com algumas pessoas que são entrevistadas, então eu quero acentuar que as autoridades quer fazendo parte do Establishment, das empresas ou do trabalho, das ciências ou dos esportes, ou qualquer outra instituição - têm uma armadura mais espessa do que o cidadão comum. Geralmente, são necessárias armas mais aguçadas para perfurar as defesas da burocracia e de seus relações-públicas.

Assim, se William Anders, da Comissão Organizadora Nuclear, e J ohn Conway, da Con Edison, pareciam estar sob forte pressão de Mike -Wallace, e se Irv Rubin, da Liga de Defesa dos Judeus (em uma edição anterior de "60 Minutes") parecia pressionado para explicar seus negócios com um pistoleiro - bem, suas posições exigiam isso. Na questão da segurança nuclear, especialmente, o fornecimento de provas deve ser feito pela instituição encarregada da segurança pública. Além disso, diferentes repórteres têm que ter estilos diferentes. Eu não vejo grande virtude no método que muitos repórteres empregam - o de tentar extrair informações das pessoas fingindo simpatia. Em contraste, o que Wallace e seus colegas, Dan Rather e Morley Safer desenvolveram em notável grau é uma técnica de forçar um entrevistado a dar o melhor relato de si próprio e de sua posição numa questão, e conseguir isso assumindo uma franca atitude adversária, colocando ele ou ela frente a frente ao mais potente argumento ou evidência da outra parte. JOHN SHARNIK Vice Presidente/CBS News


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